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FUNDAMENTOS DA
EDUCAÇÃO
Conteúdo Programático
GRADUAÇÃO
PEDAGOGIA
PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
Diretoria do NEAD: Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Assessoria da Direção: Diene Eire dos Santos Carneiro
Coordenação Ensino: Viviane Marques Goi
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NEAD - Núcleo de Educação a Distância - bl. 4 sl. 1 e 2 - (44) 3027-6363 - ead@cesumar.br - www.ead.cesumar.br
Reitor: Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor: Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Acadêmico: Claudio Ferdinandi
Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão: Flávio Bortolozzi
“As imagens utilizadas nesta apostila foram obtidas a partir dos sites contratados através da empresa LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ.
Animation Factory; Purestockx; Photoobjects; Clipart e Ablestock”.
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
		
	 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação
	 a distância:
C397		 Fundamentos da educação/ Maria Lúcia Bertachini Nosella, 	
	 Rachel Bratherhood, Alex Eduardo Gallo - Maringá - PR, 2009.
		 188 p.
			
			 “Curso de Graduação em Pedagogia - EaD”.
		
	 	 Conteúdo: Fundamentos históricos e filosóficos da educa-	
	 ção. Psicologia da educação.
	 1. Pedagodia 2. Psicologia da educação. 3. Fundamentos 		
	 históricos. 4. EaD. I. Título.
				 CDD - 22 ed. 370
				 CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - CESUMAR
PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
Professora Drª. Rachel Brotherhood
Professor Dr. Alex Eduardo Gallo
SUMÁRIO
UNIDADE I
APRENDIZAGEM: CONCEITOS BÁSICOS
APRENDIZAGEM....................................................................................................................................................11
OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM........................................................................................................................12
UNIDADE II
DESENVOLVIMENTO
DIFERENTES ABORDAGENS TEÓRICAS DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM............................................ 19
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO....................................................................................................................... 20
COGNITIVISMO..................................................................................................................................................... 23
HUMANISMO......................................................................................................................................................... 28
UNIDADE III
DESENVOLVIMENTO NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA
O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA CRIANÇA DE ACORDO COM
JEAN PIAGET....................................................................................................35
UNIDADE IV
O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
A TEORIA PSICANALÍTICA DE SIGMUND FREUD..............................................................................................47
UNIDADE V
TEORIAS RECENTES DA APRENDIZAGEM
PARADIGMA DE EQUIVALÊNCIA DE ESTÍMULOS............................................................................................. 55
PRÁTICA PEDAGÓGICA....................................................................................................................................... 61
REFERÊNCIAS...................................................................................................................................................... 68
UNIDADE I
APRENDIZAGEM: CONCEITOS BÁSICOS
Professora Drª. Rachel Brotherhood
Professor Dr. Alex Eduardo Gallo
Objetivos de Aprendizagem
•	 Estudar a Psicologia da Educação como área do conhecimento: objeto de estudo.
•	 Destacar as principais dimensões da Psicologia da Educação.
•	 Conhecer o processo de desenvolvimento e aprendizagem: diferentes abordagens teóricas.
Plano de Estudo
A seguir apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
•	 Conceitos básicos de aprendizagem.
•	 Objetivos da aprendizagem.
•	 Fatores Intrapessoais e situacionais.
9PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
INTRODUÇÃO
OPedagogoéumprofissionalquetemumainfluênciadecisiva
e uma grande responsabilidade com a formação de crianças
e jovens. Houve um período da história em que se achava
que a responsabilidade da escola se limitava à transmissão
de conhecimentos, de conteúdos ligados às diversas
disciplinas e ciências, porém, atualmente, a educação
escolar é assumida prática libertadora e promotora do
desenvolvimento integral do ser humano, o que envolve não
apenas aspectos cognitivos, como dimensões emocionais e
sociais, vez que o ser humano é um ser complexo, constituído
por todas essas dimensões.
Quando falamos em “prática promotora do desenvolvimento
integral do ser humano” deixamos clara a crença de que o
desenvolvimento é um processo influenciado pelo ambiente,
que ocorre quando o potencial genético do indivíduo é levado
a se manifestar pelos estímulos do meio, e, mais que isto,
que o ambiente pode ajudar o aluno a superar limites e atingir patamares
superiores de desenvolvimento, se favorecido pela ação do meio.
Quando falamos em “prática libertadora” acreditamos que, muitas vezes,
os limites colocados pela ação do meio social podem ser quebrados
e superados pela ação direcionada da escola. Assim, fica clara a
responsabilidade do Pedagogo, com os processos de desenvolvimento e
aprendizagem do aluno.
Estes processos de desenvolvimento e aprendizagem são descritos e
explicados pela Psicologia Escolar, ramo da Psicologia que estuda o
ser humano nas dimensões consideradas e indica diretrizes para que os
profissionais da Educação encaminhem com cientificidade a sua prática.
Justifica-se, assim, a importância da disciplina Psicologia Escolar no
currículo do curso de Pedagogia. Esta disciplina traz alguns conteúdos que
irãopermitiracompreensãodoprincipal elementodoprocessoeducacional,
o aluno, favorecendo assim a prática pedagógica.
Mas,aescoladehojealémdesepreocuparcomodesenvolvimentoindividual
do aluno, também trouxe para si a responsabilidade pelo desenvolvimento
social do indivíduo e de contribuir para a inserção na comunidade de todos
os seus alunos. Cabe-nos, então, buscar a compreensão do processo de
desenvolvimento e de aprendizagem de crianças e jovens no contexto de
Fonte:LEVENDULAIMAGEMDIGITALLTDA-RiodeJaneiro-RJ
10 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
sua realidade histórica, utilizando também os conhecimentos da Psicologia
Social como parâmetro de estudo do educando.
Desta forma, esperamos contribuir para levá-los a enfrentar o desafio
acadêmico da atualidade, que é superar a visão da educação como busca
de desenvolvimento individual, de aquisição de competências e habilidades,
de autonomia intelectual (aprender a aprender) – visão liberal que prioriza
o consumo da informação e a busca do conhecimento como instrumento
de promoção individual – e substituí-la por uma visão crítica que dê outro
significado à escolarização oportunizada pela escola, analisando suas
condições objetivas, concretas, de instituição inserida em uma sociedade
suscetível a mudanças e em permanente processo de transformação.
Estudaremos três dimensões do desenvolvimento humano, essenciais para
a compreensão do processo ensino-aprendizagem – o desenvolvimento
da personalidade; o desenvolvimento da capacidade de conhecer e o
desenvolvimento sócio-cultural. As teorias escolhidas para analise destas
dimensões são as de Freud, Piaget, Vygotsky e Skinner, respectivamente.
As duas primeiras são teorias desenvolvimentistas, a terceira é histórico-
cultural e a última é comportamental. Freud e Piaget descrevem,
através de estágios, os processos de desenvolvimento da criança e do
adolescente, sobretudo nos aspectos estruturais e motivacionais. Tais
descrições, embora, aparentemente, desconsiderem o contexto histórico
das manifestações do desenvolvimento, nos ajudam a entender como
o individuo constrói sua imagem de mundo e de si próprio. Já Vygotsky
aborda, sobretudo, a importância das interações e das mediações
realizadas pelos outros (pais, professores, colegas) na promoção do
desenvolvimento, destacando o papel da atividade e da interação social
sobreodesenvolvimentoeaaprendizagem.Skinner,semelhanteàVygotsky,
considera, principalmente, as interações do indivíduo com o ambiente, na
determinação de comportamentos, desenvolvimento e personalidade.
O desafio é, partindo destas teorias, chegarmos à compreensão do
indivíduo; partindo da descrição do particular, mas o particular inserido no
social, e uma compreensão dialética, dando corpo a uma reflexão sobre
as múltiplas conexões destes processos individuais na unidade homem-
mundo, considerando como referencial, sobretudo, o ambiente escolar, e
como critério, a relação teoria-prática.
11PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
APRENDIZAGEM
Descreveremos, a seguir, os principais enfoques dados pela Psicologia
Educacional ao processo de Aprendizagem. Apresentaremos os
pressupostos teóricos da Análise do Comportamento, Construtivismo
e Humanismo. Analisaremos as principais práticas pedagógicas
representativas da Análise do Comportamento, do Construtivismo e do
Humanismo (SKINNER, PIAGET, VYGOTSKY E ROGERS).
APRENDIZAGEM – CONCEITOS BÁSICOS
A Psicologia da Aprendizagem é um ramo da
Psicologia Educacional cujo interesse, historicamente
documentado, é “contribuir para a formação intelectual
dosalunoscomaqualidadedesuasaprendizagens,bem
como com o seu completo desenvolvimento pessoal e
social” (BORUCHOVITCH; BZUNEK (org), 2004).
Muitas vezes, nas licenciaturas ou mesmo na pós-
graduação, o aluno se pergunta por que precisa estudar
psicologia, se ele não pretende ser psicólogo. Acontece
que a Pedagogia e a Psicologia têm o mesmo objeto
de estudo, o ser humano, e são dois campos de ação
nos quais as relações com o outro são o eixo central, e para construir
a prática pedagógica nos complexos espaços interativos da escola,
precisamos buscar na psicologia o entendimento dessas relações; assim,
a compreensão dos processos de aprendizagem e desenvolvimento
possibilita a construção de novas práticas pedagógicas, mais efetivas.
Voltando à definição de psicologia educacional, nela podemos identificar
duas dimensões; a primeira dimensão é o processo de aprendizagem dos
alunos. A segunda é o seu desenvolvimento pessoal e social. Vejamos
como cada um desses dois pontos pode ser abordado.
O objetivo de promover a aprendizagem começa a ser alcançado mediante
a compreensão de COMO O ALUNO APRENDE. Esse fenômeno envolve
PROCESSOS e FATORES. Em outras palavras, saber como acontece
a aprendizagem constitui-se em elemento facilitador e promotor do
desenvolvimento de estratégias de ensino mais eficazes. Enfocando os
processos, vejamos alguns conceitos.
Fonte:LEVENDULAIMAGEMDIGITALLTDA-RiodeJaneiro-RJ
12 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
•	 APRENDIZAGEM – comportamento novo e relativamente estável,
que aparece em decorrência da experiência ou do treino; uso de
conhecimento na resolução de problemas, construção de novos
significados, de novas estruturas cognitivas; aquisição de informação
etc.
•	 COMO APRENDEMOS – por imitação, insight, condicionamento
e raciocínio; o raciocínio é a forma de aprender exclusiva do ser
humano.
•	 RACIOCÍNIO – operação que envolve: prever, julgar, planejar, levantar
hipóteses, fazer deduções. Avaliar a situação para encontrar soluções.
O processo de ensino consiste em promover a aprendizagem do aluno.
Sendoumprocessointerno,afunçãodaescolaedoprofessorélevaroaluno
a dominar este processo, desenvolvendo estratégias de aprendizagem.
•	 ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM – ações com as quais envolvem
o aluno durante a aprendizagem, com o objetivo de realizar retenções e
recuperações das informações armazenadas na memória.
Tornar-se um processador de informações eficaz e conhecer diferentes
estratégias de aprendizagem, bem como saber por que, como e quando
usá-las, torna o sujeito um bom aprendiz.
OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM
•	 AUTO-REGULAÇÃO – controle do comportamento, das emoções e
dos processos cognitivos;
•	 MOTIVAÇÃO–construtocentraldaauto-regulaçãoedodesenvolvimen-
to de todas as formas de controle voluntário; a etimologia da palavra
sugere que motivo é aquilo que move uma pessoa, que a põe em ação
ou a faz mudar de curso, e assegura a persistência em uma atividade
(BZUNECK, in BORUCHOVITCH; BZUNECK, 2001). É um processo
psicológico dinâmico, presente em qualquer atividade humana. Em
uma sala de aula, leva o aluno a envolver-se em atividades pertinentes
ao processo de aprendizagem, escolhendo um curso de ação dentre
outros possíveis ao seu alcance. É a motivação que assegura a
ocorrência de produtos de aprendizagem ou tipos de desempenho
socialmente valorizados. Atualmente, com a notável prevalência
das abordagens cognitivas e sócio-históricas da aprendizagem, e o
destaque na importância do outro significativo no desenvolvimento
e na aprendizagem, o estudo da motivação do aluno tem-se voltado
para os componentes internos da motivação, cognitivos, como metas,
crenças, atribuições, percepções, com destaque para a crença na
auto-eficácia e outras variáveis ligadas ao “self”, como auto-realização,
satisfação, medo, ansiedade, entre outras, e também para o processo
de socialização, pois a presença do outro é fundamental para a
13PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
aprendizagem e o desenvolvimento. Pode-se dizer que a escola deve
trabalhar no sentido de desenvolver a motivação do aluno na busca
de sua auto-regulação cognitiva, emocional e social, que promove uma
educação para a vida e o exercício da cidadania.
Considerando todos estes aspectos motivacionais, auto-regular o
desenvolvimento cognitivo é:
•	 Exercer controle sobre a atenção e os processos de memória.
•	 Desenvolver regras e estratégias para pensar e resolver problemas.
•	 Organizar o pensamento e ajustar o comportamento (curso de ação)
sempre que necessário.
Tal processo de busca da auto-regulação visa substituir a regulação externa
assistida por uma auto-regulação baseada nas ferramentas adquiridas
na relação com o outro, chegando o aluno a um controle consciente,
reflexivo.
A auto-regulação pressupõe a METACOGNIÇÃO, que é a autoconsciência
no que diz respeito aos próprios processos e estratégias cognitivas.
Capacidade do ser humano de ser AUTO-REFLEXIVO, não sendo só
capaz de pensar, mas de pensar sobre os próprios pensamentos. Consiste
em uma reflexão a nível elevado, consciência de si mesmo como aprendiz,
monitoramento e regulação ativos dos processos cognitivos. Planejar,
selecionar, inferir, auto-interrogar e interpretar experiências. Julgar o que
sabe para realizar uma tarefa.
Alunos com desempenho escolar insatisfatório apresentam claros atrasos
no desenvolvimento metacognitivo, ou seja, um dos pontos principais de
diferença entre alunos com alto desempenho e baixo desempenho escolar
é o seu grau de auto-regulação da aprendizagem.
Leitura Complementar:
ANGOTTI, Maristela. O trabalho docente na pré-escola: Revisitando
teorias, descortinando práticas. São Paulo: Pioneira Thonnson Learning,
2002.
Pensemos em alguns fatores determinantes da aprendizagem do aluno.
Destacamos que aqui vamos apenas citá-los, já que pretendemos abordá-
los em mais profundidade, dentro de um enfoque das quatro teorias que
14 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
serão estudadas no nosso curso. Podemos dividir esses fatores, para fins
didáticos, em:
•	 FATORES INTRAPESSOAIS – são fatores internos e individuais,
que resultam de capacidades genéticas, história de vida, situações
informais e formais de aprendizagem, entre outros; aqui podemos citar:
idade mental, nível de inteligência, maturidade emocional, prontidão,
comportamentos sociais, padrões familiares, motivação. Também
podemos falar de temperamento, personalidade e auto-eficácia;
•	 FATORES SITUACIONAIS - interpessoais são fatores do contexto
social. O contexto escolar possibilita interação com os pares, interação
professor-aluno, socialização. Esses aspectos contextuais possibilitam
o atendimento da necessidade do indivíduo de pertencer e estabelecer
vínculos, essenciais na construção da identidade, e que têm reflexos
importantes na aprendizagem e no desenvolvimento humano.
Destacamos que comportamentos desadaptados, disfuncionais ou
patologias mais severas na adolescência e na vida adulta podem ser
resultantes ou agravados por vivências escolares.
Ressaltamosqueosaspectosintrapessoaisesituacionaisdaaprendizagem
não se opõem nem representam uma divisão dicotômica, mas são
inseparáveis e se constituem em visões complementares de um mesmo
fenômeno psicológico, a aprendizagem.
A formação atual do pedagogo, mais voltadas para a prática e as questões
metodológicas (de ensino) tem deixado na escola um vazio no domínio
dos aspectos psicológicos do desenvolvimento e da aprendizagem que
prejudica a promoção dos processos de desenvolvimento sócio-emocional
dos alunos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Existem diferentes abordagens na Psicologia. Algumas apresentam
teorias relacionadas aos processos de desenvolvimento e aprendizagem
mais específicas do que outras teorias. Vimos nesta unidade, conceitos
básicos sobre aprendizagem e ensino, considerando fatores e questões
ligadas à atividade escolar, e alguns aspectos do desenvolvimento de
crianças e jovens, com ênfase na dimensão cognitiva e na constituição da
personalidade.
A escolha destas dimensões deveu-se à necessidade de uma compreensão
do processo de desenvolvimento e de aprendizagem do aluno, vez que a
disciplina, Psicologia Escolar, compõe o currículo do curso de graduação
SAIBA MAIS
SOBRE O ASSUNTO:
Acesseolink:http://kplus.cosmo.com.
br/materia.asp?co=205&rv=literatura.
Acessado em 30/07/2009.
15PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
em Pedagogia.
É importante salientar que o processo de ensino e de aprendizagem se
constitui uma forma inerente ao desenvolvimento humano, não só de
habilidades, mas de competência social, o que reflete, na prática docente,
um senso crítico, fundamental para o desenvolvimento das sociedades.
ATIVIDADE DE AUTO-ESTUDO
1.	 Descreva a importância do estudo da Psicologia Escolar para o
desenvolvimento de uma prática pedagógica efetiva.
2.	 Elabore, com suas palavras, a partir da leitura do texto de Introdução
da unidade I, um CONCEITO DE APRENDIZAGEM que demonstre sua
percepção deste processo.
3.	 Faça uma síntese, de no máximo 10 linhas, sobre os objetivos da
aprendizagem na percepção de uma Pedagogia que busque não
apenas aprendizagens cognitivas, mas também o desenvolvimento
sócio-emocional do aluno.
4.	 Formule, com suas palavras, uma descrição de um “bom aprendiz” na
perspectiva adotada no texto.
UNIDADE II
DESENVOLVIMENTO
Professora Drª. Rachel Brotherhood
Professor Dr. Alex Eduardo Gallo
Objetivos de Aprendizagem
•	 Analisar a Teoria da Psicanálise.
•	 Estudar a Epistemologia Genética de Jean Piaget.
•	 Observar a Teoria Histórico Cultural de Vygotsky.
•	 Conhecer o Modelo Ecológico de Bronfenbrenner.
•	 Analisar a Análise do Comportamento.
Plano de Estudo
A seguir apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
•	 A Psicanálise: Freud.
•	 A Epistemologia Genética de Jean Piaget.
•	 A teoria Histórico-Cultural: Vygotsky.
•	 O Modelo Ecológico de Bronfenbrenner
•	 A Análise do Comportamento: Skinner
19PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
DIFERENTES
ABORDAGENS TEÓRICAS
DO PROCESSO DE
APRENDIZAGEM
Vimos, no item anterior,
os conceitos básicos de
aprendizagem e desenvolvimento,
com o objetivo de facilitar a
compreensão e o domínio das
teorias que vamos estudar nesta
e nas próximas unidades.
Sabemos que uma teoria é uma tentativa de sistematizar os conhecimentos
produzidos por um autor ou grupo de autores sobre um determinado objeto
deestudoouumaáreadeconhecimento.É,portanto,umamaneiraparticular
de ver e explicar os fenômenos e orientar a solução de problemas.
Uma teoria de aprendizagem é, portanto, “uma construção humana para
interpretar, sistematicamente, a área de conhecimento que chamamos
aprendizagem. Representa o ponto de vista de um autor/pesquisador
sobre como interpretar o tema aprendizagem [...]. Tenta explicar o que é
aprendizagem e porque funciona como funciona” (MOREIRA, 1999).
Segundo este autor, de uma maneira geral, as teorias de aprendizagem
estão contidas em teorias mais amplas de desenvolvimento, como é o
caso, por exemplo, da teoria de Piaget, que embora sendo uma teoria de
desenvolvimento, tem muitas implicações para a aprendizagem. Outra
questão ressaltada pelo autor é que a aprendizagem tem componentes
cognitivos, afetivos e psicomotores, mas que em cada situação há o
predomínio de um desses componentes; a aprendizagem cognitiva, foco da
maioria das teorias, destaca o armazenamento organizado de informações
e conhecimentos na memória do aprendiz; a aprendizagem afetiva trata de
experiências como prazer e dor; satisfação e descontentamento, alegria ou
ansiedade, e a aprendizagem psicomotora enfoca habilidades adquiridas
por meio do treino e da prática.
Aqui, por necessidade de definirmos um foco e não por considerarmos
exclusivas ou mais importantes, abordamos duas das principais linhas de
pensamento sobre aprendizagem cognitiva (PIAGET E VYGOTSKY) e a
teoria de Freud, que descreve aspectos motivacionais e constituição da
personalidade através de estágios na infância e adolescência, por sua
Fonte:LEVENDULAIMAGEMDIGITALLTDA-RiodeJaneiro-RJ
20 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
importância para a compreensão da educação escolar e a Análise do
Comportamento, pela importância na compreensão dos comportamentos
humanos. No entanto, a seguir explicitamos as principais linhas de
pensamento da Psicologia Escolar, destacando o enfoque de cada uma
dessas linhas.
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
Dentro do pensamento do Behaviorismo, cuja principal teoria de
aprendizagem é a ANÁLISE DO COMPORTAMENTO, há um pressuposto
filosófico que está na ênfase nos comportamentos observáveis e
mensuráveis, ou seja, é uma linha de pensamento que acredita no estudo
dos comportamentos, sendo estes entendidos como uma relação de
contingência entre as respostas do sujeito, os estímulos e as conseqüências
produzidas: o indivíduo responde de acordo com a presença de um
estímulo específico e produz uma conseqüência, que pode aumentar a
probabilidade da mesma resposta ocorrer novamente, na presença da
condição que a originou (reforço) ou diminuir essa probabilidade (punição).
Isto significa que se podem manipular os eventos anteriores e posteriores
aos comportamentos, e, assim, controlá-los. Uma crítica errônea que é
feita a Análise do Comportamento é que esta abordagem não considera
as atividades mentais que acontecem entre a apresentação do estímulo e
a emissão da resposta.
A Análise do comportamento, como princípio epistemológico e ontológico,
nãoconsideraaexistênciadeprocessosmentais.Osprocessosmentaissão
considerados, também, comportamentos, embora não sejam diretamente
observáveis, pois ocorrem dentro do organismo da pessoa, mas podem
ser analisados em função da sua manifestação. Esses comportamentos
recebem o nome de comportamento verbal, que podem ser vocalizados
(fala) ou não vocais (pensamento).
O Behaviorismo surgiu nos Estados Unidos, no início do século XX,
e posteriormente B. F. Skinner o modificou, tornando-se o principal
representante desta linha de pensamento.
A Teoria Behaviorista de Skinner tem seus fundamentos nos trabalhos
de Ivan Pavlov, John Watson e Edward L. Thorndike, que desenvolveram
o Conexionismo, teoria que supõe que todas as respostas são eliciadas
por estímulos, ou seja, a idéia de conexão entre estímulo e resposta
21PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
(S-R). Esta concepção era uma abordagem periférica, que não levava
em consideração o que ocorria na mente do indivíduo durante o processo
de aprender. Em função disto, o próprio Skinner reformulou as teorias
antecedentes, agora denominadas de Behaviorismo Metodológico e criou
o Behaviorismo Radical, considerando o seu trabalho como “uma análise
das relações funcionais entre estímulo e resposta” (MOREIRA, 1999, p.
