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A Educação Social em Portugal
Boletim Informativo da Associação Promotora da Educação Social
Nº 7 Janeiro 2014

Se não respeitares as diferenças, jamais
descobrirás as semelhanças

Foto: José M.M. Inácio

Verónica Clow
Editorial
Bem vindos à primeira edição

tema “Educação para a diferen-

todas as nossas colegas que nos

de 2014 do nosso Boletim Digi-

ça”, reunimos mais testemu-

ajudam a responder a estas e a

tal!

nhos do magnífico trabalho que

outras questões! Este é mais

O ano que inicia apresenta-se

é realizado pelos nossos profis-

um boletim que nos orgulha e a

como um grande desafio para

sionais.

responsabilidade é toda vossa!

todos nós. Chegou a hora de

A nossa entrevistada e duas

Agradecemos, também, à Cerci-

colocar um ponto final no dis-

colegas mostram-nos como o

póvoa, por todo o apoio que

curso da crise e de enfrentar o

trabalho na área da deficiência

tem dado à APES! Nesta edição

recomeço.

é, ao contrário do que à primei-

fomos visitá-la e conversámos

A equipa da APES recomeça

ra vista pode parecer, muito

com as pessoas que lá vivem e

com uma nova equipa, eleita

enriquecedor. A soma de

que lá trabalham. Obrigada por

no passado dia 14 de Dezem-

pequenas vitórias resulta numa

nos terem acolhido na vossa

bro, e que tomou posse no dia

quantia valiosa tanto para as

casa e por nos terem contado

12 deste mês. O foco continua

pessoas com quem se trabalha,

os projetos que desenvolvem.

o mesmo de sempre, a promo-

como para os próprios profis-

A próxima edição vai ter como

ção da Educação Social, e a gar-

sionais. E para se lá chegar é

tema “O Educador e a Pobre-

ra e determinação que nos

apenas necessário ultrapassar a

za”. Mais um tema sugestivo, e

caracterizaram, são alimenta-

barreira do preconceito.

que nos coloca muitas dúvidas.

dos a cada dia que passa com a

O preconceito também reina

Se trabalham nesta área, con-

crença de que vale a pena!

quando se fala em ciganos e

tem-nos como é! Enviem-nos

Olhando para trás, todos os

minorias étnicas. Que o confir-

os vossos testemunhos e refle-

pequenos passos que já demos

mem as nossas quatro colegas

xões para:

na nossa curta existência fize-

que abordam o trabalho com

boletimrea-

ram a diferença, e é um orgulho

estas populações. Não será a

pes@educadoresociais.com

ver a nossa família aumentar

diferença de culturas uma van-

ou

com a entrada de novos sócios!

tagem, uma forma de nos com-

https://www.facebook.com/

Obrigada por se juntarem a

pletarmos uns aos outros? E

groups/463570190343005/

nós!

será que somos assim tão dife-

Esta edição é mais uma prova

rentes enquanto seres huma-

Saudações Sociais

de que a Educação Social é uma

nos?

Clara Inácio

profissão de excelência. Com o

Um especial agradecimento a

Coordenadora do Boletim

Colaboradores desta edição:
Cátia Vaz - APES
Marlene Borges - APES
Sandra Afonso - APES
2
Índice
Pág.
APES:
Nova Equipa APES ………………..………………………………………………………. 5
V Encontro Técnicos Superiores de Educação Social ……………...………………… 6

Repórter APES:
Entrevista a Ana Mendes ……....………………………………………………………… 8

Educação para a Diferença:
Educar para a diferença, educar com a diferença - Sílvia Franco …………….…. 11
Educação Social com Ciganos. A diferença Sou eu - Sofia Aurora Santos ……... 14
Educar para a diferença - Susana Rebocho …………………...…………………… 19
Um ato de amor - Ana Sofia Bexiga ……………………………………………………23
Testemunho de um estágio com portadores de deficiência - Catarina Aleixo …… 26
A Bússula individual da aceitação do diferente - Daniela Azevedo ……………… 29

Instituição:
Cercipóvoa ………………………………………………………………………………… 31

Biblioteca APES………………………………………………………………………………. 34

3
Inscrições e mais informações em:
http://www.joaodedeus.pt/curso/index.asp?id_cnt=73

4
Nova Equipa APES
No passado dia 14 de Dezembro de 2013, foram eleitos os novos órgãos sociais da APES. As listas vencedoras tomaram posse no dia 12 de Janeiro de 2014. Desejamos a todos um bom trabalho!

Mesa da Assembleia
Geral
Presidente - Clara Inácio
Vice Presidente - Márcio
Rodrigues
Secretária - Sofia Santos
Suplente - André Santos

5

Direção

Conselho Fiscal

Presidente - Sandra Afonso
Vice Presidente - Ruben
Amorim
Tesoureira - Joana Oliveira
Secretária - Cátia Vaz
Vogal - Ivânia Alexandre
Suplentes - Sílvia Lopes
Vera Soares
Marlene Borges
Ana Mendes

Presidente - Dário Gomes
Secretária - Joana Botas
Relatora - Ana Raquel Vau
Suplentes - Maria do Céu
Ferreira
Ana Maggiolly
Marta Carvalho
V Encontro dos Técnicos Superiores de Educação Social
explicitando a dificuldade no acesso à Água.
Ainda na parte da manhã, mas já
depois do coffee break, deu-se
início ao segundo painel de oradores, iniciado pelo colega Honoré
Gregorius, membro da Associação
Internacional de Educadores
Sociais (AIEJI), bem como de
outras associações, que nos transmitiu a sua prática no Luxemburgo. Esta presença estreitou os
laços da APES com outras Associações Internacionais ajudando a
unir esforços e perceber a EducaChegou o ansiado dia 16 de

que nos acolheu neste evento.

ção Social no Mundo! O modera-

Novembro de 2013, marcado pelo O dia iniciou-se com as boas-

dor deste painel, o Professor Jor-

V Encontro dos Técnicos Superio-

ge Lemos, passou a palavra a

vindas a todos os presentes na

res de Educação Social. Depois de voz da presidente da APES, a cole- Cindy Vaz, que nos falou de PedaLisboa, Algarve, Leiria e Lisboa

ga Sandra Afonso, feliz pela pla-

gogia Social e Intervenção Socio-

novamente, é chegada a vez da

teia recheada e à qual se seguiu o comunitária referenciado a sua

cidade Invicta – o Porto.

Professor Rúben Cabral.

Este Encontro fica inevitavelmen-

Passámos, então, ao primeiro pai- Terminada a nossa manhã realiza-

experiência profissional na Trofa.

te marcado pelo início da venda e nel do Encontro, moderado pela
entrega das agendas da APES colega Raquel Vau, e dando a

mos uma pausa para almoço, de
modo a repor as energias gastas e

Associação Promotora da Educa-

palavra ao Professor Adalberto

tempo de partilha entre colegas.

ção Social, mais uma atividade,

Dias de Carvalho que captou, des- A parte da tarde iniciou com o

que tem sido um marco no per-

de o início, a atenção da plateia.

terceiro painel, composto pelos

curso e na divulgação desta pro-

Posteriormente chegou a vez da

Professores Jaime Santos, Jorge

fissão!

Professora Sónia Galinha que per- Lemos, Jorge Serrano e Anabela

Não podíamos estar mais felizes

correu tantos quilómetros para

Correia, apresentando a Pós-

pelo grande caminho percorrido

estar connosco neste dia. Seguiu-

graduação em Educação Social e

até aos dias de hoje. E este dia é

se Mónica Mesquita, que muito

Desenvolvimento Comunitário

mais o culminar de muito traba-

bem se fez acompanhar pelo Dur- que, como foi explicado, visa criar

lho. Agradecemos, desde já, a

val Carvalho e pelo Sr. Lídio Gali-

um espaço privilegiado de apoio

todos os que connosco têm cola-

nho que trouxeram testemunhos

teórico, metodológico e prático ao

borado e nos têm ajudado nas

na primeira pessoa de uma dura

desenvolvimento de saberes e de

ações realizadas. Desta vez, ende- realidade de duas comunidades:

competências de profissionais

reçamos um especial agradeci-

Comunidade Bairro e Comunidade envolvidos em processos de

mento à Universidade Católica

Piscatória da Costa da Caparica

6

desenvolvimento comunitário,
bel Batista falou-nos da luta já
percorrida pela Educação Social
ao longo destes anos, uma área
em que a própria indica como
sendo sua. Ressalvou, também, a
importância do contacto com
outras Associações Internacionais.
Terminou-se este V Encontro, com
duas intervenções muito interessantes: O Projeto Transformers é
um programa de voluntariado que
mobiliza mentores de todos os
desportos, artes e atividades para
orientar jovens a encontrar no seu
bem como dar uma contribuição

sentou o projeto Palhaços d’Opi-

superpoder uma forma de expri-

relevante para um maior desen-

tal, que tem como principal obje-

mir e intervir positivamente na

volvimento da atitude investigati- tivo implementar um programa de comunidade. A apresentação final
va e reflexiva dos atores nestes

intervenção dentro dos hospitais

foi realizada pelo grupo de dança

processos. Os oradores explicita-

da região centro, através da visita da Academia Régia. Porque a dan-

ram, ainda, algumas temáticas

de palhaços profissionais e com

ça, além de ser uma arte, permite

que serão abordadas.

formação específica nesta área,

a criação de relações sociais sen-

Após o coffee break da tarde, o

com foco essencial no Idoso. Com do utilizada, muitas vezes, como

quarto e último painel foi iniciado. a sua apresentação, este palhaço

meio da Educação Social.

Depois das apresentações efetua- (como o afirma com orgulho)
das pelo moderador Márcio Rodri- levou-nos a encarar o termo

E foi assim que encerrámos,
levando para casa novas aprendi-

gues, o painel seguiu com a apre-

palhaço e o próprio exercício des- zagens, novas perspetivas, novas

sentação conjunta de Evaniza

ta função de uma outra forma.

Vieira e Sílvia Lopes, que aborda-

Posteriormente, a Professora Isa-

ram a temática da “Educação
Social na Rede de Cuidados Continuados”, cuja missão é a Promoção da autonomia e melhoria da
funcionalidade da pessoa em
situação de dependência, através
da reabilitação, readaptação e
reinserção familiar e social. As
oradoras explicitaram e insistiram
no papel importante que enquanto profissionais podemos desempenhar nesta área. Tivemos de
seguida a apresentação de Jorge
Rosado, ou como prefere ser tratado, o Dr. Risotto, que nos apre7

partilhas e novas amizades!
Repórter APES
Entrevista a Ana Mendes
Educadora Social
Repórter APES - Olá Ana! Obriga-

é que decidiste ser uma

da por teres aceite ser a entrevis-

educadora social?

tada desta edição! Quem é a Ana?

Ana - Sempre fui boa alu-

Ana - Sou casada e mãe de 3 filhos. na e muito assídua, mas
Procuro ter com eles uma relação

na minha adolescência

com base na compreensão e con-

decidi começar a traba-

fiança, gosto de me envolver nas

lhar. Mais tarde, senti necessidade

suas atividades e procuro dar-lhes

de ter mais formação académica, e

o máximo apoio possível. Às vezes

assim decidi voltar aos estudos por

não é fácil, sendo os mais novos

considerar que o estudo e a

um casal de gémeos e na fase da

empregabilidade caminham juntos.

adolescência, eheh… a mais velha

Desde 1992 que trabalho na área

já se encontra encaminhada, traba- da deficiência, achei que podia
lha e estuda, está a tirar licenciatu- fazer muito mais por esta populara em animação sociocultural, mas ção, o que me levou a decidir há

gressos, seminários e cursos ligados a área e fora dela. Além de
manter atualizados os meus
conhecimentos, aproveito para
estreitar relacionamento com profissionais da área, o que sem dúvida facilita a administração do dia-a
-dia, na troca de experiências.

continua sempre a procurar o meu cerca de 10 anos a voltar a estudar Repórter APES - Podes falar-nos
apoio.

à noite, e de seguida fui tirar a

um pouco do teu trabalho?

Não é fácil falarmos sobre nós pró- minha licenciatura, como forma de
prios, mas vou tentar. Sou uma

ir ao encontro da minha opção

pessoa alegre, comunicativa e bas- profissional. Tirei Educação Social

Entrei para a Cercipóvoa em 1991.
Comecei como auxiliar, passando

tante dedicada em tudo o que me

na Escola Superior de Educação de depois a monitora, onde era res-

proponho a fazer. Entendo que a

Santarém com média de 12 valo-

ponsável por um grupo de utentes

empatia que criamos com os

res, que me orgulho muito, pois

com deficiência, pela planificação

outros é muito importante, para

sendo mãe de três filhos, trabalhar e orientação do grupo.

desenvolver com sucesso todas as

e estudar, só conseguindo ir à

nossas atividades, principalmente

faculdade uma manhã por semana Centro de Recursos para Inclusão

as que envolvem pessoas.

por motivos profissionais, foi para

Desde 2008 que integrei o CRI- da Cercipóvoa, que presta apoio

É com este lema que me proponho mim uma grande vitória e um

técnico em vários agrupamentos

a cumprir aquilo a que chamo mis- motivo de orgulho. Continuo a

de escolas.

são.

As minhas funções são variadas,

Repórter APES - Quando e porque
8

fazer sempre que posso forma-

ções, a participar em eventos, con- dependendo de cada agrupamen-
mento… Vou tentar dar uma ideia com autonomia, por exemplo

neste processo. Promovo visitas/

das mesmas:

para o seu local de trabalho.

reuniões a instituições ou empre-

Trabalho integrada no departa-

Colaboro também na elaboração

sas.

mento de educação especial com

dos PEI – Programa Educativo

Integro também as reuniões de

os alunos com necessidades edu-

Individual, CEI- Currículo Especifi-

Conselhos de turmas e Departa-

cativas especiais. Como sabem,

co Individual, PIT- Plano Indivi-

mento de Educação Especial.

estes alunos tem necessidades

dual de Transição, que são docu-

No final de cada período tenho

diferentes dos outros alunos, e
assim temos de ajudar na sua

mentos onde é registado o trabalho a desenvolver com estes alu-

também de elaborar relatórios do
trabalho desenvolvido com cada

integração na sociedade, por isso

nos.

aluno.

é importante começar a fazer a

Na implementação do PIT- Plano

Outra das funções é a colaboração

sua preparação para a vida ativa.

Individual de Transição pretende- em elaboração de projetos.

Consoante as características de

se preparar os alunos para a vida

É importante salientar que tudo é

cada um, oriento o seu encami-

pós-escolar. Fazem estágios de

desenvolvido em parceria com os

nhamento, para formação profis-

sensibilização profissional nas

docentes de educação especial

sional, para o Cao- Centro de Ati-

empresas da comunidade (em

que acompanham cada aluno.

vidades Ocupacionais, para pro-

alguns casos, dentro da escola

O trabalho é muito diversificado e

gramas de voluntariado, etc.

primeiramente e só depois na

por vezes surgem outras tare-

Trabalho também ao nível do

comunidade), e cabe-me a mim

fas, é difícil estar a descrever

desenvolvimento de competên-

fazer a orientação e acompanha-

todas, mas de uma maneira geral

cias pessoais e sociais, a parte da

mento dos estágios junto das

é assim o meu dia-a-dia.

comunicação interpessoal, resolu- empresas acolhedoras, e também
ção de problemas, assertividade,

sensibilizar as empresas para

emoções, etc., área onde por
vezes têm muitas dificulda-

receberem estes alunos, o que
por vezes não é fácil.

des. Como pretendemos que

Neste processo de transição reú-

sejam o mais autónomos possíveis, faço apoio direto na área
casa/comunidade onde faço treinos de autonomia na comunidade, como por exemplo ir às compras, saber para que servem e
como utilizar os serviços públicos
da comunidade (correios, banco,
junta de freguesia, etc.), em casa
ao nível da sua independência
pessoal, vestir/despir sozinhos,
tarefas em casa, etc., tudo isto
aplicado em contexto real, ao
nível dos transportes públicos,
treino trajetos consoante as suas
necessidades de deslocação, para
que num futuro o possam fazer
9

Repórter APES - Qual é o maior
desafio quando se trabalha com
pessoas com deficiência ?

