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PROBLEMAS DE COERÊNCIA EM PRODUÇÕES ESCRITAS:
AS META-REGRAS DE CHALLORES1
INTRODUÇÃO
É sabido, pelos resultados dos exames de larga escala, a exemplo do SAEB e
Prova Brasil, entre outros, que os índices de proficiência em leitura e escrita dos
alunos da educação básica no Ceará estão abaixo da média nacional e,
consequentemente, abaixo do que seria ideal aos referidos alunos.
As dificuldades apresentadas por esses alunos da educação básica variam
desde a não compreensão dos conceitos básicos apresentados pelos autores dos
textos lidos, até a produção de textos, que se apresentam desconexos, sem coesão
entre os parágrafos e sem coerência com a temática discutida.
Faz-se necessário ressaltar que, embora o ato de ler e escrever, em qualquer
nível de ensino, não seja tarefa fácil, é ensinável. E a forma mais adequada de se
ensinar a ler e a escrever é lendo e escrevendo verdadeiramente, a partir do uso
situado da leitura e da escrita. O uso situado da escrita, leva o aluno a encontrar
motivação para escrever e a planejar sua escrita, sabendo o que vai escrever, para
que e para quem.
Nessa perspectiva, cabe à escola instrumentalizar seus alunos para que
tenham condições de exercitar a escrita com objetivo definido, atendendo
necessidades de comunicação. Só assim, o aluno se prepara para escrever dentro e
fora da escola, tornando-se, consequentemente, um sujeito mais letrado.
A ampliação da capacidade de uso situado da escrita se dá, na escola, em
qualquer nível de ensino, a partir do desenvolvimento de atividades de escrita
significativas, nas quais os alunos identifiquem claramente a esfera de comunicação,
onde o ato de escrever está situado e, também, os seus propósitos de comunicação
estão definidos.
Assim, neste estudo, pretendemos analisar problemas de coerência em textos
de alunos do 8º ano de uma escola pública municipal. A base teórica que dará suporte
1 Artigo para fins de estudo pessoal e futuras pesquisas. Material ainda em confecção da
pesquisadora desde 2014.
à esta pesquisa são os estudos de Kleiman, Koch, Costa Val, Guimarães, Pécora,
Favéro, Fiorin, Savioli e Challores, dentre outros.
Alguns dados de pesquisas sobre esse tema e na observação corrente,
podemos dizer que o trabalho com a produção de textos encontra-se problemático em
nossas escolas. As constantes pesquisas, cujos resultados são apresentados em
congressos, cursos, seminários e publicações de inúmeros livros, indubitavelmente,
mostram o fracasso escolar nessa área. Estampa-se, nesse fracasso, o resultado,
conhecido de todos, o baixo nível de escrita coerente nessas redações do vestibular,
ora pelo item fuga total ao tema proposto, ora pela incoerência e insuficiência de dados
das declarações apresentadas. Pécora (1999, p. 76-77) já mostrava que o fracasso
na produção textual se dá pela “superficialidade de conhecimentos, alusões a fatos
não caracterizados, imprecisão de alguns conceitos e recurso a noções confusas,
carentes de especificidade semântica”. Evidencia-se, também, nesse contexto,
conforme Ferreiro (2001, p. 18), a “grande inibição que os jovens (...) apresentam com
respeito à língua escrita: evitam escrever, tanto por medo de cometer erros de
ortografia como pela dificuldade de dizer por escrito o que são capazes de dizer
oralmente”.
Constatamos, então, que, após a permanência por anos a fio na escola, nossos
alunos possuem má qualidade nas comunicações escritas, o que torna distante um
grande objetivo a ser atingido pela escola no ensino de língua materna: o domínio real
da linguagem escrita, evidenciado por sujeitos que saibam usá-la nos diversos
contextos sociais para interagir com os outros.
Para muitos professores de língua materna, que logicamente percebem essa
contradição, o problema de o aluno não saber produzir um texto escrito é decorrente
do próprio aluno, sendo ele, geralmente, o maior culpado para que a problemática
exista. Subsidiadas a essas explicações, é comum ouvirmos, ainda, opiniões de
professores que falam da falta de interesse, da incapacidade de pensamento e de
expressão com sentido, até preguiça mental.
Por outro lado, várias são as obras que tematizam o fracasso no ensino
aprendizagem de língua configurando uma situação de caos com relação ao
direcionamento da produção de texto na escola. Na discussão sobre a dificuldade de
os alunos se manifestarem por escrito, Costa Val (2006, p. 26), coloca que a
orientação escolar é falha, pois: (...) durante o período escolar, se alia a artificialidade
das condições mais frequentes de produção de redação (escrever sem se preparar,
sobre um tema imposto, para um recebedor indesejado que não será leitor, mas juiz,
dentro de um prazo curto e predeterminado, sem possibilidade de revisão e
reelaboração do próprio texto). O resultado, segundo Val (2006) é uma concepção
errônea, inadequada, do próprio ato de escrever.
Norteados pela hipótese de que, na realidade, o desempenho escrito do
discente retrata, de modo significativo, a imagem real do processo escolar a que ele
foi submetido, inserindo-se, aí, a ênfase que a escola dá ao ensino da produção de
textos, contornos mais amplos, que ultrapassam a simples constatação do fracasso,
ganham relevância. Emerge desse contexto problemático a necessidade de
analisarmos também como ocorre o processo de ensino/aprendizagem da produção
de textos escritos propiciada pela escola para que possamos aprofundar o
conhecimento das causas que não têm assegurado aos alunos da escola pública o
manejo eficiente do código linguístico na sua apresentação formal.
Para pesquisar esse assunto, então, elegemos um 8º (oitavo) ano do ensino
fundamental, como lugar de interesse para focalizar o objetivo geral deste estudo:
analisar os problemas de coerência na produção textual nessa série, refletindo sobre
a posição do professor em relação ao desempenho comunicativo escrito dos alunos.
Partimos na hipótese que a qualidade das experiências com a produção de
textos que o aluno experimenta na escola exerce um papel preponderante na
formação de seu desempenho comunicativo escrito, interferindo, negativa ou
positivamente, em sua aprendizagem.
CAPÍTULO 1. PRODUÇÃO ESCRITA: TEXTO E TEXTUALIDADE
O objetivo geral do ensino da produção escrita é proporcionar aos estudantes
o desenvolvimento da capacidadede produzir textos de gêneros diversos. No entanto,
a escola só conseguirá cumprir esse objetivo quando desenvolver uma prática de
produção textual contextualizada, que apresente significação ao ato de escrever.
O processo de produção de textos escritos exige habilidades relacionadas à
utilização dos componentes constituintes do texto, como coerência e coesão na
organização das ideias ou do conteúdo do texto, adequação da estrutura do texto aos
seus propósitos comunicativos e aos seus destinatários etc.
A coerência está relacionada à unidade de sentido que se estabelece entre as
partes do texto; está ligada ao entendimento, à possibilidade de interpretação daquilo
que se ouve ou se lê. Já a coesão está relacionada à conexão existente entre as
ideias, as frases e parágrafos do texto, através de elementos formais de conexão que
indicam o vínculo entre as unidades de sentido do texto.
Dessa forma, podemos dizer que a escrita não é um processo natural, que se
aprende a escrever apenas pela imersão? Este é um processo que deve ser ensinado
desde cedo na escola, uma vez que a escrita, tanto na escola quanto em outros
contextos de produção, realiza-se por uma necessidade, orienta-se por algum
objetivo, assume uma função e é realizada para alguém.
Para se ensinar a produzir textos escritos faz-se necessário o planejamento,
onde se define os elementos indispensáveis desta produção: a) por que e para que
escrever; b) o que escrever; c) para quem escrever; d) como e onde escrever. A
definição prévia destes elementos determinará, inevitavelmente, o gênero a ser escrito
e o suporte onde ele será difundido.
Conforme Costa Val (2006, p. 41), saber escrever é também saber usar a
variedade linguística adequada ao gênero de texto que se está produzindo, aos
objetivos que se quer cumprir com o texto, aos conhecimentos e interesses dos
leitores previstos, ao suporte em que o texto vai ser difundido, fazendo escolhas
adequadas quanto ao vocabulário e à gramática.
Portanto, é preciso ensinar aos estudantes a planejarem seus textos
colocando-os em situações reais de produção, de modo que possam associar o
domínio do sistema de escrita à necessidade de produzir, na perspectiva de atender
a propósitos comunicativos bem definidos e reais.
Assim sendo, concordamos com Marcuschi (2003, p.35), quando afirma que
[...] o trabalho com gêneros textuais é uma extraordinária
oportunidade de se lidar com a língua em seus mais diversos
usos autênticos no dia-a-dia. Pois nada do que fizermos
linguisticamente estará fora de ser feito em algum gênero.
Assim, tudo o que fizermos linguisticamente pode ser tratado em
um ou outro gênero.
Isto posto, podemos afirmar que para formar escritores proficientes na escola
faz-se necessário apostar no desenvolvimento tanto da capacidade de compreender
e valorizar o uso da escrita em diferentes gêneros textuais, quanto no
desenvolvimento da capacidade de produzir textos escritos de gêneros diversos,
adequados aos objetivos, ao destinatário e ao contexto de circulação.
Assim sendo, podemos citar algumas atividades que contribuem para o
desenvolvimento das referidas capacidades:
- Dispor, ordenar e organizar o próprio texto de acordo com as convenções gráficas
apropriadas;
- Planejar a escrita do texto considerando o tema central e seus desdobramentos;
- Organizar os próprios textos segundo os padrões de composição usuais na
sociedade;
- Usar a variedade linguística apropriada à situação de produção e de circulação,
fazendo escolhas adequadas quanto ao vocabulário e à gramática;
- Usar recursos expressivos (estilísticos e literários) adequados ao gênero e aos
objetivos do texto;
- Revisar e reelaborar a própria escrita, segundo critérios adequados aos objetivos,
ao destinatário e ao contexto de circulação previstos.
1.2 Texto e textualidade
O planejamento do texto consiste em preparar os elementos que vão nortear a
escrita propriamente. Deve se observar o público alvo, porque esse é que vai
determinar o grau de formalidade, a interação sócio-comunicativa, na escrita do texto
propiciamente.
Para se planejar um texto, deve-se ter em mente:
Quais os objetivos do texto; Qual é o assunto em linhas
gerais; Qual o gênero mais adequado aos objetivos; Quem
provavelmente vai ler; Que nível de linguagem deve ser utilizado;
Que grau de subjetividade ou de impessoalidade deve ser
atingido; Quais as condições práticas de produção: tempo,
apresentação, formato. (GARCEZ, 2001, p.15)
Destarte, nota-se que para criar um texto é preciso esquematizar o que se
pretende dizer e/ou escrever, e para que haja um bom planejamento, deve-se ter um
pré-conhecimento sobre o assunto a ser abordado, para que assim se torne possível
organizar as ideias de forma lógica.
Um conhecimento prévio sobre o assunto tende a facilitar na hora do
planejamento, exposição e organização do corpo textual, ou seja, ele vem a subsidiar
a produção, evitando que haja discrepâncias de ideias no decorrer do texto.
Por isso, deve-se previamente atentar a detalhes como o objetivo que o texto
pretende, porque é através dele que se construirá todo o corpo do texto. Faz-se
necessário também a escolha do gênero que melhor se adequará ao objetivo, ou seja,
que irá auxiliar também na produção. E como é de práxis, sempre que algo é escrito
pressupõe-se que será lido por alguém, a partir disso deve-se observar para qual tipo
de leitor o texto está sendo gerado, a fim de poder moldá-lo com uma linguagem
adequada ao nível cognitivo do leitor, e também, aderir a um posicionamento mais
subjetivo ou impessoal.
Ao se levar em conta cada item do planejamento é pertinente afirmar que todos
eles são dependentes, estão encadeados, ou seja, um vai necessitar do outro para
que a elaboração tenha uma consistência lógica e igual em todo o texto.
Garcez (2001, p. 17) também trabalha algumas considerações sobre o ato de escrever
de forma a facilitar no planejamento e na produção do texto. São elas: fazer uma lista
de palavras-chave; anotar tudo o que vem à mente, desordenadamente, para depois
cortar e ordenar; escrever a ideia principal e as secundárias em frases isoladas para
depois interligá-las; construir um primeiro parágrafo para desbloquear e depois ir
desenvolvendo as ideias ali expostas.
Desse modo, pode-se afirmar que construir um texto sem um planejamento é
estar fadado a cometer erros e consequentemente ter que efetuar correções, pois o
mesmo irá ajudar principalmente a manter a lógica do texto, evitando contradições, ou
seja, mantendo coerência e promovendo conectivos que auxiliem na coesão.
Portanto, escrever de forma aleatória sem um planejamento prévio é trabalhar duas
vezes.
1.2.1 Texto
Para melhor entendermos o fenômeno das produções escritas e orais se faz
necessário, inicialmente, dividir os textos em orais e escritos. O texto ou discurso é
uma ocorrência linguística falada ou escrita de certa extensão, dotada de unidade
sócio comunicativa semântica e formal. Seus constituintes linguísticos devem se
mostrar reconhecivelmente integrados, se modo a permitir que ele seja percebido
como um todo coeso. Segundo Benntes (2001), o texto precisa apresentar os
aspectos a seguir:
a) Unidade de sentido;
b) Dialogismo;
c) Delimitação espaço e temporal;
d) Historicidade;
e) Contextualidade;
f) Aspectos formais da língua.
Na perspectiva destes aspectos, Benntes (2001, p. 154) trabalha o conceito de
texto sobre duas fases distintas de estudo. Uma estuda os trabalhos dos períodos da
“análise transfrásica” e da “elaboração de gramáticas textuais” em que se acreditava
que as propriedades que definiam um texto estariam expressas, principalmente, na
forma de organização de material linguístico. Dessa forma, para ele, existiriam textos
e não-textos, onde a primeira seria formada por sequências linguísticas coerentes
entre si e a segunda por sequências linguísticas incoerentes em si.
Outra, as condições de produção e de recepção dos textos é entendida não
mais como uma estrutura acabada, mas como parte de atividades mais globais de
comunicação. Para Koch (1997, p. 21), “trata-se de tentar compreender o texto no seu
próprio processamento de planejamento, verbalização e construção”. Podemos dizer
com Duarte (2003, p. 76) que:
Quando usam a língua, os falantes não produzem
palavras ou frases isoladas, desligadas umas das outras e do
contexto situacional e discursivo. Pelo contrário, tanto os
produtos resultantes de uso primário da língua na situação
básica da conversa como os que resultam do uso da língua
escrita em situações não pessoais, tanto os produtos de um só
locutor como os que resultam da atividade colaborativa de vários
falantes são objetos dotados de sentido e de unidade, ou seja,
são produtos coesos internamente e coerentes com o mundo
relativamente ao qual devem ser interpretados. A tais produtos
chamam-se textos.
Dessa forma, para que seja realizada com sucesso a comunicação, um texto
precisa estar de acordo com a situação geral em que vai ocorrer: quem são os
interlocutores, qual a relação social entre eles, em que local acontece etc.
Segundo Benntes (2001, p. 254-255) o conceito de texto deve levar em conta
que:
- A produção textual é uma atividade verbal, isto é, os falantes ao produzirem
um texto, estão praticando ações, atos de fala. Sempre que se interage por meio da
língua, ocorre a produção de enunciados dotados de certa força, que irão produzir no
interlocutor determinado(s) efeito(s), ainda que não seja(m) aquele(s) que o locutor
tinha na mira.
- A produção textual é uma atividade verbal consciente, isto é, trata-se de uma
atividade intencional, por meio da qual o falante dará a entender seus propósitos,
sempre levando em conta as condições em que tal atividade é produzida. Nessa
concepção, o sujeito falante possui um papel ativo na mobilização de certos tipos de
conhecimentos, de elementos linguísticos, de fatores pragmáticos e interacionais, ao
produzir um texto. O sujeito sabe o que faz, como faz e com que propósito faz;
- A produção textual é uma atividade interacional, ou seja, os interlocutores
estão obrigatoriamente e de diversas maneira, envolvidos nos processos de
compreensão de um texto.
Ainda segundo Benntes, (2001, p. 256), “Um texto sempre será constituído de
uma multiplicidade de significações, tudo dependendo de diversos fatores, entre eles,
a intenção de quem produz e, da parte do leitor ou destinatário, a disponibilidade de
aceitar aquilo que é dito”.
Citamos abaixo alguns conceitos de autores renomados:
Um texto é o resultado de ato de comunicação produzido
por um sujeito numa situação contratual de troca social, daí ele
se caracterizar pelas propriedades gerais de todo fato
linguageiro (“fait langagier”), a saber sua materialidade
significante (oral, escrito, mímico gestual e icônico) organizada
em sistemas, suas regras de formação e de construção
linguística (morfologia, sintaxe, tanto no verbal, no gestual, como
no icônico), seus procedimentos de organização discursiva.
(CHARAUDEAU, 1997, p. 89)
Pelo fato de ser produzido numa situação contratual, o texto depende, para a
sua significação, daquilo que caracteriza uma situação, a saber: uma finalidade
enunciativa, uma identidade dos parceiros de troca, um propósito (tema) como
conteúdo tema tico da troca, um dispositivo particular como circunstâncias materiais
da troca. Pelo fato de que tem por origem um sujeito, esse texto se apresenta, ao
mesmo tempo, com as propriedades da situação que sobre determinam em parte o
sujeito e com as propriedades singulares do fato da intervenção individual desse
sujeito.
Todo componente verbalmente enunciado de um ato de
comunicação pertinente a um jogo de atuação comunicativa,
caracterizado por uma orientação temática e cumprindo uma
função comunicativa identificável, isto é, realizando um potencial
elocutório determinado. (SCHIMIDT, 1978, p. 43).
É preciso, pois pensar o texto como lugar de constituição e de interação de
sujeitos sociais, como evento, portanto, em que, conforme Beaugrande (1997, p. 90)
convergem ações linguísticas, cognitivas e sociais, ações por meios das quais se
constroem interativamente os objetos-de-discurso e as múltiplas propostas de
sentidos, com função de escolhas operadas pelos co-enunciadores entre as
inumeráveis possibilidadesde organização textual que cada língua lhes oferece; como
um construto histórico e social, extremamente complexo e multifacetado, cujos
segredos é preciso desvendar para compreender melhor esse “milagre” que se repete
a cada nova interlocução – a interação pela linguagem, linguagem que, como dizia
Carlos Franchi, é atividade constitutiva. (KOCH, 2003, p. 87).
Assim, entendemos que o texto é um produto da atividade discursiva. Em um
texto circulam, interagem e se integram informações várias, explícitas ou implícitas
evidentes por si mesmas ou dependentes de interpretação.
1.2.2 Aspectos da textualidade
É importante destacar que os textos devem conter os fatores de textualidade
para que sejam compreendidos pelos interlocutores.
Para Costa Val (2006, p. 25), “chama-se textualidade ao conjunto de
características que fazem com que um texto seja um texto e não apenas uma
sequência de frases”. Esclarece que a textualidade é fundamental para a relação
coerente entre as ideias.
Beaugrande e Dressler (1983) apontam sete fatores responsáveis pela
textualidade de um discurso qualquer: a coerência e a coesão, que se relacionam com
o material conceitual e linguístico do texto, e a intencionalidade, a informatividade, a
aceitabilidade, a situacionalidade, a Informatividade e a intertextualidade, que têm a
ver com os fatores pragmáticos envolvidos no processo sociocomunicativo.
Coerência – por ser responsável pelo sentido do texto é considerada fator
fundamental da textualidade. Abrange não só os aspectos lógicos e semânticos, mas
também os cognitivos. Dessa forma a coerência é um fenômeno que está ligado à
interpretação do texto por parte do interlocutor, ou seja, está ligado diretamente á
interlocução.
Coesão – responsável pela unidade formal do texto. Constrói-se através de
mecanismos gramaticais e lexicais. É decorrente da coerência de um texto.
Intencionalidade – está ligada diretamente à intenção do locutor em construir
um discurso coerente numa determinada situação comunicativa. Está relacionado aos
protagonistas do ato de comunicação.
Aceitabilidade – esta, por sua vez, está ligada diretamente à expectativa do
interlocutor ao que vai ser apreendido. Ou seja, se o texto é coerente, coeso, aceitável.
Situacionalidade - responsável pela pertinência e relevância de um texto
quanto ao contexto em que ocorre. É a adequação do texto quanto à situação sócio
comunicativa.
Informatividade – Diz respeito à medida na qual as ocorrências de um texto
são esperadas, ou não, conhecidas, ou não, no plano conceitual e no formal.
Intertextualidade – essa, “diz respeito aos modos como a produção e
recepção de um texto dependem do conhecimento que se tenha de outros textos com
os quais ele, de alguma forma, se relaciona”. (KOCH, 2000, p. 94).
Costa Val (2006) retoma os sete critérios de textualidade, apontados por
Beaugrande e Dressler, dois centrados no texto: a coesão e a coerência; e cinco
centrados no usuário, a saber:
Coesão: elementos linguísticos presentes no texto. Se
não existirem no texto, este não perderá o sentido, desde que
saibamos do que se está tratando. Coerência: é essencial no
texto, pois se não houver coerência, não haverá aceitabilidade
por parte do interlocutor, inexistindo o que se pode considerar
texto. Situacionalidade: a situação vai informar o que é e o que
não é dentro do texto. Informatividade: informações contidas no
texto. Intencionalidade: é um critério pragmático, o que o locutor
precisa ter para atribuir um sentido para o seu texto.
Aceitabilidade: o interlocutor precisa possuir para que o texto
tenha sentido para ele. Intertextualidade: é a junção de vários
textos num só texto. (COSTA VAL, 2006, p. 26).
Como podemos observar nos itens anteriores, dificilmente se deixou de
referenciar os termos coesão e coerência. No item seguinte, o enfoque será específico
a estes termos, como forma de melhor interação do assunto.
1.3 O processo da coesão e da coerência textuais
A coesão e a coerência constituem dois fatores importantes da textualidade. O
conhecimento das questões de coesão e coerência textuais permite que se olhe um
texto sob uma ótica diferente, pois não basta que se escreva um conjunto de
sentenças ou parágrafos com ortografia e pontuação adequadas. É preciso que se
“amarrem” os parágrafos e as sentenças, fazendo do texto um todo semântico que
“diga algo a alguém”, isto é, tenha significado.
A coesão, segundo Koch (1997, p. 34-41), pode ser descrita como “o fenômeno
que diz respeito ao modo como os elementos linguísticos presentes na superfície
textual encontram-se interligados, por meio de recursos também linguísticos,
formando sequências veiculadoras de sentido”. A coerência diz respeito ao modo
como os elementos subjacentes à superfície textual vêm a constituir, na mente dos
interlocutores, uma configuração veiculadora de sentidos.
A relação entre coesão e coerência existe porque a coerência é também
estabelecida a partir da sequência linguística que constitui o texto. Embora a coesão
não garanta a coerência, os elementos linguísticos podem servir de pistas para o
estabelecimento da coerência.
1.3.1 A coesão textual
Para Abreu (1990, p. 12): “um texto não é uma unidade construída por uma
soma de sentenças, mas pelo encadeamento semântico delas, criando, assim, uma
trama semântica a que damos o nome de textualidade.” O encadeamento semântico
que produz a textualidade se chama coesão.
A coesão textual consiste na relação entre orações dentro dos períodos, entre
períodos dentro dos parágrafos e entre os parágrafos no texto. Koch (1997, p. 14)
define coesão como “ligação entre os elementos superficiais do texto, o modo como
eles se relacionam, o modo como frases ou partes delas se combinam”.
Essa ligação (combinação) não pode ser feita aleatoriamente, pois é necessário
que se empreguem conjunções, advérbios, pronomes, preposições selecionados de
tal forma que possam proporcionar a devida coerência interna do texto. Visto que os
elementos coesivos apresentam conteúdo semântico e podem alterar o sentido das
palavras, frases, períodos ou parágrafos que se relacionam entre si, eles servem tanto
à verificação da coesão como à apreensão do sentido.
Uma das maiores preocupações, ao escrevemos um texto, é como amarrar a
frase seguinte à anterior. Isso só é possível se dominarmos os princípios básicos de
coesão. A cada frase enunciada devemos ver se mantém um vínculo com a anterior
ou anteriores para não perdermos o fio do pensamento. De outra forma, teremos uma
sequência de frases sem sentido, sucedendo-se umas às outras sem lógica, sem
coerência.
A coesão, no entanto, não é só esse processo de olhar constantemente para
trás. É também o de olhar para adiante. Um termo pode esclarecer-se somente na
frase seguinte. Se a frase inicial for: Márcia tem um grande desejo, ocorre um
movimento para adiante. Só vou saber de que desejo se trata na próxima frase: Ela
quer ser professora. O importante é cada enunciado estabelecer relações estreitas
com os outros, a fim de tornar sólida a estrutura do texto.
Ainda para Abreu (1990, p.12), “a maior parte das pessoas constrói
razoavelmente a textualidade na língua oral, mas, quando se trata de escrever um
texto, as únicas palavras para coesão são mesmo e referido”. Não diz que o uso
desses anafóricos consistem em erro, mas que indica o desconhecimento de outros
mecanismos de coesão. Para exemplificar, é frequente encontrarmos períodos como:
- Troque a lâmpada. A mesma está queimada.
- As alunas participaram de um Simpósio. No referido Simpósio, as mesmas
falaram sobre Paulo Freire.
No entanto, é possível explorar os recursos coesivos de que a língua dispõe e
apresentar períodos, como:
- Troque a lâmpada. Ela está queimada. - Troque a lâmpada, pois está
queimada.
- As alunas participaram de um Simpósio. Lá, falaram sobre Paulo Freire. - As
alunas participaram de um Simpósio e falaram sobre Paulo Freire. - As alunas
participaram de um Simpósio. No Simpósio, elas falaram sobre Paulo Freire.
Segundo Koch (1997, p.17), a coesão, por estabelecer relações de sentido, diz
respeito ao conjunto de recursos semânticos por meio dos quais uma sentença se liga
com a que veio antes, aos recursos semânticos mobilizados com o propósito de criar
textos. A cada ocorrência de um recurso coesivo no texto, denominam laço, elo
coesivo. A autora distingue, também, cinco mecanismos de coesão, relacionados e
exemplificados abaixo:
a) referência – componente do texto que faz referência a outro (s) elemento (s)
do universo textual. O elemento de referência ou remissão é bastante amplo e pode
ser representado por um nome, um sintagma, um fragmento de oração, uma oração
ou todo um enunciado.
A referência é exofórica quando a remissão é feita a algum elemento da
situação comunicativa, ou seja, quando o referente está fora do texto e, endofórica,
quando o referente se acha expresso no próprio texto. Neste caso, o referente precede
o item coesivo, tem-se a anáfora; após o item coesivo, tem-se a catáfora.
Também, na explanação de Koch (1997, p.20), a referência pode ser pessoal
(feita por meio de pronomes pessoais e possessivos), demonstrativa (realizada por
meio de pronomes demonstrativos e advérbios de lugar), e comparativa (efetuada por
via indireta, por meio de identidades e similaridades). Exemplos:
- Marta é ótima amiga. Ela sempre me dá provas disso. (referência pessoal
anafórica)
- Só desejava isto: concluir o curso. (referência demonstrativa catafórica)
- É uma atividade igual a de ontem. (referência comparativa endofórica)
- Esta é a melhor marca de carro. (referência comparativa exofórica – frase de
uma publicidade de automóvel, remetendo para a foto do veículo)
b) substituição – ocorre com a colocação de um item no lugar de outro (s) ou
até de uma oração inteira. Pode ser nominal (feita por meio de pronomes pessoais,
indefinidos, numerais, nomes genéricos como coisa, gente, pessoa) e verbal (o verbo
“fazer” é substituto dos causativos, “ser” é substituto existencial). Exemplos:
- Pedro comprou um carro novo e José também.
- O professor acha que os alunos não estão preparados, mas eu não penso
assim.
- O padre ajoelhou-se. Todos fizeram o mesmo.
- Minha prima comprou um Gol. Eu também estava querendo um.
- Eduardo comprou um carro. O carro é vermelho.
Koch (1991, p.21) explica que a principal diferença entre substituição e
referência é que, nesta, há total identidade referencial entre o item de referência e o
item pressuposto, ao passo que na substituição ocorre sempre alguma redefinição.
c) elipse – omissão de um item lexical recuperável pelo contexto, ou seja, a
substituição por zero (). Pode ocorrer elipse de um item lexical, um sintagma
nominal, verbal, oracional ou todo um enunciado. Exemplos:
- Paulo vai à escola? () Vai ()
- Os convidados chegaram atrasados. () Tinham errado o caminho.
- Asse o frango até ficar dourado. Coloque () em uma travessa.
- Aonde você foi ontem? () À casa de Paulo. () Sozinha? Não. () com uma
amiga.
d) conjunção (ou conexão) – tem natureza diferente das outras relações
coesivas por não se tratar simplesmente de uma relação anafórica. Os elementos
conjuntivos são coesivos não por si mesmos, mas indiretamente, em virtude das
relações específicas que se estabelecem entre as orações, períodos e parágrafos.
Os principais tipos de elementos conjuntivos são: advérbios e locuções
adverbiais; conjunções coordenativas e subordinativas; locuções conjuntivas,
preposições e locuções prepositivas; itens continuativos como então, daí etc.
Exemplos:
- Depois da ventania, houve um grande silêncio.
- Os exemplos abaixo comprovam a teoria.
- Vou atender ao seu chamado,mas só o faço (faço isso) porque sou sua amiga.
- O torcedor gritou demais, então, {por isso} ficou rouco.
- João é, sem dúvida, o melhor candidato. Tem boa formação e apresenta um
consistente programa administrativo. Além disso, revela pleno conhecimento dos
problemas da população. Ressalta-se, ainda, que, não faz promessas demagógicas.
e) coesão lexical – é obtida por meio de dois mecanismos: a reiteração e a
colocação. A reiteração se faz por repetição do mesmo item lexical ou através de
sinônimos, hiperônimos, nomes genéricos. Exemplos:
- O presidente viajou para o exterior. O presidente levou consigo uma grande
comitiva. (mesmo item lexical)
- Uma menina correu ao meu encontro. A garota parecia assustada. (sinônimo)
- O avião ia levantar vôo. O aparelhofazia um ruído ensurdecedor. (hiperônimo:
aparelho designa que avião é espécie)
- Todos ouviram um rumor de asas. Olharam para o alto e viram a coisa se
aproximando. (nome genérico)
A colocação, por sua vez, consiste no uso de termos pertencentes a um mesmo
campo significativo, como por exemplo:
- Houve um grande acidente na estrada. Dezenas de ambulâncias
transportaram os feridos para os hospitais da cidade mais próxima.
A questão da coesão referencial é, para Koch (1991), complexa. Isto ocasiona
uma diversidade de definições, de posicionamentos entre os autores estudiosos do
assunto. Cabe ao produtor de textos empregar adequadamente os mecanismos de
coesão ao elaborar seus textos.
A utilização desses mecanismos é que constrói o que chamamos textualidade.
Mas não basta costurar uma frase a outra para dizer que estamos escrevendo bem.
Além da coesão, é preciso pensar na coerência. Há autores que distinguem níveis de
análise para a coesão e para a coerência. Outros não fazem distinção entre níveis de
análise destes termos e, outros, ainda, estudam vários aspectos da coesão e da
coerência sem qualquer rotulação e/ou classificação.
1.3.2 A coerência textual
De acordo com Fávero (1999), um texto não é, totalmente, coerente ou
incoerente em si próprio, esse é para um leitor num determinado contexto, mas isso
só acontece quando o leitor não tem conhecimento do assunto tratado no texto, afinal
esse contém mais do que sentidos superficiais, contém conhecimentos e experiências
cotidianas, ou seja, fatores não linguísticos. Fiorin & Savioli (1990, p. 261) expõem:
Coerência deve ser entendida como unidade do texto. Um
texto coerente é um conjunto harmônico, em que todas as partes
se encaixam de maneira complementar de modo que não haja
nada destoante, nada ilógico, nada contraditório, nada
desconexo. No texto coerente, não há nenhuma parte que não
se solidarize com as demais.
A coerência tem a ver com o sentido global do texto, que precisa apresentar,
em sua composição, relação entre as ideias. Enquanto a coesão responde acerca das
ligações, aponta os elementos relacionais que poderão ser utilizados nessa conexão,
a coerência se preocupa com o modo como se dá a conexão entre as ideias no texto.
Caso isso não ocorra, o texto se tornará incoerente.
Contudo, para a aceitabilidade de um texto é necessário mais do que a
presença de relações semânticas entre os componentes textuais, ele precisa de certo
grau de coerência que por sua vez depende de vários fatores interpessoais. Portanto
a coerência de um texto depende de fatores que são percebidos através das relações
formais, semânticas e pragmáticas, que, identificadas pelo interlocutor, ativa seu
conhecimento prévio, interage com o locutor, construindo assim o sentido global de
um texto. Em suma, um texto, para Halliday & Hassan (1976) é extraído através de
um discurso que é coerente em dois aspectos: é coerente em relação ao contexto de
situação, portanto consistente em registro, e é coerente em relação a ele mesmo e,
portanto coeso.
Dentro dessa perspectiva, a coerência textual (ou conectividade conceitual) é
para Duarte (2003, p. 54):
Um fator de textualidade que resulta da interação entre os
elementos cognitivos apresentados pelas ocorrências textuais e
o nosso conhecimento do mundo. Assim, uma condição
cognitiva sobre a coerência de um texto é a suposição da
normalidade do(s) mundo(s) criado(s) por esse texto: um texto é
coerente se os elementos/esquemas cognitivos ativados pelas
expressões linguísticas forem conformes àquilo que sabemos
ser: (i) a estrutura das situações descritas; (ii) as relações lógicas
entre situações; (iii) as propriedades características dos objetos
de um mundo normal.
Dessa forma a coerência textual é fator relevante para a compreensão da
mensagem, que por ser interativa e contextualizada, requer a mobilização de um vasto
conjunto de saberes e habilidades e a inserção desses saberes e habilidades no
interior de um ato comunicativo.
A partir desses conceitos, a coerência deixa de ser vista como mera
propriedade ou qualidade do texto, e passa a ser vista ao modo como o leitor/ouvinte,
a partir dos elementos presentes na superfície textual, interage com o texto e o
reconstrói como uma construção portadora de sentido.
Alguns autores como Beaugrande e Dressler (1983) e Marcuschi (2003)
adotaram a semântica procedimental para tratar e entender a coerência, pois essa
linha da semântica engloba dois conhecimentos que também se aplicam à coerência:
o declarativo (razão) e o procedimental (experiência). Cada um organiza, no cérebro,
os enunciados baseados, respectivamente, na razão e na experiência; “eles
determinam a produção de sentido e, consequentemente, a coerência.” (FÁVERO,
1999, p. 61).
Um texto pode ser incoerente ou para um acontecimento especifico se seu
autor não for capaz de compreender um nexo ou uma abstração através da conexão
de suas frases e parágrafos e por meio de artifícios linguísticos. A coerência está
totalmente unida a possibilidade de se assentar um sentido ao texto. É a coerência
que faz os leitores de um determinado texto estabelecerem um sentido de
interpretação do mesmo.
Como Favéro (1999, p. 61) diz “para haver coerência é preciso que haja
possibilidade de estabelecer no texto alguma forma de unidade ou relação entre seus
elementos.” A coerência textual é o vínculo lógico entre as ideias, é o desfecho da não
contradição entre as partes do texto.
A coerência de um texto abrange fatores como o conhecimento que o produtor
e o receptor têm do assunto apontado no texto; conhecimento de mundo;
conhecimento que esses têm da língua que usam e intertextualidade.
Pode-se concluir que texto coerente é aquele no qual é possível estabelecer sentido;
pode ser entendido como um princípio de interpretabilidade. E ela pode ser definida
como fenômeno da harmonia entre as ideias e opiniões de um texto.
CAPÍTULO 2. REGRAS DE COERÊNCIA
A coerência é considerada o fator fundamental da textualidade, pois é ela que
estabelece o sentido do texto. Beaugrande & Dressler (1983, p. 84) designam sentido
como o conhecimento selecionado e atualizado, transmitido por expressões que
ocorrem em um texto. Afirmam que “um texto faz sentido, quando há uma continuidade
de sentidos entre o conhecimento ativado pelas expressões do texto.” Definem “esta
continuidade de sentidos como a fundamentação da coerência, estando o acesso
mútuo e a relevância dentro de uma configuração de conceitos e relações.”
Os autores alertam para o fato de que o mundo textual não apresenta somente
os sentidos presentes nas expressões empregadas no texto de superfície. Também
contribui para o estabelecimento do texto um processo cognitivo que envolve o
conhecimento partilhado, o senso comum que advém das experiências e das
expectativas os participantes do processo de comunicação em relação à organização
dos eventos e das situações (Beaugrande & Dressler, 1983, p. 85).
Koch & Travaglia (1997, p. 25) ao discutirem o conceito de coerência, ressaltam
que a continuidade de sentidos “estabelece uma coesão conceitual cognitiva entre os
elementos do texto através de processos cognitivos que operam entre os usuários
(produtor e receptor) do texto” e salientam que essa conexão não é apenas de tipo
lógico, mas também dependem de fatores socioculturais diversos e de fatores
interpessoais como intenções comunicativas dos interlocutores, as formas de
influência do falante na situação de fala, as regras sociaisque regem o relacionamento
entre pessoas a partir de seus lugares sociais, enfim, a todos os aspectos ligados à
pragmática.
Entenderemos a coerência tal qual Koch & Travaglia (1997, p. 21) a definem:
... a coerência está diretamente ligada à possibilidade de
se estabelecer um sentido para o texto, ou seja, ela é que faz
com que o texto faça sentido para os usuários, devendo,
portanto, ser entendida como um princípio de interpretabilidade,
ligada à inteligibilidade do texto numa situação de comunicação
e à capacidadeque o receptor tem para calcular o sentido desse
texto. Este sentido, evidentemente, deve ser do todo, pois a
coerência é global. (...) Para haver coerência é preciso que haja
possibilidade de estabelecer no texto alguma forma de unidade
ou relação entre seus elementos.
Posicionamo-nos, também junto aos autores Koch & Travaglia (1997, p.50),
quando dizem:
Não existe o texto incoerente em si, mas que o texto pode
ser incoerente em/para determinada situação comunicativa. (...)
O texto será incoerente se seu produtor não souber adequá-lo à
situação, levando em conta intenção comunicativa, objetivos,
destinatário, regras socioculturais, outros elementos da
situação, uso de recursos linguísticos, etc. Caso contrário, será
coerente.
Dessa forma, o texto vai além da superfície, do seu artefato textual e busca
uma relação com os usuários numa situação comunicativa. Entende-se, então, que
uma sequência de frases com coesão e coerência, são fatores necessários, mas não
suficientes para garantir a eficiência da textualidade, já que há textos que não parecem
ser totalmente coesivos ou até mesmo coerentes.
A sua boa formação, não pode ser analisada em termos de identificação isolada
da simples constituição e sequência de elementos linguísticos, pois a aplicação dos
elementos que o levam à textualidade se definem como possibilidade de instaurar o
texto no contexto textual, é a sua textualização que o caracteriza.
Diante o exposto até aqui, podemos dizer que o todo será incoerente se quem
o produz não souber adequá-lo à situação, considerar a intenção comunicativa, ou
seja, o que quer comunicar, o quê pretende comunicar, a quem está se dirigindo, levar
em consideração também e, principalmente, o meio social e cultural. Koch (1991, p.45-
46) afirma:
Os prejuízos de incoerência dependem também de
conhecimentos prévios sobre o modo e do tipo de mundo em
que o texto se insere, isto é, depende da capacidade do leitor de
estabelecer a intertextualidade. Sendo assim, os juízos sobre
coerência textual estão fundamentalmente ligados também ao
processo de recepção, isto é, o texto será tão incoerente quanto
for pequena a capacidade de compreensão do leitor, quanto
forem pobres suas experiências de leitura.
O texto, então, é um evento comunicativo no qual convergem ações
linguísticas, sociais, cognitivas, interativas, dialógicas, mediante o uso efetivo da
língua. O todo significativo que o compõe se dá através dos participantes da
ocorrência discursiva. Portanto, a noção de coerência é bastante abrangente, pois a
boa formação de um texto necessita que as formas linguísticas utilizadas estabeleçam
um sentido unitário para o todo. Vemos, portanto, que a noção de coerência liga-se a
um ponto de vista em que a língua só funciona na comunicação, na interlocução, com
todos os seus componentes: sintáticos, semânticos, pragmáticos, socioculturais,
cognitivos, etc.
2.1 Tipos de coerência
Verificamos que a coerência tem a ver com a harmonia das informações, ou
seja, que as informações devem ser organizadas de um modo que façam sentido para
quem lê. A coerência, como sabemos, é a ligação de cada uma das partes do texto
com o seu todo, de forma que não haja contradições ou erros que gerem
incompreensão, mal-entendido ou até mesmo falha na comunicação.
A coerência diz respeito à intenção comunicativa do emissor, interagindo, de
maneira cooperativa, com o seu interlocutor. Koch e Travaglia (1991, p. 37-39)
apresentam alguns tipos de coerência, abaixo definidos e exemplificados:
a) coerência semântica – refere-se à relação entre significados dos elementos
das frases em sequência num texto ou entre os elementos do texto como um todo. O
que podemos observar no exemplo:
- Felicidade é um viver como aprendiz. É retirar de cada fase da vida uma
experiência significativapara o alcance de nossos ideais. É basear-se na simplicidade
do caráter ao executar problemas complexos; ser catarse permanente de doação
sincera e espontânea.” (redação de aluno – tema “felicidade”. In: Koch & Travaglia,
1991, p. 36)
Ao escrever “executar problemas”, o aluno criou uma incoerência semântica,
uma vez que o sentido das duas palavras não condizem. Talvez o aluno quisesse
dizer “resolver problemas”. O uso inadequado também dos itens “executar” e “catarse”
em relação a “problemas” e “de doação sincera e espontânea”, dificultam ao leitor
recuperar o sentido do texto.
A contradição de sentidos também cria incoerências semânticas como
podemos observar no exemplo abaixo:
- A frente da casa de vovó é voltada para o leste e tem uma enorme varanda.
Todas as tardes ela fica na varanda em uma cadeira de balanço apreciando o pôr-do-
sol. (a posiçãoda frente da casa e o que se diz que a avó faz à tarde são contraditórias,
já que o sol não se põe a leste, mas a oeste. In: Koch & Travaglia, 1991, p. 37)
Também tem a ver com coerência semântica os termos: hiponímia ou
hiperonímia que ocorrem em:
- Roberto tem um belo veículo. É um cavalo árabe puro sangue. (cavalo não é
hipônimo de veículo e a sequência aparece como incoerente.)
b) coerência sintática – refere-se aos meios sintáticos para expressar a
coerência semântica como, por exemplo, os conectivos, o uso de pronomes, de
sintagmas nominais definidos e indefinidos, etc. No exemplo a seguir temos um caso
de incoerência sintática com o uso de “onde”:
- A felicidade, onde não existem técnicas científicas para sua obtenção, faz-se
de pequenos fragmentos captados de sensíveis expressões vivenciais... (In: KOCH &
TRAVAGLIA, 1991, p. 36)
A coerência sintática pode ser recuperada nesta construção:
- A felicidade, para cuja obtenção não existem técnicas científicas, faz-se de
pequenos fragmentos.
A coerência sintática nada mais é do que um aspecto da coesão que pode
auxiliar no estabelecimento da coerência.
c) coerência estilística – o usuário da língua deveria usar em seu texto
elementos linguísticos pertencentes ou constitutivos do mesmo estilo ou registro
linguístico (léxico, frases, estruturas, etc.). No entanto, o uso de estilos diversos
parece não criar problemas para a coerência, entendida como princípio de
interpretabilidade, o que muitas vezes ocorre é uma quebra estilística, como o uso de
gírias, expressões populares, palavras de baixo calão em conversas polidas.
O exemplo a seguir, trata de um cartão de condolências, em que há uma
incoerência estilística inaceitável pelas normas sociais (que afetam o estabelecimento
da incoerência), mas que não é problemática do ponto de vista do estabelecimento do
sentido e poderia até ser usada de propósito se a intenção do produtor for passar a
ideia de irreverência.
- Prezado Antônio, Neste momento quero expressar meus profundos
sentimentos por seu pai ter batido as botas.
d) coerência pragmática – refere-se ao texto visto como uma sequência de atos
de fala, relacionados de modo que, para a sequência de atos ser percebida como
apropriada, os atos de fala que a constituem devem satisfazer as mesmas condições
presentes em uma dada situação comunicativa. Caso contrário, temos incoerência.
Assim, por exemplo, se um amigo faz um pedido a outro, espera-se que
tenhamos as seguintes sequências de atos: pedido/atendimento; pedido/promessa;
pedido/jura; pedido/solicitação de esclarecimento/esclarecimento; atendimento ou
promessa; pedido/recusa/justificativa; pedido/recusa e não sequências como
pedido/ameaça; pedido/declaração de algo que não tem nenhuma relação com o
conteúdo do pedido que seriam vistas como incoerentes, como:
- A: Você me empresta seu livro de História?
- B: Hoje eu comi um chocolate que é uma delícia!
