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TV Cello (1971) Charlotte Moorman na apresentação do concerto de Paik na Galeria Bonino em Nova York.
Fonte: http://intermidias.blogspot.com/2006/12/nam-june-paik.html




70 TUCUNDUBA
ARTES VISUAIS




A videoarte na vida de
Nam June Paik
Isley Martins e Souza




     Tempos revolucionários costumam abrir          fazer política. A ação e estética faziam parte
espaços para manifestações artísticas mais          das intenções do artista.
ousadas e originais. Foi o aconteceu com o               No entanto, é na década de 60, através das
surgimento das tendências do século XX; entre       idéias vinculadas pelo grupo Fluxus, que a Arte
elas está a Arte Conceitual, que considera a        Conceitual torna-se um fenômeno mundial.
idéia, o conceito por trás de uma obra artística,   O termo se popularizou em 1967 depois
como sendo superior ao próprio resultado            que a revista americana ArtForum publicou
final, podendo este até ser dispensável. O que      o texto do artista minimalista Sol Lewitt
importa é a invenção da obra, o conceito que        intitulado Parágrafos sobre a arte conceitual,
é elaborado antes de sua materialização. Sua        seguido das Sentenças sobre a arte conceitual.
maior influência está no movimento dadaísta,        Nesse artigo a revista organiza as reflexões
com os ready-mades de Duchamp, que nasce            já existentes na área sobre uma arte que se
levantando vários questionamentos, como: o          desenvolve somente no campo das idéias,
valor estético e utilitário da obra e uma arte      abandonando um pouco a materialidade da
a serviço apenas dos sentidos, que não se           obra de arte. Porém o primeiro a empregar, de
permitia pensar.                                    fato, a expressão “arte conceito” foi o escritor
     A arte conceitual foi uma manifestação         e músico Henry Flynt, já em 1961, em meio
ocorrida em vários países, quase ao mesmo           às atividades ligadas ao Fluxus, movimento
tempo. Uma geração de artistas e críticos           que marcou as artes das décadas de 60 e 70,
que tomaram consciência sobre o estado em           opondo-se aos valores burgueses, às galerias e
que se encontrava a civilização, a sociedade,       ao individualismo.
os regimes políticos e se colocaram diante               A origem do Grupo Fluxus situou-se
de uma abordagem mais critica e de certa            em torno das aulas de música experimental
forma subversiva. O artista assume o papel de       ministradas por John Cage na New School for
revolucionário e faz de sua arte um instrumento     Social Research. O músico, na tentativa de
à disposição da revolução social. Fazer arte era    criar composições não-narrativas e aleatórias,


                                                                                       TUCUNDUBA 71
incorporando ruídos e interferências do                  Nam June Paik nasceu em 20 de junho
meio, inspirou os artistas na tentativa de          de 1932, em Seul, Coréia. Na década de 50
dialogar com o cotidiano em seus trabalhos.         fugindo da Guerra da Coréia sua família deixa
Oficialmente, o grupo foi criado por George         o país, instalando-se em Hong Kong e depois
Maciunas no ano de 1961, em Wiesbaden, na           no Japão. Em 1956 termina sua graduação na
Alemanha, durante o Festival Internacional          Faculdade de Tókio como bacharel em História
de Música. O nome Fluxus, (do latim flux,           da Arte e História da Música, incluindo uma
significa modificação, escoamento, catarse)         tese sobre Arnold Schönberg (compositor
era, em princípio, o título de uma revista, mas     austro-húngaro, 1874-1951. Especialista em
se estendeu posteriormente para designar as         escrever concertos para violino). Nesse mesmo
performances organizadas por Maciunas.              ano transfere-se para a Alemanha, onde teve
     Os membros do grupo valorizavam a              uma breve passagem pela Universidade de
criação coletiva e integravam diferentes            Munique, estudando História da Música e
linguagens como música, cinema e dança,             Composição no Conservatório de Freiburg.
manifestavam-se principalmente através                   De 1958 a 1963 tem seu primeiro encontro
de performances, happenings, instalações,           com a música eletrônica nos estúdios de John
entre outros suportes inovadores para a             Cage, onde estudou música experimental.