50). Considera-se que o comportamento é provocado por um estímulo
específico, aprendido em razão das contingências de controle, que envolve
a relação entre o antecedente (estímulo) e as conseqüências. As pessoas
tendem a se comportar para obter recompensas e evitar punições. Estes
fatos, ocorridos após a manifestação do comportamento, são denominados
reforço e aumentam ou diminuem a possibilidade de que o comportamento
se manifesta novamente.
Daí decorre outro conceito importante nos estudos de Skinner, que é o
condicionamento. Quando se estabelece uma conexão entre uma resposta
do indivíduo (comportamento provocado por algum estímulo e que é
reforçado) e um outro estímulo (estímulo inicialmente neutro porque não
provocava aquela resposta), e pela contigüidade e repetição, o estímulo
neutro passa a eliciar a resposta que, anteriormente, não era ligada a ele,
diz-se que houve condicionamento.
Denomina-se ainda o comportamento de operante ou respondente. No
comportamento operante, o indivíduo age sobre o meio, modificando-o e
sendo modificado por ele (processo de aprendizagem). E o comportamento
respondente são aqueles comportamentos reflexos, que nascem com a
pessoa, como fechar os olhos quando um objeto bate nos olhos, retirar a
mão rapidamente quando encosta-se em algo muito quente.
Na concepção de Skinner, o processo de modelagem consiste em
condicionar a apresentação de um comportamento complexo através de
aproximações sucessivas, ou seja, reforça-se o comportamento próximo
daquele que se deseja (comportamento inicial) e segue-se reforçando
os comportamentos que mais se aproximam do comportamento terminal
desejado, até que o indivíduo atinja este comportamento terminal. O
processo de modelagem foi o primeiro conceito utilizado para explicar a
aprendizagem.
Os comportamentos condicionados podem ser extintos ou esquecidos
pela eliminação do reforço; Quando o indivíduo emite o comportamento,
muitas vezes (o número de vezes varia de acordo com o indivíduo, com
Skinner
22 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
a importância do comportamento para ele, e uma série de outros fatores
significativos), sem que seja reforçado, sua probabilidade de ocorrência
diminui e ele pode ser esquecido pelo sujeito.
Considerando a relação entre condicionamento e aprendizagem, pode-se
dizer que a aprendizagem é muito mais ampla do que o condicionamento.
Enquanto o condicionamento é o aumento de freqüência de uma resposta
associadaareforçadorpositivosobcondiçõesdeterminadas,aprendizagem
é definida como uma mudança de comportamento provocada pela
experiência e o contato com o meio.
Considerando a aprendizagem, Skinner destaca que é necessário,
primeiramente, concentrar-se no lado do reforço e das contingências de
reforçamento(condiçõessobasquaisoreforçoéatribuído):aaprendizagem
ocorre pela presença das contingências de reforço. O papel do professor
é o de arranjar as contingências de reforço para aumentar a possibilidade
de que o aluno apresente um comportamento desejável – dar reforço no
momento apropriado é a função do professor. Posteriormente, quando as
respostas primárias já fazem parte do repertório do indivíduo, a função do
professor é generalizar essas respostas para outras contingências, o que
recebe o nome de abstração. A partir dessas generalizações, o indivíduo
passaria a controlar as suas contingências de aprendizagem, adquirindo
conceitos abstratos.
Inicialmente, o Behaviorismo Skinneriano fundamentou a proposta
tecnológica da Instrução Programada, processo de modelagem que
pressupõeumaatividadedidáticanaqualafunçãodoprofessoréapresentar
estímulos para o aluno e reforçar positivamente as respostas desejáveis,
a fim de aumentar a possibilidade de o aluno continuar apresentando
estas respostas (aprendizagem). Definiam-se objetivos (comportamentos
esperados dos alunos que podiam ser observados, o que eles deveriam
fazer; sob que condições e em quanto tempo) e a avaliação consistia em
verificar se as condutas definidas nos objetivos eram apresentadas pelos
alunos ao final da instrução. Esse processo de instrução programada foi
adaptado a vários conceitos, inclusive Educação a Distância.
Há outras aplicações dos princípios da Análise do Comportamento à
Educação, como o Método Keller, por exemplo, que enfoca a instrução
individualizada, porém não nos deteremos neste tema. Sugerimos, para
o aprofundamento desses princípios, o estudo do capítulo 3 do livro texto
indicado, assim como a sugestão de leitura a seguir.
23PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
Sugestão de Leitura:
HUBNER, Maria Marta Costa; MARINOTTI, Miriam. Análise do
comportamento para a educação: Contribuições recentes. Santo André:
ESETEc, 2004.
COGNITIVISMO
O principal pressuposto filosófico do cognitivismo é que a cognição
(aprendizagem) se dá por construção. Denomina-se cognitivismo porque
seu foco é a cognição, como o indivíduo conhece; como constrói sua
estrutura cognitiva.
Bem no sentido oposto ao comportamentalismo, se
ocupa dos processos mentais que ocorrem entre
a estimulação do meio e a resposta do indivíduo
(ação). Os processos mentais, focos do cognitivismo,
são as funções superiores – percepção, solução
de problemas, tomada de decisões, compreensão,
processamento de informações.
O cognitivismo é também uma teoria interacionista,
ou seja, “supõe que os eventos e objetos do universo
são interpenetrados pelo sujeito cognoscente. O ser
humano tem a capacidade criativa de interpretar e
representar o mundo, não somente de responder a
ele” (MOREIRA, 1999, p. 15).
Na prática pedagógica esta concepção resulta em “metodologias
construtivistas” que implicam em deixar de ver o aluno como receptor de
conhecimentos e passar a considerá-lo como agente da construção de
sua própria estrutura cognitiva. Isto não significa que a simples “atividade
manipulativa” do aluno resulte em aquisição de conhecimentos (ou
aprendizagem por “descoberta”). É preciso considerar os processos dessa
construção, que são sistemáticos e universais, e são o foco de estudo
das Teorias Construtivistas. Dentre estas teorias, abordaremos, em nosso
curso, por sua atualidade, as teorias de Piaget e Vygotsky.
Jean Piaget (Suíça, 1896-1980) é o criador da Epistemologia Genética. Seu
interesse principal foi pela questão do conhecimento. Seu foco não era a
criança, ou a psicologia, ou a educação, mas a forma como se constrói um
Fonte:LEVENDULAIMAGEMDIGITALLTDA-RiodeJaneiro-RJ
24 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
conhecimento novo. Por sua formação, que passou por muitos domínios
do conhecimento (ciências biológicas, física) até chegar à lógica formal e
à teoria da ciência, fez com que a Epistemologia Genética não seja uma
ciência entre outras, mas uma matéria interdisciplinar que se ocupa de todas
as ciências (CIVITA, 1978). Neste contexto, ele tentou a compreensão da
evolução do sistema cognitivo numa perspectiva biológica, usando modelos
biológicos e buscando estabelecer um nexo biológico para a questão do
conhecimento.
A TEORIA DA EQUILIBRAÇÃO é a espinha dorsal de todo o pensamento
de Piaget. Isto significa que Equilibração é a idéia central de sua teoria,
é a matriz de funcionamento que permite a compreensão do sistema
cognitivo.
Um dos principais eixos da teoria de Piaget é o CONSTRUTIVISMO,
que tenta explicações para a questão da causalidade na formação e
evolução das estruturas cognitivas. Para esta explicação da causalidade,
Piaget desenvolve o conceito de Equilibração (que envolvem outros tais
como assimilação, acomodação, reversibilidade etc.). Na perspectiva
do Construtivismo, podemos dizer também que a visão de Piaget é
Interacionista. Isto significa que ele parte do Inatismo, (ênfase no potencial
genético do sujeito) e do Empirismo (ênfase na ação do meio) para explicar
o desenvolvimento através da Interação, compreendendo o que cada um
desses pólos traz para o desenvolvimento, e como se dá a interação entre
os dois pólos. A Interação caracteriza, portanto, no processo de construção
do conhecimento, um diálogo estrutura-meio-procedimentos.
artindo desta idéia de diálogo, evoluir seria estabelecer situações de
reciprocidade com o meio (relações dialéticas) através de um processo
adaptativo de equilibrações sucessivas. Vale lembrar que neste processo de
interação estão envolvidos aspectos intelectuais, afetivos, sociais e morais
– donde se conclui que a teoria de Piaget é SÓCIO-INTERACIONISTA.
Falemos um pouco sobre EQUILIBRAÇÃO, dada a sua importância para
a compreensão da construção do pensamento e para o desenvolvimento
cognitivo, na perspectiva de Piaget.
A primeira idéia a destacar é que o equilíbrio aqui considerado é um
equilíbriodinâmico,quenãobuscaainvariância,àvoltaaestadosanteriores
de não perturbação, mas níveis ou estados mais avançados de equilíbrio.
O equilíbrio não seria, portanto um produto almejado, mas um processo
contínuo.
25PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
O equilíbrio se daria por um processo de ASSIMILAÇÃO do objeto pelo
sujeito, que levaria à adaptação. Assimilar consiste em transformar o outro
– pessoa, objeto, idéia – em patrimônio próprio, incorporar às próprias
estruturas. Às vezes, a assimilação se dá pela incorporação do outro a
estruturas de conhecimento já existentes no indivíduo. Outras vezes, o novo
estímulo exige mudanças estruturais no indivíduo para ser incorporado –
acontece, então, o mecanismo de ACOMODAÇÃO. Estes dois mecanismos
de ADAPTAÇÃO, a assimilação e a acomodação, são complementares e
não momentos isolados do ato de conhecer.
A resposta do indivíduo ao novo, ao desafio ou desequilíbrio do ambiente
– o outro a ser assimilado – está intrinsecamente ligado às estruturas do
indivíduo, isto é, um estímulo só passa a ser um estímulo, só passa a ter
existência para o indivíduo, quando o seu organismo tem informações
específicas em sua estrutura genética para responder a ele. Assimilação,
portanto, implica em o indivíduo estabelecer com o “outro” uma relação
de reciprocidade de acordo com as capacidades disponíveis no período
de desenvolvimento em que se encontra. Em sua teoria dos estágios de
desenvolvimento (que estudaremos na próxima Unidade) Piaget descreve
os processos específicos de atuação de cada etapa que possibilitam a
assimilação.
Concluindo esta breve apresentação da Teoria da Equilibração podemos
denominar APRENDIZAGEM como ASSIMILAÇÃO e podemos dizer que
maturidade intelectual significa uma estabilidade e complexidade cada
vez maior dos Esquemas, quão maior seja o grau operativo do sujeito,
determinado por sua evolução genética e por sua interação com o meio.
A ABORDAGEM SÓCIO-HISTÓRICA também se fundamenta nos
pressupostos do Construtivismo.
Esta abordagem tem sua origem nos trabalhos do russo L. S. Vygotsky
(1896-1934) e de seus principais colaboradores A. R. Luria e A. N. Leontiev.
Enfatiza o papel dominante da experiência social no desenvolvimento das
formas de comportamento tipicamente humanas, os chamados processos
psicológicos superiores. A maturação, por si só, é um fator secundário
no desenvolvimento, que se caracteriza por transformações complexas,
qualitativas, de uma forma de comportamento em outro (construtivismo),
transformações essas determinadas pelas condições sociais dentro e
atravésdaqualaatividadehumanaocorre.Estascondiçõesnãoseresumem
à situação concreta que circunda o indivíduo, mas são produto da interação
26 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
entre as características particulares do organismo e as oportunidades e
experiências oferecidas pelo meio (VYGOTSKY, 1988).
Vygotsky tem uma visão dialética da interação, em que o indivíduo não
é um elemento passivo à ação do ambiente, mas interage, atua sobre
ele, transformando-o e dando origem às condições únicas, de caráter
essencialmente histórico e cultural (BROTHERHOOD, 1994).
Outra formulação teórica de Vygotsky que também ressalta a importância
do social para o desenvolvimento cognitivo é a idéia de que toda função
psicológica aparece em dois níveis ao longo do desenvolvimento da criança:
primeiro entre pessoas, como categoria interpsicológica, e depois dentro da
criança, como categoria intrapsicológica. Se pensarmos este mecanismo
em relação, por exemplo, à linguagem, à percepção, à atenção, podemos
exemplificar dizendo que, inicialmente, para que a criança fixe sua atenção
ou perceba um objeto ou o nomeie, ela precisa ser “ajudada” (intermediada)
por um outro indivíduo mais desenvolvido, e só posteriormente ela será
capaz de controlar internamente estes processos.
Para o autor, as relações reais entre os indivíduos estão na base de todas
as funções mentais superiores.
Vygotsky destaca a importância do sistema de signos (linguagem) que está
na base de toda interação do indivíduo com o ambiente, e possibilitam o
desenvolvimento dos processos mentais superiores.
Assim como Vygotsky, a Análise do Comportamento sempre se preocupou
em avançar as teorias, com base em novos estudos. Posteriormente
a Skinner, Sidman, em seus trabalhos recentes, elaborou o conceito de
Paradigma de Equivalência de Estímulos, que explica o desenvolvimento
da linguagem e do comportamento verbal com base em signos, que se
tornam equivalentes aos objetos que eles representam, adquirindo, assim,
o significado.
Dentre as atividades simbólicas, a fala é uma das mais importantes,
pois leva a criança a dominar a si mesma e às suas ações – é a função
organizadora da linguagem, e, sobretudo, da fala que, quando internalizada,
permite que a criança se comunique com seu ambiente social e domine os
seus próprios processos superiores.
Outro aspecto importante na interação social para o desenvolvimento
cognitivo é a função da atividade da criança. Dentre as atividades infantis
Vygotsky
27PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
(escola, jogos, trabalho), algumas assumem importância porque nelas
processos psicológicos particulares tomam forma e são reorganizados.
Por exemplo, dentro de atividades como brincar (jogos), estão contidos
processos de instrução, regras de grupo, classificação, generalização,
abstração etc. Nas atividades domésticas (e ainda no brinquedo) estão
também contidos processos importantes como aquisição de papéis.
OenfoqueSócio-Históricoressaltaarelaçãodesenvolvimento-aprendizagem
(formal e informal), e mostra a importância das relações inter-individuais,
por serem esses dois processos inter-relacionados – o desenvolvimento
prepara e possibilita determinado processo de aprendizagem, enquanto a
aprendizagem estimula o desenvolvimento, faz com que ele avance até
certo grau.
O autor ressalta, também, que é necessário distinguir dois níveis de
desenvolvimento. O primeiro é o nível de desenvolvimento real, aquele já
plenamente atingido pela criança, que se identifica pelo desempenho em
tarefas que ela pode realizar sem a ajuda de outras pessoas e independente
da imitação. É o limite de sua capacidade atual, o desenvolvimento
psicointelectual já realizado.
O segundo nível de desenvolvimento potencial traduz o que a criança
é capaz de fazer com o auxílio de um adulto ou de outra criança mais
desenvolvida, que a oriente através de exemplos e demonstrações. Se a
orientação estiver de acordo com o nível de desenvolvimento da criança,
que vai além de seu nível de atuação, ela será capaz de um desempenho
superior àquele do nível efetivo.
Vygotsky demonstra, através de experimentos, que duas crianças
com o mesmo nível de desenvolvimento efetivo, podem ter níveis de
desenvolvimento potenciais muito diferentes. Isto denota a importância de
se determinar a distância entre os dois níveis, distância esta denominada
por ele de ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL.
A aprendizagem formal assume importância, pois, se conduzida
adequadamente, possibilita a manifestação da zona de desenvolvimento
proximal e a efetivação de novos comportamentos, mais complexos.
Em face de seus pressupostos teóricos, Vygotsky, propõe uma TEORIA
DA MEDIAÇÃO como teoria de ensino-aprendizagem, vez que o
desenvolvimento das funções mentais superiores exige a internalização de
instrumentos e signos em um ambiente de interação.
28 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
Concluindo esta breve apresentação da abordagem de Vygotsky,
vale destacar que o ensino formal desempenha um importante papel
no desenvolvimento cognitivo: promover o atingimento da zona de
desenvolvimentoproximal,queseriaomeiomaisefetivodedesenvolvimento
das funções mentais superiores.
HUMANISMO
Na perspectiva Humanista, o
aprendiz é visto, primordialmente,
como uma pessoa. O importante
é sua auto-realização, seu
crescimentopessoal.Aênfasenão
é colocada apenas no intelecto,
mas ele é visto como um todo que
engloba pensamento, sentimento
e ação.
Neste enfoque, a aprendizagem
não se limita a um aumento de conhecimentos, mas faz parte do todo
do indivíduo, influi em suas escolhas e atitudes. Não têm sentido falar
de comportamento ou de cognição sem considerar o domínio afetivo, os
sentimentos do aprendiz. Ele é uma pessoa e as pessoas pensam, sentem
e fazem coisas integradamente. (MOREIRA, 1997).
O principal representante desta linha de pensamento foi Carl Rogers, e
suas idéias, quando aplicadas ao ensino, deram origem ao chamado
ENSINO CENTRADO NO ALUNO e às ESCOLAS ABERTAS.
Na perspectiva de Rogers, a sociedade atual, pela sua dinamicidade e
rapidez de mudança, exige que o indivíduo seja capaz de adaptar-se. O
conhecimento evolui tão rapidamente que aquilo que a escola pode ensinar
logo se torna obsoleto, e o aluno bem formado é aquele capaz de adaptar-
se rapidamente às mudanças e que aprendeu que só o processo de busca
do conhecimento dá uma base segura para o seu progresso. Portanto, a
escola deve deixar de lado a rigidez e tradição dos currículos e conteúdos,
e preocupar-se com o desenvolvimento da capacidade do aprendiz de
“aprender a aprender”.
O ensino deixa de lado as capacidades do líder (professor) sua erudição,
Fonte:LEVENDULAIMAGEMDIGITALLTDA-RiodeJaneiro-RJ
29PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
o planejamento curricular e outras dimensões tradicionais, e dá enfoque à
facilitação do desenvolvimento de capacidades atitudinais, possibilitada nas
relações interpessoais significativas entre facilitador (professor) e aprendiz
(aluno) (ROGERS, 1969, apud MOREIRA, 1999, P. 146).
OsprincipaisPrincípiosdeAprendizagemindicadosparaumaAprendizagem
Significante são:
•	 O ser humano tem uma potencialidade natural para aprender.
•	 O aluno deve perceber a matéria de ensino como relevante para seus
objetivos.
•	 O aluno tende a reagir a aprendizagens que possam significar mudanças
na sua percepção de si mesmo, por serem ameaçadoras; as ameaças
devem ser reduzidas ao mínimo para que a aprendizagem possa
prosseguir.
•	 Grande parte das aprendizagens significativas é adquirida através de
atos.
•	 A aprendizagem é facilitada quando o aluno participa do processo de
aprender.
•	 A aprendizagem auto-iniciada, que envolve o aprendiz como um todo –
sentimento e intelecto – é mais duradoura e abrangente.
•	 A avaliação feita por outros é de importância secundária nesta
perspectiva, e a autocrítica e a auto-avaliação levam à independência,
à criativa e a auto-avaliação levam à independência, à criatividade e à
autoconfiança.
•	 A aprendizagem socialmente mais útil é aquela que leva ao próprio
processodeaprender,quepossibilitaaadaptaçãodoalunoàsmudanças
do mundo moderno.
Dada à dimensão da mudança que a adoção de uma abordagem rogeriana
traria para a escola, e à ameaça que poderia representar para professores
e também para os alunos em algumas situações, sua viabilidade não se
confirmou, embora tenha havido nos Estados Unidos dos anos 70 e 80,
algumas tentativas. Porém, como sugere Moreira (1999) fundamentado
em idéias do próprio Rogers para adequar sua proposta à realidade, trata-
se de considerar a extensão em que os princípios rogerianos podem ser
usados em sala de aula sem causar ameaças e desconforto a professores
e alunos, a fim de facilitar uma aprendizagem significante.
30 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
MODELO ECOLÓGICO DE BRONFENBRENNER
Bronfenbrenner (1992) considera a aprendizagem como: “um conjunto de
processos por meio dos quais as propriedades do indivíduo e do ambiente
interagem e produzem continuidades e mudanças nas características da
pessoa e no seu curso de vida” (p. 191).
Sendo assim, a aprendizagem é uma constante reorganização das
atividades da pessoa em seu ambiente, sendo estimulado ou inibido por
meio das interações. Portanto, a aprendizagem é fruto da interação de
diversos fatores biológicos e ambientais.
Para se pensar em aprendizagem é necessário pensar as relações que a
pessoamantémcomseuscontextosproximais(família,escola,comunidade)
e contextos distais (valores, crenças e a cultura em geral), assim como a
influência das relações bioquímicas no interior do organismo.
Bronfenbrenner definiu cinco sistemas ecológicos. O microssistema refere-
se àquele mais próximo do indivíduo, como, por exemplo, a família. O
mesossistema seria a interação de dois microssistemas. O exossistema é
o ambiente externo que influencia indiretamente o desenvolvimento, como
por exemplo, o local de trabalho dos pais. O macrossistema seria o contexto
sócio-cultural. O cronossistema pode ser explicado como a evolução dos
sistemas ao longo do tempo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, apresentamos além de alguns conceitos básicos
fundamentais para a compreensão da abordagem adotada em nosso curso
para o processo de aprendizagem, alguns dos principais enfoques teóricos
à aprendizagem e ao ensino prevalecentes no século XX. Apresentamos
também abordagens pedagógicas representativas dos princípios de cada
um desses enfoques. Esperamos que vocês analisem criticamente cada
uma das abordagens, procurem exemplos práticos em suas vivências que
possamaproximar-sedasabordagenspedagógicasapresentadas,tentando
identificar os pressupostos implícitos nesses exemplos, e analisando de
forma crítica a prática identificada, para que assim desenvolvam uma
capacidade cientificamente fundamentada de escolher e definir a sua
própria prática pedagógica.
SAIBA MAIS
SOBRE O ASSUNTO:
Acesse o link:
www.msmidia.com/ceprua/artigos/
eco4754.pdf
31PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
Sabemosdacomplexidadedostemasedaamplitudedasteoriasabordadas,
das quais apresentamos apenas resumos, correndo o risco de simplificação
e superficialidade, face à natureza do curso. Enfatizamos, portanto, a
necessidade de consulta às fontes indicadas, de leituras complementares e
a pesquisa, como forma de complementar os conhecimentos transmitidos.
De uma maneira geral, as teorias de aprendizagem estão contidas em
teorias mais amplas de desenvolvimento, como é o caso, por exemplo, da
teoria de Piaget, que embora sendo uma teoria de desenvolvimento, tem
muitas implicações para a aprendizagem (Cognitivismo), assim como as
teorias de Bronfenbrenner (Modelo Ecológico). Outra questão ressaltada
pelo autor é que a aprendizagem tem componentes cognitivos, afetivos e
psicomotores, mas que em cada situação há o predomínio de um desses
componentes; a aprendizagem cognitiva, foco da maioria das teorias,
destaca o armazenamento organizado de informações e conhecimentos
na memória do aprendiz; a aprendizagem afetiva trata de experiências
como prazer e dor; satisfação e descontentamento, alegria ou ansiedade,
e a aprendizagem psicomotora enfoca habilidades adquiridas por meio do
treino e da prática.