Certamente levaria o falante A ao pedir esclarecimento ou se aborrecer,
interpretando a fala de B como recusa ou descaso, entre outras possibilidades. Para
Koch e Travaglia (1991, p.29):
Esta divisão da coerência em tipos tem o mérito de
chamar a atenção para diferentes aspectos daquilo que
chamamos de coerência: o semântico, o pragmático, o estilístico
e o sintático (ou gramatical, ou da superfície linguística). Mas é
preciso ter sempre em mente que a coerência é um fenômeno
que resulta da ação conjunta de todos esses níveis e de sua
influência no estabelecimento do sentido do texto, uma vez que
a coerência é, basicamente, um princípio de interpretabilidade e
compreensão do texto.
Um texto pode ser incoerente em determinada situação se seu autor não
consegue estabelecer um sentido ou uma ideia através da articulação de suas frases
e parágrafos e por meio de recursos linguísticos (pontuação, vocabulário etc.). Como
apresentado anteriormente, podemos concluir, por esse motivo, que um texto
coerente é aquele que é capaz de estabelecer sentido. Por isso, a coerência é
entendida como um princípio de interpretabilidade.
Para melhor identificar e distinguir cada tipo de coerência é importante
conhecer cada tipo de incoerência. Koch e Travaglia (1991, p. 41-43), colocam:
a) incoerência semântica
- A casa que desejo comprar é bastante jovem.
Essa frase é incoerente quando levamos em consideração o significado da
palavra jovem. Embora tenha o sentido de coisa nova, o vocábulo jovem só é
empregado para caracterizar seres humanos; e não seres inanimados, como é o caso
de casa. Para essa caracterização, a palavra nova seria mais apropriada.
b) incoerência sintática
- As pessoas que têm condições procuram o ensino particular, onde há
métodos, equipamentos e até professores melhores.
Apesar de haver comunicabilidade, já que possível compreender a informação,
a coerência desse período está inadequada. Ela poderia ser restabelecida se fosse
feita uma alteração: a troca do pronome relativo onde, específico de lugar, para no
qual ou em que (ensino particular, no qual/em que há métodos).
c) incoerência estilística
- O ilustre advogado observou que sua petição não prosperaria, haja vista seu
cliente ter enfiado o pé na jaca.
Imagine iniciar uma fala, em um contexto formal, com palavras mais
sofisticadas e depois misturar com uma forma de linguagem bem popular, usando
gírias. Esta incoerência poderia parecer inclusive uma brincadeira, modificando o
sentido que o autor da frase desejava.
d) incoerência pragmática
- Maria, sabe dizer se o ônibus para o Centro passa aqui?
- Eu entendo, João. Hoje faz um ano que minha avó faleceu.
Notamos que Maria, na verdade, não responde a pergunta feita por João, pois
não estabeleceu uma sequência na conversa. Ela propôs outro assunto, irrelevante
para a pergunta feita. Assim, percebemos que na sequência de falas deste exemplo
não há coerência.
2.2 Níveis de coerência
Fiorin & Saviolo (1990, p. 261) apresentam três níveis de coerência: narrativa,
figurativa e argumentativa, já em Platão e Fiorin, (1996, p. 397) encontramos
diferentes níveis de coerência, a saber:
a) coerência narrativa – quando as implicações lógicas entre as partes da
narrativa são respeitadas. Numa narrativa, as ações acontecem num tempo
sucessivo, de forma que o que é posterior depende do que é anterior.
Ocorre preocupação com a coerência e a unidade do texto. A título de exemplo,
um relato de uma professora num livro sobre redação no vestibular:
Lá dentro havia uma fumaça formada pela maconha e
essa fumaça não deixava que nós víssemos qualquer pessoa,
pois ela era muito intensa. Meu colega foi à cozinha me deixando
sozinho, fiquei encostado na parede da sala e fiquei observando
as pessoas que lá estavam. Na festa havia pessoas de todos os
tipos: ruivas, brancas, pretas, amarelas, altas, baixas. (In:
FIORIN & SAVIOLO, 1990, p.262)
b) coerência argumentativa – diz respeito às relações de implicação ou de
adequação que se estabelecem entre pressupostos ou afirmações explícitas no texto
e as conclusões decorrentes destes.
Alguns raciocínios lógicos se prestam como exemplos de incoerência
argumentativa, tais como: Toda cidade tem pobres. João Pessoa tem pobres. Logo,
João Pessoa é uma cidade. Existe nesta afirmação uma inadequação, entre as
premissas e a conclusão, pois pode haver pobres em lugares que não são cidades ou
vice-versa.
Na coerência argumentativa defende-se um ponto de vista, pressupostos,
dados, com base em certos argumentos e, permite-se tirar conclusões. Um exemplo
de coerência argumentativa:
Embora existam políticos competentes e honestos,
preocupados com as legítimas causas populares, os jornais, na
semana passada, noticiaram casos de corrupção comprovada,
praticados por um político eleito pelo povo. (Isso demonstra que
o povo não sabe escolher seus governantes.) (In: FIORIN &
SAVIOLO, 1990, p.269)
c) coerência figurativa – quando há uma compatibilidade entre temas e figuras
ou de figuras entre si. As figuras se encadeiam num percurso, para manifestar um
determinado tema, por isso, têm que ser compatíveis umas com as outras, senão o
leitor não percebe o tema que se deseja veicular.
Na coerência figurativa entendemos a articulação harmônica das figuras do
texto, com base na relação de significado que mantêm entre si. Um exemplo de
coerência figurativa:
O quarto espelha as características de seu dono: um
esportista, que adorava a vida ao livre e não tinha o menor gosto
pelas atividades intelectuais. Por toda a parte, havia sinais disso:
raquete de tênis, prancha de surf, equipamento de alpinismo,
skate, um tabuleiro de xadrez com as peças arrumadas sobre
uma mesinha, as obras completas de Shakespeare. (In: FIORIN
& SAVIOLO, 1990, p.268)
d) coerência espacial – diz respeito à compatibilidade entre os enunciados do
ponto de vista de localização no espaço.
e) coerência temporal – é a que respeita as leis da sucessividade dos eventos
ou apresenta uma compatibilidade entre os enunciados do texto, do ponto de vista da
localização no tempo.
As ações temporais devem ser sequenciadas numa temporalidade compatível,
de modo que seja possível ao leitor acompanhar essa sequência temporal. Caso
contrário, efetiva-se uma subversão na sucessividade dos eventos, ocasionando a
incoerência. Não se deve dizer, por exemplo: Acordei cedo, hoje, às dez horas. Fui ao
trabalho, vesti a roupa, tomei banho e fui caminhar, depois do almoço... Há uma
incompatibilidade na sucessividade das ações, de forma que facilmente se percebe a
incongruência dos fatos.
f) coerência no nível da linguagem – é a compatibilidade do ponto de vista da
variante linguística escolhida, em nível do léxico e da organização sintática utilizada
no texto. Incoerente, pois, usar expressões chulas ou de linguagem informal num texto
caracterizado pela norma culta formal. A não ser em textos, cujo gênero seja permitido
tal uso.
Na linguagem oral, essa incompatibilidade é corrigida, muitas vezes, por meio
de ressalvas do tipo: com o perdão da palavra ou se me permitem...
É importante esclarecer que a exploração da incoerência pode fazer parte de
um programa intencionalmente arquitetado pelo produtor do texto. Por exemplo: Um
publicitário poderá fazer uso propositadamente de uma incoerência, para obter efeitos
diversificados de sentido no gênero textual propaganda.
2.3 As meta-regras de coerência
Em relação à coerência, é relevante citar Michel Charolles (1997) pela
contribuição referente à coerência textual em produções textuais escritas. Até o
momento expusemos postulados acerca de coerência segundo alguns estudiosos.
Charolles (1997), diferenciando coesão de coerência, trata a coerência tanto a nível
micro quanto macroestrutural. Segundo o autor, coerência e linearidade textual estão
relacionadas, ou seja, para se questionar a coerência de um texto, deve-se levar em
conta a ordem em que aparecem os elementos que constituem o texto. Charolles
(1997, p. 49-74) enuncia quatro meta-regras de coerência, que são as seguintes:
1ª) Meta-regra de repetição: Para que um texto seja (microestruturalmente e
macroestruturalmente) coerente é preciso que contenha, no seu desenvolvimento
linear, elementos de recorrência escrita. Como elementos de repetição a língua dispõe
de recursos numerosos e variados, como: as pronominalizações, definitivações,
referenciações contextuais dêiticas, substituições lexicais, recuperações
pressuposicionais, retomadas de inferência. Alguns exemplos desses recursos:
- A criança foi sequestrada na escola em que estudava. Ela foi encontrada
algemada em uma rua deserta. (pronominalização – anáfora)
- Encontrei-a. Esta jóia é raríssima. (pronominalização – catáfora)
- Na chácara há árvores frutíferas. As árvores frutíferas são bem cuidadas.
(definitivação/referenciação dêitica contextual)
- Leonardo esteve em Irati em fevereiro de 2003. O cantor veio à cidade
prestigiar o time do Goiás Sport Club. (substituição lexical)
- José comprou sua moto? Respostas: a) Não, ele comprou o carro. b) Não,
assaltaram-lhe. c) Não, ele viajou.
Observemos que a retomada de elementos nem sempre dá coerência ao texto.
2ª) Meta-regra de progressão: Para que um texto seja microestruturalmente ou
macroestruturalmente coerente, é preciso que haja no seu desenvolvimento uma
contribuição semântica constantemente renovada.
Esta segunda regra completa a primeira. Em um texto coerente, supõe-se que
haja um equilíbrio entre continuidade temática e progressão semântica (ou sêmica),
não repetição indefinida de termos em um mesmo texto. Um bom desempenho exige
as meta-regras 1 e 2. Em textos de alunos, muitas vezes, ocorre a transgressão total
da meta-regra 2, como exemplifica o texto abaixo:
O ferreiro está vestido com uma calça preta e um chapéu claro e com um paletó
cinza e marrom escuro. Tem na mão a ponta da picareta e bate em cima com um
martelo, sobre a ponta da picareta. Os gestos que fez, tem a ponta da picareta e com
seu martelo bate sobre a ponta da picareta. A ponta desta ferramenta que se chama
a ponta da picareta é pontuda e a outra ponta é quadrada. Para tornar ela vermelha
com a ponta da picareta colocou ela no fogo e as mãos estão vermelhas. (texto original
– sem correção de professor) (In: CHAROLLES, 1997, p.59)
O que nos chama a atenção é a circularidade do discurso, o aluno não dá
progressão às ideias.
3ª) Meta-regra de não-contradição: Para que um texto seja
microestruturalmente e macroestruturalmente coerente, é preciso que no seu
desenvolvimento não se introduza nenhum elemento semântico que contradiga um
conteúdo posto ou pressuposto por uma ocorrência anterior, ou deduzível desta por
inferência. Exemplos:
- Paulo não gosta de escrever. Fica feliz quando lhe solicitam um artigo.
(contradição)
- Maria lê bastante. Ela gosta de escrever. (não-contradição)
4ª) Meta-regra da relação: Para que uma sequência ou um texto sejam
coerentes, é preciso que os fatos que se denotam no mundo representado estejam
relacionados. Exemplo:
- A mãe levou a criança ao médico.A criança está triste. (embora a frase pareça
incoerente, nosso conhecimento de mundo consegue dar sentido a ela).
As meta-regras apresentadas por Charolles (1997) e de outros problemas de
coerência, até aqui expostos, levam-nos a ficar alerta, tanto no aspecto linguístico
como pragmático, quando da elaboração ou análise de um texto.
3. METODOLOGIA E ANÁLISE DOS DADOS
Nesta parte do trabalho, nossa atenção estará voltada para a exposição dos
referenciais metodológicos que funcionaram como suporte e diretriz desta pesquisa
de natureza aplicada e para a descrição dos cenários que caracterizaram o nosso
estudo.
Para alcançar os objetivos desta pesquisa, tomamos, como princípio
metodológico, a análise qualitativa por permitir a exploração de níveis de análise que
abrangem a minúcia e o contexto. Essas observações se fizeram mediante notas de
campo, “memo” e coleta das produções escritas dos alunos nas diferentes situações
em que foram solicitados a fazê-las, objetivando análise de sua aprendizagem frente
à metodologia adotada pelo professor.
Os procedimentos acima citados, além de nos terem possibilitado o
entendimento de como se deu, antes, durante e depois o trabalho com a produção
escrita nessa sala de aula, ainda nos permitiram explicar reconhecer se o
procedimento de ensinar do professor foi viável ou não para o enriquecimento da
expressão escrita do aluno e para a adequação de seu objetivo comunicativo junto
aos interlocutores do texto.
O desenvolvimento do presente trabalho foi encaminhado por reflexões teóricas
que se associam ao processo do ensino/aprendizagem da produção de texto dentro
da escola. Para analisar o fazer do professor em sala de aula, observando as
condições de produção dos textos escritos, optamos por uma abordagem qualitativa
ao invés de uma quantitativa, já que o intuito foi refletir, analisar e caracterizar o
processo de produção desse saber. A observação das aulas, além da coleta dos
textos, nesse caso, foi fundamental, pois segundo Lüdke e André (1986:26):
(...), a observação ocupa um lugar privilegiado nas novas abordagens de
pesquisa educacional. Usada como o principal método de investigação ou associada
a outras técnicas de coleta, a observação possibilita um contato pessoal e estreito do
pesquisador com o fenômeno pesquisado, o que apresenta uma série de vantagens.
Em primeiro lugar, a experiência direta é sem dúvida o melhor teste de verificação da
ocorrência de um determinado fenômeno. Ver para crer, diz o ditado popular.
Analisando, de maneira qualitativa, o trabalho do professor de Língua
Portuguesa, numa sala de quinta série do ensino fundamental, em relação ao ensino
de produção textual, a fim de se verificar qual o tratamento didático nessa área,
levando em conta as atividades prévias que antecedem a proposta de produção, bem
como o trabalho de intervenção do professor durante e depois da atividade
propriamente dita, nosso estudo se deteve, especialmente, à observação do ambiente
e da situação alvo de nosso interesse, através de um contato direto e prolongado da
pesquisadora em sala de aula. Segundo Bodgan e Biklen (1982) citados por Lüdke e
André (1986:12), em uma pesquisa qualitativa, “A preocupação com o processo é
muito maior do que com o produto”.
Explicam que o problema investigado deve ser verificado em como ele se
manifesta nas “atividades, nos procedimentos e nas interações cotidianas”. Sendo
assim, a observação foi realizada semanalmente, durante cinco meses, em aulas de
Língua Portuguesa cuja carga horária semanal era de cinco h/a, sob a forma de
registro de anotações e gravações de aulas típicas que apontavam para o trabalho de
constituição dos textos dos alunos. Durante esse período, conseguimos observar seis
situações do trabalho pedagógico com a produção de textos escritos, as quais nos
permitiram analisar as condições em que se deu o processo de ensino/aprendizagem
das produções textuais escritas: atividades precedentes, as propostas que
desencadearam a produção de textos, as intervenções do professor durante a
produção e após esta, a interação professor-aluno, os textos produzidos pelos alunos,
os usos e funções desses textos, os objetivos a que se prestavam e a influência das
condições de produção sobre os textos produzidos.
Quanto a essas produções escritas, coletadas em seis diferentes situações,
todas foram analisadas e, dentre elas, foram comentadas as mais interessantes, ou
seja, as que propagaram diferentes estratégias utilizadas pelos alunos para escrever
em decorrência da orientação dada pelo professor, e em número suficiente para
demonstrar a fidedignidade da análise.
Os critérios para a avaliação dos textos pautaram-se na análise das condições
de produção (Geraldi, 1995), incluindo: o conteúdo/informações presentes no texto; a
razão/motivo que levou o aluno a escrever; o “para quem” o aluno escreveu seu texto;
o aluno enquanto sujeito/locutor do seu discurso; as estratégias utilizadas pelo aluno
na constituição do seu texto (coesão, fatores de coerência - repetição, progressão,
relação, informatividade, situacionalidade, intencionalidade, além do genêro textual, e
uso de recursos lingüísticos).
As produções escritas serviram de parâmetro para avaliarmos em que medida
as condições de produção interferem em sua qualidade. Também, pudemos constatar
se a metodologia utilizada pelo professor foi eficiente ou não para o desenvolvimento
da capacidade comunicativa dos alunos.
Deixamos claro, aqui, que o foco de nossa pesquisa sobre produção textual se
situa no processo e não apenas no produto. Acreditamos que essa articulação é bem
vinda, uma vez que integra o processo global de ensino/aprendizagem nesta área,
ajudando a perceber os processos subjacentes à elaboração do discurso escrito,
relacionando-os ao seu produto final. Em outras palavras, consideramos toda a
situação em que o ato comunicativo escrito se deu. Os textos não poderiam ser vistos
isoladamente, já que acreditamos que sua análise só teria sentido e validade se
realizada à luz dessa visão global das circunstâncias das quais emergiram.
Para a conquista dessa visão global a que nos referimos, vale ressaltar que a
nossa presença em sala de aula se deu de forma receptiva, sem nenhum cerceamento
ou interferência que comprometesse a apreensão do processo. Nesse sentido,
poderíamos dizer, inclusive, que pensamos que o acompanhamento das situações
observadas, não afetou a dinâmica de sala de aula, nem na atitude do professor ou
dos alunos, de modo que as observações feitas refletiram, de forma bastante
aproximada, o como se deu o processo de ensino/aprendizagem de textos escritos
nessa série. O nosso contato com os sujeitos envolvidos foi o mais natural possível e
isso pode ser explicado devido à interação que mantínhamos com professor e alunos,
decorrente de nossas atividades docentes nesta escola.
Esse fato facilitou as observações das aulas de Língua Portuguesa nessa série,
de modo que se evidenciasse a ação pedagógica com a produção textual aí
desenvolvida. A naturalidade, ainda, foi mantida pela honestidade com que realizamos
a pesquisa e pelo comportamento informal que mantínhamos com o professor, não
deixando de explicitar, desde o início e sempre que solicitados, os objetivos de nossa
pesquisa.
Sendo assim, o professor estava ciente de que não estávamos ali para
simplesmente nos servimos dos dados investigados, mas, mediante os resultados da
pesquisa, estávamos dispostos a contribuir, em termos teóricos e de ação concreta,
na melhoria do ensino/aprendizagem da produção textual. O sentido de nosso estudo,
então, foi entendido como um esforço em contribuir para o benefício dessa área, que
se apresenta problemática nas escolas. O resultado de nossa análise fundamentado
na realidade concreta das situações observadas, foi informado ao professor, que
poderia contestá-lo, discuti-lo ou até acrescentar a ele novas proposições dos
aspectos relacionados à qualidade de ensino da produção textual.
Com essa distinção em mente, o professor deixou de ser apenas um mero
colaborador para a pesquisa, passando a ser um sujeito participante do conhecimento,
que se deseja, criticamente, ser construído.
Devido ao fato da não-omissão dos dados dessa pesquisa de natureza
aplicada, não só o professor, mas a escola e tantos outros educadores poderão se
valer das informações nela contidas, se julgadas viáveis e bem fundamentadas, para
refletir sobre as suas práticas na dinâmica do cotidiano escolar.
ANÁLISE DOS DADOS
Dos estudos lingüísticos, podemos depreender uma multiplicidade de fatores
que, atuando conjuntamente, estabelecem a coerência de um texto. Charolles
(1997:42) realiza um estudo da coerência, tendo em vista objetivos de natureza
pedagógica, conforme afirma: “o nosso trabalho incidirá exclusivamente sobre as
estratégias de intervenção que o professor desenvolve diante de certos textos escritos
de alunos que ele julga incoerentes.” Dado esse propósito, o autor declara que, ao
tratar da coerência, limitar-se-á a apresentar quatro meta-regras de boa formação
textual, realizando uma apreensão “geral” e “aproximativa” da questão.
A repetição
A primeira meta-regra é a da repetição. Charolles considera que, para se
assegurar a coerência de um texto, é necessário que, em seu desenvolvimento, sejam
apresentados elementos de recorrência estrita. Remete ao conhecido artigo de Bellert
(1970:336), onde a autora afirma que “a repetição constitui uma condição necessária
- embora evidentemente não suficiente - para que uma sequência seja coerente.”
Charolles cita, como recursos para realizar as repetições, as pronominalizações, as
definitivizações e as referências dêiticas contextuais, as substituições lexicais, as
recuperações pressuposicionais e as retomadas de inferência, que, segundo afirma,
“favorecem o desenvolvimento temático contínuo do enunciado, permitem um jogo,
submetido a regras, de retomadas a partir do qual se encontra estabelecido ‘um fio
textual condutor’.”(p.58).
Vejamos um fragmento de redação de aluno, demonstrado por Charolles, em
que ocorre ambigüidade referencial, resultando na malformação do texto: “Pedro e
minhairmãestavam nadando no rio. Um dia, um homem estava tomando banho; como
ele sabia nadar, ensinou para ele.” (p. 52)
A progressão
A segunda meta-regra é a da progressão. Segundo Charolles (ibid.: 58), “para
que um texto seja microestruturalmente ou macroestruturalmente coerente, é preciso
que haja no seu desenvolvimento uma contribuição semântica constantemente
renovada”. Para o autor, um texto não pode repetir indefinidamente um mesmo
assunto. Essas considerações se situam dentro da informatividade, proposta por
Beaugrande & Dressler, as quais já foram examinadas quando do estudo deste
padrão de textualidade.
Charolles mostra-nos um trecho de uma redação de aluno para exemplificar a
transgressão à meta-regra de progressão: “O ferreiro está vestido com uma calça
preta e um chapéu claro e com um paletó cinza e marrom escuro. Tem na mão a ponta
da picareta e bate em cima com um martelo, sobre a ponta da picareta. Os gestos que
fez, tem a ponta da picareta e com seu martelo bate sobre a ponta da picareta. A ponta
dessa ferramenta que se chama a ponta da picareta é pontuda e a outra ponta é
quadrada. Para tornar ela vermelha com a ponta da picareta colocou ela no fogo e as
mãos estão vermelhas.” (p.59)
A não-contradição
A terceira meta-regra é a da não-contradição, segundo a qual, no
desenvolvimento de um texto coerente, “é preciso que (...) não se introduza nenhum
elemento semântico que contradiga um conteúdo posto ou pressuposto por uma
ocorrência anterior, ou deduzível desta por inferência” (op. cit.: 61). Charolles propõe
três tipos de contradições, reconhecendo, entretanto, que se trata de um recorte
superficial. Trata-se das contradições enunciativas, das contradições inferenciais e
pressuposicionais e das contradições de mundo(s) e de representações do(s)
mundo(s).
As contradições enunciativas ocorrem quando o produtor do texto não
estabelece, adequadamente, um sistema de referência temporal e um modo de
funcionamento discursivo determinado. Por exemplo: “Antonio sai para um passeio
com o Sr.Esnobe. Chegando perto de uma árvore, nós paramos para conversar.
