Este relatório descreve um projeto desenvolvido por alunos do ensino médio sobre gravidez na adolescência. Os alunos aplicaram questionários e realizaram pesquisas para entender melhor esse tema. Eles analisaram os resultados estatisticamente e concluíram que, embora os métodos contraceptivos sejam acessíveis, outros fatores sociais e econômicos influenciam as gravidezes nessa idade.
4. Introdução
Este projeto é fruto de genuína reflexão e criatividade dos alunos. No decorrer
das aulas somos constantemente surpreendidos pela vivacidade e pela curiosidade
que, por vezes, transbordam a esfera disciplinar do ponto de vista pedagógico, e
ratificam o caráter da educação enquanto processo atrelado à experiência social. No
nosso caso, ao lecionar Disciplina com vasta (e desejável) abrangência como a
Sociologia, o diálogo e a interação são elementos fundamentais para a sistematização
e teorização de conhecimentos embasados em práticas sociais diversas.
Dentre os temas discutidos em sala, um deles nos chamou a atenção por
retratar uma preocupação ingente perante importante problemática local.
Especificamente, alunos do 2° ano B (Ensino Médio) levantaram a hipótese de uma
visita orientada à maternidade de Santos Dumont. Tamanha curiosidade explica-se a
priori dada a recorrência de alunas grávidas na própria turma (dois casos no primeiro
Semestre) e na escola de uma maneira geral. Ao ponderar a gravidez na adolescência
no contexto escolar a ideia foi imediatamente abraçada tomando forma de projeto
pedagógico. Para além da visita proposta, buscou-se formas de articular o problema e
a temática ao conteúdo lecionado
A perspectiva sociológica passou a lastrear os processos de interação com o
assunto e a desnaturalizar concepções de senso comum. A gravidez na adolescência
encarada como problema social foi analisada lado a lado com outras questões.
Através de instrumentos didáticos investigamos o aborto como questão de saúde
pública, discutimos cientificamente métodos contraceptivos e levantamos
questionamentos em relação a tabus socialmente construídos.
O projeto passou a se estruturar nessas ações em sala de aula e adquiriu uma
dimensão investigativa a partir de um questionário construído coletivamente. Essa
etapa do trabalho de campo concentrou-se, sobretudo, na própria escola e contou,
também, com a particiação dos alunos do 2° ano A. A aplicação de questionários às
jovens do bairro foi mediada pelo CRAS Cesário Dulci – Bairro da Glória.
5. Durante o trabalho de confecção dos questionários, ao elencar as principais
categorias, os alunos puderam sedimentar aspectos dos conteúdos previamente
discutidos. Também aprenderam a dinâmica da pesquisa de campo durante as
entrevistas. Posteriormente, puderam perceber os dados tomando forma estatística e
revelando quantitativamente as dimensões do problema. Todos os cálculos
percentuais foram desenvolvidos em sala de aula privilegiando aspectos
transdisciplinares.
Sendo assim, este projeto buscou integrar ações pedagógicas diversas, bem
como distintos instrumentos didáticos. O objetivo principal é trazer um problema
genuíno, espontâneo, para o bojo das preocupações da sala de aula. O aluno,
entendido como construtor ativo do conhecimento, passa a ser a peça-chave desse
processo. O professor, mediador do ato de conhecer, avalia riscos e aponta caminhos
que possam trazer relevância pedagógica para o empreendimento. A questão da
gravidez e da qualidade de vida das gestantes na adolescência é visto como uma
questão educacional. Mais que acolher e aprender a lidar com as especifidades desse
público, a escola deve intensificar o seu papel orientador e sua responsabilidade
social. O projeto distribui-se em 7 etapas desenvolvidas ao longo do ano letivo, sendo
que 6 já foram realizadas .
6. CRONOGRAMA/SÍNTESE
* 1ª ETAPA
MONTAGEM DOS QUESTIONÁRIOS E DISTRIBUIÇÃO DOS GRUPOS
* 2ª ETAPA
TRABALHO DE CAMPO – APLICAÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS
* 3ª ETAPA
EXIBIÇÃO DO FILME “O FIM DO SILÊNCIO SOBRE O ABORTO” DO
MINISTÉRIO DA SAÚDE.
