1) O documento discute a importância do reuso de águas da chuva e águas cinzas para enfrentar a escassez de água.
2) Ele define os tipos de reuso de água como direto, indireto, planejado e não planejado e discute a legislação brasileira sobre gestão de recursos hídricos.
3) O objetivo é mostrar que o reuso de água é um instrumento importante para a gestão de recursos hídricos e pode ajudar a aliviar a escassez de água.
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Aproveitamento da água da chuva e proveniente do esgoto secundario
1. APROVEITAMENTO DA ÁGUA DA CHUVA E PROVENIENTE DO ESGOTO
SECUNDÁRIO (ÁGUAS CINZAS)
André Luiz Aguiar Carneiro1
Edgarde Gonsalves Cerqueira2
RESUMO: O fenômeno da escassez da água se mostra relacionado diretamente ao
gerenciamento dos recursos hídricos como uma necessidade de dimensões tão amplas, podendo
ser considerada como de ordem global. Por isso é necessária a consolidação do entendimento
do reuso de águas como instrumento adicional de gestão de recursos hídricos e a difusão desse
conhecimento para que sua prática seja mais presente no cotidiano dos usuários. Desta forma,
este artigo elaborado com a metodologia de pesquisa bibliográfica, apresenta importância na
medida em que traz informações pertinentes e de utilidade para o planejamento e gestão de
recursos hídricos e tem como objetivo identificar quais os motivos ou impedimentos da prática
do reuso de águas, para fins não potáveis na atual legislação, e contribuir para difundir o
entendimento do reuso de águas como instrumento adicional de gestão de recursos hídricos,
além de mostrar uma solução prática e fácil para resolver parte dos gravíssimos problemas
relativos ao usufruto da água, independente de seu custo.
Palavras-chave: águas-cinzas, pluviais, reuso.
1. INTRODUÇÃO
O tema justifica-se por sua ordem internacional. A questão trata dos recursos hídricos,
notadamente os de água doce, cuja questão tem sido entendida como o fenômeno da escassez da
água devido ao crescimento demográfico e ao aumento das múltiplas atividades humanas. A
cada dia um volume maior de água é consumido, sem haver uma reposição equivalente, seja em
termos quantitativos ou qualitativos, o que ameaça as reservas de água doce de todo planeta.
O crescente debate que se trava quanto a esta questão diz respeito à importância da água
para a manutenção da vida, condição primeira para o desenvolvimento dos seres em suas
múltiplas dimensões, bem como os desdobramentos em áreas diversas como a política, cultural,
social e econômica. Assim, o fenômeno da escassez da água se mostra ligado ao gerenciamento
dos recursos hídricos como uma necessidade de dimensões tão amplas, podendo ser considerada
como de ordem global.
É necessário, contudo, a consolidação do entendimento do reuso de águas como
instrumento adicional de gestão de recursos hídricos e a difusão desse conhecimento para que
sua prática seja mais presente no cotidiano dos usuários e, em especial, das indústrias que devem
ser incentivadas à aplicação de técnica promotora de sua conservação.
Este artigo, elaborado com a metodologia de pesquisa bibliográfica, apresenta
importância na medida em que traz informações pertinentes e de utilidade para o planejamento e
1
Concluinte do Curso de Engenharia Civil - Universidade Católica do Salvador.
E-mail: andre_aguiar@pop.com.br – Autor.
2
Engenheiro Civil e de Segurança do Trabalho, Especialista em Metodologia do Ensino Superior,
Professor da UCSAL
E-mail: ensaeng@hotmail.com – Orientador.
2. 2
gestão de recursos hídricos e tem como objetivo identificar quais os motivos ou impedimentos da
prática do reuso de águas, para fins não potáveis na atual legislação, e contribuir para difundir o
entendimento do reuso de águas como instrumento adicional de gestão de recursos hídricos.
2. ESCASSEZ DE ÁGUA
A escassez da água é uma questão diretamente ligada à gestão dos recursos hídricos. A
gestão dos recursos hídricos nacionais está consubstanciada em uma lei específica, a Lei Federal
nº 9.433/97. Nesta lei o gerenciamento dos recursos hídricos está fundamentado no entendimento
de sua finitude e assim, na necessidade de seu uso racional. Para consecução deste seu objetivo,
dentre os instrumentos de gestão, foram inseridas a outorga e a cobrança pelo uso da água.
A Lei Federal nº 9.433/97 inaugurou uma nova ordem jurídica para os recursos hídricos
instituindo a Política Nacional de Recursos Hídricos e incorporando novos conceitos. Tais
conceitos, ainda novos, careceram e ainda carecem ser desenvolvidos, consolidados, difundidos e
implementados. A nova lei, revolucionando a ordem jurídica estabelecida, é transformadora e
reclama um processo construtivo para sua implementação. Em se considerando as dimensões
continentais do Brasil, embasado na infinitude dos recursos hídricos e na tradicional utilização
do recurso sem qualquer contrapartida financeira, é questão complexa.
Por estes motivos, os instrumentos de gestão hídrica têm suscitado o interesse dos
estudiosos de diversas áreas, notadamente quanto à cobrança pelo uso da água.
De maneira geral, vislumbra-se o processo para a efetivação do instrumento, e o cenário
futuro, quando a cobrança pelo uso da água estiver implementada em todo país. Dentro deste
contexto, foi-se compreendendo que a Lei, da maneira como está delineada, parece incentivar a
adoção de práticas alternativas para o uso racional da água. Neste ponto, o tema reuso foi
construído como instrumento adicional de gestão de recursos hídricos, capaz de abrandar
escassez da água.