Francisco e Júlia querem jogar um jogo.”(p.63)
As contradições inferenciais e pressuposicionais ocorrem, segundo Charolles
(p. 64), “quando, a partir de uma proposição, pode-se deduzir outra que contradiz um
conteúdo semântico posto ou pressuposto numa proposição circundante.”
Vejamos alguns exemplos:
“Minha tia é viúva. Seu marido coleciona máquinas de costura.” (p.64)
“Pedro não tem carro. Vai vender o dele para comprar um novo.” (p.64)
“Júlio ignora que sua mulher o engana. Sua esposa lhe é completamente fiel”.
(p. 65)
As contradições de mundo(s) e de representações do(s) mundo(s) são de
natureza pragmática: dependem da imagem que os participantes do ato de
comunicação compartilham a respeito do mundo ou dos mundos de referência
instaurados pelo texto.
Assim, se julgarmos que não existe árvore nos corredores do metrô,
consideraremos a seqüência abaixo contraditória: “Oscar saiu do metrô. Estava
correndo de cabeça baixa num corredor quando bateu com toda força numa árvore.”
(p. 71)
A relação
A quarta meta-regra é a de relação. Charolles (ibid.: 76) considera que é
preciso, para assegurar a coerência de um texto, “que os fatos que se denotam no
mundo representado estejam diretamente relacionados”. Segundo ele, essa meta-
regra é também de natureza pragmática e baseia-se numa avaliação de congruência:
os fatos (ações, estados ou eventos) apresentados devem ser considerados, pelo
receptor de texto, como congruentes no mundo que representam.
Para exemplificarmos esse conceito, observemos a seqüência que Charolles
apresenta como incoerente: “Maria logo vai dar à luz portanto os cantores românticos
desagradam aos intelectuais.” Nota-se que a relação entre os fatos denotados
revelam uma incongruência. Por isso, a relação de pertinência factual, aí encerrada,
não é reconhecida como aceitável no mundo representado.
As quatro meta-regras propostas por Charolles revelam-se bastante
operacionais quando aplicadas a textos dos alunos, pois tratam de questões que, com
freqüência, por serem mal trabalhadas, ocasionam formações textuais inadequadas.
Esta proposta constitui, assim, um importante ponto de apoio para que o professor
não avalie textos de forma apenas subjetiva e impressionista. O professor poderá usá-
las, portanto, como estratégias de intervenção de textos escritos pelos alunos, que
julga incoerentes.
Para concluirmos esta parte de nosso estudo sobre os padrões de textualidade,
é oportuno dizer que acreditamos que a Lingüística Textual pode auxiliar na condução
do ensino da produção textual escrita. Seria relevante se o professor, não precisando
se ater ao domínio da nomenclatura desses fatores ou à sua definição, conseguisse
mostrar ao aluno os vários percursos de construção de sentido dos textos para que
ele soubesse usar a língua como instrumento de reflexão e ação e,
conseqüentemente, viesse a interpretar e a produzir textos com mais eficiência.
As estratégias utilizadas pelo aluno na constituição de seu texto
Os textos analisados até agora revelaram que houve um descompromisso com
as condições em que se processam a produção de um texto escrito na escola. Ao
chegarmos à análise da “escolha das estratégias”, apontaremos, então, mais uma vez,
uma apreciação negativa da prática escolar, pois, relembrando Geraldi (1995:164), a
escolha das estratégias para o desenvolvimento do texto “não se dá em abstrato. Elas
são selecionadas ou construídas em função tanto do que se tem a dizer quanto das
razões para dizer a quem se diz.”
Ora, se os textos foram escritos sem que os aspectos que privilegiam a
funcionalidade da escrita fossem considerados, ou seja, sem a preocupação em criar
situações em que o aluno tivesse assunto significativo a expor, razão para expor o
assunto, interlocutor definido e interessado em ouvi-lo e a sua participação no
processo como locutor efetivo do seu discurso, logo, as estratégias utilizadas pelo
aluno para a construção de seus textos acompanharam e se adequaram à
artificialidade do processo. Em outras palavras, os textos foram construídos mediante
modelos de discursos proferidos em razão de conteúdos escolares e modelos para a
distinção entre textos.
As formas de expressão utilizadas pelos alunos e a montagem de seus textos
demonstram a intenção consciente de eles terem se submetido aos modelos que a
escola impunha, já que o objetivo central era mostrar que sabiam escrever mediante
a solicitação feita e, ainda, satisfazendo as preferências do “leitor” de seus textos, o
professor avaliador.
Com base, pois, em seu convívio prévio com textos escolares e no
reconhecimento de que as suas estratégias de dizer deviam ser condizentes com o
autoritarismo redutor de textos que não ultrapassam os muros escolares, os alunos
fazem as suas redações preenchendo-as com fragmentos da linguagem utilizada pelo
professor ou pelos textos do livro didático. Além disso, suas redações aliam-se ao
modelo pronto a ser seguido, no que se refere ao gênero dos textos.
De um modo geral, as redações analisadas se enquadram no gênero redação
escolar. Todos os alunos, no que se refere à intencionalidade, se empenham em
construir um texto capaz de satisfazer ao gosto da professora. Pretendem, com as
frases estereotipadas e repetitivas de sua fala, mostrarem-se submissos aos seus
ensinamentos, tanto no que se refere ao radicalismo de suas ideias, quanto à forma
de se iniciar, desenvolver e concluir um texto narrativo. A imagem que têm da
professora pesou muito no momento de os textos serem produzidos. Em nenhum
texto, entretanto, a intenção mencionada aparece de forma explícita; ela se configura
no conjunto dos recursos linguísticos utilizados, nas afirmações feitas e na obediência
ao tipo do texto solicitado.
Decorrente das condições de produção, ou seja, do conjunto de elementos que
orientam a produção escrita dos alunos o desempenho escrito deles não foi
satisfatório.
Discutiremos, a seguir, mais alguns problemas observados, com relação aos
aspectos gerais para o estabelecimento da coerência textual, sem, entretanto,
pretendermos realizar uma análise mais aprofundada de tais aspectos.
De um modo geral, os textos que compõem o corpus apresentam o uso do que
Lemos (1977) chamou estratégias de preenchimento. Os alunos apresentam uma
informação e, em seguida, repetem-na com o objetivo de ocupar os espaços em
branco, apenas preenchendo as linhas do papel. O texto torna-se circular, não
caminha. É violação à meta-regra da progressão, proposta por Charolles (1997), já
mencionada neste trabalho.
Observemos alguns exemplos:
(fragmento do texto 2.7)
“Se vocês voltassem não ia precisar de vocês ficarem com medo de nada se
voces voltassem ia ser muito bom para todos nós, e para seus amigos também eles
iam adorar sevocês voltarem.”
(fragmento do texto 2.10)
“Agora que estou sozinho sinto falta de vocês. (...) meus irmãos eu estou
sentindo muitafalta de voceis é muito bom ficar em casa para nós sair e muito divertido
ficar em casa vocês não deviam ter fugido de casa eu estou sentindo muita falta de
voceis.”
(fragmento do texto 2.3)
“Eu te pesso que volta para casa eu sinto muito sua falta e te emploro volte
para casa sentímos muito sua falta é muito grande.”
( texto 2.8)
Saldade
“Hoje está chovendo e eu estou aqui em casa sozinha pensando como seria
bom se vocês, estivesse aqui comigo. Agora que estou sozinha sinto muita falta de
vocês. Volta! Mamãe e papai estão sentindo muito a falta de vocês, volta por favor eu
e a nossa família está morrendo de saudade de vocês.”
(fragmento do texto 2.2)
“O meu primeiro irmão querido eu fiquei com muito feliz de meu primeiro irmão
querido (...)”
(fragmento do texto 6.19)
“Era um belo dia todos estavam felizes. A formiga trabalhando a cigarra
cantando. A formiga trabalhava o verão inteiro. Quando a cigarra cantava.”
(fragmento do texto 6.1)
“Era umavêz. No verão que a cigara so fica cantando e a formiga ficava
trabalhando todos os dias e a sigarra só ficava cantamdo.”
(fragmento do texto 6.3)
“Era uma vez a formiga estava trabalhando a ciga-rra cantando. A formiga
estava trabalhando de casa, e a cigarra estava cantando e depois a cigarra foi na casa
da formiga (...)”
(fragmento do texto 6.5)
“Era uma vez a formiga estava trabalhando contente quando a formiga viu a
cigara ficou cantando e a formiga olvindo a cigarra cantar. E a formiga parou de
trabalhar para ouvir a cigarra cantar e alegremente formiga começou a trab alhar
(...)”
(fragmento do texto 5.4)
“Certo dia, eu andando na Rua dudo cujo vendo crianças tordas linpas só eu
sujo eu estava com muita fome e não tinha o que (comer) comer (...) eu estava
querendo entra para bricar mais eu estava muito (ju) sujo eu estava com muita fome
não tinha o que comer (...) eu com muita fome comia restos de lanches.”
(fragmento do texto 5.6)
“Eu queria estudar, mas eu não posso, porque eu tenho que trabalhar. Hoje
neste dia era para mim esta estudando mas eu tenho que trabalhar para se sustentar.”
Ocorre nessas passagens, usando as palavras de Charolles (op. cit.:59), uma
“flagrante circularidade do discurso”, devido ao fato de os alunos repetirem
excessivamene as mesmas informações e, com isso, não fazerem os textos
progredirem semanticamente. Nesse sentido, observamos que os alunos não estavam
seguros e preparados para a tarefa que lhes foi exigida, visto que esses alunos
produziram textos com baixo grau de informatividade.
Outro problema evidenciado, com alta ocorrência, na maioria dos textos
analisados, diz respeito à falha na meta-regra da repetição (op. cit.), tanto no plano
conceitual como no plano lingüístico. No primeiro, a falha se manifesta pela não
retomada de conceitos e idéias na seqüência do texto, tendo como resultado um texto
em que se misturam diversos assuntos, não contendo, portanto, um desenvolvimento
homogêneo e contínuo em que se perceba a sua unidade, a sua coerência. No
segundo, a falha se manifesta pelo mau uso de mecanismos de coesão que “permitem
ligar uma frase (ou uma seqüência) a uma outra que se encontra no seu contexto
imediato.”
À guisa de ilustração, citaremos um texto em que ambos os planos, conceitual
e lingüístico, possuem problemas no requisito repetição, afetando, portanto, a sua
coerência.
(texto 4.7)
O Caçador
Certo dia estava me preparando para uma grande caçada e levei uma jaula
para prender a onça. levei um facão. Ao chegar na mata encontrei muito mato tive que
ir cortando o mato. Fiquei esperando a chegada da onça. O filhote de onça miava e
os rastros era grandes. Foi muito emocionante. Eu vi uma onça muito feroz com o seu
filhote. A onça era pintada , grande. Eu senti muito medo. Eu pensei que ela eria me
comer de tão grande que ela era. Eu falei que ela eria ficar dentro da jaula.Eu coloquei
ela na jaula e levei ela embora.
Vejamos a análise dessa redação.
Analisando o plano conceitual desse texto, percebemos claramente uma
fragmentação na seqüência das ações e idéias arroladas nele. Como se vê, o texto
se constitui de uma simples somatória de frases, que, à primeira leitura, exige do leitor
um certo esforço para relacionar os fatos entre si. Muitas frases, que compõem os
diversos parágrafos, não mantêm continuidade com a idéiaexposta anteriormente. No
terceiro parágrafo, por exemplo, o aluno diz: “Fiquei esperando a chegada da onça.”;
no quarto, ele diz que “O filhote de onça miava e os rastros era grandes.” Vemos , aí,
uma descontinuidade das idéiasentre uma frase e outra, afetada pela má estruturação
na superfície textual. Isso se deve ao mau uso da preposição “de” em “o filhote de
onça miava”, além da falta de compreensão da expressão “e os rastros era grandes”,
já que não sabemos de quem são esses rastos, se do filhote ou da onça que foi
apresentada na frase anterior. Na seqüência dos parágrafos, o aluno revela que viu
“uma onça muito feroz com o seu filhote”, não estabelecendo, novamente, a retomada
das idéias anteriores. Em seguida, no penúltimo parágrafo, ele diz: “eu falei que ela
eria ficar dentro da jaula”. Falou para quem? Para ele mesmo? E por que disse isso,
se, no parágrafo seguinte, ele relata que colocou a onça na jaula e a levou embora?
Em várias partes do texto verifica-se que os elementos que percorrem o seu
desenvolvimento não lhe conferem uma unidade global. No entanto, as falhas
apontadas podem ser explicadas levando-se em conta o fato de se pedir ao aluno
para orientar a seqüência de seu texto por meio do roteiro apresentado. Todas as
informações apresentadas, então, ganham relevância ao se saber que são respostas
ao roteiro. Porém, a estratégia utilizada pelo aluno, de responder às questões, não foi
eficiente, visto que um texto não é um amontoado de frases, em que não se
estabelecem conexões semânticas entre as partes para se formar um todo.
Com relação ao plano lingüístico, o aluno utiliza um conjunto de orações sem
fazer uso da variedade de recursos coesivos entre os parágrafos. A ocorrência do
pronome pessoal do caso reto “Eu”, assinalado pela professora, é exaustiva, tornando
o texto cansativo.
No parágrafo introdutório, ocorre uma sensação de quebra na sequência
informativa devido à organização, em separado, dos instrumentos que seriam levados
na caçada. Eles poderiam ser agrupados na seqüência linear do texto, assim: “e levei
um facão e uma jaula para prender a onça.”
No parágrafo seguinte o aluno repete duas vezes a palavra “mato” e emprega,
também, a palavra “mata”. Poderia ter utilizado um pronome para retomar o termo
anterior. Além disso, não há junção entre as frases “encontrei muito mato” “tive que ir
cortando o mato”. A seqüência poderia ser : “Ao chegar na mata, encontrei muito mato
e tive que cortá-lo”.
No nono parágrafo, o pronome pessoal “ela” que retoma o termo “onça”, foi
usado duas vezes sendo que, o segundo, poderia ser omitido, sem que prejudicasse
o sentido da seqüência: “Eu pensei que ela iria me comer de tão grande que* era.” Há
excessos de repetições do pronome ela, também, no último parágrafo. Achamos que
seria conveniente reestruturar o texto como um todo, chamando a atenção dos alunos
para outras formas de organizá-lo para que sua continuidade fosse mantida.
A incidência do mau uso de repetições nos textos é muito ampla. Vejamos mais
alguns exemplos:
-“eu estava se preparando”;
- “nós ficamos esperando a onça aparecer e não apareceu a onça”;
- “Eu e Pedrinho nós acordamos cedo ...”;
- “eu deci da árvore e ponhei a mãoem um dos rastos, e os rastos estava fresco
e armei a rede ali e fiquei (...)”;
- “Eu queria que na escola todas as pessoas fossem legais e simpaticos e
simpaticas pois eles e elas são muito chatos ...”;
- “e quandos nos pequenos compramosbrinquedo os grandes pegavam de nos
e nos ficamos sem”;
- “a comida deles era tão gostosa queu entrei para pedir um pouco de comida
(...) e a comida era tão gostosa”;
- “os nossos amigos, me pergunta que dia você vem ele está com muita falta e
saldade de vocês.”
A fim de não sermos muito cansativos, encerramos por aqui a enumeração das
falhas cometidas quanto ao emprego dos elementos coesivos. Cabe mencionar,
porém, que, embora os desvios sejam inúmeros, a principal falha refere-se ao abusivo
emprego do pronome pessoal do caso reto “eu” e da conjunção aditiva “e”.
Outro problema, bastante freqüente, percebido nas redações foi a impertinência
das relações entre os fatos apresentados. Trata-se de um requisito de coerência a
que Charolles chama relação (1997). Examinemos alguns textos em que o
nãocumprimento dessa condição de coerência afeta todo o conjunto:
(fragmento do texto 5.15)
“(...) quando vi uma menina comendo fiquei com muita vontade de comer.
Quando vi outra pessoa se trocando para ir para a escola, pensei: que vontade de ter
um brinquedo diferente.”
No fragmento acima há uma descontinuidade de raciocínio, manifestada pela
impossibilidadede relacionarmos a idéia de o desejo de ter um brinquedo diferente ter
sido provocado pelo fato de ver uma pessoa se trocando para ir à escola. Uma idéia
não se relaciona à outra.
(fragmento do texto 2.10)
“(...) é muitobom ficar em casa para nós sair e muito divertido ficar em casa(...)”
Ocorre, nesse fragmento uma desconexão na estrutura conceitual, que provoca
incompreensão na relação entre as idéias que se pretende estabelecer. Seria
necessário reestruturar o segmento para estabelecer a correlação entre as idéias e
sanar a contradição aí existente.
(fragmento do texto 2.2)
“Meu 1º irmão querido eu fiquei com muito feliz de meu 1º irmão querido que
bom você feio a minha casa (...)”
O conteúdo desse enunciado não é, por nós, aceitável, uma vez que não nos
remete a uma precisão nos conceitos denotados. Podemos reconstituir o raciocínio
do aluno se pensarmos que o 1º irmão querido é o seu irmão mais novo e o primeiro
nascido dentre os irmãos, portanto o mais velho dentre eles. No entanto, não é
convencional empregarmos essa expressão e a estrutura da sentença é confusa,
devendo ser refeita para se tornar mais clara.
Para encerrar este tópico, temos de apontar, ainda, a utilização de estratégias
da modalidade oral, na escrita dos textos. Não sendo alertados para a diferença entre
a modalidade oral e escrita, os alunos não percebem quais os recursos expressivos
coerentes a uma e outra e abusam das estratégias do dizer em seus textos escritos.
Anteriormente, apontamos alguns textos em que os alunos escrevem sem
atentar ao uso dos sinais de pontuação e, esse fator, indica-nos que o aluno
pressupõe que a pontuação já vem marcada no que ele diz/escreve, isto é, imagina
que a pontuação está implícita em sua fala, e, assim, simplesmente escreve como se
estivesse se manifestando oralmente. Outra marca da linguagem oral, presente nos
textos, são as excessivas repetições, as quais foram examinadas quando
discorremos sobra a falta de progressão nos textos.
Se consideramos, ainda, a especificidade da escrita, em relação à norma culta,
temos graves problemas de concordância, que geralmente ocorrem na modalidade
oral: “animais desconhecido”, “a minhas pernas começaro a tremer”, “os moradores
acordava”, “a formiga e a cigarra se odiava”, “os meus pais não pode ver”, “quem sabe
nosso pais volta a siteder...”, “e eles disse”, “nossas briga”, “e eles ficaram feliz para
sempre”, “uns gral de feijão”, “vocês estão erado”, “se vocês estivesse aqui”, “vocês
faz falta aqui”, “que vocês esteja aqui para nós brincar e paciar”, “o nossos avós
morreu”, “eu e a nossa família está morrendo...”, “para nós sair”, “para esses político
para eles quando vim pedir voto...”, “todos filho de rico tinha da queles brinquedo
importado”, etc.
Verifiquemos, agora, a predominância do advérbio de lugar “lá” não
estabelecendo coesão entre as partes que se interligam umas às outras. O termo não
se remete a um lugar específico, é um recurso que só poderia ser entendido na fala.
(fragmento do texto 6. 11)
“(...) então a formiga foi dormir só que não tinha jeito a cigarra não tinha parado
e a formiga foi lá conversar com a cigarra por que não jeito de dormir então foi e
conversarão muito (...)”
(fragmento do texto 6.16)
“Certo dia a cigarra viu a formiga trabalhando e sentiu vontade de trabalhar
também e foi lá pedir emprego para a formiga (...)” Ocorre, também, o uso do recurso
lingüístico “aí”, predominante da fala, para fazer o texto progredir.
(fragmento do texto 4.4)
“Ai eu comesei a cavocar terminei de cavocar ai coloquei folhas de bananeiras
(...) (...) Ai ela foi enbora eu segui ela foi para casa dela eu vi os filhos dela ai que eu
percibi (...)”
Muitas outras inadequações, provenientes do emprego de recursos usados na
linguagem oral foram encontradas. Limitar-nos-emos a apresentar, agora, somente os
enganos cometidos com relação à ortografia. Seria oportuno analisarmos essas
inadequações frente ao sistema de escrita do português, baseando-nos, por exemplo,
em Cagliari (1991), que bem evidencia o porquê de os alunos cometerem os tipos de
erros ortográficos que serão apresentados. Porém, não o faremos para que não
extrapolemos a limitação dada a esse trabalho. Fica, aqui, a sugestão para pesquisas
vindouras, tendo em vista que mesmo numa quinta série do ensino fundamental há a
tendência de se considerar a escrita um espelho da fala.
Vamos a eles: fiotes (filhotes), voutol (voltou), vamo (vamos), si (se), enconto
(enquanto), o se (ou se), ispingarda (espingarda), se passaro (se passaram),
outravez (outra vez), discançar (descançar), tempresta (te emprestar), medar (me
dar), devouta (de volta), ajaula (a jaula), condo (quando), armadilia (armadilha),
encorer ((em correr), olei (olhei), eu vove (eu vou ver), taveno (está vendo), ropa
(roupa), começaro (começaram), entra (entrar), dê veis equando (de vez em
quando), alá (olha lá), emfrente (em frente), rrasgada (rasgada), famílhas (famílias)
famílhia (família), iscada (escada), compri (cumprir), diverdade (de verdade),
vergoinha (vergonha), petia (pedia), andarino (andarilho), crecer (crescer), pisina
(piscina), focê (fosse), feio (veio).
Encerremos aqui a análise dos textos dos alunos, lembrando que não a
exploramos em sua amplitude, ela poderia ser estendida, já que não esgotamos a
integridade deficitária dos textos. Lembramos, ainda, que o estudo das redações que
aqui foi feito se prendeu à análise das condições de produção desses textos. Nossa
preocupação esteve voltada para a identificação dos problemas existentes, com a
finalidade de tentar compreender as reais dificuldades que os alunos apresentam em
seus textos escritos em decorrência da exclusão das condições de produção.
Em razão do que foi apresentado, temos a dizer que o fato de a professora não
observar as condições necessárias para a produção de um texto e o fato de não
possibilitar releituras, revisão e reestruturação dos textos afetou, de forma negativa, o
desempenho comunicativo escrito dos alunos. Todas as falhas apontadas nesta parte
do estudo poderiam ser sanadas através da intervenção da professora. Se não
sanadas, pelo menos amenizadas, se ao aluno fosse facultada não somente a
ampliação da apropriação dos diversos recursos expressivos da língua quando da
escrita de um texto, mas também a reflexão sobre a linguagem.
