1. A notícia em mutação. Estudo
sobre o relato noticioso no
jornalismo digital.
Thaïs de Mendonça Jorge
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Comunicação (PPG/ FAC)
Universidade de Brasília
15 de agosto de 2007
2. Banca Examinadora
Professora Doutora Zélia Leal Adghirni
(Orientadora)
Professor Doutor Luiz Gonzaga Motta
Professora Doutora Nélia Del Bianco
Professor Doutor Marcos Palacios
Professora Doutora Elizabeth Saad
Professor Doutor Luis Martins da Silva
(Suplente)
3. Internet no mundo
Mundo: 127,9 milhões de sítios (agosto 2007)
28 milhões de sítios novos criados em 2006
Brasil
50 mil sítios no ar
2006: 31,25% (46,8 milhões de pessoas) têm acesso à internet
2005: 21,43% (32,1 milhões de pessoas)
17,3% têm computador em casa
46,0% acessam a internet em casa
26,44 vêem internet no trabalho
35,4% usam a internet para ler notícias
Argentina
2006: quase 50% da população argentina (16 milhões) têm acesso
à internet
2005: 21% (7,6 milhões de pessoas)
41% acessam a internet em casa
14% vêem internet no trabalho
64% destes lêem notícias na internet
Fontes: netcraft.com; Internet em la Argentina 2004-2005. Clarín Global: Eduardo D‟Alessio Irol, 2005; Los oficinistas de EEUU pierden dos
horas por día en Internet, Clarín, 13 jul. 2005; http://listasibict/pipermail/bib_virtual/2007-June/003679.html
4. Hipóteses
1 A notícia, principal produto do jornalismo, estaria
sofrendo mais um processo de mutação,
abandonando antigos padrões de produção e
assumindo novos formatos de apresentação no meio
digital.
2 Os principais elementos da notícia digital já
permitiriam que fosse traçada uma tipologia das
notícias encontradas nos sites noticiosos, e que
integram aplicativos multimídia.
5. Hipóteses
A notícia é “um relato das relações mutantes” do
ser humano (Johnson e Harriss).
Ser vivo: DNA na pré-história das comunicações
Novidade comunicada células
Base = fatos e mitos
Mudanças para se adaptar à sociedade
Computador: rede, mídia ou suporte?
Organismo mutável (oscilante, sujeita a
mutações) e mutante (sempre em mudança)
6. Newsmaking
Vertentes
Sociologia da produção de notícias
Como se dá a construção das mensagens via MCM
Como são as mensagens
Pressupostos
a) jornalismo = construção de uma realidade
b) jornalistas produzem uma espécie de discurso – a
notícia.
7. Mutação
“O que surge nas épocas
cruciais da História é
comparável às „emergências‟
de que falam os biólogos e
certos filósofos. É o caso da
invenção da escrita, no terceiro
milênio antes de nossa era. E
essa transformação do
manuscrito em livro impresso
não será uma outra „mutação‟?
Na carreira desse „ser‟
estranho que é o texto, o
escrito, graças ao qual o
pensamento pode ser
transmitido através do tempo e
do espaço, aparecem
repentinamente características
novas e revolucionárias.”
(Chalus)
8. Mutação
“A humanidade está vivendo uma mutação
técnica, econômica, cultural e antropológica
de grande alcance, comparável à invenção
da escrita e da imprensa (...) Seria o
equivalente a uma mudança genética. Para o
ser humano, o equivalente às mudanças nos
gens seriam as transformações culturais.”
(Lévy)
9. Mutação
“Podemos interrogar da razão por que
continuam a circular as metáforas do
jornalismo como espelho da realidade (...),
mesmo quando alguns dos seus preceitos
são alterados por mutações tecnológicas
que afectam os processos de mediatização,
como o directo televisivo ou via Internet.”
(Ponte)
10. Mutação
“As mutações emergentes
por hibridização
desencadeiam um
realinhamento do sistema,
abrindo caminho para a
convergência de processos
e práticas. É nesse ambiente
de modificações e
reciclagens, onde uma forma
não subsiste sem a outra, é
que vão sendo moldadas as
bases do processo de
convergência ou integração
entre novos e velhos meios.”
(Del Bianco)
11. Mutação
Todos nós somos
mutantes
Mutação: acidente
genético ao acaso
Sem mutações, não
existiria variedade
Sem variedade, não
haveria evolução
Se não fôssem as
mutações, a terra ainda
estaria na mesma sopa
primordial.
13. Metodologia
Argumento sócio-histórico – a notícia como
produto da história
Argumento tecnológico – a notícia como fruto
da evolução dos suportes
Etnografia - nas redações dos sites UOL e
Clarín/ entrevistas com os jornalistas/ coleta
de materiais – julho e novembro de 2005
Semana construída – clipping dos sites: 7,
15, 23 e 31 de março; 8, 16 e 24 de abril de
2006. Total de matérias analisadas: Clarín –
301; UOL – 155.
14. Alemanha
1450 Gutenberg Vulgata, a Bíblia do Povo
Portugal
Trajetória da notícia 1504 Vespúcio
Mundus Novus
Notícias do Brasil
1622 Inglaterra A Current of General Newes
primeiro jornal
Inglaterra Daily Courant
1702 Buckley ”Only news, no comments”
Corte fecha tipografias Brasil 1706
Inglaterra
1776 EUA Primeiros diários
Chegada da família real Brasil 1808
Brasil
Correio Braziliense Hipólito 1808
Revolução do Porto
1820 Portugal fim da censura
Diário do Rio de Janeiro Brasil 1822
primeiro jornal informativo
1861 EUA Pirâmide Invertida
Primeiro correspondente Brasil
Euclides 1897
de guerra da Cunha
Primeira reportagem Brasil
"As religiões no Rio” João 1900
do Rio
Brasil
Chegada do lide Pompeu 1950
de Sousa
Realidade
Brasil 1966
novo estilo de reportagem
1977 Alemanha Bildschmerzeitung
primeiro teleperiódico digital
EUA Arpanet torna-se Internet.
1981 Suíça Berners-Lee cria a WWW
1995 EUA San Jose Mercury News
conteúdo na internet
Jornais lançam sites Brasil 1995
15. Clarín e UOL
http://www.clarin.com
http://www.uol.com.br
UOL/ Folha Clarin.com/ Clarín
Circulação 360,9 mil 711 mil exemplares
exemplares (domingo); 402 mil (dias
(domingo); 287,8 mil de semana)
(dias de semana)
Página eletrônica 8,6 milhões de 6,1 milhões de visitantes
visitantes únicos únicos (2005)
(2006) 150 mil assinantes
1,5 milhão de
assinantes
Audiência entre os 65% 67%
sites noticiosos
Situação financeira Auto-suficiente Auto-suficiente e
desde 2001 rentável desde 2002
16. Clarín e UOL
http://www.clarin.com
http://www.uol.com.br
Estratégias das empresas
Consumidores não pagam pelo conteúdo clarin.com
Audiência fragmentada clarin.com
uol.com.br
Sintonia com leitores clarin.com
uol.com.br
Parcerias e compra de conteúdos independentes uol.com.br
Produção de conteúdo caminha para “usina digital” clarin.com
uol.com.br
Flexibilidade dos canais de distribuição de conteúdo clarin.com
uol.com.br
Anunciantes ligados ao desempenho do site clarin.com
uol.com.br
20. Conclusões
Mutação na história
Tipo de mutação histórica Característica Resultado
mutação gênica Alteração de base que ocorre Notícia falada
dentro da seqüência que carrega
a informação genética (gene).
Genes criam campos de
tendências, que reagem ao
contexto
mutação cromossômica Mudanças invisíveis no DNA dos Notícia escrita
cromossomos afetam a aparência
ou o número de cromossomos
mutação somática Alteração restrita, visível, pode Notícia x comentário
ser transmitida aos descendentes
e provocar outros tipos de
desenvolvimento
mutação supressora Determina a supressão de uma Gêneros jornalísticos
característica. Às vezes a
existência de um gene só é
notada quando ele muda ou
desaparece
mutação pontual Incide sobre o código do sistema, Pirâmide invertida
causando mudanças de âmbito
restrito
21. Conclusões
Mutação no jornalismo
Repentina mudança no estado de captação e apresentação dos
fatos – o DNA da notícia.
Provoca diferenças nas rotinas, nos produtos e subprodutos.
A notícia hoje:
(a) muda do estado “sólido” para o estado virtual
(b) muda a energia para produzi-la
(c) “composição” modificada (som e imagem), novos
produtos (ciberentrevistas, flashes)
(d) propriedades são alteradas
Cor e luz da tela eletrônica – depende de conexão
não pode ser manuseada – para ser vista,
ouvida ou assistida
22. Conclusões
Mutação hoje – padrões e classes
Padrão Classe
Mutação permanente Mutação social (nova relação com
público)
Mutação espontânea ou Mutação pontual (alteração localizada)
provocada por agentes
Mutação evolutiva Mutação categórica (radical)
Variação descontínua Falsa mutação (mudança de um campo
para outro)
Mutação restrita ou Mutação verdadeira (aceitação de novos
moderada gêneros)
23. Conclusões
Mutação no jornalismo
Fenômeno Padrão de Classe de
mutação mutação
Mutação Diluição da figura do mutação Mutação restrita
no repórter categórica ou moderada
ambiente
Mudanças na forma de mutação Mutação restrita
colher e veicular categórica
informação
Sobrecarga de trabalho e mutação Mutação
funções/ papéis categórica espontânea
Atualização constante mutação Mutação
verdadeira espontânea
Participação dos leitores mutação social Mutação
espontânea
24. Conclusões
Mutação no jornalismo
Fenômeno Padrão de mutação Classe de mutação
Mutação no Páginas na internet/ links/HT mutação verdadeira Variação
produto descontínua/
Mutação evolutiva
Matéria em camadas mutação verdadeira Mutação evolutiva
Chamada de capa falsa mutação Mutação
espontânea
Título-enlace mutação verdadeira Mutação evolutiva
Flash mutação verdadeira Mutação evolutiva
Vermelho (rojo) mutação verdadeira Mutação evolutiva
Ciberentrevista mutação verdadeira Mutação evolutiva
Mistura de gêneros mutação pontual Mutação evolutiva
Nova pirâmide falsa mutação Variação
descontínua
Transporte de conteúdo falsa mutação Mutação evolutiva
(shovelware)
Uso de som e imagem mutação verdadeira Alteração
permanente
25. Conclusões
A notícia sofre mais uma mutação no jornalismo digital.
O DNA da notícia não se altera no jornalismo digital.
Para expandir a hipernotícia
estabilização do modelo de negócio
usuários familiarizados com ferramentas e novo papel do
jornalista
ampliação da alfabetização (digital).
Para uma gramática hipertextual
normatização de procedimentos/ tipologia
arquitetura da notícia
clareza na identificação das fontes
ampla documentação e acesso à base de dados;
ferramentas para participação do leitor.
26. Conclusões
“(...) O que estamos precisando pensar é a hegemonia
comunicacional do mercado na sociedade, ou
melhor, a conversão da comunicação no mais eficaz
motor do deslanche e inserção das culturas –
étnicas, nacionais ou locais – no espaço/ tempo do
mercado e das tecnologias. Ao mesmo tempo,
estamos precisando pensar o novo mapa que essas
tensões representam entre as mutações
tecnológicas, as explosões e implosões das
identidades e as reconfigurações políticas das
heterogeneidades.” (Martín-Barbero)
27. Bibliografia
ALSINA, M. R. La construcción de la noticia. Barcelona: Paidós, 1989.
BROOKES, M. Fique por dentro da Genética. São Paulo: Cosac & Naif, 2001.
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DEL BIANCO, N. R. Radiojornalismo em mutação. A influência tecnológica e cultural da Internet na
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Paulo, Escola de Comunicações e Artes, São Paulo, 2004.
JOHNSON, S.; HARRISS, J. El reportero profesional. Un tratado general sobre periodismo completado
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LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999.
LÓPEZ, X. Herencias y desafios del lenguaje de los cibermedios: en la hora del hipertexto. In: Pauta
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MARTÍN-BARBERO, J. Tecnicidades, identidades, alteridades: mudanças e opacidades da comunicação
no novo século. In: MORAES, D. (org.) Sociedade midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad, 2006.
PONTE, C. Para entender as notícias. Linhas de análise do discurso jornalístico. Florianópolis: Insular,
2005.
SAAD, B. Estratégias para a mídia digital. São Paulo: Senac São Paulo, 2003.
TRAQUINA, N. O estudo do jornalismo no século XX. São Leopoldo: Unisinos, 2003.
______. Teorias do jornalismo. Por que as notícias são como são, v. 1. Florianópolis: Insular, 2004.
TUCHMAN, G. La producción de la noticia. Estudio sobre la construcción de la realidad. México: Gili,
1983.
VANDENDORPE, C. Du papyrus à l’hypertexte. Essai sur les mutations du texte et de la lecture.
Paris: La Découverte, 1999.
WOLF, M. Teorias da comunicação de massa. São Paulo: Martins Fontes, 2003.