Em função dessas características da aprendizagem, diversos autores, de
diferentes abordagens da psicologia, elaboraram explicações sobre esses
processos. A Análise do Comportamento contribuiu com uma extensa
teoria sobre os processos de aprendizagem, assim como Vygotsky.
32 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
LEITURA COMPLEMENTAR
A seguir transcrevemos um “esquema conceitual” apresentado por Moreira
(1999, p. 18) que resume as idéias expostas neste texto e permite uma
visualização das tendências analisadas a partir de dimensões comuns.
PALOV
WATSON
GUTHRIE
ENFOQUES TEÓRICOS À
APRENDIZAGEM E AO
ENSINO
COMPORTAMENTALISMO HUMANISMOCOGNITIVISMO
Estímulo
Resposta
(compor-
tamento)
Condicio-
namento
Reforço
Objetivo
Comporta-
mental
Esquema Signo Modelo
Mental
Sub-
sunçor
Construto
Pessoal
Aprender
a
Aprender
Liberdade
para
aprender
Condicio-
namento
Condicio-
namento
HULL
HEBB
TOLMAN
GESTALT
GAGNÉ
ROGERSTHORNDIKE
SKINNER
PIAGET
BRUNER
VYGO-
TSKY
JOHNSON-
LAIRD
AUSU-
BEL
KELLY NOVAK
GOWIN
alguns autores
comportamentalistas
Idéia-chave: construtivismo; o
conhecimento é construído
alguns autores
cognitivistas o maior conhecido autor
humanista
Idéia-chave: o comportamento é
controlado por suas conseqüências
Idéia-chave: pensamentos,
sentimentos e ações estão
integrados
ênfase em comportamentos
observáveis ênfase na cognição ênfase na pessoa
alguns conceitos básicos alguns conceitos básicos algumas idéias básicas
Figura 1. Um esquema tentativo para os principais enfoques teóricos à aprendizagem e ao ensino
e alguns de seus mais conhecidos representantes (M. A. Moreira, 1999).
ATIVIDADE DE AUTO-ESTUDO
Abordagens do Processo ensino-aprendizagem
1. Leia atentamente uma a uma as abordagens apresentadas, e em seguida,
realize uma pesquisa na Internet, utilizando como indicador de busca o
nome do(s) principal (is) representante(s) da abordagem indicado(s) no
texto para obter maiores subsídios sobre o tema.
2. Realize uma síntese de cada abordagem e elabore um exemplo da sua
vivência pedagógica (como aluno, como professor ou como mediador),
em que você possa identificar e explicitar pressupostos da abordagem
analisada, buscando compreender a prática descrita e avaliar sua eficácia,
e os erros e acertos cometidos pelo professor no desenvolvimento da
prática em foco.
SAIBA MAIS
SOBRE O ASSUNTO:
Acesse os links:
-http://criticanarede.com/freud.html
http://www.centrorefeducacional.
com.br/carl.html
UNIDADE III
DESENVOLVIMENTO NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA
Professora Drª. Rachel Brotherhood
Professor Dr. Alex Eduardo Gallo
Objetivos de Aprendizagem
•	 Dominar os principais conceitos das teorias de desenvolvimento de Freud, Piaget.
•	 Analisar o desenvolvimento biopsicosocial na adolescência.
•	 Pensar a prática pedagógica considerando as implicações das teorias estudadas para a aprendizagem
e o desenvolvimento.
Plano de Estudo
A seguir apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
•	 Teoria de Desenvolvimento de Freud e Piaget.
•	 Desenvolvimento Biopsicosocial na adolescência.
•	 Prática pedagógica relacionadas à aprendizagem e desenvolvimento.
35PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA CRIANÇA DE
ACORDO COM JEAN PIAGET
Jean Piaget criou, a partir da observação e da experimentação, uma
teoria do DESENVOLVIMENTO DA INTELIGÊNCIA, propondo um
modelo das estruturas mentais e da sua formação. Na perspectiva
do autor, deve-se considerar estrutura como uma unidade abstrata,
suscetível de crescimento autônomo, dotada de reações específicas
às solicitações do meio. O indivíduo nasce com algumas estruturas
(reflexos) que progressivamente, em decorrência da ação do meio e
da ação da criança sobre o meio, se desenvolvem, tornando-se cada
vez mais complexas e dando origem a novas estruturas, que por sua
vez, irão se desenvolver pelo mesmo processo originando outras.
O processo de “crescimento” das estruturas se efetiva através de
equilibrações sucessivas, considerando-se equilibração como descrito na
unidade I, em que o indivíduo, ao se deparar com um objeto ou situação
nova, assimila esse objeto em alguma estrutura pré-existente ou promove
ajustes no objeto ou em suas estruturas mentais para assimilá-lo, em
um processo de acomodação, voltando ao equilíbrio. Tal processo de
equilibração visa à adaptação cada vez maior do indivíduo às perturbações
do meio.
Do processo de adaptação ocorrido em cada momento do desenvolvimento
resultam esquemas de assimilação. Pode-se definir esquema como aquilo
que é generalizável em uma determinada ação. Por exemplo, o esquema
de sugar, que a criança traz ao nascer, corresponde a saber sugar,
independentemente do que é sugado. Ao desenvolver o esquema de olhar
e pegar, a criança tentará pegar tudo o que olha e olhar tudo o que pega.
Os novos esquemas resultam sempre dos anteriores e de coordenações
deles. Assim, “saber puxar” depende do “saber pegar” e do “saber olhar”,
da mesma forma que os primeiros esquemas como o de sugar, olhar etc.
depende de estruturas motoras hereditárias.
O esquema funciona como um conceito prático, ou seja, em presença de
um objeto novo a criança tenta assimilá-lo aplicando-lhe todos os esquemas
de que dispõe.
ParaPiagetainteligênciasedesenvolveporetapas,apartirdavidaorgânica
(reflexos, coordenações sensoriais e motoras) até chegar ao conhecimento
lógico-matemático. Em cada uma das etapas do desenvolvimento existem
Jean Piaget
36 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
condutas novas, novas formas de ação sobre os objetos que se agrupam
em sistemas, sempre em estado de elaboração. Assim, Piaget define
desenvolvimento como “uma organização progressiva, cujas raízes se
encontram na vida orgânica e cuja evolução se dá por um processo de
adaptação cada vez mais preciso à realidade. A vida mental, como aliás a
própria vida orgânica, tende a assimilar, progressivamente, o meio ambiente
e realiza esta incorporação graças às estruturas cujo raio de ação é cada
vez maior” (PIAGET, 1936, apud CHIAROTTINO, 1972).
As etapas do desenvolvimento mental são descritas pelo autor em estágios,
que se caracterizam pela aparição de estruturas originais cuja construção
o distingue dos estágios anteriores. Vejamos essas etapas.
a) Período Sensório-Motor
Período que vai do nascimento até um ano e meio, dois anos, no curso do
qual se constituem os sistemas ou esquemas que dão origem às futuras
operações. Inicialmente, a criança assimila os dados do meio exterior
aos esquemas reflexos hereditários (sucção, preensão, choro e atividade
corporalindiscriminada).Nestafase,acriançaétotalmenteegocêntrica,seu
próprio corpo é a única referência comum e constante. Progressivamente,
através do funcionamento, os reflexos tendem a se consolidar, se coordenar
e se organizar, dando origem a hábitos. É um período de transição entre
o orgânico e o intelectual, no qual não se pode ainda falar em inteligência,
devido à falta de intencionalidade e de diferenciação entre meios e fins. A
criança não possui ainda imagens mentais dos objetos, portanto, não há
a “permanência” do objeto na mente. O reconhecimento refere-se mais à
própria ação do que aos objetos. É uma fase de imitação.
Os progressos do período sensório-motor resultam na passagem da
ação à representação, ou seja, a inteligência sensório-motora refere-se à
adaptação do indivíduo ao mundo dos objetos, não envolve socialização
no sentido de obediência às regras comuns nem conceitualização, mas
apenas realizações práticas. Este é o período da construção intelectual do
objeto, da elaboração de um universo exterior – os objetos passam, ao final
do período, a serem concebidos com exteriores ao eu e independentes
dele. As ações da criança começam a ser descentralizadas em relação
ao próprio corpo que passa a ser considerado como um objeto entre os
demais.
37PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
b) Período Pré-Operacional
Período do pensamento intuitivo, que vai de dois a sete anos, em que as
ações sensoriais-motoras começam a implicar representação. A aquisição
da linguagem, o brinquedo simbólico e a imitação diferenciada (aquela
que se produz na ausência do modelo correspondente) surgem ao mesmo
tempo, e implicam a existência de uma função simbólica. O autor define
função simbólica como capacidade de distinguir os significantes (símbolos
individuaisecoletivos)dossignificados(objetosoufatos),edeevocar,graças
a estes significantes, os significados não percebidos na ocasião. Portanto,
para Piaget, a função simbólica é mais ampla do que a linguagem, ou seja,
a linguagem é uma forma particular de função simbólica, o que indica que o
pensamento precede a linguagem e esta se limita a transformá-lo, ajudando
a alcançar formas de abstração mais móvel do pensamento.
Outro progresso decorrente da função simbólica, neste período, é a
interiorização dos esquemas de ação, o que quer dizer representação
desses esquemas. Esta interiorização é a condição para que as crianças
de dois a sete anos possam emitir certos comportamentos como o jogo
simbólico, a imitação, as previsões etc.
Porém, o pensamento da criança no período pré-operacional é pré-
lógico, dominado pelo mecanismo da intuição, segundo o qual, diante de
um problema prático, em um brinquedo ou em um jogo, suas respostas
se baseiam em configurações perceptivas ou em atuações de ensaio e
erro (baseadas nas aparências do fenômeno ou do problema). A criança
continua egocêntrica, vendo a realidade, principalmente, como a afeta.
É a fase (quatro, cinco anos) em que a criança avalia a quantidade só
pelo espaço ocupado, sem nenhuma análise de relações, classifica e seria
também empiricamente. Os exemplos clássicos desta forma de ação são
os experimentos em que ao verter o líquido de um copo mais alto em outro
de maior diâmetro a criança acha que muda a quantidade de líquido, e
o exemplo no qual ao se apresentar à criança um conjunto de peças de
madeira ordenadas e, em seguida, afastar mais as peças, ela acredita que
no segundo momento o conjunto é maior, ou ainda ao transformar uma
bolinha de massa em uma salsicha, mudando a forma, a criança diz que há
mais massa na segunda, porque é maior.
No final do período já há articulações de dimensões diversas, antecipações
dos próximos passos de uma ação e reconstituições de estados anteriores
que indicam que a criança evolui em direção à reversibilidade e da noção de
38 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
conservação. Neste período, não há ainda um comportamento operatório
ou lógico, mas há uma preparação para o mesmo.
c) Período das Operações Concretas
Períodoquevaidosseteaosdozeanos,noqualsealcançaumadeterminada
reversibilidade e que comporta um aspecto lógico: uma operação reversível
é uma operação que admite a possibilidade de uma inversa.
Para Piaget uma operação é uma ação interiorizada, reversível e
coordenada em uma estrutura total. Uma ação executada em pensamento
sobre objetos simbólicos que admite a possibilidade de uma inversa. No
período operacional concreto esta ação se efetiva sempre a partir da
realidade concreta, de uma ação concreta, e evolui para um estágio de
ações proposicionais, abstratas.
Haverá operação quando houver noção de conservação de um todo,
independentemente do arranjo de suas partes, o que não havia no período
anterior. A noção de conservação apresenta três resultados possíveis,
que demonstram a evolução mental da criança: nenhuma conservação,
conservação suposta sem certeza e conservação afirmada como
evidente.
Piaget constatou, através de experimentos, que a conservação da
substância aparece por volta de sete-oito anos; a conservação de peso por
volta dos nove-dez, e a de volume por volta dos onze-doze anos.
Ressalte-se que a lógica conquistada, neste período, está vinculada a
processos temporais inerentes à manipulação (concreto) sendo, portanto,
ainda uma lógica elementar.
d) Período das Operações Formais ou Proposicionais
Ocorre a partir dos doze anos e se caracteriza pelo atingimento de uma
reversibilidadecompleta.Acriançasetornacapazdelevantarhipóteses,isto
é, começa a admitir como verdadeiras, proposições possíveis, mas ainda
não realizadas, tirando conseqüências destas hipóteses, o que caracteriza
o pensamento hipotético-dedutivo ou formal. Dada uma situação problema
o sujeito opera em função de um número qualquer de combinações, ou de
todas as combinações possíveis, de uma forma exaustiva e sistemática.
Evidencia-se pelo uso da implicação (se... então), da disjunção (ou... ou...
ou os dois) ou da incompatibilidade (ou... ou... ou nem um nem o outro).
39PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
Para Piaget, naturalmente, a criança de 12 a 15 anos não descobre as
leis, não procura, ainda, a fórmula das combinações. Porém, o novo
comportamento implica em independência dos mecanismos formais e de
seus conteúdos. As classificações e relações, neste período, são livres
de seus aspectos concretos ou intuitivos, o que implica, por sua vez, a
liberação do pensamento em relação aos objetos.
Piaget propõe um modelo, o grupo INRC (Identidade, Inversão,
Reciprocidade e Correlatividade) que reduz as estruturas ao nível das
correlações proposicionais e representa uma síntese dos agrupamentos, e
cujo estudo, que extrapola a dimensão deste nosso texto, pode ser feito na
bibliografia indicada na unidade. Este modelo justifica a existência de uma
construção das estruturas mentais desde o período sensório motor até o
aparecimento do pensamento lógico verbal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Gostaríamos de concluir esta breve explanação da teoria de Piaget sobre
o desenvolvimento mental na infância e adolescência através de estágios,
citando o próprio autor (1971, p. 15 et segs) em relação a alguns conceitos
gerais acerca do desenvolvimento mental.
Inicialmente, em relação às necessidades e interesses. De acordo com
este enfoque, as necessidades e interesses têm características comuns
em todas as idades:
1º Toda necessidade busca incorporar as coisas e pessoas à atividade
própria do sujeito, ou seja, assimilar o mundo exterior às estruturas já
construídas.
2º Toda atividade tende a reajustar as estruturas em função das
transformações ocorridas, ou seja, acomodá-las aos objetos externos.
Ao equilíbrio destes processos de assimilação e acomodação denomina-se
adaptação.
Acerca da percepção e movimentos elementares (preensão etc.) referem-
se, primeiramente, aos objetos próximos já que a memória e a inteligência
prática permitem, ao mesmo tempo, reconstruir o estado imediatamente
e antecipar as transformações próximas. O pensamento intuitivo reforça
estas duas capacidades. Esta evolução culmina com a inteligência lógica,
40 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
sob a forma de operações concretas, e finalmente de deduções abstratas,
tornando o sujeito senhor de acontecimentos mais longínquos no espaço
e no tempo.
Uma das principais implicações dos princípios apresentados é que o
desenvolvimento mental é uma organização progressiva, resultante da
ação do indivíduo sobre o meio, ação concreta inicialmente e formal ao
final do processo de desenvolvimento. O indivíduo transforma o ambiente à
medida que sua ação promove transformações nele próprio.
Para Piaget só há aprendizagem quando há acomodação, ou seja, uma
reestruturação da estrutura cognitiva (esquema de assimilação existente) do
indivíduo, que resulta em novos esquemas de assimilação. A mente, sendo
uma estrutura (cognitiva), tende a funcionar em equilíbrio, aumentando
permanentemente seu grau de organização interna e de adaptação ao meio.
Quando o equilíbrio da mente é rompido por experiências não assimiláveis
(que não se enquadram nas estruturas existentes) a mente se reestrutura
(acomodação) a fim de construir novos esquemas de assimilação e atingir
novoequilíbrio.Piagetdefineesteprocessodereequilibraçãodeequilibração
majorante, e destaca que ele é um fator preponderante no desenvolvimento
mental e na aprendizagem do indivíduo. Logo, a equilibração é a grande
força impulsionadora do desenvolvimento intelectual.
Esta afirmação tem grandes implicações para a educação de modo geral
e para o ensino formal; no enfoque piagetiano ensinar significa provocar
desequilíbrios no organismo (mente) do aluno para que ele, procurando
o reequilíbrio (equilibração majorante), se reestruture cognitivamente e
aprenda. A capacidade de se reestruturar mentalmente é o mecanismo de
aprender do indivíduo – sua capacidade de reestruturar-se mentalmente
buscando um novo equilíbrio (novos esquemas de assimilação para
adaptar-se à nova situação). O ensino deve, portanto, ativar este mecanismo
(MOREIRA, 1999).
É importante destacar a necessidade de adaptar esta ativação ao nível
de desenvolvimento do aluno, respeitando o período de desenvolvimento
mental em que ele está. É comum acontecer que a escola proponha para
crianças, situações que envolvem conservação e reversibilidade quando
elas não dominam ainda essas noções, ou mesmo no ensino secundário
e na universidade, se desenvolver um ensino puramente formal, quando
muitos jovens não atingiram este nível e ainda estão em uma fase de
raciocínio operacional concreto.
41PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
Piaget (apud MOREIRA, 1999) argumenta que as supostas aptidões
dos “bons alunos” em matemática ou física, por exemplo, na verdade,
decorrem de sua capacidade de adaptação ao tipo de ensino que lhe é
fornecido, e que os insucessos dos “maus alunos” decorrem de sua não
compreensão das lições que lhe são oferecidas. Adequar o ensino ao
nível de desenvolvimento do aluno é a forma da escola evitar o insucesso
e promover seu avanço através de níveis progressivos de equilibração
(equilibração majorante).
Concluindo este tópico gostaríamos de chamar a atenção para o fato de
que Piaget não construiu uma teoria da aprendizagem, mas uma teoria do
desenvolvimento mental, e que esta teoria, tanto em termos conceituais
como em relação aos estágios do desenvolvimento, é muito mais rica do
que demonstramos neste espaço. Sugerimos, portanto, uma leitura da
bibliografia indicada para uma complementação e aprofundamento do
tema.
Sintetizando, desenvolvimento humano pode ser definido como um
processo de mudanças e padrões que acontece ao longo da vida do
indivíduo. Didaticamente, esse processo de mudanças pode ser dividido
em infância, adolescência, idade adulta e velhice, pois em cada um desses
estágios ocorrem padrões de mudanças físicas, psicológicas e sociais.
ATIVIDADE DE AUTO-ESTUDO
TEORIA DO DESENVOLVIMENTO MENTAL DE PIAGET
1.	 Identifique, no texto, os conceitos de ASSIMILAÇÃO, ACOMODAÇÃO,
ADAPTAÇÃO E EQUILIBRAÇÃO, e reescreva estes conceitos com
suas palavras.
2.	 Descreva EQUILIBRAÇÃO MAJORANTE, e encontre exemplos práticos
deste construto em sua vivência escolar.
3.	 Faça uma síntese esquemática dos estágios do desenvolvimento
cognitivo na perspectiva de Piaget, identificando a característica central
de cada estágio, as idades em que ocorrem e as habilidades que
evidenciam estes estágios.
4.	 Escrevaumpequenotexto(deaté10linhas)evidenciandoasimplicações
da teoria para o ensino e a aprendizagem.
SAIBA MAIS
SOBRE O ASSUNTO
Acesse os links:
-http://www.ufrgs.br/faced/slomp/
edu01136/piaget-d.htm
http://www.dei.unicap.br/~almir/
seminarios/2001.2/5mno/infoed/
dami_teorias.htm
Acessados em 12/08/09.
UNIDADE IV
O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
Professora Drª. Rachel Brotherhood
Professor Dr. Alex Eduardo Gallo
Objetivos de Aprendizagem
•	 Estudar a constituição e desenvolvimento da personalidade.
•	 Abordar a Teoria da psicanálise desenvolvida por Sigmund Freud.
•	 Tratar das características básicas das Fases do desenvolvimento.
Plano de Estudo
A seguir apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
•	 Desenvolvimento da personalidade.
•	 A Teoria Psicanalítica de Sigmund Freud.
•	 Fases do Desenvolvimento.
45PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
INTRODUÇÃO
O ser humano é uma estrutura indivisível, em que
elementos cognitivos, afetivos e motivacionais interagem,
determinando seus ajustamentos ao mundo que o
cerca. A Teoria de Piaget, estudada no item anterior,
colocasuaênfasenadimensãointelectual,cognitiva
do indivíduo, aspecto muito importante quando
pensamos em educação formal, escolaridade e
aprendizagem. Porém também fundamental é
a compreensão da estrutura da
personalidade do indivíduo, já que
esta é uma dimensão essencial e
intimamente relacionada às motivações e aos aspectos da aquisição do
conhecimento. Neste item, vamos abordar alguns aspectos da constituição
e desenvolvimento da personalidade, como forma de promover nos futuros
pedagogos um entendimento do aluno em sua totalidade.
Sabe-se que a personalidade surge da interação entre o homem e o
mundo, pessoa e grupo, sujeito e objeto, eu e não eu (TELES, 2001). A
hereditariedade fornece ao indivíduo um potencial para a realização de uma
individualização, algumas capacidades básicas para o atendimento das
múltiplas necessidades fisiológicas do recém nato, e algumas carências
psicológicas. É inerente também ao indivíduo uma tendência à realização
do potencial contido em seus genes, uma disposição para realizar suas
potencialidades, um movimento para o crescimento. Em seu contato com
o mundo, o indivíduo pouco a pouco vai aprendendo a satisfazer estas
necessidades e vai desenvolvendo maneiras próprias de ajustamento ao
meio e de domínio do meio, constituindo, assim, a sua personalidade.
Um forte determinante da personalidade, além da hereditariedade e da
tendência para a realização de seu potencial, é o ambiente físico e social,
constituído pelas instituições societárias e culturais à qual ele pertence
(família, comunidade, escola etc.). Ele ocupa uma posição, desempenha
um papel em todas essas estruturas, é uma pessoa social. Portanto, há
determinantes situacionais na personalidade. Esses grupos fornecem os
valores, os padrões do “deve” e do “precisa” que influenciam a estrutura de
sua personalidade e a sua ação no mundo.
Além dos determinantes biológicos e sociais, cada indivíduo vive situações
específicas, coisas que acontecem apenas a ele, acontecimentos
Fonte:LEVENDULAIMAGEMDIGITALLTDA-RiodeJaneiro-RJ
46 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
particulares que também influenciam o desenvolvimento da personalidade
(como a perda de entes significativos, o fato de ter nascido em uma família
específica, o fato de ter migrado, por exemplo).
Algumas das principais características da personalidade, resultantes
dessas diferentes influências, são sua consistência e estabilidade (que
nos permitem reconhecer o indivíduo) e sua plasticidade e dinamismo
(potencialidade de mudança no decorrer de toda a vida).
Destacamos que a infância é um período primordial na constituição
da personalidade, pois, neste período, os alicerces da personalidade
são formados e muitas configurações e valores são fixados. Assim, a
importância do contexto familiar é primordial. No entanto, hoje, quando a
educação infantil atende crianças bem pequenas, a ação da escola não é
menos significativa.
Por outro lado, na adolescência e no início da idade adulta ocorrem grandes
mudanças na personalidade, porque, por suas capacidades intelectuais e
por sua evolução afetiva, o jovem revê os seus valores e resignifica os seus
comportamentos, porém, sempre a partir das experiências da infância e da
estrutura do caráter ali construída.