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PROBLEMAS DE COERÊNCIA EM REDAÇÕES DE ALUNOS

  • 1. PROBLEMAS DE COERÊNCIA EM PRODUÇÕES ESCRITAS: AS META-REGRAS DE CHALLORES1 INTRODUÇÃO É sabido, pelos resultados dos exames de larga escala, a exemplo do SAEB e Prova Brasil, entre outros, que os índices de proficiência em leitura e escrita dos alunos da educação básica no Ceará estão abaixo da média nacional e, consequentemente, abaixo do que seria ideal aos referidos alunos. As dificuldades apresentadas por esses alunos da educação básica variam desde a não compreensão dos conceitos básicos apresentados pelos autores dos textos lidos, até a produção de textos, que se apresentam desconexos, sem coesão entre os parágrafos e sem coerência com a temática discutida. Faz-se necessário ressaltar que, embora o ato de ler e escrever, em qualquer nível de ensino, não seja tarefa fácil, é ensinável. E a forma mais adequada de se ensinar a ler e a escrever é lendo e escrevendo verdadeiramente, a partir do uso situado da leitura e da escrita. O uso situado da escrita, leva o aluno a encontrar motivação para escrever e a planejar sua escrita, sabendo o que vai escrever, para que e para quem. Nessa perspectiva, cabe à escola instrumentalizar seus alunos para que tenham condições de exercitar a escrita com objetivo definido, atendendo necessidades de comunicação. Só assim, o aluno se prepara para escrever dentro e fora da escola, tornando-se, consequentemente, um sujeito mais letrado. A ampliação da capacidade de uso situado da escrita se dá, na escola, em qualquer nível de ensino, a partir do desenvolvimento de atividades de escrita significativas, nas quais os alunos identifiquem claramente a esfera de comunicação, onde o ato de escrever está situado e, também, os seus propósitos de comunicação estão definidos. Assim, neste estudo, pretendemos analisar problemas de coerência em textos de alunos do 8º ano de uma escola pública municipal. A base teórica que dará suporte 1 Artigo para fins de estudo pessoal e futuras pesquisas. Material ainda em confecção da pesquisadora desde 2014.
  • 2. à esta pesquisa são os estudos de Kleiman, Koch, Costa Val, Guimarães, Pécora, Favéro, Fiorin, Savioli e Challores, dentre outros. Alguns dados de pesquisas sobre esse tema e na observação corrente, podemos dizer que o trabalho com a produção de textos encontra-se problemático em nossas escolas. As constantes pesquisas, cujos resultados são apresentados em congressos, cursos, seminários e publicações de inúmeros livros, indubitavelmente, mostram o fracasso escolar nessa área. Estampa-se, nesse fracasso, o resultado, conhecido de todos, o baixo nível de escrita coerente nessas redações do vestibular, ora pelo item fuga total ao tema proposto, ora pela incoerência e insuficiência de dados das declarações apresentadas. Pécora (1999, p. 76-77) já mostrava que o fracasso na produção textual se dá pela “superficialidade de conhecimentos, alusões a fatos não caracterizados, imprecisão de alguns conceitos e recurso a noções confusas, carentes de especificidade semântica”. Evidencia-se, também, nesse contexto, conforme Ferreiro (2001, p. 18), a “grande inibição que os jovens (...) apresentam com respeito à língua escrita: evitam escrever, tanto por medo de cometer erros de ortografia como pela dificuldade de dizer por escrito o que são capazes de dizer oralmente”. Constatamos, então, que, após a permanência por anos a fio na escola, nossos alunos possuem má qualidade nas comunicações escritas, o que torna distante um grande objetivo a ser atingido pela escola no ensino de língua materna: o domínio real da linguagem escrita, evidenciado por sujeitos que saibam usá-la nos diversos contextos sociais para interagir com os outros. Para muitos professores de língua materna, que logicamente percebem essa contradição, o problema de o aluno não saber produzir um texto escrito é decorrente do próprio aluno, sendo ele, geralmente, o maior culpado para que a problemática exista. Subsidiadas a essas explicações, é comum ouvirmos, ainda, opiniões de professores que falam da falta de interesse, da incapacidade de pensamento e de expressão com sentido, até preguiça mental. Por outro lado, várias são as obras que tematizam o fracasso no ensino aprendizagem de língua configurando uma situação de caos com relação ao direcionamento da produção de texto na escola. Na discussão sobre a dificuldade de os alunos se manifestarem por escrito, Costa Val (2006, p. 26), coloca que a orientação escolar é falha, pois: (...) durante o período escolar, se alia a artificialidade
  • 3. das condições mais frequentes de produção de redação (escrever sem se preparar, sobre um tema imposto, para um recebedor indesejado que não será leitor, mas juiz, dentro de um prazo curto e predeterminado, sem possibilidade de revisão e reelaboração do próprio texto). O resultado, segundo Val (2006) é uma concepção errônea, inadequada, do próprio ato de escrever. Norteados pela hipótese de que, na realidade, o desempenho escrito do discente retrata, de modo significativo, a imagem real do processo escolar a que ele foi submetido, inserindo-se, aí, a ênfase que a escola dá ao ensino da produção de textos, contornos mais amplos, que ultrapassam a simples constatação do fracasso, ganham relevância. Emerge desse contexto problemático a necessidade de analisarmos também como ocorre o processo de ensino/aprendizagem da produção de textos escritos propiciada pela escola para que possamos aprofundar o conhecimento das causas que não têm assegurado aos alunos da escola pública o manejo eficiente do código linguístico na sua apresentação formal. Para pesquisar esse assunto, então, elegemos um 8º (oitavo) ano do ensino fundamental, como lugar de interesse para focalizar o objetivo geral deste estudo: analisar os problemas de coerência na produção textual nessa série, refletindo sobre a posição do professor em relação ao desempenho comunicativo escrito dos alunos. Partimos na hipótese que a qualidade das experiências com a produção de textos que o aluno experimenta na escola exerce um papel preponderante na formação de seu desempenho comunicativo escrito, interferindo, negativa ou positivamente, em sua aprendizagem. CAPÍTULO 1. PRODUÇÃO ESCRITA: TEXTO E TEXTUALIDADE
  • 4. O objetivo geral do ensino da produção escrita é proporcionar aos estudantes o desenvolvimento da capacidadede produzir textos de gêneros diversos. No entanto, a escola só conseguirá cumprir esse objetivo quando desenvolver uma prática de produção textual contextualizada, que apresente significação ao ato de escrever. O processo de produção de textos escritos exige habilidades relacionadas à utilização dos componentes constituintes do texto, como coerência e coesão na organização das ideias ou do conteúdo do texto, adequação da estrutura do texto aos seus propósitos comunicativos e aos seus destinatários etc. A coerência está relacionada à unidade de sentido que se estabelece entre as partes do texto; está ligada ao entendimento, à possibilidade de interpretação daquilo que se ouve ou se lê. Já a coesão está relacionada à conexão existente entre as ideias, as frases e parágrafos do texto, através de elementos formais de conexão que indicam o vínculo entre as unidades de sentido do texto. Dessa forma, podemos dizer que a escrita não é um processo natural, que se aprende a escrever apenas pela imersão? Este é um processo que deve ser ensinado desde cedo na escola, uma vez que a escrita, tanto na escola quanto em outros contextos de produção, realiza-se por uma necessidade, orienta-se por algum objetivo, assume uma função e é realizada para alguém. Para se ensinar a produzir textos escritos faz-se necessário o planejamento, onde se define os elementos indispensáveis desta produção: a) por que e para que escrever; b) o que escrever; c) para quem escrever; d) como e onde escrever. A definição prévia destes elementos determinará, inevitavelmente, o gênero a ser escrito e o suporte onde ele será difundido. Conforme Costa Val (2006, p. 41), saber escrever é também saber usar a variedade linguística adequada ao gênero de texto que se está produzindo, aos objetivos que se quer cumprir com o texto, aos conhecimentos e interesses dos leitores previstos, ao suporte em que o texto vai ser difundido, fazendo escolhas adequadas quanto ao vocabulário e à gramática. Portanto, é preciso ensinar aos estudantes a planejarem seus textos colocando-os em situações reais de produção, de modo que possam associar o
  • 5. domínio do sistema de escrita à necessidade de produzir, na perspectiva de atender a propósitos comunicativos bem definidos e reais. Assim sendo, concordamos com Marcuschi (2003, p.35), quando afirma que [...] o trabalho com gêneros textuais é uma extraordinária oportunidade de se lidar com a língua em seus mais diversos usos autênticos no dia-a-dia. Pois nada do que fizermos linguisticamente estará fora de ser feito em algum gênero. Assim, tudo o que fizermos linguisticamente pode ser tratado em um ou outro gênero. Isto posto, podemos afirmar que para formar escritores proficientes na escola faz-se necessário apostar no desenvolvimento tanto da capacidade de compreender e valorizar o uso da escrita em diferentes gêneros textuais, quanto no desenvolvimento da capacidade de produzir textos escritos de gêneros diversos, adequados aos objetivos, ao destinatário e ao contexto de circulação. Assim sendo, podemos citar algumas atividades que contribuem para o desenvolvimento das referidas capacidades: - Dispor, ordenar e organizar o próprio texto de acordo com as convenções gráficas apropriadas; - Planejar a escrita do texto considerando o tema central e seus desdobramentos; - Organizar os próprios textos segundo os padrões de composição usuais na sociedade; - Usar a variedade linguística apropriada à situação de produção e de circulação, fazendo escolhas adequadas quanto ao vocabulário e à gramática; - Usar recursos expressivos (estilísticos e literários) adequados ao gênero e aos objetivos do texto; - Revisar e reelaborar a própria escrita, segundo critérios adequados aos objetivos, ao destinatário e ao contexto de circulação previstos. 1.2 Texto e textualidade O planejamento do texto consiste em preparar os elementos que vão nortear a escrita propriamente. Deve se observar o público alvo, porque esse é que vai
  • 6. determinar o grau de formalidade, a interação sócio-comunicativa, na escrita do texto propiciamente. Para se planejar um texto, deve-se ter em mente: Quais os objetivos do texto; Qual é o assunto em linhas gerais; Qual o gênero mais adequado aos objetivos; Quem provavelmente vai ler; Que nível de linguagem deve ser utilizado; Que grau de subjetividade ou de impessoalidade deve ser atingido; Quais as condições práticas de produção: tempo, apresentação, formato. (GARCEZ, 2001, p.15) Destarte, nota-se que para criar um texto é preciso esquematizar o que se pretende dizer e/ou escrever, e para que haja um bom planejamento, deve-se ter um pré-conhecimento sobre o assunto a ser abordado, para que assim se torne possível organizar as ideias de forma lógica. Um conhecimento prévio sobre o assunto tende a facilitar na hora do planejamento, exposição e organização do corpo textual, ou seja, ele vem a subsidiar a produção, evitando que haja discrepâncias de ideias no decorrer do texto. Por isso, deve-se previamente atentar a detalhes como o objetivo que o texto pretende, porque é através dele que se construirá todo o corpo do texto. Faz-se necessário também a escolha do gênero que melhor se adequará ao objetivo, ou seja, que irá auxiliar também na produção. E como é de práxis, sempre que algo é escrito pressupõe-se que será lido por alguém, a partir disso deve-se observar para qual tipo de leitor o texto está sendo gerado, a fim de poder moldá-lo com uma linguagem adequada ao nível cognitivo do leitor, e também, aderir a um posicionamento mais subjetivo ou impessoal. Ao se levar em conta cada item do planejamento é pertinente afirmar que todos eles são dependentes, estão encadeados, ou seja, um vai necessitar do outro para que a elaboração tenha uma consistência lógica e igual em todo o texto. Garcez (2001, p. 17) também trabalha algumas considerações sobre o ato de escrever de forma a facilitar no planejamento e na produção do texto. São elas: fazer uma lista de palavras-chave; anotar tudo o que vem à mente, desordenadamente, para depois cortar e ordenar; escrever a ideia principal e as secundárias em frases isoladas para depois interligá-las; construir um primeiro parágrafo para desbloquear e depois ir desenvolvendo as ideias ali expostas.
  • 7. Desse modo, pode-se afirmar que construir um texto sem um planejamento é estar fadado a cometer erros e consequentemente ter que efetuar correções, pois o mesmo irá ajudar principalmente a manter a lógica do texto, evitando contradições, ou seja, mantendo coerência e promovendo conectivos que auxiliem na coesão. Portanto, escrever de forma aleatória sem um planejamento prévio é trabalhar duas vezes. 1.2.1 Texto Para melhor entendermos o fenômeno das produções escritas e orais se faz necessário, inicialmente, dividir os textos em orais e escritos. O texto ou discurso é uma ocorrência linguística falada ou escrita de certa extensão, dotada de unidade sócio comunicativa semântica e formal. Seus constituintes linguísticos devem se mostrar reconhecivelmente integrados, se modo a permitir que ele seja percebido como um todo coeso. Segundo Benntes (2001), o texto precisa apresentar os aspectos a seguir: a) Unidade de sentido; b) Dialogismo; c) Delimitação espaço e temporal; d) Historicidade; e) Contextualidade; f) Aspectos formais da língua. Na perspectiva destes aspectos, Benntes (2001, p. 154) trabalha o conceito de texto sobre duas fases distintas de estudo. Uma estuda os trabalhos dos períodos da “análise transfrásica” e da “elaboração de gramáticas textuais” em que se acreditava que as propriedades que definiam um texto estariam expressas, principalmente, na forma de organização de material linguístico. Dessa forma, para ele, existiriam textos e não-textos, onde a primeira seria formada por sequências linguísticas coerentes entre si e a segunda por sequências linguísticas incoerentes em si. Outra, as condições de produção e de recepção dos textos é entendida não mais como uma estrutura acabada, mas como parte de atividades mais globais de comunicação. Para Koch (1997, p. 21), “trata-se de tentar compreender o texto no seu
  • 8. próprio processamento de planejamento, verbalização e construção”. Podemos dizer com Duarte (2003, p. 76) que: Quando usam a língua, os falantes não produzem palavras ou frases isoladas, desligadas umas das outras e do contexto situacional e discursivo. Pelo contrário, tanto os produtos resultantes de uso primário da língua na situação básica da conversa como os que resultam do uso da língua escrita em situações não pessoais, tanto os produtos de um só locutor como os que resultam da atividade colaborativa de vários falantes são objetos dotados de sentido e de unidade, ou seja, são produtos coesos internamente e coerentes com o mundo relativamente ao qual devem ser interpretados. A tais produtos chamam-se textos. Dessa forma, para que seja realizada com sucesso a comunicação, um texto precisa estar de acordo com a situação geral em que vai ocorrer: quem são os interlocutores, qual a relação social entre eles, em que local acontece etc. Segundo Benntes (2001, p. 254-255) o conceito de texto deve levar em conta que: - A produção textual é uma atividade verbal, isto é, os falantes ao produzirem um texto, estão praticando ações, atos de fala. Sempre que se interage por meio da língua, ocorre a produção de enunciados dotados de certa força, que irão produzir no interlocutor determinado(s) efeito(s), ainda que não seja(m) aquele(s) que o locutor tinha na mira. - A produção textual é uma atividade verbal consciente, isto é, trata-se de uma atividade intencional, por meio da qual o falante dará a entender seus propósitos, sempre levando em conta as condições em que tal atividade é produzida. Nessa concepção, o sujeito falante possui um papel ativo na mobilização de certos tipos de conhecimentos, de elementos linguísticos, de fatores pragmáticos e interacionais, ao produzir um texto. O sujeito sabe o que faz, como faz e com que propósito faz; - A produção textual é uma atividade interacional, ou seja, os interlocutores estão obrigatoriamente e de diversas maneira, envolvidos nos processos de compreensão de um texto. Ainda segundo Benntes, (2001, p. 256), “Um texto sempre será constituído de uma multiplicidade de significações, tudo dependendo de diversos fatores, entre eles,
  • 9. a intenção de quem produz e, da parte do leitor ou destinatário, a disponibilidade de aceitar aquilo que é dito”. Citamos abaixo alguns conceitos de autores renomados: Um texto é o resultado de ato de comunicação produzido por um sujeito numa situação contratual de troca social, daí ele se caracterizar pelas propriedades gerais de todo fato linguageiro (“fait langagier”), a saber sua materialidade significante (oral, escrito, mímico gestual e icônico) organizada em sistemas, suas regras de formação e de construção linguística (morfologia, sintaxe, tanto no verbal, no gestual, como no icônico), seus procedimentos de organização discursiva. (CHARAUDEAU, 1997, p. 89) Pelo fato de ser produzido numa situação contratual, o texto depende, para a sua significação, daquilo que caracteriza uma situação, a saber: uma finalidade enunciativa, uma identidade dos parceiros de troca, um propósito (tema) como conteúdo tema tico da troca, um dispositivo particular como circunstâncias materiais da troca. Pelo fato de que tem por origem um sujeito, esse texto se apresenta, ao mesmo tempo, com as propriedades da situação que sobre determinam em parte o sujeito e com as propriedades singulares do fato da intervenção individual desse sujeito. Todo componente verbalmente enunciado de um ato de comunicação pertinente a um jogo de atuação comunicativa, caracterizado por uma orientação temática e cumprindo uma função comunicativa identificável, isto é, realizando um potencial elocutório determinado. (SCHIMIDT, 1978, p. 43). É preciso, pois pensar o texto como lugar de constituição e de interação de sujeitos sociais, como evento, portanto, em que, conforme Beaugrande (1997, p. 90) convergem ações linguísticas, cognitivas e sociais, ações por meios das quais se constroem interativamente os objetos-de-discurso e as múltiplas propostas de sentidos, com função de escolhas operadas pelos co-enunciadores entre as inumeráveis possibilidadesde organização textual que cada língua lhes oferece; como um construto histórico e social, extremamente complexo e multifacetado, cujos segredos é preciso desvendar para compreender melhor esse “milagre” que se repete a cada nova interlocução – a interação pela linguagem, linguagem que, como dizia Carlos Franchi, é atividade constitutiva. (KOCH, 2003, p. 87).
  • 10. Assim, entendemos que o texto é um produto da atividade discursiva. Em um texto circulam, interagem e se integram informações várias, explícitas ou implícitas evidentes por si mesmas ou dependentes de interpretação. 1.2.2 Aspectos da textualidade É importante destacar que os textos devem conter os fatores de textualidade para que sejam compreendidos pelos interlocutores. Para Costa Val (2006, p. 25), “chama-se textualidade ao conjunto de características que fazem com que um texto seja um texto e não apenas uma sequência de frases”. Esclarece que a textualidade é fundamental para a relação coerente entre as ideias. Beaugrande e Dressler (1983) apontam sete fatores responsáveis pela textualidade de um discurso qualquer: a coerência e a coesão, que se relacionam com o material conceitual e linguístico do texto, e a intencionalidade, a informatividade, a aceitabilidade, a situacionalidade, a Informatividade e a intertextualidade, que têm a ver com os fatores pragmáticos envolvidos no processo sociocomunicativo. Coerência – por ser responsável pelo sentido do texto é considerada fator fundamental da textualidade. Abrange não só os aspectos lógicos e semânticos, mas também os cognitivos. Dessa forma a coerência é um fenômeno que está ligado à interpretação do texto por parte do interlocutor, ou seja, está ligado diretamente á interlocução. Coesão – responsável pela unidade formal do texto. Constrói-se através de mecanismos gramaticais e lexicais. É decorrente da coerência de um texto. Intencionalidade – está ligada diretamente à intenção do locutor em construir um discurso coerente numa determinada situação comunicativa. Está relacionado aos protagonistas do ato de comunicação. Aceitabilidade – esta, por sua vez, está ligada diretamente à expectativa do interlocutor ao que vai ser apreendido. Ou seja, se o texto é coerente, coeso, aceitável. Situacionalidade - responsável pela pertinência e relevância de um texto quanto ao contexto em que ocorre. É a adequação do texto quanto à situação sócio comunicativa.
