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48             ARTIGO ORIGINAL



Cristiane Albuquerque C.
              dos Santos1
   Kátia Telles Nogueira2
                                       Gravidez na adolescência: falta de
                                       informação?
                                       Pregnancy in adolescence: lack of information?


                   RESUMO
                   A gravidez na adolescência tem sido apontada como um problema de saúde pública. Pretende-se, neste artigo, conhecer os motivos que levam a
                   adolescente a engravidar, apesar do grande número de informações. Mediante revisão bibliográfica levantou-se o histórico de gravidez na adoles-
                   cência, mudanças sociais, estrutura familiar e elementos que podem levar a adolescente a iniciar sua vida sexual, além dos meios de informação nos
                   quais o adolescente busca saber sobre o que acontece no seu dia-a-dia, os métodos contraceptivos e suas implicações. Os dados obtidos nessa revisão
                   mostram que os adolescentes possuem conhecimento acerca dos métodos contraceptivos, porém não sabem como administrá-los corretamente. A
                   pílula e o preservativo masculino aparecem como os mais conhecidos. Os jovens muitas vezes negam o risco de engravidar devido a um pensamento
                   “mágico” característico da adolescência e de sua imaturidade psicoemocional. Ao engravidar, as adolescentes acreditam obter a auto-realização e a
                   independência. Outro fator relevante a ser discutido é que, culturalmente, a mulher ainda é vista como a única responsável por evitar uma gravidez.
                   Construir um espaço onde pais, familiares, escola, adolescentes, professores e profissionais de saúde possam dialogar é um importante instrumento
                   para se obter resposta social com vistas à superação das relações de vulnerabilidade às doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), assim como à
                   gravidez precoce e não-planejada.


                   Unitermos
                   Adolescência; gravidez; sexualidade; informações sobre contracepção


                   Abstract
                   Pregnancy in adolescence has been considered a problem of public health. This work intends to find the reasons that take an adolescent to get pregnant,
                   in spite of the great amount of information. This article reviews the history of pregnancy in adolescence, the social changes, the familiar structure, and the
                   elements that can take the adolescent to begin his sexual life, as well as the means from which he or she tries to get information about daily life, contraceptive
                   methods and their implications. The data obtained in the bibliographical review show that adolescents have knowledge on contraceptive methods, however
                   they do not know how to use them correctly. The pill and the condom appear as the most known ones. Adolescents very often deny the risk of getting pregnant
                   due to the magical thinking characteristic of adolescence and to their psycho-emocional immaturity. They believe pregnancy will bring them self-fulfillment
                   and independence. Another relevant factor to be discussed is that culturally the woman is still seen as the only person in charge of avoiding a pregnancy. It is
                   important to provide opportunity of dialogue for parents, relatives, school, adolescents, teachers and health professionals. That would act as an instrument to
                   help overcome the vulnerability to sexually transmitted diseases (STDs), as well as to precocious and not planned pregnancy.


                   Key words
                   Adolescence; pregnancy; sexuality; information on contraception




                   Introdução                                                                que o adolescente passa por várias mudanças: físi-
                                                                                             cas, psíquicas, sociais e, principalmente, no relacio-
                        Dados da Organização Mundial da Saúde                                namento com os pais. Ele está em transformação.
                   (OMS) revelam que a adolescência corresponde ao                           Já não é mais criança, mas também ainda não é
                   período de vida entre 10 e 19 anos. É nessa fase                          adulto. Seu corpo dá demonstrações de que mu-
                                                                                             danças estão ocorrendo.
1. Pós-graduanda em Saúde Pública pelo Centro Universitário Celso Lisboa.                          O crescimento é rápido nos dois anos ante-
2. Médica do Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente da Universidade do Estado             riores e posteriores à puberdade. Além de rápido é
do Rio de Janeiro (NESA/UERJ); doutora em Epidemiologia pelo instituto de Medicina
Social (IMS) UERJ.                                                                           desproporcional: os membros se alongam, o corpo


volume 6 ■ nº 1 ■ abril 2009	                                                                                                                Adolescência & Saúde
Santos & Nogueira	                                          Gravidez na adolescência: falta de informação?                49



emagrece, os ângulos se salientam. O adolescente        sexuais. A sexualidade é imperativa na adolescên-
encontra-se perplexo por um corpo que é seu,            cia, os sentimentos são vividos com enorme inten-
mas que lhe soa estranho. Ele tem diante de si a        sidade e o jovem, ainda imaturo, não sabe como
descoberta de um mundo novo. Ama os pêlos que           lidar com ela.
lhe dão status de adulto, mas apavora-se com as               A família é o primeiro modelo, é o referencial
alterações que o jogam num caminho ainda des-           para que o adolescente possa enfrentar o mundo
conhecido. Essas mudanças, nas quais perde a sua        e as experiências que ainda estão por vir. Daí a ne-
identidade de criança, implicam a busca de uma          cessidade de diálogo entre pais e filhos para que
nova identidade, que se vai construindo nos planos      estes não busquem informações erradas ou incom-
consciente e inconsciente. O adolescente não quer       pletas com amigos ou parceiros que também não
ser como determinados adultos, mas, em troca, es-       detêm conhecimento suficiente.
colhe outros como ideais.                                     Brandão et al.(2) informam que a gravidez na
      O amor, além disso, é só um aspecto da pro-       adolescência tem sido apontada como um “pro-
blemática da adolescência: quase todos os ado-          blema social”. Parir antes dos 19 anos, décadas
lescentes já sabem que a liberdade sexual não é         atrás, não se constituía assunto de ordem pública.
promiscuidade, porém sentem e expressam a ne-           As alterações no padrão de fecundidade feminina
cessidade de ter experiências que nem sempre são        brasileira, as redefinições na posição social da mu-
totais, mas que precisam viver.                         lher, gerando novas expectativas para as jovens no
      Segundo Doreto et al. (2006), tal descom-         tocante à escolarização, e o fato de a maioria dos
passo de expectativas nem sempre corresponde às         nascimentos ocorrer fora de uma relação conjugal
vivências individuais, mas dificulta o diálogo aberto   despertaram a atenção para esse fato.
sobre o sexo e o compartilhamento de estratégias              Este estudo baseia-se na importância de se
para que o início da vida sexual não traga surpresas    reconhecerem os reais motivos que levam as ado-
desagradáveis.                                          lescentes a engravidar e as implicações sociais, psí-
      Godinho et al.(8) afirmam que, durante o pe-      quicas e econômicas envolvidas no universo ado-
ríodo de transformações, o apoio dado às adoles-        lescente. Visa, ainda, apresentar informações que
centes é muito importante, para que elas tolerem        contribuam de forma significativa para a realização
as mudanças a que estão sujeitas e não se sintam        de projetos voltados para o público adolescente, os
vulneráveis às transformações biopsicossociais.         quais sejam didáticos, incisivos e accessíveis, possi-
Para tanto a família deve estar bem estruturada, a      bilitando, assim, não só o diálogo, mas também a
fim de não facilitar a ocorrência, comum entre as       escuta do discurso adolescente.
adolescentes, de violência, uso de drogas e gravi-            Este artigo tem como objeto a gravidez na
dez precoce.                                            adolescência e visa refletir sobre as causas que
      Na adolescência o relacionamento com os           levam as adolescentes a engravidar, tendo como
pais é bastante abalado pelo questionamento que         questão o que elas acreditam possuir com a gra-
o jovem faz em relação a valores, estilo de vida,       videz.
fé, ideologia etc. Esse questionamento geralmente             Apesar da grande quantidade de informações
cria um ambiente de tensão familiar. Os pais mui-       sobre sexualidade e métodos anticoncepcionais, as
tas vezes se sentem ansiosos e desorientados, sem       adolescentes continuam engravidando, o que gera
saber como lidar com seus filhos. Na fase de busca,     implicações sociais, psíquicas e econômicas. Sociais
procura, enfrentamento, desestruturação e discus-       porque geralmente abandonam os estudos devido
sões com os pais, o adolescente passa a dar grande      à gravidez; psíquicas porque ainda não estão emo-
importância ao grupo de amigos e muitas vezes se        cionalmente prontas para assumir uma gravidez; e
identifica com as experiências pelas quais seus ami-    econômicas porque quase sempre as famílias as-
gos estão passando. É muito comum, no grupo de          sumem a criança e a adolescente, aumentando as
amigos, o surgimento de namoros e experiências          despesas da casa.


