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Colégio São Francisco de Sales – DIOCESANO
 Prof. Adriano Lobão Aragão




Mensagem
Fernando Pessoa
Mensagem
 Fernando Pessoa




    Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
    Não há nada mais simples.
    Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte.
    Entre uma e outra todos os dias são meus.

    (Fernando Pessoa/Alberto Caeiro; Poemas Inconjuntos; Escrito entre 1913-15;
    Publicado em Atena nº 5, Fevereiro de 1925)
Mensagem
      Fernando Pessoa




Cecília Meireles foi a Portugal, para proferir conferências na
Universidade de Coimbra e Universidade de Lisboa, em 1934. Um grande
desejo seu era conhecer o poeta de quem se tinha tornado admiradora.
Através de um dos escritórios para o qual trabalhava o poeta, conseguiu
comunicar-se com ele e marcar um encontro. Esse encontro ficou fixado
para o meio-dia, mas ela esperou inutilmente até as duas da tarde, sem
que Fernando Pessoa desse o ar de sua presença. Cansada de esperar,
Cecília voltou ao hotel e teve a surpresa de encontrar um exemplar do
livro Mensagem e um recado do misterioso poeta, justificando que não
comparecera porque consultara os astros e, segundo seu horóscopo, “os
dois não eram para se encontrar”. Realmente, não se encontraram, nem
houve mais muita oportunidade para isso, já que no ano seguinte
Fernando Pessoa faleceu.
Mensagem
    Fernando Pessoa



Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 13 de Junho de 1888 — Lisboa,
30 de Novembro de 1935), mais conhecido como Fernando Pessoa, foi um
poeta e escritor português.

É considerado um dos maiores poetas de língua portuguesa, e o seu valor é
comparado ao de Camões. O crítico literário Harold Bloom considerou-o, ao
lado de Pablo Neruda, o mais representativo poeta do século XX. Por ter
vivido a maior parte de sua juventude na África do Sul, a língua inglesa
também possui destaque em sua vida, com Pessoa traduzindo, escrevendo,
trabalhando e estudando no idioma. Teve uma vida discreta, em que atuou no
jornalismo, na publicidade, no comércio e, principalmente, na literatura, onde
se desdobrou em várias outras personalidades conhecidas como
heterônimos. A figura enigmática em que se tornou movimenta grande parte
dos estudos sobre sua vida e obra, além do fato de ser o maior autor da
heteronímia.

Morreu de problemas hepáticos aos 47 anos na mesma cidade onde nascera,
tendo sua última frase sido escrita na língua inglesa, com toda a simplicidade
que a liberdade poética sempre lhe concedeu: "I know not what tomorrow will
bring... " ("Eu não sei o que o amanhã trará").
Mensagem
    Fernando Pessoa




Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Mensagem
  Fernando Pessoa

Alberto Caeiro
X - Olá, Guardador de Rebanhos

  "Olá, guardador de rebanhos,
  Aí à beira da estrada,
  Que te diz o vento que passa?“

  "Que é vento, e que passa,
  E que já passou antes,
  E que passará depois.
  E a ti o que te diz?“

  "Muita cousa mais do que isso.
  Fala-me de muitas outras cousas.
  De memórias e de saudades
  E de cousas que nunca foram.“

  "Nunca ouviste passar o vento.
  O vento só fala do vento.
  O que lhe ouviste foi mentira,
  E a mentira está em ti."
Mensagem
  Fernando Pessoa

Ricardo Reis
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
    (Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
     Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
    E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
    E sempre iria ter ao mar.
Mensagem
  Fernando Pessoa

Ricardo Reis
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio II

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quise'ssemos, trocar beijos e abrac,os e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
    Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente nao cremos em nada,
     Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
    Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o o'bolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
     Pagã triste e com flores no regaço.
Mensagem
 Fernando Pessoa
Mensagem
  Fernando Pessoa