Embora a infância e a adolescência sejam consideradas períodos
capitais na constituição da personalidade, como vêm acima, uma de
suas características é a plasticidade, portanto, ela não deixa de se
desenvolver durante toda a vida. Pode-se dizer que o desenvolvimento
da personalidade é um processo influenciado por muitos fatores, que tem
início ao nascimento e prossegue por toda a vida. Este processo busca
a habilidade de se adaptar ao meio através da capacidade de inibir ou
moderar a manifestação de necessidades inaceitáveis socialmente, de
usar modelos de ação aprovados (maneiras, atitudes) enfim, de se adaptar
às condições sociais convencionais.
Existem muitos estudos que buscam compreender o sentido e a estrutura
da personalidade. Estes estudos são esforços para compreender e tratar
pessoas perturbadas em ambientes clínicos, ou tentativas de ajudar o
indivíduo a vencer os problemas e conseguir ajustamentos satisfatórios à
vida. Há também estudos com pessoas normais (geralmente estudantes
universitários) e estudos com animais não humanos em laboratórios, que
geram hipóteses sobre aspectos limitados ou amplos do desenvolvimento
da personalidade.
47PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
Uma das principais linhas de estudo da personalidade, a das TEORIAS
PSICODINÂMICAS, tem origem nos estudos de Sigmund Freud
(1856-19390).DentreosprincipaisproponentesdasTeoriasPsicodinâmicas
podem-se citar Carl Jung, Alfred Adler, Karen Horney, Harry Stack Sullivan
e Erik Erikson. No contexto de nosso curso, pela impossibilidade de
abordar outras teorias, optamos por enfocar os princípios básicos da Teoria
Psicanalítica de Freud, por acreditarmos que eles são fundamentais na
compreensão dos demais enfoques.
A TEORIA PSICANALÍTICA DE SIGMUND FREUD
Através de seu trabalho clínico com pacientes neuróticos, Freud fez
observações cuidadosas que lhe permitiram formular a teoria que chamou
de PSICANÁLISE.
Freud acreditava que as pessoas estão conscientes de apenas um pequeno
número de pensamentos, memórias, sentimentos e desejos. Outros são
pré-conscientes, enterrados logo abaixo da percepção, de onde são
fáceis de recuperar. A grande maioria é inconsciente. Para ele, este vasto
material inconsciente entra na consciência de forma disfarçada: aparecem
em sonhos, lapsos de linguagem, enganos, acidentes e livres associações.
Para compreender o inconsciente é preciso analisar o comportamento do
indivíduo, suas memórias, sonhos, erros e associações durante um longo
período. Sua teoria enfoca, principalmente, esses aspectos inconscientes
da personalidade. Para ele, os impulsos (inatos), e as lembranças das
experiências do início da infância e dolorosos conflitos psicológicos, tendem
a ser inconscientes.
Os impulsos sexuais desempenham um papel importante nas formulações
de Freud. Ele usava o termo “sexual” para todas as ações e pensamentos
prazerosos. Entre os impulsos incluía a agressão. Os impulsos sexuais
segundo Freud, geram uma quantidade de energia psíquica denominada
libido que mobiliza comportamentos e habilidades mentais. É uma energia
paralela, mas diferente da energia física. Se os impulsos sexuais não forem
satisfeitos, a energia psíquica se acumula sob a forma de pressão, como a
água em um cano sem uma válvula aberta. Os conflitos podem aumentar
a tensão. Para o indivíduo funcionar, normalmente, a pressão precisa ser
reduzida, a válvula precisa ser aberta, ou a “tubulação” arrebentará e o
indivíduo apresentará comportamento anormal.
Sigmund Freud
48 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
O conceito de personalidade de Freud é dinâmico, os motivos das nossas
atitudes e da nossa conduta devem ser buscados em forças emotivas,
instintivas. O instinto é a fonte de energia vital. Essas forças, quando
controladas e utilizadas adequadamente, podem fortalecer e enriquecer
capacidades como pensar, amar, compreender, pois promovem o
desenvolvimento das potencialidades sensoriais, emocionais e mentais.
Em termos de estrutura, a personalidade é composta por três grandes
sistemas, o Id, o Ego e o Superego. Esta estrutura decorre de um modelo
topográfico da mente, formulado, inicialmente, pelo autor, em que esta é
dividida em três áreas ou regiões específicas, o inconsciente (Id), o pré-
consciente (Ego) e o consciente (Superego). O Id é o reservatório das
pulsões (impulsos básicos) desordenadas, o Ego é o órgão executivo,
responsável pelo controle da percepção e contato com a realidade, bem
como pelo adiamento e modulação na expressão dos impulsos. O Superego
é responsável por estabelecer e manter a consciência moral da pessoa a
partir dos ideais e valores internalizados através das relações interpessoais
(GUANAES; JAPUR, 2003).
De acordo com Freud, o Ego emerge nas crianças em desenvolvimento à
medida que elas aprendem que há uma realidade à parte de suas próprias
necessidades e desejos. O Ego é uma parte do Id que foi modificada por sua
proximidade com o mundo externo. Sua tarefa é localizar objetos reais para
satisfazer as necessidades do Id. Diferentemente do Id, o Ego é controlado,
realístico e lógico; ele atua no princípio da realidade, adia a gratificação dos
desejos do Id até que seja encontrada uma situação ou objeto apropriado.
Por exemplo, se você está com fome, o Ego pode formular a idéia de ir a
uma churrascaria. Raramente ele permite que você confunda fantasia com
realidade. O Ego é como um executivo crítico, organizado, solucionador de
problemas. É a sede de todo processo intelectual.
O Superego emerge do Ego e resulta da internalização que a criança faz
dos valores, costumes e restrições de seus pais. Embora resulte do Ego,
funciona totalmente independente dele. É essencialmente uma consciência,
lutaporperfeição,idealismo,auto-sacrifícioeheroísmo.RecompensaoEgo
por comportamentos aceitáveis e o pune com sentimentos de culpa quando
as ações ou pensamentos se colocam contra seus princípios morais.
Freud acreditava que o Id todo e partes do Ego e do Superego são
inconscientes.
49PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
Freud ressalta a importância da dinâmica dos processos
inconscientes, pré-conscientes e conscientes, e defende a
existência de um mundo interno organizado em termos de
conflitos entre instâncias: a sexualidade e a agressividade,
impulsos contidos no Id, demandam por expressão e descarga,
que, no entanto, estão submetidas às determinações morais do
Superego, decorrentes do ambiente social. Este conflito gera
ansiedade e leva o Ego a desenvolver mecanismos defensivos
que evitem o perigo da invasão de impulsos e conteúdos
inconscientes.
O modo como o aparelho psíquico organizará a experiência
pessoal, lidando com as necessidades pulsionais, fundamenta
a compreensão da personalidade e da formação dos traços de
caráter. Para Freud em cada estágio de desenvolvimento existe
uma forma própria de lidar com as necessidades deste estágio. Ele divide
o desenvolvimento a partir de um esquema de zonas erógenas.
As crianças passam por uma seqüência de zonas erógenas, quando
a libido (energia sexual) se concentra em diferentes regiões do corpo, à
medida que  prossegue o desenvolvimento  psicológico, caracterizando as
fases do desenvolvimento, como veremos a seguir.
FaseOral–noprimeiroanodevida,osbebêsderivamprazer,principalmente,
de suas bocas, comendo, sugando, mordendo. A libido centra-se em
prazeres orais. O desmame é o principal conflito da fase oral, por causa do
excesso de gratificação ou privação extrema. Se, parte da libido permanece
instalada neste nível de desenvolvimento, os adultos podem exibir traços
orais, como dependência, passividade e gula, e preocupações orais, como
comer, mastigar goma, falar excessivamente e fumar.
Fase Anal – Freud acreditava que durante o segundo ano de vida, o prazer
é obtido, principalmente, na região anal, inicialmente por expelir as fezes
e posteriormente por retê-las. As crianças são solicitadas a controlar os
impulsos naturais, face às restrições da sociedade. O treinamento de toalete
é o conflito central da fase anal. Se o treinamento da toalete for severo ou
excessivamente indulgente, uma parte significativa da libido pode fixar-se
neste estágio. Na fase adulta, este indivíduo pode apresentar frustrações
generalizadas, desafios, obstinação e mesquinhez.
Fonte:LEVENDULAIMAGEMDIGITALLTDA-RiodeJaneiro-RJ
50 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
Fase Fálica – entre três e cinco anos a criança descobre os órgãos genitais
e descobre que eles proporcionam prazer, o que, muitas vezes, leva à
masturbação. A criança ama excessivamente o pai ou a mãe, sempre do
sexo oposto, e rivaliza com um dos pais, do seu sexo. Neste processo,
visando agradar o pai do sexo oposto, identifica-se com o comportamento
do pai do mesmo sexo. O filho ama a mãe e tece fantasias sexuais com ela,
odeia o pai e deseja que ele morra para substituí-lo. Mas, ele teme o pai,
que é forte e pode retaliar. Então, reprime seu amor pela mãe e se identifica
com o pai, esforçando-se para ser como ele (Complexo de Édipo). Esta
identificação com o pai tem conseqüências de longo alcance e permite que
o menino adote as características típicas do sexo masculino e o Superego
do pai. Já no caso da menina, o conflito é conhecido como Complexo de
Electra (nomes provenientes de personagens lendárias gregas). A filha ama
a mãe, que tem satisfeito suas necessidades básicas, porém descobre,
nesta fase, que possui uma cavidade no lugar do pênis, e supõe que tenha
sido castrada. Culpa a mãe por este infortúnio e transfere, temporariamente,
seu amor para o pai. Para Freud, o amor pelo pai e a rivalidade com a mãe
se dissipam lentamente e a menina pode então assumir as características
femininas e o Superego da mãe.
Fase de Latência – Freud acreditava que ao final da fase Fálica, aos
cinco anos, a personalidade está formada, e nos sete anos seguintes,
aproximadamente, as necessidades sexuais permanecem adormecidas.
Não ocorrem mudanças importantes ou conflitos nesta fase de Latência.
Fase Genital – com a chegada da puberdade, os interesses sexuais são
novamente despertados (adolescência e idade adulta, até a senilidade). As
pessoas, até então voltadas para si próprias e seus corpos, se orientam
para as outras, e necessitam formar relacionamentos sexuais satisfatórios.
Freud acreditava que um laço heterossexual maduro é a marca registrada
da maturidade. Este desafio não poderá ser enfrentado adequadamente se
a energia da libido estiver fixada em alguma fase anterior.
Deve-sedestacarqueaTeoriadeFreudteveamplaaceitaçãonasociedade,
que incorporou expressões como frustração, impulsos inconscientes,
complexo de Édipo, e que teve também influência significativa em todo
o desenvolvimento da Psicologia. Hoje, a maioria dos cientistas da
área concorda que as experiências iniciais são importantes para o
desenvolvimento da personalidade e que as pessoas são, freqüentemente,
influenciadas por motivos e sentimentos dos quais não estão conscientes.
Porém, muitas formulações do autor são debatidas, sobretudo pela
51PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
impossibilidade de se avaliar alguns conceitos, como, por exemplo, o Id. Ao
mesmo tempo, muitos discípulos de Freud têm feito revisões e modificações
na teoria psicanalítica básica. Não se pode, porém, negar a importância de
seu insight para a compreensão do desenvolvimento e da personalidade,
e ele é considerado ainda hoje como um “gigante intelectual na história do
pensamento moderno” (DAVIDOFF, 1983, p. 520).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A infância é um período primordial na constituição da personalidade,
pois, neste período, os alicerces da personalidade são formados e muitas
configurações e valores são fixados. Por outro lado, na adolescência e
no início da idade adulta ocorrem grandes mudanças na personalidade,
porque, por suas capacidades intelectuais e por sua evolução afetiva, o
jovem revê os seus valores e resignifica os seus comportamentos, porém,
sempre a partir das experiências da infância e da estrutura do caráter ali
construída.
Embora a infância e a adolescência sejam consideradas períodos capitais
na constituição da personalidade, como vimos acima, uma de suas
características é a plasticidade, portanto, ela não deixa de se desenvolver
durante toda a vida.
Uma das principais linhas de estudo da personalidade, a das TEORIAS
PSICODINÂMICAS, tem origem nos estudos de Sigmund Freud.
De acordo as teorias psicanalíticas, os impulsos sexuais desempenham
um papel importante. O termo “sexual” é usado para todas as ações e
pensamentos prazerosos. Entre os impulsos incluía a agressão. Os
impulsos sexuais, segundo Freud, geram uma quantidade de energia
psíquica denominada libido que mobiliza comportamentos e habilidades
mentais.
Em termos de estrutura, a personalidade é composta por três grandes
sistemas, o Id, o Ego e o Superego. Esta estrutura decorre de um modelo
topográfico da mente, formulado inicialmente pelo autor, em que esta é
dividida em três áreas ou regiões específicas, o inconsciente (Id), o pré-
consciente (Ego) e o consciente (Superego).
A partir dessas estruturas, Freud definiu estágios, nos quais a libido
estaria concentrada. O primeiro estágio seria a fase oral, em que a libido
52 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
é concentrada nessa área. O segundo estágio é a fase anal, em que a
criança passa a ter controle de esfíncter e, posteriormente, a fase fálica,
em que a criança descobre os órgãos genitais e, nessa fase, se desenvolve
o complexo de Édipo. Essa fase é seguida pela fase de latência, em que
a libido aparece “adormecida” não ocorrendo grandes mudanças na
personalidade da criança e depois a fase genital, em que a criança adquire
um senso de conduta típico da adolescência.  
ATIVIDADE DE AUTO-ESTUDO
TEORIA PSICANALÍTICA
1.	 ExpliqueaestruturadapersonalidadedeacordocomFreud,descrevendo
Id, Ego e Superego.
2.	 Indique os conflitos que podem existir entre as três dimensões da
personalidade.
3.	 Relacione os fatores determinantes do desenvolvimento da
personalidade nessa perspectiva teórica.
4.	 Descreva a libido e o processo de evolução da personalidade a partir de
sua concentração em zonas determinadas do corpo através da infância
e adolescência.
5.	 Faça uma crítica pessoal à teoria de Freud como aqui apresentada.
SAIBA MAIS
SOBRE O ASSUNTO:
Acesse os links:
http://www.geocities.com/~mhrowell/
freudpsicoteoria.html
http://www.cobra.pages.nom.br/ecp-
adler.html
UNIDADE V
TEORIAS RECENTES DA APRENDIZAGEM
Professora Drª. Rachel Brotherhood
Professor Dr. Alex Eduardo Gallo
Objetivos de Aprendizagem
•	 Abordar as teorias recentes da aprendizagem.
•	 Discutir a prática pedagógica.
Plano de Estudo
A seguir apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
•	 O paradigma de equivalência de estímulos.
•	 A prática pedagógica.
55PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
INTRODUÇÃO
Esperamos, após as explanações desenvolvidas nas
unidades apresentadas, ter plantado a semente da
compreensão da necessidade de um olhar atento para as
questõespsicológicasenvolvidasnapráticapedagógica,eda
responsabilidade da Escola com a criança e o jovem, como
seres em desenvolvimento e como seres multidimensionais.
Destacamos a importância de conciliar estratégias
pedagógicas com capacidades, necessidades e interesses
dos alunos, de buscar a cientificidade no desenvolvimento
dos processos educacionais, e de fazer da observação
atenta do aluno e da aplicação do saber científico o ponto de
partida de toda a prática, promovendo a práxis e favorecendo
o desenvolvimento integral do ser humano.
Esperamosqueosalunosenvolvidos,nessecurso,prossigam
seus estudos buscando sempre preencher lacunas no seu
conhecimento e ampliando suas habilidades e competências de forma
autônoma e responsável.
PARADIGMA DE EQUIVALÊNCIA DE ESTÍMULOS
Historicamente, as primeiras pessoas que estudaram o desenvolvimento
cognitivo e inteligência centraram-se na observação das habilidades
intelectuais, como lembrar listas de supermercado, velocidade com que
resolvem problemas ou aprendem coisas novas.
Em cada estágio que a criança avança, novos repertórios começam a fazer
parte dos processos cognitivos da criança. Vygotsky afirma que a criança
apresenta uma capacidade para uma determinada habilidade. Quando
a criança ainda não tem essa habilidade, mas se ela se desenvolver um
pouco mais, ela terá, dizemos que ela tem um potencial, ou seja, ela tem
um desenvolvimento potencial. As habilidades que a criança já apresenta
são reais, portanto fazem parte do desenvolvimento real. A diferença entre
o desenvolvimento potencial e o desenvolvimento real é chamada de Zona
de Desenvolvimento Proximal. Ou seja, a diferença entre aquilo que a
criança consegue fazer sozinha e aquilo que ela ainda precisa de ajuda.
Fonte:LEVENDULAIMAGEMDIGITALLTDA-RiodeJaneiro-RJ
56 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
Apartirdápermanênciadoobjeto,ascriançaspodemcomeçaracategorizar
as coisas. A criança começa categorizando as coisas que ela encontra em
seu meio, em classes formadas por objetos equivalentes. Chamamos isso
decategorizaçãoperceptual.Coisasquesãopercebidascomosemelhantes
são agrupadas em uma mesma categoria. A criança que tem familiaridade
com cachorro (aqui ela chama de “au-au”) pode categorizar o gato da avó
também como “au-au”, até que alguém ensine que o gato não é “au-au”,
mas é “miau”. Essa categoria é formada pela percepção do animal (quatro
patas, rabo, focinho etc.). Com os avanços no desenvolvimento cognitivo,
a criança passa a categorizar em classes mais sofisticadas, chamadas de
categorização conceitual. Na categorização conceitual não importa mais a
percepção que a criança tem do objeto, mas seu conceito. Uma boneca e
um carrinho podem ser classificados em uma mesma classe, não de acordo
com uma categoria perceptual, pois uma boneca é muito diferente de um
carrinho, mas em uma categoria conceitual – uma classe de brinquedo,
pois uma boneca e um carrinho podem ser brinquedos.
Essas habilidades de categorizar e formar classes são fundamentais para
o desenvolvimento da linguagem. O que seria a linguagem? Podemos
definir a linguagem como sendo um sistema arbitrário de símbolos, que
tomados em conjunto, tornam possível transmitir e compreender uma
variedade infinita de mensagens. Isso significa que quando conversamos,
usamos um sistema de sons específicos, chamados de fonemas, que são
compreendidos pelas pessoas que compartilham desse sistema. Quando
escrevemos ou lemos, usamos um sistema equivalente de símbolos
gráficos, que podem ser traduzidos em símbolos sonoros (fonemas) e
compreendidos.
Somente os humanos têm linguagem? Pesquisas recentes na área apontam
que somente os humanos seriam capazes de formular e utilizar um sistema
de símbolos arbitrários para compor um sistema de linguagem. Esses
mesmos estudos apontam que alguns animais podem criar sistemas de
comunicação, mas não um sistema de símbolos. Essa comunicação pode
ser por cheiro, como o caso das formigas que se guiam pelo ferormônio
de outras formigas, andando em fila. Alguns macacos também podem
desenvolver sistemas de comunicação, mas eles não seriam capazes de
criar símbolos.
Aquisição da linguagem
Para entendermos a criação de um sistema arbitrário de símbolos para
57PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
formação da linguagem, é necessário discutirmos a capacidade de
categorização. As crianças são capazes de categorizar os eventos em três
classes. A primeira delas, a mais simples, seria a classe por similaridade.
Objetos parecidos são categorizados em uma mesma classe. Por exemplo,
um carrinho de brinquedo, feito de metal e outro feito de madeira, podem
ser categorizados em uma mesma classe, a classe de carrinhos de
brinquedo. Uma boneca de marca famosa e outra boneca sem marca,
vendida em comércio popular, podem ser categorizadas em uma mesma
classe, a classe de bonecas. Um cachorro da raça Rottweiller e outro da
raça Pequinês, apesar de muito diferentes, podem ser categorizados na
classe de cachorros.
A segunda classe é mais sofisticada, pois requer o uso de conceitos. É a
classe por função. Nessa classe, os objetos e eventos são categorizados,
não pela semelhança física, mas pela função que eles têm. Por exemplo, a
classe dos brinquedos. Nessa classe, carrinhos e bonecas, que não fazem
parte da mesma classe por similaridade, podem fazer parte da mesma
classe, devido à função comum que eles têm – ambos podem ser usados
como brinquedos.
A terceira classe é a mais sofisticada delas, pois requer conceitos abstratos.
É a classe arbitrária. Recapitulando, na classe por similaridades físicas,
os objetos são categorizados de acordo com suas semelhanças. Diversos
estudos (Stromer, & McKay, 1993) mostram que várias espécies
animais conseguem formar essas classes. Na classe por função, os
objetos são categorizados de acordo com suas funções. Estudos mostram
que somente alguns animais conseguem formar esse tipo de classe
(SIDMAN, 1998). Crianças com atrasos severos no desenvolvimento
também são capazes de formar classes por similaridades e por função. Na
classe arbitrária, as coisas, eventos, objetos são categorizados, não pela
semelhança e nem pela função, mas de acordo com regras arbitrárias,
definidas pela comunidade verbal. A comunidade verbal é o conjunto de
pessoas que compartilham da mesma linguagem. Por isso que essa classe
é a mais sofisticada delas, porque ela é formada de acordo com regras
arbitrárias, definidas pela sociedade.
Agora vamos aos exemplos de como essas classes ocorrem, assim fica
maisfácilentendê-las.Obebê,apartirdomomentoquesuavisãoatingeseu
ápice, isto é, ele se torna capaz de ver as coisas com a mesma qualidade
que os adultos conseguem, ele começa a interagir com diferentes objetos
ao seu redor. Biologicamente, a criança começa a apresentar crescimento
58 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância
dos músculos e endurecimento dos ossos, ocorre maior mielinização dos
neurônios, a criança começa a explorar o ambiente, buscando novos
objetos que chamam a atenção. A audição da criança já era boa, portanto,
ela era capaz de distinguir diferentes sons. A criança vê, ouve, interage e
começa a balbuciar. O balbucio seria a primeira expressão de linguagem da
criança. Nesse ponto, há uma divergência entre dois autores. Para Piaget,
o balbucio ocorre em função do amadurecimento das funções cognitivas e
por essa razão a criança começa a externalizar sua linguagem. Como ela
ainda não tem musculatura suficiente para articular a fala, ela externaliza
sua linguagem na forma de balbucio. Para Vygotsky, o balbucio é a
internalização da linguagem. A criança ouve, tem contato com a linguagem
falada pelas pessoas ao seu redor e começa a internalizar essa linguagem,
expressando seu treino na forma de balbucio.
Deixando de lado as divergências entre Piaget e Vygotsky, o que importa
é que o balbucio seria a primeira linguagem da criança. Nessa fase, ela
entra em contato com a linguagem falada em sua comunidade verbal. Ela
aprende a distinguir a língua falada pelos seus pais, aprendendo com eles
essa linguagem. Ou seja, a família desempenha um papel fundamental na
aquisição da linguagem. É a família que fornece o primeiro contato com
a linguagem falada, em que a criança aprende sua língua materna. Mas
não só, a família é importante no processo de estimulação. Um ambiente
rico em estimulações facilita o desenvolvimento da criança. Um ambiente
em que tenha objetos de cores diferentes, formatos diferentes, texturas
diferentes é um ambiente rico em estimulações visuais e táteis. A família
deve propiciar um ambiente rico em estimulações sonoras, em que a
criança possa aprender diversas palavras, enriquecendo seu vocabulário.