Considerando que a cobrança pelo uso da água é prioridade e que em algumas bacias
brasileiras, tal instrumento, já se encontra implementado, a questão foi se problematizando
perfazendo-se então ponto central do estudo, qual seja: “o reuso de águas está sendo estimulado
pela Política Nacional de Recursos Hídricos, como um instrumento adicional de gestão?”.
A implantação de um sistema de gestão de recursos hídricos envolve a construção de um
arcabouço legal e institucional para sua efetivação, com entidades voltadas para essa finalidade e
a definição dos instrumentos a serem empregados (Santos, 2002; Machado, 2003).
Neste sentido, SANTILLI (2007) afirma que:
A necessidade de proteção das águas contra as diversas formas de poluição e de
uso inadequado traduz-se em normas legais que pretendem planejar, regular e
controlar sua utilização, de acordo com padrões e critérios definidos por meio
de uma Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e implementados por
um Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SNGRH).
SILVA (1994) reforça tal entendimento relatando que a gestão,
Deve orientar-se estritamente por considerações de ordem ecológica,
sociológica e econômica, e pela análise das motivações individuais e coletivas
expressas pelo corpo social sob a forma de necessidades, desejos e aspirações.
Para ser eficaz deve apoiar-se em textos legislativos e regulamentares,
harmonizando-se os diferentes níveis que constituem uma ambiência
3. 3
administrativa favorável. A educação, a informação, a realização e a
coordenação constituem, enfim, os meios privilegiados que favorecem a melhor
tomada de consciência dos problemas relacionados com o meio ambiente.
No Brasil, a gestão dos recursos hídricos está consubstanciada, como já se disse acima, na
Lei Federal nº 9.433/97, que regulamentando o artigo 21, inciso XIX, da Constituição Federal de
1988, instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e o Sistema Nacional de Gerenciamento
de Recursos Hídricos. Considerada uma lei inovadora a sua implementação requer “ações de
esclarecimento e transformação cultural, inovações tecnológicas, adequações econômicas e, em
determinados casos, decisões políticas corajosas” (MILARÉ, 2005). A Lei Federal nº 9.433/97
serve de modelo aos entes federados brasileiros.
2.1. Conceitos e definições de reuso de águas
Desde o remoto momento em que as mais antigas civilizações enfrentaram limitações às
suas constantes peregrinações em busca de regiões com água em abundância, associadas
principalmente aos seus aumentos populacionais, estabeleceu-se a necessidade do uso racional
dos recursos hídricos.
O reuso de águas está associado a processos desenvolvidos para obtenção de águas cujas
características qualitativas possam atender aos fins pretendidos, e que, por óbvio, dependem de
seu uso anterior, no entanto, a prática do reuso de águas pode não estar associada a qualquer
tratamento prévio. De forma a facilitar sua compreensão, o reuso pode ser entendido como o
aproveitamento de uma água já utilizada previamente, seja para atender a um uso igual ao
anterior, seja para atender a outra modalidade de uso, o que pode incluir ou não um tratamento
prévio e o seu planejamento, como se verá adiante.
A conceituação precisa da expressão reuso de águas está condicionada ao exato momento
a partir do qual se admite que o reuso tenha sido realizado, o que por vezes não é de fácil
conclusão. E isto porque a prática de descarregar esgotos, tratados ou não, em corpos hídricos
superficiais, para afastar os resíduos líquidos é comumente adotada no mundo inteiro.
Geralmente esses corpos hídricos são fontes de abastecimento de mais de uma cidade,
acontecendo inclusive casos em que a mesma cidade lança seus esgotos e usa o mesmo corpo
hídrico como manancial de abastecimento. A população da cidade, a indústria ou o agricultor
que capta a água, na realidade, está reusando-a pela segunda, terceira ou mais vezes. (Brega
Filho e Mancuso, 2003).
Exemplo clássico desta realidade é o que acontece na cidade de Londres, que capta água
dos rios Tâmisa e Lea, sendo este último utilizado pela cidade de Stevenage para afastar seus
esgotos. E, entre nós, destaca-se o caso das cidades situadas no vale do Paraíba, onde existe uma
sucessão de cidades que captam água e lançam seus esgotos no mesmo rio.
2.2. Tipos de reuso de águas
Ao longo do tempo da prática do reuso de águas, surgiram diversas classificações para o
mesmo. De modo geral, o reuso de águas pode ser direto ou indireto, com ações planejadas
(intencionais) ou não planejadas (não intencionais). Conforme orientação da Organização
Mundial da Saúde – OMS (1973, apud Brega Filho e Mancuso, 2003) tem-se que:
4. 4
a) Reuso indireto: é o que ocorre quando a água já usada, uma ou mais vezes para uso
doméstico ou industrial, é descarregada nas águas superficiais ou subterrâneas e utilizada
novamente à jusante, de forma diluída;
b) Rreuso direto: é o uso planejado e deliberado de esgotos tratados para certas
finalidades como irrigação, uso industrial, recarga de aqüífero e água potável;
c) Reciclagem interna: é o reuso de águas que ocorre internamente nas instalações
industriais, tendo como objetivo a economia de água e o controle da poluição.
Ainda conforme a OMS o reuso indireto pode ser intencional ou não; o reuso indireto
intencional é o que decorre de descargas planejadas a montante, ou a recargas planejadas em
aqüífero subterrâneo.