época. Tiveram como principal referência            Conheceu Karlheinz Stockhausen onde iniciou
o movimento Dadaísta e a obra de Marcel             experimentos conjuntos no Estúdio de Música
Duchamp, que influenciaram na contestação           Eletrônica da emissora WDR em Colônia e
dos valores estabelecidos e no espírito             se associou ao movimento artístico Fluxus.
anárquico do grupo.                                 Fez projetos de performance em vídeo com
        No entanto, enquanto Duchamp                Laurie Anderson, Yoko Ono, David Bowie e a
havia com seus ready-mades, elementos               violoncelista Charlotte Moorman. Ainda em
apropriados do cotidiano sendo-lhes atribuído       1963 conhece Shuya Abe no Japão trabalhando
status de arte, mas posto ao lado do objeto         com eletroímãs e televisão de cor. É também
artístico consagrado, criado um novo conceito       o ano em que teve sua grande estréia no
de arte, a que chamava anti-arte, os artistas do    Exposition of music-eletronic television (Ex-
Fluxus procuravam inserir a arte no cotidiano       posição de Música, Televisão Eletrônica),
das pessoas, defendendo a idéia de que todos        espalhando diversos televisores por todos
deveriam compreendê-la; com isso buscavam           os lugares, utilizando imãs para distorcer as
inovar e ampliar as formas de expressão             imagens.
artísticas.                                              A produção artística sob o emblema
     Os artistas Nam June Paik e Wolf Vostell       da antiarte – legado dos dadaístas – e em
foram os primeiros a usar o vídeo, criando a        parceria de Joseph Beuys elabora a instalação
videoarte. Nas exposições do grupo, as obras        manipulando os elementos eletrônicos
tinham sempre um teor de provocação e crítica,      e a tecnologia. Subvertendo os efeitos
com a presença de um humor extravagante.            das imagens recebidas e questionando os
Como objetivo, seus participantes visavam           procedimentos comerciais dos meios de
uma revolução cultural, social e política através   comunicação de massa. A obra ficou conhecida
da arte. Em 1963, foi escrito um manifesto          como TV Magnet e deu origem ao vídeoarte,
contendo frases como “destruam os museus            transformando Paik no pioneiro em uso de
de arte” ou “destruam a cultura séria”, entre       satélites de telecomunicação em projetos
outras polêmicas.                                   artísticos.
     A origem da videoarte teve inicio nos anos          A introdução do vídeo nesse universo traz
60 e se deu pela disponibilização comercial do      novos elementos para o debate sobre o fazer
portapack (gravador portátil de videoteipe)         artístico. As imagens projetadas ampliam as
e do gênio Nam June Paik que pôde mover e           possibilidades de pensar a representação,
gravar coisas simultaneamente, tornando-se a        além de transformar as relações da obra de
partir de então uma celebridade internacional,      arte com o espaço físico. As cenas, os sons e
sendo conhecido por seus trabalhos criativos e      as cores que os vídeos produzem, expandem-
divertidos.                                         se sobre e ao redor das paredes da galeria,



72 TUCUNDUBA
TV Magnet (1965) Nam June Paik. Fonte: http://paikstudios.com




                                                                TUCUNDUBA 73
conferindo ao espaço um sentido de atividade:     qualidade da escultura e do ícone, mais do que
o olho do espectador mira a tela e além dela,     a pintura” (MCLUHAN, Marshall, 1960).
as paredes, relacionando as imagens que o              À reflexão filosófica de raiz oriental e
envolvem. Se a videoarte interpela o espaço,      vocação provocadora juntou um forte sentido
visa também alterar as formas de apreensão        do humor e do espetáculo, que o levou a criar
do tempo na arte. As imagens, em série, como      acumulações de televisores em forma de robô,
num enredo ou projetadas simultaneamente,         de grandes instalações chamadas de vídeo-
almejam multiplicar as possibilidades de o        esculturas. Tornou-se conhecido por fazer
trabalho artístico lidar com as coordenadas       robôs fora dos sets de televisão. Eles eram
temporais.                                        construídos com pedaços de fios e metal, mas,
     Nam June Paik começou a sua carreira         conforme o tempo passou, começou a utilizar
como compositor e músico e foi um dos             pedaços de adaptações de rádio e televisão.
artistas responsáveis por transformar a então          Apropriando-se da linguagem e do suporte
vídeoarte em arte respeitável, digna de ser       da televisão com a intenção de denunciar
apresentada em grandes Museus e Galerias,         os perigos de um meio de comunicação tão
como o Guggenheim e Whitney.                      poderoso culturalmente, afirma Paik (1973) a
     O trabalho com a violoncelista clássica      um jornal coreano: “Assim como a colagem
Charlotte Moorman acontece depois que             substituiu a pintura a óleo, o raio catódico
Paik passa a residir em Nova York, os dois        substituirá a tela”.
combinavam vídeo, música e performance. Na              Nas últimas três décadas, foi um porta-
obra TV Cello, a dupla empilhou televisores um    voz provocador e profético dos novos usos
sobre o outro, de modo a adquirir o formato de    da tecnologia televisiva e da relevância da
um violoncelo. Quando Moorman puxou seu           televisão para com a arte. Utilizou aparelhos
arco sobre as cordas do violoncelo, imagens       de televisão em espantosas construções
dela e de outros violoncelistas tocando           para performances e desenhou instalações
apareceram nas telas.                             compostas por televisões transformadas em
     Paik desenvolveu sua forma de ativismo       aquários, e amontoadas em pirâmides. Paik
musical através do emprego de ruídos              também fez televisões-cadeira, várias versões
aleatórios na composição com sons clássicos       de televisões-robôs eassociou televisões a
e teve como engajamento social democratizar       ícones orientais.
a arte e transformá-la em um meio de                   Esta obra é composta por treze aparelhos
comunicação de massa, como a televisão.           de televisão, cada um transmitindo um canal
     Seus trabalhos misturam vários suportes      diferente, correspondente os treze canais a
como cinema, televisão, fitas cassetes e          cabo do estado de Nova York. O agrupamento
esculturas inanimadas. Foi primeiramente          dos aparelhos remete a imagem neo-Gótica
atraído pelo vídeo no contexto da sua música,     da Cruz Católica. Além dos televisores,
tendo a qualidade aleatória do som televisivo     a instalação é ornamentada com peças
como o que primeiro lhe chamou a atenção.         íntimas de Paik, como camisetas surradas
Trabalhou o vídeo e as assemblages dos            mostrando quão desapegado a bens materiais
monitores com primazia, desconstruindo            ele era. Combinava vídeo-clips projetados
a técnica aos extremos da criação e               a velocidades vertiginosas - muitas vezes
expandindo os domínios da linguagem               dramaticamente coloridos - em montagens de
artística. Interessado por eletromagnetismo,      alta energia, programadas em vários monitores
cibernética, transmissões por satélite e laser,   de televisão. Foi o precursor nas combinações
Paik foi um investigador das relações entre       diretas ou manipuladas de segmentos de
arte e ciência, atribuindo-lhe a paternidade da   emissões televisivas, com vídeos produzidos
expressão “auto-estradas eletrônicas”.            por ele, organizados por uma complexa matriz
     O meio é a mensagem, o espectador é          visual e auditiva.
a tela e a televisão delineia um novo espaço/          Sua última instalação, denominada “pós-
tempo estético, em que “o contorno plástico       vídeo” combina a imagem cinética movida
resulta da luz que atravessa e não da luz que     a laser num tecido tensionado, enquanto
ilumina, formando uma imagem que tem a            cascatas de água e fumaça são vistos sobre a



74 TUCUNDUBA
O artista coreano em 1996 foi
                                                   homenageado do 11º Festival Internacional
                                                   de Arte Eletrônica Videobrasil, realizado no
                                                   Sesc Pompéia, em São Paulo. Ao final desse
                                                   mesmo ano, Nam June Paik teve um derrame
                                                   que o deixou parcialmente paralisado. Faleceu
                                                   em 29 de janeiro de 2006 aos 73 anos, em seu
                                                   apartamento em Nova York, cidade onde foi
                                                   enterrado.
                                                        As novas tecnologias, associadas ao
                                                   processo de globalização, penetraram todos
                                                   os espaços do planeta, interferindo na vida de
                                                   todos os povos, até mesmo das populações
                                                   mais isoladas e refratárias à modernização.
                                                   As técnicas, os artifícios, os dispositivos que o
                                                   artista utiliza para conceber, construir e exibir
                                                   seus trabalhos não são apenas ferramentas
                                                   inertes, nem mediações inocentes, indiferentes
                                                   aos resultados que se poderiam substituir por
                                                   quaisquer outras. Eles estão carregados de
                                                   conceitos e derivam de condições produtivas
                                                   bastantes especificas.