Ana - Quando se trabalha com
no com os pais, pois são eles, tam- pessoas com deficiência todos os
bém, intervenientes importantes dias são um desafio, pois são um
um público muito diversificado

to de igualdade de oportunidades lutar por aquilo em que acredi-

com características muito pró-

para as pessoas com deficiência.

tam. Cada vez mais o nosso traba-

prias. Eu costumo dizer que para

Mas neste campo existe ainda

lho faz sentido. São mais, a cada

se trabalhar nesta área é preciso

muito trabalho a desenvolver.

dia que passa, as pessoas que pre-

gostar, o resto vem por acumula-

Porque todos nós temos precon-

cisam de nós. Sei que não é fácil,

ção. É importante todos os dias

ceitos, em maior ou menor grau.

mas com persistência e envolven-

manter uma boa relação, acarinhá O que acontece é que alguns dei-

do-nos todos na divulgação da

-los, motivá-los, apoiá-los, faze-los xam extravasar para as suas atitu- nossa profissão, havemos de consentir que são capazes, pois assim des e magoam as pessoas sem
seguir ir cada vez mais longe.
conseguem mais facilmente ultra- pensar nas consequências dos
passar obstáculos. As vitórias nes- seus atos. Outros fazem-no de

Repórter APES - Obrigada, Ana,
foi um prazer entrevistar-te!

ta área por vezes podem ser mui-

uma forma mais dissimulada. Mas

to pequenas, mas tem o sabor de

felizmente existem pessoas que

Ana - Foi com muito gosto que

grandes conquistas.

conseguem lidar com esse senti-

participei nesta entrevista, onde

É preciso um incremento contínuo mento, aceitam e respeitam as
de estratégias e procedimentos

tentei mostrar um pouco do meu

diferenças dos outros. Temos,

trabalho que ADORO. Espero ter
cada um de nós, de combater esse conseguido transmitir um pouco
melhores condições de aprendiza- próprio preconceito em cada con- do meu dia-a-dia aos colegas que
que lhes proporcionem mais e

gem/oportunidades, de forma

tato, em cada nova amizade, em

nunca trabalharam na área. Dese-

solidária e cooperativa, de manei- cada conversa, em cada decisão

jo a todos a continuação de um
dando oportunidades e acreditan- bom trabalho, para os que não
vel as suas competências pessoais do no potencial de cada um.
estão na área que a oportunidade
ra a desenvolverem o mais possíe sociais e a sua autonomia para
que exista uma verdadeira inclusão.
Por isso, o lema é paciência e persistência, e, muito importante,
nunca desistir!
Repórter APES - Achas que ainda
existem muitos preconceitos por
parte dos profissionais e da sociedade em geral em relação à deficiência?
Ana - Sim, acho, apesar de ser
uma situação que tem vindo a
melhorar nos últimos anos. Cada
vez mais se ouve falar em inclusão
e nota-se já uma preocupação da
parte da maioria dos profissionais
e da sociedade em geral no combate ao preconceito e com o direi-

10

Repórter APES - Que conselho
darias aos nossos colegas que
não estão a trabalhar?
Ana - O conselho que daria aos
colegas que não estão a trabalhar
na área é que não desistam de

chegue depressa, para que possam mostrar os bons profissionais
que são e continuarem a dignificar
a nossa profissão.
Todos juntos faremos a diferença!
Educar para a diferença,
Educar com a diferença
Sílvia Franco
Mestre em Ciências da Educação e
Formação
Para mim, educar é viver um pro-

nas locais enquanto especialistas

cesso em que abraçamos a oportu- em determinadas matérias, ou
nidade de ensinar, bem como a de seja, na sua própria cultura. Busaprender. Ensinar e aprender com

cava-se, diariamente, uma escola

sidade dialogante que une três

aqueles que nos rodeiam e com os reflexiva (Alarcão, 2001), na qual

comunidades nas lutas de cada

que se cruzam no nosso caminho,

todos se sentissem responsáveis

uma.

com os que são chamados de pro-

pelo sucesso pessoal e coletivo,

A Comunidade Bairro luta há mais

fessores, mas também com os alu- pois a concretização deste curso
nos, os agricultores, os mecânicos, era já uma vitória.

de três gerações por água mais
perto das suas casas, uma vez que

os pescadores, os físicos, os biólo-

Enquanto investigadora do Projeto têm de fazer um percurso de dois

gos, os historiadores… com todos,

Fronteiras Urbanas, cuja ação se

quilómetros (ida e volta) por cami-

independentemente dos “rótulos”

desenvolve na Costa de Caparica,

nhos acidentados para recolher,

que a sociedade lhes coloca.

tenho podido vivenciar reflexos

numa bica, água para as suas roti-

Da minha passagem por diferentes dessa mesma diversidade dialo-

nas diárias; a Comunidade Piscató-

contextos educativos, aprendi a

gante. O Projeto Fronteiras Urba-

ria debate-se com as crescentes

valorizar o que chamo de diversi-

nas foi construído em diálogo, bus- proibições que lhes são impostas,

dade dialogante (Franco, 2013),

cando a voz de três comunidades:

sem que as vozes dos pescadores

bem como a abertura para a mes-

Comunidade Bairro, Comunidade

que compõem a comunidade

ma. Na minha passagem por uma

Piscatória e Comunidade Académi- sejam ouvidas; e a Comunidade

licenciatura intercultural indígena,

ca. Estas comunidades uniram-se

Académica busca uma Educação

no Brasil, pude presenciar um pro- pela história partilhada, com o

Emancipatória, cuja essência é o

cesso dialógico, construído por

diálogo e “onde o professor é o

intuito de buscar a visibilidade

todos os envolvidos e interessados. para comunidades invisíveis aos

aprendiz e o aprendiz é o profes-

Neste processo, as opiniões e
olhos de entidades políticas e
desejos dos alunos e da comunida- sociais.

sor” (Bunker Roy, 2013; 05:38).
Numa primeira etapa, foram dese-

de eram valorizados e parte funda- Cada comunidade tinha à partida

nhadas as tarefas Alfabetização

mental no desenvolvimento do

Crítica, Cartografia Múltipla, Histó-

um objetivo primordial e um obje-

currículo, bem como no decurso de tivo coletivo. O objetivo coletivo

rias de Vida e Mediação Comunitá-

todas as etapas do curso, para as

que une estas três comunidades

ria, segundo os desejos dos mem-

quais era solicitada a presença de

centra-se na união que fortalecerá bros das comunidades. No desen-

membros das comunidades indíge- cada comunidade, isto é, na diver-

11

volvimento destas tarefas, procu-
rámos ter em mente as palavras de
Paulo Freire:
não é possível o diálogo entre os
que querem a pronúncia do mundo
e os que não a querem; entre os
que negam aos demais o direito de
dizer a palavra e os que se acham
negados deste direito. É preciso
primeiro que, os que assim se
encontram negados no direito primordial de dizer a palavra, reconquistem esse direito, proibindo que
este assalto desumanizante continue. (Freire, 2008; 91)

Em consciência de que o envolvi-

Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Sílvia Franco)

mento dos indivíduos na luta pela
sua própria liberalização, passa por vas, reforçando os seus desejos e
“refletir sobre a sua própria situa- direitos.

escola criam-se espaços e tempos
para a diversidade dialogante,

cionalidade, na medida em que,

Estes movimentos possibilitaram o numa dinâmica de partilha onde

desafiados por ela, agem sobre

regresso de vários jovens a contex- um membro da Comunidade Bair-

ela” (Freire, 2008; 118), fomo-nos

tos escolares, a eleição de uma

ro, de naturalidade cabo-verdiana,

deparando com momentos enri-

comissão de moradores, a partici-

ensina kriolu a outros moradores e

quecedores de partilha de conheci- pação de membros das três comu- a amigos interessados das outras
mentos e ação sobre o seu meio,
nidades em eventos de dissemina- duas comunidades ou que se aproimplementando diálogos com insti- ção académica, bem como o atual ximaram deste movimento. Da
tuições políticas, sociais e educati-

movimento Escola do Bairro. Nesta mesma forma, são recebidas pessoas da área de História, Música e
outras disciplinas para partilharem
os seus conhecimentos, fazendo-se
um intercâmbio de conhecimentos
e práticas.
É no sentido desta Escola do Bairro
que falo em “educar com a diferença”, pois, na minha opinião, é
importante educar para a diferença, para nos conscientizarmos de
que são as diferenças que nos tornam todos iguais. Contudo, considero que a essência da educação
estará, essencialmente, em educar

Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o pé de ervilha (Foto: Sílvia Franco)

12

com/ aprender com/ fazer com…
Referências:
Alarcão, I. (2001). A escola reflexiva. In I. Alarcão (Ed.), Escola reflexiva e nova racionalidade. Porto Alegre:
Artmed Editora.
Franco, S. (2013). A Diversidade Dialogante num processo educativo indígena: observações num curso de
Etnomatemática. Mestrado em Ciências da Educação, na área de especialização em Educação Intercultural - Estudo Etnográfico Crítico, Universidade de Lisboa, Lisboa. Retrieved from http://
hdl.handle.net/10451/8118 .
Freire, P. (2008). Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra.
TED Ideas Worth Spreading (Producer). (2013). Bunker Roy - Universidade dos Pés-Descalços. Retrieved from
https://www.youtube.com/watch?v=NUX8elbPkRY

Mesa redonda - Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS 2013
(Fotografia de Sílvia Franco)

Jovens em diálogo com instituições escolares
(Fotografia de Catarina Pereira)

13
Educação Social
com ciganos. A
diferença Sou eu.
Sofia Aurora Santos
Mestre em Educação
Social
“Por mim os ciganos iam-se embo- refletir e ver que infelizmente o

espírito humanitário e lutador a

ra para o país deles”; “Para mim os neonazismo está a aparecer na

favor dos direitos humanos. A

ciganos eram todos mortos”; “Por

Europa. Prova disso é o que se pas- minha adolescência no Corpo

mim eclodia o bairro dos ciganos”; sa atualmente na Hungria, que foi

Nacional de Escutas (CNE) fez-me

“São uma cambada de bandidos,

o primeiro Estado-membro da

despertar para ajudar o próximo,

têm tudo”; ”O Governo só dá o

União Europeia a ser acusado de

os que mais precisam e a respeitar

Rendimento aos ciganos”; etc.,

violar os valores europeus e como

a Natureza e a Pacha Mama

etc., etc. Estas são algumas das
expressões que oiço constante-

consequência a Comissão Europeia (Terra).
suspendeu todas as negociações
A escolha do curso de Educação

mente sobre os ciganos e certa-

com a Hungria até que o país repo- Social foi fácil, faze-lo foi simples,

mente são familiares a muitas pes- nha o Estado de Direito.

praticá-lo é difícil. São muitos os

soas. O desconhecimento das tra-

Atos impensáveis, incontrolados,

obstáculos encontrados na socie-

dições e costumes dos ciganos

desumanos, são todos os dias pra-

dade para se poder trabalhar a

reforça a ignorância da maioria,

ticados contra os ciganos e outros

diferença entre grupos e pessoas.

que se acha superior. A compreen- grupos étnicos em todo o mundo,

O Educador Social tem de ter uma

são e o conhecimento são impor-

mas o grupo dos ciganos é o mais

grande capacidade de adaptação

tantes no processo de integração

sacrificado. Mas porquê os ciga-

aos contextos e aos seus protago-

do grupo étnico e as características nos? É esta a questão para a qual

nistas. Deve saber muito bem o

físicas ou culturais não podem ser

tento obter uma resposta há mui-

que quer e para onde quer ir, ou

motivo de exclusão social.

tos anos e certamente está longe

seja, traçar e definir objetivos. Tra-

Estas expressões não são funda-

de ser respondida.

balhar no que se gosta ajuda a con-

mentadas nem dignas de respeito

Foi, principalmente, devido a um

tribuir para a felicidade, não só a

por quem as diz. Foram pensamen- comentário racista vindo de um

própria mas também a dos outros.

tos, expressões e comportamentos membro da autarquia farense em
deste tipo, que um senhor chama- 2007 (em contexto de estágio da

Assim prossigo o meu caminho
pela Educação Social, traço os

do Adolfo Hitler fez o que fez

licenciatura) que começou a minha objetivos e enquanto não os reali-

durante a 2ª Guerra Mundial, pen- luta mais vincada pelos direitos

zo não descanso.

so que não seja necessário descre- humanos dos ciganos.

Nesta minha aventura pelo

ver, mas vale a pena parar para

“Mundo dos Ciganos”, devo dizer

14

Desde muito jovem que tenho um
que um dos momentos mais mar-

ções para os pro-

cante da minha vida foi a visita ao

blemas do grupo

Campo de Concentração de Ausch- étnico. Um dos
witz (Polónia). Ver, sentir, ouvir,

métodos que têm

cheirar, tocar e imaginar tudo o

vindo a ser experi-

que lá se passou foi muito intenso. mentados no sentiMomento inexplicável. Acho que

do da promoção da

qualquer pessoa que visite este

integração deste

local, certamente, vai mudar a sua

grupo tem sido a

opinião e comportamento acerca

execução de proje-

da luta pelos direitos humanos.

tos nacionais e/ou

A experiência em intercâmbios e internacionais com
formações internacionais foram intervenções no
dos momentos mais interessantes terreno que permie importantes para adquirir conhe- tam produzir
cimento e partilhar experiências conhecimento
com outros ativistas ciganos e não acerca dos seus
ciganos sobre os direitos humanos. modos de vida. Na
Já trabalhei com vários grupos de

sua maioria, os pro-

risco (vítimas de violência domesti- jetos não são do
ca, sem-abrigo, crianças com

conhecimento dos

necessidade educativas especiais,

ciganos e muitas vezes não corres- social, reconhecida política e

etc.) mas é a trabalhar com os ciga- pondem às necessidades das popu- socialmente. Contudo, normalnos que “me sinto em casa”. Não é lações. Os principais problemas
fácil falar sobre os ciganos, mas
que afetam grande parte dos por-

mente estes projetos são de carater experimental e são limitados

ainda é mais difícil falar com as

no tempo e no espaço, pelo que

tugueses ciganos são as privações

pessoas não ciganas. O sentimento ao nível educativo e habitacional, o não originam mudanças estruturais
de discriminação está bem presen- desemprego, a inserção no merca- nem permitem obter muitos resulte quando se fala com os ciganos;

do de trabalho, a pobreza, a exclu- tados positivos na integração dos

todos têm uma experiência discri-

são social, as situações de discrimi- ciganos.

minatória para contar.

nação e a marginalização.

A integração social dos ciganos

A legislação portuguesa não dife-

Em Faro, no bairro da Av. Cidade

tem vindo a constituir-se como um

rencia nem reconhece politicamen- Hayward, no bairro da Horta da

verdadeiro imperativo na socieda-

te qualquer minoria étnica no país, Areia e noutros periféricos está

de contemporânea. O resultado

ou seja, do ponto de vista jurídico

concentrada uma parte da pobreza desta afirmação retrata-se na cria-

e político não existem ciganos.

e da exclusão social da cidade, o

Atualmente, trabalhar com ciganos que tem suscitado a intervenção

ção e aplicação de uma medida da
Comissão Europeia (em 2012), o

está “na moda” porque é engraça-

de projetos de luta contra a pobre- Quadro europeu para as estraté-

do ou porque “vem ai dinheiro”

za, maioritariamente financiados

para fazer projetos para os ciganos. De repente, desperta-se a

por fundos europeus. Todos estes dos ciganos, que se prevê melhorar
contextos se caracterizam por uma a inclusão e integração dos ciganos

“consciência” de muitas institui-

forte desqualificação territorial e

15

gias nacionais para a integração

até 2020, e que Portugal também
terá a sua estratégia.

grupo.

que prevê a adoção de novos hábi-

Em Portugal, as desigualdades

A ausência de recursos materiais e tos. A resistência dos ciganos à

sociais e as diferenças culturais

económicos traduz-se nas situa-

integração social vai ao encontro

entre os grupos étnicos existentes

ções de pobreza e exclusão social

das discrepâncias entre os direitos

na sociedade ainda não têm visibi- dos ciganos, assim como as dificul- e a identidade étnica. A oposição
lidade suficiente para desenvolver

dades de acesso à educação, à saú- aos valores da sociedade dominan-

processos de politização da etnici-

de, à habitação, ao emprego e aos

te, ou seja, aos aspetos de acultu-

dade, como tem acontecido em

serviços. Os obstáculos à inserção

ração, acontece frequentemente e

vários países da Europa. Os portu-

social deste grupo étnico devem-se por consequência os ciganos

gueses ciganos ainda não estão

principalmente aos baixos níveis

desenvolvem estratégias de adap-

organizados o suficiente para se

de escolaridade, ao desemprego e

tação à modernidade, ao mesmo

afirmarem e lutarem pelos seus

ao estigma criado à sua volta. As

tempo que tentam preservar a tra-

direitos enquanto cidadãos portu-

políticas de integração normal-

dição cultural. Como exemplo,

gueses com tradições culturais pró- mente falham em relação aos ciga- temos o benefício do Rendimento
prias. A falta de comunicação e

nos porque a sociedade tenta mui- Social de Inserção que obriga todas

compreensão entre os ciganos e a

tas vezes a integração através de

as crianças a frequentar a escola,

maioria dificulta a integração do

processos de assimilação cultural,

inclusive as raparigas, o que para
os ciganos é um dilema, entre a
sobrevivência e a preservação cultural. Contudo, é um processo que
está a mudar alguns comportamentos e ao mesmo tempo que se
reflete sobre uma redefinição de
identidades. A conciliação do
modo de vida cigano com o Programa de Inserção é dos assuntos
mais problemáticos na relação
Rendimento Social de Inserção
com os ciganos. Para os ciganos, é
uma situação ambígua, onde por
um lado está a submissão ao Estado para receber uns tostões e por
outro lado o desejo de preservação
dos traços culturais.
Para desenvolver o meu conhecimento sobre os ciganos, desde
2007 que trabalho e estudo este
grupo. De modo a procurar conhecimento e partilhar o meu trabalho, já participei em vários congressos nacionais e internacionais,
pois são os melhores locais para se

16
 Relativamente à perceção do

estar atualizado e fazer contatos.

de Faro em Novembro 2012, das

Em Junho de 2013, defendi a

550 famílias referentes ao protoco-

princípio de solidariedade para

minha dissertação de mestrado

lo de RSI, 145 são agregados fami-

os beneficiários ciganos o apoio

sobre o Rendimento Social de

liares ciganos, que correspondem a

do RSI como um direito e não

Inserção e os Beneficiários Ciganos 599 beneficiários. Como se pode
no Concelho de Faro, onde dei
constatar os ciganos não são a

como uma medida de solidariedade social de uns cidadãos para

uma particular atenção às injusti-

maioria dos beneficiários do RSI.

