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          4. OS ESCOLARES SOB A ÓTICA DA ESCOLA, FAMÍLIA E
          SERVIÇO DE SAÚDE


          Considerados como os principais sujeitos deste estudo, os escolares
encaminhados ao serviço de Psicologia do Ambulatório Regional de Especialidades
exigem uma descrição da maneira pela qual são vistos pelos seus professores, mães,
serviço de saúde e, finalmente, pelo psicólogo.
          As características dos alunos selecionados como sujeitos são apresentadas
de acordo com os seguintes temas:
          - os motivos alegados pelas professoras e mães para o encaminhamento
dos alunos ao psicólogo ou serviço de saúde;
          - as causas atribuídas, pelas mesmas, em relação aos problemas e
dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos escolares;
          - breve histórico escolar da criança, informações coletadas das anamneses
e dos registros existentes nos prontuários médicos de cada aluno;
          - síntese dos resultados da avaliação e das sessões de acompanhamento
psicológico, realizadas pela pesquisadora.


          Vilma, 8 anos, aluna ingressante no Ciclo Básico Inicial ...
          De acordo com a professora, Vilma foi encaminhada para avaliação
psicológica, em meados de setembro de 1994, por apresentar “dificuldades de
aprendizagem, dificuldade de relacionar letra ao som, dificuldades de assimilar
som à escrita, [ser] dependente e[produzir] texto pobre de 2 ou 3 linhas”.
          Em relação às possíveis causas dos problemas de aprendizagem
apresentados pela criança, a professora apenas afirma ser Vilma uma criança
dependente, arredia e agressiva.
42



           A mãe concorda com as observações feitas pela professora e enfatiza o
fato de que Vilma “... não conseguia acompanhar, não estava sabendo nada, não
conhecia as letra e não lia”.
           Segundo a mãe, a professora justificou o encaminhamento ao psicólogo
com o argumento de que existem alunos que podem correr o risco de perder um ano
letivo e, para que isso não acontecesse com Vilma, achou por bem encaminhá-la ao
serviço de Saúde, o que leva a crêr que, à primeira vista, o encaminhamento teve um
caráter preventivo.
           A mãe acredita que uma das razões pelas quais a filha apresenta
“problemas” seja porque ela e o marido viveram conflitos conjugais. Para a mãe, no
entanto, o grande responsável pelos problemas de aprendizagem de Vilma são os
seus sentimentos de baixa auto-estima: se acha “feia e burra”, tem poucos colegas e
só se relaciona bem com meninos, preferindo brincadeiras “masculinas” ; não
apresenta movimentos corporais “graciosos”, fica “chutando com o corpo
esquisito”, o que também parece incomodar a professora, que chama a atenção da
criança por apresentar esse tipo de expressão corporal.
           A mãe parece não se preocupar com o suposto problema de aprendizagem
indicado pela professora, no mesmo grau em que se preocupa com a questão de
auto-estima e socialização da filha. Para ela, Vilma está “mal” na aprendizagem
porque é “preguiçosa” e não aceita ajuda das pessoas, dizendo “eu sei, eu sei”
quando alguém quer ajudá-la nas tarefas.
           A análise do histórico escolar de Vilma, mostra que ela cursou a pré-
escola sem queixas de problemas de aprendizagem. Cursava o CBI pela primeira vez
e, até a data da avaliação no ARE, também estava sendo atendida na Universidade
Federal de São Carlos em um serviço de atendimento pedagógico oferecido à
comunidade.
           Os dados da anamnese realizada revelam que Vilma teve um
desenvolvimento neuro-psicomotor normal.
43



           Os registros existentes no prontuário médico indicam que         a criança
freqüentou o serviço de saúde de forma esporádica, apenas para a realização de
exames de rotina.
           O relatório pedido à professora no início da avaliação (set/94), relata que
Vilma demorou para compreender as características do processo de leitura e escrita,
mas que já estava conseguindo superar as dificuldades, chegando, inclusive, a ler.
Considera Vilma distraída, falante, geralmente fazendo brincadeiras fora de hora e ,
algumas vezes, negando-se a trabalhar em grupo.
           Em suma, parece que o motivo decisivo para o encaminhamento da
criança pelo professor ao psicólogo foram suas características de personalidade
(comportamento pouco feminino, dificuldade de socialização, etc). Na época do
encaminhamento existiam dificuldades de aprendizagem que, na ocasião da coleta de
dados (aproximadamente 7 meses após a inscrição na lista de espera) já estavam
sendo solucionadas.
           O aspecto mais interessante deste caso parece ser a dicotomia entre o
discurso e a prática da professora responsável pelo encaminhamento que, mesmo
afirmando no questionário de coleta de dados não acreditar em fracasso escolar e
que “todos podem aprender”, realiza com certa precipitação (dois meses após o
início do ano letivo) o encaminhamento de sua aluna ao psicólogo.
           Devido à queixa da mãe e da professora sobre seu comportamento
agressivo e pouco sociável, optou-se em atender a criança em grupo com mais duas
outras meninas de sua idade. Observou-se, no início, que Vilma interagia pouco com
suas colegas, mas participava de todas as atividades propostas, sem manifestar
resistência ou criar situações de tensão.
           Vilma é uma criança muito dependente de sua mãe nas atividades do
cotidiano, como por exemplo, tomar banho, trocar de roupa, pentear o cabelo, etc.
Orientou-se a mãe no sentido de promover gradualmente a independência de Vilma
nessas e em outras atividades. Quanto à ausência de auto-estima, percebeu-se que
44



Vilma não gosta de falar sobre esse assunto, defendendo-se da abordagem da
pesquisadora ao mesmo através da introversão e mutismo.
             Em relação aos problemas de aprendizagem alegados pela professora, não
foram observadas maiores dificuldades na realização das atividades acadêmicas
propostas, tais como, leitura, produção e compreensão de textos.
             Vilma permaneceu em atendimento no ARE por aproximadamente nove
meses, obtendo progressos e recebendo alta por não mais apresentar, de acordo com
a professora, dificuldades em realizar as tarefas propostas em sala de aula.
Atualmente, segundo a mãe e a professora, vem apresentando um bom rendimento
escolar e um comportamento social adequado.


             Joana, 10 anos, Ciclo Básico Continuidade pela segunda vez ...
             Segundo a professora, Joana foi encaminhada ao serviço de Psicologia do
ARE a pedido da mãe, por apresentar dificuldades de aprendizagem.
             A mãe não participou da entrevista de coleta de dados, portanto, não foi
possível investigar as suas concepções a respeito dos motivos de encaminhamento de
sua filha.
             A professora não expressou diretamente as suas concepções sobre as
possíveis causas dos problemas de aprendizagem observados em Joana. De acordo
com seu ponto de vista, a criança apresentaria dificuldades em assimilar aquilo que é
ensinado, mesmo variando-se a metodologia de ensino.
             Joana não finalizou sua participação na pesquisa por ter abandonado o
atendimento no setor de Psicologia antes do início da coleta de dados, situação
bastante freqüente no dia a dia da instituição.


             Telma, 10 anos, Ciclo Básico Continuidade pela segunda vez ...
             Segundo a professora, partiu da mãe de Telma o pedido de
encaminhamento para o psicólogo.
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             Sua mãe afirmou que, após várias reclamações da professora sobre o seu
desempenho acadêmico de Telma e sem perspectivas de solução dos problemas,
solicitou à professora que a enviasse a um psicólogo.
             A atitude da mãe em solicitar que a professora fizesse o pedido formal de
encaminhamento da criança pode indicar ser o docente considerado como uma figura
de autoridade, pois a mãe parece crêr que somente a professora está em condições de
pedir que um profissional de saúde avalie os problemas escolares de sua filha.
             As queixas da professora em relação à Telma centralizaram-se em
aspectos do desempenho escolar de Telma: especificamente falta de atenção e
dificuldade em acompanhar o que é ensinado.
             Embora a professora não manifeste suas concepções sobre as causas das
dificuldades observadas, justifica o encaminhamento da aluna pelo fato da mesma,
apesar de ter feito pré-escola e cursado regularmente o CBI e o CBC, ainda não
tenha sido alfabetizada. Para a mãe, a causa dos problemas da filha advém do fato de
não ter realizado o “exame do pézinho” ∗ no momento de seu nascimento, o que
externa a suspeita da família quanto à possibilidade de que Telma seja deficiente
mental.
             Quanto ao histórico de Telma nas etapas anteriores de escolaridade, a
mãe refere-se às mesmas queixas utilizadas para caracterizar o desempenho na série
atual: “desligada e não acompanhava”. Fez pré-escola com muitas queixas das
professoras devido à sua falta de atenção e à “bagunça”, mas esta é a primeira vez
em que é encaminhada a um psicólogo.
             A mãe afirma que já pensou em retirar Telma da escola, sugerindo dar
início a um processo onde a criança que não consegue um desempenho considerado
adequado pela escola e família, passando a perpetuar problemas, repetências e
queixas, acaba sendo afastada ou retirada do sistema educacional.


             
                 A mãe refere-se ao exame de Erros Inatos do Metabolismo, o qual aponta o índice de
fenilcetonúria e hormônio T4 no sangue do bebê e é utilizado para a prevenção de deficiência mental.
46



              A anamnese revelou que, com exceção de uma ameaça de um aborto no
quinto mês de gravidez, não existiram outras anormalidades na gestação e que tanto
o nascimento quanto o desenvolvimento nos primeiros anos de vida de Telma foram
normais. Segundo a mãe, Telma brinca bastante, mais freqüentemente com meninos
e não tem dificuldade em fazer amizades.
              O prontuário médico registra consultas e exames de rotina e que em, em
1991, aos seis anos, foi encaminhada à avaliação psicológica e neurológica por um
pediatra.
              No relatório enviado pela professora no início da avaliação (out/94)
consta que Telma se distrai com muita facilidade e que, de modo geral, seu
comportamento em sala de aula e relacionamento com os colegas é bom. Em
operações matemáticas consegue reconhecer números e quantidades e executar
somas simples.
              Nas sessões de avaliação psicológica, foi possível notar que a criança não
apresentava tantas dificuldades de aprendizagem de leitura e escrita, como foi
colocado pela mãe e professora e, principalmente, não apresentava indícios de ser
deficiente mental. Apesar de apresentar um certo grau de lentidão, realizava as
tarefas propostas com rendimento adequado para o seu nível de alfabetização.
Entretanto, Telma era insegura e triste, com auto-estima rebaixada e auto-conceito
pobre, sentimentos provavelmente agravados em função do emblema de aluna
“problemática” que vem carregando desde que ingressou na escola.
              É importante notar que a criança, ao final da entrevista de coleta de
dados, chorou muito e quando perguntada sobre o motivo de seu choro, respondeu
que era por ainda não ter aprendido a ler.
              O atendimento psicológico de Telma, realizado há aproximadamente doze
meses, vem se centrando na discussão de sua auto-imagem, no reforçamento de suas
habilidades e qualidades acadêmicas e sociais, além de se orientar, freqüentemente,
aos pais quanto à necessidade da criança ser independente em suas atividades
cotidianas.
47



           Atualmente, Telma não apresenta dificuldades para ler e tem participado
de festas e eventos sociais como qualquer criança de sua idade.


           Dalva, 8 anos, Ciclo Básico Continuidade pela segunda vez ...
           A professora encaminhou Dalva ao ARE devido ao seu histórico escolar e
sua atuação em sala de aula e pelo fato de que no recreio diferenciava-se muito dos
outros alunos, não especificando, no entanto, quais seriam essas diferenças.
Colocou, ainda, que Dalva apresentava dificuldades em produzir textos coesos,
interpretar e tirar conclusões relativas a textos lidos ou trabalhados, resolver
situações problema, terminar as atividades, mesmo quando capaz de fazê-las e ficar
“indiferente” ao que acontece ao seu redor. Em relação às causas dos problemas
escolares de Dalva, a professora limitou-se a repetir o que alega como motivo de
encaminhamento.
           A mãe enfatizou que Dalva se “assusta” com facilidade e que fica muito
“parada”. O pai é presidiário, situação que gera preocupação para a mãe quanto às
conseqüências no desenvolvimento emocional da filha e, da mesma forma, atribui as
causas dos problemas de aprendizagem no possível prejuízo emocional de Dalva
devido à prisão do pai.
           Quanto aos dados sobre a história passada da criança na escola, a mãe
afirma que Dalva apresentou dificuldades de aprendizagem nas séries anteriores e
que essa é a segunda vez que cursa o CBC.
           Na anamnese realizada, a mãe colocou ter passado muito “nervoso”
durante a gravidez, sofrendo ameaça de parto prematuro aos sete meses. O
desenvolvimento neuro-psicomotor foi adequado, mas a criança tem apresentado
enurese noturna freqüente e ainda usa a chupeta.
           O pano de fundo para o encaminhamento dessa aluna ao psicólogo parece
ser a preocupação da mãe com as seqüelas que a prisão do pai poderá causar no
desenvolvimento de Dalva. Percebeu-se que Dalva sente muito a falta do pai, apesar
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de não se referir espontaneamente ao assunto, por ser uma criança bastante
introvertida.
           Em relação aos problemas de aprendizagem observados pela professora,
não foi possível percebê-los, já que todas as atividades acadêmicas propostas foram
realizadas a contento. A criança esteve em atendimento psicológico no ARE de
out/94 até set/95 mas, acabou sendo dispensada a pedido da avó, devido a problemas
familiares bastante complexos.