Meu Fausto (1989-1991) Nam June Paik                    O artista busca se apropriar das tecnologias
Fonte: http://namjunepaikvideoart.blogspot.com
                                                   mecânicas, audiovisuais, eletrônicas e digitais
                                                   numa perspectiva inovadora, fazendo-as
                                                   trabalhar em beneficio de suas idéias estéticas.
                                                   A videoarte talvez tenha sido um dos primeiros
                                                   lugares onde essa consciência se constituiu
                                                   de forma clara desde o inicio. Antes mesmo
                                                   da invenção do videoteipe portátil e da mídia
                                                   eletrônica ser reconhecida como campo de
imagem. A combinação do cinema e da TV é           possibilidades para a expressão estética.
apresentada como uma advertência aos novos
meios que hão de surgir, revolucionando a
tecnologia como nós a conhecemos. Ele visava
com seu trabalho criar uma televisão universal,
cuja compreensão seria aberta ao mundo e
o seu conteúdo seria um resultado das várias         SAIBA MAIS
visões e análises propostas.
                                                     FREIRE, Cristina. Arte Conceitual. Rio de Janeiro, 1961.
     As obras de Nam June Paik nos fazem             Ed: Jorge Zahar, 2006.
pensar sobre novas possibilidades de uso dos         STRICKLAND, Carol. Arte Comentada: Da pré-história
meios tecnológicos e, principalmente, a reflexão     ao pós-moderno. Rio de Janeiro. Ediouro, 2004.
sobre a cultura de massa e a possibilidade           MACHADO, Arlindo. Arte e mídia. Rio de Janeiro.
de uso mais elaborado e libertador desses            Ed: Jorge Zahar, 2007.

veículos. A aula mais importante a ser tomada        Sites:
de Paik é que o artista tem que saber olhar para     Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais: Videoarte.
os movimentos conceituais, aprender com eles         Atualizado em 24/11/2008. Disponivel em: http://www.
                                                     itaucultural.org.br. Acesso em: 05/01/2010.
e saber criar formas alternativas de expressão
                                                     Nam June Paik: A Arte de Nam June Paik. Atualizado em
tomando como base a própria tecnologia que           18/05/ 2007. Disponivél em: http://namjunepaikvideoart.
impacta as nossas vidas. Paik transformou não        blogspot.com/. Acesso em: 07/01/2010.
apenas as imagens, mas o próprio aparelho            Web site oficial: Nam June Paik. Disponível em: http://
televisivo como arte, incorporando-o à sua           paikstudios.com/. Acesso em: 10/01/2010.
escultura.


                                                                                                   TUCUNDUBA 75

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  • 1. TV Cello (1971) Charlotte Moorman na apresentação do concerto de Paik na Galeria Bonino em Nova York. Fonte: http://intermidias.blogspot.com/2006/12/nam-june-paik.html 70 TUCUNDUBA
  • 2. ARTES VISUAIS A videoarte na vida de Nam June Paik Isley Martins e Souza Tempos revolucionários costumam abrir fazer política. A ação e estética faziam parte espaços para manifestações artísticas mais das intenções do artista. ousadas e originais. Foi o aconteceu com o No entanto, é na década de 60, através das surgimento das tendências do século XX; entre idéias vinculadas pelo grupo Fluxus, que a Arte elas está a Arte Conceitual, que considera a Conceitual torna-se um fenômeno mundial. idéia, o conceito por trás de uma obra artística, O termo se popularizou em 1967 depois como sendo superior ao próprio resultado que a revista americana ArtForum publicou final, podendo este até ser dispensável. O que o texto do artista minimalista Sol Lewitt importa é a invenção da obra, o conceito que intitulado Parágrafos sobre a arte conceitual, é elaborado antes de sua materialização. Sua seguido das Sentenças sobre a arte conceitual. maior influência está no movimento dadaísta, Nesse artigo a revista organiza as reflexões com os ready-mades de Duchamp, que nasce já existentes na área sobre