os outros;

ças contra os ciganos. A importân-

Mas porquê tanta perseguição

 Os técnicos queixam-se da falta

cia do trabalho de terreno permitiu contra eles? De forma sucinta pos-

de criatividade na elaboração

tomar consciência dos inúmeros

so partilhar as conclusões do meu

dos Programas de Inserção;

sacrifícios que os beneficiários

estudo:

ciganos fazem para sobreviver

 A importância atribuída ao RSI

dade não tem respostas para a

numa cidade desenvolvida. A reali-

pelos beneficiários ciganos é

inserção social dos beneficiários

dade não é como muitas pessoas

imensa, dada a precariedade em

de RSI, o que se traduz nas difi-

pensam. Alguns dados sobre o RSI,

que vivem e tentam conciliar o

culdades no combate à pobreza.

como por exemplo um estudo do

modo de vida cigano com o Pro- Concluído o trabalho e depois de

Instituto da Segurança Social de

grama de Inserção;

Dezembro 2008 estimou que exis-

 A perceção de discriminação é

 Os técnicos sentem que a socie-

apresentadas as conclusões importa agora apresentar algumas refle-

tiam 5275 famílias ciganas benefi-

sentida pelos beneficiários ciga- xões no sentido de uma melhoria

ciárias do RSI, correspondente a

nos nos vários domínios da vida

da eficácia das futuras políticas

21100 beneficiários, perfazendo
um peso de 3,9% total de famílias

social: procura de emprego, no
acesso aos serviços e por rece-

sociais de combate à pobreza
entre os ciganos:

beneficiárias do RSI; no Concelho

berem o RSI;

 Formação específica para técni-

17
cos que trabalhem com ciganos;
 Desenvolver Programas de

os estereótipos existentes na

Atualmente, o termo ciganofobia

sociedade.

ou romafobia, está presente em

Inserção adequados às necessidades das famílias ciganas, de

muitos discursos de ativistas para
Alguns ciganos adotam atitudes de os direitos humanos, que tentam

modo a facilitar a sua integração autoexclusão e conformistas sobre denunciar as inúmeras situações
social e reduzir as situações de

as expectativas que a maioria faz racistas e discriminatórias contra

acomodação;

de si e preferem não “lutar”, ao os ciganos em vários países, apesar

 Apostar na criação do próprio

emprego;
 Numa lógica de discriminação

assumirem comportamentos resi- de muitas vezes passarem desperlientes. Importa realçar que os cebidos.
ciganos são cidadãos portugueses Ninguém disse que trabalhar com

positiva, para combater a discri- e como tal, cidadãos de direitos e ciganos é fácil, mas também não é
minação negativa, apostar na

deveres como está estabelecido na impossível. Basta acreditar e res-

contratação de beneficiários

Constituição da República Portu- peitar. E assim sinto-me uma Edu-

ciganos nas empresas públicas;

guesa. Porém, a maioria não se cadora Social diferente e continuo

 Criação de uma associação mista reconhece como tal, isto porque a minha luta pela defesa dos direi-

constituída por ciganos e não

não veem reconhecidas as suas tos humanos dos ciganos.

ciganos no Concelho de Faro,

tradições e traços culturais e pelo

com o objetivo de defender os

contrário, são cercados pela discri-

interesses do grupo e minimizar minação e diferenciação.

18
Educar para a
diferença
Susana Rebocho
Educadora Social
Questiono inúmeras vezes o signifi- rização excescado de diferença, de indiferença,

siva da instru-

de diferente ou desigual. Qual é o

ção em detri-

sentido da diferença nas práticas

mento de uma

educativas? Qual é a intenção da

conceção mais

diferença na interculturalidade?

ampla de educação onde a dimen- culturalidade, na dimensão ética

Afinal o que é ser diferente e o que são pessoal e social são claramente do processo educativo.
isso tem a ver com educação?
subalternizadas.
Diferença, segundo o dicionário da Não é de todo minha intenção

Não sou defensora da educação
para a diferença, sou sim apologis-

língua portuguesa, é o caráter que

ta de uma valorização da diversida-

apontar criticas ao trabalho dos

distingue um ser de outro ser, uma professores, muito pelo contrário.

de – educar para a diferença pode

coisa de outra coisa. Simples de

Há 7 anos que trabalho em escolas levar-nos, em última instância, a

entender!

e durante este tempo tive o privilé- acentuar a distância entre as pes-

Mas a forma como este carácter,

gio de conhecer profissionais

soas, a destacar as suas desigual-

que distingue um ser de outro, é

extremamente conscientes do seu

dades, a salientar alguma diferen-

considerado nas práticas educati-

papel de educador. A questão aqui ciação. Na valorização da diversi-

vas e na intervenção social origina

é essencialmente politica e muito

dade, as práticas educativas desen-

muita discussão.

acima do que qualquer educador

volvem-se em torno do respeito,

Se por um lado a educação espe-

possa sequer tentar mudar.

da responsabilização individual, da

cial, as adaptações curriculares ou

O que me tranquiliza neste cenário liberdade pessoal.

a criação de turmas alternativas

é o facto da “escola”, ou melhor,

A minha experiência de interven-

tentam responder à diversidade de dos professores, reconhecerem a

ção social nas escolas é particular-

alunos, por outro, os alunos que

importância da “pessoalidade” do

mente com os alunos de etnia ciga-

não são incluídos nessas alternati-

ensino e recorrerem a apoios

na, por ser a única minoria com

vas, fazem parte de turmas com o

externos. Aqui entra o trabalho do uma grande representatividade

dobro dos alunos que seria funda-

educador social, do assistente

nos agrupamentos onde trabalho.

mental à aprendizagem dos con-

social, do psicólogo, do terapeuta.

E esta é sem dúvida uma experiên-

teúdos curriculares exigidos, bem

É neste hiato que a intervenção

cia riquíssima!

como ao desenvolvimento bio-

social tem o seu lugar na escola: na O combate ao absentismo e aban-

psico-emocional saudável. O que

diferença, na diversidade, na inter- dono escolar são os objetivos

acontece na realidade é uma valo-

19

gerais da intervenção, suportados
pelos objetivos da valorização da
diversidade: conhecer-se a si mes-

cos; Como integrar a sua experiên- da surge na educação inclusiva
cia de vida de modo coerente com como Ensino Cooperativo – ensino

mo, conhecer o outro, ser capaz de a função específica da escola. Con- baseado na colaboração entre o
interagir numa contínua constru-

sidero que os trabalhadores sociais professor titular de turma e um

ção de identidade, de afirmação

nas escolas, dotados de um saber e auxiliar, um outro colega ou um

dos valores. Para além da interven- de ferramentas indispensáveis à

outro profissional. Considero que

ção direta com os alunos e famílias inclusão, têm um papel crucial jun- na intervenção com os alunos de
de etnia cigana, a intervenção com to da comunidade educativa glo-

etnia cigana, em contexto escolar,

os professores e comunidade esco- bal: alunos, professores, auxiliares

este ensino cooperativo assume

lar assume também uma grande

uma grande importância: é aqui,

de educação e encarregados de

importância neste trabalho inclusi- educação. A intervenção isolada

através de um apoio específico

vo. Os professores questionam

que, por inúmeras razões, não

não ajudará na inclusão: a inter-

muitas vezes como lidar com crian- venção com todas as partes envol- pode ser dado pelo professor
ças que apresentam hábitos e cos- vidas criará pontes, aproximará

durante a rotina diária na sala de

tumes diferentes das demais crian- pessoas, potenciará o sucesso

aula, que se avança no combate ao

ças e como “adaptá-las” às nor-

escolar, o desenvolvimento pes-

insucesso escolar; é aqui que se

mas, condutas e valores vigentes;
Como ensinar-lhes os conteúdos

soal e social, e consequente inclusão social.

cria um espaço de aprendizagem
individual e coletivo simultanea-

que se encontram nos livros didáti- Este tipo de intervenção concerta-

20

mente; é aqui que os alunos come-
çam a ganhar as competências pré- qualquer intervenção educativa;

mediadores sócio-culturais: a

escolares que os demais alunos já

criar um sentimento de pertença – mediação é uma técnica que con-

adquiriram; é aqui que se tenta

essencial ao bem estar, interesse e tribui em larga escala para que a

“apanhar o comboio” e desenvol-

motivação. O insucesso escolar

ver capacidades.

traduz-se na maior parte dos casos possível; é um processo comunica-

realidade intercultural se torne

Outra característica do ensino coo- por um desinteresse continuado,

cional de transformação social que

perativo é o combater o isolamen- um descrédito crescente em rela-

requalifica as relações sociais e

to do professor. Os professores
aprendem com as estratégias dos

ção à função da escola enquanto
concebe novos percursos onde é
instituição educativa e socializado- possível entender o outro como

outros e obtém um feedback ade-

ra. Outra condição essencial é a

quado. Consequentemente, a coo- adoção de técnicas de comunica-

diferente; é uma ponte, uma aproximação, um verdadeiro diálogo

peração não é apenas eficaz para o ção eficazes. É nas falhas de comu- onde a mensagem é entendida
desenvolvimento cognitivo e emo- nicação que nascem muitos dos

claramente. Sem esta ponte, sem

cional, mas permite responder às

entraves à educação para a dife-

este “entendimento” a diferença

necessidades dos professores.

rença, é a comunicação que deter- só se torna mais excluível, a diver-

Nos esforços da educação inclusiva mina o sucesso das práticas de

sidade só se torna mais intolerável

e da educação intercultural, deve-

e desvalorizável; sem este diálogo

intervenção. Nesta linha e conti-

rão estar presentes algumas condi- nuando na intervenção com os

real de compreensão e transmis-

ções: desenvolver atitudes positi-

alunos de etnia cigana, sou séria

são concreta de propósitos e nor-

vas – é essencial ao sucesso de

defensora da contratação de

mas culturais, continuamos a

21
fomentar o “assimilacionismo”,

que a escola silencie as vozes que

sociais deverão promover o direito

criando contextos desfavorável à

lhe pareçam dissonantes do discur- de todos à educação e à igualdade

igualdade de oportunidades.

so culturalmente padronizado. Em

de oportunidades, educar dentro

A educação para a diferença, ou

última instância a escola deverá

de uma perspectiva de cidadania

valorização da diversidade, deverá trabalhar para uma diversidade de plena.
seguir no sentido de combater a

seres que estão inseridos num

desigualdade, tentando impedir

mundo diverso; os trabalhadores

22
Um ato de amor
Ana Sofia Bexiga
Educadora Social
Até há alguns meses atrás, tam-

Biblioteca, e do

bém eu fazia parte do grupo dos/

apoio incondicio-

das muitos/as Educadores/as

nal das minhas

Sociais a quem a deficiência física e colegas, as ideias
mental assustava (enquanto área

começaram a

de trabalho), e bastante…

surgir.

Mas, o "destino" (ou...chamem-lhe Apesar de a
o que quiserem!) colocou no meu
caminho a possibilidade de vir a

minha experiência ser ainda muito curta, atual-

No âmbito do CAO, a minha função

trabalhar nesta área. Cheguei a

mente, sinto-me mais segura e a

é Monitora de Expressão Corporal.

desejar que depois da entrevista

gostar muito do que faço!!

O dia de trabalho está dividido em

não me telefonassem, mas, ao

A Instituição na qual estou a

cinco tempos (três de manhã e

mesmo tempo, a convicção de que desenvolver um CEI (Contrato

dois à tarde), sendo que em cada

nada é por acaso falou mais alto!

tempo contamos com um grupo

Emprego-Inserção) possui um Lar

Se o IEFP me tinha convocado, e se Residencial para Deficientes e,

diferente dentro da sala.

na Instituição, depois da entrevis-

como complemento, um CAO

Quanto às atividades dinamizadas,

ta, me tinham selecionado, era

(Centro de Atividades Ocupacio-

de uma forma geral, centram-se

porque o desafio tinha que ser

nais). No total, temos quase qua-

em dinâmicas e jogos de controlo e

aceite!

renta utentes/clientes, sendo que

perceção do corpo (onde se

Os primeiros tempos foram um

apenas oito vão e vêm todos os

incluem dramatizações simples, e a

(des) equilíbrio considerável entre

dias, de segunda a sexta-feira, das

questão dos sons); de cooperação;

o adaptar-me àquele público tão

9h às 17h. Os restantes clientes/

os jogos de mímica; o recurso a

especial e ser aceite por eles e,

utentes vivem no Lar da Institui-

fantoches; as sombras chinesas;

noutro prisma, corresponder àque- ção.
la que era a minha função - traba- Sobre as suas deficiências, temos

percussão, como forma de explorar os sons produzidos através do

lhar a expressão corporal...!!

um pouco de tudo, desde deficien- próprio corpo; e ainda em algumas

Foi "partir pedra" durante vários

tes mentais (profundos, modera-

dias mas, no seguimento das mui-

dos e ligeiros), a deficientes físicos, Nas minhas sessões, a música é um

tas conversas que fui tendo (que

portadores de trissomia 21, parali- elemento sempre presente, quer

agradeço de coração!), das muitas

sia cerebral, até portadores de sín- como base de trabalho, na medida

horas de pesquisa na Internet e na dromes diversas.

23

dinâmicas que provoquem o riso.

em que possa ser parte integrante
da dinâmica a desenvolver; quer

com as quais trabalho, os objetivos soas com e para as quais trabalha-

como catalisador de um ambiente
mais estimulante e motivador.

das atividades que proponho não mos.
podem ser demasiado ambiciosos. A motivação é outro aspeto extre-

A participação e contributo dos

Tem que se considerar, sempre,

utentes são promovidos ao máxi-

que qualquer um deles levará mais a todo o meu trabalho. Apesar de a

mo em cada uma das dinâmicas,

tempo a atingir o que se pretende, minha função ser trabalhar a área

que podem ser (e são muitas

do que levará uma pessoa sem

da Expressão Corporal, o meu prin-

vezes!) adaptadas e reajustadas,

deficiência; e que, para alguns,

cipal e primário interesse e foco

de modo a ir ao encontro das

pelo teor das limitações que pos-

deverá ser a satisfação, estabilida-

mamente importante e transversal

necessidades, gostos e motivações suem, ser-lhes-á mesmo impossí-

de e bem-estar dos utentes/

de cada um.

vel avançar mais que um determi-

clientes. Relembro que trabalho

A Instituição conta ainda com

nado nível dentro de um exercício. num CAO, cujo objetivo é promo-

transporte próprio, pelo que, sem- No início do meu trabalho com

ver atividades que ocupem estas

pre que surge a oportunidade

esta população, não tinha noção

pessoas (como o próprio nome

(mais no verão, pelas condições

do quão importante é termos sem- “CAO” indica), não havendo uma

atmosféricas propícias), efetuamos pre presentes estas ideias, mas

componente de reabilitação.

saídas ao exterior com os utentes/ hoje reconheço que são funda-

Quando se conseguem reunir estas

clientes, que são sempre muito
apreciadas!

mentais, quer para não nos frustrarmos a nós próprios, quer para

três condições, todo o trabalho
seguinte acaba por fluir natural-

Pelas especificidades das pessoas

não frustrarmos as próprias pes-

mente! No entanto, quando por

24
algum motivo algum deles ou o

verdadeiras "luzinhas"! Com carac- então agimos como se fosse essa

grupo não está bem, todo o traba-

terísticas, patologias e feitios todos criança de dois, cinco ou dez anos!

lho corre o risco de ficar compro-

diferentes entre eles, mas com

Baba-se muito, então recorremos

metido, sendo que a intervenção

uma pureza muito superior à nos-

ao babete e não deixamos descu-

deverá ser redirecionada, passan-

sa, que só equiparo à das crianças

rar a higiene! Não consegue sorrir

do essencialmente por tentar esta- (enquanto nós não começamos o

com a boca, mas o coração passa a

bilizar o elemento ou grupo, para

nosso processo de socialização e

mensagem aos olhos, e eles sor-

que possa (m) voltar a encontrar a

não as viciamos...apesar do melhor riem pela boca que não o consegue

tal estabilidade e bem-estar.

que tentamos fazer, e fazemos!).

fazer!!

Para concluir, por tudo o que já vivi Não fala nem ouve, mas com-

Foi pelo desafio que aceitei este

e experienciei durante estes últi-

preende gestos! Não pode usar as

trabalho e, hoje, é com muito

mos meses, acredito plenamente

pernas para andar, mas serve-se

amor que o faço, dando o melhor

que as pessoas com e para as quais das rodas da cadeira! Tem capaci-

de mim e tentando evoluir sempre.

trabalho, são pessoas com uma

dade mental ao nível de uma crian- Até quando?!? Até que o "destino"

missão extremamente especial,

ça de dois, cinco ou dez anos,

25

assim o queira!!! Bem-haja!!!
Testemunho de um estágio
com pessoas com
deficiência
Catarina Aleixo
Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen- lidamos com mais frequência
ciatura em Educação Social pela

no nosso dia-a-dia.

Escola Superior de Educação do

Esta instituição onde estagiei

Instituto Politécnico de Bragança.

acolhia nas suas instalações clien-

No meu segundo ano do curso

tes com diversas tipologias de defi- ções. Mas se experimentassem,

(2010/2011) realizei o estágio

ciência (auditivos, esquizofrenia,

numa instituição de pessoas com

mentais, motores, multideficiência, se fossem dissipando como acon-

deficiência, mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-

física, portadoras de paralisia cere- teceu no meu caso, pois muitos
bral, visuais e tetraplégica).
deles conseguem fazer o mesmo

cionais) dessa instituição.

