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O consumo de músicas via YouTube
Tiago Alves Nogueira de Souza



Introdução: O YouTube e o consumo de músicas
Quando o YouTube surgiu em 2005, ninguém poderia prever a grandeza que ele
atingiria e a pluralidade de possibilidades de uso dessa rede social de compartilhamento
de vídeos. O Youtube utiliza o formato Adobe Flash para disponibilizar o conteúdo que
pode ser enviado por qualquer usuário devidamente cadastrado. Embora atualmente seu
slogan seja “Broadcast yourself” (algo como “Transmita-se”), nos primeiros momentos
de sua existência ele trazia os seguintes dizeres: “your digital video repository” (seu
repositório de vídeos digitais). Pode-se dizer que ele é, na verdade, um pouco dos dois.

       As pessoas tanto usam o youtube para se transmitir como para armazenar seus
vídeos favoritos. Nesse meio, além de vídeos de família, gravações caseiras e vídeos
amadores, também encontramos covers de bandas e artistas desconhecidos, bootlegs e
gravações de shows, além de clips musicais – legais e ilegais. O potencial do Youtube
para armazenar a cultura da era contemporânea é muito grande.      Velhos vídeos que
jamais seriam vistos novamente, ganham vida no Youtube. Jean Burgess e Joshua
Green comentam:

                      (...) se o YouTube persistir tempo suficiente, o resultado será não
                      apenas um repositório de conteúdo de vídeos antigos, mas algo
                      até mais significativo: um registro de conteúdo popular
                      contemporâneo global (incluindo a cultura venacular e cotidiana)
                      na forma de vídeo, produzida e avaliada de acordo com a lógica
                      do valor cultural que emerge das escolhas coletivas da
                      compartilhada comunidade de usuários do YouTube. (Burgess e
                      Green, 2009: pg. 120)

       O homem está colocando cada vez mais sua cultura no cibersepaço. Um
aplicativo recentemente produzido pela Bouygues criava um livro a partir das
atualizações que o usuário fazia em seu Facebook. As expressões dos usuários quando
se colocaram sub a perspectiva de ver toda a sua vida digital num livro foram
surpreendentes. As pessoas nunca foram tão virtuais como atualmente.

        Outro ponto fundamental que norteia este artigo é o consumo musical na
contemporaneidade. Mp3 players, computadores portáteis, smartphones, dentre outros
aparelhos modificaram a forma como consumimos música. As pessoas nunca
consumiram tanta música como atualmente.

        Acredito que exista um misto desses elementos no site YouTube. Apesar de
existirem várias redes sociais de compartilhamento de músicas, 32% das pessoas que
acessam ao YouTube nos Estados Unidos o utilizam para ver vídeos relacionados à
música, segundo o Pew Institute of research. Recentemente tivemos também o caso dos
cantores pop Lady Gaga e Justin Bieber que atingiram marcas histórias no YouTube:
seus canais1 no foram assistidos mais de 1 bilhão de vezes. Mesmo sendo um site cujo
principal motor seja o compatilhamento de vídeos, muitas pessoas acessam o YouTube
com o intuito único de escutar música, como comprovaremos mais adiante em nossa
pesquisa.

        Portanto, o principal objetivo deste artigo é analisar como os usuários do
YouTube consomem música através deste site, uma. Para tanto, foi aplicado um
questionário, entre os dias 18 e 24 de Novembro de 2010, obtendo 209 respostas acerca
de assuntos relacionados à esse consumo. Foram escutadas pessoas de várias faixas
etárias, sendo que a predominante foi a dos 18 aos 24 anos, compondo 64,11% da
amostra. A pesquisa também dividiu os usuários entre gênero, sendo que 75,60% deles
eram do sexo masculino. Apesar dessas divisões, os resultados mostraram-se
praticamente os mesmos, indepentemente da idade ou do sexo do usuário.




O cenário musical do Youtube
Em 8 de dezembro de 2009, Sony Music Entertainment, Universal Music Group , Abu
Dhabi Media Company e EMI se uniram para formar a joint venture 2 VEVO de vídeos
musicais e entretenimento. O armazenamento dos vídeos é provido pelo YouTube com


1
  http://www.youtube.com/user/LadyGagaVEVO e http://www.youtube.com/user/JustinBieberVEVO,
respectivamente
2
  Joint venture, também conhecido como empreendimento conjunto, é uma associação de empresas
para explorar determinado(s) negócio(s), sem que nenhuma delas perca sua personalidade jurídica.
o Google, que então divide sua receita de anúncios com a VEVO. Uma das razões para
o surgimento da VEVO foi justamente o alto nível de competitividade entre os video-
clips musicais dentro do YouTube. E é da VEVO que surgiram alguns dos maiores
fenômenos da música pop no youtube: Lady Gaga e Justin Bieber cujos video-clips,
juntos, já geraram mais de 2 bilhões de views.

       Por outro lado, o YouTube vem ajudando milhares de músicos desconhecidos
em todo o mundo. Como o próprio slogan diz, o YouTube é um lugar para transmitir-se.
Nesse sentido, bandas independentes aproveitam do grande número de acessos do site
para divulgar suas canções e performances.