Além de tudo isso, um ambiente rico em afeto e atenção, em que ela, a
criança, possa se desenvolver psicologicamente, aprendendo a lidar com
suas emoções e sentimentos.
É na família que a criança tem contato com sua primeira linguagem, sua
língua materna. Vocês já observaram que, na maioria das vezes, quando
um adulto tenta interagir com uma criança pequena, ele fala com uma
linguagem infantilizada, próxima da linguagem de um bebê? É correto fazer
isso? Então vamos discutir esse assunto.
É correto em termos. Esse tipo de linguagem infantilizada, utilizada pelo
adulto, pode ser útil para o estabelecimento de vínculo. Ou seja, para
mostrar simpatia e receptividade. Mas, do ponto de vista do aprendizado
da língua, muitos educadores apontam que seria errado. Mas por quê?
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  • 2. Diretoria do NEAD: Willian Victor Kendrick de Matos Silva Assessoria da Direção: Diene Eire dos Santos Carneiro Coordenação Ensino: Viviane Marques Goi Coordenação de Curso: Márcia Previato de Souza NAP – Núcleo de Apoio Pedagógico: Dulcelene Pinatti Almeida Assessoria Pedagógica: Mirian Bambine Coordenação de Planejamento e Gestão: Luciana Falcão Marinho Coordenação de Tecnologia do NEAD: Fabrício Ricardo Lazilha Coordenação Pólos: Silvanis Borges Coordenação Mediadores: Carla Teixeira Mendes Coordenação Comercial: Valdir Almeida Capa e Editoração: Aleksander Pereira Dias Supervisão Material: Nalva Aparecida da Rosa Moura Revisão Textual e Normas: Edson Dias dos Santos, Érica Coimbra e Lilian Maia Borges Testa Av. Guedner, 1610 - Jd. Aclimação - (44) 3027-6360 - CEP 87050-390 - Maringá - Paraná - www.cesumar.br NEAD - Núcleo de Educação a Distância - bl. 4 sl. 1 e 2 - (44) 3027-6363 - ead@cesumar.br - www.ead.cesumar.br Reitor: Wilson de Matos Silva Vice-Reitor: Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Acadêmico: Claudio Ferdinandi Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão: Flávio Bortolozzi “As imagens utilizadas nesta apostila foram obtidas a partir dos sites contratados através da empresa LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ. Animation Factory; Purestockx; Photoobjects; Clipart e Ablestock”. NEAD - Núcleo de Educação a Distância CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a distância: C397 Fundamentos da educação/ Maria Lúcia Bertachini Nosella, Rachel Bratherhood, Alex Eduardo Gallo - Maringá - PR, 2009. 188 p. “Curso de Graduação em Pedagogia - EaD”. Conteúdo: Fundamentos históricos e filosóficos da educa- ção. Psicologia da educação. 1. Pedagodia 2. Psicologia da educação. 3. Fundamentos históricos. 4. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 370 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - CESUMAR
  • 3. PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Professora Drª. Rachel Brotherhood Professor Dr. Alex Eduardo Gallo
  • 4.
  • 5. SUMÁRIO UNIDADE I APRENDIZAGEM: CONCEITOS BÁSICOS APRENDIZAGEM....................................................................................................................................................11 OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM........................................................................................................................12 UNIDADE II DESENVOLVIMENTO DIFERENTES ABORDAGENS TEÓRICAS DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM............................................ 19 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO....................................................................................................................... 20 COGNITIVISMO..................................................................................................................................................... 23 HUMANISMO......................................................................................................................................................... 28 UNIDADE III DESENVOLVIMENTO NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA CRIANÇA DE ACORDO COM JEAN PIAGET....................................................................................................35 UNIDADE IV O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE A TEORIA PSICANALÍTICA DE SIGMUND FREUD..............................................................................................47 UNIDADE V TEORIAS RECENTES DA APRENDIZAGEM PARADIGMA DE EQUIVALÊNCIA DE ESTÍMULOS............................................................................................. 55 PRÁTICA PEDAGÓGICA....................................................................................................................................... 61 REFERÊNCIAS...................................................................................................................................................... 68
  • 6.
  • 7. UNIDADE I APRENDIZAGEM: CONCEITOS BÁSICOS Professora Drª. Rachel Brotherhood Professor Dr. Alex Eduardo Gallo Objetivos de Aprendizagem • Estudar a Psicologia da Educação como área do conhecimento: objeto de estudo. • Destacar as principais dimensões da Psicologia da Educação. • Conhecer o processo de desenvolvimento e aprendizagem: diferentes abordagens teóricas. Plano de Estudo A seguir apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Conceitos básicos de aprendizagem. • Objetivos da aprendizagem. • Fatores Intrapessoais e situacionais.
  • 8.
  • 9. 9PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância INTRODUÇÃO OPedagogoéumprofissionalquetemumainfluênciadecisiva e uma grande responsabilidade com a formação de crianças e jovens. Houve um período da história em que se achava que a responsabilidade da escola se limitava à transmissão de conhecimentos, de conteúdos ligados às diversas disciplinas e ciências, porém, atualmente, a educação escolar é assumida prática libertadora e promotora do desenvolvimento integral do ser humano, o que envolve não apenas aspectos cognitivos, como dimensões emocionais e sociais, vez que o ser humano é um ser complexo, constituído por todas essas dimensões. Quando falamos em “prática promotora do desenvolvimento integral do ser humano” deixamos clara a crença de que o desenvolvimento é um processo influenciado pelo ambiente, que ocorre quando o potencial genético do indivíduo é levado a se manifestar pelos estímulos do meio, e, mais que isto, que o ambiente pode ajudar o aluno a superar limites e atingir patamares superiores de desenvolvimento, se favorecido pela ação do meio. Quando falamos em “prática libertadora” acreditamos que, muitas vezes, os limites colocados pela ação do meio social podem ser quebrados e superados pela ação direcionada da escola. Assim, fica clara a responsabilidade do Pedagogo, com os processos de desenvolvimento e aprendizagem do aluno. Estes processos de desenvolvimento e aprendizagem são descritos e explicados pela Psicologia Escolar, ramo da Psicologia que estuda o ser humano nas dimensões consideradas e indica diretrizes para que os profissionais da Educação encaminhem com cientificidade a sua prática. Justifica-se, assim, a importância da disciplina Psicologia Escolar no currículo do curso de Pedagogia. Esta disciplina traz alguns conteúdos que irãopermitiracompreensãodoprincipal elementodoprocessoeducacional, o aluno, favorecendo assim a prática pedagógica. Mas,aescoladehojealémdesepreocuparcomodesenvolvimentoindividual do aluno, também trouxe para si a responsabilidade pelo desenvolvimento social do indivíduo e de contribuir para a inserção na comunidade de todos os seus alunos. Cabe-nos, então, buscar a compreensão do processo de desenvolvimento e de aprendizagem de crianças e jovens no contexto de Fonte:LEVENDULAIMAGEMDIGITALLTDA-RiodeJaneiro-RJ
  • 10. 10 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância sua realidade histórica, utilizando também os conhecimentos da Psicologia Social como parâmetro de estudo do educando. Desta forma, esperamos contribuir para levá-los a enfrentar o desafio acadêmico da atualidade, que é superar a visão da educação como busca de desenvolvimento individual, de aquisição de competências e habilidades, de autonomia intelectual (aprender a aprender) – visão liberal que prioriza o consumo da informação e a busca do conhecimento como instrumento de promoção individual – e substituí-la por uma visão crítica que dê outro significado à escolarização oportunizada pela escola, analisando suas condições objetivas, concretas, de instituição inserida em uma sociedade suscetível a mudanças e em permanente processo de transformação. Estudaremos três dimensões do desenvolvimento humano, essenciais para a compreensão do processo ensino-aprendizagem – o desenvolvimento da personalidade; o desenvolvimento da capacidade de conhecer e o desenvolvimento sócio-cultural. As teorias escolhidas para analise destas dimensões são as de Freud, Piaget, Vygotsky e Skinner, respectivamente. As duas primeiras são teorias desenvolvimentistas, a terceira é histórico- cultural e a última é comportamental. Freud e Piaget descrevem, através de estágios, os processos de desenvolvimento da criança e do adolescente, sobretudo nos aspectos estruturais e motivacionais. Tais descrições, embora, aparentemente, desconsiderem o contexto histórico das manifestações do desenvolvimento, nos ajudam a entender como o individuo constrói sua imagem de mundo e de si próprio. Já Vygotsky aborda, sobretudo, a importância das interações e das mediações realizadas pelos outros (pais, professores, colegas) na promoção do desenvolvimento, destacando o papel da atividade e da interação social sobreodesenvolvimentoeaaprendizagem.Skinner,semelhanteàVygotsky, considera, principalmente, as interações do indivíduo com o ambiente, na determinação de comportamentos, desenvolvimento e personalidade. O desafio é, partindo destas teorias, chegarmos à compreensão do indivíduo; partindo da descrição do particular, mas o particular inserido no social, e uma compreensão dialética, dando corpo a uma reflexão sobre as múltiplas conexões destes processos individuais na unidade homem- mundo, considerando como referencial, sobretudo, o ambiente escolar, e como critério, a relação teoria-prática.
  • 11. 11PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância APRENDIZAGEM Descreveremos, a seguir, os principais enfoques dados pela Psicologia Educacional ao processo de Aprendizagem. Apresentaremos os pressupostos teóricos da Análise do Comportamento, Construtivismo e Humanismo. Analisaremos as principais práticas pedagógicas representativas da Análise do Comportamento, do Construtivismo e do Humanismo (SKINNER, PIAGET, VYGOTSKY E ROGERS). APRENDIZAGEM – CONCEITOS BÁSICOS A Psicologia da Aprendizagem é um ramo da Psicologia Educacional cujo interesse, historicamente documentado, é “contribuir para a formação intelectual dosalunoscomaqualidadedesuasaprendizagens,bem como com o seu completo desenvolvimento pessoal e social” (BORUCHOVITCH; BZUNEK (org), 2004). Muitas vezes, nas licenciaturas ou mesmo na pós- graduação, o aluno se pergunta por que precisa estudar psicologia, se ele não pretende ser psicólogo. Acontece que a Pedagogia e a Psicologia têm o mesmo objeto de estudo, o ser humano, e são dois campos de ação nos quais as relações com o outro são o eixo central, e para construir a prática pedagógica nos complexos espaços interativos da escola, precisamos buscar na psicologia o entendimento dessas relações; assim, a compreensão dos processos de aprendizagem e desenvolvimento possibilita a construção de novas práticas pedagógicas, mais efetivas. Voltando à definição de psicologia educacional, nela podemos identificar duas dimensões; a primeira dimensão é o processo de aprendizagem dos alunos. A segunda é o seu desenvolvimento pessoal e social. Vejamos como cada um desses dois pontos pode ser abordado. O objetivo de promover a aprendizagem começa a ser alcançado mediante a compreensão de COMO O ALUNO APRENDE. Esse fenômeno envolve PROCESSOS e FATORES. Em outras palavras, saber como acontece a aprendizagem constitui-se em elemento facilitador e promotor do desenvolvimento de estratégias de ensino mais eficazes. Enfocando os processos, vejamos alguns conceitos. Fonte:LEVENDULAIMAGEMDIGITALLTDA-RiodeJaneiro-RJ
  • 12. 12 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância • APRENDIZAGEM – comportamento novo e relativamente estável, que aparece em decorrência da experiência ou do treino; uso de conhecimento na resolução de problemas, construção de novos significados, de novas estruturas cognitivas; aquisição de informação etc. • COMO APRENDEMOS – por imitação, insight, condicionamento e raciocínio; o raciocínio é a forma de aprender exclusiva do ser humano. • RACIOCÍNIO – operação que envolve: prever, julgar, planejar, levantar hipóteses, fazer deduções. Avaliar a situação para encontrar soluções. O processo de ensino consiste em promover a aprendizagem do aluno. Sendoumprocessointerno,afunçãodaescolaedoprofessorélevaroaluno a dominar este processo, desenvolvendo estratégias de aprendizagem. • ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM – ações com as quais envolvem o aluno durante a aprendizagem, com o objetivo de realizar retenções e recuperações das informações armazenadas na memória. Tornar-se um processador de informações eficaz e conhecer diferentes estratégias de aprendizagem, bem como saber por que, como e quando usá-las, torna o sujeito um bom aprendiz. OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM • AUTO-REGULAÇÃO – controle do comportamento, das emoções e dos processos cognitivos; • MOTIVAÇÃO–construtocentraldaauto-regulaçãoedodesenvolvimen- to de todas as formas de controle voluntário; a etimologia da palavra sugere que motivo é aquilo que move uma pessoa, que a põe em ação ou a faz mudar de curso, e assegura a persistência em uma atividade (BZUNECK, in BORUCHOVITCH; BZUNECK, 2001). É um processo psicológico dinâmico, presente em qualquer atividade humana. Em uma sala de aula, leva o aluno a envolver-se em atividades pertinentes ao processo de aprendizagem, escolhendo um curso de ação dentre outros possíveis ao seu alcance. É a motivação que assegura a ocorrência de produtos de aprendizagem ou tipos de desempenho socialmente valorizados. Atualmente, com a notável prevalência das abordagens cognitivas e sócio-históricas da aprendizagem, e o destaque na importância do outro significativo no desenvolvimento e na aprendizagem, o estudo da motivação do aluno tem-se voltado para os componentes internos da motivação, cognitivos, como metas, crenças, atribuições, percepções, com destaque para a crença na auto-eficácia e outras variáveis ligadas ao “self”, como auto-realização, satisfação, medo, ansiedade, entre outras, e também para o processo de socialização, pois a presença do outro é fundamental para a
  • 13. 13PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância aprendizagem e o desenvolvimento. Pode-se dizer que a escola deve trabalhar no sentido de desenvolver a motivação do aluno na busca de sua auto-regulação cognitiva, emocional e social, que promove uma educação para a vida e o exercício da cidadania. Considerando todos estes aspectos motivacionais, auto-regular o desenvolvimento cognitivo é: • Exercer controle sobre a atenção e os processos de memória. • Desenvolver regras e estratégias para pensar e resolver problemas. • Organizar o pensamento e ajustar o comportamento (curso de ação) sempre que necessário. Tal processo de busca da auto-regulação visa substituir a regulação externa assistida por uma auto-regulação baseada nas ferramentas adquiridas na relação com o outro, chegando o aluno a um controle consciente, reflexivo. A auto-regulação pressupõe a METACOGNIÇÃO, que é a autoconsciência no que diz respeito aos próprios processos e estratégias cognitivas. Capacidade do ser humano de ser AUTO-REFLEXIVO, não sendo só capaz de pensar, mas de pensar sobre os próprios pensamentos. Consiste em uma reflexão a nível elevado, consciência de si mesmo como aprendiz, monitoramento e regulação ativos dos processos cognitivos. Planejar, selecionar, inferir, auto-interrogar e interpretar experiências. Julgar o que sabe para realizar uma tarefa. Alunos com desempenho escolar insatisfatório apresentam claros atrasos no desenvolvimento metacognitivo, ou seja, um dos pontos principais de diferença entre alunos com alto desempenho e baixo desempenho escolar é o seu grau de auto-regulação da aprendizagem. Leitura Complementar: ANGOTTI, Maristela. O trabalho docente na pré-escola: Revisitando teorias, descortinando práticas. São Paulo: Pioneira Thonnson Learning, 2002. Pensemos em alguns fatores determinantes da aprendizagem do aluno. Destacamos que aqui vamos apenas citá-los, já que pretendemos abordá- los em mais profundidade, dentro de um enfoque das quatro teorias que
  • 14. 14 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância serão estudadas no nosso curso. Podemos dividir esses fatores, para fins didáticos, em: • FATORES INTRAPESSOAIS – são fatores internos e individuais, que resultam de capacidades genéticas, história de vida, situações informais e formais de aprendizagem, entre outros; aqui podemos citar: idade mental, nível de inteligência, maturidade emocional, prontidão, comportamentos sociais, padrões familiares, motivação. Também podemos falar de temperamento, personalidade e auto-eficácia; • FATORES SITUACIONAIS - interpessoais são fatores do contexto social. O contexto escolar possibilita interação com os pares, interação professor-aluno, socialização. Esses aspectos contextuais possibilitam o atendimento da necessidade do indivíduo de pertencer e estabelecer vínculos, essenciais na construção da identidade, e que têm reflexos importantes na aprendizagem e no desenvolvimento humano. Destacamos que comportamentos desadaptados, disfuncionais ou patologias mais severas na adolescência e na vida adulta podem ser resultantes ou agravados por vivências escolares. Ressaltamosqueosaspectosintrapessoaisesituacionaisdaaprendizagem não se opõem nem representam uma divisão dicotômica, mas são inseparáveis e se constituem em visões complementares de um mesmo fenômeno psicológico, a aprendizagem. A formação atual do pedagogo, mais voltadas para a prática e as questões metodológicas (de ensino) tem deixado na escola um vazio no domínio dos aspectos psicológicos do desenvolvimento e da aprendizagem que prejudica a promoção dos processos de desenvolvimento sócio-emocional dos alunos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Existem diferentes abordagens na Psicologia. Algumas apresentam teorias relacionadas aos processos de desenvolvimento e aprendizagem mais específicas do que outras teorias. Vimos nesta unidade, conceitos básicos sobre aprendizagem e ensino, considerando fatores e questões ligadas à atividade escolar, e alguns aspectos do desenvolvimento de crianças e jovens, com ênfase na dimensão cognitiva e na constituição da personalidade. A escolha destas dimensões deveu-se à necessidade de uma compreensão do processo de desenvolvimento e de aprendizagem do aluno, vez que a disciplina, Psicologia Escolar, compõe o currículo do curso de graduação SAIBA MAIS SOBRE O ASSUNTO: Acesseolink:http://kplus.cosmo.com. br/materia.asp?co=205&rv=literatura. Acessado em 30/07/2009.
  • 15. 15PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância em Pedagogia. É importante salientar que o processo de ensino e de aprendizagem se constitui uma forma inerente ao desenvolvimento humano, não só de habilidades, mas de competência social, o que reflete, na prática docente, um senso crítico, fundamental para o desenvolvimento das sociedades. ATIVIDADE DE AUTO-ESTUDO 1. Descreva a importância do estudo da Psicologia Escolar para o desenvolvimento de uma prática pedagógica efetiva. 2. Elabore, com suas palavras, a partir da leitura do texto de Introdução da unidade I, um CONCEITO DE APRENDIZAGEM que demonstre sua percepção deste processo. 3. Faça uma síntese, de no máximo 10 linhas, sobre os objetivos da aprendizagem na percepção de uma Pedagogia que busque não apenas aprendizagens cognitivas, mas também o desenvolvimento sócio-emocional do aluno. 4. Formule, com suas palavras, uma descrição de um “bom aprendiz” na perspectiva adotada no texto.
  • 16.
  • 17. UNIDADE II DESENVOLVIMENTO Professora Drª. Rachel Brotherhood Professor Dr. Alex Eduardo Gallo Objetivos de Aprendizagem • Analisar a Teoria da Psicanálise. • Estudar a Epistemologia Genética de Jean Piaget. • Observar a Teoria Histórico Cultural de Vygotsky. • Conhecer o Modelo Ecológico de Bronfenbrenner. • Analisar a Análise do Comportamento. Plano de Estudo A seguir apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • A Psicanálise: Freud. • A Epistemologia Genética de Jean Piaget. • A teoria Histórico-Cultural: Vygotsky. • O Modelo Ecológico de Bronfenbrenner • A Análise do Comportamento: Skinner
  • 18.
  • 19. 19PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância DIFERENTES ABORDAGENS TEÓRICAS DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM Vimos, no item anterior, os conceitos básicos de aprendizagem e desenvolvimento, com o objetivo de facilitar a compreensão e o domínio das teorias que vamos estudar nesta e nas próximas unidades. Sabemos que uma teoria é uma tentativa de sistematizar os conhecimentos produzidos por um autor ou grupo de autores sobre um determinado objeto deestudoouumaáreadeconhecimento.É,portanto,umamaneiraparticular de ver e explicar os fenômenos e orientar a solução de problemas. Uma teoria de aprendizagem é, portanto, “uma construção humana para interpretar, sistematicamente, a área de conhecimento que chamamos aprendizagem. Representa o ponto de vista de um autor/pesquisador sobre como interpretar o tema aprendizagem [...]. Tenta explicar o que é aprendizagem e porque funciona como funciona” (MOREIRA, 1999). Segundo este autor, de uma maneira geral, as teorias de aprendizagem estão contidas em teorias mais amplas de desenvolvimento, como é o caso, por exemplo, da teoria de Piaget, que embora sendo uma teoria de desenvolvimento, tem muitas implicações para a aprendizagem. Outra questão ressaltada pelo autor é que a aprendizagem tem componentes cognitivos, afetivos e psicomotores, mas que em cada situação há o predomínio de um desses componentes; a aprendizagem cognitiva, foco da maioria das teorias, destaca o armazenamento organizado de informações e conhecimentos na memória do aprendiz; a aprendizagem afetiva trata de experiências como prazer e dor; satisfação e descontentamento, alegria ou ansiedade, e a aprendizagem psicomotora enfoca habilidades adquiridas por meio do treino e da prática. Aqui, por necessidade de definirmos um foco e não por considerarmos exclusivas ou mais importantes, abordamos duas das principais linhas de pensamento sobre aprendizagem cognitiva (PIAGET E VYGOTSKY) e a teoria de Freud, que descreve aspectos motivacionais e constituição da personalidade através de estágios na infância e adolescência, por sua Fonte:LEVENDULAIMAGEMDIGITALLTDA-RiodeJaneiro-RJ
  • 20. 20 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância importância para a compreensão da educação escolar e a Análise do Comportamento, pela importância na compreensão dos comportamentos humanos. No entanto, a seguir explicitamos as principais linhas de pensamento da Psicologia Escolar, destacando o enfoque de cada uma dessas linhas. ANÁLISE DO COMPORTAMENTO Dentro do pensamento do Behaviorismo, cuja principal teoria de aprendizagem é a ANÁLISE DO COMPORTAMENTO, há um pressuposto filosófico que está na ênfase nos comportamentos observáveis e mensuráveis, ou seja, é uma linha de pensamento que acredita no estudo dos comportamentos, sendo estes entendidos como uma relação de contingência entre as respostas do sujeito, os estímulos e as conseqüências produzidas: o indivíduo responde de acordo com a presença de um estímulo específico e produz uma conseqüência, que pode aumentar a probabilidade da mesma resposta ocorrer novamente, na presença da condição que a originou (reforço) ou diminuir essa probabilidade (punição). Isto significa que se podem manipular os eventos anteriores e posteriores aos comportamentos, e, assim, controlá-los. Uma crítica errônea que é feita a Análise do Comportamento é que esta abordagem não considera as atividades mentais que acontecem entre a apresentação do estímulo e a emissão da resposta. A Análise do comportamento, como princípio epistemológico e ontológico, nãoconsideraaexistênciadeprocessosmentais.Osprocessosmentaissão considerados, também, comportamentos, embora não sejam diretamente observáveis, pois ocorrem dentro do organismo da pessoa, mas podem ser analisados em função da sua manifestação. Esses comportamentos recebem o nome de comportamento verbal, que podem ser vocalizados (fala) ou não vocais (pensamento). O Behaviorismo surgiu nos Estados Unidos, no início do século XX, e posteriormente B. F. Skinner o modificou, tornando-se o principal representante desta linha de pensamento. A Teoria Behaviorista de Skinner tem seus fundamentos nos trabalhos de Ivan Pavlov, John Watson e Edward L. Thorndike, que desenvolveram o Conexionismo, teoria que supõe que todas as respostas são eliciadas por estímulos, ou seja, a idéia de conexão entre estímulo e resposta
  • 21. 21PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância (S-R). Esta concepção era uma abordagem periférica, que não levava em consideração o que ocorria na mente do indivíduo durante o processo de aprender. Em função disto, o próprio Skinner reformulou as teorias antecedentes, agora denominadas de Behaviorismo Metodológico e criou o Behaviorismo Radical, considerando o seu trabalho como “uma análise das relações funcionais entre estímulo e resposta” (MOREIRA, 1999, p. 50). Considera-se que o comportamento é provocado por um estímulo específico, aprendido em razão das contingências de controle, que envolve a relação entre o antecedente (estímulo) e as conseqüências. As pessoas tendem a se comportar para obter recompensas e evitar punições. Estes fatos, ocorridos após a manifestação do comportamento, são denominados reforço e aumentam ou diminuem a possibilidade de que o comportamento se manifesta novamente. Daí decorre outro conceito importante nos estudos de Skinner, que é o condicionamento. Quando se estabelece uma conexão entre uma resposta do indivíduo (comportamento provocado por algum estímulo e que é reforçado) e um outro estímulo (estímulo inicialmente neutro porque não provocava aquela resposta), e pela contigüidade e repetição, o estímulo neutro passa a eliciar a resposta que, anteriormente, não era ligada a ele, diz-se que houve condicionamento. Denomina-se ainda o comportamento de operante ou respondente. No comportamento operante, o indivíduo age sobre o meio, modificando-o e sendo modificado por ele (processo de aprendizagem). E o comportamento respondente são aqueles comportamentos reflexos, que nascem com a pessoa, como fechar os olhos quando um objeto bate nos olhos, retirar a mão rapidamente quando encosta-se em algo muito quente. Na concepção de Skinner, o processo de modelagem consiste em condicionar a apresentação de um comportamento complexo através de aproximações sucessivas, ou seja, reforça-se o comportamento próximo daquele que se deseja (comportamento inicial) e segue-se reforçando os comportamentos que mais se aproximam do comportamento terminal desejado, até que o indivíduo atinja este comportamento terminal. O processo de modelagem foi o primeiro conceito utilizado para explicar a aprendizagem. Os comportamentos condicionados podem ser extintos ou esquecidos pela eliminação do reforço; Quando o indivíduo emite o comportamento, muitas vezes (o número de vezes varia de acordo com o indivíduo, com Skinner
  • 22. 22 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância a importância do comportamento para ele, e uma série de outros fatores significativos), sem que seja reforçado, sua probabilidade de ocorrência diminui e ele pode ser esquecido pelo sujeito. Considerando a relação entre condicionamento e aprendizagem, pode-se dizer que a aprendizagem é muito mais ampla do que o condicionamento. Enquanto o condicionamento é o aumento de freqüência de uma resposta associadaareforçadorpositivosobcondiçõesdeterminadas,aprendizagem é definida como uma mudança de comportamento provocada pela experiência e o contato com o meio. Considerando a aprendizagem, Skinner destaca que é necessário, primeiramente, concentrar-se no lado do reforço e das contingências de reforçamento(condiçõessobasquaisoreforçoéatribuído):aaprendizagem ocorre pela presença das contingências de reforço. O papel do professor é o de arranjar as contingências de reforço para aumentar a possibilidade de que o aluno apresente um comportamento desejável – dar reforço no momento apropriado é a função do professor. Posteriormente, quando as respostas primárias já fazem parte do repertório do indivíduo, a função do professor é generalizar essas respostas para outras contingências, o que recebe o nome de abstração. A partir dessas generalizações, o indivíduo passaria a controlar as suas contingências de aprendizagem, adquirindo conceitos abstratos. Inicialmente, o Behaviorismo Skinneriano fundamentou a proposta tecnológica da Instrução Programada, processo de modelagem que pressupõeumaatividadedidáticanaqualafunçãodoprofessoréapresentar estímulos para o aluno e reforçar positivamente as respostas desejáveis, a fim de aumentar a possibilidade de o aluno continuar apresentando estas respostas (aprendizagem). Definiam-se objetivos (comportamentos esperados dos alunos que podiam ser observados, o que eles deveriam fazer; sob que condições e em quanto tempo) e a avaliação consistia em verificar se as condutas definidas nos objetivos eram apresentadas pelos alunos ao final da instrução. Esse processo de instrução programada foi adaptado a vários conceitos, inclusive Educação a Distância. Há outras aplicações dos princípios da Análise do Comportamento à Educação, como o Método Keller, por exemplo, que enfoca a instrução individualizada, porém não nos deteremos neste tema. Sugerimos, para o aprofundamento desses princípios, o estudo do capítulo 3 do livro texto indicado, assim como a sugestão de leitura a seguir.
  • 23. 23PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância Sugestão de Leitura: HUBNER, Maria Marta Costa; MARINOTTI, Miriam. Análise do comportamento para a educação: Contribuições recentes. Santo André: ESETEc, 2004. COGNITIVISMO O principal pressuposto filosófico do cognitivismo é que a cognição (aprendizagem) se dá por construção. Denomina-se cognitivismo porque seu foco é a cognição, como o indivíduo conhece; como constrói sua estrutura cognitiva. Bem no sentido oposto ao comportamentalismo, se ocupa dos processos mentais que ocorrem entre a estimulação do meio e a resposta do indivíduo (ação). Os processos mentais, focos do cognitivismo, são as funções superiores – percepção, solução de problemas, tomada de decisões, compreensão, processamento de informações. O cognitivismo é também uma teoria interacionista, ou seja, “supõe que os eventos e objetos do universo são interpenetrados pelo sujeito cognoscente. O ser humano tem a capacidade criativa de interpretar e representar o mundo, não somente de responder a ele” (MOREIRA, 1999, p. 15). Na prática pedagógica esta concepção resulta em “metodologias construtivistas” que implicam em deixar de ver o aluno como receptor de conhecimentos e passar a considerá-lo como agente da construção de sua própria estrutura cognitiva. Isto não significa que a simples “atividade manipulativa” do aluno resulte em aquisição de conhecimentos (ou aprendizagem por “descoberta”). É preciso considerar os processos dessa construção, que são sistemáticos e universais, e são o foco de estudo das Teorias Construtivistas. Dentre estas teorias, abordaremos, em nosso curso, por sua atualidade, as teorias de Piaget e Vygotsky. Jean Piaget (Suíça, 1896-1980) é o criador da Epistemologia Genética. Seu interesse principal foi pela questão do conhecimento. Seu foco não era a criança, ou a psicologia, ou a educação, mas a forma como se constrói um Fonte:LEVENDULAIMAGEMDIGITALLTDA-RiodeJaneiro-RJ
  • 24. 24 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância conhecimento novo. Por sua formação, que passou por muitos domínios do conhecimento (ciências biológicas, física) até chegar à lógica formal e à teoria da ciência, fez com que a Epistemologia Genética não seja uma ciência entre outras, mas uma matéria interdisciplinar que se ocupa de todas as ciências (CIVITA, 1978). Neste contexto, ele tentou a compreensão da evolução do sistema cognitivo numa perspectiva biológica, usando modelos biológicos e buscando estabelecer um nexo biológico para a questão do conhecimento. A TEORIA DA EQUILIBRAÇÃO é a espinha dorsal de todo o pensamento de Piaget. Isto significa que Equilibração é a idéia central de sua teoria, é a matriz de funcionamento que permite a compreensão do sistema cognitivo. Um dos principais eixos da teoria de Piaget é o CONSTRUTIVISMO, que tenta explicações para a questão da causalidade na formação e evolução das estruturas cognitivas. Para esta explicação da causalidade, Piaget desenvolve o conceito de Equilibração (que envolvem outros tais como assimilação, acomodação, reversibilidade etc.). Na perspectiva do Construtivismo, podemos dizer também que a visão de Piaget é Interacionista. Isto significa que ele parte do Inatismo, (ênfase no potencial genético do sujeito) e do Empirismo (ênfase na ação do meio) para explicar o desenvolvimento através da Interação, compreendendo o que cada um desses pólos traz para o desenvolvimento, e como se dá a interação entre os dois pólos. A Interação caracteriza, portanto, no processo de construção do conhecimento, um diálogo estrutura-meio-procedimentos. artindo desta idéia de diálogo, evoluir seria estabelecer situações de reciprocidade com o meio (relações dialéticas) através de um processo adaptativo de equilibrações sucessivas. Vale lembrar que neste processo de interação estão envolvidos aspectos intelectuais, afetivos, sociais e morais – donde se conclui que a teoria de Piaget é SÓCIO-INTERACIONISTA. Falemos um pouco sobre EQUILIBRAÇÃO, dada a sua importância para a compreensão da construção do pensamento e para o desenvolvimento cognitivo, na perspectiva de Piaget. A primeira idéia a destacar é que o equilíbrio aqui considerado é um equilíbriodinâmico,quenãobuscaainvariância,àvoltaaestadosanteriores de não perturbação, mas níveis ou estados mais avançados de equilíbrio. O equilíbrio não seria, portanto um produto almejado, mas um processo contínuo.
  • 25. 25PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância O equilíbrio se daria por um processo de ASSIMILAÇÃO do objeto pelo sujeito, que levaria à adaptação. Assimilar consiste em transformar o outro – pessoa, objeto, idéia – em patrimônio próprio, incorporar às próprias estruturas. Às vezes, a assimilação se dá pela incorporação do outro a estruturas de conhecimento já existentes no indivíduo. Outras vezes, o novo estímulo exige mudanças estruturais no indivíduo para ser incorporado – acontece, então, o mecanismo de ACOMODAÇÃO. Estes dois mecanismos de ADAPTAÇÃO, a assimilação e a acomodação, são complementares e não momentos isolados do ato de conhecer. A resposta do indivíduo ao novo, ao desafio ou desequilíbrio do ambiente – o outro a ser assimilado – está intrinsecamente ligado às estruturas do indivíduo, isto é, um estímulo só passa a ser um estímulo, só passa a ter existência para o indivíduo, quando o seu organismo tem informações específicas em sua estrutura genética para responder a ele. Assimilação, portanto, implica em o indivíduo estabelecer com o “outro” uma relação de reciprocidade de acordo com as capacidades disponíveis no período de desenvolvimento em que se encontra. Em sua teoria dos estágios de desenvolvimento (que estudaremos na próxima Unidade) Piaget descreve os processos específicos de atuação de cada etapa que possibilitam a assimilação. Concluindo esta breve apresentação da Teoria da Equilibração podemos denominar APRENDIZAGEM como ASSIMILAÇÃO e podemos dizer que maturidade intelectual significa uma estabilidade e complexidade cada vez maior dos Esquemas, quão maior seja o grau operativo do sujeito, determinado por sua evolução genética e por sua interação com o meio. A ABORDAGEM SÓCIO-HISTÓRICA também se fundamenta nos pressupostos do Construtivismo. Esta abordagem tem sua origem nos trabalhos do russo L. S. Vygotsky (1896-1934) e de seus principais colaboradores A. R. Luria e A. N. Leontiev. Enfatiza o papel dominante da experiência social no desenvolvimento das formas de comportamento tipicamente humanas, os chamados processos psicológicos superiores. A maturação, por si só, é um fator secundário no desenvolvimento, que se caracteriza por transformações complexas, qualitativas, de uma forma de comportamento em outro (construtivismo), transformações essas determinadas pelas condições sociais dentro e atravésdaqualaatividadehumanaocorre.Estascondiçõesnãoseresumem à situação concreta que circunda o indivíduo, mas são produto da interação
  • 26. 26 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância entre as características particulares do organismo e as oportunidades e experiências oferecidas pelo meio (VYGOTSKY, 1988). Vygotsky tem uma visão dialética da interação, em que o indivíduo não é um elemento passivo à ação do ambiente, mas interage, atua sobre ele, transformando-o e dando origem às condições únicas, de caráter essencialmente histórico e cultural (BROTHERHOOD, 1994). Outra formulação teórica de Vygotsky que também ressalta a importância do social para o desenvolvimento cognitivo é a idéia de que toda função psicológica aparece em dois níveis ao longo do desenvolvimento da criança: primeiro entre pessoas, como categoria interpsicológica, e depois dentro da criança, como categoria intrapsicológica. Se pensarmos este mecanismo em relação, por exemplo, à linguagem, à percepção, à atenção, podemos exemplificar dizendo que, inicialmente, para que a criança fixe sua atenção ou perceba um objeto ou o nomeie, ela precisa ser “ajudada” (intermediada) por um outro indivíduo mais desenvolvido, e só posteriormente ela será capaz de controlar internamente estes processos. Para o autor, as relações reais entre os indivíduos estão na base de todas as funções mentais superiores. Vygotsky destaca a importância do sistema de signos (linguagem) que está na base de toda interação do indivíduo com o ambiente, e possibilitam o desenvolvimento dos processos mentais superiores. Assim como Vygotsky, a Análise do Comportamento sempre se preocupou em avançar as teorias, com base em novos estudos. Posteriormente a Skinner, Sidman, em seus trabalhos recentes, elaborou o conceito de Paradigma de Equivalência de Estímulos, que explica o desenvolvimento da linguagem e do comportamento verbal com base em signos, que se tornam equivalentes aos objetos que eles representam, adquirindo, assim, o significado. Dentre as atividades simbólicas, a fala é uma das mais importantes, pois leva a criança a dominar a si mesma e às suas ações – é a função organizadora da linguagem, e, sobretudo, da fala que, quando internalizada, permite que a criança se comunique com seu ambiente social e domine os seus próprios processos superiores. Outro aspecto importante na interação social para o desenvolvimento cognitivo é a função da atividade da criança. Dentre as atividades infantis Vygotsky
  • 27. 27PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância (escola, jogos, trabalho), algumas assumem importância porque nelas processos psicológicos particulares tomam forma e são reorganizados. Por exemplo, dentro de atividades como brincar (jogos), estão contidos processos de instrução, regras de grupo, classificação, generalização, abstração etc. Nas atividades domésticas (e ainda no brinquedo) estão também contidos processos importantes como aquisição de papéis. OenfoqueSócio-Históricoressaltaarelaçãodesenvolvimento-aprendizagem (formal e informal), e mostra a importância das relações inter-individuais, por serem esses dois processos inter-relacionados – o desenvolvimento prepara e possibilita determinado processo de aprendizagem, enquanto a aprendizagem estimula o desenvolvimento, faz com que ele avance até certo grau. O autor ressalta, também, que é necessário distinguir dois níveis de desenvolvimento. O primeiro é o nível de desenvolvimento real, aquele já plenamente atingido pela criança, que se identifica pelo desempenho em tarefas que ela pode realizar sem a ajuda de outras pessoas e independente da imitação. É o limite de sua capacidade atual, o desenvolvimento psicointelectual já realizado. O segundo nível de desenvolvimento potencial traduz o que a criança é capaz de fazer com o auxílio de um adulto ou de outra criança mais desenvolvida, que a oriente através de exemplos e demonstrações. Se a orientação estiver de acordo com o nível de desenvolvimento da criança, que vai além de seu nível de atuação, ela será capaz de um desempenho superior àquele do nível efetivo. Vygotsky demonstra, através de experimentos, que duas crianças com o mesmo nível de desenvolvimento efetivo, podem ter níveis de desenvolvimento potenciais muito diferentes. Isto denota a importância de se determinar a distância entre os dois níveis, distância esta denominada por ele de ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL. A aprendizagem formal assume importância, pois, se conduzida adequadamente, possibilita a manifestação da zona de desenvolvimento proximal e a efetivação de novos comportamentos, mais complexos. Em face de seus pressupostos teóricos, Vygotsky, propõe uma TEORIA DA MEDIAÇÃO como teoria de ensino-aprendizagem, vez que o desenvolvimento das funções mentais superiores exige a internalização de instrumentos e signos em um ambiente de interação.
  • 28. 28 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância Concluindo esta breve apresentação da abordagem de Vygotsky, vale destacar que o ensino formal desempenha um importante papel no desenvolvimento cognitivo: promover o atingimento da zona de desenvolvimentoproximal,queseriaomeiomaisefetivodedesenvolvimento das funções mentais superiores. HUMANISMO Na perspectiva Humanista, o aprendiz é visto, primordialmente, como uma pessoa. O importante é sua auto-realização, seu crescimentopessoal.Aênfasenão é colocada apenas no intelecto, mas ele é visto como um todo que engloba pensamento, sentimento e ação. Neste enfoque, a aprendizagem não se limita a um aumento de conhecimentos, mas faz parte do todo do indivíduo, influi em suas escolhas e atitudes. Não têm sentido falar de comportamento ou de cognição sem considerar o domínio afetivo, os sentimentos do aprendiz. Ele é uma pessoa e as pessoas pensam, sentem e fazem coisas integradamente. (MOREIRA, 1997). O principal representante desta linha de pensamento foi Carl Rogers, e suas idéias, quando aplicadas ao ensino, deram origem ao chamado ENSINO CENTRADO NO ALUNO e às ESCOLAS ABERTAS. Na perspectiva de Rogers, a sociedade atual, pela sua dinamicidade e rapidez de mudança, exige que o indivíduo seja capaz de adaptar-se. O conhecimento evolui tão rapidamente que aquilo que a escola pode ensinar logo se torna obsoleto, e o aluno bem formado é aquele capaz de adaptar- se rapidamente às mudanças e que aprendeu que só o processo de busca do conhecimento dá uma base segura para o seu progresso. Portanto, a escola deve deixar de lado a rigidez e tradição dos currículos e conteúdos, e preocupar-se com o desenvolvimento da capacidade do aprendiz de “aprender a aprender”. O ensino deixa de lado as capacidades do líder (professor) sua erudição, Fonte:LEVENDULAIMAGEMDIGITALLTDA-RiodeJaneiro-RJ
  • 29. 29PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância o planejamento curricular e outras dimensões tradicionais, e dá enfoque à facilitação do desenvolvimento de capacidades atitudinais, possibilitada nas relações interpessoais significativas entre facilitador (professor) e aprendiz (aluno) (ROGERS, 1969, apud MOREIRA, 1999, P. 146). OsprincipaisPrincípiosdeAprendizagemindicadosparaumaAprendizagem Significante são: • O ser humano tem uma potencialidade natural para aprender. • O aluno deve perceber a matéria de ensino como relevante para seus objetivos. • O aluno tende a reagir a aprendizagens que possam significar mudanças na sua percepção de si mesmo, por serem ameaçadoras; as ameaças devem ser reduzidas ao mínimo para que a aprendizagem possa prosseguir. • Grande parte das aprendizagens significativas é adquirida através de atos. • A aprendizagem é facilitada quando o aluno participa do processo de aprender. • A aprendizagem auto-iniciada, que envolve o aprendiz como um todo – sentimento e intelecto – é mais duradoura e abrangente. • A avaliação feita por outros é de importância secundária nesta perspectiva, e a autocrítica e a auto-avaliação levam à independência, à criativa e a auto-avaliação levam à independência, à criatividade e à autoconfiança. • A aprendizagem socialmente mais útil é aquela que leva ao próprio processodeaprender,quepossibilitaaadaptaçãodoalunoàsmudanças do mundo moderno. Dada à dimensão da mudança que a adoção de uma abordagem rogeriana traria para a escola, e à ameaça que poderia representar para professores e também para os alunos em algumas situações, sua viabilidade não se confirmou, embora tenha havido nos Estados Unidos dos anos 70 e 80, algumas tentativas. Porém, como sugere Moreira (1999) fundamentado em idéias do próprio Rogers para adequar sua proposta à realidade, trata- se de considerar a extensão em que os princípios rogerianos podem ser usados em sala de aula sem causar ameaças e desconforto a professores e alunos, a fim de facilitar uma aprendizagem significante.
  • 30. 30 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância MODELO ECOLÓGICO DE BRONFENBRENNER Bronfenbrenner (1992) considera a aprendizagem como: “um conjunto de processos por meio dos quais as propriedades do indivíduo e do ambiente interagem e produzem continuidades e mudanças nas características da pessoa e no seu curso de vida” (p. 191). Sendo assim, a aprendizagem é uma constante reorganização das atividades da pessoa em seu ambiente, sendo estimulado ou inibido por meio das interações. Portanto, a aprendizagem é fruto da interação de diversos fatores biológicos e ambientais. Para se pensar em aprendizagem é necessário pensar as relações que a pessoamantémcomseuscontextosproximais(família,escola,comunidade) e contextos distais (valores, crenças e a cultura em geral), assim como a influência das relações bioquímicas no interior do organismo. Bronfenbrenner definiu cinco sistemas ecológicos. O microssistema refere- se àquele mais próximo do indivíduo, como, por exemplo, a família. O mesossistema seria a interação de dois microssistemas. O exossistema é o ambiente externo que influencia indiretamente o desenvolvimento, como por exemplo, o local de trabalho dos pais. O macrossistema seria o contexto sócio-cultural. O cronossistema pode ser explicado como a evolução dos sistemas ao longo do tempo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, apresentamos além de alguns conceitos básicos fundamentais para a compreensão da abordagem adotada em nosso curso para o processo de aprendizagem, alguns dos principais enfoques teóricos à aprendizagem e ao ensino prevalecentes no século XX. Apresentamos também abordagens pedagógicas representativas dos princípios de cada um desses enfoques. Esperamos que vocês analisem criticamente cada uma das abordagens, procurem exemplos práticos em suas vivências que possamaproximar-sedasabordagenspedagógicasapresentadas,tentando identificar os pressupostos implícitos nesses exemplos, e analisando de forma crítica a prática identificada, para que assim desenvolvam uma capacidade cientificamente fundamentada de escolher e definir a sua própria prática pedagógica. SAIBA MAIS SOBRE O ASSUNTO: Acesse o link: www.msmidia.com/ceprua/artigos/ eco4754.pdf
  • 31. 31PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância Sabemosdacomplexidadedostemasedaamplitudedasteoriasabordadas, das quais apresentamos apenas resumos, correndo o risco de simplificação e superficialidade, face à natureza do curso. Enfatizamos, portanto, a necessidade de consulta às fontes indicadas, de leituras complementares e a pesquisa, como forma de complementar os conhecimentos transmitidos. De uma maneira geral, as teorias de aprendizagem estão contidas em teorias mais amplas de desenvolvimento, como é o caso, por exemplo, da teoria de Piaget, que embora sendo uma teoria de desenvolvimento, tem muitas implicações para a aprendizagem (Cognitivismo), assim como as teorias de Bronfenbrenner (Modelo Ecológico). Outra questão ressaltada pelo autor é que a aprendizagem tem componentes cognitivos, afetivos e psicomotores, mas que em cada situação há o predomínio de um desses componentes; a aprendizagem cognitiva, foco da maioria das teorias, destaca o armazenamento organizado de informações e conhecimentos na memória do aprendiz; a aprendizagem afetiva trata de experiências como prazer e dor; satisfação e descontentamento, alegria ou ansiedade, e a aprendizagem psicomotora enfoca habilidades adquiridas por meio do treino e da prática. Em função dessas características da aprendizagem, diversos autores, de diferentes abordagens da psicologia, elaboraram explicações sobre esses processos. A Análise do Comportamento contribuiu com uma extensa teoria sobre os processos de aprendizagem, assim como Vygotsky.
  • 32. 32 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância LEITURA COMPLEMENTAR A seguir transcrevemos um “esquema conceitual” apresentado por Moreira (1999, p. 18) que resume as idéias expostas neste texto e permite uma visualização das tendências analisadas a partir de dimensões comuns. PALOV WATSON GUTHRIE ENFOQUES TEÓRICOS À APRENDIZAGEM E AO ENSINO COMPORTAMENTALISMO HUMANISMOCOGNITIVISMO Estímulo Resposta (compor- tamento) Condicio- namento Reforço Objetivo Comporta- mental Esquema Signo Modelo Mental Sub- sunçor Construto Pessoal Aprender a Aprender Liberdade para aprender Condicio- namento Condicio- namento HULL HEBB TOLMAN GESTALT GAGNÉ ROGERSTHORNDIKE SKINNER PIAGET BRUNER VYGO- TSKY JOHNSON- LAIRD AUSU- BEL KELLY NOVAK GOWIN alguns autores comportamentalistas Idéia-chave: construtivismo; o conhecimento é construído alguns autores cognitivistas o maior conhecido autor humanista Idéia-chave: o comportamento é controlado por suas conseqüências Idéia-chave: pensamentos, sentimentos e ações estão integrados ênfase em comportamentos observáveis ênfase na cognição ênfase na pessoa alguns conceitos básicos alguns conceitos básicos algumas idéias básicas Figura 1. Um esquema tentativo para os principais enfoques teóricos à aprendizagem e ao ensino e alguns de seus mais conhecidos representantes (M. A. Moreira, 1999). ATIVIDADE DE AUTO-ESTUDO Abordagens do Processo ensino-aprendizagem 1. Leia atentamente uma a uma as abordagens apresentadas, e em seguida, realize uma pesquisa na Internet, utilizando como indicador de busca o nome do(s) principal (is) representante(s) da abordagem indicado(s) no texto para obter maiores subsídios sobre o tema. 2. Realize uma síntese de cada abordagem e elabore um exemplo da sua vivência pedagógica (como aluno, como professor ou como mediador), em que você possa identificar e explicitar pressupostos da abordagem analisada, buscando compreender a prática descrita e avaliar sua eficácia, e os erros e acertos cometidos pelo professor no desenvolvimento da prática em foco. SAIBA MAIS SOBRE O ASSUNTO: Acesse os links: -http://criticanarede.com/freud.html http://www.centrorefeducacional. com.br/carl.html
  • 33. UNIDADE III DESENVOLVIMENTO NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA Professora Drª. Rachel Brotherhood Professor Dr. Alex Eduardo Gallo Objetivos de Aprendizagem • Dominar os principais conceitos das teorias de desenvolvimento de Freud, Piaget. • Analisar o desenvolvimento biopsicosocial na adolescência. • Pensar a prática pedagógica considerando as implicações das teorias estudadas para a aprendizagem e o desenvolvimento. Plano de Estudo A seguir apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Teoria de Desenvolvimento de Freud e Piaget. • Desenvolvimento Biopsicosocial na adolescência. • Prática pedagógica relacionadas à aprendizagem e desenvolvimento.
  • 34.
  • 35. 35PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA CRIANÇA DE ACORDO COM JEAN PIAGET Jean Piaget criou, a partir da observação e da experimentação, uma teoria do DESENVOLVIMENTO DA INTELIGÊNCIA, propondo um modelo das estruturas mentais e da sua formação. Na perspectiva do autor, deve-se considerar estrutura como uma unidade abstrata, suscetível de crescimento autônomo, dotada de reações específicas às solicitações do meio. O indivíduo nasce com algumas estruturas (reflexos) que progressivamente, em decorrência da ação do meio e da ação da criança sobre o meio, se desenvolvem, tornando-se cada vez mais complexas e dando origem a novas estruturas, que por sua vez, irão se desenvolver pelo mesmo processo originando outras. O processo de “crescimento” das estruturas se efetiva através de equilibrações sucessivas, considerando-se equilibração como descrito na unidade I, em que o indivíduo, ao se deparar com um objeto ou situação nova, assimila esse objeto em alguma estrutura pré-existente ou promove ajustes no objeto ou em suas estruturas mentais para assimilá-lo, em um processo de acomodação, voltando ao equilíbrio. Tal processo de equilibração visa à adaptação cada vez maior do indivíduo às perturbações do meio. Do processo de adaptação ocorrido em cada momento do desenvolvimento resultam esquemas de assimilação. Pode-se definir esquema como aquilo que é generalizável em uma determinada ação. Por exemplo, o esquema de sugar, que a criança traz ao nascer, corresponde a saber sugar, independentemente do que é sugado. Ao desenvolver o esquema de olhar e pegar, a criança tentará pegar tudo o que olha e olhar tudo o que pega. Os novos esquemas resultam sempre dos anteriores e de coordenações deles. Assim, “saber puxar” depende do “saber pegar” e do “saber olhar”, da mesma forma que os primeiros esquemas como o de sugar, olhar etc. depende de estruturas motoras hereditárias. O esquema funciona como um conceito prático, ou seja, em presença de um objeto novo a criança tenta assimilá-lo aplicando-lhe todos os esquemas de que dispõe. ParaPiagetainteligênciasedesenvolveporetapas,apartirdavidaorgânica (reflexos, coordenações sensoriais e motoras) até chegar ao conhecimento lógico-matemático. Em cada uma das etapas do desenvolvimento existem Jean Piaget
  • 36. 36 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância condutas novas, novas formas de ação sobre os objetos que se agrupam em sistemas, sempre em estado de elaboração. Assim, Piaget define desenvolvimento como “uma organização progressiva, cujas raízes se encontram na vida orgânica e cuja evolução se dá por um processo de adaptação cada vez mais preciso à realidade. A vida mental, como aliás a própria vida orgânica, tende a assimilar, progressivamente, o meio ambiente e realiza esta incorporação graças às estruturas cujo raio de ação é cada vez maior” (PIAGET, 1936, apud CHIAROTTINO, 1972). As etapas do desenvolvimento mental são descritas pelo autor em estágios, que se caracterizam pela aparição de estruturas originais cuja construção o distingue dos estágios anteriores. Vejamos essas etapas. a) Período Sensório-Motor Período que vai do nascimento até um ano e meio, dois anos, no curso do qual se constituem os sistemas ou esquemas que dão origem às futuras operações. Inicialmente, a criança assimila os dados do meio exterior aos esquemas reflexos hereditários (sucção, preensão, choro e atividade corporalindiscriminada).Nestafase,acriançaétotalmenteegocêntrica,seu próprio corpo é a única referência comum e constante. Progressivamente, através do funcionamento, os reflexos tendem a se consolidar, se coordenar e se organizar, dando origem a hábitos. É um período de transição entre o orgânico e o intelectual, no qual não se pode ainda falar em inteligência, devido à falta de intencionalidade e de diferenciação entre meios e fins. A criança não possui ainda imagens mentais dos objetos, portanto, não há a “permanência” do objeto na mente. O reconhecimento refere-se mais à própria ação do que aos objetos. É uma fase de imitação. Os progressos do período sensório-motor resultam na passagem da ação à representação, ou seja, a inteligência sensório-motora refere-se à adaptação do indivíduo ao mundo dos objetos, não envolve socialização no sentido de obediência às regras comuns nem conceitualização, mas apenas realizações práticas. Este é o período da construção intelectual do objeto, da elaboração de um universo exterior – os objetos passam, ao final do período, a serem concebidos com exteriores ao eu e independentes dele. As ações da criança começam a ser descentralizadas em relação ao próprio corpo que passa a ser considerado como um objeto entre os demais.
  • 37. 37PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância b) Período Pré-Operacional Período do pensamento intuitivo, que vai de dois a sete anos, em que as ações sensoriais-motoras começam a implicar representação. A aquisição da linguagem, o brinquedo simbólico e a imitação diferenciada (aquela que se produz na ausência do modelo correspondente) surgem ao mesmo tempo, e implicam a existência de uma função simbólica. O autor define função simbólica como capacidade de distinguir os significantes (símbolos individuaisecoletivos)dossignificados(objetosoufatos),edeevocar,graças a estes significantes, os significados não percebidos na ocasião. Portanto, para Piaget, a função simbólica é mais ampla do que a linguagem, ou seja, a linguagem é uma forma particular de função simbólica, o que indica que o pensamento precede a linguagem e esta se limita a transformá-lo, ajudando a alcançar formas de abstração mais móvel do pensamento. Outro progresso decorrente da função simbólica, neste período, é a interiorização dos esquemas de ação, o que quer dizer representação desses esquemas. Esta interiorização é a condição para que as crianças de dois a sete anos possam emitir certos comportamentos como o jogo simbólico, a imitação, as previsões etc. Porém, o pensamento da criança no período pré-operacional é pré- lógico, dominado pelo mecanismo da intuição, segundo o qual, diante de um problema prático, em um brinquedo ou em um jogo, suas respostas se baseiam em configurações perceptivas ou em atuações de ensaio e erro (baseadas nas aparências do fenômeno ou do problema). A criança continua egocêntrica, vendo a realidade, principalmente, como a afeta. É a fase (quatro, cinco anos) em que a criança avalia a quantidade só pelo espaço ocupado, sem nenhuma análise de relações, classifica e seria também empiricamente. Os exemplos clássicos desta forma de ação são os experimentos em que ao verter o líquido de um copo mais alto em outro de maior diâmetro a criança acha que muda a quantidade de líquido, e o exemplo no qual ao se apresentar à criança um conjunto de peças de madeira ordenadas e, em seguida, afastar mais as peças, ela acredita que no segundo momento o conjunto é maior, ou ainda ao transformar uma bolinha de massa em uma salsicha, mudando a forma, a criança diz que há mais massa na segunda, porque é maior. No final do período já há articulações de dimensões diversas, antecipações dos próximos passos de uma ação e reconstituições de estados anteriores que indicam que a criança evolui em direção à reversibilidade e da noção de
  • 38. 38 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância conservação. Neste período, não há ainda um comportamento operatório ou lógico, mas há uma preparação para o mesmo. c) Período das Operações Concretas Períodoquevaidosseteaosdozeanos,noqualsealcançaumadeterminada reversibilidade e que comporta um aspecto lógico: uma operação reversível é uma operação que admite a possibilidade de uma inversa. Para Piaget uma operação é uma ação interiorizada, reversível e coordenada em uma estrutura total. Uma ação executada em pensamento sobre objetos simbólicos que admite a possibilidade de uma inversa. No período operacional concreto esta ação se efetiva sempre a partir da realidade concreta, de uma ação concreta, e evolui para um estágio de ações proposicionais, abstratas. Haverá operação quando houver noção de conservação de um todo, independentemente do arranjo de suas partes, o que não havia no período anterior. A noção de conservação apresenta três resultados possíveis, que demonstram a evolução mental da criança: nenhuma conservação, conservação suposta sem certeza e conservação afirmada como evidente. Piaget constatou, através de experimentos, que a conservação da substância aparece por volta de sete-oito anos; a conservação de peso por volta dos nove-dez, e a de volume por volta dos onze-doze anos. Ressalte-se que a lógica conquistada, neste período, está vinculada a processos temporais inerentes à manipulação (concreto) sendo, portanto, ainda uma lógica elementar. d) Período das Operações Formais ou Proposicionais Ocorre a partir dos doze anos e se caracteriza pelo atingimento de uma reversibilidadecompleta.Acriançasetornacapazdelevantarhipóteses,isto é, começa a admitir como verdadeiras, proposições possíveis, mas ainda não realizadas, tirando conseqüências destas hipóteses, o que caracteriza o pensamento hipotético-dedutivo ou formal. Dada uma situação problema o sujeito opera em função de um número qualquer de combinações, ou de todas as combinações possíveis, de uma forma exaustiva e sistemática. Evidencia-se pelo uso da implicação (se... então), da disjunção (ou... ou... ou os dois) ou da incompatibilidade (ou... ou... ou nem um nem o outro).
  • 39. 39PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância Para Piaget, naturalmente, a criança de 12 a 15 anos não descobre as leis, não procura, ainda, a fórmula das combinações. Porém, o novo comportamento implica em independência dos mecanismos formais e de seus conteúdos. As classificações e relações, neste período, são livres de seus aspectos concretos ou intuitivos, o que implica, por sua vez, a liberação do pensamento em relação aos objetos. Piaget propõe um modelo, o grupo INRC (Identidade, Inversão, Reciprocidade e Correlatividade) que reduz as estruturas ao nível das correlações proposicionais e representa uma síntese dos agrupamentos, e cujo estudo, que extrapola a dimensão deste nosso texto, pode ser feito na bibliografia indicada na unidade. Este modelo justifica a existência de uma construção das estruturas mentais desde o período sensório motor até o aparecimento do pensamento lógico verbal. CONSIDERAÇÕES FINAIS Gostaríamos de concluir esta breve explanação da teoria de Piaget sobre o desenvolvimento mental na infância e adolescência através de estágios, citando o próprio autor (1971, p. 15 et segs) em relação a alguns conceitos gerais acerca do desenvolvimento mental. Inicialmente, em relação às necessidades e interesses. De acordo com este enfoque, as necessidades e interesses têm características comuns em todas as idades: 1º Toda necessidade busca incorporar as coisas e pessoas à atividade própria do sujeito, ou seja, assimilar o mundo exterior às estruturas já construídas. 2º Toda atividade tende a reajustar as estruturas em função das transformações ocorridas, ou seja, acomodá-las aos objetos externos. Ao equilíbrio destes processos de assimilação e acomodação denomina-se adaptação. Acerca da percepção e movimentos elementares (preensão etc.) referem- se, primeiramente, aos objetos próximos já que a memória e a inteligência prática permitem, ao mesmo tempo, reconstruir o estado imediatamente e antecipar as transformações próximas. O pensamento intuitivo reforça estas duas capacidades. Esta evolução culmina com a inteligência lógica,
  • 40. 40 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância sob a forma de operações concretas, e finalmente de deduções abstratas, tornando o sujeito senhor de acontecimentos mais longínquos no espaço e no tempo. Uma das principais implicações dos princípios apresentados é que o desenvolvimento mental é uma organização progressiva, resultante da ação do indivíduo sobre o meio, ação concreta inicialmente e formal ao final do processo de desenvolvimento. O indivíduo transforma o ambiente à medida que sua ação promove transformações nele próprio. Para Piaget só há aprendizagem quando há acomodação, ou seja, uma reestruturação da estrutura cognitiva (esquema de assimilação existente) do indivíduo, que resulta em novos esquemas de assimilação. A mente, sendo uma estrutura (cognitiva), tende a funcionar em equilíbrio, aumentando permanentemente seu grau de organização interna e de adaptação ao meio. Quando o equilíbrio da mente é rompido por experiências não assimiláveis (que não se enquadram nas estruturas existentes) a mente se reestrutura (acomodação) a fim de construir novos esquemas de assimilação e atingir novoequilíbrio.Piagetdefineesteprocessodereequilibraçãodeequilibração majorante, e destaca que ele é um fator preponderante no desenvolvimento mental e na aprendizagem do indivíduo. Logo, a equilibração é a grande força impulsionadora do desenvolvimento intelectual. Esta afirmação tem grandes implicações para a educação de modo geral e para o ensino formal; no enfoque piagetiano ensinar significa provocar desequilíbrios no organismo (mente) do aluno para que ele, procurando o reequilíbrio (equilibração majorante), se reestruture cognitivamente e aprenda. A capacidade de se reestruturar mentalmente é o mecanismo de aprender do indivíduo – sua capacidade de reestruturar-se mentalmente buscando um novo equilíbrio (novos esquemas de assimilação para adaptar-se à nova situação). O ensino deve, portanto, ativar este mecanismo (MOREIRA, 1999). É importante destacar a necessidade de adaptar esta ativação ao nível de desenvolvimento do aluno, respeitando o período de desenvolvimento mental em que ele está. É comum acontecer que a escola proponha para crianças, situações que envolvem conservação e reversibilidade quando elas não dominam ainda essas noções, ou mesmo no ensino secundário e na universidade, se desenvolver um ensino puramente formal, quando muitos jovens não atingiram este nível e ainda estão em uma fase de raciocínio operacional concreto.
  • 41. 41PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância Piaget (apud MOREIRA, 1999) argumenta que as supostas aptidões dos “bons alunos” em matemática ou física, por exemplo, na verdade, decorrem de sua capacidade de adaptação ao tipo de ensino que lhe é fornecido, e que os insucessos dos “maus alunos” decorrem de sua não compreensão das lições que lhe são oferecidas. Adequar o ensino ao nível de desenvolvimento do aluno é a forma da escola evitar o insucesso e promover seu avanço através de níveis progressivos de equilibração (equilibração majorante). Concluindo este tópico gostaríamos de chamar a atenção para o fato de que Piaget não construiu uma teoria da aprendizagem, mas uma teoria do desenvolvimento mental, e que esta teoria, tanto em termos conceituais como em relação aos estágios do desenvolvimento, é muito mais rica do que demonstramos neste espaço. Sugerimos, portanto, uma leitura da bibliografia indicada para uma complementação e aprofundamento do tema. Sintetizando, desenvolvimento humano pode ser definido como um processo de mudanças e padrões que acontece ao longo da vida do indivíduo. Didaticamente, esse processo de mudanças pode ser dividido em infância, adolescência, idade adulta e velhice, pois em cada um desses estágios ocorrem padrões de mudanças físicas, psicológicas e sociais. ATIVIDADE DE AUTO-ESTUDO TEORIA DO DESENVOLVIMENTO MENTAL DE PIAGET 1. Identifique, no texto, os conceitos de ASSIMILAÇÃO, ACOMODAÇÃO, ADAPTAÇÃO E EQUILIBRAÇÃO, e reescreva estes conceitos com suas palavras. 2. Descreva EQUILIBRAÇÃO MAJORANTE, e encontre exemplos práticos deste construto em sua vivência escolar. 3. Faça uma síntese esquemática dos estágios do desenvolvimento cognitivo na perspectiva de Piaget, identificando a característica central de cada estágio, as idades em que ocorrem e as habilidades que evidenciam estes estágios. 4. Escrevaumpequenotexto(deaté10linhas)evidenciandoasimplicações da teoria para o ensino e a aprendizagem. SAIBA MAIS SOBRE O ASSUNTO Acesse os links: -http://www.ufrgs.br/faced/slomp/ edu01136/piaget-d.htm http://www.dei.unicap.br/~almir/ seminarios/2001.2/5mno/infoed/ dami_teorias.htm Acessados em 12/08/09.
  • 42.
  • 43. UNIDADE IV O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE Professora Drª. Rachel Brotherhood Professor Dr. Alex Eduardo Gallo Objetivos de Aprendizagem • Estudar a constituição e desenvolvimento da personalidade. • Abordar a Teoria da psicanálise desenvolvida por Sigmund Freud. • Tratar das características básicas das Fases do desenvolvimento. Plano de Estudo A seguir apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Desenvolvimento da personalidade. • A Teoria Psicanalítica de Sigmund Freud. • Fases do Desenvolvimento.
  • 44.
  • 45. 45PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância INTRODUÇÃO O ser humano é uma estrutura indivisível, em que elementos cognitivos, afetivos e motivacionais interagem, determinando seus ajustamentos ao mundo que o cerca. A Teoria de Piaget, estudada no item anterior, colocasuaênfasenadimensãointelectual,cognitiva do indivíduo, aspecto muito importante quando pensamos em educação formal, escolaridade e aprendizagem. Porém também fundamental é a compreensão da estrutura da personalidade do indivíduo, já que esta é uma dimensão essencial e intimamente relacionada às motivações e aos aspectos da aquisição do conhecimento. Neste item, vamos abordar alguns aspectos da constituição e desenvolvimento da personalidade, como forma de promover nos futuros pedagogos um entendimento do aluno em sua totalidade. Sabe-se que a personalidade surge da interação entre o homem e o mundo, pessoa e grupo, sujeito e objeto, eu e não eu (TELES, 2001). A hereditariedade fornece ao indivíduo um potencial para a realização de uma individualização, algumas capacidades básicas para o atendimento das múltiplas necessidades fisiológicas do recém nato, e algumas carências psicológicas. É inerente também ao indivíduo uma tendência à realização do potencial contido em seus genes, uma disposição para realizar suas potencialidades, um movimento para o crescimento. Em seu contato com o mundo, o indivíduo pouco a pouco vai aprendendo a satisfazer estas necessidades e vai desenvolvendo maneiras próprias de ajustamento ao meio e de domínio do meio, constituindo, assim, a sua personalidade. Um forte determinante da personalidade, além da hereditariedade e da tendência para a realização de seu potencial, é o ambiente físico e social, constituído pelas instituições societárias e culturais à qual ele pertence (família, comunidade, escola etc.). Ele ocupa uma posição, desempenha um papel em todas essas estruturas, é uma pessoa social. Portanto, há determinantes situacionais na personalidade. Esses grupos fornecem os valores, os padrões do “deve” e do “precisa” que influenciam a estrutura de sua personalidade e a sua ação no mundo. Além dos determinantes biológicos e sociais, cada indivíduo vive situações específicas, coisas que acontecem apenas a ele, acontecimentos Fonte:LEVENDULAIMAGEMDIGITALLTDA-RiodeJaneiro-RJ
  • 46. 46 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância particulares que também influenciam o desenvolvimento da personalidade (como a perda de entes significativos, o fato de ter nascido em uma família específica, o fato de ter migrado, por exemplo). Algumas das principais características da personalidade, resultantes dessas diferentes influências, são sua consistência e estabilidade (que nos permitem reconhecer o indivíduo) e sua plasticidade e dinamismo (potencialidade de mudança no decorrer de toda a vida). Destacamos que a infância é um período primordial na constituição da personalidade, pois, neste período, os alicerces da personalidade são formados e muitas configurações e valores são fixados. Assim, a importância do contexto familiar é primordial. No entanto, hoje, quando a educação infantil atende crianças bem pequenas, a ação da escola não é menos significativa. Por outro lado, na adolescência e no início da idade adulta ocorrem grandes mudanças na personalidade, porque, por suas capacidades intelectuais e por sua evolução afetiva, o jovem revê os seus valores e resignifica os seus comportamentos, porém, sempre a partir das experiências da infância e da estrutura do caráter ali construída. Embora a infância e a adolescência sejam consideradas períodos capitais na constituição da personalidade, como vêm acima, uma de suas características é a plasticidade, portanto, ela não deixa de se desenvolver durante toda a vida. Pode-se dizer que o desenvolvimento da personalidade é um processo influenciado por muitos fatores, que tem início ao nascimento e prossegue por toda a vida. Este processo busca a habilidade de se adaptar ao meio através da capacidade de inibir ou moderar a manifestação de necessidades inaceitáveis socialmente, de usar modelos de ação aprovados (maneiras, atitudes) enfim, de se adaptar às condições sociais convencionais. Existem muitos estudos que buscam compreender o sentido e a estrutura da personalidade. Estes estudos são esforços para compreender e tratar pessoas perturbadas em ambientes clínicos, ou tentativas de ajudar o indivíduo a vencer os problemas e conseguir ajustamentos satisfatórios à vida. Há também estudos com pessoas normais (geralmente estudantes universitários) e estudos com animais não humanos em laboratórios, que geram hipóteses sobre aspectos limitados ou amplos do desenvolvimento da personalidade.