           Antônio, 9 anos, Ciclo Básico Continuidade pela segunda vez ...
           A professora colocou como razão principal para o encaminhamento dessa
criança a sua inadequação ao ritmo de trabalho da classe. A dificuldade escolar
dessa criança seria causada, segundo a professora, por sua “falta de interesse”.
Percebeu-se que essa professora não conseguiu expressar com clareza o que
considera como causa provável da dificuldade de Antônio.
           Além de ter sido levado ao serviço de Psicologia do ARE, Antônio já
havia sido encaminhado, pela escola, para a realização de testes psicológicos na
Associação de Pais e Amigos do Excepcional (APAE); o resultado dessa avaliação
indicou que a criança necessitaria de atendimento psicológico a longo prazo, para
que os motivos de sua “apatia” e “insegurança” pudessem ser melhor investigados.
           No relatório da avaliação psicológica feita pela APAE, esclareceu-se que
o encaminhamento da criança à instituição foi feito pela direção da escola e que a
queixa da mãe seria que Antônio “aprende mas esquece”, é lento e dependente nas
atividades do dia a dia. O resultado da testagem indicou que Antônio seria elegível
para uma classe especial, mas que não permaneceria na instituição por ser sua
problemática de origem emocional.
           As informações que a professora revelou acerca do histórico escolar de
Antônio foram superficiais: colocou que possuía idade compatível com a
escolaridade e que “aparentemente [era] uma criança saudável”.
49



          A mãe afirmou que Antônio apresentava “problemas emocionais” desde a
pré-escola e que ela sempre sentiu-se muito “pressionada” pelos professores para
resolver os “problemas de aprendizagem” do filho, durante todos os seus anos de
escolaridade; sua reação a essas pressões sempre foi a de procurar soluções na
expectativa de prevenir danos futuros.
          Dessa maneira, Antônio percorreu o caminho tradicional que, geralmente,
os escolares que comparecem ao serviço de Psicologia do ARE costumam trilhar: da
escola foi enviado ao neurologista, daí passando por um atendimento pedagógico na
UFSCar para, posteriormente, realizando testes na APAE até chegar ao serviço de
Psicologia. Pode-se lançar a hipótese de que o próximo passo de seu percurso seria o
abandono da escola, o que parece ainda não ter ocorrido devido à persistência de sua
mãe e ao fato de que o “convite” para que a criança fosse retirada da escola, feito
pela atual coordenadora pedagógica, não ter sido reiterado.
          A anamnese revelou que a gestação foi sem intercorrências e que o parto
ocorreu no oitavo mês de gravidez. Segundo a mãe, o desenvolvimento neuro-
psicomotor de Antônio seguiu todos os parâmetros considerados normais. Aos
quatro anos, a criança passou por uma avaliação neurológica que não revelou
anormalidades.
          No decorrer das sessões de avaliação e atendimento psicológico,
verificou-se que as queixas da mãe sobre a excessiva apatia e falta de iniciativa da
criança correspondiam à realidade. No entanto, exames realizados quando Antônio
era mais novo apontaram a existência de “reumatismo no sangue”, o que poderia
explicar o cansaço e a desmotivação da criança por um certo período de tempo.
          Outro fato digno de nota em relação ao tipo de personalidade de Antônio
é a “ausência” do pai no cenário familiar, o qual raramente está presente, dando
pouca atenção ao filho. A mãe recebeu orientação em como conduzir os problemas
de Antônio em casa e na escola.
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           A professora comunicou recentemente que Antônio não mais apresenta os
problemas de aprendizagem que motivaram o encaminhamento, o que motivou sua
dispensa do acompanhamento psicológico.


           José, 10 anos, Ciclo Básico Continuidade pela segunda vez ...
           A professora afirmou ter solicitado à mãe de José que o levasse ao
serviço de saúde para a realização de exames de rotina (sangue, fezes e urina),
negando-se, todavia, em assumir a responsabilidade pelo encaminhamento específico
ao serviço de Psicologia. Quando perguntado sobre os problemas de aprendizagem
de José, apontou a presença de dificuldades de escrita e leitura, provavelmente
originadas das deficiências auditivas que o aluno possui; enfatizou que José tem
progredido consideravelmente em seu desempenho acadêmico, o que a faz estranhar
ainda mais a atitude da mãe em levá-lo a um psicólogo. Forneceu informações sobre
o histórico escolar de José, reforçando sua força de vontade e esforço para aprender.
           Segundo o relatório da professora, no início do ano letivo, José
apresentava problemas de aprendizagem, mas com o passar do tempo, porém,
melhorou muito e, atualmente, é capaz de produzir textos com conteúdo e
criatividade, apesar de apresentar alguns erros ortográficos. O comportamento social
em sala de aula deixa a desejar, porque não “assume” as coisas que faz.
           A mãe, por sua vez, insistiu em afirmar ter sido a professora a
responsável pelo pedido de encaminhamento de José e queixou-se de possuir muitas
dificuldades no relacionamento com o filho, especialmente no que diz respeito ao
estabelecimento de limites. Ao se concentrar na descrição das supostas dificuldades
no relacionamento com José, em detrimento da discussão relativa aos problemas de
aprendizagem, foi possível levantar a hipótese de que o motivo de encaminhamento,
neste caso, seriam os obstáculos existentes na relação mãe-filho.
           A mãe fez um extenso relato da história de José: não freqüentou a pré-
escola, ingressando diretamente no CBI aos 8 anos; na primeira série a criança dizia
não gostar da professora, porque ela somente elogiava os outros alunos e o colocava
51



freqüentemente de castigo. Apenas na segunda série aprendeu a ler e, atualmente,
sabe escrever, trocando algumas letras e que nas atividades que exigem capricho e
concentração, faz rápido e mal feito.
           Nasceu no oitavo mês de gravidez e, de acordo com a mãe, apresentava
um “buraco” no lado direito superior da cabeça. São relatadas muitas doenças
durante a primeira infância da criança: pneumonia, desidratação, infecções, etc.
            A mãe sempre procurou assistência médica para os inúmeros problemas
de saúde de José. Um pequeno exemplo das andanças da mãe em busca de
tratamento médico para o filho: devido a uma dor de ouvido levou o filho ao
otorrinolaringologista que o encaminhou ao fonoaudiólogo o qual, por sua vez, o
encaminhou ao terapeuta ocupacional.
           Segundo a mãe, José sempre teve bom desempenho em atividades extra-
escolares, como montagem de peças eletrônicas e marcenaria. Sua expectativa frente
ao serviço de psicologia é que seu filho consiga “falar o português certo” e “passar
de ano”.
           O prontuário médico apontou que José foi, simultaneamente, avaliado no
setor de Terapia Ocupacional e Psicologia. O resultado da avaliação no setor de
Psicologia revelou que o aluno não apresentava necessidade de ser atendido por um
psicólogo, mas sim por um profissional de fonoaudiologia, já que realizou
satisfatoriamente todas as atividades pedagógicas compatíveis com seu nível de
escolaridade apresentando, porém, fala intensamente anasalada e dificuldades na
pronuncia e articulação de alguns fonemas. Realizou-se, então, o encaminhamento
do aluno para a fonoaudióloga da instituição.
           Quanto às dificuldades de relacionamento mãe - filho, orientou-se a mãe
na adoção de condutas mais adequadas em relação à falta de limites de José.


           Roberto, 10 anos, dois anos no Ciclo Básico Continuidade e repetente
na terceira série...
52



           Neste caso, os argumentos utilizados pela professora para o
encaminhamento foram a existência de problemas de comportamento (inquietação,
conversas e indisciplina) e distúrbios como “dislalia” e “dislexia”.
           Roberto também foi visto como “indisciplinado” quando cursava o CBI,
sendo selecionado para participar do PROFIC (Programa de Formação Integral da
Criança), um dos projetos implantados pela Secretaria de Estado da Educação para o
atendimento de escolares considerados portadores de dificuldades
           Avalia que a participação de Roberto no PROFIC não solucionou os
problemas que apresentava na época, muito pelo contrário, pois afirma que as
classes desse projeto concentravam alunos “fracos” o que, em sua opinião,
impossibilitou que tivesse acesso a modelos positivos de comportamento. A
colocação da mãe de Roberto remete às considerações feitas por VALLA &
HOLLANDA (in VALLA & STOTZ, 1994) acerca das reações manifestadas por
pais de alunos considerados “fracos” em seu desempenho acadêmico: “Os pais de
alunos fracos são contra a discriminação de seus filhos dentro de sala de aula, pois
sabem que em algumas escolas a separação é até física ...” (p.71)
           A mãe centralizou a queixa na indisciplina de Roberto, enfatizando sua
“agitação”. Sobre os determinantes dessa indisciplina, refere-se às atitudes hostis e
indiferentes do pai em relação à criança.
           Roberto está sendo acompanhado pelo setor de Psicologia há nove meses
e, nesse período, foi possível observar que é um menino dócil, gentil e muito
adequado socialmente, apresentando grande necessidade de aprovação por parte
daqueles que o cercam (família, professora, colegas, etc). Roberto também mostrou-
se ressentido da pouca atenção dispensada pelo pai, expressando felicidade nas
vezes em que foi convidado pelo mesmo para um passeio ou uma pescaria.
           Investigando-se as relações entre Roberto e sua professora, percebeu-se
que há troca recíproca de hostilidades e, muitas vezes, a criança queixou-se de ser
chamada pela professora de “marginal”.
53



           As dificuldades de aprendizagem que apresenta são restritas a algumas
trocas de letras (por exemplo, “fra” por “fla”, dois “esse” por um “esse”, etc), o que
parece esperado nessa fase de escolaridade (3a série).
           A carta de sua professora atual diz o seguinte sobre Roberto:
           “Em resposta a sua pergunta sobre o aluno Roberto, este tem tido um
ótimo desenvolvimento na parte disciplinar. Seu aproveitamento nas disciplinas
como a matemática está tudo bem, só não tem mostrado interesse no português,
apesar de motivá-lo bastante.”
           Devido ao seu progresso em relação à conduta e aprendizagem, Roberto
foi recentemente dispensado do acompanhamento psicológico.


           Eduardo, 8 anos, Ciclo Básico Continuidade pela primeira vez ...
           Segundo informações fornecidas pela professora, Eduardo teria sido
encaminhado ao ARE por iniciativa da mãe, devido à excessiva lentidão com que
realizava as atividade escolares.
           Em relação às causas dos problemas de Eduardo na escola, a professora
colocou o que se segue: “criança que trabalha devagar, quando completa tarefa
tem bom resultado, muito distraído, mas se questionado responde corretamente”, o
que parece sugerir que, mesmo não desconsiderando a presença de dificuldades de
aprendizagem, valoriza as potencialidades do aluno.
           A professora utilizou-se de uma expressão interessante para resumir o que
sabe sobre o histórico escolar de Eduardo: “consta que sempre foi muito lerdo”. A
partir dessa colocação ficam as seguintes questões: onde consta essa informação e
como chegou à professora? Qual a influência desse tipo de informação sobre a
percepção e o julgamento da professora em relação ao aluno?
           A mãe, por sua vez, colocou que a professora foi responsável pelo
encaminhamento. Ressalta que a família criou um sentimento de antipatia em
relação a Eduardo, o que fez a mãe levá-lo ao psicólogo. Quanto à aprendizagem,
afirma que teve problemas apenas na pré-escola.
54



             No caso de Eduardo, de modo semelhante ao caso de José, a mãe parece
ter procurado o serviço de Psicologia mais pela sua necessidade de ajuda em relação
aos conflitos com o filho do que, propriamente, por questões relativas ao seu
desempenho ou conduta escolar. Para ela, as causas dos problemas de Eduardo estão
totalmente         relacionados       à    separação      conjugal      ocorrida      recentemente        e,
conseqüentemente, sua dificuldade em aceitar a ausência do pai. Enfatiza os
problemas de comportamento e de socialização da criança em sua história escolar.
             Os registros existentes no prontuário médico confirmam a ênfase da mãe
nos aspectos negativos da conduta de Eduardo, referindo-se a ele como agressivo e
violento; chegou a dizer que o considera como o “tipo de pessoa maldosa, que fica
tramando”.
             Este aluno não chegou a participar como sujeito do estudo, por ter
abandonado a avaliação antes da coleta de dados.


             Marcos, 8 anos, ingressante no Ciclo Básico...
             De acordo com a professora, os motivos pelos quais Marcos chegou ao
ARE, são a sua dispersão e dificuldade de memorização, além de “desnutrição”∗.
             Marcos é ingressante no Ciclo Básico Inicial. A professora não detalhou
o histórico escolar anterior, mas ressaltou sua instabilidade emocional e dificuldade
de memorização, apesar de ser “dócil”.
             A mãe repete as mesmas queixas da professora, acrescentando que o filho
conversa muito em sala de aula e não consegue realizar as tarefas propostas.
Atribuiu as dificuldades de aprendizagem do filho à doença mental do pai; acredita
que Marcos herdou do pai os mesmos problemas e que esses se refletem na
aprendizagem.


             
                 Vários estudos têm apontado a relação comumente feita entre a desnutrição e os distúrbios de
aprendizagem, como por exemplo: MOYSÉS (1985); COLLARES, MOYSÉS e LIMA (1985); MOYSÉS e
LIMA (1982).
55



             A mãe esclarece que Marcos também não teve bom desempenho na pré-
escola.
             Realizou-se, há algum tempo, um eletroencefalograma que constatou, de
acordo com as palavras da mãe, “fraqueza no cérebro”.
             Marcos foi avaliado no setor e, realmente, apresentou alguns indicativos
de um possível déficit mental (dificuldade de estabelecer relações de espaço e
tempo, desconhecimento de côres primárias, formas geométricas básicas e esquema
corporal, dentre outras dificuldades). Obedecendo-se aos resultados dessa avaliação,
encaminhou-se a criança ao setor de Psicologia da APAE, com a condição de que
permanecesse em atendimento no ARE até a divulgação do laudo do profissional da
referida instituição.
             Divulgou-se o laudo psicológico realizado na APAE que, mesmo
informando ser o nível intelectual da criança limítrofe, considerou que essa não
necessitaria de ensino especial, continuando, portanto, em atendimento no serviço de
Psicologia do ARE e encaminhando-a ao setor de Terapia Ocupacional.
             Constatou-se que falta com muita frequência aos atendimentos
agendados, o que dificulta o seu aproveitamento e, conseqüentemente, seu
progresso.


             Em resumo, pode-se dizer que a maior parte das crianças possui, em sua
história escolar, uma ou mais repetências e que, supostamente, apresentavam
dificuldades de aprendizagem ou comportamento consideradas, por suas professoras
ou famílias, como inadequadas para um desempenho acadêmico dentro dos
parâmetros esperados.
             Em relação à participação no processo de avaliação:
             - Joana e Eduardo não finalizaram sua participação no estudo e na
avaliação psicológica;
             - José teve alta do tratamento logo após a avaliação psicológica e foi
encaminhado à fonoaudióloga;
56



          - Vilma teve alta do tratamento aproximadamente nove meses após o
início da avaliação, assim como Roberto, Antônio e Dalva, dispensados
recentemente.
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Cap3
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Cap2
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Dificuldades de aprendizagem na visão de professores, famílias e saúde

  • 1. 41 4. OS ESCOLARES SOB A ÓTICA DA ESCOLA, FAMÍLIA E SERVIÇO DE SAÚDE Considerados como os principais sujeitos deste estudo, os escolares encaminhados ao serviço de Psicologia do Ambulatório Regional de Especialidades exigem uma descrição da maneira pela qual são vistos pelos seus professores, mães, serviço de saúde e, finalmente, pelo psicólogo. As características dos alunos selecionados como sujeitos são apresentadas de acordo com os seguintes temas: - os motivos alegados pelas professoras e mães para o encaminhamento dos alunos ao psicólogo ou serviço de saúde; - as causas atribuídas, pelas mesmas, em relação aos problemas e dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos escolares; - breve histórico escolar da criança, informações coletadas das anamneses e dos registros existentes nos prontuários médicos de cada aluno; - síntese dos resultados da avaliação e das sessões de acompanhamento psicológico, realizadas pela pesquisadora. Vilma, 8 anos, aluna ingressante no Ciclo Básico Inicial ... De acordo com a professora, Vilma foi encaminhada para avaliação psicológica, em meados de setembro de 1994, por apresentar “dificuldades de aprendizagem, dificuldade de relacionar letra ao som, dificuldades de assimilar som à escrita, [ser] dependente e[produzir] texto pobre de 2 ou 3 linhas”. Em relação às possíveis causas dos problemas de aprendizagem apresentados pela criança, a professora apenas afirma ser Vilma uma criança dependente, arredia e agressiva.
  • 2. 42 A mãe concorda com as observações feitas pela professora e enfatiza o fato de que Vilma “... não conseguia acompanhar, não estava sabendo nada, não conhecia as letra e não lia”. Segundo a mãe, a professora justificou o encaminhamento ao psicólogo com o argumento de que existem alunos que podem correr o risco de perder um ano letivo e, para que isso não acontecesse com Vilma, achou por bem encaminhá-la ao serviço de Saúde, o que leva a crêr que, à primeira vista, o encaminhamento teve um caráter preventivo. A mãe acredita que uma das razões pelas quais a filha apresenta “problemas” seja porque ela e o marido viveram conflitos conjugais. Para a mãe, no entanto, o grande responsável pelos problemas de aprendizagem de Vilma são os seus sentimentos de baixa auto-estima: se acha “feia e burra”, tem poucos colegas e só se relaciona bem com meninos, preferindo brincadeiras “masculinas” ; não apresenta movimentos corporais “graciosos”, fica “chutando com o corpo esquisito”, o que também parece incomodar a professora, que chama a atenção da criança por apresentar esse tipo de expressão corporal. A mãe parece não se preocupar com o suposto problema de aprendizagem indicado pela professora, no mesmo grau em que se preocupa com a questão de auto-estima e socialização da filha. Para ela, Vilma está “mal” na aprendizagem porque é “preguiçosa” e não aceita ajuda das pessoas, dizendo “eu sei, eu sei” quando alguém quer ajudá-la nas tarefas. A análise do histórico escolar de Vilma, mostra que ela cursou a pré- escola sem queixas de problemas de aprendizagem. Cursava o CBI pela primeira vez e, até a data da avaliação no ARE, também estava sendo atendida na Universidade Federal de São Carlos em um serviço de atendimento pedagógico oferecido à comunidade. Os dados da anamnese realizada revelam que Vilma teve um desenvolvimento neuro-psicomotor normal.
  • 3. 43 Os registros existentes no prontuário médico indicam que a criança freqüentou o serviço de saúde de forma esporádica, apenas para a realização de exames de rotina. O relatório pedido à professora no início da avaliação (set/94), relata que Vilma demorou para compreender as características do processo de leitura e escrita, mas que já estava conseguindo superar as dificuldades, chegando, inclusive, a ler. Considera Vilma distraída, falante, geralmente fazendo brincadeiras fora de hora e , algumas vezes, negando-se a trabalhar em grupo. Em suma, parece que o motivo decisivo para o encaminhamento da criança pelo professor ao psicólogo foram suas características de personalidade (comportamento pouco feminino, dificuldade de socialização, etc). Na época do encaminhamento existiam dificuldades de aprendizagem que, na ocasião da coleta de dados (aproximadamente 7 meses após a inscrição na lista de espera) já estavam sendo solucionadas. O aspecto mais interessante deste caso parece ser a dicotomia entre o discurso e a prática da professora responsável pelo encaminhamento que, mesmo afirmando no questionário de coleta de dados não acreditar em fracasso escolar e que “todos podem aprender”, realiza com certa precipitação (dois meses após o início do ano letivo) o encaminhamento de sua aluna ao psicólogo. Devido à queixa da mãe e da professora sobre seu comportamento agressivo e pouco sociável, optou-se em atender a criança em grupo com mais duas outras meninas de sua idade. Observou-se, no início, que Vilma interagia pouco com suas colegas, mas participava de todas as atividades propostas, sem manifestar resistência ou criar situações de tensão. Vilma é uma criança muito dependente de sua mãe nas atividades do cotidiano, como por exemplo, tomar banho, trocar de roupa, pentear o cabelo, etc. Orientou-se a mãe no sentido de promover gradualmente a independência de Vilma nessas e em outras atividades. Quanto à ausência de auto-estima, percebeu-se que
  • 4. 44 Vilma não gosta de falar sobre esse assunto, defendendo-se da abordagem da pesquisadora ao mesmo através da introversão e mutismo. Em relação aos problemas de aprendizagem alegados pela professora, não foram observadas maiores dificuldades na realização das atividades acadêmicas propostas, tais como, leitura, produção e compreensão de textos. Vilma permaneceu em atendimento no ARE por aproximadamente nove meses, obtendo progressos e recebendo alta por não mais apresentar, de acordo com a professora, dificuldades em realizar as tarefas propostas em sala de aula. Atualmente, segundo a mãe e a professora, vem apresentando um bom rendimento escolar e um comportamento social adequado. Joana, 10 anos, Ciclo Básico Continuidade pela segunda vez ... Segundo a professora, Joana foi encaminhada ao serviço de Psicologia do ARE a pedido da mãe, por apresentar dificuldades de aprendizagem. A mãe não participou da entrevista de coleta de dados, portanto, não foi possível investigar as suas concepções a respeito dos motivos de encaminhamento de sua filha. A professora não expressou diretamente as suas concepções sobre as possíveis causas dos problemas de aprendizagem observados em Joana. De acordo com seu ponto de vista, a criança apresentaria dificuldades em assimilar aquilo que é ensinado, mesmo variando-se a metodologia de ensino. Joana não finalizou sua participação na pesquisa por ter abandonado o atendimento no setor de Psicologia antes do início da coleta de dados, situação bastante freqüente no dia a dia da instituição. Telma, 10 anos, Ciclo Básico Continuidade pela segunda vez ... Segundo a professora, partiu da mãe de Telma o pedido de encaminhamento para o psicólogo.