Contactei pela primeira vez com a

que nós e que os outros. E outra

Existia uma vasta lista de locais

instituição a 25 de Outubro de

coisa, talvez se admirassem e ficas-

para estagiar, mas apenas uma

2010. Embora o estágio fosse de

sem surpreendidos pois muitos

instituição tinha como população-

observação do funcionamento da

deles têm vontade de aprender

alvo pessoas com deficiência.

instituição, foi logo estabelecido

coisas novas e ficam felizes por

Antes de conhecer essa lista de

que era importante interagir com

conseguir fazer determinadas coi-

locais, já tinha na ideia de que se

todos os profissionais e clientes.

sas.

tivesse possibilidades gostaria de

No início havia um pouco de receio A instituição onde estagiei possuía

estagiar com este tipo de popula-

devido ao facto de não saber como diversas salas onde os clientes rea-

ção.

haveria de lidar com os clientes,

outra população sem tantas restritalvez essas ideias e esses medos

lizavam atividades ao longo do dia.

E o porque de querer estagiar com mas com o passar do tempo estes

A sala das T.I.C. permitia que os

essa população? Em primeiro

medos foram-se dissipando.

clientes adquirissem as competên-

lugar, porque este tipo de popula-

Muitos educadores sociais, se lhes

cias básicas em Tecnologias da

ção é uma população muito diver-

perguntar se gostariam de traba-

Informação e Comunicação; elabo-

sificada, pois existem diferentes

lhar com este tipo de população,

ravam artigos para o Jornal de

tipos de deficiência. Em segundo,

talvez digam que não gostariam

Parede e realizavam jogos interati-

porque existiam pessoas de dife-

muito. E porque não? Talvez por-

vos. Na sala de atelier efetuavam

rentes idades o que me permitia

que têm o mesmo receio que eu

trabalhos manuais na área da tape-

lidar com jovens, adultos e idosos.

tinha. Porque têm medo em não

çaria, pintura em tela, trabalhos

E em terceiro, porque com idosos,

conseguir fazer o mesmo trabalho

em pedra, rendas, bordados e

crianças e adultos dito “normais”

como eles como o fariam com

malhas, fada do lar. Na sala de

26
Construção em pedra por parte de um cliente da
instituição

recreação e lazer realizavam-se

natação, caminhadas).

pudessem desenvolver certas

diversos jogos.

Ao logo do meu estágio de obser-

capacidades que estavam menos

Realizavam-se, também, atividades vação colaborei em diversas ativi-

desenvolvidas.

recreativas e de lazer (visitas a

dades tentando corresponder às

Na sala de ateliê de arte e artesa-

museus e monumentos, bibliote-

dificuldades de cada cliente. Auxi-

nato foi-me possível observar a

cas, jogar dominó e cartas, televi-

liei na elaboração de textos escri-

elaboração de tapetes e carteiras

são, cinema e teatro), atividades

tos à mão e no computador, ajudei feitos de trapilhos realizados por

pedagógicas (jogos psicopedagógi- em diversas fichas de exercícios de um senhor e por uma senhora invicos que contribuem para o desenvolvimento e para uma aprendiza-

matemática e de português
suais.
(escrever os números e a sua leitu- Ao interagirmos com pessoas com

gem mais significativa) e atividades ra, elaboração de figuras geométri- deficiência, devemos ter permadesportivas (expressão corporal/

cas, preenchimento de frases com

nentemente presente as limitações

musicoterapia para que os utentes os respetivos verbos, entre outras), que cada um possui e tentarmos
realizem movimentos com o seu

participei na realização de diversos ajudar a ultrapassar essas dificul-

corpo, ginástica de manutenção,

jogos didáticos para que os utentes dades.

Pinturas de Carnaval
27

Atividades de desenvolvimento da matemática
Construção de um puzzle

A pessoa com deficiência depara-

Atividades de desenvolvimento do português

nal para elevar a sua autoestima,

se com diversos problemas na nos- para contribuir para a sua integra-

Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de

sa sociedade, particularmente no

ção na sociedade e sobretudo para locomoção, de aprendizagem, de

que diz respeito a questões de

que as pessoas desconstruíssem o

exclusão social.

mito de que os deficientes são pes- ultrapassadas com ajudas de fami-

Enfrentam diversas barreiras em

soas inválidas, pois eles podem

liares, amigos, técnicos e principal-

relação à locomoção, dificuldades

contribuir para o trabalho e suces-

mente por eles próprios.

exclusão…), essas dificuldades são

para terem acesso a diversos locais so de qualquer empresa como
(escolas, prédios, instituições,

outra pessoa qualquer.

Cumprimentos Sociais

entre outras) e na utilização de

Considero que o meu estágio veio

transportes públicos.

completar a minha apren-

É de grande importância sensibili-

dizagem, pois colocou-me

zar e informar a comunidade para

em contacto com uma

esta problemática da deficiência,

realidade que até ao

revelando as capacidades destas

momento me era um pou-

pessoas facilitando o seu processo

co desconhecida e permi-

de integração sócio profissional.

tiu-me tomar contacto

Através de campanhas de sensibili- com pessoas com diferenzação, nós, técnicos, podemos sen- tes dificuldades. Alguns
sibilizar a comunidade para esta

clientes tinham dificulda-

problemática e através da exposi-

des de leitura, outros na

ção e da divulgação de trabalhos

matemática, outros em

elaborados (trabalhos manuais)

determinados dias não

por pessoas com deficiência pode- lhes apetecia fazer nada…
mos demonstrar muitas das capa- as dificuldades eram divercidades que estas pessoas têm. Era sificadas e eu tinha que
importante que estas pessoas con- me adaptar
seguissem uma interação profissio- às dificuldades deles.

28

Eu, na elaboração dos fatos de Carnaval
A bússola individual da
aceitação do diferente
Daniela Azevedo
Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum

retórica, teoria decorati-

patamar cognitivo desconhecido

va, ilusão mental, de

ou pouco visitado por cada um de

quem lê um mero texto

vocês. E porquê? Porque para

na web e se encontra

mim, sempre que optamos apenas enclausurado em seu
pelo convencionalismo, pelo cami- escritório.
nho que sempre foi seguido, pelos

O que eu quero dizer é que basta-

Como perceberão em breve neste

padrões que definimos como nor-

va confrontar o leitor com uma

texto, este não vai ser um caminho

mais, não estamos a crescer e

cultura ou uma história muito afas- fácil mas é preciso que alguém se

como consequência se não cresce- tada da sua realidade para rapida-

atreva a fazê-lo! Conto convosco

mos individualmente, a sociedade

mente toda essa aparente concor-

para fazermos juntos esta viagem

não evoluirá.

dância se desvanecer e ser facil-

cognitiva, reflexiva e emocional.

Há uma ligação entre o nosso

mente abalada.

Toda a Educação Cívica implica a

crescimento individual e as mudan- A minha missão neste texto é para assunção de regras e todas essas
ças sociais. Não existem mudanças além de vos dar a compreender o

regras cívicas parecem emergir de

sociais se não existirem mudanças

que é a Educação, Educação Cívica, um medo intrínseco da essência do

no subconsciente individual, um a

Civismo e vida em sociedade é

ser humano. Será que com o

um até alastrar e atingir o subcons- mostrar vos o que é diferente,

desenvolvimento do autoconheci-

ciente coletivo. Isso acontece sem- muito diferente… e conduzi-los

mento, do equilíbrio espiritual, da

pre que a maioria das pessoas se

empatia e maior literacia emocio-

habilmente a um enamoramento

encontrar em posição de mudança do diferente através do conheci-

nal seria necessário esta “prisão de

e de ousadia.

mento do belo que mora no con-

regras” a que por vezes estamos

O leitor tal como a maioria das

teúdo do diferente e do estranho

sujeitos numa sociedade que

pessoas nesta altura acenará com para nós. É na empatia que mora a denominamos de civilizada?
a cabeça evidenciando um concor- felicidade da sociedade de amaTal como pergunta o título, como
dância a afirmativa à minha

nhã, é disso que estou a falar e isso aceitar e a amar o diferente sem

expressão acima identificada, mas

não será possível se eu não conse-

essa sua aparente concordância

guir apaixonar-me pelo que é dife- Ao ler o texto, vá atribuindo uma

com o meu artigo trata-se de mera rente.

29

viver aprisionado de regras cívicas?
pontuação, entre zero e dez que
quantifique o seu grau de aceita-

mente de acomodam, se adaptam

que ceguemos a nossa visão racio-

ção e entendimento do diferente.

e se inserem numa estrutura roti-

nal a atos humanos pouco dignos

A cultura que escolhi para vos

nizada, como a escola. Serão ape-

que encontremos nesta ou em

desafiar trata-se da cultura cigana. nas os ciganos que não se encon-

outra cultura.

O motivo que me levou a tal esco-

O importante é conhecermos o

tram integrados?

lha, deve-se ao facto de considerar Os pais, na sua grande maioria, são belo de cada cultura e encaramos
próximo da excentricidade a exis-

feirantes e comerciantes indivi-

esse atos humanos pouco dignos

tência de uma comunidade dotada duais, provavelmente devido ao

como algo que faz parte da huma-

de tão particulares especificidades preconceito, que gera dificuldade

nidade e jamais cairmos no erro

culturais, que milagrosamente

de aproximação e integração social essencial de caracterizarmos esses

resistiram às reconstruções sociais, em outra atividade.

erros como fazendo parte de uma

assegurando a manutenção das

cultura.

Fortemente etnocêntricos pos-

suas características culturais que o suem leis internas, valorizam a

Mesmo que racionalmente, à pri-

definem como povo, ainda que as

união do seu grupo e a manuten-

meira vista seja isso que vê, não

consequências discriminatórias se

ção das suas tradições.

alimente esse pensamento “erva-

edifiquem e alastrem fortemente,

Possuem um sotaque específico, e

daninha”. Grandes atrocidades que

principalmente devido à ignorância se recuarmos na história, constata- foram cometidas no mundo comee incompreensão da história e dos

remos que dispõem de uma língua çaram com esse pensamento erva-

valores da comunidade cigana.

de origem, o Romani.

daninha de que determinadas ati-

Possuem um sistema cultural

A Musica, a dança, as festas gran-

tudes negativas pertencem a

estruturado num tipo de cultura

diosas, os casamentos precoces, a

determinada classe.

ágrafa, de transmissão oral, valori- importância da virgindade, e o res- Como pode observar, o pensamenzam a aprendizagem prática, ape-

peito pelos mais velhos são outros

to racional nem sempre nos con-

nas a suficiente para desempenha- fatores que importa realçar, quanrem os seus trabalhos quotidianos, do tentamos caracterizar este

duz ao melhor caminho, este é um
desses casos.

e consideram os ensinamentos

Gerir empatia com lógica requer

povo cigano, motivos pelos quais

para além desta linha, desnecessá- são fortemente estigmatizados.

uma mente que processe pensa-

rios.

Como se encontra agora a sua

mentos de forma flexível e multidi-

A escola é encarada um território

bússola de aceitação do diferente mensional. Como conseguimos

desconhecido e ameaçador, pois, a agora?

isso? Como sabemos se temos uma

sociedade é uma estrutura hege-

Acredito que quando maior é o

mente flexível? Essa questão ficará

mónica, e como tal, frequente-

conhecimento que obtemos sobre

para um próximo texto….até lá…

mente discrimina a especificidade, determinae como consequência a criança

do ele-

cigana sente-se inferior à maioria.

mento

Essa circunstância que contribui

diferente,

para o tão frequente absentismo e mais estaos baixos níveis de sucesso escolar. remos próOs ciganos são instintivos e espon- ximos de
tâneos, logo, de cultura pouco dis- os aceitar
ciplinada.
e amar.
De espirito nómada, valorizam a

Isso não

liberdade, e devido a isso, dificil-

quer dizer

30
Cercipóvoa
A Cercipóvoa é parceira da APES,

para cada criança e jovem deficien- impedidas de residir no seu meio

e nesta edição fomos visitá-la para te, de acordo com as suas necessi-

familiar.

conhecer o trabalho que desen-

Centro de atividades ocupacionais

dades e potencialidades, de uma

volvem, a equipa, crianças, jovens forma o menos restritiva possível.

– É destinado a pessoas com defi-

e adultos que a frequentam.

Tem como objetivos o desenvolvi-

ciência mental grave, profunda ou

mento da autonomia e indepen-

com multideficiência, com os obje-

A CérciPóvoa é uma cooperativa

dência pessoal, a aprendizagem de tivos de facilitar o desenvolvimen-

de solidariedade social, fundada na uma comunicação alternativa, o
Póvoa de Santa Iria, em Maio de
aperfeiçoamento da motricidade

to possível das capacidades remanescentes das pessoas com defi-

1977 por um grupo de pais e ami-

global e fina e a promoção do rela- ciência grave, criar condições para

gos de crianças e jovens portado-

cionamento interpessoal, sempre

res de deficiência. Esta Instituição

com a finalidade de fornecer bases nar a oportunidade de realização

presta vários serviços a crianças,

para a transição para a vida adulta. pessoal. As atividades são variadas,

jovens e adultos com deficiência

As atividades são feitas tanto em

desde as sensório-ocupacionais às

ou sem deficiência, e apoia várias

sala de aula, como no exterior.

laborais e laborais em contexto de

famílias desfavorecidas.

Centro de Atendimento Residen-

trabalho.

Algumas das respostas sociais/

cial – Presta atendimento em Lar

Centro de Recursos para a Inclu-

serviços são:

Residencial a 30 pessoas portado-

são – Estrutura que disponibiliza

uma maior autonomia e proporcio-

Centro de Apoio Sócio educativo – ras de deficiência mental, maiores

técnicos especializados para traba-

Aqui é criado um projeto de vida

lhar nas escolas através de uma

31

de 16 anos, que se encontram
parceria com o Ministério de Edu-

de Emergência Alimentar

lar. O meu trabalho é um trabalho

cação, para prestação de serviços

Programa Comunitário de ajuda

vasto e abrangente. Acima de tudo

complementares para apoio à

alimentar a carenciados – Que

é um trabalho e apoio e de garantir

inclusão.

apoia 75 pessoas, através do forne- que todas as áreas e serviços

Centro de Intervenção e Orienta-

cimento de géneros alimentares.

ção Precoce – Consiste na inter-

desenvolvam o seu trabalho. Quando necessário, e são bas-

venção em crianças dos 0 aos 6

O entusiasmo e dedicação que os

tantes vezes, carrego móveis,

anos com deficiência ou atraso

profissionais que trabalham nesta

biombos, cadeiras, alimentos, faço

grave no desenvolvimento, assim

Instituição têm pelo seu trabalho é de motorista, desentupo canos,

que detetado. Para além de se

notório, como podemos verificar

faço de jardineiro, enfim, o que

assegurar condições facilitadoras

nos testemunhos que deram para

seja necessário. Todos os dias são

do desenvolvimento da criança,

o nosso Boletim:

um desafio...mas em nossa casa

apoia também os pais.

fazemos o que é necessário!

ATL Centro de atividades lúdicas e É a minha vida é fazer aquilo que

Luís Carlos Santos – Diretor Geral

expressivas – Frequentado por

gosto. Além de uma grande res-

da Cercipóvoa

crianças dos 1º, 2º e 3º ciclos e de

ponsabilidade é um orgulho muito

Jardins de Infância da área, nos

grande poder contribuir para a

Enfim, monotonia não é algo que

tempos livres

qualidade dos serviços que presta-

eu sinta no meu dia-a-dia, e espe-

Cantina Social – Que apoia 100

mos à Comunidade em geral e à

cialmente porque me sinto muito

pessoas, no âmbito do Programa

pessoa com deficiência em particu- realizada no trabalho que desen-

32
volvo. Gosto muito de trabalhar na Trabalhar na Cerci para mim é a

às 08.40, fico na sala das saídas. Às

Cercipóvoa, sobretudo pelas pes-

minha vida, e não me vejo a traba- 09.00h vamos para as respetivas

soas com quem trabalho que me

lhar noutra coisa, porque viver

fazem sentir que vale a pena dar-

para estes utentes e fazer algo por dades. A atividade diária é o emba-

mos tudo que sabemos e temos

eles todos os dias é sentir-me reali- lamento de talheres onde fico com

nesta causa que partilhamos em

zada todos os dias. Os meus dias

os meus colegas até mais ou

conjunto.

de trabalho na Cerci são dias de

menos às 11h. Há dias em que

Teresa Pedras, Psicóloga – Direto- muito trabalho e animação. São

salas, onde realizo algumas ativi-

tenho atividades desportivas, como

ra Técnica do Centro de Orienta-

dias também de terapia emocional, o pavilhão e piscina. Pelas 12h vou

ção Precoce e Coordenadora Téc-

quando me sinto mais em baixo de almoçar ao refeitório, regressando

nica do Centro de Recursos para a forma. Claro que existem dias

depois à sala pelas 13h, onde “bato

inclusão

melhores e dias piores, mas com

uma sorna” (descanso um pouco).

boa vontade e bom senso, tudo se

O resto da tarde realizo atividades

Para mim trabalhar na Cercipóvoa vai resolvendo.

lúdicas. Eu faço parte de um grupo

é um privilégio mas também uma

de dança, pelo que em determina-

Paula Loução – Monitora

grande responsabilidade, saber
que diariamente os nossos jovens

dos dias tenho ensaios. Tenho ainConversámos, também, com a Ana da aulas de Competências Pessoais

contam com a nossa presença para Paula Serrano, uma Utente da Cer- e Sociais e sessões de terapia da
os ajudar na satisfação das suas

cipóvoa, que nos contou as várias

fala. Lancho pelas 15.30. Regresso

necessidades, garantindo desta

atividades que preenchem o seu

ao CAR pelas 17h. No CAR fico a

forma a sua qualidade de vida e o

dia-a-dia:

aguardar pelas 19 horas que é a

seu bem-estar. É uma felicidade

Acordo por volta das 06.30h (eu

hora do jantar, vou andando de um

saber que diariamente podemos

normalmente acordo a esta hora).

lado para outro, conversando com

fazer a diferença na vida de
alguém tão especial como os nos-

Com a ajuda das funcionárias faço
a minha higiene pessoal, indo

as funcionárias e alguns colegas
com quem me identifico. Aproveito

sos utentes.

depois pelas 8 horas tomar o

também para ler e ver algumas

Cristina Silva – Professora

pequeno almoço, tudo isto no CAR. revistas. Janto pelas 19 horas e
Desço para o CAO mais ou menos

depois vejo televisão até às 23h
que é a hora em que me vou deitar,
até ao outro dia.
Frequentar a Cerci é bom, porque
tenho atividades e saídas. Se estivesse em casa não tinha esse tipo
de coisas. É uma forma de passar o
tempo, os dias tornam-se mais
fáceis e rápidos de passar.
A equipa da APES congratula a Cercipóvoa pelo trabalho tão importante que realiza, e aproveita, também, para agradecer a ajuda que
sempre tem dado à APES. Obrigada
pela visita!