Álvaro de Campos
Todas as Cartas de Amor são Ridículas

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Mensagem
  Fernando Pessoa

Álvaro de Campos
Todas as Cartas de Amor são Ridículas II

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Mensagem
  Fernando Pessoa


X. MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
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  • 1. Colégio São Francisco de Sales – DIOCESANO Prof. Adriano Lobão Aragão Mensagem Fernando Pessoa
  • 2. Mensagem Fernando Pessoa Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, Não há nada mais simples. Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte. Entre uma e outra todos os dias são meus. (Fernando Pessoa/Alberto Caeiro; Poemas Inconjuntos; Escrito entre 1913-15; Publicado em Atena nº 5, Fevereiro de 1925)
  • 3. Mensagem Fernando Pessoa Cecília Meireles foi a Portugal, para proferir conferências na Universidade de Coimbra e Universidade de Lisboa, em 1934. Um grande desejo seu era conhecer o poeta de quem se tinha tornado admiradora. Através de um dos escritórios para o qual trabalhava o poeta, conseguiu comunicar-se com ele e marcar um encontro. Esse encontro ficou fixado para o meio-dia, mas ela esperou inutilmente até as duas da tarde, sem que Fernando Pessoa desse o ar de sua presença. Cansada de esperar, Cecília voltou ao hotel e teve a surpresa de encontrar um exemplar do livro Mensagem e um recado do misterioso poeta, justificando que não comparecera porque consultara os astros e, segundo seu horóscopo, “os dois não eram para se encontrar”. Realmente, não se encontraram, nem houve mais muita oportunidade para isso, já que no ano seguinte Fernando Pessoa faleceu.
  • 4. Mensagem Fernando Pessoa Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 13 de Junho de 1888 — Lisboa, 30 de Novembro de 1935), mais conhecido como Fernando Pessoa, foi um poeta e escritor português. É considerado um dos maiores poetas de língua portuguesa, e o seu valor é comparado ao de Camões. O crítico literário Harold Bloom considerou-o, ao lado de Pablo Neruda, o mais representativo poeta do século XX. Por ter vivido a maior parte de sua juventude na África do Sul, a língua inglesa também possui destaque em sua vida, com Pessoa traduzindo, escrevendo, trabalhando e estudando no idioma. Teve uma vida discreta, em que atuou no jornalismo, na publicidade, no comércio e, principalmente, na literatura, onde se desdobrou em várias outras personalidades conhecidas como heterônimos. A figura enigmática em que se tornou movimenta grande parte dos estudos sobre sua vida e obra, além do fato de ser o maior autor da heteronímia. Morreu de problemas hepáticos aos 47 anos na mesma cidade onde nascera, tendo sua última frase sido escrita na língua inglesa, com toda a simplicidade que a liberdade poética sempre lhe concedeu: "I know not what tomorrow will bring... " ("Eu não sei o que o amanhã trará").
  • 5. Mensagem Fernando Pessoa Autopsicografia O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que lêem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração.
  • 6. Mensagem Fernando Pessoa Alberto Caeiro X - Olá, Guardador de Rebanhos "Olá, guardador de rebanhos, Aí à beira da estrada, Que te diz o vento que passa?“ "Que é vento, e que passa, E que já passou antes, E que passará depois. E a ti o que te diz?“ "Muita cousa mais do que isso. Fala-me de muitas outras cousas. De memórias e de saudades E de cousas que nunca foram.“ "Nunca ouviste passar o vento. O vento só fala do vento. O que lhe ouviste foi mentira, E a mentira está em ti."
  • 7. Mensagem Fernando Pessoa Ricardo Reis Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. (Enlacemos as mãos.) Depois pensemos, crianças adultas, que a vida Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa, Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado, Mais longe que os deuses. Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos. Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio. Mais vale saber passar silenciosamente E sem desassosegos grandes. Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz, Nem invejas que dão movimento demais aos olhos, Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria, E sempre iria ter ao mar.
  • 8. Mensagem Fernando Pessoa Ricardo Reis Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio II Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos, Se quise'ssemos, trocar beijos e abrac,os e carícias, Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro Ouvindo correr o rio e vendo-o. Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as No colo, e que o seu perfume suavize o momento - Este momento em que sossegadamente nao cremos em nada, Pagãos inocentes da decadência. Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova, Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos Nem fomos mais do que crianças. E se antes do que eu levares o o'bolo ao barqueiro sombrio, Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti. Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio, Pagã triste e com flores no regaço.
  • 10. Mensagem Fernando Pessoa Álvaro de Campos Todas as Cartas de Amor são Ridículas Todas as cartas de amor são Ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas. Também escrevi em meu tempo cartas de amor, Como as outras, Ridículas. As cartas de amor, se há amor, Têm de ser Ridículas. Mas, afinal, Só as criaturas que nunca escreveram Cartas de amor É que são Ridículas.
  • 11. Mensagem Fernando Pessoa Álvaro de Campos Todas as Cartas de Amor são Ridículas II Quem me dera no tempo em que escrevia Sem dar por isso Cartas de amor Ridículas. A verdade é que hoje As minhas memórias Dessas cartas de amor É que são Ridículas. (Todas as palavras esdrúxulas, Como os sentimentos esdrúxulos, São naturalmente Ridículas.)
  • 12. Mensagem Fernando Pessoa X. MAR PORTUGUÊS Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu.