1. Desenvolvimento infantil na visão
psicanalítica
Aspectos estruturais e instrumentais do
desenvolvimento
O Outro na constituição do sujeito
2. Falar sobre o desenvolvimento infantil é
necessariamente um grande desafio pois há uma
totalidade crescente de múltiplos elementos que, ao
longo do tempo, vão se constituindo, se modificando
e se transformando
A complexidade e abrangência do desenvolvimento
contempla vários conceitos que tentam entender a
trama que envolve o conhecimento do homem sobre
si mesmo.
Portanto, Jerusalinsky (1989) está certo quando
afirma ser o desenvolvimento infantil um verdadeiro
caos conceitual
3. Os profissionais das área do conhecimento trarão um
enfoque ou darão ênfase a um processo do
desenvolvimento
Um neurologista afirmará ser a maturação do
sistema nervoso central o responsável pelas
conquistas da criança
O psicanalista será pela constituição do sujeito na
relação primordial com um Outro que se desdobrarão
estas conquistas
O psicólogo falará das adaptações, equilibrações e
acomodações
4. Mas, para entender o processo de
desenvolvimento, é necessário fazer a
distinção entre o que é estrutura do
desenvolvimento e quais são os meios
e as ferramentas utilizadas para se tecer
este processo
5. Coriat e Jerusalinsky(1989 e 1996)
afirmam que o desenvolvimento passa
por três elementos essenciais às
conquistas humanas:
1. O biológico;
2. O sujeito psíquico;
3. O sujeito cognitivo.
6. 1. O elemento biológico
O elemento biológico nada mais é
que a maturação do sistema
nervoso
A organização, a interação internuncial
com as conexões nervosas são o que
possibilitam as experimentações com
captação de efeitos e transformações
neuroevolutivas para poderem
acontecer e fazer a diferenciação dos
padrões e comportamentos
7. Porém, segundo Jerusalinsky (1999, p. 28)
“o desenvolvimento de um bebê humano não
opera por simples automatismos biológicos”,
uma vez que “os estímulos externos não são
o motor de seu desenvolvimento (...) seu
corpo não se organiza por suas funções
musculares ou fisiológicas, mas sim pelas
marcas simbólicas que o afetam”
8. 2. O sujeito psíquico
Daí vem a importância do 2º elemento, o sujeito
psíquico, que tem uma dependência externa muito
significativa porque é representada pela família e
como esta vê e investe no filho
A dependência do lugar em que os pais
colocam este filho será preponderante para sua
constituição subjetiva na qual definirá seu lugar no
mundo do desejo, de se diferenciar do Outro e
marcar seu caminho na vida e no mundo
É nesta definição de lugar do filho no contexto
familiar é que se permite a criança ser sujeito
inscrito no sistema nervoso central do primeiro
elemento que o possibilita por gestos, atos e
linguagem
9. A palavra sujeito aqui deve ser compreendida como
a psicanálise apresenta: o sujeito é aquele que
suporta o desejo e, no caso do bebê, é o que
suporta o desejo materno pois como ainda não
está constituído, está sob o desejo materno
representado no Outro (grafado desta forma para
indicar um grande outro, um outro primordial e não
qualquer outro).
O fato de este elemento ser subjetivo traz a
influencia do externo sob o interno de
maneira sincronizada, organizada e
interdependente.
10. Segundo Jerusalinsky (1999, p. 37),
“para que um sujeito se constitua, não é necessário
esperar que uma criança caminhe, ou que maneje
habilidosamente sua preensão, que chute uma bola
ou que possa manter sua cabeça bem alinhada em
relação a sua visão. Não é necessário, pois há
crianças paralíticas cerebrais que nunca manejarão
bem a pinça manual, nem caminharão; ou
mielomelingocélicos que nunca chutarão uma bola,
ou cegos que nunca alinharão a cabeça com sua
visão inexistente, e nem por isso serão menos
sujeitos de desejo que outras crianças que gozam de
todas as habilidades corporais. (...) é certo que não é
do corpo, mas da simbolização que nele se opere (a
partir mesmo de suas primeiras falhas) que depende
esta estruturação psíquica.”
11. 3. Sujeito cognitivo
O terceiro elemento é o sujeito cognitivo, o sujeito
do conhecimento dado pela percepção dos
esquemas de comportamento baseados nas reações
aos objetos do entorno
O meio, enquanto coisas e pessoas, tornam-se
objeto de interrogação, de experimentação e de
intercâmbio da criança em desenvolvimento
Cada fase, etapa vivenciada e passada no processo
do desenvolvimento utilizá-se destes três elementos
com ação sincronizada principalmente nos dois
primeiros anos de vida e gradativamente eles vão se
diferenciando com o aprimoramento das habilidades
12. Desenvolvimento: aspectos
estruturais e instrumentais
Coriat e Jerusalinsky (1999, p. 193) afirmam
que
“ao falar de desenvolvimento é preciso
distinguir entre as articulações que
constituem o sujeito e os instrumentos de que
esse se vale para realizar seus intercâmbios
com o meio ambiente. Falamos, então, de
aspectos estruturais e instrumentais do
desenvolvimento”.