       Bandas e cantores antigos também têm seu espaço no YouTube. Muitos clips
musicais que já não apareciam mais na televisão reviveram graças ao trabalho dos fãs.
Mesmo que indiretamente, o YouTube conecta à esses vídeo-clips, uma vez que os
camelôs brasileiros encontraram uma demanada reprimida ao baixar esses clips e vender
os DVDs ilegalmente. “É muito mais provável esgotar nossa própria capacidade de
nostalgia do que exaurir as possibilidades de material antigo disponível atualmente no
YouTube” (Burgess e Green, 2009: pg. 199)

       Adriana Amaral (2010) comenta também em seu ensaio sobre as práticas de
fansourcing sobre esse momento em que os fãs estão criando uma verdadeira curadoria
digital, protegendo através da internet o conteúdo excluído das mídias tradicionais de
massa que poderia se perder com o tempo. Apesar do uso intensivo da internet, a autora
defende que essas práticas de fansourcing “(...) de forma alguma são inventadas pelo
on-line – mas amplificam seu poder de divulgação pelo caráter de viralidade ou o que
Boyd (2009) caracteriza como „replicabilidade‟” (Amaral, 2010: pg. 146).

       Para a autora, fansourcing é “um tipo de prática de coleta e distribuição de
informações, e apropriação criativa de material de determinado artista, produzida por
um grupo de fãs específico” (Amaral, 2010: pg. 158). As práticas de criação de um
canal no YouTube de determinada banda, da criação de clips com imagens de cantores e
capas de álbuns, bem como a postagem de covers em homenagem aos artistas podem
ser consideradas como fansourcing. E disto o YouTube está repleto.

       Em fato, o YouTube possui mais conteúdo criado por fãs do que por gravadoras
ou músicos, uma vez que ainda existe um grande dilema em relação aos direitos
autorais. Embora empreendimentos de grandes empresas como o VEVO estejam
modificando essa estrutura, até a segunda metade desta década o pensamento da maioria
das empresas e produtores musicais ainda refletia o medo e moralismo empregados por
Andre Keen (2009). Em seu livro, A cultura do amador, Keen defende que a música
morreu. Os argumentos usados pelo autor são os de que a internet 1) fechou grandes
lojas varejistas de música; 2) acabou com o mercado de CDs e; 3) não representa o
mercado de nichos, entre outros argurmentos romanticamente expostos.

       O preconceito que a internet sofreu (e ainda sofre em alguns casos) sobre o
futuro da música, foi o mesmo de quando os CDs chegaram às lojas. Críticos afirmavam
que eles iriam destruir a qualidade da música. Semelhate também foi o caso dos MP3s
(embora este tenha surgido simultâneamente com a internet). Mas Jonathan Sterne nos
ajuda à refletir sobre o porquê dos MP3s serem o sucesso de hoje em dia: “MP3s são
desenvolvidos para serem escutados via fones de ouvido, na rua, em um ruidoso
dormitório, em um escritório com ventilador de computador barulhento, enquanto pano
de fundo para outras atividades e através de caixas de som low-fi ou mid-fi para
computador” (Sterne, 2010: pg. 80).

       A verdade é que o consumidor musical evolui. Não é pretensão deste artigo
examinar se essa mudança foi negativa ou positiva, mas alguns fatos devem ser levados
em consideração: 1) nunca se consumiu tanta música no mundo como atualmente; 2)
mais pessoas têm acesso à mais música a um preço menor e; 3) Os que são alfabetizados
digitalmente encontram mais nichos musicais e com mais facilidade.

       Outro fato que aumenta a potencialidade do YouTube como distribuidor musical
é aquilo que Jason Stanyek e Benjamin Piekut chamam de “mortitude”: “No capitalismo
tardio, os mortos são altamente produtivos. Claro, todo capital é trabalho morto, mas os
mortos também geram capital em colaboração com os vivos” (Stanyek e Piekut, 2010:
pg. 11). No YouTube, cantores falecidos fazem sucesso: Michael Jackson é o mais
cotado para ser o 3º artista a atingir 1 bilhão de views em seu canal no site.

       O cenário musical do YouTube é, portanto, formado por grandes e pequenas
empresas, artistas indepententes e pop-stars, compositores vivos e mortos, além de um
grande conjunto de covers, bootlegs, gravações amadoras, talkshows e pedaços de
reportágens sobre bandas e músicos. Apesar de parecer confuso e complexo, é a forma
favorita para muitos usuários de escutar música na internet.
O YouTube como repositório online de músicas e oportunidades
Porque as pessoas consomem músicas no ambiente destinado à vídeos? Adriana Amaral
nos dá a pista novamente: “No mundo contemporâneo ou pós-moderno, a „Imagem‟ é a
musa sedutora. Tende-se a desconsiderar os sons, os ruídos e a própria música como
seus elementos. A imagem e os outros componentes do sentido da visão definem a
marca de nossa época” (Amaral, 2003: p. 1)

       Quando elaborei o questionário sobre o consumo de músicas via YouTube,
coloquei a seguinte questão: “Quando você escuta/vê algum clip de música no Youtube,
você se importa com a qualidade da imagem?”. Esperei que o “sim” ganhasse do “não”
nesta pergunta, mas o resultado foi além das minhas expectativas, o que, de fato, me
ajudou a elucidar algumas questões: 82,78% dos pesquisados respoderam que a
qualidade da imagem era um fator importante ao assistir um video-clip musical no
YouTube. As respostas fazem muito sentido quando você observa um clip da Lady
Gaga em seu canal: o apelo visual da cantora em suas produções cinematográficas
chamam a atenção do usuário, impedindo o zapping entre programas e outras janelas em
seu computador. A qualidade da imagem é um fator fundamental na experiência estética
do fruidor. Amaral complementa:

                     A tendência ao endeusamento e, por conseqüência, uma
                     fetichização da imagem faz com que nos concentremos apenas na
                     veloz sucessão de frames que perpassam o controle remoto em
                     um zapping contínuo do mundo. Assim, recortamos e colamos
                     não só imagens propriamente ditas, como sons, ruídos e músicas,
                     tramando uma verdadeira sinfonia visual do presente (Amaral,
                     2003: pg. 2)