* 4ª ETAPA
LEITURA DO TEXTO “GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA” DA
GINECOLOGISTA DR.A SHEILLA SEDICIAS
PROPOSTA DE ATIVIDADE – DISCUSSÃO SOBRE SEXUALIDADE NA
ADOLESCÊNCIA E TABUS SOCIAIS EM RELAÇÃO AO TEMA.
* 5ª ETAPA
TABULAÇÃO DOS DADOS E CONSTRUÇÃO ESTATÍSTICA DOS DADOS
AUFERIDOS ATRAVÉS DOS QUESTIONÁRIOS
* 6ª ETAPA
APRESENTAÇÃO GERAL DOS RESULTADOS + EXIBIÇÃO DO FILME
MENINAS: GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA
* 7ª ETAPA
PALESTRA GERAL COM PROFISSIONAIS DA SAÚDE + VISITA
ORIENTADA.
7. 2° B - EXIBIÇÃO DO FILME “FIM DO SILÊNCIO SOBRE O ABORTO”
2° B - EXIBIÇÃO DO FILME “FIM DO SILÊNCIO SOBRE O ABORTO”
14. Conclusão
Este estudo revela aspectos interessantes, uma vez que o acesso ao métodos
contraceptivos mostra-se alto entre a maioria dos casais, bem como o acesso à
informação. Aspectos culturais podem ser inferidos numa hipótese sobre a relação
simbólica que essas adolescentes constroem em torno da gravidez. A vida sexual
precoce e a própria gravidez aparecem como apropriações ligadas à construção do
capital social. O planejamento familiar e o cálculo das trajetórias individuais são
quesitos de baixa vantagem comparativa.
Em relação à escolaridade, essa passa a segundo plano quando a grande
maioria das jovens grávidas priorizam o trabalho como principal meio de manutenção
e possibilidade de ascensão social. Práticas tradicionais como o casamento após a
gravidez não são reproduzidas com intensidade nesse meio, as configurações
familiares passam a absorver um nível maior de complexidade e interdependência. O
núcleo familiar tende a expandir-se havendo reprodução das condições
socioeconômicas. Quando não há o status quo, há propensão à mobilidade social
descendente.
Um ponto positivo analisado é o grau de referência do posto de saúde do
bairro. Destaca-se também a avaliação positiva em relação à Escola como instituição
promotora de conscientização e orientação em relação aos métodos contraceptivos.
Entretanto, o dilema que a escola vive transpassa o nível de conscientização ou
responsabilidade social. Como microcosmo da realidade social, essa instituição acaba
absorvendo distintas (e nem sempre satisfatórias) expectativas em relação à educação
como processo capacitador e transformador.
Ademais, este projeto começa a nível local como piloto. Sua estrutura pode ser
adaptada e expandida a níveis mais abrangentes. Potencialmente, uma pesquisa que
levasse em consideração as demais escolas da rede estadual do municipio poderia
fornecer insumos para políticas públicas de planejamento familiar e informações
sociais para instâncias superiores.
15. ANEXO
QUESTIONÁRIO SOBRE GRAVIDEZ E QUALIDADE DE VIDA NA ADOLESCÊNCIA
1. IDADE:
2. APÓS SABER DA GRAVIDEZ VOCÊ PENSA EM SE CASAR? ( ) SIM ( ) NÃO
3. AVALIE A PRESENÇA E ASSISTÊNCIA DO PAI DURANTE A GRAVIDEZ:
( ) RUIM ( ) REGULAR ( ) BOA ( ) EXCELENTE
4. IDADE DO PAI DO BEBÊ:
5. AVALIE A PRESENÇA E ASSISTÊNCIA DAS FAMÍLIAS ENVOLVIDAS (PAI E MÃE
DO BEBÊ)