Adolescência & Saúde	                                                                                  volume 6 ■ nº 1 ■ abril 2009
50             Gravidez na adolescência: falta de informação?	                                          Santos & Nogueira




                        Esse fato tem se tornado um problema de saú-            Uma das descobertas dos anos 1950, que
                   de pública que precisa ser mais bem compreendido.      talvez tenha sido a principal responsável pela mu-
                                                                          dança na vida e no papel social da mulher, foi a
                                                                          pílula anticoncepcional, que propiciou sua maior
                   Histórico da gravidez na                               inserção no mercado de trabalho e também uma
                   adolescência                                           liberdade sexual que ela ainda não conhecia. A
                                                                          pílula é um contraceptivo hormonal desenvolvido
                         A gravidez na adolescência acontece desde os     por Gregory Pincus e John Rock. Apesar de já exis-
                   primórdios da civilização. A mulher começava a sua     tirem outros contraceptivos que permitiam que
                   vida reprodutora muito próximo da puberdade e          as decisões sobre a maternidade estivessem sob o
                   raras eram as que ultrapassavam a segunda década       controle da mulher, como a capa cervical (1838),
                   de vida em conseqüência de complicações advindas       o diafragma (1882), o método Ogino e Knaus ou
                   da gravidez e do parto. O mesmo ocorria na Idade       “tabelinha” (início do século XX) e o dispositivo
                   Média, quando meninas mal saídas da infância, ao       intra-uterino (DIU) (década de 1920), foi a pílula
                   primeiro sinal da menarca, eram casadas com ho-        que carregou consigo o emblema de “libertado-
                   mens cuja idade girava em torno dos 30 anos.           ra”. Se antes as decisões contraceptivas – com
                         No Brasil, no século passado, as chamadas        exceção do aborto – estavam sob o controle dos
                   “sinhazinhas” também eram casadas com maridos          homens, os novos métodos mudaram as relações,
                   escolhidos pelos pais e geravam filhos para seus ma-   e a possibilidade anteriormente masculina de se-
                   ridos, só deixando de fazê-lo quando havia alguma      parar prazer de reprodução passou a ser também
                   complicação(11).                                       das mulheres.
                         As grandes mudanças ocorridas no final do              O comércio da pílula anticoncepcional teve
                   século passado, decorrentes da Revolução Industrial    início, no Brasil, em 1962, dois anos depois de ela
                   na Europa e, principalmente, as conseqüentes à         ter sido aprovada nos EUA pela Food and Drug
                   I Guerra Mundial, abriram amplo campo de traba-        Administration (FDA).
                   lho às mulheres em vários setores de atividades até          Hoje, com a liberação sexual e a grande va-
                   então exercidas por homens e as puseram em con-        riedade de contraceptivos, os relacionamentos
                   dições totalmente diferentes daquelas preexistentes.   sexuais iniciam-se mais cedo. Além disso, uma
                   Essas mudanças, porém, não foram acompanhadas          jovem ainda virgem é considerada “espécie em
                   por políticas que lhe assegurassem condições para      extinção”. As jovens de hoje buscam se identi-
                   dividir as responsabilidades pessoais com as do em-    ficar com a imagem de uma mulher que toma
                   prego.                                                 iniciativa e procura manter o controle sobre sua
                         Surgia então uma nova concepção: a da ado-       sexualidade(11).
                   lescente que se lançava no mercado de trabalho. A            Para Godinho et al.(8), há uma precocidade
                   gravidez nesse momento a impedia de evoluir na         da iniciação sexual (de 14,7 anos) e da menarca
                   profissão, além de comprometer a estrutura finan-      (12,3 anos), indicando a ausência de programas
                   ceira da família num dos período mais difíceis eco-    de educação sexual nas escolas e planejamento
                   nomicamente(7).                                        familiar nos serviços públicos como fatores que
                         O fim da II Guerra Mundial foi o marco das       podem favorecer a ocorrência de uma gravidez
                   transformações sociais. Houve uma quebra nos va-       indesejada. Há adolescentes que engravidam
                   lores sociais importantes, levando os jovens, que      idealizando independência e liberdade, porém
                   por natureza já possuíam a característica de viver     acabam frustrando-se com a falta de apoio do
                   em grupos, a se unir cada vez mais, estabelecendo      companheiro, o que termina por acarretar maior
                   padrões de convivência em que a atividade sexual       dependência dos pais.
                   é considerada o símbolo da liberdade, do uso do              Ganham destaque também a impulsividade,
                   corpo em sua totalidade(12).                           a baixa auto-estima, a aspiração à maturidade e o


volume 6 ■ nº 1 ■ abril 2009	                                                                                Adolescência & Saúde
Santos & Nogueira	                                              Gravidez na adolescência: falta de informação?               51



fato de a gravidez fazer parte do projeto de vida           falta de conhecimento sobre métodos contracepti-
da adolescente na tentativa de alcançar autono-             vos, objeção ao uso de preservativos pelo parceiro
mia econômica e emocional em relação à família              e pensar que não engravidam.
de origem(10).                                                     É fato que a utilização de métodos contracep-
       A sociedade tem passado por profundas mu-            tivos não ocorre de modo eficaz na adolescência,
danças em sua estrutura, inclusive aceitando melhor         embora muitos adolescentes conheçam os contra-
a sexualidade dos adolescentes, o sexo antes do ca-         ceptivos mais comuns, como a camisinha e a pílu-
samento e também a gravidez na adolescência. Basta          la anticoncepcional. Uma das razões que poderia
fazer a comparação com algumas décadas atrás,               justificar esse comportamento seria a imaturidade
quando o fato de perder a virgindade era motivo             psicoemocional, característica da adolescência(1).
de desonra para a adolescente e a família, além de,                As reações da família diante da adolescente
na maioria das vezes, culminar com sua expulsão da          grávida tendem a ser contraditórias, sendo comum
casa dos pais. Portanto tabus, inibições e estigmas         a sobreposição de sentimentos de revolta, abando-
estão diminuindo, e a atividade sexual entre jovens,        no e aceitação do “inevitável”(10).
aumentando.                                                        A adolescente muitas vezes nega a possibili-
       É mister mencionar que o mundo vem passan-           dade de engravidar pensando erroneamente que,
do por inúmeras transformações nos mais diversos            se a relação sexual for mantida de forma eventual,
campos: econômico, político, social etc. O excesso          não haverá necessidade de utilizar métodos anti-
de informações e a liberdade recebida pelos adoles-         concepcionais. Outro pensamento pueril é de que
centes os levam à banalização de assuntos como, por         não se engravida na primeira relação sexual.
exemplo, o sexo. Essa liberação sexual, acompanha-                 Godinho et al.(8) afirmam que, na adolescên-
da de certa falta de limite e responsabilidade, é um        cia, o indivíduo ainda não possui capacidade para
dos motivos que favorecem a incidência de gravidez          racionalizar as conseqüências de seu comporta-
entre as adolescentes.                                      mento sexual, deparando-se freqüentemente com
       Outros fatores que devem ser ressaltados são o       situações de risco, como gravidez não-planejada
afastamento dos membros da família e a desestrutu-          ou indesejada.
ração familiar. Seja por separação, seja pelo corre-cor-           As estatísticas são motivos de preocupação.
re do dia-a-dia, os pais estão cada vez mais afastados      Para se ter uma idéia, mais de um terço dos ado-
de seus filhos. Isso, além de dificultar o diálogo, dá ao   lescentes brasileiros (cerca de 8 milhões) vive em
adolescente uma liberdade sem responsabilidade. Ele         famílias com renda per capita inferior a meio salário
passa, muitas vezes, a não ter a quem dar satisfações       mínimo. Esses adolescentes possuem, em média,
de sua rotina diária, procurando os pais ou responsá-       pelo menos três anos de defasagem escolar, con-
veis apenas quando o problema já se instalou(14).           siderando-se a relação entre idade e série. Entre
       Vários são os elementos que podem levar o            eles encontra-se mais de 1 milhão de adolescentes
adolescente a iniciar sua vida sexual precocemen-           analfabetos. Desestimulados pelo fracasso escolar,
te: falta de apoio familiar e de expectativas de vida,      pela baixa qualidade da educação e pela necessida-
perda da auto-estima, baixo rendimento escolar,             de de gerar renda, tendem a abandonar o sistema
maus exemplos familiares, curiosidade natural, ne-          educacional, tornam-se pais e mães precocemente,
cessidade de expressar amor e confiança, solidão,           passam a constituir a principal força do mercado
carência afetiva, necessidade de auto-afirmação etc.        informal de exploração do trabalho e tornam-se as
       Dias et al.(4) relatam que o ato sexual poderia      maiores vítimas da violência(14).
representar uma função relacionada com o status                    No Brasil, é na camada social com menor po-
adulto e uma promessa de união a um outro que               der aquisitivo que se encontram os maiores índi-
substituiria a figura dos pais.                             ces de fecundidade. A baixa perspectiva de vida,
       Belo et al.(1) observaram em sua pesquisa os         a violência, a baixa escolaridade e, muitas vezes,
motivos pelos quais as adolescentes engravidam:             a repetência, aliada à falta de recursos materiais,