       Isso ajuda a entender também o porquê dos vídeos relacionados à música mais
ouvidos serem os mais próximos dos “oficiais”. Ao ver os resultados da pergunta “Qual
tipo de vídeo relacionado a música você mais assiste?” depois de observar os resultados
da pergunta anterior, não tive surpresas: 86,12% dos pesquisados assistem à Clips
oficiais da banda/cantor; 61,24% assistem à Shows (ou trechos de shows). É notável que
a qualidade desses vídeos com relação às outras fontes é superior. Os demais tipos
assistidos foram vídeos de Música com imagens coletadas por fãs com 32,54%;
Entrevistas com 29,67%; Bootlegs (gravações não oficiais de shows/apresentações) com
23,92%; Programas musicais com 18,18% e; covers com 18,18% também. É importante
observar que apesar da alta busca por materiais oficiais (video-clips e shows), poucos
deles são realmente liberados por músicos e gravadoras. Apesar de colocarmos nessa
ordem, sabe-se que os maiores entraves surgem por conta das gravadoras.

       Entretanto, ao perguntarmos “Alguma vez você procurou alguma música no
Youtube no intento de apenas escutá-la, mas não visualizar o vídeo?” tivemos 176
respostas positivas, totalizando 84,21% dos pesquisados. Ora, mas os usuários não se
importam tanto com a qualidade da imagem? A verdade é que o YouTube é tanto um
repositório de vídeos, como também um player de músicas online. Os usuários visitam o
site em dois momentos distintos: para escutar músicas e para ver vídeos musicais. Outro
dado interessante é que 35,89% dos pesquisados afirmaram que já criaram pelo menos
uma lista de execução no Youtube com o objetivo de reproduzir uma playlist de
músicas, sendo que desse percentual, 11% já criaram mais de 5 listras de reprodução
com esse objetivo, o que caracteriza uma apropriação por parte dos usuários muito forte
no sentido de construção de novas práticas no YouTube. Ao associar às listas de
reprodução de vídeos com playlists musicais, o YouTube perde um pouco da sua função
de “transmita-se” e vira um tipo de “escuta-me”. Isto pode ser evidenciado nos 32,54%
dos usuários que assistem vídeos de músicas com imagens de coletadas pelo autor do
vídeo. E em alguns casos, o vídeo é composto de apenas uma única imagem congelada
enquanto a música toca.

       Outro fator interessante de ser analisado é como as pessoas chegam aos vídeos
do YouTube. Como atualmente ele já é um site consagrado, muitas pessoas acessam
diretamente seu link na web, o que as leva, então, a pesquisar sobre determinado tema
na caixa de busca do site. Perguntei aos pesquisados “Ao fazer essa busca (referente à
questão anterior) você acabou se deparando com algum material diferente do que
buscava e acabou gostando?” 77,34% responderam que “sim”. A multitarefa e a difusão
da atenção são características próprias do ciberespaço. Por outro lado, temos que o
próprio buscador do Google não é totalmente eficaz, o que pode levar as pessoas a
encontrarem materiais diferentes do que estavam buscando, porém semelhantes, o que
as ajuda a gostarem desse material distinto.
Exemplifiquemos: Uma rápida busca no YouTube ao termo “Heroes David
Bowie” (uma música e o nome do cantor) feita no dia 1º de dezembro de 2010 resultará
em 4.600 resultados. Examinemos apenas a primeira página, composta de 20 resultados.
Apenas 2 desses resultados não têm vínculo nenhum com o objetivo da busca (são
vídeos que têm palavras-chave semelhantes, mas com significados completamente
diferentes. Dos 18 vídeos restantes, apenas 2 foram carregados por representantes
oficiais da banda, sendo que apenas um era partner do YouTube. Todos os outros vídeos
desta página foram carregados por usuários comuns, em baixa qualidade. Desses 18
vídeos, temos ainda que: Apenas 1 era um video-clip musical; 6 eram shows (ou trechos
de); 6 eram covers (sendo que 3 foram produzidos oficialmente por outras bandas e 3
eram amadores); 3 eram vídeos produzidos com imagens coletadas por fãs e; 2 eram
bootlegs.

          Podemos afirmar que diversas outras buscas trariam resultados semelhantes. Isso
dialoga bem com a idéia de Chris Anderson sobre a cauda longa, onde um vídeo tem
muito mais exibições que os outros, mas a soma de todos os outros tem um número
muito superior de visualizações.

          De qualquer forma, aqui a idéia do “Transmita-se” cái muito bem. Vários covers
são assistidos e muitas produções amadoras acabam ganhando destaque. Recentemente,
podemos citar o caso da banda alagoana “Los borachos enamorados”. Fazendo uma
paródia bem humorada da música “Minha mulher não deixa não”, da nacionalmente
conhecida banda Aviões do Forró, o grupo alagoano ganhou mais de 180 mil acessos
em apenas três dias com seu clip “Vou sim, quero sim” 3.

          O youtube é, portanto, um grande potencializador de gostos musicais. Ao
realizar uma pesquisa no site, os usuários acabam encontrando materiais semelhantes
que fortalecem seu gosto musical, por um lado e que, por outro lado, pode lhe ajudar a
descobrir novos gêneros, bandas e cantores. Esses materiais novos, porém semelhantes,
são um registro contemporâneo da maneira de se consumir música online.




3
    http://www.youtube.com/watch?v=QS3G_ErpFqY
Considerações Finais
      O youtube é muito mais que um site de compartilhamento de vídeos. É também
uma rede musical viva e ativa que recebe diáriamente milhões de acessos de pessoas em
busca de música, não de vídeos. Entretanto é importante observar que o vídeo não deve
ser excluído do processo, pois os consumidores musicais entram no site em dois
momentos distintos como pudemos observar.