Lavrador Filho (1987, apud Brega Filho e Mancuso, 2003), de outra forma, utiliza a
seguinte terminologia tendo em vista a uniformização da linguagem:
a) Reuso de água é o aproveitamento de águas previamente utilizadas, uma ou mais
vezes, em alguma atividade humana, para suprir as necessidades de outros usos
benéficos, inclusive o original. Pode ser direto ou indireto, bem como decorrer de ações
tanto planejadas quanto não planejadas.
b) Reuso indireto não planejado de água: é o que ocorre quando a água, já utilizada uma
ou mais vezes em alguma atividade humana, é descarregada no meio ambiente e
novamente utilizada a jusante, em sua forma diluída, de maneira não intencional e não
controlada. Nesse caso, o reuso da água é um subproduto não intencional da descarga a
montante. Após sua descarga no meio ambiente, o efluente será diluído e sujeito a
diversos processos como autodepuração, sedimentação, entre outros, além de eventuais
misturas como outros despejos advindos de diferentes atividades humanas.
c) Reuso planejado de água: é o que ocorre quando o reuso é resultado de uma ação
humana consciente, adiante do ponto de descarga do efluente a ser usado de forma direta
ou indireta. O reuso planejado das águas pressupõe a existência de um sistema de
tratamento de efluentes que atenda aos padrões de qualidade requeridos pelo novo uso
que se deseja fazer da água. A reutilização de água planejada também pode ser
denominada reuso intencional da água.
d) Reuso indireto planejado de água: é o que ocorre quando os efluentes, depois de
convenientemente tratados, são descarregados de forma planejada nos corpos d’água
superficiais ou subterrâneos, para serem utilizados a jusante em sua forma diluída e de
maneira controlada, no intuito de algum uso benéfico.
e) Reuso direto planejado de água: é o que ocorre quando os efluentes, após devidamente
tratados, são encaminhados diretamente de seu ponto de descarga até o local do reuso.
Assim, sofrem em seu percurso os tratamentos adicionais e armazenamentos necessários,
mas não são, em momento algum, descarregados no meio ambiente.
f) Reciclagem de água: é o reuso interno da água, antes de sua descarga em um sistema
geral de tratamento ou outro local de disposição, para servir como fonte suplementar de
abastecimento do uso original. É um caso particular de reuso direto.
Para Westerhoff (1984, apud Brega Filho e Mancuso, 2003) o reuso é classificado em
duas grandes categorias: o reuso potável e o reuso não potável. Esta mesma classificação foi
adotada pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES, seção São
Paulo, devido a sua praticidade e facilidade. A tabela a seguir apresenta, de forma sintética, as
5. 5
formas e definições de reuso potável e não potável, respectivamente (elaborado por Westerhoff
1984, apud Brega Filho e Mancuso, 2003).
Tabela 1 – Formas e definições de reuso potável e não potável.
REUSO POTÁVEL
Reuso Potável Direto Quando o esgoto recuperado, através de tratamento avançado, é
diretamente reutilizado no sistema de água potável.
Quando o esgoto, após tratamento, é disposto na coleção de águas
superficiais ou subterrâneas para diluição, purificação natural e
Reuso Potável Indireto
subseqüente captação, tratamento e finalmente utilizado como água
potável.
Fonte: Westerhoff 1984 (apud BREGA FILHO e MANCUSO, 2003).
O reuso para fins potáveis encontra exemplos de aplicação prática registrados, como o da
cidade de Chanute, Kansas, cujo manancial de abastecimento secou, em 1956, por causa de uma
severa seca. As autoridades sanitárias daquela cidade concordaram com a utilização do efluente
da estação de tratamento de esgoto local, como manancial de água bruta para tratamento e
distribuição, como água potável, para população. Não obstante tal exemplo, o reuso para fins
potáveis não tem sido recomendado ou o tem sido com reservas.
Conforme Hespanhol (1999), isto ocorre por que a presença de organismos patogênicos e
de compostos orgânicos sintéticos na grande maioria dos efluentes disponíveis para reuso,
principalmente naqueles oriundos de estação de tratamento de esgotos de grandes cidades e de
pólos industriais expressivos, faz com que o reuso potável seja por vezes inviável, em função do
alto custo dos tratamentos avançados exigidos para garantia da proteção adequada à saúde.
2.3. Reuso de águas cinzas
Segundo FIORI et al (2006,) “as águas cinzas são aquelas provenientes dos lavatórios, chuveiros,
tanques e máquinas de lavar roupa e louça”. Porém, quanto ao conceito, observa-se que ainda
não há consenso internacional.
Se o objetivo principal forem o uso de chuva e águas cinzas em descargas sanitárias, a
água de reuso produzida a partir de água cinza deve possuir baixa turbidez, cor reduzida e
ausência de odor desagradável. A utilização de água cinza bruta em descargas sanitárias ou na
irrigação de jardins é uma prática vigente em alguns países, apesar do aspecto relativamente
desagradável da água de reuso.
Um grande número de países em desenvolvimento adota outra estratégia de controle dos
riscos à saúde, através de tecnologias de baixo custo baseadas nas recomendações da
Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, até a presente data, existem poucas
legislações que incentivam a prática do reuso de água e existem apenas alguns limites
estabelecidos para reuso em descarga de vasos sanitários (Tabela 2 e 3).
