Este documento discute a avaliação multidimensional de pacientes idosos com câncer. Ele descreve a importância de realizar uma avaliação geriátrica ampla para identificar problemas de saúde e fatores de risco que podem afetar a tolerância ao tratamento oncológico. A avaliação deve considerar a funcionalidade, comorbidades, riscos sociais e síndromes geriátricas comuns como quedas, depressão e delirium.
1. Avaliação Multidimensional ao
paciente idoso com Câncer
Universidade Federal de São Paulo
Escola Paulista de Medicina
Disciplina de Geriatria e Gerontologia – DIGG
Fernanda El Ghoz Leme
R3 Geriatria
Março - 2013
3. Introdução
• Desafio – alta incidência de câncer na população.
• 60% dos cânceres diagnosticados - pacientes idosos.
• 70% da mortalidade por câncer atinge pacientes
acima dos 65 anos.
• Necessidade de instrumentos de avaliação clínica
para predizer tolerância ao tratamento e padronizar
condutas.
4. Introdução
• Fundamental não avaliar apenas a idade cronológica para
a tomada de decisões.
• Detectar problemas previamente desconhecidos ou
subdiagnosticados que podem comprometer a segurança
e eficácia do tratamento oncológico.
• Considerar além da expectativa de vida:
– Reservas funcionais
– Suporte social
– Decisão pessoal
6. Avaliação Geriátrica Ampla
• OBJETIVOS
– Identificar indivíduos vulneráveis com baixa sobrevida e
capacidade funcional que poderiam não tolerar o
tratamento oncológico.
– Identificar fatores de risco (sociais e patológicos)
reversíveis que, após intervenções adequadas, permitem
que o paciente prossiga com o tratamento.
7. Avaliação Geriátrica Ampla
Parâmetro Avaliação
Funcionalidade ABVD (Katz)
AIVD (Lawton)
Comorbidades Número e Severidade
Escala de Charlson
CIRS – G
Condições Socioeconômicas Habitação, renda, suporte familiar,
possibilidade de cuidador, facilidade de
transporte.
Síndromes Geriátricas Demência
Depressão
Dellirium, quedas, osteoporose, maus-
tratos, incontinência, tontura, alterações
visuais e auditivas, distúrbios do sono.
Avaliação Nutricional MAN
Polifarmácia Número/Adequação/Interações
medicamentosas
8. Avaliação Geriátrica Ampla
• EVIDÊNCIAS:
– Detecção de problemas geriátricos
– Valor prognóstico das variáveis geriátricas
– Impacto da AGA no paciente oncológico
9. Avaliação Geriátrica Ampla
• VALOR PROGNÓSTICO DAS VARIÁVEIS GERIÁTRICAS
– Status funcional
• Sobrevida
• Toxicidade à quimioterapia
• Morbi-mortalidade pós-operatória
– Múltiplas comorbidades
• Sobrevida
• Efeito difere para os diferentes tipos de cânceres
10. Avaliação Geriátrica Ampla
• IMPACTO DA AGA NO PACIENTE ONCOLÓGICO
– Mudança significativa na decisão terapêutica
– Redução de custos com exames e hospitalizações
– Maior detecção precoce de comorbidades não
diagnosticadas
– Melhor qualidade do atendimento
11. Funcionalidade
• Karnofsky
• ECOG-PS
• Escala de Katz – ABVD - cuidar de si próprio.
• Escala de Lawton – AIVD - autonomia para gerir sua
vida.
12. Funcionalidade
Escala de Karnofsky
100% Sem sinais ou queixas; sem evidência de doença.
90% Mínimos sinais e sintomas; capaz de realizar suas atividades com esforço.
80% Sinais e sintomas maiores; realiza suas atividades com esforço.
70% Cuida de si mesmo mas não é capaz de trabalhar.
60% Necessita de assistência ocasional; não é capaz de trabalhar.
50% Necessita de assistência considerável e cuidados médicos frequentes.
40% Necessita de cuidados médicos especiais.
30% Extremamente incapacitado, necessita de hospitalização, mas sem iminência
de morte.
20% Muito doente, necessita de suporte.
10% Moribundo, morte iminente.