       Existe, de fato, aquele consumidor que deseja realmente assistir ao vídeo. E aí a
qualidade gráfica do mesmo torna-se extremamente relevante e casos de sucesso no
youtube como a Lady Gaga são a prova disso. Por outro lado o mesmo consumidor
pode entrar no site com o intuito de meramente escutar uma música. Aí a qualidade do
vídeo não é tão significativa o que responde a questão do porquê de vídeos feitos apenas
com imagens e fotografias serem tão populares.

       As bandas novas devem se aproveitar desse fato. Muitas músicas de bandas
independentes ficam “perdidas” em páginas oficias e sites de compartilhamento de
músicas, que não são tão populares como o YouTube. Dessa forma, as bandas iniciantes
podem pegar um conjunto de fotos (ou até mesmo uma só) e produzir um clip com sua
música. Saber que 32,54% dos usuários do youtube que buscam músicas vêem (ou
melhor, escutam) esse tipo de produção pode estimular os músicos a colocarem suas
faixas no site sem a necessidade de ter um clip bem produzido. Não estamos rejeitando
os clips oficiais, pelo contrário. O apelo visual é uma característica muito forte do
YouTube. Entretanto, devemos lembrar que existem momentos que os consumidores
buscam apenas as músicas, e não os vídeos, e é desse tipo de consumidor que as bandas
que não têm condições para produzir clips devem se aproveitar.

       Num outro momento observamos a questão da cauda longa presente nas buscas
por vídeos musicais. Os clips, entrevistas, show, etc. oficiais são muito poucos, embora
gerem isolados um número alto de acessos. Os outros vídeos relacionados (covers,
músicos amadores, bootlegs, vídeos com imagens colocadas por fãs, etc.) representam
uma quantidade muito maior de vídeos, mas que não são tão assistidos como os oficiais.
Entretanto, a soma total desses vídeos supera o número de exibições do clips isolados.

       Aqui visualizamos bem a questão do “transmita-se” do       YouTube,    onde       os
usuários produzem conteúdos amadores e ganham visualização “às custas” dos clips de
sucesso. É, então, outro momento que as bandas inciantes podem se aproveitar, podendo
ganhar visibilidade através das buscas relacionadas de conteúdo.

          Finalmente observamos o uso do YouTube como um player online de músicas.
Os consumidores criam listas de reprodução de vídeos no intuito de escutar músicas,
não de visualizar os vídeos. Essa característica pode ser afirmada ao observar sites como
o blip.fm, onde os usuários coloquem músicas à partir do youtube para seus seguidores.

          A constatação dos objetos analisados pode ser conseguida através da lista de
vídeos mais vistos no YouTube em 20104. Dos 10 vídeos mais vistos desse ano, 4 são
vídeos relacionados à música e os 3 primeiros colocados da lista são vídeos
relacionados à música. Na verdade, todos os três primeiros colocados não são vídeo-
clips oficiais. O primeiro da lista é o “Bed Intruder Song!” é um clip feito por amadores
juntando partes remixadas de outro vídeo. O segundo colocado é um clip paródia da
cantora Kesha e o terceiro é uma apresentação amadora de um jovem garoto
interpretando “paparazzi” da Lady Gaga.

          E em 7º lugar nós vemos um vídeo-clip musical oficial. É o This Too Shall Pass,
da banda Ok Go. Aqui observamos um apelo visual muito forte, com várias cenas que
chamam a atenção do usuário a todo o momento.

          O YouTube é, então, muito mais que um site de compartilhamento de vídeos. É
uma plataforma multimídia completa. Os usuários de fato o utilizam como um player de
músicas e de fato a música é tão presente no youtube que neste ano o YouTube
“premiou” três categorias de vídeos: os mais assistidos do ano, os termos de busca que
cresceram mais rapidamente e os vídeos de música mais assistidos. Entretanto, na
categoria de vídeos de música mais assistidos não visualizamos nenhum vídeo amador.
Talvez a criação dessa categoria seja uma forma de melhorar a imagem da empresa
junto às gravadoras. Por outro lado o YouTube se mantém forte como divulgador de
cultura vernacular ao ter muitos vídeos amadores na lista dos vídeos mais assistidos do
ano.




4
    http://www.youtube.com/rewind
Referências Bibliográficas
AMARAL, Adriana. Rock imaginário e tecnológico – as relações imagético-sonoras
na contemporaneidade. 2003. Disponível em: http://www.bocc.uff.br/pag/amaral-
adriana-rock-imaginario.pdf, Acessado em 23 de novembro de 2010.

AMARAL, Adriana. Práticas de Fansourcing: estratégias de mobilização e
curadoria musical nas plataformas musicais. In: Rumos da Cultura da Música.
Organização: Simone Pereira de Sá. Porto Alegre: editora SULINA, 2010.

BURGESS, Jean; GREEN, Joshua. Youtube e a revolução digital: como o maior
fenômeno da cultura participativa transformou a mídia e a sociedade. São Paulo:
editora ALEPH, 2009.

JENKINS, Henry. A cultura da convergência. São Paulo: editora ALEPH, 2008.

KEEN, Andrew. O culto do amadoar. Rio de Janeiro: editora ZAHAR, 2009.

NOGUEIRA, Tiago. Como seria seu facebook se ele fosse um livro.2010. Disponível
em: http://www.webdialogos.com/2010/midias-sociais/como-seria-seu-facebook-se-ele-
fosse-um-livro/, Acessado em 29 de novembro de 2010.