( ) RUIM ( ) REGULAR ( ) BOA ( ) EXCELENTE
6. O PAI DO BEBÊ TRABALHA? ( ) SIM ( ) NÃO
7. QUAL A OCUPAÇÃO (CASO TRABALHE)?
8. O CASAL TEVE CONHECIMENTO E ACESSO A MÉTODOS CONTRACEPTIVOS?
( ) SIM ( ) NÃO
9. QUAIS MÉTODOS?
( ) CAMISINHA ( ) D.I.U ( ) ANTICONCEPCIONAL ( ) PÍLULA DO DIA
SEGUINTE ( ) CAMISINHA FEMININA
10. PRINCIPAL MEIO DE INFORMAÇÃO?
( ) ESCOLA ( ) FAMÍLIA ( ) TELEVISÃO ( ) INTERNET ( ) AMIGOS
( ) POSTO DE SAÚDE/CAMPANHAS PÚBLICAS DE SAÚDE
11. ALGUM DOS MEMBROS DO CASAL TEM RESTRIÇÕES RELIGIOSAS EM
RELAÇÃO AO USO DOS MÉTODOS CONTRACEPTIVOS? ( ) SIM ( ) NÃO
12. COMO AVALIA O PAPEL DA ESCOLA EM RELAÇÃO À ORIENTAÇÃO SOBRE
SEXO E MÉTODOS CONTRACEPTIVOS?
( ) RUIM ( ) REGULAR ( ) BOM ( ) EXCELENTE
13. COMO AVALIA O PAPEL DA FAMÍLIA EM RELAÇÃO À ORIENTAÇÃO SOBRE
SEXO E MÉTODOS CONTRACEPTIVOS?
( ) RUIM ( ) REGULAR ( ) BOM ( ) EXCELENTE
14. PRETENDE TRABALHAR OU TRABALHA ANTES DE CONCLUIR OS ESTUDOS?
( ) SIM ( ) NÃO
16. TEXTOS DIDÁTICOS:
QUESTÃO DO ABORTO
Drauzio Varella
Desde que a pessoa tenha dinheiro para pagar, o aborto é permitido no Brasil. Se a
mulher for pobre, porém, precisa provar que foi estuprada ou estar à beira da morte
para ter acesso a ele. Como consequência, milhões de adolescentes e mães de família
que engravidaram sem querer recorrem ao abortamento clandestino, anualmente.
A técnica desses abortamentos geralmente se baseia no princípio da infecção: a
curiosa introduz uma sonda de plástico ou agulha de tricô através do orifício existente
no colo do útero e fura a bolsa de líquido na qual se acha imerso o embrião. Pelo
orifício, as bactérias da vagina invadem rapidamente o embrião desprotegido. A
infecção faz o útero contrair e eliminar seu conteúdo.
O procedimento é doloroso e sujeito a complicações sérias, porque nem sempre o
útero consegue livrar-se de todos os tecidos embrionários. As membranas que
revestem a bolsa líquida são especialmente difíceis de eliminar. Sua persistência na
cavidade uterina serve de caldo de cultura para as bactérias que subiram pela vagina,
provoca hemorragia, febre e toxemia.
A natureza clandestina do procedimento dificulta a procura por socorro médico, logo
que a febre se instala. Nessa situação, a insegurança da paciente em relação à atitude
da família, o medo das perguntas no hospital, dos comentários da vizinhança e a
própria ignorância a respeito da gravidade do quadro colaboram para que o
tratamento não seja instituído com a urgência que o caso requer.
A septicemia resultante da presença de restos infectados na cavidade uterina é causa
de morte frequente entre as mulheres brasileiras em idade fértil. Para ter ideia,
embora os números sejam difíceis de estimar, se contarmos apenas os casos de
adolescentes atendidas pelo SUS para tratamento das complicações de abortamentos
no período de 1993 a 1998, o número ultrapassou 50 mil. Entre elas, 3.000 meninas
de dez a quatorze anos.
Embora cada um de nós tenha posição pessoal a respeito do aborto, é possível
caracterizar três linhas mestras do pensamento coletivo em relação ao tema.
Há os que são contra a interrupção da gravidez em qualquer fase, porque imaginam
que a alma se instale no momento em que o espermatozoide penetrou no óvulo.
Segundo eles, a partir desse estágio microscópico, o produto conceptual deve ser
sagrado. Interromper seu desenvolvimento aos dez dias da concepção constituiria
crime tão grave quanto tirar a vida de alguém aos 30 anos depois do nascimento. Para
os que pensam assim, a mulher grávida é responsável pelo estado em que se encontra
e deve arcar com as consequências de trazer o filho ao mundo, não importa em que
17. circunstâncias.
No segundo grupo, predomina o raciocínio biológico segundo o qual o feto, até a 12ª
semana de gestação, é portador de um sistema nervoso tão primitivo que não existe
possibilidade de apresentar o mínimo resquício de atividade mental ou consciência.
Para eles, abortamentos praticados até os três meses de gravidez deveriam ser
autorizados, pela mesma razão que as leis permitem a retirada do coração de um
doador acidentado cujo cérebro se tornou incapaz de recuperar a consciência.