  • 11. Informatividade – Diz respeito à medida na qual as ocorrências de um texto são esperadas, ou não, conhecidas, ou não, no plano conceitual e no formal. Intertextualidade – essa, “diz respeito aos modos como a produção e recepção de um texto dependem do conhecimento que se tenha de outros textos com os quais ele, de alguma forma, se relaciona”. (KOCH, 2000, p. 94). Costa Val (2006) retoma os sete critérios de textualidade, apontados por Beaugrande e Dressler, dois centrados no texto: a coesão e a coerência; e cinco centrados no usuário, a saber: Coesão: elementos linguísticos presentes no texto. Se não existirem no texto, este não perderá o sentido, desde que saibamos do que se está tratando. Coerência: é essencial no texto, pois se não houver coerência, não haverá aceitabilidade por parte do interlocutor, inexistindo o que se pode considerar texto. Situacionalidade: a situação vai informar o que é e o que não é dentro do texto. Informatividade: informações contidas no texto. Intencionalidade: é um critério pragmático, o que o locutor precisa ter para atribuir um sentido para o seu texto. Aceitabilidade: o interlocutor precisa possuir para que o texto tenha sentido para ele. Intertextualidade: é a junção de vários textos num só texto. (COSTA VAL, 2006, p. 26). Como podemos observar nos itens anteriores, dificilmente se deixou de referenciar os termos coesão e coerência. No item seguinte, o enfoque será específico a estes termos, como forma de melhor interação do assunto. 1.3 O processo da coesão e da coerência textuais A coesão e a coerência constituem dois fatores importantes da textualidade. O conhecimento das questões de coesão e coerência textuais permite que se olhe um texto sob uma ótica diferente, pois não basta que se escreva um conjunto de sentenças ou parágrafos com ortografia e pontuação adequadas. É preciso que se “amarrem” os parágrafos e as sentenças, fazendo do texto um todo semântico que “diga algo a alguém”, isto é, tenha significado. A coesão, segundo Koch (1997, p. 34-41), pode ser descrita como “o fenômeno que diz respeito ao modo como os elementos linguísticos presentes na superfície textual encontram-se interligados, por meio de recursos também linguísticos,
  • 12. formando sequências veiculadoras de sentido”. A coerência diz respeito ao modo como os elementos subjacentes à superfície textual vêm a constituir, na mente dos interlocutores, uma configuração veiculadora de sentidos. A relação entre coesão e coerência existe porque a coerência é também estabelecida a partir da sequência linguística que constitui o texto. Embora a coesão não garanta a coerência, os elementos linguísticos podem servir de pistas para o estabelecimento da coerência. 1.3.1 A coesão textual Para Abreu (1990, p. 12): “um texto não é uma unidade construída por uma soma de sentenças, mas pelo encadeamento semântico delas, criando, assim, uma trama semântica a que damos o nome de textualidade.” O encadeamento semântico que produz a textualidade se chama coesão. A coesão textual consiste na relação entre orações dentro dos períodos, entre períodos dentro dos parágrafos e entre os parágrafos no texto. Koch (1997, p. 14) define coesão como “ligação entre os elementos superficiais do texto, o modo como eles se relacionam, o modo como frases ou partes delas se combinam”. Essa ligação (combinação) não pode ser feita aleatoriamente, pois é necessário que se empreguem conjunções, advérbios, pronomes, preposições selecionados de tal forma que possam proporcionar a devida coerência interna do texto. Visto que os elementos coesivos apresentam conteúdo semântico e podem alterar o sentido das palavras, frases, períodos ou parágrafos que se relacionam entre si, eles servem tanto à verificação da coesão como à apreensão do sentido. Uma das maiores preocupações, ao escrevemos um texto, é como amarrar a frase seguinte à anterior. Isso só é possível se dominarmos os princípios básicos de coesão. A cada frase enunciada devemos ver se mantém um vínculo com a anterior ou anteriores para não perdermos o fio do pensamento. De outra forma, teremos uma sequência de frases sem sentido, sucedendo-se umas às outras sem lógica, sem coerência. A coesão, no entanto, não é só esse processo de olhar constantemente para trás. É também o de olhar para adiante. Um termo pode esclarecer-se somente na
  • 13. frase seguinte. Se a frase inicial for: Márcia tem um grande desejo, ocorre um movimento para adiante. Só vou saber de que desejo se trata na próxima frase: Ela quer ser professora. O importante é cada enunciado estabelecer relações estreitas com os outros, a fim de tornar sólida a estrutura do texto. Ainda para Abreu (1990, p.12), “a maior parte das pessoas constrói razoavelmente a textualidade na língua oral, mas, quando se trata de escrever um texto, as únicas palavras para coesão são mesmo e referido”. Não diz que o uso desses anafóricos consistem em erro, mas que indica o desconhecimento de outros mecanismos de coesão. Para exemplificar, é frequente encontrarmos períodos como: - Troque a lâmpada. A mesma está queimada. - As alunas participaram de um Simpósio. No referido Simpósio, as mesmas falaram sobre Paulo Freire. No entanto, é possível explorar os recursos coesivos de que a língua dispõe e apresentar períodos, como: - Troque a lâmpada. Ela está queimada. - Troque a lâmpada, pois está queimada. - As alunas participaram de um Simpósio. Lá, falaram sobre Paulo Freire. - As alunas participaram de um Simpósio e falaram sobre Paulo Freire. - As alunas participaram de um Simpósio. No Simpósio, elas falaram sobre Paulo Freire. Segundo Koch (1997, p.17), a coesão, por estabelecer relações de sentido, diz respeito ao conjunto de recursos semânticos por meio dos quais uma sentença se liga com a que veio antes, aos recursos semânticos mobilizados com o propósito de criar textos. A cada ocorrência de um recurso coesivo no texto, denominam laço, elo coesivo. A autora distingue, também, cinco mecanismos de coesão, relacionados e exemplificados abaixo: a) referência – componente do texto que faz referência a outro (s) elemento (s) do universo textual. O elemento de referência ou remissão é bastante amplo e pode ser representado por um nome, um sintagma, um fragmento de oração, uma oração ou todo um enunciado. A referência é exofórica quando a remissão é feita a algum elemento da situação comunicativa, ou seja, quando o referente está fora do texto e, endofórica, quando o referente se acha expresso no próprio texto. Neste caso, o referente precede o item coesivo, tem-se a anáfora; após o item coesivo, tem-se a catáfora.
  • 14. Também, na explanação de Koch (1997, p.20), a referência pode ser pessoal (feita por meio de pronomes pessoais e possessivos), demonstrativa (realizada por meio de pronomes demonstrativos e advérbios de lugar), e comparativa (efetuada por via indireta, por meio de identidades e similaridades). Exemplos: - Marta é ótima amiga. Ela sempre me dá provas disso. (referência pessoal anafórica) - Só desejava isto: concluir o curso. (referência demonstrativa catafórica) - É uma atividade igual a de ontem. (referência comparativa endofórica) - Esta é a melhor marca de carro. (referência comparativa exofórica – frase de uma publicidade de automóvel, remetendo para a foto do veículo) b) substituição – ocorre com a colocação de um item no lugar de outro (s) ou até de uma oração inteira. Pode ser nominal (feita por meio de pronomes pessoais, indefinidos, numerais, nomes genéricos como coisa, gente, pessoa) e verbal (o verbo “fazer” é substituto dos causativos, “ser” é substituto existencial). Exemplos: - Pedro comprou um carro novo e José também. - O professor acha que os alunos não estão preparados, mas eu não penso assim. - O padre ajoelhou-se. Todos fizeram o mesmo. - Minha prima comprou um Gol. Eu também estava querendo um. - Eduardo comprou um carro. O carro é vermelho. Koch (1991, p.21) explica que a principal diferença entre substituição e referência é que, nesta, há total identidade referencial entre o item de referência e o item pressuposto, ao passo que na substituição ocorre sempre alguma redefinição. c) elipse – omissão de um item lexical recuperável pelo contexto, ou seja, a substituição por zero (). Pode ocorrer elipse de um item lexical, um sintagma nominal, verbal, oracional ou todo um enunciado. Exemplos: - Paulo vai à escola? () Vai () - Os convidados chegaram atrasados. () Tinham errado o caminho. - Asse o frango até ficar dourado. Coloque () em uma travessa. - Aonde você foi ontem? () À casa de Paulo. () Sozinha? Não. () com uma amiga. d) conjunção (ou conexão) – tem natureza diferente das outras relações coesivas por não se tratar simplesmente de uma relação anafórica. Os elementos
  • 15. conjuntivos são coesivos não por si mesmos, mas indiretamente, em virtude das relações específicas que se estabelecem entre as orações, períodos e parágrafos. Os principais tipos de elementos conjuntivos são: advérbios e locuções adverbiais; conjunções coordenativas e subordinativas; locuções conjuntivas, preposições e locuções prepositivas; itens continuativos como então, daí etc. Exemplos: - Depois da ventania, houve um grande silêncio. - Os exemplos abaixo comprovam a teoria. - Vou atender ao seu chamado,mas só o faço (faço isso) porque sou sua amiga. - O torcedor gritou demais, então, {por isso} ficou rouco. - João é, sem dúvida, o melhor candidato. Tem boa formação e apresenta um consistente programa administrativo. Além disso, revela pleno conhecimento dos problemas da população. Ressalta-se, ainda, que, não faz promessas demagógicas. e) coesão lexical – é obtida por meio de dois mecanismos: a reiteração e a colocação. A reiteração se faz por repetição do mesmo item lexical ou através de sinônimos, hiperônimos, nomes genéricos. Exemplos: - O presidente viajou para o exterior. O presidente levou consigo uma grande comitiva. (mesmo item lexical) - Uma menina correu ao meu encontro. A garota parecia assustada. (sinônimo) - O avião ia levantar vôo. O aparelhofazia um ruído ensurdecedor. (hiperônimo: aparelho designa que avião é espécie) - Todos ouviram um rumor de asas. Olharam para o alto e viram a coisa se aproximando. (nome genérico) A colocação, por sua vez, consiste no uso de termos pertencentes a um mesmo campo significativo, como por exemplo: - Houve um grande acidente na estrada. Dezenas de ambulâncias transportaram os feridos para os hospitais da cidade mais próxima. A questão da coesão referencial é, para Koch (1991), complexa. Isto ocasiona uma diversidade de definições, de posicionamentos entre os autores estudiosos do assunto. Cabe ao produtor de textos empregar adequadamente os mecanismos de coesão ao elaborar seus textos. A utilização desses mecanismos é que constrói o que chamamos textualidade. Mas não basta costurar uma frase a outra para dizer que estamos escrevendo bem. Além da coesão, é preciso pensar na coerência. Há autores que distinguem níveis de análise para a coesão e para a coerência. Outros não fazem distinção entre níveis de
  • 16. análise destes termos e, outros, ainda, estudam vários aspectos da coesão e da coerência sem qualquer rotulação e/ou classificação. 1.3.2 A coerência textual De acordo com Fávero (1999), um texto não é, totalmente, coerente ou incoerente em si próprio, esse é para um leitor num determinado contexto, mas isso só acontece quando o leitor não tem conhecimento do assunto tratado no texto, afinal esse contém mais do que sentidos superficiais, contém conhecimentos e experiências cotidianas, ou seja, fatores não linguísticos. Fiorin & Savioli (1990, p. 261) expõem: Coerência deve ser entendida como unidade do texto. Um texto coerente é um conjunto harmônico, em que todas as partes se encaixam de maneira complementar de modo que não haja nada destoante, nada ilógico, nada contraditório, nada desconexo. No texto coerente, não há nenhuma parte que não se solidarize com as demais. A coerência tem a ver com o sentido global do texto, que precisa apresentar, em sua composição, relação entre as ideias. Enquanto a coesão responde acerca das ligações, aponta os elementos relacionais que poderão ser utilizados nessa conexão, a coerência se preocupa com o modo como se dá a conexão entre as ideias no texto. Caso isso não ocorra, o texto se tornará incoerente. Contudo, para a aceitabilidade de um texto é necessário mais do que a presença de relações semânticas entre os componentes textuais, ele precisa de certo grau de coerência que por sua vez depende de vários fatores interpessoais. Portanto a coerência de um texto depende de fatores que são percebidos através das relações formais, semânticas e pragmáticas, que, identificadas pelo interlocutor, ativa seu conhecimento prévio, interage com o locutor, construindo assim o sentido global de um texto. Em suma, um texto, para Halliday & Hassan (1976) é extraído através de um discurso que é coerente em dois aspectos: é coerente em relação ao contexto de situação, portanto consistente em registro, e é coerente em relação a ele mesmo e, portanto coeso. Dentro dessa perspectiva, a coerência textual (ou conectividade conceitual) é para Duarte (2003, p. 54): Um fator de textualidade que resulta da interação entre os elementos cognitivos apresentados pelas ocorrências textuais e
  • 17. o nosso conhecimento do mundo. Assim, uma condição cognitiva sobre a coerência de um texto é a suposição da normalidade do(s) mundo(s) criado(s) por esse texto: um texto é coerente se os elementos/esquemas cognitivos ativados pelas expressões linguísticas forem conformes àquilo que sabemos ser: (i) a estrutura das situações descritas; (ii) as relações lógicas entre situações; (iii) as propriedades características dos objetos de um mundo normal. Dessa forma a coerência textual é fator relevante para a compreensão da mensagem, que por ser interativa e contextualizada, requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes e habilidades e a inserção desses saberes e habilidades no interior de um ato comunicativo. A partir desses conceitos, a coerência deixa de ser vista como mera propriedade ou qualidade do texto, e passa a ser vista ao modo como o leitor/ouvinte, a partir dos elementos presentes na superfície textual, interage com o texto e o reconstrói como uma construção portadora de sentido. Alguns autores como Beaugrande e Dressler (1983) e Marcuschi (2003) adotaram a semântica procedimental para tratar e entender a coerência, pois essa linha da semântica engloba dois conhecimentos que também se aplicam à coerência: o declarativo (razão) e o procedimental (experiência). Cada um organiza, no cérebro, os enunciados baseados, respectivamente, na razão e na experiência; “eles determinam a produção de sentido e, consequentemente, a coerência.” (FÁVERO, 1999, p. 61). Um texto pode ser incoerente ou para um acontecimento especifico se seu autor não for capaz de compreender um nexo ou uma abstração através da conexão de suas frases e parágrafos e por meio de artifícios linguísticos. A coerência está totalmente unida a possibilidade de se assentar um sentido ao texto. É a coerência que faz os leitores de um determinado texto estabelecerem um sentido de interpretação do mesmo. Como Favéro (1999, p. 61) diz “para haver coerência é preciso que haja possibilidade de estabelecer no texto alguma forma de unidade ou relação entre seus elementos.” A coerência textual é o vínculo lógico entre as ideias, é o desfecho da não contradição entre as partes do texto. A coerência de um texto abrange fatores como o conhecimento que o produtor e o receptor têm do assunto apontado no texto; conhecimento de mundo;
  • 18. conhecimento que esses têm da língua que usam e intertextualidade. Pode-se concluir que texto coerente é aquele no qual é possível estabelecer sentido; pode ser entendido como um princípio de interpretabilidade. E ela pode ser definida como fenômeno da harmonia entre as ideias e opiniões de um texto.
  • 19. CAPÍTULO 2. REGRAS DE COERÊNCIA A coerência é considerada o fator fundamental da textualidade, pois é ela que estabelece o sentido do texto. Beaugrande & Dressler (1983, p. 84) designam sentido como o conhecimento selecionado e atualizado, transmitido por expressões que ocorrem em um texto. Afirmam que “um texto faz sentido, quando há uma continuidade de sentidos entre o conhecimento ativado pelas expressões do texto.” Definem “esta continuidade de sentidos como a fundamentação da coerência, estando o acesso mútuo e a relevância dentro de uma configuração de conceitos e relações.” Os autores alertam para o fato de que o mundo textual não apresenta somente os sentidos presentes nas expressões empregadas no texto de superfície. Também contribui para o estabelecimento do texto um processo cognitivo que envolve o conhecimento partilhado, o senso comum que advém das experiências e das expectativas os participantes do processo de comunicação em relação à organização dos eventos e das situações (Beaugrande & Dressler, 1983, p. 85). Koch & Travaglia (1997, p. 25) ao discutirem o conceito de coerência, ressaltam que a continuidade de sentidos “estabelece uma coesão conceitual cognitiva entre os elementos do texto através de processos cognitivos que operam entre os usuários (produtor e receptor) do texto” e salientam que essa conexão não é apenas de tipo lógico, mas também dependem de fatores socioculturais diversos e de fatores interpessoais como intenções comunicativas dos interlocutores, as formas de influência do falante na situação de fala, as regras sociaisque regem o relacionamento entre pessoas a partir de seus lugares sociais, enfim, a todos os aspectos ligados à pragmática. Entenderemos a coerência tal qual Koch & Travaglia (1997, p. 21) a definem: ... a coerência está diretamente ligada à possibilidade de se estabelecer um sentido para o texto, ou seja, ela é que faz com que o texto faça sentido para os usuários, devendo, portanto, ser entendida como um princípio de interpretabilidade, ligada à inteligibilidade do texto numa situação de comunicação e à capacidadeque o receptor tem para calcular o sentido desse texto. Este sentido, evidentemente, deve ser do todo, pois a coerência é global. (...) Para haver coerência é preciso que haja possibilidade de estabelecer no texto alguma forma de unidade ou relação entre seus elementos.
  • 20. Posicionamo-nos, também junto aos autores Koch & Travaglia (1997, p.50), quando dizem: Não existe o texto incoerente em si, mas que o texto pode ser incoerente em/para determinada situação comunicativa. (...) O texto será incoerente se seu produtor não souber adequá-lo à situação, levando em conta intenção comunicativa, objetivos, destinatário, regras socioculturais, outros elementos da situação, uso de recursos linguísticos, etc. Caso contrário, será coerente. Dessa forma, o texto vai além da superfície, do seu artefato textual e busca uma relação com os usuários numa situação comunicativa. Entende-se, então, que uma sequência de frases com coesão e coerência, são fatores necessários, mas não suficientes para garantir a eficiência da textualidade, já que há textos que não parecem ser totalmente coesivos ou até mesmo coerentes. A sua boa formação, não pode ser analisada em termos de identificação isolada da simples constituição e sequência de elementos linguísticos, pois a aplicação dos elementos que o levam à textualidade se definem como possibilidade de instaurar o texto no contexto textual, é a sua textualização que o caracteriza. Diante o exposto até aqui, podemos dizer que o todo será incoerente se quem o produz não souber adequá-lo à situação, considerar a intenção comunicativa, ou seja, o que quer comunicar, o quê pretende comunicar, a quem está se dirigindo, levar em consideração também e, principalmente, o meio social e cultural. Koch (1991, p.45- 46) afirma: Os prejuízos de incoerência dependem também de conhecimentos prévios sobre o modo e do tipo de mundo em que o texto se insere, isto é, depende da capacidade do leitor de estabelecer a intertextualidade. Sendo assim, os juízos sobre coerência textual estão fundamentalmente ligados também ao processo de recepção, isto é, o texto será tão incoerente quanto for pequena a capacidade de compreensão do leitor, quanto forem pobres suas experiências de leitura. O texto, então, é um evento comunicativo no qual convergem ações linguísticas, sociais, cognitivas, interativas, dialógicas, mediante o uso efetivo da língua. O todo significativo que o compõe se dá através dos participantes da ocorrência discursiva. Portanto, a noção de coerência é bastante abrangente, pois a boa formação de um texto necessita que as formas linguísticas utilizadas estabeleçam um sentido unitário para o todo. Vemos, portanto, que a noção de coerência liga-se a
  • 21. um ponto de vista em que a língua só funciona na comunicação, na interlocução, com todos os seus componentes: sintáticos, semânticos, pragmáticos, socioculturais, cognitivos, etc. 2.1 Tipos de coerência Verificamos que a coerência tem a ver com a harmonia das informações, ou seja, que as informações devem ser organizadas de um modo que façam sentido para quem lê. A coerência, como sabemos, é a ligação de cada uma das partes do texto com o seu todo, de forma que não haja contradições ou erros que gerem incompreensão, mal-entendido ou até mesmo falha na comunicação. A coerência diz respeito à intenção comunicativa do emissor, interagindo, de maneira cooperativa, com o seu interlocutor. Koch e Travaglia (1991, p. 37-39) apresentam alguns tipos de coerência, abaixo definidos e exemplificados: a) coerência semântica – refere-se à relação entre significados dos elementos das frases em sequência num texto ou entre os elementos do texto como um todo. O que podemos observar no exemplo: - Felicidade é um viver como aprendiz. É retirar de cada fase da vida uma experiência significativapara o alcance de nossos ideais. É basear-se na simplicidade do caráter ao executar problemas complexos; ser catarse permanente de doação sincera e espontânea.” (redação de aluno – tema “felicidade”. In: Koch & Travaglia, 1991, p. 36) Ao escrever “executar problemas”, o aluno criou uma incoerência semântica, uma vez que o sentido das duas palavras não condizem. Talvez o aluno quisesse dizer “resolver problemas”. O uso inadequado também dos itens “executar” e “catarse” em relação a “problemas” e “de doação sincera e espontânea”, dificultam ao leitor recuperar o sentido do texto. A contradição de sentidos também cria incoerências semânticas como podemos observar no exemplo abaixo: - A frente da casa de vovó é voltada para o leste e tem uma enorme varanda. Todas as tardes ela fica na varanda em uma cadeira de balanço apreciando o pôr-do- sol. (a posiçãoda frente da casa e o que se diz que a avó faz à tarde são contraditórias, já que o sol não se põe a leste, mas a oeste. In: Koch & Travaglia, 1991, p. 37) Também tem a ver com coerência semântica os termos: hiponímia ou hiperonímia que ocorrem em:
  • 22. - Roberto tem um belo veículo. É um cavalo árabe puro sangue. (cavalo não é hipônimo de veículo e a sequência aparece como incoerente.) b) coerência sintática – refere-se aos meios sintáticos para expressar a coerência semântica como, por exemplo, os conectivos, o uso de pronomes, de sintagmas nominais definidos e indefinidos, etc. No exemplo a seguir temos um caso de incoerência sintática com o uso de “onde”: - A felicidade, onde não existem técnicas científicas para sua obtenção, faz-se de pequenos fragmentos captados de sensíveis expressões vivenciais... (In: KOCH & TRAVAGLIA, 1991, p. 36) A coerência sintática pode ser recuperada nesta construção: - A felicidade, para cuja obtenção não existem técnicas científicas, faz-se de pequenos fragmentos. A coerência sintática nada mais é do que um aspecto da coesão que pode auxiliar no estabelecimento da coerência. c) coerência estilística – o usuário da língua deveria usar em seu texto elementos linguísticos pertencentes ou constitutivos do mesmo estilo ou registro linguístico (léxico, frases, estruturas, etc.). No entanto, o uso de estilos diversos parece não criar problemas para a coerência, entendida como princípio de interpretabilidade, o que muitas vezes ocorre é uma quebra estilística, como o uso de gírias, expressões populares, palavras de baixo calão em conversas polidas. O exemplo a seguir, trata de um cartão de condolências, em que há uma incoerência estilística inaceitável pelas normas sociais (que afetam o estabelecimento da incoerência), mas que não é problemática do ponto de vista do estabelecimento do sentido e poderia até ser usada de propósito se a intenção do produtor for passar a ideia de irreverência. - Prezado Antônio, Neste momento quero expressar meus profundos sentimentos por seu pai ter batido as botas. d) coerência pragmática – refere-se ao texto visto como uma sequência de atos de fala, relacionados de modo que, para a sequência de atos ser percebida como apropriada, os atos de fala que a constituem devem satisfazer as mesmas condições presentes em uma dada situação comunicativa. Caso contrário, temos incoerência. Assim, por exemplo, se um amigo faz um pedido a outro, espera-se que tenhamos as seguintes sequências de atos: pedido/atendimento; pedido/promessa;