STANYEK, Jason; PIEKUT, Benjamin. Mortitude: tecnologias do intermundano. In:
Rumos da Cultura da Música. Organização: Simone Pereira de Sá. Porto Alegre: editora
SULINA, 2010.

STERNE, Jonathan. O mp3 como um artefato cultural. In: Rumos da Cultura da
Música. Organização: Simone Pereira de Sá. Porto Alegre: editora SULINA, 2010.

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O consumo de música no YouTube

  • 1. O consumo de músicas via YouTube Tiago Alves Nogueira de Souza Introdução: O YouTube e o consumo de músicas Quando o YouTube surgiu em 2005, ninguém poderia prever a grandeza que ele atingiria e a pluralidade de possibilidades de uso dessa rede social de compartilhamento de vídeos. O Youtube utiliza o formato Adobe Flash para disponibilizar o conteúdo que pode ser enviado por qualquer usuário devidamente cadastrado. Embora atualmente seu slogan seja “Broadcast yourself” (algo como “Transmita-se”), nos primeiros momentos de sua existência ele trazia os seguintes dizeres: “your digital video repository” (seu repositório de vídeos digitais). Pode-se dizer que ele é, na verdade, um pouco dos dois. As pessoas tanto usam o youtube para se transmitir como para armazenar seus vídeos favoritos. Nesse meio, além de vídeos de família, gravações caseiras e vídeos amadores, também encontramos covers de bandas e artistas desconhecidos, bootlegs e gravações de shows, além de clips musicais – legais e ilegais. O potencial do Youtube para armazenar a cultura da era contemporânea é muito grande. Velhos vídeos que jamais seriam vistos novamente, ganham vida no Youtube. Jean Burgess e Joshua Green comentam: (...) se o YouTube persistir tempo suficiente, o resultado será não apenas um repositório de conteúdo de vídeos antigos, mas algo até mais significativo: um registro de conteúdo popular contemporâneo global (incluindo a cultura venacular e cotidiana) na forma de vídeo, produzida e avaliada de acordo com a lógica do valor cultural que emerge das escolhas coletivas da compartilhada comunidade de usuários do YouTube. (Burgess e Green, 2009: pg. 120) O homem está colocando cada vez mais sua cultura no cibersepaço. Um aplicativo recentemente produzido pela Bouygues criava um livro a partir das atualizações que o usuário fazia em seu Facebook. As expressões dos usuários quando
  • 2. se colocaram sub a perspectiva de ver toda a sua vida digital num livro foram surpreendentes. As pessoas nunca foram tão virtuais como atualmente. Outro ponto fundamental que norteia este artigo é o consumo musical na contemporaneidade. Mp3 players, computadores portáteis, smartphones, dentre outros aparelhos modificaram a forma como consumimos música. As pessoas nunca consumiram tanta música como atualmente. Acredito que exista um misto desses elementos no site YouTube. Apesar de existirem várias redes sociais de compartilhamento de músicas, 32% das pessoas que acessam ao YouTube nos Estados Unidos o utilizam para ver vídeos relacionados à música, segundo o Pew Institute of research. Recentemente tivemos também o caso dos cantores pop Lady Gaga e Justin Bieber que atingiram marcas histórias no YouTube: seus canais1 no foram assistidos mais de 1 bilhão de vezes. Mesmo sendo um site cujo principal motor seja o compatilhamento de vídeos, muitas pessoas acessam o YouTube com o intuito único de escutar música, como comprovaremos mais adiante em nossa pesquisa. Portanto, o principal objetivo deste artigo é analisar como os usuários do YouTube consomem música através deste site, uma. Para tanto, foi aplicado um questionário, entre os dias 18 e 24 de Novembro de 2010, obtendo 209 respostas acerca de assuntos relacionados à esse consumo. Foram escutadas pessoas de várias faixas etárias, sendo que a predominante foi a dos 18 aos 24 anos, compondo 64,11% da amostra. A pesquisa também dividiu os usuários entre gênero, sendo que 75,60% deles eram do sexo masculino. Apesar dessas divisões, os resultados mostraram-se praticamente os mesmos, indepentemente da idade ou do sexo do usuário. O cenário musical do Youtube Em 8 de dezembro de 2009, Sony Music Entertainment, Universal Music Group , Abu Dhabi Media Company e EMI se uniram para formar a joint venture 2 VEVO de vídeos musicais e entretenimento. O armazenamento dos vídeos é provido pelo YouTube com 1 http://www.youtube.com/user/LadyGagaVEVO e http://www.youtube.com/user/JustinBieberVEVO, respectivamente 2 Joint venture, também conhecido como empreendimento conjunto, é uma associação de empresas para explorar determinado(s) negócio(s), sem que nenhuma delas perca sua personalidade jurídica.
  • 3. o Google, que então divide sua receita de anúncios com a VEVO. Uma das razões para o surgimento da VEVO foi justamente o alto nível de competitividade entre os video- clips musicais dentro do YouTube. E é da VEVO que surgiram alguns dos maiores fenômenos da música pop no youtube: Lady Gaga e Justin Bieber cujos video-clips, juntos, já geraram mais de 2 bilhões de views. Por outro lado, o YouTube vem ajudando milhares de músicos desconhecidos em todo o mundo. Como o próprio slogan diz, o YouTube é um lugar para transmitir-se. Nesse sentido, bandas independentes aproveitam do grande número de acessos do site para divulgar suas canções e performances. Bandas e cantores antigos também têm seu espaço no YouTube. Muitos clips musicais que já não apareciam mais na televisão reviveram graças ao trabalho dos fãs. Mesmo que indiretamente, o YouTube conecta à esses vídeo-clips, uma vez que os camelôs brasileiros encontraram uma