  • 5. 45 Sua mãe afirmou que, após várias reclamações da professora sobre o seu desempenho acadêmico de Telma e sem perspectivas de solução dos problemas, solicitou à professora que a enviasse a um psicólogo. A atitude da mãe em solicitar que a professora fizesse o pedido formal de encaminhamento da criança pode indicar ser o docente considerado como uma figura de autoridade, pois a mãe parece crêr que somente a professora está em condições de pedir que um profissional de saúde avalie os problemas escolares de sua filha. As queixas da professora em relação à Telma centralizaram-se em aspectos do desempenho escolar de Telma: especificamente falta de atenção e dificuldade em acompanhar o que é ensinado. Embora a professora não manifeste suas concepções sobre as causas das dificuldades observadas, justifica o encaminhamento da aluna pelo fato da mesma, apesar de ter feito pré-escola e cursado regularmente o CBI e o CBC, ainda não tenha sido alfabetizada. Para a mãe, a causa dos problemas da filha advém do fato de não ter realizado o “exame do pézinho” ∗ no momento de seu nascimento, o que externa a suspeita da família quanto à possibilidade de que Telma seja deficiente mental. Quanto ao histórico de Telma nas etapas anteriores de escolaridade, a mãe refere-se às mesmas queixas utilizadas para caracterizar o desempenho na série atual: “desligada e não acompanhava”. Fez pré-escola com muitas queixas das professoras devido à sua falta de atenção e à “bagunça”, mas esta é a primeira vez em que é encaminhada a um psicólogo. A mãe afirma que já pensou em retirar Telma da escola, sugerindo dar início a um processo onde a criança que não consegue um desempenho considerado adequado pela escola e família, passando a perpetuar problemas, repetências e queixas, acaba sendo afastada ou retirada do sistema educacional.  A mãe refere-se ao exame de Erros Inatos do Metabolismo, o qual aponta o índice de fenilcetonúria e hormônio T4 no sangue do bebê e é utilizado para a prevenção de deficiência mental.
  • 6. 46 A anamnese revelou que, com exceção de uma ameaça de um aborto no quinto mês de gravidez, não existiram outras anormalidades na gestação e que tanto o nascimento quanto o desenvolvimento nos primeiros anos de vida de Telma foram normais. Segundo a mãe, Telma brinca bastante, mais freqüentemente com meninos e não tem dificuldade em fazer amizades. O prontuário médico registra consultas e exames de rotina e que em, em 1991, aos seis anos, foi encaminhada à avaliação psicológica e neurológica por um pediatra. No relatório enviado pela professora no início da avaliação (out/94) consta que Telma se distrai com muita facilidade e que, de modo geral, seu comportamento em sala de aula e relacionamento com os colegas é bom. Em operações matemáticas consegue reconhecer números e quantidades e executar somas simples. Nas sessões de avaliação psicológica, foi possível notar que a criança não apresentava tantas dificuldades de aprendizagem de leitura e escrita, como foi colocado pela mãe e professora e, principalmente, não apresentava indícios de ser deficiente mental. Apesar de apresentar um certo grau de lentidão, realizava as tarefas propostas com rendimento adequado para o seu nível de alfabetização. Entretanto, Telma era insegura e triste, com auto-estima rebaixada e auto-conceito pobre, sentimentos provavelmente agravados em função do emblema de aluna “problemática” que vem carregando desde que ingressou na escola. É importante notar que a criança, ao final da entrevista de coleta de dados, chorou muito e quando perguntada sobre o motivo de seu choro, respondeu que era por ainda não ter aprendido a ler. O atendimento psicológico de Telma, realizado há aproximadamente doze meses, vem se centrando na discussão de sua auto-imagem, no reforçamento de suas habilidades e qualidades acadêmicas e sociais, além de se orientar, freqüentemente, aos pais quanto à necessidade da criança ser independente em suas atividades cotidianas.
  • 7. 47 Atualmente, Telma não apresenta dificuldades para ler e tem participado de festas e eventos sociais como qualquer criança de sua idade. Dalva, 8 anos, Ciclo Básico Continuidade pela segunda vez ... A professora encaminhou Dalva ao ARE devido ao seu histórico escolar e sua atuação em sala de aula e pelo fato de que no recreio diferenciava-se muito dos outros alunos, não especificando, no entanto, quais seriam essas diferenças. Colocou, ainda, que Dalva apresentava dificuldades em produzir textos coesos, interpretar e tirar conclusões relativas a textos lidos ou trabalhados, resolver situações problema, terminar as atividades, mesmo quando capaz de fazê-las e ficar “indiferente” ao que acontece ao seu redor. Em relação às causas dos problemas escolares de Dalva, a professora limitou-se a repetir o que alega como motivo de encaminhamento. A mãe enfatizou que Dalva se “assusta” com facilidade e que fica muito “parada”. O pai é presidiário, situação que gera preocupação para a mãe quanto às conseqüências no desenvolvimento emocional da filha e, da mesma forma, atribui as causas dos problemas de aprendizagem no possível prejuízo emocional de Dalva devido à prisão do pai. Quanto aos dados sobre a história passada da criança na escola, a mãe afirma que Dalva apresentou dificuldades de aprendizagem nas séries anteriores e que essa é a segunda vez que cursa o CBC. Na anamnese realizada, a mãe colocou ter passado muito “nervoso” durante a gravidez, sofrendo ameaça de parto prematuro aos sete meses. O desenvolvimento neuro-psicomotor foi adequado, mas a criança tem apresentado enurese noturna freqüente e ainda usa a chupeta. O pano de fundo para o encaminhamento dessa aluna ao psicólogo parece ser a preocupação da mãe com as seqüelas que a prisão do pai poderá causar no desenvolvimento de Dalva. Percebeu-se que Dalva sente muito a falta do pai, apesar