uma arte que se levantando vários questionamentos, como: o desenvolve somente no campo das idéias, valor estético e utilitário da obra e uma arte abandonando um pouco a materialidade da a serviço apenas dos sentidos, que não se obra de arte. Porém o primeiro a empregar, de permitia pensar. fato, a expressão “arte conceito” foi o escritor A arte conceitual foi uma manifestação e músico Henry Flynt, já em 1961, em meio ocorrida em vários países, quase ao mesmo às atividades ligadas ao Fluxus, movimento tempo. Uma geração de artistas e críticos que marcou as artes das décadas de 60 e 70, que tomaram consciência sobre o estado em opondo-se aos valores burgueses, às galerias e que se encontrava a civilização, a sociedade, ao individualismo. os regimes políticos e se colocaram diante A origem do Grupo Fluxus situou-se de uma abordagem mais critica e de certa em torno das aulas de música experimental forma subversiva. O artista assume o papel de ministradas por John Cage na New School for revolucionário e faz de sua arte um instrumento Social Research. O músico, na tentativa de à disposição da revolução social. Fazer arte era criar composições não-narrativas e aleatórias, TUCUNDUBA 71
  • 3. incorporando ruídos e interferências do Nam June Paik nasceu em 20 de junho meio, inspirou os artistas na tentativa de de 1932, em Seul, Coréia. Na década de 50 dialogar com o cotidiano em seus trabalhos. fugindo da Guerra da Coréia sua família deixa Oficialmente, o grupo foi criado por George o país, instalando-se em Hong Kong e depois Maciunas no ano de 1961, em Wiesbaden, na no Japão. Em 1956 termina sua graduação na Alemanha, durante o Festival Internacional Faculdade de Tókio como bacharel em História de Música. O nome Fluxus, (do latim flux, da Arte e História da Música, incluindo uma significa modificação, escoamento, catarse) tese sobre Arnold Schönberg (compositor era, em princípio, o título de uma revista, mas austro-húngaro, 1874-1951. Especialista em se estendeu posteriormente para designar as escrever concertos para violino). Nesse mesmo performances organizadas por Maciunas. ano transfere-se para a Alemanha, onde teve Os membros do grupo valorizavam a uma breve passagem pela Universidade de criação coletiva e integravam diferentes Munique, estudando História da Música e linguagens como música, cinema e dança, Composição no Conservatório de Freiburg. manifestavam-se principalmente através De 1958 a 1963 tem seu primeiro encontro de performances, happenings, instalações, com a música eletrônica nos estúdios de John entre outros suportes inovadores para a Cage, onde estudou música experimental. época. Tiveram como principal referência Conheceu Karlheinz Stockhausen onde iniciou o movimento Dadaísta e a obra de Marcel experimentos conjuntos no Estúdio de Música Duchamp, que influenciaram na contestação Eletrônica da emissora WDR em Colônia e dos valores estabelecidos e no espírito se associou ao movimento artístico Fluxus. anárquico do grupo. Fez projetos de performance em vídeo com No entanto, enquanto Duchamp Laurie Anderson, Yoko Ono, David Bowie e a havia com seus ready-mades, elementos violoncelista Charlotte Moorman. Ainda em apropriados do cotidiano sendo-lhes atribuído 1963 conhece Shuya Abe no Japão trabalhando status de arte, mas posto ao lado do objeto com eletroímãs e televisão de cor. É também artístico consagrado, criado um novo conceito o ano em que teve sua grande estréia no de arte, a que chamava anti-arte, os artistas do Exposition of music-eletronic television (Ex- Fluxus procuravam inserir a arte no cotidiano posição de Música, Televisão Eletrônica), das pessoas, defendendo a idéia de que todos espalhando diversos televisores por todos deveriam compreendê-la; com isso buscavam os lugares, utilizando imãs para distorcer as inovar e ampliar as formas de expressão imagens. artísticas. A produção artística sob o emblema Os artistas Nam June Paik e Wolf Vostell da antiarte – legado dos dadaístas – e em foram os primeiros a usar o vídeo, criando a parceria de Joseph Beuys elabora a instalação videoarte. Nas exposições do grupo, as obras manipulando os elementos eletrônicos tinham sempre um teor de provocação e crítica, e a tecnologia. Subvertendo os efeitos com a presença de um humor extravagante. das imagens