6. 6
Tabela 2 - Limites estabelecidos para reuso em descarga de vasos sanitários – normas internacionais
PARÂMETROS
Tratamento
PH DBO5 SST Turbidez Coli. Total Coli. Fecal Cloro Cloro
(mg/L) (mg/L) (NTU) (ufc/100mL) (ufc/100mL) livre Cl2 residual
(mg/L)
Califórnia Oxidação, - - - 2 (méd) 5 22 (méd) - - -
Coagulação, (max) 23 (max )
Filtração e
Desinfecção
1
EPA
(uso urbano Flórida Secundário. - 2C 5 - - ND (75%) - -
irrestrito) Filtração e 25 (máx)
Alto nível
de
Desinfecção
Texas - - 5 - 3 - 20 (méd) - -
75 (máx)
Austrália Desinfecção - < 10 < 10 - - < 10 (90%) 30 0.5-2.0 -
(90%) (90%) (max) (90%) 2.0
2
20 20 (max)
(máx) (máx)
Alemanha - 6- 20 30 1 -2 500 100 - -
guideline 9
3 OMS - - - - - 1000 (m) 200 - - -
(g)
Padrões - - - 3C 3C 5 200 200 - >1
Canadenses
4 propostos
Fonte: Jefferson (1999)
Tabela 3 - Limites estabelecidos para reuso em descarga de vasos sanitários – normas brasileiras
Manual de "Conservação e reuso
Parâmetros NBR 13.969/97 item 5.6.4 Classe 3
de água em edificações " Classe 1
PH 6.0-9.0 -
Cor (UH) < 10 -
Turbidez (NTU) <2 < 10
Óleos e Graxas (mg/L) <1 -
DBO (mg/L) < 10 -
Coliformes Fecal (NMP/100mL) Não detectáveis <500
Compostos Orgânicos Voláteis Ausentes -
Nitrato (mg/L) < 10 -
Nitrogênio Amoniacal (mg/L) <20 -
Nitrito (mg/L) <1 -
Fósforo Total (mg/L) <0.1 -
SST (mg/L) <5 -
SDT (mg/L) <500 -
Fonte: FIESP (2005)
Em um sistema predial, os parâmetros mais importantes quando se fala em reuso são
aqueles ligados à estética da água e à segurança dos usuários. Entre os parâmetros diretamente
7. 7
ligados à estética estão a cor, a turbidez e o SST (Sólidos Suspensos Totais) e os ligados à
segurança estão a concentração de E. coli e de coliformes totais.
Outros parâmetros como DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio), sulfato e sulfeto
também são importantes por estarem indiretamente ligados aos dois fatores anteriormente
citados. O conteúdo orgânico aliado a elevados teores de sulfatos, em ambientes anaeróbios
induz a produção de sulfetos, causando mau cheiro. Além disso, a presença de matéria orgânica
também pode induzir o crescimento de microrganismos e o aumento da demanda de cloro na
etapa de desinfecção.
Fiori et al (2006) realizaram um experimento, em um condomínio, onde toda a água cinza
do prédio foi encaminhada para uma estação de tratamento, para posterior reuso nos vasos
sanitários. A estratégia de tratamento adotada foi a combinação de sistemas anaeróbio (reator
anaeróbio compartimentado - RAC) e aeróbio (Filtro biológico aerado submerso - FBAS),
seguido de filtração terciária (filtro terciário com tela de aço inox) e desinfecção com pastilha de
cloro (flutuador) (Figura 1).
Figura 1: Sistema de tratamento de água
Fonte: Fiori et al (2006)
A estação de tratamento de águas cinzas (ETAC) foi dimensionada para tratar as águas
cinzas produzidas por 60 pessoas (24 L/hab.dia). Ela foi construída em fibra de vidro, com
estrutura compartimentada, contendo os quatro processos citados em volume único, com
dimensões totais de 0,6 x 1,7 x 2,2m.
O reator anaeróbio compartimentado possuía três compartimentos de mesmo volume
operando em série e com fluxo ascendente. No primeiro e no segundo compartimento ocorria à
etapa de digestão, pois era onde se localizava a manta de lodo e ocorriam, principalmente, as
reações de estabilização de matéria orgânica. No terceiro ocorria a etapa de sedimentação através
de um decantador lamelar de alta taxa. Na tampa do reator existia uma saída para o biogás.
O RAC, além de tratar água cinza, também digeria anaerobiamente o lodo aeróbio e o
lodo terciário que eram recirculados para a elevatória de água cinza bruta. O polimento do
efluente do RAC era realizado em um filtro biológico aerado submerso (FBAS). Esse filtro
funcionava em fluxo normal ascendente e o seu leito era fluidizado. Possuía meio-suporte
composto por material plástico (conduítes cortados), onde as colônias de microorganismos
responsáveis pela degradação biológica se fixavam.
No FBAS não havia retenção física da biomassa pela ação da filtração, sendo necessária
uma etapa de decantação secundária para remoção do biofilme de excesso que crescia ao redor
do meio suporte. Entretanto, ele não precisava ser retrolavado (autolimpante), suprimindo, assim,
operações e instrumentações mais complexas e de maior custo. O lodo acumulado nesse
decantador era recirculado para o início da estação e o suprimento de ar era feito através de um
compressor de forma contínua.