demanada reprimida ao baixar esses clips e vender os DVDs ilegalmente. “É muito mais provável esgotar nossa própria capacidade de nostalgia do que exaurir as possibilidades de material antigo disponível atualmente no YouTube” (Burgess e Green, 2009: pg. 199) Adriana Amaral (2010) comenta também em seu ensaio sobre as práticas de fansourcing sobre esse momento em que os fãs estão criando uma verdadeira curadoria digital, protegendo através da internet o conteúdo excluído das mídias tradicionais de massa que poderia se perder com o tempo. Apesar do uso intensivo da internet, a autora defende que essas práticas de fansourcing “(...) de forma alguma são inventadas pelo on-line – mas amplificam seu poder de divulgação pelo caráter de viralidade ou o que Boyd (2009) caracteriza como „replicabilidade‟” (Amaral, 2010: pg. 146). Para a autora, fansourcing é “um tipo de prática de coleta e distribuição de informações, e apropriação criativa de material de determinado artista, produzida por um grupo de fãs específico” (Amaral, 2010: pg. 158). As práticas de criação de um canal no YouTube de determinada banda, da criação de clips com imagens de cantores e capas de álbuns, bem como a postagem de covers em homenagem aos artistas podem ser consideradas como fansourcing. E disto o YouTube está repleto. Em fato, o YouTube possui mais conteúdo criado por fãs do que por gravadoras ou músicos, uma vez que ainda existe um grande dilema em relação aos direitos
  • 4. autorais. Embora empreendimentos de grandes empresas como o VEVO estejam modificando essa estrutura, até a segunda metade desta década o pensamento da maioria das empresas e produtores musicais ainda refletia o medo e moralismo empregados por Andre Keen (2009). Em seu livro, A cultura do amador, Keen defende que a música morreu. Os argumentos usados pelo autor são os de que a internet 1) fechou grandes lojas varejistas de música; 2) acabou com o mercado de CDs e; 3) não representa o mercado de nichos, entre outros argurmentos romanticamente expostos. O preconceito que a internet sofreu (e ainda sofre em alguns casos) sobre o futuro da música, foi o mesmo de quando os CDs chegaram às lojas. Críticos afirmavam que eles iriam destruir a qualidade da música. Semelhate também foi o caso dos MP3s (embora este tenha surgido simultâneamente com a internet). Mas Jonathan Sterne nos ajuda à refletir sobre o porquê dos MP3s serem o sucesso de hoje em dia: “MP3s são desenvolvidos para serem escutados via fones de ouvido, na rua, em um ruidoso dormitório, em um escritório com ventilador de computador barulhento, enquanto pano de fundo para outras atividades e através de caixas de som low-fi ou mid-fi para computador” (Sterne, 2010: pg. 80). A verdade é que o consumidor musical evolui. Não é pretensão deste artigo examinar se essa mudança foi negativa ou positiva, mas alguns fatos devem ser levados em consideração: 1) nunca se consumiu tanta música no mundo como atualmente; 2) mais pessoas têm acesso à mais música a um preço menor e; 3) Os que são alfabetizados digitalmente encontram mais nichos musicais e com mais facilidade. Outro fato que aumenta a potencialidade do YouTube como distribuidor musical é aquilo que Jason Stanyek e Benjamin Piekut chamam de “mortitude”: “No capitalismo tardio, os mortos são altamente produtivos. Claro, todo capital é trabalho morto, mas os mortos também geram capital em colaboração com os vivos” (Stanyek e Piekut, 2010: pg. 11). No YouTube, cantores falecidos fazem sucesso: Michael Jackson é o mais cotado para ser o 3º artista a atingir 1 bilhão de views em seu canal no site. O cenário musical do YouTube é, portanto, formado por grandes e pequenas empresas, artistas indepententes e pop-stars, compositores vivos e mortos, além de um grande conjunto de covers, bootlegs, gravações amadoras, talkshows e pedaços de reportágens sobre bandas e músicos. Apesar de parecer confuso e complexo, é a forma favorita para muitos usuários de escutar música na internet.
  • 5. O YouTube como repositório online de músicas e oportunidades Porque as pessoas consomem músicas no ambiente destinado à vídeos? Adriana Amaral nos dá a pista novamente: “No mundo contemporâneo ou pós-moderno, a „Imagem‟ é a musa sedutora. Tende-se a desconsiderar os sons, os ruídos e a própria música como seus elementos. A imagem e os outros componentes do sentido da visão definem a marca de nossa época” (Amaral, 2003: p. 1) Quando elaborei o questionário sobre o consumo de músicas via YouTube, coloquei a seguinte questão: “Quando você escuta/vê algum clip de música no Youtube, você se importa com a qualidade da imagem?”. Esperei que o “sim” ganhasse do “não” nesta pergunta, mas o resultado foi além das minhas expectativas, o que, de fato, me ajudou a elucidar algumas questões: 82,78% dos pesquisados respoderam que a qualidade da imagem era um fator importante ao assistir um video-clip musical no YouTube. As respostas fazem muito sentido quando você observa um clip da Lady Gaga em seu canal: o apelo visual da cantora em suas produções cinematográficas chamam a atenção do usuário, impedindo o zapping entre programas e outras janelas em seu computador. A qualidade da imagem é um fator fundamental na experiência estética do fruidor. Amaral complementa: A tendência ao endeusamento e, por conseqüência, uma fetichização da imagem faz com que nos concentremos apenas na veloz sucessão de frames que perpassam o controle remoto em um zapping contínuo do mundo. Assim, recortamos e colamos não só imagens propriamente ditas, como sons, ruídos e músicas, tramando uma verdadeira sinfonia visual do presente (Amaral, 2003: pg. 2) Isso ajuda a entender também o porquê dos vídeos relacionados à música mais ouvidos serem os mais próximos dos “oficiais”. Ao ver os resultados da pergunta “Qual tipo de vídeo relacionado a música você mais assiste?” depois de observar os resultados da pergunta anterior, não tive surpresas: 86,12% dos pesquisados assistem à Clips oficiais da banda/cantor; 61,24% assistem à Shows (ou trechos de shows). É notável que a qualidade desses vídeos com relação às outras fontes é superior. Os demais tipos assistidos foram vídeos de Música com imagens coletadas por fãs com 32,54%;
