O documento discute a evolução da globalização e como ela levou ao conceito de glocalização, no qual empresas desenvolviam produtos para seus mercados locais e os levavam para outros países. A glocalização teve sucesso limitado em alterar hábitos e costumes em larga escala. O documento também discute a ideia recente de "inovação reversa", na qual inovações vêm de mercados emergentes como os BRICs.
A TRILOGIA DA ESTAGNAÇÃO - Glocalização, Inovação Reversa e o Carroceiro
1. Management consultants
A TRILOGIA DA ESTAGNAÇÃO
Glocalização, Inovação Reversa e o Carroceiro
A teoria da globalização se originou na época da expansão territorial, através
dos descobrimentos, e que foi potencializada à partir da revolução industrial.
Todavia é importante ressaltar que ela, a globalização como atitude, se iniciou
no dia em que o homem partiu rumo às demais regiões africanas e então
através dos continentes motivado pelo instinto de preservação de sua vida.
Ela tinha uma motivação social e não econômica-financeira. Fundou-se na
necessidade do Homem em alimentar sua prole, indo atrás da caça que já
seguia seus próprios ciclos migratórios, em função do clima e da necessidade
de novas pastagens.
É bem verdade que não havia a intencionalidade nem o pensamento
estratégico formalizado, somente o intuitivo. O Homem simplesmente fazia
parte do fluxo migratório de sua cadeia alimentar.
Do caminhar, da necessidade de suplantar seus predadores e de fixar sua
tribo, vieram as primeiras estratégias, e com elas, o Homem circundou
continentes globalizando conceitos de sobrevivência e de preservação da
espécie adaptando-os às necessidades locais.
Ali estavam as bases do que viria a ser definido como “globalização”, no século
XV, e posteriormente nos anos 1990, a “glocalização”(uma declinação da
globalização, onde é preciso pensar global e agir localmente) posta em prática
de imediato por empresas norte-americanas e européias, a partir de sua visão
de mundo e de suas ofertas desenvolvidas para seus mercados locais, levaram
tais ofertas aos países em desenvolvimento.
É importante ressaltar que a glocalização parte da premissa que os demais
países (mercados) consumirão os produtos e serviços concebidos para uma
dada realidade sócio-econômica, muito diferente para os quais eles foram
concebidos, isto é, para mercados maduros. Tem ainda em si a crença sobre
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sua capacidade de mudar os hábitos e costumes, pela força do poder
econômico de suas organizações, prescrevendo suas idéias e conceitos.
Tamanho bombardeio de idéias acabou por influenciar o pensamento e
indicando tendências. Porém, o resultado prático ficou muito aquém das
projeções iniciais: os hábitos e costumes da grande massa populacional pouco
se alteraram. A exceção do mercado de eletroeletrônicos e
informática/telefonia, voltados às classes ABC, pouco foi substancialmente
alterado. Afinal, as classes DEF não faziam parte de seus alvos.
Nossa sociedade não é hoje algo comparável à sociedade norte-americana ou
européia. Ela tem a cara, a alma, os aromas, perfumes e nuances de todas as
influencias e amálgamas característicos de nossa cultura, ainda que contenha
traços das culturas européias e norte-americanas tão presentes nos meios de
comunicação em nossa sociedade.
As influencias sob as quais estivemos submetidos neste período de
glocalização se diluem num gigantesco caldeirão sócio-cultural multifacetado
que é o Brasil.
Evidentemente os países mais estruturados tiraram os maiores proveitos desta
“nova ordem econômica” que os ajudou a ampliar seu comércio internacional.
Estavam mais aptos a assumir a liderança destes processos. Até o início dos
anos 2000 nós não havíamos ainda desfrutado das benesses da glocalização,
sobretudo por razões internas, e por outros distúrbios econômicos em países
como México, Rússia, etc.
É bem verdade que o Japão, na década de 1970, e posteriormente os “tigres
asiáticos”, assim como os Estados-Unidos e Europa na década de 1980 e 1990,
tiraram seus proveitos, mas este modelo não foi suficientemente bom para
perenizar uma espiral virtuosa em suas economias.
Ainda nos anos 1990 o Brasil escancarava suas fronteiras, e, de maneira
desordenada, trouxe novos ares sob a simbólica frase: “Nossos carros se
parecem carroças”. O tempo, senhor da verdade, trouxe-nos o ensinamento:
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nossos veículos eram realmente ultrapassados e nós éramos conduzidos por
um carroceiro!
Surge agora um novo momento com a esperança dos BRICs (Brasil, Rússia,
Índia, China) países considerados a bola da vez, e coincidentemente (ou não?),
a exemplo do relatado sob o Japão e os tigres asiáticos, na medida em que um
grupo de economias cresce vertiginosamente as antigas grandes potencias
estão em declínio.
Isto sugere que podem não haver recursos/estruturas mundiais suficientes que
suportem o crescimento simultâneo de certo número de países, ou de um
determinado volume de negócios, sem que haja um declínio em outras
economias.
É possível que, a exemplo da natureza, na economia algo é possível de ser
criado em uma região econômica à condição que tenha como origem a sua
própria transformação em outra. Uma declinação das teorias do big-bang, da
causa e efeito e da Lei de Lavoisier (lei de conservação das massas).
Li ultimamente as declarações de Vijay Govindarajan, segundo o Business
Strategy Review ocupa a vigésima quarta posição no ranking do Thinkers 50,
de que a glocalização não funciona mais e que agora é o momento da
“inovação reversa”, onde o papel de inovar deve ser realizada nos mercados
emergentes e, então, levar estas inovações aos países desenvolvidos.
Permito-me ainda realizar uma leitura crítica e dizer: mas isto não é ainda a
mesma glocalização somente vista agora sob a perspectiva dos BRICs?
Em caso afirmativo, nós incorreríamos nos mesmos erros criando novas
ofertas, desta vez sob a “ótica BRIC”, para nossas realidades, hábitos e
costumes tentando fazer com que outros mercados as consumissem.
Novamente somente uma parcela do mundo inovando, concebendo e
produzindo e os demais consumindo produtos desenvolvidos a milhares de
quilômetros para suas próprias realidades?
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4. Management consultants
Com certeza muitos livros e palestras em várias partes do mundo acontecerão
sob o título “Inovação Reversa”, um apelido que impressiona e pode se tornar
um business e tanto.
Exemplos de sucesso corporativo mundial não faltam: a Apple e seus inúmeros
produtos que se transformaram em sonho de consumo e a Nokia, uma
empresa nascida na Finlândia (~5,5 milhões de habitantes), que vislumbrou o
mundo como seu mercado e desenvolveu um portfólio bastante segmentado.
Ambas se apropriaram de seus destinos e coincidentemente ambas as
empresas colocaram a experiência do usuário em primeiro plano.
Vejo ainda que somos prisioneiros dos modismos corporativos e da síndrome
do faroeste. Estamos sempre à espera de novos rótulos e idéias pasteurizadas
para repeti-las infindavelmente sem sequer questionar quanto sentido elas
fazem. Estamos à espera do mocinho com chapéu e botas, montado em seu
cavalo e com uma arma com seis balas capaz de aniquilar duzentos índios.
Tudo muito démodé, repetitivo e inadequado para um mundo cheio de
oportunidades, nuances e cores a serem descobertas e redescobertas. E muitos
de nós ainda ficam extasiados com os kits de sucesso que, se adotados aos
milhares, nos levam à inexistência da diferenciação.
Valmir Mondejar mais sobre....
27/09/2010
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