O filtro terciário (FT) era a unidade de polimento do tratamento biológico e sua
finalidade era, principalmente, a retenção de sólidos suspensos remanescentes. O FT operava em
fluxo descendente e era composto por uma tela de aço inox que ficava perpendicular ao fluxo,
funcionando como uma peneira. A lavagem do FT era feita com ar e água no fluxo ascendente,
ou seja, contrária ao fluxo no filtro. A freqüência de lavagem era semanal. A etapa de
desinfecção foi inserida objetivando a destruição de patógenos ainda presentes no efluente
8. 8
tratado, tornando-o mais seguro para seu uso posterior (descarga de vasos sanitários). O agente
desinfetante utilizado foi o cloro, que foi escolhido, pois além de proporcionar a desinfecção no
tanque de contato, ainda deixa uma concentração residual, garantindo a desinfecção em caso de
recontaminação. Para cloração, foi utilizado pastilha de cloro 200g, acoplada a um flutuador e,
este conjunto, inserido na elevatória de água cinza tratada. A aplicação de cloro era feita de
forma gradativa, na medida em que a pastilha ia se dissolvendo. A dosagem era controlada por
uma grelha localizada na parte inferior do flutuador. A grelha foi mantida praticamente toda
fechada para que a dosagem aplicada fosse a mínima possível
Após longo estudo, com coletas diárias, Fiori et al (2006), chegaram à conclusão de que,
as diversas frações da águas cinza coletadas em lavatórios, chuveiros, tanque, máquina de lavar e
pia de cozinha apresentaram características variadas quando comparadas umas com as outras. Os
resultados apresentaram a presença significativa de matéria orgânica rapidamente biodegradável
e sulfatos. Isso evidencia o grande potencial de produção de H2S, caso não seja realizado um
tratamento adequado. Evidenciou-se também a presença de nutrientes (nitrogênio e fósforo),
entretanto, em menor quantidade que no esgoto sanitário de características médias, já que a
maior parte deles é oriunda dos excrementos (urina e fezes). As concentrações de E. coli e
coliformes totais (CT) também foram bastante significativas, mostrando que, mesmo com a
ausência do efluente de vasos sanitários, existe a contaminação fecal. Dessa forma, é necessária a
desinfecção prévia para o reuso.
No que diz respeito ao tratamento da água cinza, o RAC foi de fundamental importância,
pois removeu boa parte dos sólidos e da matéria orgânica presente na água cinza bruta, sem
praticamente nenhum aporte energético. O efluente tratado pelo FBAS foi completamente
desprovido de odor. O FT não aportou reduções muito significativas do material particulado e
orgânico, tão pouco de microrganismos. Sendo que para alguns parâmetros, a qualidade do
efluente piorou. Além disso, a necessidade de lavagens periódicas demonstra que o tratamento
em nível terciário poderia ser eliminado no sistema de reuso estudado.
A etapa de desinfecção foi de extrema importância, pois complementou com eficiência a
remoção de E.coli e CT, enquadrando o efluente tratado para o reuso em termos de
concentrações de microrganismos nos padrões mais restritivos. O cloro removeu também a cor
remanescente dos tratamentos anteriores e garantiu a completa desodorização.
3. ESTUDO
O estudo foi realizado em uma casa residencial localizada no Conjunto Cajazeiras VIII,
em Salvador-BA, visando à redução do uso de água potável utilizando o aproveitamento da água
de chuva e o reaproveitamento das águas provenientes dos lavatórios, tanque de lavar roupas,
máquina de lavar roupa, e chuveiros e as pias, para serem reusadas em descarga dos vasos
sanitários, irrigação de jardins, lavagens de carros e pisos.
3.1. Objeto de estudo
O estudo foi realizado em uma residência com dois pavimentos, sendo que o primeiro
pavimento é composto por duas suítes, com varandas e um hall de circulação, enquanto que o
térreo possui uma sala com varanda, um lavabo, um hall de circulação, um quarto, cozinha e área
de serviço.
9. 9
Na casa residem quatro moradores, dos quais dois deles são adultos e trabalham e dois
são menores ficam praticamente todos os dias em casa. Nos dias úteis há uma rotina diária, com
consumo de água maior no início da manhã e da noite, quando todos os moradores estão em
casa. Nos finais de semana há alteração desta rotina, sendo que dois dos moradores permanecem
em casa durante quase todo o final de semana e dois deles praticamente não ficam na residência.
Os pontos de consumo de água estão localizados nos banheiros, no lavabo, na cozinha, na
área de serviço e no pátio. Cada banheiro possui um chuveiro elétrico, um lavatório, um vaso
sanitário com uma descarga do tipo caixa acoplada. O lavabo não possui chuveiro. Na cozinha,
há duas torneiras em cada pia. Na área de serviço, há uma máquina de lavar roupa que utiliza
210 litros de água por ciclo e uma torneira no tanque. Na área do pátio também possui uma
torneira.
3.2. Levantamento do consumo de água
Foi feita uma pesquisa de consumo e vazão diária e mensal média na. Foram observadas
características como o número de moradores da residência, o modo de vida dos moradores, a
área construída e jardins. Também foram coletados os custos de contas de água e o consumo no
período de janeiro - dezembro de 2007, além das respostas ao questionário abaixo.
Questionário:
1. Número de pessoas que moram na residência?
2. Número de banheiros?
3. Número de vezes de uso do vaso sanitário por dia?
4. Quantidade de banhos diários?
5. Número de vezes de uso do lavatório por dia?
6. Quantidade de água bebida por dia?
7. Número de vezes de uso do tanque por dia?
8. Tempo gasto na pia de cozinha para lavar louças por dia?
9. Tempo gasto para lavar pisos, varandas por semana?
10. Número de vezes de uso da máquina de lavar por semana?
11. Tempo gasto para molhar jardim e número de vezes na semana?
12. Número de vezes de lavagem de carros por semana?
Foi elaborada uma tabela, a partir das respostas do questionário, para melhor avaliar os
resultados. O valor da vazão do chuveiro foi obtido pelo cálculo do tempo gasto para encher um
balde de 8 litros, enquanto que a vazão das torneiras foi obtida pelo cálculo do tempo gasto para
encher recipiente de 1 litro, conforme as Tabelas 4 e 5.