  • 8. 48 de não se referir espontaneamente ao assunto, por ser uma criança bastante introvertida. Em relação aos problemas de aprendizagem observados pela professora, não foi possível percebê-los, já que todas as atividades acadêmicas propostas foram realizadas a contento. A criança esteve em atendimento psicológico no ARE de out/94 até set/95 mas, acabou sendo dispensada a pedido da avó, devido a problemas familiares bastante complexos. Antônio, 9 anos, Ciclo Básico Continuidade pela segunda vez ... A professora colocou como razão principal para o encaminhamento dessa criança a sua inadequação ao ritmo de trabalho da classe. A dificuldade escolar dessa criança seria causada, segundo a professora, por sua “falta de interesse”. Percebeu-se que essa professora não conseguiu expressar com clareza o que considera como causa provável da dificuldade de Antônio. Além de ter sido levado ao serviço de Psicologia do ARE, Antônio já havia sido encaminhado, pela escola, para a realização de testes psicológicos na Associação de Pais e Amigos do Excepcional (APAE); o resultado dessa avaliação indicou que a criança necessitaria de atendimento psicológico a longo prazo, para que os motivos de sua “apatia” e “insegurança” pudessem ser melhor investigados. No relatório da avaliação psicológica feita pela APAE, esclareceu-se que o encaminhamento da criança à instituição foi feito pela direção da escola e que a queixa da mãe seria que Antônio “aprende mas esquece”, é lento e dependente nas atividades do dia a dia. O resultado da testagem indicou que Antônio seria elegível para uma classe especial, mas que não permaneceria na instituição por ser sua problemática de origem emocional. As informações que a professora revelou acerca do histórico escolar de Antônio foram superficiais: colocou que possuía idade compatível com a escolaridade e que “aparentemente [era] uma criança saudável”.
  • 9. 49 A mãe afirmou que Antônio apresentava “problemas emocionais” desde a pré-escola e que ela sempre sentiu-se muito “pressionada” pelos professores para resolver os “problemas de aprendizagem” do filho, durante todos os seus anos de escolaridade; sua reação a essas pressões sempre foi a de procurar soluções na expectativa de prevenir danos futuros. Dessa maneira, Antônio percorreu o caminho tradicional que, geralmente, os escolares que comparecem ao serviço de Psicologia do ARE costumam trilhar: da escola foi enviado ao neurologista, daí passando por um atendimento pedagógico na UFSCar para, posteriormente, realizando testes na APAE até chegar ao serviço de Psicologia. Pode-se lançar a hipótese de que o próximo passo de seu percurso seria o abandono da escola, o que parece ainda não ter ocorrido devido à persistência de sua mãe e ao fato de que o “convite” para que a criança fosse retirada da escola, feito pela atual coordenadora pedagógica, não ter sido reiterado. A anamnese revelou que a gestação foi sem intercorrências e que o parto ocorreu no oitavo mês de gravidez. Segundo a mãe, o desenvolvimento neuro- psicomotor de Antônio seguiu todos os parâmetros considerados normais. Aos quatro anos, a criança passou por uma avaliação neurológica que não revelou anormalidades. No decorrer das sessões de avaliação e atendimento psicológico, verificou-se que as queixas da mãe sobre a excessiva apatia e falta de iniciativa da criança correspondiam à realidade. No entanto, exames realizados quando Antônio era mais novo apontaram a existência de “reumatismo no sangue”, o que poderia explicar o cansaço e a desmotivação da criança por um certo período de tempo. Outro fato digno de nota em relação ao tipo de personalidade de Antônio é a “ausência” do pai no cenário familiar, o qual raramente está presente, dando pouca atenção ao filho. A mãe recebeu orientação em como conduzir os problemas de Antônio em casa e na escola.
  • 10. 50 A professora comunicou recentemente que Antônio não mais apresenta os problemas de aprendizagem que motivaram o encaminhamento, o que motivou sua dispensa do acompanhamento psicológico. José, 10 anos, Ciclo Básico Continuidade pela segunda vez ... A professora afirmou ter solicitado à mãe de José que o levasse ao serviço de saúde para a realização de exames de rotina (sangue, fezes e urina), negando-se, todavia, em assumir a responsabilidade pelo encaminhamento específico ao serviço de Psicologia. Quando perguntado sobre os problemas de aprendizagem de José, apontou a presença de dificuldades de escrita e leitura, provavelmente originadas das deficiências auditivas que o aluno possui; enfatizou que José tem progredido consideravelmente em seu desempenho acadêmico, o que a faz estranhar ainda mais a atitude da mãe em levá-lo a um psicólogo. Forneceu informações sobre o histórico escolar de José, reforçando sua força de vontade e esforço para aprender. Segundo o relatório da professora, no início do ano letivo, José apresentava problemas de aprendizagem, mas com o passar do tempo, porém, melhorou muito e, atualmente, é capaz de produzir textos com conteúdo e criatividade, apesar de apresentar alguns erros ortográficos. O comportamento social em sala de aula deixa a desejar, porque não “assume” as coisas que faz. A mãe, por sua vez, insistiu em afirmar ter sido a professora a responsável pelo pedido de encaminhamento de José e queixou-se de possuir muitas dificuldades no relacionamento com o filho, especialmente no que diz respeito ao estabelecimento de limites. Ao se concentrar na descrição das supostas dificuldades no relacionamento com José, em detrimento da discussão relativa aos problemas de aprendizagem, foi possível levantar a hipótese de que o motivo de encaminhamento, neste caso, seriam os obstáculos existentes na relação mãe-filho. A mãe fez um extenso relato da história de José: não freqüentou a pré- escola, ingressando diretamente no CBI aos 8 anos; na primeira série a criança dizia não gostar da professora, porque ela somente elogiava os outros alunos e o colocava
  • 11. 51 freqüentemente de castigo. Apenas na segunda série aprendeu a ler e, atualmente, sabe escrever, trocando algumas letras e que nas atividades que exigem capricho e concentração, faz rápido e mal feito. Nasceu no oitavo mês de gravidez e, de acordo com a mãe, apresentava um “buraco” no lado direito superior da cabeça. São relatadas muitas doenças durante a primeira infância da criança: pneumonia, desidratação, infecções, etc. A mãe sempre procurou assistência médica para os inúmeros problemas de saúde de José. Um pequeno exemplo das andanças da mãe em busca de tratamento médico para o filho: devido a uma dor de ouvido levou o filho ao otorrinolaringologista que o encaminhou ao fonoaudiólogo o qual, por sua vez, o encaminhou ao terapeuta ocupacional. Segundo a mãe, José sempre teve bom desempenho em atividades extra- escolares, como montagem de peças eletrônicas e marcenaria. Sua expectativa frente ao serviço de psicologia é que seu filho consiga “falar o português certo” e “passar de ano”. O prontuário médico apontou que José foi, simultaneamente, avaliado no setor de Terapia Ocupacional e Psicologia. O resultado da avaliação no setor de Psicologia revelou que o aluno não apresentava necessidade de ser atendido por um psicólogo, mas sim por um profissional de fonoaudiologia, já que realizou satisfatoriamente todas as atividades pedagógicas compatíveis com seu nível de escolaridade apresentando, porém, fala intensamente anasalada e dificuldades na pronuncia e articulação de alguns fonemas. Realizou-se, então, o encaminhamento do aluno para a fonoaudióloga da instituição. Quanto às dificuldades de relacionamento mãe - filho, orientou-se a mãe na adoção de condutas mais adequadas em relação à falta de limites de José. Roberto, 10 anos, dois anos no Ciclo Básico Continuidade e repetente na terceira série...