Finalmente, o terceiro grupo atribui à fragilidade da condição humana e à habilidade
da natureza em esconder das mulheres o momento da ovulação, a necessidade de
adotar uma atitude pragmática: se os abortamentos acontecerão de qualquer maneira,
proibidos ou não, melhor que sejam realizados por médicos, bem no início da
gravidez.
Conciliar posições díspares como essas é tarefa impossível. A simples menção do
assunto provoca reações tão emocionais quanto imobilizantes. Então, alheios à
tragédia das mulheres que morrem no campo e nas periferias das cidades brasileiras,
optamos por deixar tudo como está. E não se fala mais no assunto.
A questão do aborto está mal posta. Não é verdade que alguns sejam a favor e outros
contrários a ele. Todos são contra esse tipo de solução, principalmente os milhões de
mulheres que se submetem a ela anualmente por não enxergarem alternativa. É lógico
que o ideal seria instruí-las para jamais engravidarem sem desejá-lo, mas a natureza
humana é mais complexa: até médicas ginecologistas ficam grávidas sem querer.
Não há princípios morais ou filosóficos que justifiquem o sofrimento e morte de
tantas meninas e mães de famílias de baixa renda no Brasil. É fácil proibir o
abortamento, enquanto esperamos o consenso de todos os brasileiros a respeito do
instante em que a alma se instala num agrupamento de células embrionárias, quando
quem está morrendo são as filhas dos outros. Os legisladores precisam abandonar a
imobilidade e encarar o aborto como um problema grave de saúde pública, que exige
solução urgente.
18. Gravidez na adolescência
Dra. Sheila Sedicias (Ginecologista)
A gravidez na adolescência é considerada uma gravidez de risco pois o corpo
da menina ainda não está completamente formado para a maternidade e o seu
sistema emocional fica muito abalado.
Consequências da gravidez na adolescência
As consequências de uma gravidez na adolescência podem ser:
Anemia;
Baixo peso do bebê ao nascer;
Pressão alta durante a gravidez;
Sistema emocional descontrolado;
Dificuldade no trabalho de parto normal sendo necessário realizar uma cesária.
Além das consequências para a saúde, a gravidez precoce gera muito conflito
interior, pela insegurança financeira e as dificuldades em educar a criança, por isso
os adolescentes necessitam de cuidado, atenção e apoio dos pais. E se realmente não
for possível ficar com o bebê, pode-se deixá-lo para adoção, pois esta opção é
sempre mais sensata que um aborto, pois ele é ilegal e põe em risco a vida da
menina.
Como evitar a gravidez na adolescência
Para evitar a gravidez na adolescência é necessário esclarecer todas as
dúvidas dos adolescentes em relação a sexualidade pois quem deseja ter uma vida
sexualmente ativa deve saber tudo sobre como se engravida e como utilizar
corretamente os métodos contraceptivos para evitar uma gravidez antes do tempo
ideal. Por isso informamos que só se engravida se o sêmen chegar ao útero da
mulher, durante o seu período fértil, que ocorre geralmente 14 dias antes da
menstruação descer.
A forma mais segura de evitar a gravidez é utilizando algum método
contraceptivo como os que citamos a seguir:
Camisinha: Usar sempre uma nova para cada ejaculação;
Espermicida: Deve ser pulverizado na vagina antes do contato íntimo e deve ser
sempre utilizado em conjunto com a camisinha;
Pílula anticoncepcional: Só deve ser utilizada sob orientação do ginecologista,
pois quando é tomada de forma errada não evita a gravidez;
Diafragma: Também só deve ser utilizada sob orientação médica.
19. O coito interrompido e a tabelinha não são métodos seguros e quando são
utilizados como forma de prevenção da gravidez podem falhar.
A pílula do dia seguinte só deve ser utilizada em situações de emergência,
como por exemplo se o preservativo romper ou em caso de abuso
sexual, pois desregula completamente os hormônios femininos e pode não ser eficaz
se for tomada após 72 horas da relação.
A camisinha é um dos melhores métodos contraceptivos pois ela é oferecida
gratuitamente nos postos de saúde e é a única que evita a gravidez e ainda protege
contra doenças sexualmente transmissíveis como hepatite, AIDS e sífilis, por
exemplo.