Tabela 4. Vazão dos chuveiros obtida pelo cálculo do tempo gasto para encher um recipiente de 8 litros.
Equipamento Tempo (s) Vazão (l/min)
Chuveiro 01 123 3,90
Chuveiro 02 125 3,84
Média 124 3,87
10. 10
Fonte: Pesquisa direta, 2008.
Tabela 5. Vazão das torneiras obtida pelo cálculo do tempo gasto para encher recipiente de 1 litro.
Equipamento Tempo (s) Vazão (l/min)
Torneira 01 27,2 2,21
Torneira 02 25,3 2,37
Torneira 03 23,7 2,53
Torneira 04 27,1 2,21
Torneira 05 26,5 2,26
Torneira 06 26,3 2,28
Torneira 07 24,9 2,41
Torneira 08 25,8 2,33
Média 25,85 2,33
Fonte: Pesquisa direta, 2008.
Os demais dados foram estimados através dos dados citados e nas informações dos
fabricantes. A partir dessas informações foi elaborada a Tabela 6, que resume os gastos com os
diversos usos tabelados pela pesquisa, informando o uso, a quantificação e o consumo de água.
Tabela 6. Consumos
USO QUANTIDADE CONSUMO
(litros)
Banho unidade 40
Lavatório unidade 3
Máquina de lavar roupas 4 ou mais pessoas 210
Tanque minutos 10
Cozinha minutos 10
Beber e Cozinhar pessoa 3
Vaso sanitário pessoa 10
Lavagem de pisos m² 3
Jardins m² 5
Lavagem de carros unidade 48
Fonte: Pesquisa direta, 2008.
A partir dos resultados da pesquisa e da Tabela 6, foi elaborada a Tabela 7.
11. 11
Tabela 7. Consumo na residência estudada.
Consumo
Consumo Consumo
Tipo de Quantita Total Percentual
Uso Unidade Individual Total Dia
Consumo tivo Mensal (%)
(litros) (litros)
(litros)
Vaso sanitário 2 diário 21 12 252 7560 26
Banhos 1 diário 10 40 400 12000 42
Lavatórios 1 diário 18 3 54 1620 6
Máquina de lavar
1 semanal 1 210 30 900 3
roupas
diário
Cozinha 1 15 3 45 1350 5
(min.)
diário
Tanque 1 10 3 30 900 3
(min.)
Lavagem de pisos 2 semanal 3 120 51 1543 5
Jardim 2 semanal 2 200 57 1714 6
Lavagem do carro 2 semanal 2 50 14 429 1
Beber e cozinhar 1 diário 2 8 16 480 2
Outros usos 5 150 1
Consumo 01 514 16770 58,5
Consumo 02 375 11246 39,3
Total
955
(litros por dia)
Total (litros mês) 28646
Fonte: Pesquisa direta, 2008.
A coluna unidade indica o tipo de uso, se é diário ou semanal; a coluna quantitativo
indica a quantidade utilizada por dia ou semana; a coluna consumo indica a vazão diária em
litros; a coluna percentual indica o percentual de uso por dia. A linha Outros refere-se à diferença
para maior ou menor no consumo diário, obtido pela divisão do total gasto no mês por 30 dias; a
linha Total refere-se ao gasto médio diário da residência (litros); a linha Consumo Médio Mensal
indica a média dos valores das contas de água referentes ao período de janeiro a dezembro de
2007 e a linha Custo Médio Mensal refere-se à média dos valores pagos pelas contas de água no
mesmo período.
4. ANÁLISE DE RESULTADOS E VIABILIDADE
4.1. Consumo 01
O volume de água a ser reciclada, composta pelas águas provenientes dos chuveiros,
lavatórios, da máquina de lavar roupas e do tanque, será chamado de CONSUMO 01. Foi
também calculada a média do consumo 1 por dia e mensal, conforme Tabela 8.
12. 12
Tabela 8 - Consumo 1 diário e mensal por residência.
Consumo 1 Consumo 1 Consumo 01
diário (litros) mensal (litros) percentual em
relação ao total (%)
514 16770 58,5
Fonte: Pesquisa direta, 2008.
4.2. Consumo 02
A água consumida na irrigação de jardins, descargas de vasos sanitários, lavagens de piso
e de carros será chamada de CONSUMO 2. Foi também calculada a média do consumo 2 por dia
e mensal, conforme Tabela 9.
Tabela 9 - Consumo 2 diário e mensal por residência
Consumo 2 Consumo 2 Consumo 02
diário (litros) mensal (litros) percentual em
relação ao total (%)
375 11246 39,3
Fonte: Pesquisa direta, 2008.
4.3. Economia mensal
O cálculo da economia mensal foi feito da seguinte forma:
Em = Vc − Vce Equação 1
Onde:
Em = economia mensal
Vc = valor da conta
Vce = valor da conta com economia
No qual:
O Valor da conta com economia é obtido tendo como base o consumo com economia, este que
por sua vez é feito da seguinte forma:
Ce = Cm − C 2 Equação 2
Onde:
Ce = consumo com economia
Cm = consumo mensal
C2 = consumo 2
13. 13
A Tabela 10 demonstra os consumos mensais da residência pesquisada, os valores pagos,
o consumo com economia, os valores correspondentes, o percentual mensal de economia, a
economia anual e o percentual médio.