Adolescência & Saúde	                                                                                     volume 6 ■ nº 1 ■ abril 2009
52             Gravidez na adolescência: falta de informação?	                                            Santos & Nogueira




                   financeiros e emocionais, fazem com que a adoles-              No que se refere à comunicação, registre-
                   cente veja na gravidez a sua única expectativa de         se o papel crescente da mídia na socialização.
                   futuro e independência. Além disso, algumas ado-          Como se sabe, a socialização é um processo
                   lescentes não orientadas pelo ambiente familiar,          contínuo que vai da infância à velhice e é por
                   na fase pré-púbere, querem se auto-afirmar como           meio dela que o indivíduo internaliza a cultura
                   mulheres, somando-se a esse desejo o espírito de          de seu grupo e interioriza as normas sociais(6).
                   imitação, por saberem que algumas amigas já têm                No Brasil, apesar de serem poucos os dados
                   vida sexual ativa. Outras perdem a virgindade ape-        disponíveis sobre o processo de socialização, é
                   nas com o intuito de provocação à família(9).             possível identificar a tendência histórica compa-
                         Entretanto há as que percebem a gravidez            rando-se duas pesquisas: uma realizada na dé-
                   como uma forma de auto-realização, vontade de             cada de 1960, antes, portanto, da existência de
                   “ter filho”, por gostarem de crianças e por “terem        um sistema nacional de comunicações , e outra
                   alguém para cuidar”(16).                                  do Instituto DataFolha, realizada em 1997.
                         No livro Gravidez na Adolescência, de                    Crianças brasileiras entre 6 e 14 anos de
                   Monteiro et al.(11), o perfil psicossocial proposto por   idade citavam os pais, o cinema, as revistas e
                   Monteiro (1994) informa que, em 70% dos casos             os amigos entre suas principais fontes de infor-
                   estudados, a mãe da adolescente também foi mãe            mação nos anos 1960. Cerca de 30 anos de-
                   na adolescência. Os cuidados com irmãos menores           pois havia uma presença ainda mais decisiva da
                   já eram praticados por 56% das adolescentes, ou           mídia. Respondendo à pergunta “você poderia
                   seja, o exercício da maternidade já não era de todo       nos dizer qual a importância que cada uma das
                   desconhecido, pois já havia sido aprendido nos            fontes de informação abaixo tem para você sa-
                   cuidados com irmãos, parentes e vizinhos. O autor         ber o que acontece no mundo?”, a televisão
                   revela também que as adolescentes possuem um              (75%), os jornais (55%), as revistas (52%) e a
                   pensamento mágico de que não engravidarão ao              internet (50%) receberam a resposta “muito
                   iniciarem a vida sexual. Esse tipo de pensamento          importante”(6).
                   parece dissociado da teoria e da prática.                      Observemos a programação oferecida pela
                         Apesar da maior difusão de conhecimentos            televisão: a grande maioria é composta por pro-
                   sobre o assunto, cerca de 45% a 60% dos ado-              gramas que estimulam padrões de comporta-
                   lescentes brasileiros iniciam a vida sexual sem ne-       mento, quaisquer que sejam eles. Podemos citar
                   nhum método contraceptivo, conforme dados do              aqui o culto ao corpo, a valorização da beleza, o
                   ano de 2003 do Ministério da Saúde (MS).                  “corpo sarado” e escultural que homens e mu-
                                                                             lheres exibem de maneira insinuante, passando
                                                                             o indivíduo a ser visto como objeto. Novelas,
                   A adolescência e os meios de                              seriados e filmes com conteúdos adultos muitas
                   informação                                                vezes são exibidos em horários em que ainda há
                                                                             a presença de pré-adolescentes e crianças. As
                        Sabe-se que a mídia tem grande poder                 últimas são profundamente afetadas pelo estí-
                   de influência. Não só sobre a população adul-             mulo visual, como cenas de insinuação de rela-
                   ta, mas também sobre os jovens. A televisão é             cionamento sexual, sexo descartável, carícias e
                   uma grande incentivadora e desencadeadora de              corpos nus, o que desperta a sua sexualidade de
                   todo tipo de informação, atuando como forma-              maneira precoce. Isso não significa que o jovem
                   dora de opinião. O “bombardeio” de informa-               esteja passivo diante dessa situação, apenas ab-
                   ções e imagens da mídia induz uma aceleração              sorvendo o conteúdo transmitido. Entretanto
                   do ingresso no mundo adulto quando o jovem                não podemos negar que a possibilidade de
                   ainda não tem orientação, estrutura emocional             uma leitura crítica e de uma transformação do
                   e psíquica para isso.                                     conteúdo recebido não são facilitadas, conside-


volume 6 ■ nº 1 ■ abril 2009	                                                                                 Adolescência & Saúde
Santos & Nogueira	                                          Gravidez na adolescência: falta de informação?                53



rando-se a massificação de informações trans-                         Conhecimento e método
mitidas pela televisão(3).                                                    contraceptivo
      Além da televisão, outros meios de informa-
ção procurados pelos jovens são as revistas vol-               O conhecimento sobre métodos anticoncep-
tadas para o público adolescente e as conversas         cionais é um tema importante, especialmente na
com amigas(os).                                         adolescência, uma vez que previne não só uma
      A maioria dos adolescentes não lê jornal ou       gravidez indesejada como também evita que o jo-
acompanha o noticiário. Diz que não o faz pelos         vem se exponha às DSTs e à AIDS, podendo viven-
conteúdos cheios de violência e “política”. Mas         ciar o sexo de maneira saudável e sem riscos.
eles reconhecem a importância de se manterem                   A menarca precoce vem expondo a adoles-
atualizados. Para eles as revistas são os veículos de   cente aos riscos de uma gravidez em idades tam-
informação mais instrutivos, uma vez que trazem         bém precoces, e vários estudos referem que a mé-
orientações acerca de saúde, comportamento e            dia de idade da menarca no Brasil está em torno de
formação.                                               12 a 13 anos(15).
      A opinião de meninos e meninas sobre a                   Quanto mais precoce é a iniciação sexual,
mídia é, muitas vezes, contraditória. Eles não          menores são as chances de uso de métodos con-
acreditam em seu papel dominador sobre o com-           traceptivos e, conseqüentemente, maiores as pos-
portamento das pessoas, tendo a mídia apenas a          sibilidades de gravidez.
função de informar. Contudo reconhecem que                     Com base na revisão de artigos observou-se
os meios de comunicação são capazes de influen-         que, em relação ao conhecimento dos adolescen-
ciar o comportamento, mas que isso depende de           tes sobre métodos contraceptivos, o anticoncep-
cada pessoa e que é importante desenvolver um           cional oral (94,2%) e a camisinha (91,7%), res-
pensamento crítico, como com relação às propa-          pectivamente, são os mais conhecidos e usados,
gandas de cigarro, que usam exemplos da vida            seguidos por coito interrompido (39,1%), tabela
cotidiana(14).                                          (60,9%) e diafragma (39,1%). Este estudo mos-
      No entanto podemos citar iniciativas              trou que as principais justificativas para a ocorrên-
como a da Agência de Notícias dos Direitos da           cia da gravidez foram: 51,2% queriam ser mães;
Infância (ANDI), organização não-governamen-            18,6% disseram que gostavam de crianças; 9,3%
tal (ONG) brasiliense que vem acompanhando a            referiram ser desejo do casal; e 4,7% não queriam
evolução do comportamento editorial da mídia            perder o parceiro.
jovem desde março de 1997 e desenvolvendo                      Para Belo e Silva(1), “as adolescentes grávidas
uma série de projetos voltados para apoiar os           têm conhecimento elevado em relação à existência
profissionais de imprensa a realizar uma cober-         dos métodos anticoncepcionais, embora tenham
tura das questões relativas à infância e à adoles-      uma prática inadequada para a sua utilização”, e
cência a partir da ótica dos direitos humanos.          acrescenta: “uma das razões que poderiam jus-
Denominado “Os Jovens e a Mídia”, o projeto             tificar esse comportamento seria a imaturidade
dedicado aos suplementos de jornais, revistas e         psicoemocional, característica da adolescência”.
programas de televisão gerados para o públi-                   Em estudo realizado pela Sociedade Civil
co adolescente vem radiografando, de forma              Bem-Estar Familiar no Brasil em 1996 a respeito do
sistemática, as principais características desses       comportamento reprodutivo dos jovens brasileiros,
veículos, podendo-se citar alguns temas mais            a totalidade dos inquiridos “conhecia” algum tipo
abordados e que são considerados de relevância          de método contraceptivo e a maioria já havia uti-
social: Aids e DSTs, cultura, drogas, educação,         lizado algum deles pelo menos uma vez. Porém o
família, formação profissional, gravidez, mídia,        “nível de conhecimento” estava relacionado com
portadores de deficiência, projetos sociais, saú-       o simples “ter ouvido falar” sem detalhar questões
de, sexualidade e violência.                            acerca da utilização adequada.


Adolescência & Saúde	                                                                                  volume 6 ■ nº 1 ■ abril 2009
54             Gravidez na adolescência: falta de informação?	                                              Santos & Nogueira