13. Funcionalidade
ECOG –PS (Eastern Cooperative Oncology Gruoup Performance Status Scale)
0 Atividade normal.
1 Sintomas de doença, mas deambula e realiza suas atividades normalmente.
2 Fora do leito mais de 50% do tempo.
3 No leito mais de 50% do tempo, carente de cuidados intensivos.
4 Restrito ao leito.
14. Funcionalidade
Escala de Lawton – AIVD 3 (sem ajuda) 2 (parcial) 1 (não faz)
Usar o telefone
Ir a um lugar distante
Fazer compras
Preparar as próprias refeições
Trabalhos domésticos
Trabalhos manuais e reparos na casa
Lavar e passar roupas
Manuseio de medicações
Cuidar das finanças
15. Funcionalidade
ABVD – Escala de Katz Sim Não
Banho: não recebe ajuda ou somente recebe para parte do corpo 1 0
Vestir-se: veste-se sem ajuda (exceção – amarrar sapatos) 1 0
Higiene pessoal: vai ao banheiro, usa-o, veste-se e retorna sem 1 0
ajuda.
Transferência: deita-se, senta-se e levanta-se sem ajuda (exceto 1 0
por andador ou bengala).
Continência: controla completamente urina e fezes 1 0
Alimentação: come sem ajuda 1 0
6 – totalmente independente; 4 – dependência parcial; 2 – dependência importante.
16. Função Cognitiva
Limitações da função cognitiva> dependência> decisão
terapêutica.
• MEEM de Fostein – rastreio
• GDS de Yesavage
17. Comorbidades
• Comorbidades e medicações podem alterar a eficácia e a
tolerância ao tratamento oncológico.
• O tratamento oncológico pode:
– Trazer impacto na funcionalidade e piora das
comorbidades prévias.
– Ser arriscado devido à severidade das comorbidades
– Não impactar na expectativa de vida em razões dos riscos
de morte inerentes às comorbidades.
• Maior o nível de comorbidade > pior a sobrevida.
• Impacto na qualidade de vida e funcionalidade.
18. Comorbidades
• Comorbidades que mais comprometem os pacientes
idosos com Câncer:
– Cardiopatia
– Enfisema
– Doença renal crônica
– DM insulinodependênte
– História prévia de Câncer.
19. Comorbidades
• Tendência: quanto mais comorbidades > tratamentos
menos agressivos.
• Normalmente a literatura exclui pacientes com
múltiplas comorbidades dos estudos de eficácia do
tratamento oncológico.
• Solução: Ensaios clínicos que estratifiquem os
pacientes por níveis de comorbidades
20. Comorbidades
CIRS – G – Cumulative Illness Rating Scale – Geriatric
Nível de Gravidade
0 – nenhum problema
1 – Problema atual leve ou significativo no passado
2 – Prejuízo moderado – requer terapia de primeira linha
3 – Prejuízo severo ou constantemente significativo/problemas crônicos incontroláveis
4 – Prejuízo extremamente severo/requer tratamento imediato/falência Avaliação
orgânica/prejuízo funcional severo.
Número total de categorias
Cardiorrespiratório __ Cardíaco registradas ____
__ Vascular
__ Hematológico Escore total ____
__ Respiratório
Índice de gravidade (escore
__ Olhos/Ouvidos/Nariz/Laringe
total/número de categorias
Gastrointestinal __ TGI superior registradas) ____
__ TGI inferior
Número de categorias com
__ Hepático
Nível 3 ____
Genitourinário __ Renal Nível 4 ____
__ Trato Genitourinário
Musculoesquelético/tegumento __ Músculos/Ossos/Pele
Neuropsiquiátrico __ Neurológico
__ Psiquiátrico
Geral __ Endócrino/Metabólico/Mamas
21. Comorbidades
Escala de Comorbidade de Charlson Avaliação
Escore total ____
Número e Severidade das comorbidades
Risco de morte em 1 ano
6 AIDS 1 Doença cerebrovascular
6 Tumor sólido metastático 1 Doença pulmonar crônica
3 Doença hepática moderada a 1 Insuficiência cardíaca congestiva
severa
2 Diabetes com complicação 1 Demência
2 Hemiplegia 1 Diabetes
2 Malignidade 1 Doença hepática leve
2 Doença renal moderada a severa 1 Infarto do miocárdio
2 Leucemia 1 Doença ulcerosa péptica
2 Linfoma 1 Doença vascular periférica
1 Doença do tecido conjuntivo
• Quanto mais elevado o índice maior a probilidade de abandono da
quimioterapia.