recebidas e questionando os Como objetivo, seus participantes visavam procedimentos comerciais dos meios de uma revolução cultural, social e política através comunicação de massa. A obra ficou conhecida da arte. Em 1963, foi escrito um manifesto como TV Magnet e deu origem ao vídeoarte, contendo frases como “destruam os museus transformando Paik no pioneiro em uso de de arte” ou “destruam a cultura séria”, entre satélites de telecomunicação em projetos outras polêmicas. artísticos. A origem da videoarte teve inicio nos anos A introdução do vídeo nesse universo traz 60 e se deu pela disponibilização comercial do novos elementos para o debate sobre o fazer portapack (gravador portátil de videoteipe) artístico. As imagens projetadas ampliam as e do gênio Nam June Paik que pôde mover e possibilidades de pensar a representação, gravar coisas simultaneamente, tornando-se a além de transformar as relações da obra de partir de então uma celebridade internacional, arte com o espaço físico. As cenas, os sons e sendo conhecido por seus trabalhos criativos e as cores que os vídeos produzem, expandem- divertidos. se sobre e ao redor das paredes da galeria, 72 TUCUNDUBA
  • 4. TV Magnet (1965) Nam June Paik. Fonte: http://paikstudios.com TUCUNDUBA 73
  • 5. conferindo ao espaço um sentido de atividade: qualidade da escultura e do ícone, mais do que o olho do espectador mira a tela e além dela, a pintura” (MCLUHAN, Marshall, 1960). as paredes, relacionando as imagens que o À reflexão filosófica de raiz oriental e envolvem. Se a videoarte interpela o espaço, vocação provocadora juntou um forte sentido visa também alterar as formas de apreensão do humor e do espetáculo, que o levou a criar do tempo na arte. As imagens, em série, como acumulações de televisores em forma de robô, num enredo ou projetadas simultaneamente, de grandes instalações chamadas de vídeo- almejam multiplicar as possibilidades de o esculturas. Tornou-se conhecido por fazer trabalho artístico lidar com as coordenadas robôs fora dos sets de televisão. Eles eram temporais. construídos com pedaços de fios e metal, mas, Nam June Paik começou a sua carreira conforme o tempo passou, começou a utilizar como compositor e músico e foi um dos pedaços de adaptações de rádio e televisão. artistas responsáveis por transformar a então Apropriando-se da linguagem e do suporte vídeoarte em arte respeitável, digna de ser da televisão com a intenção de denunciar apresentada em grandes Museus e Galerias, os perigos de um meio de comunicação tão como o Guggenheim e Whitney. poderoso culturalmente, afirma Paik (1973) a O trabalho com a violoncelista clássica um jornal coreano: “Assim como a colagem Charlotte Moorman acontece depois que substituiu a pintura a óleo, o raio catódico Paik passa a residir em Nova York, os dois substituirá a tela”. combinavam vídeo, música e performance. Na Nas últimas três décadas, foi um porta- obra TV Cello, a dupla empilhou televisores um voz provocador e profético dos novos usos sobre o outro, de modo a adquirir o formato de da tecnologia televisiva e da relevância da um violoncelo. Quando Moorman puxou seu televisão para com a arte. Utilizou aparelhos arco sobre as cordas do violoncelo, imagens de televisão em espantosas construções dela e de outros violoncelistas tocando para performances e desenhou instalações apareceram nas telas. compostas por televisões transformadas em Paik desenvolveu sua forma de ativismo aquários, e amontoadas em pirâmides. Paik musical através do emprego de ruídos também fez televisões-cadeira, várias versões aleatórios na composição com sons clássicos de televisões-robôs eassociou televisões a e teve como engajamento social democratizar ícones orientais. a arte e transformá-la em um meio de Esta obra é composta por treze aparelhos comunicação de massa, como a televisão. de televisão, cada um transmitindo um canal Seus trabalhos misturam vários suportes diferente, correspondente os treze canais a como cinema, televisão, fitas cassetes e cabo do estado de Nova York. O agrupamento esculturas inanimadas. Foi primeiramente dos aparelhos remete a imagem neo-Gótica atraído pelo vídeo no contexto da sua música, da Cruz Católica. Além dos televisores, tendo a qualidade aleatória do som televisivo a instalação é ornamentada com peças como