                         Durante pesquisa realizada em São Paulo, em               Ainda falando sobre as razões para o não-uso
                   2004, para conhecer a sexualidade e o plano de           de qualquer método na primeira relação sexual,
                   vida dos adolescentes, foram levantados os seguin-       podemos citar outras alegações, como: “não pen-
                   tes dados: 87% dos jovens declararam conhecer os         saram nisso na hora”, “os parceiros não quiseram
                   métodos contraceptivos e 70% tiveram a primeira          usar”, “não se importam de engravidar”, “confiança
                   relação sexual sem nenhuma proteção. O texto             no parceiro”, “dificuldade de acesso a métodos con-
                   menciona ainda que, entre as jovens que conversa-        traceptivos”, “não tiveram cuidado”, “achavam in-
                   ram com seus parceiros sobre contracepção, houve         conveniente o método contraceptivo” e “achavam
                   maior taxa no uso de contraceptivos na primeira          o método contraceptivo desnecessário”(1).
                   relação e menor índice de gravidez. Do mesmo                    Em estudo realizado por Dias et al.(4) a não-
                   modo, aquelas cujos pais e mães conversavam              utilização de métodos contraceptivos foi devida a:
                   sobre sexo, gravidez e modo de evitar filhos, ou         não-manutenção de relações sexuais, seguida por
                   que tiveram alguma orientação sexual na escola,          despreocupação com os riscos de uma gravidez e
                   engravidaram menos.                                      temor dos efeitos colaterais dos contraceptivos.
                         Outro dado relevante citado sobre uma pesqui-             A deficiência dos serviços de saúde pode ser
                   sa em seis escolas de diferentes níveis socioeconômi-    apontada como outro fator relevante com rela-
                   cos, com 128 estudantes de ambos os sexos, entre         ção à não-utilização dos métodos contraceptivos,
                   11 e 19 anos selecionados ao acaso, revelou que          principalmente se associada à questão do acesso
                   81,7% conheciam alguns métodos anticoncepcio-            à informação e à escolaridade dessas adolescentes.
                   nais, sendo o preservativo e a pílula os mais citados.   Uma vez que os serviços disponíveis são insuficien-
                         Entre os motivos mencionados pelas ado-            tes, nossa população tem o hábito cultural de obter
                   lescentes quanto ao não-uso da anticoncepção,            informações sobre medicamentos em farmácias,
                   encontram-se dificuldade de diálogo com o par-           principalmente quanto ao anticoncepcional oral.
                   ceiro, não-valorização das chances de engravidar,        É comum o uso desse remédio mediante indica-
                   esquecimento, qualidade e/ou inadequação da              ção do farmacêutico, o que muitas vezes implica a
                   informação a respeito de contracepção e reprodu-         utilização de maneira incorreta, e, quando surgem
                   ção, assim como sobre o uso correto dos métodos          efeitos colaterais, a tendência é substituí-lo, de ma-
                   anticoncepcionais(15).                                   neira aleatória, sem avaliação médica, o que pode
                         No caso das jovens, a não-utilização do mé-        acarretar abandono do método e, conseqüente-
                   todo contraceptivo se deu segundo relatos por:           mente, gravidez(5).
                   “não esperar ter relações naquele momento”; e                   Como podemos perceber, muitas vezes o
                   para os rapazes porque “não se preocupou com             método contraceptivo pode estar disponível,
                   isso, pois a responsabilidade da contracepção é          mas o adolescente não sabe como usá-lo cor-
                   da parceira” e “os homens quase não pensam; as           retamente. Os jovens, apesar da grande varie-
                   mulheres que têm de se cuidar mais do que os             dade de informações, ainda têm dúvidas sobre
                   homens. Quando vai pensar, já é tarde, vai se ar-        o uso adequado e idéias equivocadas acerca
                   repender. Eu acho que elas tinham que se cuidar          dos métodos anticoncepcionais. Esse fato pode
                   mais”.                                                   ser evidenciado, por exemplo, na colocação da
                         O que se percebe nesses relatos é que, cul-        camisinha e nas tomadas das pílulas, principal-
                   turalmente, a responsabilização pela contracep-          mente em relação ao intervalo entre as cartelas
                   ção recai diretamente sobre as mulheres desde o          – muitas adolescentes se confundem e as ini-
                   surgimento do anticoncepcional oral. O que deve          ciam erroneamente ou não respeitam o inter-
                   ser considerado é que essa jovem, assim como o           valo recomendado entre uma e outra cartela. O
                   rapaz, ainda não possui maturidade suficiente,           coito interrompido, apesar de ser muito utiliza-
                   juntando-se a isso a inexperiência e o total des-        do na adolescência, também apresenta um grau
                   preparo diante de tamanha responsabilidade.              enorme de dificuldade, pois pressupõe controle


volume 6 ■ nº 1 ■ abril 2009	                                                                                    Adolescência & Saúde
Santos & Nogueira	                                       Gravidez na adolescência: falta de informação?             55



da ejaculação, e, como nessa fase é comum a          das, é inegável o sentimento de que a família é o
ocorrência de ejaculações precoces, torna-se         “porto seguro” que todos os jovens precisam ter.
complexa sua utilização.                             É mister que ela participe e esteja mais presente
     Além do mais, o pensamento mágico é ine-        na vida do adolescente apoiando-o, orientando-
rente ao desenvolvimento psicológico do ado-         o, incentivando o diálogo e a escuta para que
lescente. Corresponde à idéia preconcebida de        ele adquira segurança e confiança em seu meio
que nada de ruim poderá acontecer indepen-           familiar, evitando que se sinta perdido diante de
dente das ações praticadas. Na realidade, é uma      acontecimentos como a gravidez precoce e ou-
exposição ao risco, partindo do pressuposto de       tros que podem surgir em sua vida.
que o dano não pode acontecer. Representa ter               Outro fator relevante a ser discutido é que,
relações sexuais sem preservativo achando que        culturalmente, a mulher ainda é vista como a
não poderá contrair alguma DTS ou engravidar.        única responsável por evitar uma gravidez, já
Enfim, é andar no “limite de sua capacidade”.        que o homem é tido como “viril”. Portanto ser
     Conforme citado por Domingues(5), “vi-          homem significa ter menos controle sobre seus
venciar situações de perigo não é só um grande       impulsos sexuais, diferentemente da mulher, que
desafio, mas pode ser o determinante da condi-       deveria se “cuidar mais”.
ção de adolescente. Isso porque tais situações              Em relação à informação sobre anticoncep-
abrem a possibilidade de descobrir o novo, de        ção, evidenciou-se que o jovem possui conheci-
testar os próprios limites e de experimentar         mentos sobre a existência de métodos contracepti-
‘emoções inusitadas’”.                               vos, porém não sabe administrá-los corretamente,
                                                     apresentando dúvidas e idéias equivocadas sobre
                                                     os mesmos. Muitas vezes, os jovens negam a pos-
Conclusão                                            sibilidade de uma gravidez devido ao pensamento
                                                     “mágico” característico da sua faixa etária.
      Pensar a sexualidade como um processo                 Ao responder à pergunta inicial, “o que
que eclode na adolescência é pensar num uni-         as adolescentes acreditam possuir com a gravi-
verso de desejos, excitações, descobertas, sen-      dez?”, elas mencionaram ganhar independência,
timentos etc., portanto esse assunto não pode        expectativa de um futuro melhor, auto-realiza-
ser ignorado ou adiado, devendo ser elaborado,       ção. Mas, em minha opinião, o que elas bus-
discutido e construído. Assim, nesse período de      cam inconscientemente é preencher um vazio
vida, é fundamental uma adequada educação            existencial com o fato de serem mães e, a partir
sexual, por meio da qual o adolescente tenha         disso, “tentar, de certa forma, reescrever a sua
a possibilidade de aprender a cuidar não só de       história”.
sua saúde reprodutiva e da do seu parceiro(a),              Criar espaços de diálogo entre adolescentes,
como também tenha abertura para falar de dú-         jovens, professores, profissionais de saúde, pais,
vidas, medos, desejos, emoções etc. Em relação       responsáveis e comunidade é, comprovadamen-
à escola, ao abordar a sexualidade, é importante     te, um importante instrumento para construir
que essa não fique presa somente aos termos da       uma resposta social com vistas à superação das
fisiologia dos aparelhos genitais masculino e fe-    relações de vulnerabilidade às DSTs, à infecção
minino, mas que discuta uma prática saudável da      pelo HIV e à AIDS, assim como à gravidez preco-
sexualidade, repassando informações sobre anti-      ce e não-planejada. Para tanto as ações desenvol-
concepção e resolvendo dúvidas e expectativas.       vidas devem ir além da dimensão cognitiva, levan-
      A família é o referencial para que o adoles-   do em conta aspectos subjetivos, questões relativas
cente possa enfrentar o mundo e as experiências      às identidades e às práticas afetivas e sexuais no
que ainda estão por vir. Mesmo diante de situa-      contexto das relações humanas, da cultura e dos
ções adversas, e até mesmo estruturas desgasta-      direitos humanos.


Adolescência & Saúde	                                                                            volume 6 ■ nº 1 ■ abril 2009
56             Gravidez na adolescência: falta de informação?	                                                    Santos & Nogueira




                   Referências
                   1. Belo MAV, Silva JLP. Conhecimento, atitude e prática sobre métodos anticoncepcionais entre adolescentes gestantes.
                   Revista de Saúde Pública. 2004; 38(4): 479-87.
                   2. Brandão ER, Heilborn ML. Sexualidade e gravidez na adolescência entre jovens de camadas médias do Rio de janeiro.
                   Caderno de Saúde Pública. 2006; 22(7): 1421-30.
                   3. Contini MLJ, Koller SH, Barros MNS. Adolescência e psicologia: concepções, práticas e reflexões críticas. Brasília:
                   Conselho Federal de Psicologia. 2002.
                   4. Dias ACG, Gomes WB. Conversas, em família, sobre sexualidade e gravidez na adolescência: percepção das jovens
                   gestantes. Revista de Psicologia: Reflexão e Crítica. 2000; 13(1).
                   5. Domingues Jr. JS. utilização de métodos contraceptivos na adolescência: uma opção? São Paulo: 1998. Dissertação
                   de Mestrado, Faculdade de Saúde Pública da USP.
                   6. Fórum Mídia & Educação: perspectivas para a qualidade da informação. Brasília, 2000. Disponível em: <http://www.
                   unicef.org/brazil/pt/midiaedu.pdf>.
                   7. Furtado C. Formação econômica do Brasil. 16. ed. São Paulo: Nacional. 1979.
                   8. Godinho RA, Schelp JRB, Parada CMGL, Bertoncello NMF. Adolescentes e grávidas: onde buscam apoio? Revista
                   Latino-Americana de Enfermagem. 2000; 8(2): 25-32.
                   9. Knobel M, Perestrello M, Uchôa D. A adolescência na família atual: visão psicanalítica. Rio de Janeiro: Atheneu.
                   1981.
                   10. Lima CTB, Feliciano KVO, Carvalho MFS et al. Percepções e práticas de adolescentes grávidas e de familiares em
                   relação à gestação. Recife: Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil. 2004.
                   11. Monteiro DLM, Cunha AA, Bastos AC. Gravidez na adolescência. Rio de Janeiro: Revinter. 1998.
                   12. Moreira CC. A adolescente engravida. Pediatria Moderna. 1997.
                   13. Santos A, Carvalho CV. Gravidez na adolescência: um estudo exploratório. Boletim de Psicologia. 2006; LVI(125):
                   135-51.
                   14. Unicef. A voz dos adolescentes. 2000. Disponível em: <http://www.unicef.org>. Acesso em: 16 jun. 2008.
                   15. Vieira LM, Saes SO, Dória AAB, Goldberg TBL. Reflexões sobre a anticoncepção na adolescência no Brasil. Recife:
                   Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil. 2006.
                   16. Ximenes Neto FRG, Dias MAS, Rocha J, Cunha ICKO. Gravidez na adolescência: motivos e percepções de
                   adolescentes. Brasília: Revista Brasileira de Enfermagem. 2007.
                   17. Monteiro DLM, Cunha AA. Perfil reprodutivo da adolescente. J Bras Ginecol. 1994; 104:59-72.