33
Biblioteca
APES

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Bolhetim educação social janeiro 2014

  • 1. A Educação Social em Portugal Boletim Informativo da Associação Promotora da Educação Social Nº 7 Janeiro 2014 Se não respeitares as diferenças, jamais descobrirás as semelhanças Foto: José M.M. Inácio Verónica Clow
  • 2. Editorial Bem vindos à primeira edição tema “Educação para a diferen- todas as nossas colegas que nos de 2014 do nosso Boletim Digi- ça”, reunimos mais testemu- ajudam a responder a estas e a tal! nhos do magnífico trabalho que outras questões! Este é mais O ano que inicia apresenta-se é realizado pelos nossos profis- um boletim que nos orgulha e a como um grande desafio para sionais. responsabilidade é toda vossa! todos nós. Chegou a hora de A nossa entrevistada e duas Agradecemos, também, à Cerci- colocar um ponto final no dis- colegas mostram-nos como o póvoa, por todo o apoio que curso da crise e de enfrentar o trabalho na área da deficiência tem dado à APES! Nesta edição recomeço. é, ao contrário do que à primei- fomos visitá-la e conversámos A equipa da APES recomeça ra vista pode parecer, muito com as pessoas que lá vivem e com uma nova equipa, eleita enriquecedor. A soma de que lá trabalham. Obrigada por no passado dia 14 de Dezem- pequenas vitórias resulta numa nos terem acolhido na vossa bro, e que tomou posse no dia quantia valiosa tanto para as casa e por nos terem contado 12 deste mês. O foco continua pessoas com quem se trabalha, os projetos que desenvolvem. o mesmo de sempre, a promo- como para os próprios profis- A próxima edição vai ter como ção da Educação Social, e a gar- sionais. E para se lá chegar é tema “O Educador e a Pobre- ra e determinação que nos apenas necessário ultrapassar a za”. Mais um tema sugestivo, e caracterizaram, são alimenta- barreira do preconceito. que nos coloca muitas dúvidas. dos a cada dia que passa com a O preconceito também reina Se trabalham nesta área, con- crença de que vale a pena! quando se fala em ciganos e tem-nos como é! Enviem-nos Olhando para trás, todos os minorias étnicas. Que o confir- os vossos testemunhos e refle- pequenos passos que já demos mem as nossas quatro colegas xões para: na nossa curta existência fize- que abordam o trabalho com boletimrea- ram a diferença, e é um orgulho estas populações. Não será a pes@educadoresociais.com ver a nossa família aumentar diferença de culturas uma van- ou com a entrada de novos sócios! tagem, uma forma de nos com- https://www.facebook.com/ Obrigada por se juntarem a pletarmos uns aos outros? E groups/463570190343005/ nós! será que somos assim tão dife- Esta edição é mais uma prova rentes enquanto seres huma- Saudações Sociais de que a Educação Social é uma nos? Clara Inácio profissão de excelência. Com o Um especial agradecimento a Coordenadora do Boletim Colaboradores desta edição: Cátia Vaz - APES Marlene Borges - APES Sandra Afonso - APES 2
  • 3. Índice Pág. APES: Nova Equipa APES ………………..………………………………………………………. 5 V Encontro Técnicos Superiores de Educação Social ……………...………………… 6 Repórter APES: Entrevista a Ana Mendes ……....………………………………………………………… 8 Educação para a Diferença: Educar para a diferença, educar com a diferença - Sílvia Franco …………….…. 11 Educação Social com Ciganos. A diferença Sou eu - Sofia Aurora Santos ……... 14 Educar para a diferença - Susana Rebocho …………………...…………………… 19 Um ato de amor - Ana Sofia Bexiga ……………………………………………………23 Testemunho de um estágio com portadores de deficiência - Catarina Aleixo …… 26 A Bússula individual da aceitação do diferente - Daniela Azevedo ……………… 29 Instituição: Cercipóvoa ………………………………………………………………………………… 31 Biblioteca APES………………………………………………………………………………. 34 3
  • 4. Inscrições e mais informações em: http://www.joaodedeus.pt/curso/index.asp?id_cnt=73 4
  • 5. Nova Equipa APES No passado dia 14 de Dezembro de 2013, foram eleitos os novos órgãos sociais da APES. As listas vencedoras tomaram posse no dia 12 de Janeiro de 2014. Desejamos a todos um bom trabalho! Mesa da Assembleia Geral Presidente - Clara Inácio Vice Presidente - Márcio Rodrigues Secretária - Sofia Santos Suplente - André Santos 5 Direção Conselho Fiscal Presidente - Sandra Afonso Vice Presidente - Ruben Amorim Tesoureira - Joana Oliveira Secretária - Cátia Vaz Vogal - Ivânia Alexandre Suplentes - Sílvia Lopes Vera Soares Marlene Borges Ana Mendes Presidente - Dário Gomes Secretária - Joana Botas Relatora - Ana Raquel Vau Suplentes - Maria do Céu Ferreira Ana Maggiolly Marta Carvalho
  • 6. V Encontro dos Técnicos Superiores de Educação Social explicitando a dificuldade no acesso à Água. Ainda na parte da manhã, mas já depois do coffee break, deu-se início ao segundo painel de oradores, iniciado pelo colega Honoré Gregorius, membro da Associação Internacional de Educadores Sociais (AIEJI), bem como de outras associações, que nos transmitiu a sua prática no Luxemburgo. Esta presença estreitou os laços da APES com outras Associações Internacionais ajudando a unir esforços e perceber a EducaChegou o ansiado dia 16 de que nos acolheu neste evento. ção Social no Mundo! O modera- Novembro de 2013, marcado pelo O dia iniciou-se com as boas- dor deste painel, o Professor Jor- V Encontro dos Técnicos Superio- ge Lemos, passou a palavra a vindas a todos os presentes na res de Educação Social. Depois de voz da presidente da APES, a cole- Cindy Vaz, que nos falou de PedaLisboa, Algarve, Leiria e Lisboa ga Sandra Afonso, feliz pela pla- gogia Social e Intervenção Socio- novamente, é chegada a vez da teia recheada e à qual se seguiu o comunitária referenciado a sua cidade Invicta – o Porto. Professor Rúben Cabral. Este Encontro fica inevitavelmen- Passámos, então, ao primeiro pai- Terminada a nossa manhã realiza- experiência profissional na Trofa. te marcado pelo início da venda e nel do Encontro, moderado pela entrega das agendas da APES colega Raquel Vau, e dando a mos uma pausa para almoço, de modo a repor as energias gastas e Associação Promotora da Educa- palavra ao Professor Adalberto tempo de partilha entre colegas. ção Social, mais uma atividade, Dias de Carvalho que captou, des- A parte da tarde iniciou com o que tem sido um marco no per- de o início, a atenção da plateia. terceiro painel, composto pelos curso e na divulgação desta pro- Posteriormente chegou a vez da Professores Jaime Santos, Jorge fissão! Professora Sónia Galinha que per- Lemos, Jorge Serrano e Anabela Não podíamos estar mais felizes correu tantos quilómetros para Correia, apresentando a Pós- pelo grande caminho percorrido estar connosco neste dia. Seguiu- graduação em Educação Social e até aos dias de hoje. E este dia é se Mónica Mesquita, que muito Desenvolvimento Comunitário mais o culminar de muito traba- bem se fez acompanhar pelo Dur- que, como foi explicado, visa criar lho. Agradecemos, desde já, a val Carvalho e pelo Sr. Lídio Gali- um espaço privilegiado de apoio todos os que connosco têm cola- nho que trouxeram testemunhos teórico, metodológico e prático ao borado e nos têm ajudado nas na primeira pessoa de uma dura desenvolvimento de saberes e de ações realizadas. Desta vez, ende- realidade de duas comunidades: competências de profissionais reçamos um especial agradeci- Comunidade Bairro e Comunidade envolvidos em processos de mento à Universidade Católica Piscatória da Costa da Caparica 6 desenvolvimento comunitário,
  • 7. bel Batista falou-nos da luta já percorrida pela Educação Social ao longo destes anos, uma área em que a própria indica como sendo sua. Ressalvou, também, a importância do contacto com outras Associações Internacionais. Terminou-se este V Encontro, com duas intervenções muito interessantes: O Projeto Transformers é um programa de voluntariado que mobiliza mentores de todos os desportos, artes e atividades para orientar jovens a encontrar no seu bem como dar uma contribuição sentou o projeto Palhaços d’Opi- superpoder uma forma de expri- relevante para um maior desen- tal, que tem como principal obje- mir e intervir positivamente na volvimento da atitude investigati- tivo implementar um programa de comunidade. A apresentação final va e reflexiva dos atores nestes intervenção dentro dos hospitais foi realizada pelo grupo de dança processos. Os oradores explicita- da região centro, através da visita da Academia Régia. Porque a dan- ram, ainda, algumas temáticas de palhaços profissionais e com ça, além de ser uma arte, permite que serão abordadas. formação específica nesta área, a criação de relações sociais sen- Após o coffee break da tarde, o com foco essencial no Idoso. Com do utilizada, muitas vezes, como quarto e último painel foi iniciado. a sua apresentação, este palhaço meio da Educação Social. Depois das apresentações efetua- (como o afirma com orgulho) das pelo moderador Márcio Rodri- levou-nos a encarar o termo E foi assim que encerrámos, levando para casa novas aprendi- gues, o painel seguiu com a apre- palhaço e o próprio exercício des- zagens, novas perspetivas, novas sentação conjunta de Evaniza ta função de uma outra forma. Vieira e Sílvia Lopes, que aborda- Posteriormente, a Professora Isa- ram a temática da “Educação Social na Rede de Cuidados Continuados”, cuja missão é a Promoção da autonomia e melhoria da funcionalidade da pessoa em situação de dependência, através da reabilitação, readaptação e reinserção familiar e social. As oradoras explicitaram e insistiram no papel importante que enquanto profissionais podemos desempenhar nesta área. Tivemos de seguida a apresentação de Jorge Rosado, ou como prefere ser tratado, o Dr. Risotto, que nos apre7 partilhas e novas amizades!
  • 8. Repórter APES Entrevista a Ana Mendes Educadora Social Repórter APES - Olá Ana! Obriga- é que decidiste ser uma da por teres aceite ser a entrevis- educadora social? tada desta edição! Quem é a Ana? Ana - Sempre fui boa alu- Ana - Sou casada e mãe de 3 filhos. na e muito assídua, mas Procuro ter com eles uma relação na minha adolescência com base na compreensão e con- decidi começar a traba- fiança, gosto de me envolver nas lhar. Mais tarde, senti necessidade suas atividades e procuro dar-lhes de ter mais formação académica, e o máximo apoio possível. Às vezes assim decidi voltar aos estudos por não é fácil, sendo os mais novos considerar que o estudo e a um casal de gémeos e na fase da empregabilidade caminham juntos. adolescência, eheh… a mais velha Desde 1992 que trabalho na área já se encontra encaminhada, traba- da deficiência, achei que podia lha e estuda, está a tirar licenciatu- fazer muito mais por esta populara em animação sociocultural, mas ção, o que me levou a decidir há gressos, seminários e cursos ligados a área e fora dela. Além de manter atualizados os meus conhecimentos, aproveito para estreitar relacionamento com profissionais da área, o que sem dúvida facilita a administração do dia-a -dia, na troca de experiências. continua sempre a procurar o meu cerca de 10 anos a voltar a estudar Repórter APES - Podes falar-nos apoio. à noite, e de seguida fui tirar a um pouco do teu trabalho? Não é fácil falarmos sobre nós pró- minha licenciatura, como forma de prios, mas vou tentar. Sou uma ir ao encontro da minha opção pessoa alegre, comunicativa e bas- profissional. Tirei Educação Social Entrei para a Cercipóvoa em 1991. Comecei como auxiliar, passando tante dedicada em tudo o que me na Escola Superior de Educação de depois a monitora, onde era res- proponho a fazer. Entendo que a Santarém com média de 12 valo- ponsável por um grupo de utentes empatia que criamos com os res, que me orgulho muito, pois com deficiência, pela planificação outros é muito importante, para sendo mãe de três filhos, trabalhar e orientação do grupo. desenvolver com sucesso todas as e estudar, só conseguindo ir à nossas atividades, principalmente faculdade uma manhã por semana Centro de Recursos para Inclusão as que envolvem pessoas. por motivos profissionais, foi para Desde 2008 que integrei o CRI- da Cercipóvoa, que presta apoio É com este lema que me proponho mim uma grande vitória e um técnico em vários agrupamentos a cumprir aquilo a que chamo mis- motivo de orgulho. Continuo a de escolas. são. As minhas funções são variadas, Repórter APES - Quando e porque 8 fazer sempre que posso forma- ções, a participar em eventos, con- dependendo de cada agrupamen-
  • 9. mento… Vou tentar dar uma ideia com autonomia, por exemplo neste processo. Promovo visitas/ das mesmas: para o seu local de trabalho. reuniões a instituições ou empre- Trabalho integrada no departa- Colaboro também na elaboração sas. mento de educação especial com dos PEI – Programa Educativo Integro também as reuniões de os alunos com necessidades edu- Individual, CEI- Currículo Especifi- Conselhos de turmas e Departa- cativas especiais. Como sabem, co Individual, PIT- Plano Indivi- mento de Educação Especial. estes alunos tem necessidades dual de Transição, que são docu- No final de cada período tenho diferentes dos outros alunos, e assim temos de ajudar na sua mentos onde é registado o trabalho a desenvolver com estes alu- também de elaborar relatórios do trabalho desenvolvido com cada integração na sociedade, por isso nos. aluno. é importante começar a fazer a Na implementação do PIT- Plano Outra das funções é a colaboração sua preparação para a vida ativa. Individual de Transição pretende- em elaboração de projetos. Consoante as características de se preparar os alunos para a vida É importante salientar que tudo é cada um, oriento o seu encami- pós-escolar. Fazem estágios de desenvolvido em parceria com os nhamento, para formação profis- sensibilização profissional nas docentes de educação especial sional, para o Cao- Centro de Ati- empresas da comunidade (em que acompanham cada aluno. vidades Ocupacionais, para pro- alguns casos, dentro da escola O trabalho é muito diversificado e gramas de voluntariado, etc. primeiramente e só depois na por vezes surgem outras tare- Trabalho também ao nível do comunidade), e cabe-me a mim fas, é difícil estar a descrever desenvolvimento de competên- fazer a orientação e acompanha- todas, mas de uma maneira geral cias pessoais e sociais, a parte da mento dos estágios junto das é assim o meu dia-a-dia. comunicação interpessoal, resolu- empresas acolhedoras, e também ção de problemas, assertividade, sensibilizar as empresas para emoções, etc., área onde por vezes têm muitas dificulda- receberem estes alunos, o que por vezes não é fácil. des. Como pretendemos que Neste processo de transição reú- sejam o mais autónomos possíveis, faço apoio direto na área casa/comunidade onde faço treinos de autonomia na comunidade, como por exemplo ir às compras, saber para que servem e como utilizar os serviços públicos da comunidade (correios, banco, junta de freguesia, etc.), em casa ao nível da sua independência pessoal, vestir/despir sozinhos, tarefas em casa, etc., tudo isto aplicado em contexto real, ao nível dos transportes públicos, treino trajetos consoante as suas necessidades de deslocação, para que num futuro o possam fazer 9 Repórter APES - Qual é o maior desafio quando se trabalha com pessoas com deficiência ? Ana - Quando se trabalha com no com os pais, pois são eles, tam- pessoas com deficiência todos os bém, intervenientes importantes dias são um desafio, pois são um
  • 10. um público muito diversificado to de igualdade de oportunidades lutar por aquilo em que acredi- com características muito pró- para as pessoas com deficiência. tam. Cada vez mais o nosso traba- prias. Eu costumo dizer que para Mas neste campo existe ainda lho faz sentido. São mais, a cada se trabalhar nesta área é preciso muito trabalho a desenvolver. dia que passa, as pessoas que pre- gostar, o resto vem por acumula- Porque todos nós temos precon- cisam de nós. Sei que não é fácil, ção. É importante todos os dias ceitos, em maior ou menor grau. mas com persistência e envolven- manter uma boa relação, acarinhá O que acontece é que alguns dei- do-nos todos na divulgação da -los, motivá-los, apoiá-los, faze-los xam extravasar para as suas atitu- nossa profissão, havemos de consentir que são capazes, pois assim des e magoam as pessoas sem seguir ir cada vez mais longe. conseguem mais facilmente ultra- pensar nas consequências dos passar obstáculos. As vitórias nes- seus atos. Outros fazem-no de Repórter APES - Obrigada, Ana, foi um prazer entrevistar-te! ta área por vezes podem ser mui- uma forma mais dissimulada. Mas to pequenas, mas tem o sabor de felizmente existem pessoas que Ana - Foi com muito gosto que grandes conquistas. conseguem lidar com esse senti- participei nesta entrevista, onde É preciso um incremento contínuo mento, aceitam e respeitam as de estratégias e procedimentos tentei mostrar um pouco do meu diferenças dos outros. Temos, trabalho que ADORO. Espero ter cada um de nós, de combater esse conseguido transmitir um pouco melhores condições de aprendiza- próprio preconceito em cada con- do meu dia-a-dia aos colegas que que lhes proporcionem mais e gem/oportunidades, de forma tato, em cada nova amizade, em nunca trabalharam na área. Dese- solidária e cooperativa, de manei- cada conversa, em cada decisão jo a todos a continuação de um dando oportunidades e acreditan- bom trabalho, para os que não vel as suas competências pessoais do no potencial de cada um. estão na área que a oportunidade ra a desenvolverem o mais possíe sociais e a sua autonomia para que exista uma verdadeira inclusão. Por isso, o lema é paciência e persistência, e, muito importante, nunca desistir! Repórter APES - Achas que ainda existem muitos preconceitos por parte dos profissionais e da sociedade em geral em relação à deficiência? Ana - Sim, acho, apesar de ser uma situação que tem vindo a melhorar nos últimos anos. Cada vez mais se ouve falar em inclusão e nota-se já uma preocupação da parte da maioria dos profissionais e da sociedade em geral no combate ao preconceito e com o direi- 10 Repórter APES - Que conselho darias aos nossos colegas que não estão a trabalhar? Ana - O conselho que daria aos colegas que não estão a trabalhar na área é que não desistam de chegue depressa, para que possam mostrar os bons profissionais que são e continuarem a dignificar a nossa profissão. Todos juntos faremos a diferença!