  • 47. 47PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância Uma das principais linhas de estudo da personalidade, a das TEORIAS PSICODINÂMICAS, tem origem nos estudos de Sigmund Freud (1856-19390).DentreosprincipaisproponentesdasTeoriasPsicodinâmicas podem-se citar Carl Jung, Alfred Adler, Karen Horney, Harry Stack Sullivan e Erik Erikson. No contexto de nosso curso, pela impossibilidade de abordar outras teorias, optamos por enfocar os princípios básicos da Teoria Psicanalítica de Freud, por acreditarmos que eles são fundamentais na compreensão dos demais enfoques. A TEORIA PSICANALÍTICA DE SIGMUND FREUD Através de seu trabalho clínico com pacientes neuróticos, Freud fez observações cuidadosas que lhe permitiram formular a teoria que chamou de PSICANÁLISE. Freud acreditava que as pessoas estão conscientes de apenas um pequeno número de pensamentos, memórias, sentimentos e desejos. Outros são pré-conscientes, enterrados logo abaixo da percepção, de onde são fáceis de recuperar. A grande maioria é inconsciente. Para ele, este vasto material inconsciente entra na consciência de forma disfarçada: aparecem em sonhos, lapsos de linguagem, enganos, acidentes e livres associações. Para compreender o inconsciente é preciso analisar o comportamento do indivíduo, suas memórias, sonhos, erros e associações durante um longo período. Sua teoria enfoca, principalmente, esses aspectos inconscientes da personalidade. Para ele, os impulsos (inatos), e as lembranças das experiências do início da infância e dolorosos conflitos psicológicos, tendem a ser inconscientes. Os impulsos sexuais desempenham um papel importante nas formulações de Freud. Ele usava o termo “sexual” para todas as ações e pensamentos prazerosos. Entre os impulsos incluía a agressão. Os impulsos sexuais segundo Freud, geram uma quantidade de energia psíquica denominada libido que mobiliza comportamentos e habilidades mentais. É uma energia paralela, mas diferente da energia física. Se os impulsos sexuais não forem satisfeitos, a energia psíquica se acumula sob a forma de pressão, como a água em um cano sem uma válvula aberta. Os conflitos podem aumentar a tensão. Para o indivíduo funcionar, normalmente, a pressão precisa ser reduzida, a válvula precisa ser aberta, ou a “tubulação” arrebentará e o indivíduo apresentará comportamento anormal. Sigmund Freud
  • 48. 48 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância O conceito de personalidade de Freud é dinâmico, os motivos das nossas atitudes e da nossa conduta devem ser buscados em forças emotivas, instintivas. O instinto é a fonte de energia vital. Essas forças, quando controladas e utilizadas adequadamente, podem fortalecer e enriquecer capacidades como pensar, amar, compreender, pois promovem o desenvolvimento das potencialidades sensoriais, emocionais e mentais. Em termos de estrutura, a personalidade é composta por três grandes sistemas, o Id, o Ego e o Superego. Esta estrutura decorre de um modelo topográfico da mente, formulado, inicialmente, pelo autor, em que esta é dividida em três áreas ou regiões específicas, o inconsciente (Id), o pré- consciente (Ego) e o consciente (Superego). O Id é o reservatório das pulsões (impulsos básicos) desordenadas, o Ego é o órgão executivo, responsável pelo controle da percepção e contato com a realidade, bem como pelo adiamento e modulação na expressão dos impulsos. O Superego é responsável por estabelecer e manter a consciência moral da pessoa a partir dos ideais e valores internalizados através das relações interpessoais (GUANAES; JAPUR, 2003). De acordo com Freud, o Ego emerge nas crianças em desenvolvimento à medida que elas aprendem que há uma realidade à parte de suas próprias necessidades e desejos. O Ego é uma parte do Id que foi modificada por sua proximidade com o mundo externo. Sua tarefa é localizar objetos reais para satisfazer as necessidades do Id. Diferentemente do Id, o Ego é controlado, realístico e lógico; ele atua no princípio da realidade, adia a gratificação dos desejos do Id até que seja encontrada uma situação ou objeto apropriado. Por exemplo, se você está com fome, o Ego pode formular a idéia de ir a uma churrascaria. Raramente ele permite que você confunda fantasia com realidade. O Ego é como um executivo crítico, organizado, solucionador de problemas. É a sede de todo processo intelectual. O Superego emerge do Ego e resulta da internalização que a criança faz dos valores, costumes e restrições de seus pais. Embora resulte do Ego, funciona totalmente independente dele. É essencialmente uma consciência, lutaporperfeição,idealismo,auto-sacrifícioeheroísmo.RecompensaoEgo por comportamentos aceitáveis e o pune com sentimentos de culpa quando as ações ou pensamentos se colocam contra seus princípios morais. Freud acreditava que o Id todo e partes do Ego e do Superego são inconscientes.
  • 49. 49PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância Freud ressalta a importância da dinâmica dos processos inconscientes, pré-conscientes e conscientes, e defende a existência de um mundo interno organizado em termos de conflitos entre instâncias: a sexualidade e a agressividade, impulsos contidos no Id, demandam por expressão e descarga, que, no entanto, estão submetidas às determinações morais do Superego, decorrentes do ambiente social. Este conflito gera ansiedade e leva o Ego a desenvolver mecanismos defensivos que evitem o perigo da invasão de impulsos e conteúdos inconscientes. O modo como o aparelho psíquico organizará a experiência pessoal, lidando com as necessidades pulsionais, fundamenta a compreensão da personalidade e da formação dos traços de caráter. Para Freud em cada estágio de desenvolvimento existe uma forma própria de lidar com as necessidades deste estágio. Ele divide o desenvolvimento a partir de um esquema de zonas erógenas. As crianças passam por uma seqüência de zonas erógenas, quando a libido (energia sexual) se concentra em diferentes regiões do corpo, à medida que prossegue o desenvolvimento psicológico, caracterizando as fases do desenvolvimento, como veremos a seguir. FaseOral–noprimeiroanodevida,osbebêsderivamprazer,principalmente, de suas bocas, comendo, sugando, mordendo. A libido centra-se em prazeres orais. O desmame é o principal conflito da fase oral, por causa do excesso de gratificação ou privação extrema. Se, parte da libido permanece instalada neste nível de desenvolvimento, os adultos podem exibir traços orais, como dependência, passividade e gula, e preocupações orais, como comer, mastigar goma, falar excessivamente e fumar. Fase Anal – Freud acreditava que durante o segundo ano de vida, o prazer é obtido, principalmente, na região anal, inicialmente por expelir as fezes e posteriormente por retê-las. As crianças são solicitadas a controlar os impulsos naturais, face às restrições da sociedade. O treinamento de toalete é o conflito central da fase anal. Se o treinamento da toalete for severo ou excessivamente indulgente, uma parte significativa da libido pode fixar-se neste estágio. Na fase adulta, este indivíduo pode apresentar frustrações generalizadas, desafios, obstinação e mesquinhez. Fonte:LEVENDULAIMAGEMDIGITALLTDA-RiodeJaneiro-RJ
  • 50. 50 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância Fase Fálica – entre três e cinco anos a criança descobre os órgãos genitais e descobre que eles proporcionam prazer, o que, muitas vezes, leva à masturbação. A criança ama excessivamente o pai ou a mãe, sempre do sexo oposto, e rivaliza com um dos pais, do seu sexo. Neste processo, visando agradar o pai do sexo oposto, identifica-se com o comportamento do pai do mesmo sexo. O filho ama a mãe e tece fantasias sexuais com ela, odeia o pai e deseja que ele morra para substituí-lo. Mas, ele teme o pai, que é forte e pode retaliar. Então, reprime seu amor pela mãe e se identifica com o pai, esforçando-se para ser como ele (Complexo de Édipo). Esta identificação com o pai tem conseqüências de longo alcance e permite que o menino adote as características típicas do sexo masculino e o Superego do pai. Já no caso da menina, o conflito é conhecido como Complexo de Electra (nomes provenientes de personagens lendárias gregas). A filha ama a mãe, que tem satisfeito suas necessidades básicas, porém descobre, nesta fase, que possui uma cavidade no lugar do pênis, e supõe que tenha sido castrada. Culpa a mãe por este infortúnio e transfere, temporariamente, seu amor para o pai. Para Freud, o amor pelo pai e a rivalidade com a mãe se dissipam lentamente e a menina pode então assumir as características femininas e o Superego da mãe. Fase de Latência – Freud acreditava que ao final da fase Fálica, aos cinco anos, a personalidade está formada, e nos sete anos seguintes, aproximadamente, as necessidades sexuais permanecem adormecidas. Não ocorrem mudanças importantes ou conflitos nesta fase de Latência. Fase Genital – com a chegada da puberdade, os interesses sexuais são novamente despertados (adolescência e idade adulta, até a senilidade). As pessoas, até então voltadas para si próprias e seus corpos, se orientam para as outras, e necessitam formar relacionamentos sexuais satisfatórios. Freud acreditava que um laço heterossexual maduro é a marca registrada da maturidade. Este desafio não poderá ser enfrentado adequadamente se a energia da libido estiver fixada em alguma fase anterior. Deve-sedestacarqueaTeoriadeFreudteveamplaaceitaçãonasociedade, que incorporou expressões como frustração, impulsos inconscientes, complexo de Édipo, e que teve também influência significativa em todo o desenvolvimento da Psicologia. Hoje, a maioria dos cientistas da área concorda que as experiências iniciais são importantes para o desenvolvimento da personalidade e que as pessoas são, freqüentemente, influenciadas por motivos e sentimentos dos quais não estão conscientes. Porém, muitas formulações do autor são debatidas, sobretudo pela
  • 51. 51PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância impossibilidade de se avaliar alguns conceitos, como, por exemplo, o Id. Ao mesmo tempo, muitos discípulos de Freud têm feito revisões e modificações na teoria psicanalítica básica. Não se pode, porém, negar a importância de seu insight para a compreensão do desenvolvimento e da personalidade, e ele é considerado ainda hoje como um “gigante intelectual na história do pensamento moderno” (DAVIDOFF, 1983, p. 520). CONSIDERAÇÕES FINAIS A infância é um período primordial na constituição da personalidade, pois, neste período, os alicerces da personalidade são formados e muitas configurações e valores são fixados. Por outro lado, na adolescência e no início da idade adulta ocorrem grandes mudanças na personalidade, porque, por suas capacidades intelectuais e por sua evolução afetiva, o jovem revê os seus valores e resignifica os seus comportamentos, porém, sempre a partir das experiências da infância e da estrutura do caráter ali construída. Embora a infância e a adolescência sejam consideradas períodos capitais na constituição da personalidade, como vimos acima, uma de suas características é a plasticidade, portanto, ela não deixa de se desenvolver durante toda a vida. Uma das principais linhas de estudo da personalidade, a das TEORIAS PSICODINÂMICAS, tem origem nos estudos de Sigmund Freud. De acordo as teorias psicanalíticas, os impulsos sexuais desempenham um papel importante. O termo “sexual” é usado para todas as ações e pensamentos prazerosos. Entre os impulsos incluía a agressão. Os impulsos sexuais, segundo Freud, geram uma quantidade de energia psíquica denominada libido que mobiliza comportamentos e habilidades mentais. Em termos de estrutura, a personalidade é composta por três grandes sistemas, o Id, o Ego e o Superego. Esta estrutura decorre de um modelo topográfico da mente, formulado inicialmente pelo autor, em que esta é dividida em três áreas ou regiões específicas, o inconsciente (Id), o pré- consciente (Ego) e o consciente (Superego). A partir dessas estruturas, Freud definiu estágios, nos quais a libido estaria concentrada. O primeiro estágio seria a fase oral, em que a libido
  • 52. 52 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância é concentrada nessa área. O segundo estágio é a fase anal, em que a criança passa a ter controle de esfíncter e, posteriormente, a fase fálica, em que a criança descobre os órgãos genitais e, nessa fase, se desenvolve o complexo de Édipo. Essa fase é seguida pela fase de latência, em que a libido aparece “adormecida” não ocorrendo grandes mudanças na personalidade da criança e depois a fase genital, em que a criança adquire um senso de conduta típico da adolescência. ATIVIDADE DE AUTO-ESTUDO TEORIA PSICANALÍTICA 1. ExpliqueaestruturadapersonalidadedeacordocomFreud,descrevendo Id, Ego e Superego. 2. Indique os conflitos que podem existir entre as três dimensões da personalidade. 3. Relacione os fatores determinantes do desenvolvimento da personalidade nessa perspectiva teórica. 4. Descreva a libido e o processo de evolução da personalidade a partir de sua concentração em zonas determinadas do corpo através da infância e adolescência. 5. Faça uma crítica pessoal à teoria de Freud como aqui apresentada. SAIBA MAIS SOBRE O ASSUNTO: Acesse os links: http://www.geocities.com/~mhrowell/ freudpsicoteoria.html http://www.cobra.pages.nom.br/ecp- adler.html
  • 53. UNIDADE V TEORIAS RECENTES DA APRENDIZAGEM Professora Drª. Rachel Brotherhood Professor Dr. Alex Eduardo Gallo Objetivos de Aprendizagem • Abordar as teorias recentes da aprendizagem. • Discutir a prática pedagógica. Plano de Estudo A seguir apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • O paradigma de equivalência de estímulos. • A prática pedagógica.
  • 54.
  • 55. 55PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância INTRODUÇÃO Esperamos, após as explanações desenvolvidas nas unidades apresentadas, ter plantado a semente da compreensão da necessidade de um olhar atento para as questõespsicológicasenvolvidasnapráticapedagógica,eda responsabilidade da Escola com a criança e o jovem, como seres em desenvolvimento e como seres multidimensionais. Destacamos a importância de conciliar estratégias pedagógicas com capacidades, necessidades e interesses dos alunos, de buscar a cientificidade no desenvolvimento dos processos educacionais, e de fazer da observação atenta do aluno e da aplicação do saber científico o ponto de partida de toda a prática, promovendo a práxis e favorecendo o desenvolvimento integral do ser humano. Esperamosqueosalunosenvolvidos,nessecurso,prossigam seus estudos buscando sempre preencher lacunas no seu conhecimento e ampliando suas habilidades e competências de forma autônoma e responsável. PARADIGMA DE EQUIVALÊNCIA DE ESTÍMULOS Historicamente, as primeiras pessoas que estudaram o desenvolvimento cognitivo e inteligência centraram-se na observação das habilidades intelectuais, como lembrar listas de supermercado, velocidade com que resolvem problemas ou aprendem coisas novas. Em cada estágio que a criança avança, novos repertórios começam a fazer parte dos processos cognitivos da criança. Vygotsky afirma que a criança apresenta uma capacidade para uma determinada habilidade. Quando a criança ainda não tem essa habilidade, mas se ela se desenvolver um pouco mais, ela terá, dizemos que ela tem um potencial, ou seja, ela tem um desenvolvimento potencial. As habilidades que a criança já apresenta são reais, portanto fazem parte do desenvolvimento real. A diferença entre o desenvolvimento potencial e o desenvolvimento real é chamada de Zona de Desenvolvimento Proximal. Ou seja, a diferença entre aquilo que a criança consegue fazer sozinha e aquilo que ela ainda precisa de ajuda. Fonte:LEVENDULAIMAGEMDIGITALLTDA-RiodeJaneiro-RJ
  • 56. 56 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância Apartirdápermanênciadoobjeto,ascriançaspodemcomeçaracategorizar as coisas. A criança começa categorizando as coisas que ela encontra em seu meio, em classes formadas por objetos equivalentes. Chamamos isso decategorizaçãoperceptual.Coisasquesãopercebidascomosemelhantes são agrupadas em uma mesma categoria. A criança que tem familiaridade com cachorro (aqui ela chama de “au-au”) pode categorizar o gato da avó também como “au-au”, até que alguém ensine que o gato não é “au-au”, mas é “miau”. Essa categoria é formada pela percepção do animal (quatro patas, rabo, focinho etc.). Com os avanços no desenvolvimento cognitivo, a criança passa a categorizar em classes mais sofisticadas, chamadas de categorização conceitual. Na categorização conceitual não importa mais a percepção que a criança tem do objeto, mas seu conceito. Uma boneca e um carrinho podem ser classificados em uma mesma classe, não de acordo com uma categoria perceptual, pois uma boneca é muito diferente de um carrinho, mas em uma categoria conceitual – uma classe de brinquedo, pois uma boneca e um carrinho podem ser brinquedos. Essas habilidades de categorizar e formar classes são fundamentais para o desenvolvimento da linguagem. O que seria a linguagem? Podemos definir a linguagem como sendo um sistema arbitrário de símbolos, que tomados em conjunto, tornam possível transmitir e compreender uma variedade infinita de mensagens. Isso significa que quando conversamos, usamos um sistema de sons específicos, chamados de fonemas, que são compreendidos pelas pessoas que compartilham desse sistema. Quando escrevemos ou lemos, usamos um sistema equivalente de símbolos gráficos, que podem ser traduzidos em símbolos sonoros (fonemas) e compreendidos. Somente os humanos têm linguagem? Pesquisas recentes na área apontam que somente os humanos seriam capazes de formular e utilizar um sistema de símbolos arbitrários para compor um sistema de linguagem. Esses mesmos estudos apontam que alguns animais podem criar sistemas de comunicação, mas não um sistema de símbolos. Essa comunicação pode ser por cheiro, como o caso das formigas que se guiam pelo ferormônio de outras formigas, andando em fila. Alguns macacos também podem desenvolver sistemas de comunicação, mas eles não seriam capazes de criar símbolos. Aquisição da linguagem Para entendermos a criação de um sistema arbitrário de símbolos para
  • 57. 57PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância formação da linguagem, é necessário discutirmos a capacidade de categorização. As crianças são capazes de categorizar os eventos em três classes. A primeira delas, a mais simples, seria a classe por similaridade. Objetos parecidos são categorizados em uma mesma classe. Por exemplo, um carrinho de brinquedo, feito de metal e outro feito de madeira, podem ser categorizados em uma mesma classe, a classe de carrinhos de brinquedo. Uma boneca de marca famosa e outra boneca sem marca, vendida em comércio popular, podem ser categorizadas em uma mesma classe, a classe de bonecas. Um cachorro da raça Rottweiller e outro da raça Pequinês, apesar de muito diferentes, podem ser categorizados na classe de cachorros. A segunda classe é mais sofisticada, pois requer o uso de conceitos. É a classe por função. Nessa classe, os objetos e eventos são categorizados, não pela semelhança física, mas pela função que eles têm. Por exemplo, a classe dos brinquedos. Nessa classe, carrinhos e bonecas, que não fazem parte da mesma classe por similaridade, podem fazer parte da mesma classe, devido à função comum que eles têm – ambos podem ser usados como brinquedos. A terceira classe é a mais sofisticada delas, pois requer conceitos abstratos. É a classe arbitrária. Recapitulando, na classe por similaridades físicas, os objetos são categorizados de acordo com suas semelhanças. Diversos estudos (Stromer, & McKay, 1993) mostram que várias espécies animais conseguem formar essas classes. Na classe por função, os objetos são categorizados de acordo com suas funções. Estudos mostram que somente alguns animais conseguem formar esse tipo de classe (SIDMAN, 1998). Crianças com atrasos severos no desenvolvimento também são capazes de formar classes por similaridades e por função. Na classe arbitrária, as coisas, eventos, objetos são categorizados, não pela semelhança e nem pela função, mas de acordo com regras arbitrárias, definidas pela comunidade verbal. A comunidade verbal é o conjunto de pessoas que compartilham da mesma linguagem. Por isso que essa classe é a mais sofisticada delas, porque ela é formada de acordo com regras arbitrárias, definidas pela sociedade. Agora vamos aos exemplos de como essas classes ocorrem, assim fica maisfácilentendê-las.Obebê,apartirdomomentoquesuavisãoatingeseu ápice, isto é, ele se torna capaz de ver as coisas com a mesma qualidade que os adultos conseguem, ele começa a interagir com diferentes objetos ao seu redor. Biologicamente, a criança começa a apresentar crescimento
  • 58. 58 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO | Educação a Distância dos músculos e endurecimento dos ossos, ocorre maior mielinização dos neurônios, a criança começa a explorar o ambiente, buscando novos objetos que chamam a atenção. A audição da criança já era boa, portanto, ela era capaz de distinguir diferentes sons. A criança vê, ouve, interage e começa a balbuciar. O balbucio seria a primeira expressão de linguagem da criança. Nesse ponto, há uma divergência entre dois autores. Para Piaget, o balbucio ocorre em função do amadurecimento das funções cognitivas e por essa razão a criança começa a externalizar sua linguagem. Como ela ainda não tem musculatura suficiente para articular a fala, ela externaliza sua linguagem na forma de balbucio. Para Vygotsky, o balbucio é a internalização da linguagem. A criança ouve, tem contato com a linguagem falada pelas pessoas ao seu redor e começa a internalizar essa linguagem, expressando seu treino na forma de balbucio. Deixando de lado as divergências entre Piaget e Vygotsky, o que importa é que o balbucio seria a primeira linguagem da criança. Nessa fase, ela entra em contato com a linguagem falada em sua comunidade verbal. Ela aprende a distinguir a língua falada pelos seus pais, aprendendo com eles essa linguagem. Ou seja, a família desempenha um papel fundamental na aquisição da linguagem. É a família que fornece o primeiro contato com a linguagem falada, em que a criança aprende sua língua materna. Mas não só, a família é importante no processo de estimulação. Um ambiente rico em estimulações facilita o desenvolvimento da criança. Um ambiente em que tenha objetos de cores diferentes, formatos diferentes, texturas diferentes é um ambiente rico em estimulações visuais e táteis. A família deve propiciar um ambiente rico em estimulações sonoras, em que a criança possa aprender diversas palavras, enriquecendo seu vocabulário. Além de tudo isso, um ambiente rico em afeto e atenção, em que ela, a criança, possa se desenvolver psicologicamente, aprendendo a lidar com suas emoções e sentimentos. É na família que a criança tem contato com sua primeira linguagem, sua língua materna. Vocês já observaram que, na maioria das vezes, quando um adulto tenta interagir com uma criança pequena, ele fala com uma linguagem infantilizada, próxima da linguagem de um bebê? É correto fazer isso? Então vamos discutir esse assunto. É correto em termos. Esse tipo de linguagem infantilizada, utilizada pelo adulto, pode ser útil para o estabelecimento de vínculo. Ou seja, para mostrar simpatia e receptividade. Mas, do ponto de vista do aprendizado da língua, muitos educadores apontam que seria errado. Mas por quê?