volume 6 ■ nº 1 ■ abril 2009	                                                                                          Adolescência & Saúde

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Gravidez na adolescência: falta de informação ou imaturidade

  • 1. 48 ARTIGO ORIGINAL Cristiane Albuquerque C. dos Santos1 Kátia Telles Nogueira2 Gravidez na adolescência: falta de informação? Pregnancy in adolescence: lack of information? RESUMO A gravidez na adolescência tem sido apontada como um problema de saúde pública. Pretende-se, neste artigo, conhecer os motivos que levam a adolescente a engravidar, apesar do grande número de informações. Mediante revisão bibliográfica levantou-se o histórico de gravidez na adoles- cência, mudanças sociais, estrutura familiar e elementos que podem levar a adolescente a iniciar sua vida sexual, além dos meios de informação nos quais o adolescente busca saber sobre o que acontece no seu dia-a-dia, os métodos contraceptivos e suas implicações. Os dados obtidos nessa revisão mostram que os adolescentes possuem conhecimento acerca dos métodos contraceptivos, porém não sabem como administrá-los corretamente. A pílula e o preservativo masculino aparecem como os mais conhecidos. Os jovens muitas vezes negam o risco de engravidar devido a um pensamento “mágico” característico da adolescência e de sua imaturidade psicoemocional. Ao engravidar, as adolescentes acreditam obter a auto-realização e a independência. Outro fator relevante a ser discutido é que, culturalmente, a mulher ainda é vista como a única responsável por evitar uma gravidez. Construir um espaço onde pais, familiares, escola, adolescentes, professores e profissionais de saúde possam dialogar é um importante instrumento para se obter resposta social com vistas à superação das relações de vulnerabilidade às doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), assim como à gravidez precoce e não-planejada. Unitermos Adolescência; gravidez; sexualidade; informações sobre contracepção Abstract Pregnancy in adolescence has been considered a problem of public health. This work intends to find the reasons that take an adolescent to get pregnant, in spite of the great amount of information. This article reviews the history of pregnancy in adolescence, the social changes, the familiar structure, and the elements that can take the adolescent to begin his sexual life, as well as the means from which he or she tries to get information about daily life, contraceptive methods and their implications. The data obtained in the bibliographical review show that adolescents have knowledge on contraceptive methods, however they do not know how to use them correctly. The pill and the condom appear as the most known ones. Adolescents very often deny the risk of getting pregnant due to the magical thinking characteristic of adolescence and to their psycho-emocional immaturity. They believe pregnancy will bring them self-fulfillment and independence. Another relevant factor to be discussed is that culturally the woman is still seen as the only person in charge of avoiding a pregnancy. It is important to provide opportunity of dialogue for parents, relatives, school, adolescents, teachers and health professionals. That would act as an instrument to help overcome the vulnerability to sexually transmitted diseases (STDs), as well as to precocious and not planned pregnancy. Key words Adolescence; pregnancy; sexuality; information on contraception Introdução que o adolescente passa por várias mudanças: físi- cas, psíquicas, sociais e, principalmente, no relacio- Dados da Organização Mundial da Saúde namento com os pais. Ele está em transformação. (OMS) revelam que a adolescência corresponde ao Já não é mais criança, mas também ainda não é período de vida entre 10 e 19 anos. É nessa fase adulto. Seu corpo dá demonstrações de que mu- danças estão ocorrendo. 1. Pós-graduanda em Saúde Pública pelo Centro Universitário Celso Lisboa. O crescimento é rápido nos dois anos ante- 2. Médica do Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente da Universidade do Estado riores e posteriores à puberdade. Além de rápido é do Rio de Janeiro (NESA/UERJ); doutora em Epidemiologia pelo instituto de Medicina Social (IMS) UERJ. desproporcional: os membros se alongam, o corpo volume 6 ■ nº 1 ■ abril 2009 Adolescência & Saúde
  • 2. Santos & Nogueira Gravidez na adolescência: falta de informação? 49 emagrece, os ângulos se salientam. O adolescente sexuais. A sexualidade é imperativa na adolescên- encontra-se perplexo por um corpo que é seu, cia, os sentimentos são vividos com enorme inten- mas que lhe soa estranho. Ele tem diante de si a sidade e o jovem, ainda imaturo, não sabe como descoberta de um mundo novo. Ama os pêlos que lidar com ela. lhe dão status de adulto, mas apavora-se com as A família é o primeiro modelo, é o referencial alterações que o jogam num caminho ainda des- para que o adolescente possa enfrentar o mundo conhecido. Essas mudanças, nas quais perde a sua e as experiências que ainda estão por vir. Daí a ne- identidade de criança, implicam a busca de uma cessidade de diálogo entre pais e filhos para que nova identidade, que se vai construindo nos planos estes não busquem informações erradas ou incom- consciente e inconsciente. O adolescente não quer pletas com amigos ou parceiros que também não ser como determinados adultos, mas, em troca, es- detêm conhecimento suficiente. colhe outros como ideais. Brandão et al.(2) informam que a gravidez na O amor, além disso, é só um aspecto da pro- adolescência tem sido apontada como um “pro- blemática da adolescência: quase todos os ado- blema social”. Parir antes dos 19 anos, décadas lescentes já sabem que a liberdade sexual não é atrás, não se constituía assunto de ordem pública. promiscuidade, porém sentem e expressam a ne- As alterações no padrão de fecundidade feminina cessidade de ter experiências que nem sempre são brasileira, as redefinições na posição social da mu- totais, mas que precisam viver. lher, gerando novas expectativas para as jovens no Segundo Doreto et al. (2006), tal descom- tocante à escolarização, e o fato de a maioria dos passo de expectativas nem sempre corresponde às nascimentos ocorrer fora de uma relação conjugal vivências individuais, mas dificulta o diálogo aberto despertaram a atenção para esse fato. sobre o sexo e o compartilhamento de estratégias Este estudo baseia-se na importância de se para que o início da vida sexual não traga surpresas reconhecerem os reais motivos que levam as ado- desagradáveis. lescentes a engravidar e as implicações sociais, psí- Godinho et al.(8) afirmam que, durante o pe- quicas e econômicas envolvidas no universo ado- ríodo de transformações, o apoio dado às adoles- lescente. Visa, ainda, apresentar informações que centes é muito importante, para que elas tolerem contribuam de forma significativa para a realização as mudanças a que estão sujeitas e não se sintam de projetos voltados para o público adolescente, os vulneráveis às transformações biopsicossociais. quais sejam didáticos, incisivos e accessíveis, possi- Para tanto a família deve estar bem estruturada, a bilitando, assim, não só o diálogo, mas também a fim de não facilitar a ocorrência, comum entre as escuta do discurso adolescente. adolescentes, de violência, uso de drogas e gravi- Este artigo tem como objeto a gravidez na dez precoce. adolescência e visa refletir sobre as causas que Na adolescência o relacionamento com os levam as adolescentes a engravidar, tendo como pais é bastante abalado pelo questionamento que questão o que elas acreditam possuir com a gra- o jovem faz em relação a valores, estilo de vida, videz. fé, ideologia etc. Esse questionamento geralmente Apesar da grande quantidade de informações cria um ambiente de tensão familiar. Os pais mui- sobre sexualidade e métodos anticoncepcionais, as tas vezes se sentem ansiosos e desorientados, sem adolescentes continuam engravidando, o que gera saber como lidar com seus filhos. Na fase de busca, implicações sociais, psíquicas e econômicas. Sociais procura, enfrentamento, desestruturação e discus- porque geralmente abandonam os estudos devido sões com os pais, o adolescente passa a dar grande à gravidez; psíquicas porque ainda não estão emo- importância ao grupo de amigos e muitas vezes se cionalmente prontas para assumir uma gravidez; e identifica com as experiências pelas quais seus ami- econômicas porque quase sempre as famílias as- gos estão passando. É muito comum, no grupo de sumem a criança e a adolescente, aumentando as amigos, o surgimento de namoros e experiências despesas da casa. Adolescência & Saúde volume 6 ■ nº 1 ■ abril 2009