  • 6. Entrevistas com 29,67%; Bootlegs (gravações não oficiais de shows/apresentações) com 23,92%; Programas musicais com 18,18% e; covers com 18,18% também. É importante observar que apesar da alta busca por materiais oficiais (video-clips e shows), poucos deles são realmente liberados por músicos e gravadoras. Apesar de colocarmos nessa ordem, sabe-se que os maiores entraves surgem por conta das gravadoras. Entretanto, ao perguntarmos “Alguma vez você procurou alguma música no Youtube no intento de apenas escutá-la, mas não visualizar o vídeo?” tivemos 176 respostas positivas, totalizando 84,21% dos pesquisados. Ora, mas os usuários não se importam tanto com a qualidade da imagem? A verdade é que o YouTube é tanto um repositório de vídeos, como também um player de músicas online. Os usuários visitam o site em dois momentos distintos: para escutar músicas e para ver vídeos musicais. Outro dado interessante é que 35,89% dos pesquisados afirmaram que já criaram pelo menos uma lista de execução no Youtube com o objetivo de reproduzir uma playlist de músicas, sendo que desse percentual, 11% já criaram mais de 5 listras de reprodução com esse objetivo, o que caracteriza uma apropriação por parte dos usuários muito forte no sentido de construção de novas práticas no YouTube. Ao associar às listas de reprodução de vídeos com playlists musicais, o YouTube perde um pouco da sua função de “transmita-se” e vira um tipo de “escuta-me”. Isto pode ser evidenciado nos 32,54% dos usuários que assistem vídeos de músicas com imagens de coletadas pelo autor do vídeo. E em alguns casos, o vídeo é composto de apenas uma única imagem congelada enquanto a música toca. Outro fator interessante de ser analisado é como as pessoas chegam aos vídeos do YouTube. Como atualmente ele já é um site consagrado, muitas pessoas acessam diretamente seu link na web, o que as leva, então, a pesquisar sobre determinado tema na caixa de busca do site. Perguntei aos pesquisados “Ao fazer essa busca (referente à questão anterior) você acabou se deparando com algum material diferente do que buscava e acabou gostando?” 77,34% responderam que “sim”. A multitarefa e a difusão da atenção são características próprias do ciberespaço. Por outro lado, temos que o próprio buscador do Google não é totalmente eficaz, o que pode levar as pessoas a encontrarem materiais diferentes do que estavam buscando, porém semelhantes, o que as ajuda a gostarem desse material distinto.
  • 7. Exemplifiquemos: Uma rápida busca no YouTube ao termo “Heroes David Bowie” (uma música e o nome do cantor) feita no dia 1º de dezembro de 2010 resultará em 4.600 resultados. Examinemos apenas a primeira página, composta de 20 resultados. Apenas 2 desses resultados não têm vínculo nenhum com o objetivo da busca (são vídeos que têm palavras-chave semelhantes, mas com significados completamente diferentes. Dos 18 vídeos restantes, apenas 2 foram carregados por representantes oficiais da banda, sendo que apenas um era partner do YouTube. Todos os outros vídeos desta página foram carregados por usuários comuns, em baixa qualidade. Desses 18 vídeos, temos ainda que: Apenas 1 era um video-clip musical; 6 eram shows (ou trechos de); 6 eram covers (sendo que 3 foram produzidos oficialmente por outras bandas e 3 eram amadores); 3 eram vídeos produzidos com imagens coletadas por fãs e; 2 eram bootlegs. Podemos afirmar que diversas outras buscas trariam resultados semelhantes. Isso dialoga bem com a idéia de Chris Anderson sobre a cauda longa, onde um vídeo tem muito mais exibições que os outros, mas a soma de todos os outros tem um número muito superior de visualizações. De qualquer forma, aqui a idéia do “Transmita-se” cái muito bem. Vários covers são assistidos e muitas produções amadoras acabam ganhando destaque. Recentemente, podemos citar o caso da banda alagoana “Los borachos enamorados”. Fazendo uma paródia bem humorada da música “Minha mulher não deixa não”, da nacionalmente conhecida banda Aviões do Forró, o grupo alagoano ganhou mais de 180 mil acessos em apenas três dias com seu clip “Vou sim, quero sim” 3. O youtube é, portanto, um grande potencializador de gostos musicais. Ao realizar uma pesquisa no site, os usuários acabam encontrando materiais semelhantes que fortalecem seu gosto musical, por um lado e que, por outro lado, pode lhe ajudar a descobrir novos gêneros, bandas e cantores. Esses materiais novos, porém semelhantes, são um registro contemporâneo da maneira de se consumir música online. 3 http://www.youtube.com/watch?v=QS3G_ErpFqY