Tabela 10 - Resultados dos cálculos
Custo
Consumo Consumo
Total com Valor com Percentu
Consumo Consumo com com
Mês Taxa de economia al de
(m³) (L) economia economia
Esgoto (R$) economia
(m³) (L)
(R$)
Janeiro 30 30000 96,72 18 18210 39,02 40,3
Fevereiro 36 36000 124,38 22 21852 52,88 42,5
Março 29 29000 92,31 18 17603 39,02 42,3
Abril 25 25000 74,68 15 15175 28,93 38,7
Maio 28 28000 87,90 17 16996 35,66 40,6
Junho 24 24000 70,37 15 14568 28,93 41,1
Julho 30 30000 96,72 18 18210 39,02 40,3
Agosto 28 28000 87,90 17 16996 35,66 40,6
Setembro 21 21000 57,45 13 12747 22,63 39,4
Outubro 22 22000 61,76 13 13354 22,63 36,7
Novembro 27 27000 83,49 16 16389 32,29 38,7
Dezembro 34 34000 101,94 21 20638 49,31 48,4
MÉDIA 28 27833 86,30 17 16895 52,38
Economia
425,98
anual
Percentual
Médio de 40,80
Economia
Fonte: Pesquisa direta, 2008.
A média da economia anual seria de R$ 425,98, referente à um percentual médio de
economia de 40,80%. Este valor seria equivalente a aproximadamente cinco meses de economia
em um ano.
O resumo dos consumos mensais 1 e 2 da residência é demonstrado na tabela 11 abaixo,
de forma que o consumo 1, por ser maior, atende todo o consumo 2.
Tabela 11 - Consumo 1, Consumo 2 e a relação dos Consumos
Consumo 01
Consumo 1 Consumo 2
X
mensal (%) mensal (%)
Consumo 02
58,5 39,3 Atende
Fonte: Pesquisa direta, 2008.
4.4. Estimativa da produção de água da chuva
14. 14
Com base nos dados pluviométricos que incluem informações sobre precipitações
mensais de 01/01/1984 a 31/05/2008, conforme Tabela 12, coletados de estações meteorológicas
na região e disponibilizados pela SRH (Secretaria de Recursos Hídricos), Salvador/BA, será
estimada quantidade de água de chuva a ser captada na edificação.
Tabela 12 - Índices Pluviométricos dos últimos 25 anos
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
1984 44,5 26,7 217,3 889,8 356,3 219,3 130,6 134,0 206,6 111,3 37,2 27,0 2403,6
1985 119,3 99,1 71,0 869 381,1 167,4 223,4 157,4 66,2 111,5 252 183,2 2700,6
1986 93,1 30,8 274,4 428,5 249,0 194,4 140,4 153,8 234,0 272,3 163,5 83,5 2317,7
1987 21,0 61,9 130,0 147,2 218,9 227,5 238,7 63,5 102,3 14,8 181,6 44,7 1452,1
1988 169,8 80,6 330,6 272 179,1 236,6 295,8 132,4 50,6 77,3 111,4 145,4 2081,6
1989 190,3 28,6 153,9 412,7 662,7 265,8 183,3 1925 249,3 125,4 149,3 446,7 4793
1990 51,1 34 70,6 52,6 326,1 211,7 277,5 206,7 134,3 396,9 32,1 247,9 2041,5
1991 188,4 86,8 113,8 304,4 294,4 315,5 100,2 126,2 73,9 30,9 96,6 31 1762,1
1992 76,7 217,5 92,7 128,5 107 197 196,1 102,5 93,3 23,8 207,7 132,7 1575,5
1993 12,7 5,5 12,3 107,9 386,8 180,8 117,4 164,6 72,7 110 48,9 13,6 1233,2
1994 30 85,2 240,3 424,9 197,6 477,8 336,5 196,5 101 120,9 49,2 44,9 2304,8
1995 18,9 35 81,8 286,2 473,5 245,3 178 78,3 67,3 16,5 156,4 41,9 1679,1
1996 55,9 101,9 59,9 757,8 187,5 178,5 202,4 124 206,4 111,1 228,6 228,6 2442,6
1997 38,3 225,6 277,6 346,9 165,4 168,7 183,1 52 30 130,1 26,8 24,9 1669,4
1998 63,6 55,6 117,2 206 249,7 358,3 306,5 155,4 63,9 111,8 62,3 34,5 1538,1
1999 99,3 102,9 313,9 376,6 376,9 185 225 323,5 141,2 163,9 275,5 94,2 2677,9
2000 29,5 85,5 191,9 365,4 241,3 310,5 201,1 136,2 161,6 15,9 74,3 88 1901,2
2001 95,2 28,6 264,1 103,5 199,2 195,8 220,3 149,7 190,3 202,3 30,3 112,1 1791,9
2002 252,4 102,8 98,7 69,3 351,6 209,2 254,8 162,8 258,8 18 25,2 22,7 1826,3
2003 26,7 97,3 206,3 186,8 550,5 237,5 186,5 136,7 168,7 69,2 132,8 15,2 2014,2
2004 319,4 165,3 122,3 278,4 158,3 327 218,4 129,5 40 82 167,6 10,8 2019
2005 42,9 256,7 349,4 415 198,2 421,1 204,1 117,1 50,6 32,9 72,8 75,5 2236,3
2006 40,1 7,1 35 587,4 397,1 401,4 91,7 117,7 126,9 258,9 220 30,3 2313,6
2007 20 282,6 86,8 139,8 211,2 134 130,4 109 86,7 78,9 19,1 12,9 1311,4
2008 17,8 182,6 132,8 333,2
Normal
102,2 122,1 148,0 326,2 349,5 251,0 184,9 134,1 109,5 123,0 119,0 130,6 2100,3
Esp.