  • 23. pedido/jura; pedido/solicitação de esclarecimento/esclarecimento; atendimento ou promessa; pedido/recusa/justificativa; pedido/recusa e não sequências como pedido/ameaça; pedido/declaração de algo que não tem nenhuma relação com o conteúdo do pedido que seriam vistas como incoerentes, como: - A: Você me empresta seu livro de História? - B: Hoje eu comi um chocolate que é uma delícia! Certamente levaria o falante A ao pedir esclarecimento ou se aborrecer, interpretando a fala de B como recusa ou descaso, entre outras possibilidades. Para Koch e Travaglia (1991, p.29): Esta divisão da coerência em tipos tem o mérito de chamar a atenção para diferentes aspectos daquilo que chamamos de coerência: o semântico, o pragmático, o estilístico e o sintático (ou gramatical, ou da superfície linguística). Mas é preciso ter sempre em mente que a coerência é um fenômeno que resulta da ação conjunta de todos esses níveis e de sua influência no estabelecimento do sentido do texto, uma vez que a coerência é, basicamente, um princípio de interpretabilidade e compreensão do texto. Um texto pode ser incoerente em determinada situação se seu autor não consegue estabelecer um sentido ou uma ideia através da articulação de suas frases e parágrafos e por meio de recursos linguísticos (pontuação, vocabulário etc.). Como apresentado anteriormente, podemos concluir, por esse motivo, que um texto coerente é aquele que é capaz de estabelecer sentido. Por isso, a coerência é entendida como um princípio de interpretabilidade. Para melhor identificar e distinguir cada tipo de coerência é importante conhecer cada tipo de incoerência. Koch e Travaglia (1991, p. 41-43), colocam: a) incoerência semântica - A casa que desejo comprar é bastante jovem. Essa frase é incoerente quando levamos em consideração o significado da palavra jovem. Embora tenha o sentido de coisa nova, o vocábulo jovem só é empregado para caracterizar seres humanos; e não seres inanimados, como é o caso de casa. Para essa caracterização, a palavra nova seria mais apropriada. b) incoerência sintática
  • 24. - As pessoas que têm condições procuram o ensino particular, onde há métodos, equipamentos e até professores melhores. Apesar de haver comunicabilidade, já que possível compreender a informação, a coerência desse período está inadequada. Ela poderia ser restabelecida se fosse feita uma alteração: a troca do pronome relativo onde, específico de lugar, para no qual ou em que (ensino particular, no qual/em que há métodos). c) incoerência estilística - O ilustre advogado observou que sua petição não prosperaria, haja vista seu cliente ter enfiado o pé na jaca. Imagine iniciar uma fala, em um contexto formal, com palavras mais sofisticadas e depois misturar com uma forma de linguagem bem popular, usando gírias. Esta incoerência poderia parecer inclusive uma brincadeira, modificando o sentido que o autor da frase desejava. d) incoerência pragmática - Maria, sabe dizer se o ônibus para o Centro passa aqui? - Eu entendo, João. Hoje faz um ano que minha avó faleceu. Notamos que Maria, na verdade, não responde a pergunta feita por João, pois não estabeleceu uma sequência na conversa. Ela propôs outro assunto, irrelevante para a pergunta feita. Assim, percebemos que na sequência de falas deste exemplo não há coerência. 2.2 Níveis de coerência Fiorin & Saviolo (1990, p. 261) apresentam três níveis de coerência: narrativa, figurativa e argumentativa, já em Platão e Fiorin, (1996, p. 397) encontramos diferentes níveis de coerência, a saber: a) coerência narrativa – quando as implicações lógicas entre as partes da narrativa são respeitadas. Numa narrativa, as ações acontecem num tempo sucessivo, de forma que o que é posterior depende do que é anterior. Ocorre preocupação com a coerência e a unidade do texto. A título de exemplo, um relato de uma professora num livro sobre redação no vestibular:
  • 25. Lá dentro havia uma fumaça formada pela maconha e essa fumaça não deixava que nós víssemos qualquer pessoa, pois ela era muito intensa. Meu colega foi à cozinha me deixando sozinho, fiquei encostado na parede da sala e fiquei observando as pessoas que lá estavam. Na festa havia pessoas de todos os tipos: ruivas, brancas, pretas, amarelas, altas, baixas. (In: FIORIN & SAVIOLO, 1990, p.262) b) coerência argumentativa – diz respeito às relações de implicação ou de adequação que se estabelecem entre pressupostos ou afirmações explícitas no texto e as conclusões decorrentes destes. Alguns raciocínios lógicos se prestam como exemplos de incoerência argumentativa, tais como: Toda cidade tem pobres. João Pessoa tem pobres. Logo, João Pessoa é uma cidade. Existe nesta afirmação uma inadequação, entre as premissas e a conclusão, pois pode haver pobres em lugares que não são cidades ou vice-versa. Na coerência argumentativa defende-se um ponto de vista, pressupostos, dados, com base em certos argumentos e, permite-se tirar conclusões. Um exemplo de coerência argumentativa: Embora existam políticos competentes e honestos, preocupados com as legítimas causas populares, os jornais, na semana passada, noticiaram casos de corrupção comprovada, praticados por um político eleito pelo povo. (Isso demonstra que o povo não sabe escolher seus governantes.) (In: FIORIN & SAVIOLO, 1990, p.269) c) coerência figurativa – quando há uma compatibilidade entre temas e figuras ou de figuras entre si. As figuras se encadeiam num percurso, para manifestar um determinado tema, por isso, têm que ser compatíveis umas com as outras, senão o leitor não percebe o tema que se deseja veicular. Na coerência figurativa entendemos a articulação harmônica das figuras do texto, com base na relação de significado que mantêm entre si. Um exemplo de coerência figurativa: O quarto espelha as características de seu dono: um esportista, que adorava a vida ao livre e não tinha o menor gosto pelas atividades intelectuais. Por toda a parte, havia sinais disso: raquete de tênis, prancha de surf, equipamento de alpinismo, skate, um tabuleiro de xadrez com as peças arrumadas sobre uma mesinha, as obras completas de Shakespeare. (In: FIORIN & SAVIOLO, 1990, p.268)
  • 26. d) coerência espacial – diz respeito à compatibilidade entre os enunciados do ponto de vista de localização no espaço. e) coerência temporal – é a que respeita as leis da sucessividade dos eventos ou apresenta uma compatibilidade entre os enunciados do texto, do ponto de vista da localização no tempo. As ações temporais devem ser sequenciadas numa temporalidade compatível, de modo que seja possível ao leitor acompanhar essa sequência temporal. Caso contrário, efetiva-se uma subversão na sucessividade dos eventos, ocasionando a incoerência. Não se deve dizer, por exemplo: Acordei cedo, hoje, às dez horas. Fui ao trabalho, vesti a roupa, tomei banho e fui caminhar, depois do almoço... Há uma incompatibilidade na sucessividade das ações, de forma que facilmente se percebe a incongruência dos fatos. f) coerência no nível da linguagem – é a compatibilidade do ponto de vista da variante linguística escolhida, em nível do léxico e da organização sintática utilizada no texto. Incoerente, pois, usar expressões chulas ou de linguagem informal num texto caracterizado pela norma culta formal. A não ser em textos, cujo gênero seja permitido tal uso. Na linguagem oral, essa incompatibilidade é corrigida, muitas vezes, por meio de ressalvas do tipo: com o perdão da palavra ou se me permitem... É importante esclarecer que a exploração da incoerência pode fazer parte de um programa intencionalmente arquitetado pelo produtor do texto. Por exemplo: Um publicitário poderá fazer uso propositadamente de uma incoerência, para obter efeitos diversificados de sentido no gênero textual propaganda. 2.3 As meta-regras de coerência Em relação à coerência, é relevante citar Michel Charolles (1997) pela contribuição referente à coerência textual em produções textuais escritas. Até o momento expusemos postulados acerca de coerência segundo alguns estudiosos. Charolles (1997), diferenciando coesão de coerência, trata a coerência tanto a nível micro quanto macroestrutural. Segundo o autor, coerência e linearidade textual estão
  • 27. relacionadas, ou seja, para se questionar a coerência de um texto, deve-se levar em conta a ordem em que aparecem os elementos que constituem o texto. Charolles (1997, p. 49-74) enuncia quatro meta-regras de coerência, que são as seguintes: 1ª) Meta-regra de repetição: Para que um texto seja (microestruturalmente e macroestruturalmente) coerente é preciso que contenha, no seu desenvolvimento linear, elementos de recorrência escrita. Como elementos de repetição a língua dispõe de recursos numerosos e variados, como: as pronominalizações, definitivações, referenciações contextuais dêiticas, substituições lexicais, recuperações pressuposicionais, retomadas de inferência. Alguns exemplos desses recursos: - A criança foi sequestrada na escola em que estudava. Ela foi encontrada algemada em uma rua deserta. (pronominalização – anáfora) - Encontrei-a. Esta jóia é raríssima. (pronominalização – catáfora) - Na chácara há árvores frutíferas. As árvores frutíferas são bem cuidadas. (definitivação/referenciação dêitica contextual) - Leonardo esteve em Irati em fevereiro de 2003. O cantor veio à cidade prestigiar o time do Goiás Sport Club. (substituição lexical) - José comprou sua moto? Respostas: a) Não, ele comprou o carro. b) Não, assaltaram-lhe. c) Não, ele viajou. Observemos que a retomada de elementos nem sempre dá coerência ao texto. 2ª) Meta-regra de progressão: Para que um texto seja microestruturalmente ou macroestruturalmente coerente, é preciso que haja no seu desenvolvimento uma contribuição semântica constantemente renovada. Esta segunda regra completa a primeira. Em um texto coerente, supõe-se que haja um equilíbrio entre continuidade temática e progressão semântica (ou sêmica), não repetição indefinida de termos em um mesmo texto. Um bom desempenho exige as meta-regras 1 e 2. Em textos de alunos, muitas vezes, ocorre a transgressão total da meta-regra 2, como exemplifica o texto abaixo: O ferreiro está vestido com uma calça preta e um chapéu claro e com um paletó cinza e marrom escuro. Tem na mão a ponta da picareta e bate em cima com um martelo, sobre a ponta da picareta. Os gestos que fez, tem a ponta da picareta e com seu martelo bate sobre a ponta da picareta. A ponta desta ferramenta que se chama a ponta da picareta é pontuda e a outra ponta é quadrada. Para tornar ela vermelha com a ponta da picareta colocou ela no fogo e as mãos estão vermelhas. (texto original – sem correção de professor) (In: CHAROLLES, 1997, p.59) O que nos chama a atenção é a circularidade do discurso, o aluno não dá progressão às ideias. 3ª) Meta-regra de não-contradição: Para que um texto seja microestruturalmente e macroestruturalmente coerente, é preciso que no seu
  • 28. desenvolvimento não se introduza nenhum elemento semântico que contradiga um conteúdo posto ou pressuposto por uma ocorrência anterior, ou deduzível desta por inferência. Exemplos: - Paulo não gosta de escrever. Fica feliz quando lhe solicitam um artigo. (contradição) - Maria lê bastante. Ela gosta de escrever. (não-contradição) 4ª) Meta-regra da relação: Para que uma sequência ou um texto sejam coerentes, é preciso que os fatos que se denotam no mundo representado estejam relacionados. Exemplo: - A mãe levou a criança ao médico.A criança está triste. (embora a frase pareça incoerente, nosso conhecimento de mundo consegue dar sentido a ela). As meta-regras apresentadas por Charolles (1997) e de outros problemas de coerência, até aqui expostos, levam-nos a ficar alerta, tanto no aspecto linguístico como pragmático, quando da elaboração ou análise de um texto.
  • 29. 3. METODOLOGIA E ANÁLISE DOS DADOS Nesta parte do trabalho, nossa atenção estará voltada para a exposição dos referenciais metodológicos que funcionaram como suporte e diretriz desta pesquisa de natureza aplicada e para a descrição dos cenários que caracterizaram o nosso estudo. Para alcançar os objetivos desta pesquisa, tomamos, como princípio metodológico, a análise qualitativa por permitir a exploração de níveis de análise que abrangem a minúcia e o contexto. Essas observações se fizeram mediante notas de campo, “memo” e coleta das produções escritas dos alunos nas diferentes situações em que foram solicitados a fazê-las, objetivando análise de sua aprendizagem frente à metodologia adotada pelo professor. Os procedimentos acima citados, além de nos terem possibilitado o entendimento de como se deu, antes, durante e depois o trabalho com a produção escrita nessa sala de aula, ainda nos permitiram explicar reconhecer se o procedimento de ensinar do professor foi viável ou não para o enriquecimento da expressão escrita do aluno e para a adequação de seu objetivo comunicativo junto aos interlocutores do texto. O desenvolvimento do presente trabalho foi encaminhado por reflexões teóricas que se associam ao processo do ensino/aprendizagem da produção de texto dentro da escola. Para analisar o fazer do professor em sala de aula, observando as condições de produção dos textos escritos, optamos por uma abordagem qualitativa ao invés de uma quantitativa, já que o intuito foi refletir, analisar e caracterizar o processo de produção desse saber. A observação das aulas, além da coleta dos textos, nesse caso, foi fundamental, pois segundo Lüdke e André (1986:26): (...), a observação ocupa um lugar privilegiado nas novas abordagens de pesquisa educacional. Usada como o principal método de investigação ou associada a outras técnicas de coleta, a observação possibilita um contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado, o que apresenta uma série de vantagens. Em primeiro lugar, a experiência direta é sem dúvida o melhor teste de verificação da ocorrência de um determinado fenômeno. Ver para crer, diz o ditado popular.
  • 30. Analisando, de maneira qualitativa, o trabalho do professor de Língua Portuguesa, numa sala de quinta série do ensino fundamental, em relação ao ensino de produção textual, a fim de se verificar qual o tratamento didático nessa área, levando em conta as atividades prévias que antecedem a proposta de produção, bem como o trabalho de intervenção do professor durante e depois da atividade propriamente dita, nosso estudo se deteve, especialmente, à observação do ambiente e da situação alvo de nosso interesse, através de um contato direto e prolongado da pesquisadora em sala de aula. Segundo Bodgan e Biklen (1982) citados por Lüdke e André (1986:12), em uma pesquisa qualitativa, “A preocupação com o processo é muito maior do que com o produto”. Explicam que o problema investigado deve ser verificado em como ele se manifesta nas “atividades, nos procedimentos e nas interações cotidianas”. Sendo assim, a observação foi realizada semanalmente, durante cinco meses, em aulas de Língua Portuguesa cuja carga horária semanal era de cinco h/a, sob a forma de registro de anotações e gravações de aulas típicas que apontavam para o trabalho de constituição dos textos dos alunos. Durante esse período, conseguimos observar seis situações do trabalho pedagógico com a produção de textos escritos, as quais nos permitiram analisar as condições em que se deu o processo de ensino/aprendizagem das produções textuais escritas: atividades precedentes, as propostas que desencadearam a produção de textos, as intervenções do professor durante a produção e após esta, a interação professor-aluno, os textos produzidos pelos alunos, os usos e funções desses textos, os objetivos a que se prestavam e a influência das condições de produção sobre os textos produzidos. Quanto a essas produções escritas, coletadas em seis diferentes situações, todas foram analisadas e, dentre elas, foram comentadas as mais interessantes, ou seja, as que propagaram diferentes estratégias utilizadas pelos alunos para escrever em decorrência da orientação dada pelo professor, e em número suficiente para demonstrar a fidedignidade da análise. Os critérios para a avaliação dos textos pautaram-se na análise das condições de produção (Geraldi, 1995), incluindo: o conteúdo/informações presentes no texto; a razão/motivo que levou o aluno a escrever; o “para quem” o aluno escreveu seu texto; o aluno enquanto sujeito/locutor do seu discurso; as estratégias utilizadas pelo aluno na constituição do seu texto (coesão, fatores de coerência - repetição, progressão,
  • 31. relação, informatividade, situacionalidade, intencionalidade, além do genêro textual, e uso de recursos lingüísticos). As produções escritas serviram de parâmetro para avaliarmos em que medida as condições de produção interferem em sua qualidade. Também, pudemos constatar se a metodologia utilizada pelo professor foi eficiente ou não para o desenvolvimento da capacidade comunicativa dos alunos. Deixamos claro, aqui, que o foco de nossa pesquisa sobre produção textual se situa no processo e não apenas no produto. Acreditamos que essa articulação é bem vinda, uma vez que integra o processo global de ensino/aprendizagem nesta área, ajudando a perceber os processos subjacentes à elaboração do discurso escrito, relacionando-os ao seu produto final. Em outras palavras, consideramos toda a situação em que o ato comunicativo escrito se deu. Os textos não poderiam ser vistos isoladamente, já que acreditamos que sua análise só teria sentido e validade se realizada à luz dessa visão global das circunstâncias das quais emergiram. Para a conquista dessa visão global a que nos referimos, vale ressaltar que a nossa presença em sala de aula se deu de forma receptiva, sem nenhum cerceamento ou interferência que comprometesse a apreensão do processo. Nesse sentido, poderíamos dizer, inclusive, que pensamos que o acompanhamento das situações observadas, não afetou a dinâmica de sala de aula, nem na atitude do professor ou dos alunos, de modo que as observações feitas refletiram, de forma bastante aproximada, o como se deu o processo de ensino/aprendizagem de textos escritos nessa série. O nosso contato com os sujeitos envolvidos foi o mais natural possível e isso pode ser explicado devido à interação que mantínhamos com professor e alunos, decorrente de nossas atividades docentes nesta escola. Esse fato facilitou as observações das aulas de Língua Portuguesa nessa série, de modo que se evidenciasse a ação pedagógica com a produção textual aí desenvolvida. A naturalidade, ainda, foi mantida pela honestidade com que realizamos a pesquisa e pelo comportamento informal que mantínhamos com o professor, não deixando de explicitar, desde o início e sempre que solicitados, os objetivos de nossa pesquisa. Sendo assim, o professor estava ciente de que não estávamos ali para simplesmente nos servimos dos dados investigados, mas, mediante os resultados da
  • 32. pesquisa, estávamos dispostos a contribuir, em termos teóricos e de ação concreta, na melhoria do ensino/aprendizagem da produção textual. O sentido de nosso estudo, então, foi entendido como um esforço em contribuir para o benefício dessa área, que se apresenta problemática nas escolas. O resultado de nossa análise fundamentado na realidade concreta das situações observadas, foi informado ao professor, que poderia contestá-lo, discuti-lo ou até acrescentar a ele novas proposições dos aspectos relacionados à qualidade de ensino da produção textual. Com essa distinção em mente, o professor deixou de ser apenas um mero colaborador para a pesquisa, passando a ser um sujeito participante do conhecimento, que se deseja, criticamente, ser construído. Devido ao fato da não-omissão dos dados dessa pesquisa de natureza aplicada, não só o professor, mas a escola e tantos outros educadores poderão se valer das informações nela contidas, se julgadas viáveis e bem fundamentadas, para refletir sobre as suas práticas na dinâmica do cotidiano escolar. ANÁLISE DOS DADOS Dos estudos lingüísticos, podemos depreender uma multiplicidade de fatores que, atuando conjuntamente, estabelecem a coerência de um texto. Charolles (1997:42) realiza um estudo da coerência, tendo em vista objetivos de natureza pedagógica, conforme afirma: “o nosso trabalho incidirá exclusivamente sobre as estratégias de intervenção que o professor desenvolve diante de certos textos escritos de alunos que ele julga incoerentes.” Dado esse propósito, o autor declara que, ao tratar da coerência, limitar-se-á a apresentar quatro meta-regras de boa formação textual, realizando uma apreensão “geral” e “aproximativa” da questão. A repetição A primeira meta-regra é a da repetição. Charolles considera que, para se assegurar a coerência de um texto, é necessário que, em seu desenvolvimento, sejam apresentados elementos de recorrência estrita. Remete ao conhecido artigo de Bellert (1970:336), onde a autora afirma que “a repetição constitui uma condição necessária - embora evidentemente não suficiente - para que uma sequência seja coerente.” Charolles cita, como recursos para realizar as repetições, as pronominalizações, as
  • 33. definitivizações e as referências dêiticas contextuais, as substituições lexicais, as recuperações pressuposicionais e as retomadas de inferência, que, segundo afirma, “favorecem o desenvolvimento temático contínuo do enunciado, permitem um jogo, submetido a regras, de retomadas a partir do qual se encontra estabelecido ‘um fio textual condutor’.”(p.58). Vejamos um fragmento de redação de aluno, demonstrado por Charolles, em que ocorre ambigüidade referencial, resultando na malformação do texto: “Pedro e minhairmãestavam nadando no rio. Um dia, um homem estava tomando banho; como ele sabia nadar, ensinou para ele.” (p. 52) A progressão A segunda meta-regra é a da progressão. Segundo Charolles (ibid.: 58), “para que um texto seja microestruturalmente ou macroestruturalmente coerente, é preciso que haja no seu desenvolvimento uma contribuição semântica constantemente renovada”. Para o autor, um texto não pode repetir indefinidamente um mesmo assunto. Essas considerações se situam dentro da informatividade, proposta por Beaugrande & Dressler, as quais já foram examinadas quando do estudo deste padrão de textualidade. Charolles mostra-nos um trecho de uma redação de aluno para exemplificar a transgressão à meta-regra de progressão: “O ferreiro está vestido com uma calça preta e um chapéu claro e com um paletó cinza e marrom escuro. Tem na mão a ponta da picareta e bate em cima com um martelo, sobre a ponta da picareta. Os gestos que fez, tem a ponta da picareta e com seu martelo bate sobre a ponta da picareta. A ponta dessa ferramenta que se chama a ponta da picareta é pontuda e a outra ponta é quadrada. Para tornar ela vermelha com a ponta da picareta colocou ela no fogo e as mãos estão vermelhas.” (p.59) A não-contradição A terceira meta-regra é a da não-contradição, segundo a qual, no desenvolvimento de um texto coerente, “é preciso que (...) não se introduza nenhum elemento semântico que contradiga um conteúdo posto ou pressuposto por uma ocorrência anterior, ou deduzível desta por inferência” (op. cit.: 61). Charolles propõe
  • 34. três tipos de contradições, reconhecendo, entretanto, que se trata de um recorte superficial. Trata-se das contradições enunciativas, das contradições inferenciais e pressuposicionais e das contradições de mundo(s) e de representações do(s) mundo(s). As contradições enunciativas ocorrem quando o produtor do texto não estabelece, adequadamente, um sistema de referência temporal e um modo de funcionamento discursivo determinado. Por exemplo: “Antonio sai para um passeio com o Sr.Esnobe. Chegando perto de uma árvore, nós paramos para conversar. Francisco e Júlia querem jogar um jogo.”(p.63) As contradições inferenciais e pressuposicionais ocorrem, segundo Charolles (p. 64), “quando, a partir de uma proposição, pode-se deduzir outra que contradiz um conteúdo semântico posto ou pressuposto numa proposição circundante.” Vejamos alguns exemplos: “Minha tia é viúva. Seu marido coleciona máquinas de costura.” (p.64) “Pedro não tem carro. Vai vender o dele para comprar um novo.” (p.64) “Júlio ignora que sua mulher o engana. Sua esposa lhe é completamente fiel”. (p. 65) As contradições de mundo(s) e de representações do(s) mundo(s) são de natureza pragmática: dependem da imagem que os participantes do ato de comunicação compartilham a respeito do mundo ou dos mundos de referência instaurados pelo texto. Assim, se julgarmos que não existe árvore nos corredores do metrô, consideraremos a seqüência abaixo contraditória: “Oscar saiu do metrô. Estava correndo de cabeça baixa num corredor quando bateu com toda força numa árvore.” (p. 71) A relação A quarta meta-regra é a de relação. Charolles (ibid.: 76) considera que é preciso, para assegurar a coerência de um texto, “que os fatos que se denotam no mundo representado estejam diretamente relacionados”. Segundo ele, essa meta- regra é também de natureza pragmática e baseia-se numa avaliação de congruência:
  • 35. os fatos (ações, estados ou eventos) apresentados devem ser considerados, pelo receptor de texto, como congruentes no mundo que representam. Para exemplificarmos esse conceito, observemos a seqüência que Charolles apresenta como incoerente: “Maria logo vai dar à luz portanto os cantores românticos desagradam aos intelectuais.” Nota-se que a relação entre os fatos denotados revelam uma incongruência. Por isso, a relação de pertinência factual, aí encerrada, não é reconhecida como aceitável no mundo representado. As quatro meta-regras propostas por Charolles revelam-se bastante operacionais quando aplicadas a textos dos alunos, pois tratam de questões que, com freqüência, por serem mal trabalhadas, ocasionam formações textuais inadequadas. Esta proposta constitui, assim, um importante ponto de apoio para que o professor não avalie textos de forma apenas subjetiva e impressionista. O professor poderá usá- las, portanto, como estratégias de intervenção de textos escritos pelos alunos, que julga incoerentes. Para concluirmos esta parte de nosso estudo sobre os padrões de textualidade, é oportuno dizer que acreditamos que a Lingüística Textual pode auxiliar na condução do ensino da produção textual escrita. Seria relevante se o professor, não precisando se ater ao domínio da nomenclatura desses fatores ou à sua definição, conseguisse mostrar ao aluno os vários percursos de construção de sentido dos textos para que ele soubesse usar a língua como instrumento de reflexão e ação e, conseqüentemente, viesse a interpretar e a produzir textos com mais eficiência. As estratégias utilizadas pelo aluno na constituição de seu texto Os textos analisados até agora revelaram que houve um descompromisso com as condições em que se processam a produção de um texto escrito na escola. Ao chegarmos à análise da “escolha das estratégias”, apontaremos, então, mais uma vez, uma apreciação negativa da prática escolar, pois, relembrando Geraldi (1995:164), a escolha das estratégias para o desenvolvimento do texto “não se dá em abstrato. Elas são selecionadas ou construídas em função tanto do que se tem a dizer quanto das razões para dizer a quem se diz.”