  • 8. Considerações Finais O youtube é muito mais que um site de compartilhamento de vídeos. É também uma rede musical viva e ativa que recebe diáriamente milhões de acessos de pessoas em busca de música, não de vídeos. Entretanto é importante observar que o vídeo não deve ser excluído do processo, pois os consumidores musicais entram no site em dois momentos distintos como pudemos observar. Existe, de fato, aquele consumidor que deseja realmente assistir ao vídeo. E aí a qualidade gráfica do mesmo torna-se extremamente relevante e casos de sucesso no youtube como a Lady Gaga são a prova disso. Por outro lado o mesmo consumidor pode entrar no site com o intuito de meramente escutar uma música. Aí a qualidade do vídeo não é tão significativa o que responde a questão do porquê de vídeos feitos apenas com imagens e fotografias serem tão populares. As bandas novas devem se aproveitar desse fato. Muitas músicas de bandas independentes ficam “perdidas” em páginas oficias e sites de compartilhamento de músicas, que não são tão populares como o YouTube. Dessa forma, as bandas iniciantes podem pegar um conjunto de fotos (ou até mesmo uma só) e produzir um clip com sua música. Saber que 32,54% dos usuários do youtube que buscam músicas vêem (ou melhor, escutam) esse tipo de produção pode estimular os músicos a colocarem suas faixas no site sem a necessidade de ter um clip bem produzido. Não estamos rejeitando os clips oficiais, pelo contrário. O apelo visual é uma característica muito forte do YouTube. Entretanto, devemos lembrar que existem momentos que os consumidores buscam apenas as músicas, e não os vídeos, e é desse tipo de consumidor que as bandas que não têm condições para produzir clips devem se aproveitar. Num outro momento observamos a questão da cauda longa presente nas buscas por vídeos musicais. Os clips, entrevistas, show, etc. oficiais são muito poucos, embora gerem isolados um número alto de acessos. Os outros vídeos relacionados (covers, músicos amadores, bootlegs, vídeos com imagens colocadas por fãs, etc.) representam uma quantidade muito maior de vídeos, mas que não são tão assistidos como os oficiais. Entretanto, a soma total desses vídeos supera o número de exibições do clips isolados. Aqui visualizamos bem a questão do “transmita-se” do YouTube, onde os usuários produzem conteúdos amadores e ganham visualização “às custas” dos clips de
  • 9. sucesso. É, então, outro momento que as bandas inciantes podem se aproveitar, podendo ganhar visibilidade através das buscas relacionadas de conteúdo. Finalmente observamos o uso do YouTube como um player online de músicas. Os consumidores criam listas de reprodução de vídeos no intuito de escutar músicas, não de visualizar os vídeos. Essa característica pode ser afirmada ao observar sites como o blip.fm, onde os usuários coloquem músicas à partir do youtube para seus seguidores. A constatação dos objetos analisados pode ser conseguida através da lista de vídeos mais vistos no YouTube em 20104. Dos 10 vídeos mais vistos desse ano, 4 são vídeos relacionados à música e os 3 primeiros colocados da lista são vídeos relacionados à música. Na verdade, todos os três primeiros colocados não são vídeo- clips oficiais. O primeiro da lista é o “Bed Intruder Song!” é um clip feito por amadores juntando partes remixadas de outro vídeo. O segundo colocado é um clip paródia da cantora Kesha e o terceiro é uma apresentação amadora de um jovem garoto interpretando “paparazzi” da Lady Gaga. E em 7º lugar nós vemos um vídeo-clip musical oficial. É o This Too Shall Pass, da banda Ok Go. Aqui observamos um apelo visual muito forte, com várias cenas que chamam a atenção do usuário a todo o momento. O YouTube é, então, muito mais que um site de compartilhamento de vídeos. É uma plataforma multimídia completa. Os usuários de fato o utilizam como um player de músicas e de fato a música é tão presente no youtube que neste ano o YouTube “premiou” três categorias de vídeos: os mais assistidos do ano, os termos de busca que cresceram mais rapidamente e os vídeos de música mais assistidos. Entretanto, na categoria de vídeos de música mais assistidos não visualizamos nenhum vídeo amador. Talvez a criação dessa categoria seja uma forma de melhorar a imagem da empresa junto às gravadoras. Por outro lado o YouTube se mantém forte como divulgador de cultura vernacular ao ter muitos vídeos amadores na lista dos vídeos mais assistidos do ano. 4 http://www.youtube.com/rewind
  • 10. Referências Bibliográficas AMARAL, Adriana. Rock imaginário e tecnológico – as relações imagético-sonoras na contemporaneidade. 2003. Disponível em: http://www.bocc.uff.br/pag/amaral- adriana-rock-imaginario.pdf, Acessado em 23 de novembro de 2010. AMARAL, Adriana. Práticas de Fansourcing: estratégias de mobilização e curadoria musical nas plataformas musicais. In: Rumos da Cultura da Música. Organização: Simone Pereira de Sá. Porto Alegre: editora SULINA, 2010. BURGESS, Jean; GREEN, Joshua. Youtube e a revolução digital: como o maior fenômeno da cultura participativa transformou a mídia e a sociedade. São Paulo: editora ALEPH, 2009. JENKINS, Henry. A cultura da convergência. São Paulo: editora ALEPH, 2008. KEEN, Andrew. O culto do amadoar. Rio de Janeiro: editora ZAHAR, 2009. NOGUEIRA, Tiago. Como seria seu facebook se ele fosse um livro.2010. Disponível em: http://www.webdialogos.com/2010/midias-sociais/como-seria-seu-facebook-se-ele- fosse-um-livro/, Acessado em 29 de novembro de 2010. STANYEK, Jason; PIEKUT, Benjamin. Mortitude: tecnologias do intermundano. In: Rumos da Cultura da Música. Organização: Simone Pereira de Sá. Porto Alegre: editora SULINA, 2010. STERNE, Jonathan. O mp3 como um artefato cultural. In: Rumos da Cultura da Música. Organização: Simone Pereira de Sá. Porto Alegre: editora SULINA, 2010.