  • 11. Educar para a diferença, Educar com a diferença Sílvia Franco Mestre em Ciências da Educação e Formação Para mim, educar é viver um pro- nas locais enquanto especialistas cesso em que abraçamos a oportu- em determinadas matérias, ou nidade de ensinar, bem como a de seja, na sua própria cultura. Busaprender. Ensinar e aprender com cava-se, diariamente, uma escola sidade dialogante que une três aqueles que nos rodeiam e com os reflexiva (Alarcão, 2001), na qual comunidades nas lutas de cada que se cruzam no nosso caminho, todos se sentissem responsáveis uma. com os que são chamados de pro- pelo sucesso pessoal e coletivo, A Comunidade Bairro luta há mais fessores, mas também com os alu- pois a concretização deste curso nos, os agricultores, os mecânicos, era já uma vitória. de três gerações por água mais perto das suas casas, uma vez que os pescadores, os físicos, os biólo- Enquanto investigadora do Projeto têm de fazer um percurso de dois gos, os historiadores… com todos, Fronteiras Urbanas, cuja ação se quilómetros (ida e volta) por cami- independentemente dos “rótulos” desenvolve na Costa de Caparica, nhos acidentados para recolher, que a sociedade lhes coloca. tenho podido vivenciar reflexos numa bica, água para as suas roti- Da minha passagem por diferentes dessa mesma diversidade dialo- nas diárias; a Comunidade Piscató- contextos educativos, aprendi a gante. O Projeto Fronteiras Urba- ria debate-se com as crescentes valorizar o que chamo de diversi- nas foi construído em diálogo, bus- proibições que lhes são impostas, dade dialogante (Franco, 2013), cando a voz de três comunidades: sem que as vozes dos pescadores bem como a abertura para a mes- Comunidade Bairro, Comunidade que compõem a comunidade ma. Na minha passagem por uma Piscatória e Comunidade Académi- sejam ouvidas; e a Comunidade licenciatura intercultural indígena, ca. Estas comunidades uniram-se Académica busca uma Educação no Brasil, pude presenciar um pro- pela história partilhada, com o Emancipatória, cuja essência é o cesso dialógico, construído por diálogo e “onde o professor é o intuito de buscar a visibilidade todos os envolvidos e interessados. para comunidades invisíveis aos aprendiz e o aprendiz é o profes- Neste processo, as opiniões e olhos de entidades políticas e desejos dos alunos e da comunida- sociais. sor” (Bunker Roy, 2013; 05:38). Numa primeira etapa, foram dese- de eram valorizados e parte funda- Cada comunidade tinha à partida nhadas as tarefas Alfabetização mental no desenvolvimento do Crítica, Cartografia Múltipla, Histó- um objetivo primordial e um obje- currículo, bem como no decurso de tivo coletivo. O objetivo coletivo rias de Vida e Mediação Comunitá- todas as etapas do curso, para as que une estas três comunidades ria, segundo os desejos dos mem- quais era solicitada a presença de centra-se na união que fortalecerá bros das comunidades. No desen- membros das comunidades indíge- cada comunidade, isto é, na diver- 11 volvimento destas tarefas, procu-
  • 12. rámos ter em mente as palavras de Paulo Freire: não é possível o diálogo entre os que querem a pronúncia do mundo e os que não a querem; entre os que negam aos demais o direito de dizer a palavra e os que se acham negados deste direito. É preciso primeiro que, os que assim se encontram negados no direito primordial de dizer a palavra, reconquistem esse direito, proibindo que este assalto desumanizante continue. (Freire, 2008; 91) Em consciência de que o envolvi- Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Sílvia Franco) mento dos indivíduos na luta pela sua própria liberalização, passa por vas, reforçando os seus desejos e “refletir sobre a sua própria situa- direitos. escola criam-se espaços e tempos para a diversidade dialogante, cionalidade, na medida em que, Estes movimentos possibilitaram o numa dinâmica de partilha onde desafiados por ela, agem sobre regresso de vários jovens a contex- um membro da Comunidade Bair- ela” (Freire, 2008; 118), fomo-nos tos escolares, a eleição de uma ro, de naturalidade cabo-verdiana, deparando com momentos enri- comissão de moradores, a partici- ensina kriolu a outros moradores e quecedores de partilha de conheci- pação de membros das três comu- a amigos interessados das outras mentos e ação sobre o seu meio, nidades em eventos de dissemina- duas comunidades ou que se aproimplementando diálogos com insti- ção académica, bem como o atual ximaram deste movimento. Da tuições políticas, sociais e educati- movimento Escola do Bairro. Nesta mesma forma, são recebidas pessoas da área de História, Música e outras disciplinas para partilharem os seus conhecimentos, fazendo-se um intercâmbio de conhecimentos e práticas. É no sentido desta Escola do Bairro que falo em “educar com a diferença”, pois, na minha opinião, é importante educar para a diferença, para nos conscientizarmos de que são as diferenças que nos tornam todos iguais. Contudo, considero que a essência da educação estará, essencialmente, em educar Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o pé de ervilha (Foto: Sílvia Franco) 12 com/ aprender com/ fazer com…
  • 13. Referências: Alarcão, I. (2001). A escola reflexiva. In I. Alarcão (Ed.), Escola reflexiva e nova racionalidade. Porto Alegre: Artmed Editora. Franco, S. (2013). A Diversidade Dialogante num processo educativo indígena: observações num curso de Etnomatemática. Mestrado em Ciências da Educação, na área de especialização em Educação Intercultural - Estudo Etnográfico Crítico, Universidade de Lisboa, Lisboa. Retrieved from http:// hdl.handle.net/10451/8118 . Freire, P. (2008). Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra. TED Ideas Worth Spreading (Producer). (2013). Bunker Roy - Universidade dos Pés-Descalços. Retrieved from https://www.youtube.com/watch?v=NUX8elbPkRY Mesa redonda - Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Sílvia Franco) Jovens em diálogo com instituições escolares (Fotografia de Catarina Pereira) 13
  • 14. Educação Social com ciganos. A diferença Sou eu. Sofia Aurora Santos Mestre em Educação Social “Por mim os ciganos iam-se embo- refletir e ver que infelizmente o espírito humanitário e lutador a ra para o país deles”; “Para mim os neonazismo está a aparecer na favor dos direitos humanos. A ciganos eram todos mortos”; “Por Europa. Prova disso é o que se pas- minha adolescência no Corpo mim eclodia o bairro dos ciganos”; sa atualmente na Hungria, que foi Nacional de Escutas (CNE) fez-me “São uma cambada de bandidos, o primeiro Estado-membro da despertar para ajudar o próximo, têm tudo”; ”O Governo só dá o União Europeia a ser acusado de os que mais precisam e a respeitar Rendimento aos ciganos”; etc., violar os valores europeus e como a Natureza e a Pacha Mama etc., etc. Estas são algumas das expressões que oiço constante- consequência a Comissão Europeia (Terra). suspendeu todas as negociações A escolha do curso de Educação mente sobre os ciganos e certa- com a Hungria até que o país repo- Social foi fácil, faze-lo foi simples, mente são familiares a muitas pes- nha o Estado de Direito. praticá-lo é difícil. São muitos os soas. O desconhecimento das tra- Atos impensáveis, incontrolados, obstáculos encontrados na socie- dições e costumes dos ciganos desumanos, são todos os dias pra- dade para se poder trabalhar a reforça a ignorância da maioria, ticados contra os ciganos e outros diferença entre grupos e pessoas. que se acha superior. A compreen- grupos étnicos em todo o mundo, O Educador Social tem de ter uma são e o conhecimento são impor- mas o grupo dos ciganos é o mais grande capacidade de adaptação tantes no processo de integração sacrificado. Mas porquê os ciga- aos contextos e aos seus protago- do grupo étnico e as características nos? É esta a questão para a qual nistas. Deve saber muito bem o físicas ou culturais não podem ser tento obter uma resposta há mui- que quer e para onde quer ir, ou motivo de exclusão social. tos anos e certamente está longe seja, traçar e definir objetivos. Tra- Estas expressões não são funda- de ser respondida. balhar no que se gosta ajuda a con- mentadas nem dignas de respeito Foi, principalmente, devido a um tribuir para a felicidade, não só a por quem as diz. Foram pensamen- comentário racista vindo de um própria mas também a dos outros. tos, expressões e comportamentos membro da autarquia farense em deste tipo, que um senhor chama- 2007 (em contexto de estágio da Assim prossigo o meu caminho pela Educação Social, traço os do Adolfo Hitler fez o que fez licenciatura) que começou a minha objetivos e enquanto não os reali- durante a 2ª Guerra Mundial, pen- luta mais vincada pelos direitos zo não descanso. so que não seja necessário descre- humanos dos ciganos. Nesta minha aventura pelo ver, mas vale a pena parar para “Mundo dos Ciganos”, devo dizer 14 Desde muito jovem que tenho um
  • 15. que um dos momentos mais mar- ções para os pro- cante da minha vida foi a visita ao blemas do grupo Campo de Concentração de Ausch- étnico. Um dos witz (Polónia). Ver, sentir, ouvir, métodos que têm cheirar, tocar e imaginar tudo o vindo a ser experi- que lá se passou foi muito intenso. mentados no sentiMomento inexplicável. Acho que do da promoção da qualquer pessoa que visite este integração deste local, certamente, vai mudar a sua grupo tem sido a opinião e comportamento acerca execução de proje- da luta pelos direitos humanos. tos nacionais e/ou A experiência em intercâmbios e internacionais com formações internacionais foram intervenções no dos momentos mais interessantes terreno que permie importantes para adquirir conhe- tam produzir cimento e partilhar experiências conhecimento com outros ativistas ciganos e não acerca dos seus ciganos sobre os direitos humanos. modos de vida. Na Já trabalhei com vários grupos de sua maioria, os pro- risco (vítimas de violência domesti- jetos não são do ca, sem-abrigo, crianças com conhecimento dos necessidade educativas especiais, ciganos e muitas vezes não corres- social, reconhecida política e etc.) mas é a trabalhar com os ciga- pondem às necessidades das popu- socialmente. Contudo, normalnos que “me sinto em casa”. Não é lações. Os principais problemas fácil falar sobre os ciganos, mas que afetam grande parte dos por- mente estes projetos são de carater experimental e são limitados ainda é mais difícil falar com as no tempo e no espaço, pelo que tugueses ciganos são as privações pessoas não ciganas. O sentimento ao nível educativo e habitacional, o não originam mudanças estruturais de discriminação está bem presen- desemprego, a inserção no merca- nem permitem obter muitos resulte quando se fala com os ciganos; do de trabalho, a pobreza, a exclu- tados positivos na integração dos todos têm uma experiência discri- são social, as situações de discrimi- ciganos. minatória para contar. nação e a marginalização. A integração social dos ciganos A legislação portuguesa não dife- Em Faro, no bairro da Av. Cidade tem vindo a constituir-se como um rencia nem reconhece politicamen- Hayward, no bairro da Horta da verdadeiro imperativo na socieda- te qualquer minoria étnica no país, Areia e noutros periféricos está de contemporânea. O resultado ou seja, do ponto de vista jurídico concentrada uma parte da pobreza desta afirmação retrata-se na cria- e político não existem ciganos. e da exclusão social da cidade, o Atualmente, trabalhar com ciganos que tem suscitado a intervenção ção e aplicação de uma medida da Comissão Europeia (em 2012), o está “na moda” porque é engraça- de projetos de luta contra a pobre- Quadro europeu para as estraté- do ou porque “vem ai dinheiro” za, maioritariamente financiados para fazer projetos para os ciganos. De repente, desperta-se a por fundos europeus. Todos estes dos ciganos, que se prevê melhorar contextos se caracterizam por uma a inclusão e integração dos ciganos “consciência” de muitas institui- forte desqualificação territorial e 15 gias nacionais para a integração até 2020, e que Portugal também
  • 16. terá a sua estratégia. grupo. que prevê a adoção de novos hábi- Em Portugal, as desigualdades A ausência de recursos materiais e tos. A resistência dos ciganos à sociais e as diferenças culturais económicos traduz-se nas situa- integração social vai ao encontro entre os grupos étnicos existentes ções de pobreza e exclusão social das discrepâncias entre os direitos na sociedade ainda não têm visibi- dos ciganos, assim como as dificul- e a identidade étnica. A oposição lidade suficiente para desenvolver dades de acesso à educação, à saú- aos valores da sociedade dominan- processos de politização da etnici- de, à habitação, ao emprego e aos te, ou seja, aos aspetos de acultu- dade, como tem acontecido em serviços. Os obstáculos à inserção ração, acontece frequentemente e vários países da Europa. Os portu- social deste grupo étnico devem-se por consequência os ciganos gueses ciganos ainda não estão principalmente aos baixos níveis desenvolvem estratégias de adap- organizados o suficiente para se de escolaridade, ao desemprego e tação à modernidade, ao mesmo afirmarem e lutarem pelos seus ao estigma criado à sua volta. As tempo que tentam preservar a tra- direitos enquanto cidadãos portu- políticas de integração normal- dição cultural. Como exemplo, gueses com tradições culturais pró- mente falham em relação aos ciga- temos o benefício do Rendimento prias. A falta de comunicação e nos porque a sociedade tenta mui- Social de Inserção que obriga todas compreensão entre os ciganos e a tas vezes a integração através de as crianças a frequentar a escola, maioria dificulta a integração do processos de assimilação cultural, inclusive as raparigas, o que para os ciganos é um dilema, entre a sobrevivência e a preservação cultural. Contudo, é um processo que está a mudar alguns comportamentos e ao mesmo tempo que se reflete sobre uma redefinição de identidades. A conciliação do modo de vida cigano com o Programa de Inserção é dos assuntos mais problemáticos na relação Rendimento Social de Inserção com os ciganos. Para os ciganos, é uma situação ambígua, onde por um lado está a submissão ao Estado para receber uns tostões e por outro lado o desejo de preservação dos traços culturais. Para desenvolver o meu conhecimento sobre os ciganos, desde 2007 que trabalho e estudo este grupo. De modo a procurar conhecimento e partilhar o meu trabalho, já participei em vários congressos nacionais e internacionais, pois são os melhores locais para se 16
  • 17.  Relativamente à perceção do estar atualizado e fazer contatos. de Faro em Novembro 2012, das Em Junho de 2013, defendi a 550 famílias referentes ao protoco- princípio de solidariedade para minha dissertação de mestrado lo de RSI, 145 são agregados fami- os beneficiários ciganos o apoio sobre o Rendimento Social de liares ciganos, que correspondem a do RSI como um direito e não Inserção e os Beneficiários Ciganos 599 beneficiários. Como se pode no Concelho de Faro, onde dei constatar os ciganos não são a como uma medida de solidariedade social de uns cidadãos para uma particular atenção às injusti- maioria dos beneficiários do RSI. os outros; ças contra os ciganos. A importân- Mas porquê tanta perseguição  Os técnicos queixam-se da falta cia do trabalho de terreno permitiu contra eles? De forma sucinta pos- de criatividade na elaboração tomar consciência dos inúmeros so partilhar as conclusões do meu dos Programas de Inserção; sacrifícios que os beneficiários estudo: ciganos fazem para sobreviver  A importância atribuída ao RSI dade não tem respostas para a numa cidade desenvolvida. A reali- pelos beneficiários ciganos é inserção social dos beneficiários dade não é como muitas pessoas imensa, dada a precariedade em de RSI, o que se traduz nas difi- pensam. Alguns dados sobre o RSI, que vivem e tentam conciliar o culdades no combate à pobreza. como por exemplo um estudo do modo de vida cigano com o Pro- Concluído o trabalho e depois de Instituto da Segurança Social de grama de Inserção; Dezembro 2008 estimou que exis-  A perceção de discriminação é  Os técnicos sentem que a socie- apresentadas as conclusões importa agora apresentar algumas refle- tiam 5275 famílias ciganas benefi- sentida pelos beneficiários ciga- xões no sentido de uma melhoria ciárias do RSI, correspondente a nos nos vários domínios da vida da eficácia das futuras políticas 21100 beneficiários, perfazendo um peso de 3,9% total de famílias social: procura de emprego, no acesso aos serviços e por rece- sociais de combate à pobreza entre os ciganos: beneficiárias do RSI; no Concelho berem o RSI;  Formação específica para técni- 17