  • 12. 52 Neste caso, os argumentos utilizados pela professora para o encaminhamento foram a existência de problemas de comportamento (inquietação, conversas e indisciplina) e distúrbios como “dislalia” e “dislexia”. Roberto também foi visto como “indisciplinado” quando cursava o CBI, sendo selecionado para participar do PROFIC (Programa de Formação Integral da Criança), um dos projetos implantados pela Secretaria de Estado da Educação para o atendimento de escolares considerados portadores de dificuldades Avalia que a participação de Roberto no PROFIC não solucionou os problemas que apresentava na época, muito pelo contrário, pois afirma que as classes desse projeto concentravam alunos “fracos” o que, em sua opinião, impossibilitou que tivesse acesso a modelos positivos de comportamento. A colocação da mãe de Roberto remete às considerações feitas por VALLA & HOLLANDA (in VALLA & STOTZ, 1994) acerca das reações manifestadas por pais de alunos considerados “fracos” em seu desempenho acadêmico: “Os pais de alunos fracos são contra a discriminação de seus filhos dentro de sala de aula, pois sabem que em algumas escolas a separação é até física ...” (p.71) A mãe centralizou a queixa na indisciplina de Roberto, enfatizando sua “agitação”. Sobre os determinantes dessa indisciplina, refere-se às atitudes hostis e indiferentes do pai em relação à criança. Roberto está sendo acompanhado pelo setor de Psicologia há nove meses e, nesse período, foi possível observar que é um menino dócil, gentil e muito adequado socialmente, apresentando grande necessidade de aprovação por parte daqueles que o cercam (família, professora, colegas, etc). Roberto também mostrou- se ressentido da pouca atenção dispensada pelo pai, expressando felicidade nas vezes em que foi convidado pelo mesmo para um passeio ou uma pescaria. Investigando-se as relações entre Roberto e sua professora, percebeu-se que há troca recíproca de hostilidades e, muitas vezes, a criança queixou-se de ser chamada pela professora de “marginal”.
  • 13. 53 As dificuldades de aprendizagem que apresenta são restritas a algumas trocas de letras (por exemplo, “fra” por “fla”, dois “esse” por um “esse”, etc), o que parece esperado nessa fase de escolaridade (3a série). A carta de sua professora atual diz o seguinte sobre Roberto: “Em resposta a sua pergunta sobre o aluno Roberto, este tem tido um ótimo desenvolvimento na parte disciplinar. Seu aproveitamento nas disciplinas como a matemática está tudo bem, só não tem mostrado interesse no português, apesar de motivá-lo bastante.” Devido ao seu progresso em relação à conduta e aprendizagem, Roberto foi recentemente dispensado do acompanhamento psicológico. Eduardo, 8 anos, Ciclo Básico Continuidade pela primeira vez ... Segundo informações fornecidas pela professora, Eduardo teria sido encaminhado ao ARE por iniciativa da mãe, devido à excessiva lentidão com que realizava as atividade escolares. Em relação às causas dos problemas de Eduardo na escola, a professora colocou o que se segue: “criança que trabalha devagar, quando completa tarefa tem bom resultado, muito distraído, mas se questionado responde corretamente”, o que parece sugerir que, mesmo não desconsiderando a presença de dificuldades de aprendizagem, valoriza as potencialidades do aluno. A professora utilizou-se de uma expressão interessante para resumir o que sabe sobre o histórico escolar de Eduardo: “consta que sempre foi muito lerdo”. A partir dessa colocação ficam as seguintes questões: onde consta essa informação e como chegou à professora? Qual a influência desse tipo de informação sobre a percepção e o julgamento da professora em relação ao aluno? A mãe, por sua vez, colocou que a professora foi responsável pelo encaminhamento. Ressalta que a família criou um sentimento de antipatia em relação a Eduardo, o que fez a mãe levá-lo ao psicólogo. Quanto à aprendizagem, afirma que teve problemas apenas na pré-escola.
  • 14. 54 No caso de Eduardo, de modo semelhante ao caso de José, a mãe parece ter procurado o serviço de Psicologia mais pela sua necessidade de ajuda em relação aos conflitos com o filho do que, propriamente, por questões relativas ao seu desempenho ou conduta escolar. Para ela, as causas dos problemas de Eduardo estão totalmente relacionados à separação conjugal ocorrida recentemente e, conseqüentemente, sua dificuldade em aceitar a ausência do pai. Enfatiza os problemas de comportamento e de socialização da criança em sua história escolar. Os registros existentes no prontuário médico confirmam a ênfase da mãe nos aspectos negativos da conduta de Eduardo, referindo-se a ele como agressivo e violento; chegou a dizer que o considera como o “tipo de pessoa maldosa, que fica tramando”. Este aluno não chegou a participar como sujeito do estudo, por ter abandonado a avaliação antes da coleta de dados. Marcos, 8 anos, ingressante no Ciclo Básico... De acordo com a professora, os motivos pelos quais Marcos chegou ao ARE, são a sua dispersão e dificuldade de memorização, além de “desnutrição”∗. Marcos é ingressante no Ciclo Básico Inicial. A professora não detalhou o histórico escolar anterior, mas ressaltou sua instabilidade emocional e dificuldade de memorização, apesar de ser “dócil”. A mãe repete as mesmas queixas da professora, acrescentando que o filho conversa muito em sala de aula e não consegue realizar as tarefas propostas. Atribuiu as dificuldades de aprendizagem do filho à doença mental do pai; acredita que Marcos herdou do pai os mesmos problemas e que esses se refletem na aprendizagem.  Vários estudos têm apontado a relação comumente feita entre a desnutrição e os distúrbios de aprendizagem, como por exemplo: MOYSÉS (1985); COLLARES, MOYSÉS e LIMA (1985); MOYSÉS e LIMA (1982).
  • 15. 55 A mãe esclarece que Marcos também não teve bom desempenho na pré- escola. Realizou-se, há algum tempo, um eletroencefalograma que constatou, de acordo com as palavras da mãe, “fraqueza no cérebro”. Marcos foi avaliado no setor e, realmente, apresentou alguns indicativos de um possível déficit mental (dificuldade de estabelecer relações de espaço e tempo, desconhecimento de côres primárias, formas geométricas básicas e esquema corporal, dentre outras dificuldades). Obedecendo-se aos resultados dessa avaliação, encaminhou-se a criança ao setor de Psicologia da APAE, com a condição de que permanecesse em atendimento no ARE até a divulgação do laudo do profissional da referida instituição. Divulgou-se o laudo psicológico realizado na APAE que, mesmo informando ser o nível intelectual da criança limítrofe, considerou que essa não necessitaria de ensino especial, continuando, portanto, em atendimento no serviço de Psicologia do ARE e encaminhando-a ao setor de Terapia Ocupacional. Constatou-se que falta com muita frequência aos atendimentos agendados, o que dificulta o seu aproveitamento e, conseqüentemente, seu progresso. Em resumo, pode-se dizer que a maior parte das crianças possui, em sua história escolar, uma ou mais repetências e que, supostamente, apresentavam dificuldades de aprendizagem ou comportamento consideradas, por suas professoras ou famílias, como inadequadas para um desempenho acadêmico dentro dos parâmetros esperados. Em relação à participação no processo de avaliação: - Joana e Eduardo não finalizaram sua participação no estudo e na avaliação psicológica; - José teve alta do tratamento logo após a avaliação psicológica e foi encaminhado à fonoaudióloga;
  • 16. 56 - Vilma teve alta do tratamento aproximadamente nove meses após o início da avaliação, assim como Roberto, Antônio e Dalva, dispensados recentemente. - Telma e Marcos continuam em atendimento psicológico.