  • 3. 50 Gravidez na adolescência: falta de informação? Santos & Nogueira Esse fato tem se tornado um problema de saú- Uma das descobertas dos anos 1950, que de pública que precisa ser mais bem compreendido. talvez tenha sido a principal responsável pela mu- dança na vida e no papel social da mulher, foi a pílula anticoncepcional, que propiciou sua maior Histórico da gravidez na inserção no mercado de trabalho e também uma adolescência liberdade sexual que ela ainda não conhecia. A pílula é um contraceptivo hormonal desenvolvido A gravidez na adolescência acontece desde os por Gregory Pincus e John Rock. Apesar de já exis- primórdios da civilização. A mulher começava a sua tirem outros contraceptivos que permitiam que vida reprodutora muito próximo da puberdade e as decisões sobre a maternidade estivessem sob o raras eram as que ultrapassavam a segunda década controle da mulher, como a capa cervical (1838), de vida em conseqüência de complicações advindas o diafragma (1882), o método Ogino e Knaus ou da gravidez e do parto. O mesmo ocorria na Idade “tabelinha” (início do século XX) e o dispositivo Média, quando meninas mal saídas da infância, ao intra-uterino (DIU) (década de 1920), foi a pílula primeiro sinal da menarca, eram casadas com ho- que carregou consigo o emblema de “libertado- mens cuja idade girava em torno dos 30 anos. ra”. Se antes as decisões contraceptivas – com No Brasil, no século passado, as chamadas exceção do aborto – estavam sob o controle dos “sinhazinhas” também eram casadas com maridos homens, os novos métodos mudaram as relações, escolhidos pelos pais e geravam filhos para seus ma- e a possibilidade anteriormente masculina de se- ridos, só deixando de fazê-lo quando havia alguma parar prazer de reprodução passou a ser também complicação(11). das mulheres. As grandes mudanças ocorridas no final do O comércio da pílula anticoncepcional teve século passado, decorrentes da Revolução Industrial início, no Brasil, em 1962, dois anos depois de ela na Europa e, principalmente, as conseqüentes à ter sido aprovada nos EUA pela Food and Drug I Guerra Mundial, abriram amplo campo de traba- Administration (FDA). lho às mulheres em vários setores de atividades até Hoje, com a liberação sexual e a grande va- então exercidas por homens e as puseram em con- riedade de contraceptivos, os relacionamentos dições totalmente diferentes daquelas preexistentes. sexuais iniciam-se mais cedo. Além disso, uma Essas mudanças, porém, não foram acompanhadas jovem ainda virgem é considerada “espécie em por políticas que lhe assegurassem condições para extinção”. As jovens de hoje buscam se identi- dividir as responsabilidades pessoais com as do em- ficar com a imagem de uma mulher que toma prego. iniciativa e procura manter o controle sobre sua Surgia então uma nova concepção: a da ado- sexualidade(11). lescente que se lançava no mercado de trabalho. A Para Godinho et al.(8), há uma precocidade gravidez nesse momento a impedia de evoluir na da iniciação sexual (de 14,7 anos) e da menarca profissão, além de comprometer a estrutura finan- (12,3 anos), indicando a ausência de programas ceira da família num dos período mais difíceis eco- de educação sexual nas escolas e planejamento nomicamente(7). familiar nos serviços públicos como fatores que O fim da II Guerra Mundial foi o marco das podem favorecer a ocorrência de uma gravidez transformações sociais. Houve uma quebra nos va- indesejada. Há adolescentes que engravidam lores sociais importantes, levando os jovens, que idealizando independência e liberdade, porém por natureza já possuíam a característica de viver acabam frustrando-se com a falta de apoio do em grupos, a se unir cada vez mais, estabelecendo companheiro, o que termina por acarretar maior padrões de convivência em que a atividade sexual dependência dos pais. é considerada o símbolo da liberdade, do uso do Ganham destaque também a impulsividade, corpo em sua totalidade(12). a baixa auto-estima, a aspiração à maturidade e o volume 6 ■ nº 1 ■ abril 2009 Adolescência & Saúde
  • 4. Santos & Nogueira Gravidez na adolescência: falta de informação? 51 fato de a gravidez fazer parte do projeto de vida falta de conhecimento sobre métodos contracepti- da adolescente na tentativa de alcançar autono- vos, objeção ao uso de preservativos pelo parceiro mia econômica e emocional em relação à família e pensar que não engravidam. de origem(10). É fato que a utilização de métodos contracep- A sociedade tem passado por profundas mu- tivos não ocorre de modo eficaz na adolescência, danças em sua estrutura, inclusive aceitando melhor embora muitos adolescentes conheçam os contra- a sexualidade dos adolescentes, o sexo antes do ca- ceptivos mais comuns, como a camisinha e a pílu- samento e também a gravidez na adolescência. Basta la anticoncepcional. Uma das razões que poderia fazer a comparação com algumas décadas atrás, justificar esse comportamento seria a imaturidade quando o fato de perder a virgindade era motivo psicoemocional, característica da adolescência(1). de desonra para a adolescente e a família, além de, As reações da família diante da adolescente na maioria das vezes, culminar com sua expulsão da grávida tendem a ser contraditórias, sendo comum casa dos pais. Portanto tabus, inibições e estigmas a sobreposição de sentimentos de revolta, abando- estão diminuindo, e a atividade sexual entre jovens, no e aceitação do “inevitável”(10). aumentando. A adolescente muitas vezes nega a possibili- É mister mencionar que o mundo vem passan- dade de engravidar pensando erroneamente que, do por inúmeras transformações nos mais diversos se a relação sexual for mantida de forma eventual, campos: econômico, político, social etc. O excesso não haverá necessidade de utilizar métodos anti- de informações e a liberdade recebida pelos adoles- concepcionais. Outro pensamento pueril é de que centes os levam à banalização de assuntos como, por não se engravida na primeira relação sexual. exemplo, o sexo. Essa liberação sexual, acompanha- Godinho et al.(8) afirmam que, na adolescên- da de certa falta de limite e responsabilidade, é um cia, o indivíduo ainda não possui capacidade para dos motivos que favorecem a incidência de gravidez racionalizar as conseqüências de seu comporta- entre as adolescentes. mento sexual, deparando-se freqüentemente com Outros fatores que devem ser ressaltados são o situações de risco, como gravidez não-planejada afastamento dos membros da família e a desestrutu- ou indesejada. ração familiar. Seja por separação, seja pelo corre-cor- As estatísticas são motivos de preocupação. re do dia-a-dia, os pais estão cada vez mais afastados Para se ter uma idéia, mais de um terço dos ado- de seus filhos. Isso, além de dificultar o diálogo, dá ao lescentes brasileiros (cerca de 8 milhões) vive em adolescente uma liberdade sem responsabilidade. Ele famílias com renda per capita inferior a meio salário passa, muitas vezes, a não ter a quem dar satisfações mínimo. Esses adolescentes possuem, em média, de sua rotina diária, procurando os pais ou responsá- pelo menos três anos de defasagem escolar, con- veis apenas quando o problema já se instalou(14). siderando-se a relação entre idade e série. Entre Vários são os elementos que podem levar o eles encontra-se mais de 1 milhão de adolescentes adolescente a iniciar sua vida sexual precocemen- analfabetos. Desestimulados pelo fracasso escolar, te: falta de apoio familiar e de expectativas de vida, pela baixa qualidade da educação e pela necessida- perda da auto-estima, baixo rendimento escolar, de de gerar renda, tendem a abandonar o sistema maus exemplos familiares, curiosidade natural, ne- educacional, tornam-se pais e mães precocemente, cessidade de expressar amor e confiança, solidão, passam a constituir a principal força do mercado carência afetiva, necessidade de auto-afirmação etc. informal de exploração do trabalho e tornam-se as Dias et al.(4) relatam que o ato sexual poderia maiores vítimas da violência(14). representar uma função relacionada com o status No Brasil, é na camada social com menor po- adulto e uma promessa de união a um outro que der aquisitivo que se encontram os maiores índi- substituiria a figura dos pais. ces de fecundidade. A baixa perspectiva de vida, Belo et al.(1) observaram em sua pesquisa os a violência, a baixa escolaridade e, muitas vezes, motivos pelos quais as adolescentes engravidam: a repetência, aliada à falta de recursos materiais, Adolescência & Saúde volume 6 ■ nº 1 ■ abril 2009