  • 18. cos que trabalhem com ciganos;  Desenvolver Programas de os estereótipos existentes na Atualmente, o termo ciganofobia sociedade. ou romafobia, está presente em Inserção adequados às necessidades das famílias ciganas, de muitos discursos de ativistas para Alguns ciganos adotam atitudes de os direitos humanos, que tentam modo a facilitar a sua integração autoexclusão e conformistas sobre denunciar as inúmeras situações social e reduzir as situações de as expectativas que a maioria faz racistas e discriminatórias contra acomodação; de si e preferem não “lutar”, ao os ciganos em vários países, apesar  Apostar na criação do próprio emprego;  Numa lógica de discriminação assumirem comportamentos resi- de muitas vezes passarem desperlientes. Importa realçar que os cebidos. ciganos são cidadãos portugueses Ninguém disse que trabalhar com positiva, para combater a discri- e como tal, cidadãos de direitos e ciganos é fácil, mas também não é minação negativa, apostar na deveres como está estabelecido na impossível. Basta acreditar e res- contratação de beneficiários Constituição da República Portu- peitar. E assim sinto-me uma Edu- ciganos nas empresas públicas; guesa. Porém, a maioria não se cadora Social diferente e continuo  Criação de uma associação mista reconhece como tal, isto porque a minha luta pela defesa dos direi- constituída por ciganos e não não veem reconhecidas as suas tos humanos dos ciganos. ciganos no Concelho de Faro, tradições e traços culturais e pelo com o objetivo de defender os contrário, são cercados pela discri- interesses do grupo e minimizar minação e diferenciação. 18
  • 19. Educar para a diferença Susana Rebocho Educadora Social Questiono inúmeras vezes o signifi- rização excescado de diferença, de indiferença, siva da instru- de diferente ou desigual. Qual é o ção em detri- sentido da diferença nas práticas mento de uma educativas? Qual é a intenção da conceção mais diferença na interculturalidade? ampla de educação onde a dimen- culturalidade, na dimensão ética Afinal o que é ser diferente e o que são pessoal e social são claramente do processo educativo. isso tem a ver com educação? subalternizadas. Diferença, segundo o dicionário da Não é de todo minha intenção Não sou defensora da educação para a diferença, sou sim apologis- língua portuguesa, é o caráter que ta de uma valorização da diversida- apontar criticas ao trabalho dos distingue um ser de outro ser, uma professores, muito pelo contrário. de – educar para a diferença pode coisa de outra coisa. Simples de Há 7 anos que trabalho em escolas levar-nos, em última instância, a entender! e durante este tempo tive o privilé- acentuar a distância entre as pes- Mas a forma como este carácter, gio de conhecer profissionais soas, a destacar as suas desigual- que distingue um ser de outro, é extremamente conscientes do seu dades, a salientar alguma diferen- considerado nas práticas educati- papel de educador. A questão aqui ciação. Na valorização da diversi- vas e na intervenção social origina é essencialmente politica e muito dade, as práticas educativas desen- muita discussão. acima do que qualquer educador volvem-se em torno do respeito, Se por um lado a educação espe- possa sequer tentar mudar. da responsabilização individual, da cial, as adaptações curriculares ou O que me tranquiliza neste cenário liberdade pessoal. a criação de turmas alternativas é o facto da “escola”, ou melhor, A minha experiência de interven- tentam responder à diversidade de dos professores, reconhecerem a ção social nas escolas é particular- alunos, por outro, os alunos que importância da “pessoalidade” do mente com os alunos de etnia ciga- não são incluídos nessas alternati- ensino e recorrerem a apoios na, por ser a única minoria com vas, fazem parte de turmas com o externos. Aqui entra o trabalho do uma grande representatividade dobro dos alunos que seria funda- educador social, do assistente nos agrupamentos onde trabalho. mental à aprendizagem dos con- social, do psicólogo, do terapeuta. E esta é sem dúvida uma experiên- teúdos curriculares exigidos, bem É neste hiato que a intervenção cia riquíssima! como ao desenvolvimento bio- social tem o seu lugar na escola: na O combate ao absentismo e aban- psico-emocional saudável. O que diferença, na diversidade, na inter- dono escolar são os objetivos acontece na realidade é uma valo- 19 gerais da intervenção, suportados
  • 20. pelos objetivos da valorização da diversidade: conhecer-se a si mes- cos; Como integrar a sua experiên- da surge na educação inclusiva cia de vida de modo coerente com como Ensino Cooperativo – ensino mo, conhecer o outro, ser capaz de a função específica da escola. Con- baseado na colaboração entre o interagir numa contínua constru- sidero que os trabalhadores sociais professor titular de turma e um ção de identidade, de afirmação nas escolas, dotados de um saber e auxiliar, um outro colega ou um dos valores. Para além da interven- de ferramentas indispensáveis à outro profissional. Considero que ção direta com os alunos e famílias inclusão, têm um papel crucial jun- na intervenção com os alunos de de etnia cigana, a intervenção com to da comunidade educativa glo- etnia cigana, em contexto escolar, os professores e comunidade esco- bal: alunos, professores, auxiliares este ensino cooperativo assume lar assume também uma grande uma grande importância: é aqui, de educação e encarregados de importância neste trabalho inclusi- educação. A intervenção isolada através de um apoio específico vo. Os professores questionam que, por inúmeras razões, não não ajudará na inclusão: a inter- muitas vezes como lidar com crian- venção com todas as partes envol- pode ser dado pelo professor ças que apresentam hábitos e cos- vidas criará pontes, aproximará durante a rotina diária na sala de tumes diferentes das demais crian- pessoas, potenciará o sucesso aula, que se avança no combate ao ças e como “adaptá-las” às nor- escolar, o desenvolvimento pes- insucesso escolar; é aqui que se mas, condutas e valores vigentes; Como ensinar-lhes os conteúdos soal e social, e consequente inclusão social. cria um espaço de aprendizagem individual e coletivo simultanea- que se encontram nos livros didáti- Este tipo de intervenção concerta- 20 mente; é aqui que os alunos come-
  • 21. çam a ganhar as competências pré- qualquer intervenção educativa; mediadores sócio-culturais: a escolares que os demais alunos já criar um sentimento de pertença – mediação é uma técnica que con- adquiriram; é aqui que se tenta essencial ao bem estar, interesse e tribui em larga escala para que a “apanhar o comboio” e desenvol- motivação. O insucesso escolar ver capacidades. traduz-se na maior parte dos casos possível; é um processo comunica- realidade intercultural se torne Outra característica do ensino coo- por um desinteresse continuado, cional de transformação social que perativo é o combater o isolamen- um descrédito crescente em rela- requalifica as relações sociais e to do professor. Os professores aprendem com as estratégias dos ção à função da escola enquanto concebe novos percursos onde é instituição educativa e socializado- possível entender o outro como outros e obtém um feedback ade- ra. Outra condição essencial é a quado. Consequentemente, a coo- adoção de técnicas de comunica- diferente; é uma ponte, uma aproximação, um verdadeiro diálogo peração não é apenas eficaz para o ção eficazes. É nas falhas de comu- onde a mensagem é entendida desenvolvimento cognitivo e emo- nicação que nascem muitos dos claramente. Sem esta ponte, sem cional, mas permite responder às entraves à educação para a dife- este “entendimento” a diferença necessidades dos professores. rença, é a comunicação que deter- só se torna mais excluível, a diver- Nos esforços da educação inclusiva mina o sucesso das práticas de sidade só se torna mais intolerável e da educação intercultural, deve- e desvalorizável; sem este diálogo intervenção. Nesta linha e conti- rão estar presentes algumas condi- nuando na intervenção com os real de compreensão e transmis- ções: desenvolver atitudes positi- alunos de etnia cigana, sou séria são concreta de propósitos e nor- vas – é essencial ao sucesso de defensora da contratação de mas culturais, continuamos a 21
  • 22. fomentar o “assimilacionismo”, que a escola silencie as vozes que sociais deverão promover o direito criando contextos desfavorável à lhe pareçam dissonantes do discur- de todos à educação e à igualdade igualdade de oportunidades. so culturalmente padronizado. Em de oportunidades, educar dentro A educação para a diferença, ou última instância a escola deverá de uma perspectiva de cidadania valorização da diversidade, deverá trabalhar para uma diversidade de plena. seguir no sentido de combater a seres que estão inseridos num desigualdade, tentando impedir mundo diverso; os trabalhadores 22
  • 23. Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social Até há alguns meses atrás, tam- Biblioteca, e do bém eu fazia parte do grupo dos/ apoio incondicio- das muitos/as Educadores/as nal das minhas Sociais a quem a deficiência física e colegas, as ideias mental assustava (enquanto área começaram a de trabalho), e bastante… surgir. Mas, o "destino" (ou...chamem-lhe Apesar de a o que quiserem!) colocou no meu caminho a possibilidade de vir a minha experiência ser ainda muito curta, atual- No âmbito do CAO, a minha função trabalhar nesta área. Cheguei a mente, sinto-me mais segura e a é Monitora de Expressão Corporal. desejar que depois da entrevista gostar muito do que faço!! O dia de trabalho está dividido em não me telefonassem, mas, ao A Instituição na qual estou a cinco tempos (três de manhã e mesmo tempo, a convicção de que desenvolver um CEI (Contrato dois à tarde), sendo que em cada nada é por acaso falou mais alto! tempo contamos com um grupo Emprego-Inserção) possui um Lar Se o IEFP me tinha convocado, e se Residencial para Deficientes e, diferente dentro da sala. na Instituição, depois da entrevis- como complemento, um CAO Quanto às atividades dinamizadas, ta, me tinham selecionado, era (Centro de Atividades Ocupacio- de uma forma geral, centram-se porque o desafio tinha que ser nais). No total, temos quase qua- em dinâmicas e jogos de controlo e aceite! renta utentes/clientes, sendo que perceção do corpo (onde se Os primeiros tempos foram um apenas oito vão e vêm todos os incluem dramatizações simples, e a (des) equilíbrio considerável entre dias, de segunda a sexta-feira, das questão dos sons); de cooperação; o adaptar-me àquele público tão 9h às 17h. Os restantes clientes/ os jogos de mímica; o recurso a especial e ser aceite por eles e, utentes vivem no Lar da Institui- fantoches; as sombras chinesas; noutro prisma, corresponder àque- ção. la que era a minha função - traba- Sobre as suas deficiências, temos percussão, como forma de explorar os sons produzidos através do lhar a expressão corporal...!! um pouco de tudo, desde deficien- próprio corpo; e ainda em algumas Foi "partir pedra" durante vários tes mentais (profundos, modera- dias mas, no seguimento das mui- dos e ligeiros), a deficientes físicos, Nas minhas sessões, a música é um tas conversas que fui tendo (que portadores de trissomia 21, parali- elemento sempre presente, quer agradeço de coração!), das muitas sia cerebral, até portadores de sín- como base de trabalho, na medida horas de pesquisa na Internet e na dromes diversas. 23 dinâmicas que provoquem o riso. em que possa ser parte integrante
  • 24. da dinâmica a desenvolver; quer com as quais trabalho, os objetivos soas com e para as quais trabalha- como catalisador de um ambiente mais estimulante e motivador. das atividades que proponho não mos. podem ser demasiado ambiciosos. A motivação é outro aspeto extre- A participação e contributo dos Tem que se considerar, sempre, utentes são promovidos ao máxi- que qualquer um deles levará mais a todo o meu trabalho. Apesar de a mo em cada uma das dinâmicas, tempo a atingir o que se pretende, minha função ser trabalhar a área que podem ser (e são muitas do que levará uma pessoa sem da Expressão Corporal, o meu prin- vezes!) adaptadas e reajustadas, deficiência; e que, para alguns, cipal e primário interesse e foco de modo a ir ao encontro das pelo teor das limitações que pos- deverá ser a satisfação, estabilida- mamente importante e transversal necessidades, gostos e motivações suem, ser-lhes-á mesmo impossí- de e bem-estar dos utentes/ de cada um. vel avançar mais que um determi- clientes. Relembro que trabalho A Instituição conta ainda com nado nível dentro de um exercício. num CAO, cujo objetivo é promo- transporte próprio, pelo que, sem- No início do meu trabalho com ver atividades que ocupem estas pre que surge a oportunidade esta população, não tinha noção pessoas (como o próprio nome (mais no verão, pelas condições do quão importante é termos sem- “CAO” indica), não havendo uma atmosféricas propícias), efetuamos pre presentes estas ideias, mas componente de reabilitação. saídas ao exterior com os utentes/ hoje reconheço que são funda- Quando se conseguem reunir estas clientes, que são sempre muito apreciadas! mentais, quer para não nos frustrarmos a nós próprios, quer para três condições, todo o trabalho seguinte acaba por fluir natural- Pelas especificidades das pessoas não frustrarmos as próprias pes- mente! No entanto, quando por 24
  • 25. algum motivo algum deles ou o verdadeiras "luzinhas"! Com carac- então agimos como se fosse essa grupo não está bem, todo o traba- terísticas, patologias e feitios todos criança de dois, cinco ou dez anos! lho corre o risco de ficar compro- diferentes entre eles, mas com Baba-se muito, então recorremos metido, sendo que a intervenção uma pureza muito superior à nos- ao babete e não deixamos descu- deverá ser redirecionada, passan- sa, que só equiparo à das crianças rar a higiene! Não consegue sorrir do essencialmente por tentar esta- (enquanto nós não começamos o com a boca, mas o coração passa a bilizar o elemento ou grupo, para nosso processo de socialização e mensagem aos olhos, e eles sor- que possa (m) voltar a encontrar a não as viciamos...apesar do melhor riem pela boca que não o consegue tal estabilidade e bem-estar. que tentamos fazer, e fazemos!). fazer!! Para concluir, por tudo o que já vivi Não fala nem ouve, mas com- Foi pelo desafio que aceitei este e experienciei durante estes últi- preende gestos! Não pode usar as trabalho e, hoje, é com muito mos meses, acredito plenamente pernas para andar, mas serve-se amor que o faço, dando o melhor que as pessoas com e para as quais das rodas da cadeira! Tem capaci- de mim e tentando evoluir sempre. trabalho, são pessoas com uma dade mental ao nível de uma crian- Até quando?!? Até que o "destino" missão extremamente especial, ça de dois, cinco ou dez anos, 25 assim o queira!!! Bem-haja!!!
  • 26. Testemunho de um estágio com pessoas com deficiência Catarina Aleixo Educadora Social Em Julho de 2012 terminei a licen- lidamos com mais frequência ciatura em Educação Social pela no nosso dia-a-dia. Escola Superior de Educação do Esta instituição onde estagiei Instituto Politécnico de Bragança. acolhia nas suas instalações clien- No meu segundo ano do curso tes com diversas tipologias de defi- ções. Mas se experimentassem, (2010/2011) realizei o estágio ciência (auditivos, esquizofrenia, numa instituição de pessoas com mentais, motores, multideficiência, se fossem dissipando como acon- deficiência, mais precisamente no CAO (Centro de Atividades Ocupa- física, portadoras de paralisia cere- teceu no meu caso, pois muitos bral, visuais e tetraplégica). deles conseguem fazer o mesmo cionais) dessa instituição. Contactei pela primeira vez com a que nós e que os outros. E outra Existia uma vasta lista de locais instituição a 25 de Outubro de coisa, talvez se admirassem e ficas- para estagiar, mas apenas uma 2010. Embora o estágio fosse de sem surpreendidos pois muitos instituição tinha como população- observação do funcionamento da deles têm vontade de aprender alvo pessoas com deficiência. instituição, foi logo estabelecido coisas novas e ficam felizes por Antes de conhecer essa lista de que era importante interagir com conseguir fazer determinadas coi- locais, já tinha na ideia de que se todos os profissionais e clientes. sas. tivesse possibilidades gostaria de No início havia um pouco de receio A instituição onde estagiei possuía estagiar com este tipo de popula- devido ao facto de não saber como diversas salas onde os clientes rea- ção. haveria de lidar com os clientes, outra população sem tantas restritalvez essas ideias e esses medos lizavam atividades ao longo do dia. E o porque de querer estagiar com mas com o passar do tempo estes A sala das T.I.C. permitia que os essa população? Em primeiro medos foram-se dissipando. clientes adquirissem as competên- lugar, porque este tipo de popula- Muitos educadores sociais, se lhes cias básicas em Tecnologias da ção é uma população muito diver- perguntar se gostariam de traba- Informação e Comunicação; elabo- sificada, pois existem diferentes lhar com este tipo de população, ravam artigos para o Jornal de tipos de deficiência. Em segundo, talvez digam que não gostariam Parede e realizavam jogos interati- porque existiam pessoas de dife- muito. E porque não? Talvez por- vos. Na sala de atelier efetuavam rentes idades o que me permitia que têm o mesmo receio que eu trabalhos manuais na área da tape- lidar com jovens, adultos e idosos. tinha. Porque têm medo em não çaria, pintura em tela, trabalhos E em terceiro, porque com idosos, conseguir fazer o mesmo trabalho em pedra, rendas, bordados e crianças e adultos dito “normais” como eles como o fariam com malhas, fada do lar. Na sala de 26