o que primeiro lhe chamou a atenção. íntimas de Paik, como camisetas surradas Trabalhou o vídeo e as assemblages dos mostrando quão desapegado a bens materiais monitores com primazia, desconstruindo ele era. Combinava vídeo-clips projetados a técnica aos extremos da criação e a velocidades vertiginosas - muitas vezes expandindo os domínios da linguagem dramaticamente coloridos - em montagens de artística. Interessado por eletromagnetismo, alta energia, programadas em vários monitores cibernética, transmissões por satélite e laser, de televisão. Foi o precursor nas combinações Paik foi um investigador das relações entre diretas ou manipuladas de segmentos de arte e ciência, atribuindo-lhe a paternidade da emissões televisivas, com vídeos produzidos expressão “auto-estradas eletrônicas”. por ele, organizados por uma complexa matriz O meio é a mensagem, o espectador é visual e auditiva. a tela e a televisão delineia um novo espaço/ Sua última instalação, denominada “pós- tempo estético, em que “o contorno plástico vídeo” combina a imagem cinética movida resulta da luz que atravessa e não da luz que a laser num tecido tensionado, enquanto ilumina, formando uma imagem que tem a cascatas de água e fumaça são vistos sobre a 74 TUCUNDUBA
  • 6. O artista coreano em 1996 foi homenageado do 11º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil, realizado no Sesc Pompéia, em São Paulo. Ao final desse mesmo ano, Nam June Paik teve um derrame que o deixou parcialmente paralisado. Faleceu em 29 de janeiro de 2006 aos 73 anos, em seu apartamento em Nova York, cidade onde foi enterrado. As novas tecnologias, associadas ao processo de globalização, penetraram todos os espaços do planeta, interferindo na vida de todos os povos, até mesmo das populações mais isoladas e refratárias à modernização. As técnicas, os artifícios, os dispositivos que o artista utiliza para conceber, construir e exibir seus trabalhos não são apenas ferramentas inertes, nem mediações inocentes, indiferentes aos resultados que se poderiam substituir por quaisquer outras. Eles estão carregados de conceitos e derivam de condições produtivas bastantes especificas. Meu Fausto (1989-1991) Nam June Paik O artista busca se apropriar das tecnologias Fonte: http://namjunepaikvideoart.blogspot.com mecânicas, audiovisuais, eletrônicas e digitais numa perspectiva inovadora, fazendo-as trabalhar em beneficio de suas idéias estéticas. A videoarte talvez tenha sido um dos primeiros lugares onde essa consciência se constituiu de forma clara desde o inicio. Antes mesmo da invenção do videoteipe portátil e da mídia eletrônica ser reconhecida como campo de imagem. A combinação do cinema e da TV é possibilidades para a expressão estética. apresentada como uma advertência aos novos meios que hão de surgir, revolucionando a tecnologia como nós a conhecemos. Ele visava com seu trabalho criar uma televisão universal, cuja compreensão seria aberta ao mundo e o seu conteúdo seria um resultado das várias SAIBA MAIS visões e análises propostas. FREIRE, Cristina. Arte Conceitual. Rio de Janeiro, 1961. As obras de Nam June Paik nos fazem Ed: Jorge Zahar, 2006. pensar sobre novas possibilidades de uso dos STRICKLAND, Carol. Arte Comentada: Da pré-história meios tecnológicos e, principalmente, a reflexão ao pós-moderno. Rio de Janeiro. Ediouro, 2004. sobre a cultura de massa e a possibilidade MACHADO, Arlindo. Arte e mídia. Rio de Janeiro. de uso mais elaborado e libertador desses Ed: Jorge Zahar, 2007. veículos. A aula mais importante a ser tomada Sites: de Paik é que o artista tem que saber olhar para Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais: Videoarte. os movimentos conceituais, aprender com eles Atualizado em 24/11/2008. Disponivel em: http://www. itaucultural.org.br. Acesso em: 05/01/2010. e saber criar formas alternativas de expressão Nam June Paik: A Arte de Nam June Paik. Atualizado em tomando como base a própria tecnologia que 18/05/ 2007. Disponivél em: http://namjunepaikvideoart. impacta as nossas vidas. Paik transformou não blogspot.com/. Acesso em: 07/01/2010. apenas as imagens, mas o próprio aparelho Web site oficial: Nam June Paik. Disponível em: http:// televisivo como arte, incorporando-o à sua paikstudios.com/. Acesso em: 10/01/2010. escultura. TUCUNDUBA 75