22. Avaliação Nutricional
• Estado nutricional inadequado – preditor
independente de sobrevida e dependência funcional.
• Perda não intencional de peso – queixa frequente.
• MAN
– Detecta risco elevado de desnutrição quando IMC e
albumina ainda normais – permite intervenção precoce.
– Medidas antropométricas, informações dietéticas,
avaliação global e autoavaliação.
24. Risco Social
• O idoso se sente satisfeito e pode contar com os familiares para
ajudá-lo a resolver seus problemas?
• O idoso participa da vida familiar e oferece apoio quando os
membros tem problemas?
• Há conflitos entre as gerações?
• As opiniões do idoso são acatadas e respeitadas?
• O idoso respeita e aceita as opiniões dos familiares?
• O idoso participa da vida comunitária?
• O idoso tem amigos e pode contar com eles?
• O idoso apóia seus amigos quando eles tem problemas?
25. Espiritualidade
• Abordar as crenças religiosas e existencias é fundamental
para avaliar integralmente o paciente e direcionar as
decisões do seu tratamento.
• Finitude
27. Quedas
• Idosos com câncer apresentam vários FATORES DE RISCO:
– Idade
– Declínio funcional
– Déficit neurológico
– Polifarmácia
– Medicações específicas (opióides, benzodiazepínicos,
antidepressivos, neurolépticos)
– Descondicionamento físico
– Quimioterápicos neurotóxicos ( Vincristina, vimblastina,
ifosfamida, cisplatina, citarabina, ciclofosfamida, fluoracil)
– Alterações de equilíbrio e marcha
28. Depressão
• Diagnóstico difícil no idoso
• Confusão entre o que são os sintomas depressivos e o
que são efeitos colaterais do tratamento oncológico
– Perda de peso
– Alterações do sono
– Fadiga
– Diminuição da concentração
– Lentidão psicomotora
– Sintomas de menor valia ou culpa
– Pensamento de morte ou suicídio
29. Depressão
• Fatores de Risco para Depressão no paciente com Câncer:
– Perda do cônjuge
– Incapacidade funcional
– Suporte emocional inadequado
– Dor não controlada
– Condição física debilitada
– Doença avançada
– História prévia de depressão
– Outras perdas ou estresses
– História familiar de depressão ou suicídio
– Medicações: corticóides, interferon, interleucina-2, barbitúricos,
benzodiazepínicos, quimioterápicos
– Radioterapia cerebral
30. Depressão
• Causas de depressão no paciente oncológico:
– Hipercalcemia
– Distúrbios hidroeletrolíticos
– Deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico
– Hipotireoidismo
– Insuficiência adrenal
– Síndromes paraneoplásicas
31. Depressão
• MANEJO
– Psicoterapia de suporte e técnicas cognitivo-
comportamentais
– Antidepressivos – escolha baseada em controle de
sintomas físicos e do perfil de efeitos colaterais.
– Psicoestimulantes (metilfenidato) – adjuvante – efeito mais
rápido.
• Podem ser utilizados no início do tratamento, enquanto o
antidepressivo ainda não fez o efeito.
• Mais úteis para pacientes com doença avançada e lentidão
psicomotora grave, anedonia e apatia importantes.
32. Demência
• Menor probabilidade de diagnóstico precoce do CA.
• Menor sobrevida após diagnóstico de CA de mama, cólon e
próstata.
• Maior mortalidade em 6 meses (tanto pelo câncer e
principalmente por causas não relacionadas).
• Principal causa de morte em demência avançada –
Pneumonia
• Principal causa de morte em demência leve a moderada –
cardiopatias e acidente vascular encefálico
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33. Dellirium
• Sintomas podem ser confundidos com ansiedade, psicose,
raiva e depressão.
• Considerar em pacientes com início agudo de agitação,
alteração cognitiva, diminuição da atenção ou flutuação do
nível de consciência.
• Principais fatores de risco: Idade avançada, déficit cognitivo e
severidade das comorbidades.
34. Dellirium
• CAUSAS:
• Efeitos diretos do CA no SNC
• Efeitos indiretos da doença e seu tratamento:
– Medicações
– Distúrbios Hidroeletrolíticos
– Sd paraneoplásicas
– Falência de um sistema ou órgão vital
– Infecção
– Complicações vasculares
• Comum em pacientes com CA avançado:
– 25% dos internados
– 85% dos CAs terminais.