  • 5. 52 Gravidez na adolescência: falta de informação? Santos & Nogueira financeiros e emocionais, fazem com que a adoles- No que se refere à comunicação, registre- cente veja na gravidez a sua única expectativa de se o papel crescente da mídia na socialização. futuro e independência. Além disso, algumas ado- Como se sabe, a socialização é um processo lescentes não orientadas pelo ambiente familiar, contínuo que vai da infância à velhice e é por na fase pré-púbere, querem se auto-afirmar como meio dela que o indivíduo internaliza a cultura mulheres, somando-se a esse desejo o espírito de de seu grupo e interioriza as normas sociais(6). imitação, por saberem que algumas amigas já têm No Brasil, apesar de serem poucos os dados vida sexual ativa. Outras perdem a virgindade ape- disponíveis sobre o processo de socialização, é nas com o intuito de provocação à família(9). possível identificar a tendência histórica compa- Entretanto há as que percebem a gravidez rando-se duas pesquisas: uma realizada na dé- como uma forma de auto-realização, vontade de cada de 1960, antes, portanto, da existência de “ter filho”, por gostarem de crianças e por “terem um sistema nacional de comunicações , e outra alguém para cuidar”(16). do Instituto DataFolha, realizada em 1997. No livro Gravidez na Adolescência, de Crianças brasileiras entre 6 e 14 anos de Monteiro et al.(11), o perfil psicossocial proposto por idade citavam os pais, o cinema, as revistas e Monteiro (1994) informa que, em 70% dos casos os amigos entre suas principais fontes de infor- estudados, a mãe da adolescente também foi mãe mação nos anos 1960. Cerca de 30 anos de- na adolescência. Os cuidados com irmãos menores pois havia uma presença ainda mais decisiva da já eram praticados por 56% das adolescentes, ou mídia. Respondendo à pergunta “você poderia seja, o exercício da maternidade já não era de todo nos dizer qual a importância que cada uma das desconhecido, pois já havia sido aprendido nos fontes de informação abaixo tem para você sa- cuidados com irmãos, parentes e vizinhos. O autor ber o que acontece no mundo?”, a televisão revela também que as adolescentes possuem um (75%), os jornais (55%), as revistas (52%) e a pensamento mágico de que não engravidarão ao internet (50%) receberam a resposta “muito iniciarem a vida sexual. Esse tipo de pensamento importante”(6). parece dissociado da teoria e da prática. Observemos a programação oferecida pela Apesar da maior difusão de conhecimentos televisão: a grande maioria é composta por pro- sobre o assunto, cerca de 45% a 60% dos ado- gramas que estimulam padrões de comporta- lescentes brasileiros iniciam a vida sexual sem ne- mento, quaisquer que sejam eles. Podemos citar nhum método contraceptivo, conforme dados do aqui o culto ao corpo, a valorização da beleza, o ano de 2003 do Ministério da Saúde (MS). “corpo sarado” e escultural que homens e mu- lheres exibem de maneira insinuante, passando o indivíduo a ser visto como objeto. Novelas, A adolescência e os meios de seriados e filmes com conteúdos adultos muitas informação vezes são exibidos em horários em que ainda há a presença de pré-adolescentes e crianças. As Sabe-se que a mídia tem grande poder últimas são profundamente afetadas pelo estí- de influência. Não só sobre a população adul- mulo visual, como cenas de insinuação de rela- ta, mas também sobre os jovens. A televisão é cionamento sexual, sexo descartável, carícias e uma grande incentivadora e desencadeadora de corpos nus, o que desperta a sua sexualidade de todo tipo de informação, atuando como forma- maneira precoce. Isso não significa que o jovem dora de opinião. O “bombardeio” de informa- esteja passivo diante dessa situação, apenas ab- ções e imagens da mídia induz uma aceleração sorvendo o conteúdo transmitido. Entretanto do ingresso no mundo adulto quando o jovem não podemos negar que a possibilidade de ainda não tem orientação, estrutura emocional uma leitura crítica e de uma transformação do e psíquica para isso. conteúdo recebido não são facilitadas, conside- volume 6 ■ nº 1 ■ abril 2009 Adolescência & Saúde
  • 6. Santos & Nogueira Gravidez na adolescência: falta de informação? 53 rando-se a massificação de informações trans- Conhecimento e método mitidas pela televisão(3). contraceptivo Além da televisão, outros meios de informa- ção procurados pelos jovens são as revistas vol- O conhecimento sobre métodos anticoncep- tadas para o público adolescente e as conversas cionais é um tema importante, especialmente na com amigas(os). adolescência, uma vez que previne não só uma A maioria dos adolescentes não lê jornal ou gravidez indesejada como também evita que o jo- acompanha o noticiário. Diz que não o faz pelos vem se exponha às DSTs e à AIDS, podendo viven- conteúdos cheios de violência e “política”. Mas ciar o sexo de maneira saudável e sem riscos. eles reconhecem a importância de se manterem A menarca precoce vem expondo a adoles- atualizados. Para eles as revistas são os veículos de cente aos riscos de uma gravidez em idades tam- informação mais instrutivos, uma vez que trazem bém precoces, e vários estudos referem que a mé- orientações acerca de saúde, comportamento e dia de idade da menarca no Brasil está em torno de formação. 12 a 13 anos(15). A opinião de meninos e meninas sobre a Quanto mais precoce é a iniciação sexual, mídia é, muitas vezes, contraditória. Eles não menores são as chances de uso de métodos con- acreditam em seu papel dominador sobre o com- traceptivos e, conseqüentemente, maiores as pos- portamento das pessoas, tendo a mídia apenas a sibilidades de gravidez. função de informar. Contudo reconhecem que Com base na revisão de artigos observou-se os meios de comunicação são capazes de influen- que, em relação ao conhecimento dos adolescen- ciar o comportamento, mas que isso depende de tes sobre métodos contraceptivos, o anticoncep- cada pessoa e que é importante desenvolver um cional oral (94,2%) e a camisinha (91,7%), res- pensamento crítico, como com relação às propa- pectivamente, são os mais conhecidos e usados, gandas de cigarro, que usam exemplos da vida seguidos por coito interrompido (39,1%), tabela cotidiana(14). (60,9%) e diafragma (39,1%). Este estudo mos- No entanto podemos citar iniciativas trou que as principais justificativas para a ocorrên- como a da Agência de Notícias dos Direitos da cia da gravidez foram: 51,2% queriam ser mães; Infância (ANDI), organização não-governamen- 18,6% disseram que gostavam de crianças; 9,3% tal (ONG) brasiliense que vem acompanhando a referiram ser desejo do casal; e 4,7% não queriam evolução do comportamento editorial da mídia perder o parceiro. jovem desde março de 1997 e desenvolvendo Para Belo e Silva(1), “as adolescentes grávidas uma série de projetos voltados para apoiar os têm conhecimento elevado em relação à existência profissionais de imprensa a realizar uma cober- dos métodos anticoncepcionais, embora tenham tura das questões relativas à infância e à adoles- uma prática inadequada para a sua utilização”, e cência a partir da ótica dos direitos humanos. acrescenta: “uma das razões que poderiam jus- Denominado “Os Jovens e a Mídia”, o projeto tificar esse comportamento seria a imaturidade dedicado aos suplementos de jornais, revistas e psicoemocional, característica da adolescência”. programas de televisão gerados para o públi- Em estudo realizado pela Sociedade Civil co adolescente vem radiografando, de forma Bem-Estar Familiar no Brasil em 1996 a respeito do sistemática, as principais características desses comportamento reprodutivo dos jovens brasileiros, veículos, podendo-se citar alguns temas mais a totalidade dos inquiridos “conhecia” algum tipo abordados e que são considerados de relevância de método contraceptivo e a maioria já havia uti- social: Aids e DSTs, cultura, drogas, educação, lizado algum deles pelo menos uma vez. Porém o família, formação profissional, gravidez, mídia, “nível de conhecimento” estava relacionado com portadores de deficiência, projetos sociais, saú- o simples “ter ouvido falar” sem detalhar questões de, sexualidade e violência. acerca da utilização adequada. Adolescência & Saúde volume 6 ■ nº 1 ■ abril 2009
  • 7. 54 Gravidez na adolescência: falta de informação? Santos & Nogueira Durante pesquisa realizada em São Paulo, em Ainda falando sobre as razões para o não-uso 2004, para conhecer a sexualidade e o plano de de qualquer método na primeira relação sexual, vida dos adolescentes, foram levantados os seguin- podemos citar outras alegações, como: “não pen- tes dados: 87% dos jovens declararam conhecer os saram nisso na hora”, “os parceiros não quiseram métodos contraceptivos e 70% tiveram a primeira usar”, “não se importam de engravidar”, “confiança relação sexual sem nenhuma proteção. O texto no parceiro”, “dificuldade de acesso a métodos con- menciona ainda que, entre as jovens que conversa- traceptivos”, “não tiveram cuidado”, “achavam in- ram com seus parceiros sobre contracepção, houve conveniente o método contraceptivo” e “achavam maior taxa no uso de contraceptivos na primeira o método contraceptivo desnecessário”(1). relação e menor índice de gravidez. Do mesmo Em estudo realizado por Dias et al.