13. Aspectos estruturais
Quando um bebê quer mamar você não consegue
separar qual o elemento do desenvolvimento está
regendo esta necessidade, se o sistema nervoso
pela ação neurovegetativa, ou o sistema psíquico-
afetivo pela relação mãe bebê ou mesmo pelo
sistema psíquico-cognitivo pela experiência da
estruturação proprioceptiva sensório-motora do ato
de mamar.
Com o passar dos anos, ao virmos uma criança
andando de bicicleta, podemos afirmar qual estrutura
essencialmente operou e/ou está operando para que
esta atividade se dê.
14. Aspectos instrumentais
O aspecto instrumental é representado,
efetivamente, pelos hábitos e rotinas de vida
diária das crianças, do brincar, da
linguagem, das atividades psicomotoras, da
aprendizagem e da socialização, pois permitem
a experiência, o intercambio, a regulação, a
averiguação, o ajuste e adequação, e
compreensão dentre outros para oportunizar as
transformações do vivido.
Estes instrumentos são marcantes para a eficácia da
evolução neuropsicomotora pela sua proximidade de
ação nos primeiros anos de vida da criança que junto
aos aspectos estruturais fazem a diferenciação de si
em relação ao outro.
15. Para Jerusalinsky (1999, p. 76),
“nesse processo não é a cronologia o que
caracteriza, nem uma progressão uniforme,
tampouco um ritmo de saltos. O psíquico não
tem ritmo, no que se diferencia do biológico
que, ao contrário, o tem. (...) O que se
desenvolve são as funções articuladas em
torno do objeto faltante, como cadeias
significantes que lhe dão seu contorno.”
16. Esta definição de desenvolvimento afirma que os
aspectos estruturais e instrumentais quando se
articulam processam sua evolução
O aspecto estrutural é representado pelo biológico
através do sistema nervoso central, o sujeito
psíquico pelo sistema psíquico-afetivo e o sujeito
cognitivo pelo sistema psíquico-cognitivo.
O aspecto instrumental pelas diversas áreas de
experimentação ativa do corpo em relação
com o meio de coisas e pessoas.
17. Quando um bebê nasce, este faz diferentes
movimentos que são denominados “naturais”: os
movimentos reflexos arcaicos, movimentos
espásticos, movimentos espontâneos e movimentos
automáticos
À medida que ocorre o desenvolvimento psicomotor
da criança, os movimentos reflexos e os automáticos
arcaicos vão desaparecendo, o que, para Levin
(2002, p. 43), pode ser explicado assim: os
movimentos arcaicos desaparecem ou silenciam e
retornam diferentes, como intencionais ou
voluntários, é que entre “o arcaico” e “o voluntário” se
produz uma inscrição, uma marca ou traço (uma
letra).
18. O desenvolvimento infantil é um lugar de encontros
entre estrutura e instrumento como caminho de base
para se tecer o enquadrinhamento progressivo que
acontece de maneira singular e própria para cada um
de nós
Os aspectos servem como fonte inicial de
compreensão de algo que está sempre em
movimento, como o desenvolvimento humano
Após os primeiros anos vamos aperfeiçoando o
aprendido e acrescentando elementos a eles, mas
potencialmente o novo será a qualificação do vivido
com estruturas mais complexas de ação em um jogo
dinâmico de equilíbrio e desequilíbrio progressivos
19. Em síntese:
ASPECTOS ESTRUTURAIS: são as articulações que compõe
o sujeito, Condicionam, marcam, definem o lugar e a
modalidade desde o qual o sujeito se coloca
- orgânicos e psíquicos, subjetividade e cognição
ASPECTOS INSTRUMENTAIS:são os instrumentos para
realizar o intercâmbio. Também, essas ferramentas levam a
facilitar a construção do mundo e de si
- linguagem, psicomotricidade, aprendizagem, hábitos da vida
diária, jogos e socialização
20. O Outro na constituição do
sujeito
Quando falamos em estrutura psicomotora, falamos
dos aspectos neurológicos e psíquicos do sujeito e
de suas articulações
Para Jerusalinsky (1999, p. 193), por exemplo: estes
processos se assentam e transcorrem num corpo.
Por isto, quando falamos de estrutura psicomotora,
nos referimos centralmente ao corpo e suas
produções. (...) Essas produções abarcam um sem
número de atividades: o movimento, o tônus, os
gestos, as posturas, os jogos, a palavra etc.,
desenvolvidas em um espaço e em um
tempo e basicamente em uma relação com
um Outro e com o que este Outro produz
manifestando nesta produção seu desejo
21. O corpo humano depende, portanto, para
sua subsistência, de um Outro , já que a criança
quando nasce é imatura, e sem o Outro não
conseguirá constituir um corpo subjetivado.
O Outro vai criando nesse puro corpo
“coisa”: buracos, bordas, protuberâncias tatuando
deste modo um mapa corporal produto do desejo do
Outro, que o erogeiniza, pulsionaliza, ou seja, cria-
lhe uma falta no corpo, uma maneira, uma forma de
que lhe falte algo.
Estas faltas primordiais geram uma queda
deste corpo “coisa”, “carne” puro real, que
ao cair reencontra-se sujeito ao Outro. Estas
marcas, estes modos de que falte algo no corpo,
transformam-no num corpo erógeno e simbólico.
22. Fontes
JERUSALINSKY, A. Psicanálise e
Desenvolvimento Infantil. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1989
http://www.incorcrianca.com.br/fami_de
s_infantil.asp