35. Parâmetro Avaliação
Funcionalidade ABVD (Katz)/AIVD (Lawton)
Comorbidades Número e Severidade/Escala de Charlson/CIRS – G
Condições Socioeconômicas Habitação, renda, suporte familiar, possibilidade de cuidador, facilidade de
transporte.
Síndromes Geriátricas Demência, Depressão, Dellirium, quedas, osteoporose, maus-tratos,
incontinência, tontura, alterações visuais e auditivas, distúrbios do sono.
Avaliação Nutricional MAN
Polifarmácia Número/Adequação/Interações medicamentosas
Comorbidades Funcionalidade
Saudável Vulnerável Frágil Totalmente Parcial Totalmente
Independente dependente
Melhora com intervenção
geriátrica?
Avaliar: Expectativa de vida e Contraindicação ou alto risco de prejuízo e
sim Controle de sintomas sim
riscos versus benefícios do Passível de intervenção? toxicicidade com o tratamento
Compensação Clínica
tratamento
Adequação das medicações
Sem Benefício Suporte Clínico e Social
Reavaliação
Seguir
Benefício Não Tratamento
Não avaliação Cuidados
clínico e
para indicar Paliativos
controle de
tratamento
Tratamento Quimioterápico ou sintomas
Tratamento paliativo
Radioterápico
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36. Avaliação Multidimensional do Paciente Idoso com Câncer
PARTICULARIDADES DO TRATAMENTO
ONCOLÓGICO EM PACIENTES IDOSOS
37. Pré-operatório
• Avaliação pré-operatória em pacientes idosos
com Câncer:
– Objetivo de predizer o risco cirúrgico nesse grupo
• Fragilidade
• Capacidade funcional
• Capacidade congitiva e mental
• Além dos riscos cirúrgicos já avaliados na avaliação
clínica geral ( Cardíaco, Renal, Pulmonar, etc.)
38. Quimioterapia
• Faltam ensaios clínicos que incluam idosos com
comorbidades.
– Errônea interpretação dos efeitos colaterais
– Limita a extrapolação dos resultados
• Idosos saudáveis x Idosos frágeis
• Adjuvância: Qual o real impacto na sobrevida?
– Regra geral – oferecer o tratamento padrão nos idosos
saudáveis com expectativa de vida maior do que 5 anos.
39. Quimioterapia
• Altos níveis de toxicidade do tratamento
– Reservas renais e hepáticas diminuídas – ajustes de doses.
– Comprometimento tumoral do fígado
– Modificações na farmacodinâmica da droga devido ao
menor volume de água corporal total.
– Cardiopatia ou hipertensão prévias aumentam o risco de
toxicidade cardíaca pelos antracíclicos.
– Idosos tem maior incidência de neutropenia –aumento de
infeccções, hospitalizações e mortalidade
40. Quimioterapia
• Terapia hormonal
– Cuidar com interações medicamentosas.
– Cuidar com eventos tromboembólicos.
• Quimioterapia paliativa
– Sempre que possível optar pelo medicamento de perfil de
sensibillidade menos mórbido.
41. Radioterapia
• 30% dos pacientes em centros de radioterapia são idosos
• Idade avançada é critério de exclusão nos estudos que
verificam a eficácia do tratamento
• Portadores de Doença de Parkinson ou Demência podem ter
dificuldade em manter-se na mesma posição por longos
períodos
• Acredita-se que com o envelhecimento há uma redução da
perfusão tecidual sensibilizando as células à radioterapia.
• Identificação de 1 ou mais comorbidades relacionou-se a
menor tolerância ao tratamento.
42. Conclusão
• A AGA difere da avaliação clínica geral por enfatizar a
capacidade e a reserva funcional.
• Idade cronológica deixa de ser contraindicação ao
tratamento.
• Fundamental avaliar e detectar, através da AGA, problemas
previamente desconhecidos que podem comprometer a
segurança e a eficácia do tratamento.
• Identificação de pacientes com possibilidades reais de cura.
• Identificação de pacientes com doença mais avançada que
se beneficiariam de menores doses de quimioterápicos.
• Necessidade de estudos futuros com maior representação
dos idosos.
43. Referência
• Del Giglio A, Kaliks R, Karnakis T, Jacob-Filho W. Oncogeriatria – Uma abordagem
multidisciplinar. Editora Manole, 2012.