  • 36. Ora, se os textos foram escritos sem que os aspectos que privilegiam a funcionalidade da escrita fossem considerados, ou seja, sem a preocupação em criar situações em que o aluno tivesse assunto significativo a expor, razão para expor o assunto, interlocutor definido e interessado em ouvi-lo e a sua participação no processo como locutor efetivo do seu discurso, logo, as estratégias utilizadas pelo aluno para a construção de seus textos acompanharam e se adequaram à artificialidade do processo. Em outras palavras, os textos foram construídos mediante modelos de discursos proferidos em razão de conteúdos escolares e modelos para a distinção entre textos. As formas de expressão utilizadas pelos alunos e a montagem de seus textos demonstram a intenção consciente de eles terem se submetido aos modelos que a escola impunha, já que o objetivo central era mostrar que sabiam escrever mediante a solicitação feita e, ainda, satisfazendo as preferências do “leitor” de seus textos, o professor avaliador. Com base, pois, em seu convívio prévio com textos escolares e no reconhecimento de que as suas estratégias de dizer deviam ser condizentes com o autoritarismo redutor de textos que não ultrapassam os muros escolares, os alunos fazem as suas redações preenchendo-as com fragmentos da linguagem utilizada pelo professor ou pelos textos do livro didático. Além disso, suas redações aliam-se ao modelo pronto a ser seguido, no que se refere ao gênero dos textos. De um modo geral, as redações analisadas se enquadram no gênero redação escolar. Todos os alunos, no que se refere à intencionalidade, se empenham em construir um texto capaz de satisfazer ao gosto da professora. Pretendem, com as frases estereotipadas e repetitivas de sua fala, mostrarem-se submissos aos seus ensinamentos, tanto no que se refere ao radicalismo de suas ideias, quanto à forma de se iniciar, desenvolver e concluir um texto narrativo. A imagem que têm da professora pesou muito no momento de os textos serem produzidos. Em nenhum texto, entretanto, a intenção mencionada aparece de forma explícita; ela se configura no conjunto dos recursos linguísticos utilizados, nas afirmações feitas e na obediência ao tipo do texto solicitado. Decorrente das condições de produção, ou seja, do conjunto de elementos que orientam a produção escrita dos alunos o desempenho escrito deles não foi satisfatório.
  • 37. Discutiremos, a seguir, mais alguns problemas observados, com relação aos aspectos gerais para o estabelecimento da coerência textual, sem, entretanto, pretendermos realizar uma análise mais aprofundada de tais aspectos. De um modo geral, os textos que compõem o corpus apresentam o uso do que Lemos (1977) chamou estratégias de preenchimento. Os alunos apresentam uma informação e, em seguida, repetem-na com o objetivo de ocupar os espaços em branco, apenas preenchendo as linhas do papel. O texto torna-se circular, não caminha. É violação à meta-regra da progressão, proposta por Charolles (1997), já mencionada neste trabalho. Observemos alguns exemplos: (fragmento do texto 2.7) “Se vocês voltassem não ia precisar de vocês ficarem com medo de nada se voces voltassem ia ser muito bom para todos nós, e para seus amigos também eles iam adorar sevocês voltarem.” (fragmento do texto 2.10) “Agora que estou sozinho sinto falta de vocês. (...) meus irmãos eu estou sentindo muitafalta de voceis é muito bom ficar em casa para nós sair e muito divertido ficar em casa vocês não deviam ter fugido de casa eu estou sentindo muita falta de voceis.” (fragmento do texto 2.3) “Eu te pesso que volta para casa eu sinto muito sua falta e te emploro volte para casa sentímos muito sua falta é muito grande.” ( texto 2.8) Saldade “Hoje está chovendo e eu estou aqui em casa sozinha pensando como seria bom se vocês, estivesse aqui comigo. Agora que estou sozinha sinto muita falta de vocês. Volta! Mamãe e papai estão sentindo muito a falta de vocês, volta por favor eu e a nossa família está morrendo de saudade de vocês.” (fragmento do texto 2.2)
  • 38. “O meu primeiro irmão querido eu fiquei com muito feliz de meu primeiro irmão querido (...)” (fragmento do texto 6.19) “Era um belo dia todos estavam felizes. A formiga trabalhando a cigarra cantando. A formiga trabalhava o verão inteiro. Quando a cigarra cantava.” (fragmento do texto 6.1) “Era umavêz. No verão que a cigara so fica cantando e a formiga ficava trabalhando todos os dias e a sigarra só ficava cantamdo.” (fragmento do texto 6.3) “Era uma vez a formiga estava trabalhando a ciga-rra cantando. A formiga estava trabalhando de casa, e a cigarra estava cantando e depois a cigarra foi na casa da formiga (...)” (fragmento do texto 6.5) “Era uma vez a formiga estava trabalhando contente quando a formiga viu a cigara ficou cantando e a formiga olvindo a cigarra cantar. E a formiga parou de trabalhar para ouvir a cigarra cantar e alegremente formiga começou a trab alhar (...)” (fragmento do texto 5.4) “Certo dia, eu andando na Rua dudo cujo vendo crianças tordas linpas só eu sujo eu estava com muita fome e não tinha o que (comer) comer (...) eu estava querendo entra para bricar mais eu estava muito (ju) sujo eu estava com muita fome não tinha o que comer (...) eu com muita fome comia restos de lanches.” (fragmento do texto 5.6) “Eu queria estudar, mas eu não posso, porque eu tenho que trabalhar. Hoje neste dia era para mim esta estudando mas eu tenho que trabalhar para se sustentar.” Ocorre nessas passagens, usando as palavras de Charolles (op. cit.:59), uma “flagrante circularidade do discurso”, devido ao fato de os alunos repetirem excessivamene as mesmas informações e, com isso, não fazerem os textos progredirem semanticamente. Nesse sentido, observamos que os alunos não estavam
  • 39. seguros e preparados para a tarefa que lhes foi exigida, visto que esses alunos produziram textos com baixo grau de informatividade. Outro problema evidenciado, com alta ocorrência, na maioria dos textos analisados, diz respeito à falha na meta-regra da repetição (op. cit.), tanto no plano conceitual como no plano lingüístico. No primeiro, a falha se manifesta pela não retomada de conceitos e idéias na seqüência do texto, tendo como resultado um texto em que se misturam diversos assuntos, não contendo, portanto, um desenvolvimento homogêneo e contínuo em que se perceba a sua unidade, a sua coerência. No segundo, a falha se manifesta pelo mau uso de mecanismos de coesão que “permitem ligar uma frase (ou uma seqüência) a uma outra que se encontra no seu contexto imediato.” À guisa de ilustração, citaremos um texto em que ambos os planos, conceitual e lingüístico, possuem problemas no requisito repetição, afetando, portanto, a sua coerência. (texto 4.7) O Caçador Certo dia estava me preparando para uma grande caçada e levei uma jaula para prender a onça. levei um facão. Ao chegar na mata encontrei muito mato tive que ir cortando o mato. Fiquei esperando a chegada da onça. O filhote de onça miava e os rastros era grandes. Foi muito emocionante. Eu vi uma onça muito feroz com o seu filhote. A onça era pintada , grande. Eu senti muito medo. Eu pensei que ela eria me comer de tão grande que ela era. Eu falei que ela eria ficar dentro da jaula.Eu coloquei ela na jaula e levei ela embora. Vejamos a análise dessa redação. Analisando o plano conceitual desse texto, percebemos claramente uma fragmentação na seqüência das ações e idéias arroladas nele. Como se vê, o texto se constitui de uma simples somatória de frases, que, à primeira leitura, exige do leitor um certo esforço para relacionar os fatos entre si. Muitas frases, que compõem os diversos parágrafos, não mantêm continuidade com a idéiaexposta anteriormente. No terceiro parágrafo, por exemplo, o aluno diz: “Fiquei esperando a chegada da onça.”; no quarto, ele diz que “O filhote de onça miava e os rastros era grandes.” Vemos , aí, uma descontinuidade das idéiasentre uma frase e outra, afetada pela má estruturação
  • 40. na superfície textual. Isso se deve ao mau uso da preposição “de” em “o filhote de onça miava”, além da falta de compreensão da expressão “e os rastros era grandes”, já que não sabemos de quem são esses rastos, se do filhote ou da onça que foi apresentada na frase anterior. Na seqüência dos parágrafos, o aluno revela que viu “uma onça muito feroz com o seu filhote”, não estabelecendo, novamente, a retomada das idéias anteriores. Em seguida, no penúltimo parágrafo, ele diz: “eu falei que ela eria ficar dentro da jaula”. Falou para quem? Para ele mesmo? E por que disse isso, se, no parágrafo seguinte, ele relata que colocou a onça na jaula e a levou embora? Em várias partes do texto verifica-se que os elementos que percorrem o seu desenvolvimento não lhe conferem uma unidade global. No entanto, as falhas apontadas podem ser explicadas levando-se em conta o fato de se pedir ao aluno para orientar a seqüência de seu texto por meio do roteiro apresentado. Todas as informações apresentadas, então, ganham relevância ao se saber que são respostas ao roteiro. Porém, a estratégia utilizada pelo aluno, de responder às questões, não foi eficiente, visto que um texto não é um amontoado de frases, em que não se estabelecem conexões semânticas entre as partes para se formar um todo. Com relação ao plano lingüístico, o aluno utiliza um conjunto de orações sem fazer uso da variedade de recursos coesivos entre os parágrafos. A ocorrência do pronome pessoal do caso reto “Eu”, assinalado pela professora, é exaustiva, tornando o texto cansativo. No parágrafo introdutório, ocorre uma sensação de quebra na sequência informativa devido à organização, em separado, dos instrumentos que seriam levados na caçada. Eles poderiam ser agrupados na seqüência linear do texto, assim: “e levei um facão e uma jaula para prender a onça.” No parágrafo seguinte o aluno repete duas vezes a palavra “mato” e emprega, também, a palavra “mata”. Poderia ter utilizado um pronome para retomar o termo anterior. Além disso, não há junção entre as frases “encontrei muito mato” “tive que ir cortando o mato”. A seqüência poderia ser : “Ao chegar na mata, encontrei muito mato e tive que cortá-lo”. No nono parágrafo, o pronome pessoal “ela” que retoma o termo “onça”, foi usado duas vezes sendo que, o segundo, poderia ser omitido, sem que prejudicasse o sentido da seqüência: “Eu pensei que ela iria me comer de tão grande que* era.” Há
  • 41. excessos de repetições do pronome ela, também, no último parágrafo. Achamos que seria conveniente reestruturar o texto como um todo, chamando a atenção dos alunos para outras formas de organizá-lo para que sua continuidade fosse mantida. A incidência do mau uso de repetições nos textos é muito ampla. Vejamos mais alguns exemplos: -“eu estava se preparando”; - “nós ficamos esperando a onça aparecer e não apareceu a onça”; - “Eu e Pedrinho nós acordamos cedo ...”; - “eu deci da árvore e ponhei a mãoem um dos rastos, e os rastos estava fresco e armei a rede ali e fiquei (...)”; - “Eu queria que na escola todas as pessoas fossem legais e simpaticos e simpaticas pois eles e elas são muito chatos ...”; - “e quandos nos pequenos compramosbrinquedo os grandes pegavam de nos e nos ficamos sem”; - “a comida deles era tão gostosa queu entrei para pedir um pouco de comida (...) e a comida era tão gostosa”; - “os nossos amigos, me pergunta que dia você vem ele está com muita falta e saldade de vocês.” A fim de não sermos muito cansativos, encerramos por aqui a enumeração das falhas cometidas quanto ao emprego dos elementos coesivos. Cabe mencionar, porém, que, embora os desvios sejam inúmeros, a principal falha refere-se ao abusivo emprego do pronome pessoal do caso reto “eu” e da conjunção aditiva “e”. Outro problema, bastante freqüente, percebido nas redações foi a impertinência das relações entre os fatos apresentados. Trata-se de um requisito de coerência a que Charolles chama relação (1997). Examinemos alguns textos em que o nãocumprimento dessa condição de coerência afeta todo o conjunto: (fragmento do texto 5.15) “(...) quando vi uma menina comendo fiquei com muita vontade de comer. Quando vi outra pessoa se trocando para ir para a escola, pensei: que vontade de ter um brinquedo diferente.”
  • 42. No fragmento acima há uma descontinuidade de raciocínio, manifestada pela impossibilidadede relacionarmos a idéia de o desejo de ter um brinquedo diferente ter sido provocado pelo fato de ver uma pessoa se trocando para ir à escola. Uma idéia não se relaciona à outra. (fragmento do texto 2.10) “(...) é muitobom ficar em casa para nós sair e muito divertido ficar em casa(...)” Ocorre, nesse fragmento uma desconexão na estrutura conceitual, que provoca incompreensão na relação entre as idéias que se pretende estabelecer. Seria necessário reestruturar o segmento para estabelecer a correlação entre as idéias e sanar a contradição aí existente. (fragmento do texto 2.2) “Meu 1º irmão querido eu fiquei com muito feliz de meu 1º irmão querido que bom você feio a minha casa (...)” O conteúdo desse enunciado não é, por nós, aceitável, uma vez que não nos remete a uma precisão nos conceitos denotados. Podemos reconstituir o raciocínio do aluno se pensarmos que o 1º irmão querido é o seu irmão mais novo e o primeiro nascido dentre os irmãos, portanto o mais velho dentre eles. No entanto, não é convencional empregarmos essa expressão e a estrutura da sentença é confusa, devendo ser refeita para se tornar mais clara. Para encerrar este tópico, temos de apontar, ainda, a utilização de estratégias da modalidade oral, na escrita dos textos. Não sendo alertados para a diferença entre a modalidade oral e escrita, os alunos não percebem quais os recursos expressivos coerentes a uma e outra e abusam das estratégias do dizer em seus textos escritos. Anteriormente, apontamos alguns textos em que os alunos escrevem sem atentar ao uso dos sinais de pontuação e, esse fator, indica-nos que o aluno pressupõe que a pontuação já vem marcada no que ele diz/escreve, isto é, imagina que a pontuação está implícita em sua fala, e, assim, simplesmente escreve como se estivesse se manifestando oralmente. Outra marca da linguagem oral, presente nos textos, são as excessivas repetições, as quais foram examinadas quando discorremos sobra a falta de progressão nos textos.
  • 43. Se consideramos, ainda, a especificidade da escrita, em relação à norma culta, temos graves problemas de concordância, que geralmente ocorrem na modalidade oral: “animais desconhecido”, “a minhas pernas começaro a tremer”, “os moradores acordava”, “a formiga e a cigarra se odiava”, “os meus pais não pode ver”, “quem sabe nosso pais volta a siteder...”, “e eles disse”, “nossas briga”, “e eles ficaram feliz para sempre”, “uns gral de feijão”, “vocês estão erado”, “se vocês estivesse aqui”, “vocês faz falta aqui”, “que vocês esteja aqui para nós brincar e paciar”, “o nossos avós morreu”, “eu e a nossa família está morrendo...”, “para nós sair”, “para esses político para eles quando vim pedir voto...”, “todos filho de rico tinha da queles brinquedo importado”, etc. Verifiquemos, agora, a predominância do advérbio de lugar “lá” não estabelecendo coesão entre as partes que se interligam umas às outras. O termo não se remete a um lugar específico, é um recurso que só poderia ser entendido na fala. (fragmento do texto 6. 11) “(...) então a formiga foi dormir só que não tinha jeito a cigarra não tinha parado e a formiga foi lá conversar com a cigarra por que não jeito de dormir então foi e conversarão muito (...)” (fragmento do texto 6.16) “Certo dia a cigarra viu a formiga trabalhando e sentiu vontade de trabalhar também e foi lá pedir emprego para a formiga (...)” Ocorre, também, o uso do recurso lingüístico “aí”, predominante da fala, para fazer o texto progredir. (fragmento do texto 4.4) “Ai eu comesei a cavocar terminei de cavocar ai coloquei folhas de bananeiras (...) (...) Ai ela foi enbora eu segui ela foi para casa dela eu vi os filhos dela ai que eu percibi (...)” Muitas outras inadequações, provenientes do emprego de recursos usados na linguagem oral foram encontradas. Limitar-nos-emos a apresentar, agora, somente os enganos cometidos com relação à ortografia. Seria oportuno analisarmos essas inadequações frente ao sistema de escrita do português, baseando-nos, por exemplo, em Cagliari (1991), que bem evidencia o porquê de os alunos cometerem os tipos de erros ortográficos que serão apresentados. Porém, não o faremos para que não
  • 44. extrapolemos a limitação dada a esse trabalho. Fica, aqui, a sugestão para pesquisas vindouras, tendo em vista que mesmo numa quinta série do ensino fundamental há a tendência de se considerar a escrita um espelho da fala. Vamos a eles: fiotes (filhotes), voutol (voltou), vamo (vamos), si (se), enconto (enquanto), o se (ou se), ispingarda (espingarda), se passaro (se passaram), outravez (outra vez), discançar (descançar), tempresta (te emprestar), medar (me dar), devouta (de volta), ajaula (a jaula), condo (quando), armadilia (armadilha), encorer ((em correr), olei (olhei), eu vove (eu vou ver), taveno (está vendo), ropa (roupa), começaro (começaram), entra (entrar), dê veis equando (de vez em quando), alá (olha lá), emfrente (em frente), rrasgada (rasgada), famílhas (famílias) famílhia (família), iscada (escada), compri (cumprir), diverdade (de verdade), vergoinha (vergonha), petia (pedia), andarino (andarilho), crecer (crescer), pisina (piscina), focê (fosse), feio (veio). Encerremos aqui a análise dos textos dos alunos, lembrando que não a exploramos em sua amplitude, ela poderia ser estendida, já que não esgotamos a integridade deficitária dos textos. Lembramos, ainda, que o estudo das redações que aqui foi feito se prendeu à análise das condições de produção desses textos. Nossa preocupação esteve voltada para a identificação dos problemas existentes, com a finalidade de tentar compreender as reais dificuldades que os alunos apresentam em seus textos escritos em decorrência da exclusão das condições de produção. Em razão do que foi apresentado, temos a dizer que o fato de a professora não observar as condições necessárias para a produção de um texto e o fato de não possibilitar releituras, revisão e reestruturação dos textos afetou, de forma negativa, o desempenho comunicativo escrito dos alunos. Todas as falhas apontadas nesta parte do estudo poderiam ser sanadas através da intervenção da professora. Se não sanadas, pelo menos amenizadas, se ao aluno fosse facultada não somente a ampliação da apropriação dos diversos recursos expressivos da língua quando da escrita de um texto, mas também a reflexão sobre a linguagem.
  • 45. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, Antônio Suárez. Curso de Redação. 3ª ed. São Paulo: Ática, 1990. AZEREDO, José Carlos de. Fundamentos de gramática do português. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. BEAUGRANDE R. de & DRESSLER, M. U. São Paulo: Ática, 1983. BENNTES, Anna Christina. Linguísticas Textual. In: MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina (orgs). Introdução à linguística 1. Domínios e Fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1998. CHAROLLES, M. Introdução aos problemas da coerência dos textos (Abordagem teórica e estudo das práticas pedagógicas). In: GALVES, C. & ORLANDI, E. P. & OTANI, P. O Texto: leitura e escrita. 2. ed. Campinas, São Paulo: Pontes, 1997. CHARAUDEAU, Patrick. Análise do discurso: controvérsias e perspectivas. In: MARI, Hugo; PIRES, Sueli; CRUZ, Amadeu Roselli; MACHADO, Ida Lúcia (orgs). Fundamentos e dimensões da análise do discurso. Belo Horizonte: Núcleo de Análise do Discurso – FALE /UFMG, 1997. COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. 3º ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006. DUARTE, Inês. Aspectos Linguísticos da Organização Textual. In: MIRA MATEUS, Maria Helena et al. Gramática da língua portuguesa. Lisboa: Caminho, 2003. FÁVERO, L. L. Coesão e coerência textuais. 4ª ed. São Paulo: Ática, 1999. FÁVERO, L. L. & KOCH, I. G. V. Critérios de Textualidade. Veredas, v. 104, 1983. FERREIRO, E. Com todas as Letras. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2011.
  • 46. FIORIN, José Luís. & SAVIOLO, Francisco Platão. Para entender o texto: Leitura e redação. São Paulo: Ática, 1990. FIORIN, J. L. e PLATÃO, F. Para entender o texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 1998. HALLIDAY, M. A. K. & HASAN, R. Estrutura e Função da Linguagem. Cohesion in English. London, Longman, 1976. GARCEZ, L.H.C. Técnica de redação: o que é preciso saber para bem escrever. 2ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2001. GUIMARÃES, Elisa. A articulação do texto. São Paulo: Ática, 1990. KLEIMAN, Angela. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 8ª ed. Campinas, SP: Pontes, 2008. KOCH, I. V. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2003. _______. A interação pela linguagem. São Paulo: Contexto, 2001. ––––––. A produção textual do sentido. In: VALENTE, André Crim (org.). Língua, linguística e literatura. Rio de Janeiro: UERJ, 1997. ––––––. Argumentação e linguagem. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 1991. KOCH, I. V. e TRAVAGLIA, L. C. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1997. MARCUSCHI, L. A. linguística de texto: o que é e como se faz. Série Debates 1, Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2003. PÉCORA, Alcir. Problemas de redação. 5ª ed. SãoPaulo: Martins Fontes, 1999. SARMENTO, Leila Lauar. Oficina de Redação. 2ª edição, São Paulo: Moderna, 2003.
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