  • 27. Construção em pedra por parte de um cliente da instituição recreação e lazer realizavam-se natação, caminhadas). pudessem desenvolver certas diversos jogos. Ao logo do meu estágio de obser- capacidades que estavam menos Realizavam-se, também, atividades vação colaborei em diversas ativi- desenvolvidas. recreativas e de lazer (visitas a dades tentando corresponder às Na sala de ateliê de arte e artesa- museus e monumentos, bibliote- dificuldades de cada cliente. Auxi- nato foi-me possível observar a cas, jogar dominó e cartas, televi- liei na elaboração de textos escri- elaboração de tapetes e carteiras são, cinema e teatro), atividades tos à mão e no computador, ajudei feitos de trapilhos realizados por pedagógicas (jogos psicopedagógi- em diversas fichas de exercícios de um senhor e por uma senhora invicos que contribuem para o desenvolvimento e para uma aprendiza- matemática e de português suais. (escrever os números e a sua leitu- Ao interagirmos com pessoas com gem mais significativa) e atividades ra, elaboração de figuras geométri- deficiência, devemos ter permadesportivas (expressão corporal/ cas, preenchimento de frases com nentemente presente as limitações musicoterapia para que os utentes os respetivos verbos, entre outras), que cada um possui e tentarmos realizem movimentos com o seu participei na realização de diversos ajudar a ultrapassar essas dificul- corpo, ginástica de manutenção, jogos didáticos para que os utentes dades. Pinturas de Carnaval 27 Atividades de desenvolvimento da matemática
  • 28. Construção de um puzzle A pessoa com deficiência depara- Atividades de desenvolvimento do português nal para elevar a sua autoestima, se com diversos problemas na nos- para contribuir para a sua integra- Apesar das dificuldades que muitos dos deficientes se deparam (de sa sociedade, particularmente no ção na sociedade e sobretudo para locomoção, de aprendizagem, de que diz respeito a questões de que as pessoas desconstruíssem o exclusão social. mito de que os deficientes são pes- ultrapassadas com ajudas de fami- Enfrentam diversas barreiras em soas inválidas, pois eles podem liares, amigos, técnicos e principal- relação à locomoção, dificuldades contribuir para o trabalho e suces- mente por eles próprios. exclusão…), essas dificuldades são para terem acesso a diversos locais so de qualquer empresa como (escolas, prédios, instituições, outra pessoa qualquer. Cumprimentos Sociais entre outras) e na utilização de Considero que o meu estágio veio transportes públicos. completar a minha apren- É de grande importância sensibili- dizagem, pois colocou-me zar e informar a comunidade para em contacto com uma esta problemática da deficiência, realidade que até ao revelando as capacidades destas momento me era um pou- pessoas facilitando o seu processo co desconhecida e permi- de integração sócio profissional. tiu-me tomar contacto Através de campanhas de sensibili- com pessoas com diferenzação, nós, técnicos, podemos sen- tes dificuldades. Alguns sibilizar a comunidade para esta clientes tinham dificulda- problemática e através da exposi- des de leitura, outros na ção e da divulgação de trabalhos matemática, outros em elaborados (trabalhos manuais) determinados dias não por pessoas com deficiência pode- lhes apetecia fazer nada… mos demonstrar muitas das capa- as dificuldades eram divercidades que estas pessoas têm. Era sificadas e eu tinha que importante que estas pessoas con- me adaptar seguissem uma interação profissio- às dificuldades deles. 28 Eu, na elaboração dos fatos de Carnaval
  • 29. A bússola individual da aceitação do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC Vou tentar conduzir-vos a algum retórica, teoria decorati- patamar cognitivo desconhecido va, ilusão mental, de ou pouco visitado por cada um de quem lê um mero texto vocês. E porquê? Porque para na web e se encontra mim, sempre que optamos apenas enclausurado em seu pelo convencionalismo, pelo cami- escritório. nho que sempre foi seguido, pelos O que eu quero dizer é que basta- Como perceberão em breve neste padrões que definimos como nor- va confrontar o leitor com uma texto, este não vai ser um caminho mais, não estamos a crescer e cultura ou uma história muito afas- fácil mas é preciso que alguém se como consequência se não cresce- tada da sua realidade para rapida- atreva a fazê-lo! Conto convosco mos individualmente, a sociedade mente toda essa aparente concor- para fazermos juntos esta viagem não evoluirá. dância se desvanecer e ser facil- cognitiva, reflexiva e emocional. Há uma ligação entre o nosso mente abalada. Toda a Educação Cívica implica a crescimento individual e as mudan- A minha missão neste texto é para assunção de regras e todas essas ças sociais. Não existem mudanças além de vos dar a compreender o regras cívicas parecem emergir de sociais se não existirem mudanças que é a Educação, Educação Cívica, um medo intrínseco da essência do no subconsciente individual, um a Civismo e vida em sociedade é ser humano. Será que com o um até alastrar e atingir o subcons- mostrar vos o que é diferente, desenvolvimento do autoconheci- ciente coletivo. Isso acontece sem- muito diferente… e conduzi-los mento, do equilíbrio espiritual, da pre que a maioria das pessoas se empatia e maior literacia emocio- habilmente a um enamoramento encontrar em posição de mudança do diferente através do conheci- nal seria necessário esta “prisão de e de ousadia. mento do belo que mora no con- regras” a que por vezes estamos O leitor tal como a maioria das teúdo do diferente e do estranho sujeitos numa sociedade que pessoas nesta altura acenará com para nós. É na empatia que mora a denominamos de civilizada? a cabeça evidenciando um concor- felicidade da sociedade de amaTal como pergunta o título, como dância a afirmativa à minha nhã, é disso que estou a falar e isso aceitar e a amar o diferente sem expressão acima identificada, mas não será possível se eu não conse- essa sua aparente concordância guir apaixonar-me pelo que é dife- Ao ler o texto, vá atribuindo uma com o meu artigo trata-se de mera rente. 29 viver aprisionado de regras cívicas? pontuação, entre zero e dez que
  • 30. quantifique o seu grau de aceita- mente de acomodam, se adaptam que ceguemos a nossa visão racio- ção e entendimento do diferente. e se inserem numa estrutura roti- nal a atos humanos pouco dignos A cultura que escolhi para vos nizada, como a escola. Serão ape- que encontremos nesta ou em desafiar trata-se da cultura cigana. nas os ciganos que não se encon- outra cultura. O motivo que me levou a tal esco- O importante é conhecermos o tram integrados? lha, deve-se ao facto de considerar Os pais, na sua grande maioria, são belo de cada cultura e encaramos próximo da excentricidade a exis- feirantes e comerciantes indivi- esse atos humanos pouco dignos tência de uma comunidade dotada duais, provavelmente devido ao como algo que faz parte da huma- de tão particulares especificidades preconceito, que gera dificuldade nidade e jamais cairmos no erro culturais, que milagrosamente de aproximação e integração social essencial de caracterizarmos esses resistiram às reconstruções sociais, em outra atividade. erros como fazendo parte de uma assegurando a manutenção das cultura. Fortemente etnocêntricos pos- suas características culturais que o suem leis internas, valorizam a Mesmo que racionalmente, à pri- definem como povo, ainda que as união do seu grupo e a manuten- meira vista seja isso que vê, não consequências discriminatórias se ção das suas tradições. alimente esse pensamento “erva- edifiquem e alastrem fortemente, Possuem um sotaque específico, e daninha”. Grandes atrocidades que principalmente devido à ignorância se recuarmos na história, constata- foram cometidas no mundo comee incompreensão da história e dos remos que dispõem de uma língua çaram com esse pensamento erva- valores da comunidade cigana. de origem, o Romani. daninha de que determinadas ati- Possuem um sistema cultural A Musica, a dança, as festas gran- tudes negativas pertencem a estruturado num tipo de cultura diosas, os casamentos precoces, a determinada classe. ágrafa, de transmissão oral, valori- importância da virgindade, e o res- Como pode observar, o pensamenzam a aprendizagem prática, ape- peito pelos mais velhos são outros to racional nem sempre nos con- nas a suficiente para desempenha- fatores que importa realçar, quanrem os seus trabalhos quotidianos, do tentamos caracterizar este duz ao melhor caminho, este é um desses casos. e consideram os ensinamentos Gerir empatia com lógica requer povo cigano, motivos pelos quais para além desta linha, desnecessá- são fortemente estigmatizados. uma mente que processe pensa- rios. Como se encontra agora a sua mentos de forma flexível e multidi- A escola é encarada um território bússola de aceitação do diferente mensional. Como conseguimos desconhecido e ameaçador, pois, a agora? isso? Como sabemos se temos uma sociedade é uma estrutura hege- Acredito que quando maior é o mente flexível? Essa questão ficará mónica, e como tal, frequente- conhecimento que obtemos sobre para um próximo texto….até lá… mente discrimina a especificidade, determinae como consequência a criança do ele- cigana sente-se inferior à maioria. mento Essa circunstância que contribui diferente, para o tão frequente absentismo e mais estaos baixos níveis de sucesso escolar. remos próOs ciganos são instintivos e espon- ximos de tâneos, logo, de cultura pouco dis- os aceitar ciplinada. e amar. De espirito nómada, valorizam a Isso não liberdade, e devido a isso, dificil- quer dizer 30
  • 31. Cercipóvoa A Cercipóvoa é parceira da APES, para cada criança e jovem deficien- impedidas de residir no seu meio e nesta edição fomos visitá-la para te, de acordo com as suas necessi- familiar. conhecer o trabalho que desen- Centro de atividades ocupacionais dades e potencialidades, de uma volvem, a equipa, crianças, jovens forma o menos restritiva possível. – É destinado a pessoas com defi- e adultos que a frequentam. Tem como objetivos o desenvolvi- ciência mental grave, profunda ou mento da autonomia e indepen- com multideficiência, com os obje- A CérciPóvoa é uma cooperativa dência pessoal, a aprendizagem de tivos de facilitar o desenvolvimen- de solidariedade social, fundada na uma comunicação alternativa, o Póvoa de Santa Iria, em Maio de aperfeiçoamento da motricidade to possível das capacidades remanescentes das pessoas com defi- 1977 por um grupo de pais e ami- global e fina e a promoção do rela- ciência grave, criar condições para gos de crianças e jovens portado- cionamento interpessoal, sempre res de deficiência. Esta Instituição com a finalidade de fornecer bases nar a oportunidade de realização presta vários serviços a crianças, para a transição para a vida adulta. pessoal. As atividades são variadas, jovens e adultos com deficiência As atividades são feitas tanto em desde as sensório-ocupacionais às ou sem deficiência, e apoia várias sala de aula, como no exterior. laborais e laborais em contexto de famílias desfavorecidas. Centro de Atendimento Residen- trabalho. Algumas das respostas sociais/ cial – Presta atendimento em Lar Centro de Recursos para a Inclu- serviços são: Residencial a 30 pessoas portado- são – Estrutura que disponibiliza uma maior autonomia e proporcio- Centro de Apoio Sócio educativo – ras de deficiência mental, maiores técnicos especializados para traba- Aqui é criado um projeto de vida lhar nas escolas através de uma 31 de 16 anos, que se encontram
  • 32. parceria com o Ministério de Edu- de Emergência Alimentar lar. O meu trabalho é um trabalho cação, para prestação de serviços Programa Comunitário de ajuda vasto e abrangente. Acima de tudo complementares para apoio à alimentar a carenciados – Que é um trabalho e apoio e de garantir inclusão. apoia 75 pessoas, através do forne- que todas as áreas e serviços Centro de Intervenção e Orienta- cimento de géneros alimentares. ção Precoce – Consiste na inter- desenvolvam o seu trabalho. Quando necessário, e são bas- venção em crianças dos 0 aos 6 O entusiasmo e dedicação que os tantes vezes, carrego móveis, anos com deficiência ou atraso profissionais que trabalham nesta biombos, cadeiras, alimentos, faço grave no desenvolvimento, assim Instituição têm pelo seu trabalho é de motorista, desentupo canos, que detetado. Para além de se notório, como podemos verificar faço de jardineiro, enfim, o que assegurar condições facilitadoras nos testemunhos que deram para seja necessário. Todos os dias são do desenvolvimento da criança, o nosso Boletim: um desafio...mas em nossa casa apoia também os pais. fazemos o que é necessário! ATL Centro de atividades lúdicas e É a minha vida é fazer aquilo que Luís Carlos Santos – Diretor Geral expressivas – Frequentado por gosto. Além de uma grande res- da Cercipóvoa crianças dos 1º, 2º e 3º ciclos e de ponsabilidade é um orgulho muito Jardins de Infância da área, nos grande poder contribuir para a Enfim, monotonia não é algo que tempos livres qualidade dos serviços que presta- eu sinta no meu dia-a-dia, e espe- Cantina Social – Que apoia 100 mos à Comunidade em geral e à cialmente porque me sinto muito pessoas, no âmbito do Programa pessoa com deficiência em particu- realizada no trabalho que desen- 32
  • 33. volvo. Gosto muito de trabalhar na Trabalhar na Cerci para mim é a às 08.40, fico na sala das saídas. Às Cercipóvoa, sobretudo pelas pes- minha vida, e não me vejo a traba- 09.00h vamos para as respetivas soas com quem trabalho que me lhar noutra coisa, porque viver fazem sentir que vale a pena dar- para estes utentes e fazer algo por dades. A atividade diária é o emba- mos tudo que sabemos e temos eles todos os dias é sentir-me reali- lamento de talheres onde fico com nesta causa que partilhamos em zada todos os dias. Os meus dias os meus colegas até mais ou conjunto. de trabalho na Cerci são dias de menos às 11h. Há dias em que Teresa Pedras, Psicóloga – Direto- muito trabalho e animação. São salas, onde realizo algumas ativi- tenho atividades desportivas, como ra Técnica do Centro de Orienta- dias também de terapia emocional, o pavilhão e piscina. Pelas 12h vou ção Precoce e Coordenadora Téc- quando me sinto mais em baixo de almoçar ao refeitório, regressando nica do Centro de Recursos para a forma. Claro que existem dias depois à sala pelas 13h, onde “bato inclusão melhores e dias piores, mas com uma sorna” (descanso um pouco). boa vontade e bom senso, tudo se O resto da tarde realizo atividades Para mim trabalhar na Cercipóvoa vai resolvendo. lúdicas. Eu faço parte de um grupo é um privilégio mas também uma de dança, pelo que em determina- Paula Loução – Monitora grande responsabilidade, saber que diariamente os nossos jovens dos dias tenho ensaios. Tenho ainConversámos, também, com a Ana da aulas de Competências Pessoais contam com a nossa presença para Paula Serrano, uma Utente da Cer- e Sociais e sessões de terapia da os ajudar na satisfação das suas cipóvoa, que nos contou as várias fala. Lancho pelas 15.30. Regresso necessidades, garantindo desta atividades que preenchem o seu ao CAR pelas 17h. No CAR fico a forma a sua qualidade de vida e o dia-a-dia: aguardar pelas 19 horas que é a seu bem-estar. É uma felicidade Acordo por volta das 06.30h (eu hora do jantar, vou andando de um saber que diariamente podemos normalmente acordo a esta hora). lado para outro, conversando com fazer a diferença na vida de alguém tão especial como os nos- Com a ajuda das funcionárias faço a minha higiene pessoal, indo as funcionárias e alguns colegas com quem me identifico. Aproveito sos utentes. depois pelas 8 horas tomar o também para ler e ver algumas Cristina Silva – Professora pequeno almoço, tudo isto no CAR. revistas. Janto pelas 19 horas e Desço para o CAO mais ou menos depois vejo televisão até às 23h que é a hora em que me vou deitar, até ao outro dia. Frequentar a Cerci é bom, porque tenho atividades e saídas. Se estivesse em casa não tinha esse tipo de coisas. É uma forma de passar o tempo, os dias tornam-se mais fáceis e rápidos de passar. A equipa da APES congratula a Cercipóvoa pelo trabalho tão importante que realiza, e aproveita, também, para agradecer a ajuda que sempre tem dado à APES. Obrigada pela visita! 33
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