(4) a não- modo, aquelas cujos pais e mães conversavam utilização de métodos contraceptivos foi devida a: sobre sexo, gravidez e modo de evitar filhos, ou não-manutenção de relações sexuais, seguida por que tiveram alguma orientação sexual na escola, despreocupação com os riscos de uma gravidez e engravidaram menos. temor dos efeitos colaterais dos contraceptivos. Outro dado relevante citado sobre uma pesqui- A deficiência dos serviços de saúde pode ser sa em seis escolas de diferentes níveis socioeconômi- apontada como outro fator relevante com rela- cos, com 128 estudantes de ambos os sexos, entre ção à não-utilização dos métodos contraceptivos, 11 e 19 anos selecionados ao acaso, revelou que principalmente se associada à questão do acesso 81,7% conheciam alguns métodos anticoncepcio- à informação e à escolaridade dessas adolescentes. nais, sendo o preservativo e a pílula os mais citados. Uma vez que os serviços disponíveis são insuficien- Entre os motivos mencionados pelas ado- tes, nossa população tem o hábito cultural de obter lescentes quanto ao não-uso da anticoncepção, informações sobre medicamentos em farmácias, encontram-se dificuldade de diálogo com o par- principalmente quanto ao anticoncepcional oral. ceiro, não-valorização das chances de engravidar, É comum o uso desse remédio mediante indica- esquecimento, qualidade e/ou inadequação da ção do farmacêutico, o que muitas vezes implica a informação a respeito de contracepção e reprodu- utilização de maneira incorreta, e, quando surgem ção, assim como sobre o uso correto dos métodos efeitos colaterais, a tendência é substituí-lo, de ma- anticoncepcionais(15). neira aleatória, sem avaliação médica, o que pode No caso das jovens, a não-utilização do mé- acarretar abandono do método e, conseqüente- todo contraceptivo se deu segundo relatos por: mente, gravidez(5). “não esperar ter relações naquele momento”; e Como podemos perceber, muitas vezes o para os rapazes porque “não se preocupou com método contraceptivo pode estar disponível, isso, pois a responsabilidade da contracepção é mas o adolescente não sabe como usá-lo cor- da parceira” e “os homens quase não pensam; as retamente. Os jovens, apesar da grande varie- mulheres que têm de se cuidar mais do que os dade de informações, ainda têm dúvidas sobre homens. Quando vai pensar, já é tarde, vai se ar- o uso adequado e idéias equivocadas acerca repender. Eu acho que elas tinham que se cuidar dos métodos anticoncepcionais. Esse fato pode mais”. ser evidenciado, por exemplo, na colocação da O que se percebe nesses relatos é que, cul- camisinha e nas tomadas das pílulas, principal- turalmente, a responsabilização pela contracep- mente em relação ao intervalo entre as cartelas ção recai diretamente sobre as mulheres desde o – muitas adolescentes se confundem e as ini- surgimento do anticoncepcional oral. O que deve ciam erroneamente ou não respeitam o inter- ser considerado é que essa jovem, assim como o valo recomendado entre uma e outra cartela. O rapaz, ainda não possui maturidade suficiente, coito interrompido, apesar de ser muito utiliza- juntando-se a isso a inexperiência e o total des- do na adolescência, também apresenta um grau preparo diante de tamanha responsabilidade. enorme de dificuldade, pois pressupõe controle volume 6 ■ nº 1 ■ abril 2009 Adolescência & Saúde
  • 8. Santos & Nogueira Gravidez na adolescência: falta de informação? 55 da ejaculação, e, como nessa fase é comum a das, é inegável o sentimento de que a família é o ocorrência de ejaculações precoces, torna-se “porto seguro” que todos os jovens precisam ter. complexa sua utilização. É mister que ela participe e esteja mais presente Além do mais, o pensamento mágico é ine- na vida do adolescente apoiando-o, orientando- rente ao desenvolvimento psicológico do ado- o, incentivando o diálogo e a escuta para que lescente. Corresponde à idéia preconcebida de ele adquira segurança e confiança em seu meio que nada de ruim poderá acontecer indepen- familiar, evitando que se sinta perdido diante de dente das ações praticadas. Na realidade, é uma acontecimentos como a gravidez precoce e ou- exposição ao risco, partindo do pressuposto de tros que podem surgir em sua vida. que o dano não pode acontecer. Representa ter Outro fator relevante a ser discutido é que, relações sexuais sem preservativo achando que culturalmente, a mulher ainda é vista como a não poderá contrair alguma DTS ou engravidar. única responsável por evitar uma gravidez, já Enfim, é andar no “limite de sua capacidade”. que o homem é tido como “viril”. Portanto ser Conforme citado por Domingues(5), “vi- homem significa ter menos controle sobre seus venciar situações de perigo não é só um grande impulsos sexuais, diferentemente da mulher, que desafio, mas pode ser o determinante da condi- deveria se “cuidar mais”. ção de adolescente. Isso porque tais situações Em relação à informação sobre anticoncep- abrem a possibilidade de descobrir o novo, de ção, evidenciou-se que o jovem possui conheci- testar os próprios limites e de experimentar mentos sobre a existência de métodos contracepti- ‘emoções inusitadas’”. vos, porém não sabe administrá-los corretamente, apresentando dúvidas e idéias equivocadas sobre os mesmos. Muitas vezes, os jovens negam a pos- Conclusão sibilidade de uma gravidez devido ao pensamento “mágico” característico da sua faixa etária. Pensar a sexualidade como um processo Ao responder à pergunta inicial, “o que que eclode na adolescência é pensar num uni- as adolescentes acreditam possuir com a gravi- verso de desejos, excitações, descobertas, sen- dez?”, elas mencionaram ganhar independência, timentos etc., portanto esse assunto não pode expectativa de um futuro melhor, auto-realiza- ser ignorado ou adiado, devendo ser elaborado, ção. Mas, em minha opinião, o que elas bus- discutido e construído. Assim, nesse período de cam inconscientemente é preencher um vazio vida, é fundamental uma adequada educação existencial com o fato de serem mães e, a partir sexual, por meio da qual o adolescente tenha disso, “tentar, de certa forma, reescrever a sua a possibilidade de aprender a cuidar não só de história”. sua saúde reprodutiva e da do seu parceiro(a), Criar espaços de diálogo entre adolescentes, como também tenha abertura para falar de dú- jovens, professores, profissionais de saúde, pais, vidas, medos, desejos, emoções etc. Em relação responsáveis e comunidade é, comprovadamen- à escola, ao abordar a sexualidade, é importante te, um importante instrumento para construir que essa não fique presa somente aos termos da uma resposta social com vistas à superação das fisiologia dos aparelhos genitais masculino e fe- relações de vulnerabilidade às DSTs, à infecção minino, mas que discuta uma prática saudável da pelo HIV e à AIDS, assim como à gravidez preco- sexualidade, repassando informações sobre anti- ce e não-planejada. Para tanto as ações desenvol- concepção e resolvendo dúvidas e expectativas. vidas devem ir além da dimensão cognitiva, levan- A família é o referencial para que o adoles- do em conta aspectos subjetivos, questões relativas cente possa enfrentar o mundo e as experiências às identidades e às práticas afetivas e sexuais no que ainda estão por vir. Mesmo diante de situa- contexto das relações humanas, da cultura e dos ções adversas, e até mesmo estruturas desgasta- direitos humanos. Adolescência & Saúde volume 6 ■ nº 1 ■ abril 2009
  • 9. 56 Gravidez na adolescência: falta de informação? Santos & Nogueira Referências 1. Belo MAV, Silva JLP. Conhecimento, atitude e prática sobre métodos anticoncepcionais entre adolescentes gestantes. Revista de Saúde Pública. 2004; 38(4): 479-87. 2. Brandão ER, Heilborn ML. Sexualidade e gravidez na adolescência entre jovens de camadas médias do Rio de janeiro. Caderno de Saúde Pública. 2006; 22(7): 1421-30. 3. Contini MLJ, Koller SH, Barros MNS. Adolescência e psicologia: concepções, práticas e reflexões críticas. Brasília: Conselho Federal de Psicologia. 2002. 4. Dias ACG, Gomes WB. Conversas, em família, sobre sexualidade e gravidez na adolescência: percepção das jovens gestantes. Revista de Psicologia: Reflexão e Crítica. 2000; 13(1). 5. Domingues Jr. JS. utilização de métodos contraceptivos na adolescência: uma opção? São Paulo: 1998. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Saúde Pública da USP. 6. Fórum Mídia & Educação: perspectivas para a qualidade da informação. Brasília, 2000. Disponível em: <http://www. unicef.org/brazil/pt/midiaedu.pdf>. 7. Furtado C. Formação econômica do Brasil. 16. ed. São Paulo: Nacional. 1979. 8. Godinho RA, Schelp JRB, Parada CMGL, Bertoncello NMF. Adolescentes e grávidas: onde buscam apoio? Revista Latino-Americana de Enfermagem. 2000; 8(2): 25-32. 9. Knobel M, Perestrello M, Uchôa D. A adolescência na família atual: visão psicanalítica. Rio de Janeiro: Atheneu. 1981. 10. Lima CTB, Feliciano KVO, Carvalho MFS et al. Percepções e práticas de adolescentes grávidas e de familiares em relação à gestação. Recife: Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil. 2004. 11. Monteiro DLM, Cunha AA, Bastos AC. Gravidez na adolescência. Rio de Janeiro: Revinter. 1998. 12. Moreira CC. A adolescente engravida. Pediatria Moderna. 1997. 13. Santos A, Carvalho CV. Gravidez na adolescência: um estudo exploratório. Boletim de Psicologia. 2006; LVI(125): 135-51. 14. Unicef. A voz dos adolescentes. 2000. Disponível em: <http://www.unicef.org>. Acesso em: 16 jun. 2008. 15. Vieira LM, Saes SO, Dória AAB, Goldberg TBL. Reflexões sobre a anticoncepção na adolescência no Brasil. Recife: Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil. 2006. 16. Ximenes Neto FRG, Dias MAS, Rocha J, Cunha ICKO. Gravidez na adolescência: motivos e percepções de adolescentes. Brasília: Revista Brasileira de Enfermagem. 2007. 17. Monteiro DLM, Cunha AA. Perfil reprodutivo da adolescente. J Bras Ginecol. 1994; 104:59-72. volume 6 ■ nº 1 ■ abril 2009 Adolescência & Saúde