Fonte: Defesa Civil de Salvador, 2008.
Para essa estimativa, aplica-se a seguinte equação:
V = AxPxC Equação 3
Onde:
V = volume de água de chuva a ser captado (m³),
A = área do telhado (m²),
P = precipitação anual na região (m/ano), onde “m” é a média,
C = coeficiente de escoamento.
15. 15
Tomaz (2003), salienta que o melhor valor a ser adotado como coeficiente de escoamento
superficial para o Brasil é C=0,80.
O valor de “P” foi obtido à partir dos dados da tabela 12.
V = 76,50 X 2,0 X 0,80
V = 122,4 m³/ano ou 10,2 m³/mês
4.5. Volume do reservatório
Em relação à água de chuva, o volume do reservatório deve ser calculado a partir dos
valores estimados das demandas não potáveis, adotando um período de retorno que represente o
maior de números de dias sem chuva na região. Com isso, será possível garantir uma reserva de
água suficiente para atender às demandas na edificação nos períodos onde não há ocorrência de
chuvas.
Para tanto, utiliza-se a seguinte equação:
V RES = Q NP xDS Equação 4
Onde:
VRES = volume do reservatório (L),
QNP = somatório das demandas não potáveis (L/d), referente ao consumo 2
DS = maior número de dias sem chuva na região (dias).
Onde foi considerado, para o cálculo do reservatório, um DS de 10 dias, resultado de uma série
histórica de 10 anos, aplicado à região de Salvador/BA, fornecida pelo INMET.
VRES = 375 x 10
VRES = 3750 L Adotar: VRES = 3,5 m³
Com este volume de reservatório, será possível armazenar água de chuva para atender as
demandas da residência num período de 10 dias sem a ocorrência de chuvas na região. Em
relação à água de reuso, para cálculo do volume do reservatório será adotada uma reserva de 3
dias, baseado na média máxima de dias consecutivos sem abastecimento de água ou seja, 1542
litros (referente ao consumo 1 vezes três), aproximando-se este valor de 1500 litros ou 1,5 m³ de
água. Deste modo, o reservatório de águas de reuso e de chuva terá um volume total de 5000
litros ou 5,0 m³.
5. CONCLUSÃO
16. 16
De acordo com os resultados tabelados, verifica-se que a média de redução do consumo
pela residência, através do expediente do reuso, é de 40,8%, o que representa uma economia
significativa de água. Conseqüentemente, tal fato promoveria uma melhor distribuição da água
potável pelos diversos bairros, evitando assim racionamento nos períodos de estiagem ou de
falta.
Houve dificuldades em avaliar a contribuição dos diversos usos da água na residência,
pois não foi encontrada nenhuma pesquisa nesse sentido. O questionário trabalhou com valores
informados pelos usuários e com valores medidos de vazão, esse fato que, em parte, pode
prejudicar os resultados.
A construção de um protótipo para medir vazões – que não era objetivo do presente
trabalho - permitiria proceder à análise da água reciclada. Mesmo assim, a água captada para
reciclagem é de ótima qualidade se comparada com as tratadas nas estações de tratamento de
água (ETA), pois passa por um processo de tratamento doméstico semelhante ao processo
realizado pelas ETAs. A proposta aqui apresentada implica em algumas modificações nas
instalações hidrossanitárias, construtivas de alvenaria e de reservatório(s) “adicionais” para
tratamento e reserva de água propriamente dita, além de uma nova forma de projetá-las, apenas
destinada a fins não-potáveis.
Assim, é preciso que sejam criadas novas leis e normas como parâmetros para o reuso de
águas cinzas e fluviais, pois a questão hídrica contemporânea identifica-se com o fenômeno da
escassez da água, em seus aspectos quantitativos e qualitativos, acarretando conflitos de uso de
diferentes magnitudes, em diferentes espaços geográficos, apresentando-se, por vezes, como
fator limitante ao desenvolvimento sócio- econômico ou mesmo para a manutenção dos seres,
daí a importância da sua gestão em nível planetário.
De maneira geral, os Países adotam, em suas esferas nacionais, as diretrizes e os objetivos
destacados nos fóruns internacionais, como é o caso do Brasil, que os expressa através de sua
Política Nacional de Recursos Hídricos, estabelecida através da Lei Federal nº 9.433/97, que
representa o modelo legal a ser adotado pelos demais entes que fazem parte da federação.
O motivo evidente para a prática do reuso é a obtenção de resultados econômicos e deve
ser considerado um instrumento adicional de instrumentos estabelecidos no artigo 5º, da Lei
Federal nº 9.433/97.
Como instrumento adicional de gestão dos recursos hídricos, a prática do reuso de águas
possibilita dirimir ou mesmo superar, as dificuldades impostas pelo fenômeno da escassez
hídricas vez que a mesma, no mínimo:
a) reduz o consumo de água (controle de demanda) e a água de reuso passa a ser
considerada um recurso hídrico complementar (controle de oferta), para utilização em
atividades que necessitam de águas de qualidade diferente daquelas enquadradas no
padrão de potabilidade;
b) contribui para a conservação dos recursos hídricos. De um lado, pela diminuição das
retiradas de águas dos mananciais (controle de quantidade) e, de outro lado, pela
diminuição das descargas de efluentes nos mananciais (controle de qualidade);
c) contribui para dirimir o secular problema de disposição final de alguns efluentes,
fazendo com que os mesmos deixem de ser um problema e passem a ser um caminho
para sua solução.
d)
REFERÊNCIAS
17. 17
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