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CASAMENTOS SAUDÁVEIS:
2010-05-04 12:08:17
Descobrindo uma vacina contra o divórcio clerical -
Dr. Bill Bacheller, 2010
O dia 14 de maio de 1796 foi um dia extraordinário
na história da saúde humana. Como quase sempre
acontece, os inventores ou pesquisadores não
percebem na hora. O criador da primeira vacina,
contra a varíola, Edward Jenner, um médico inglês,
ao observar que pessoas que ordenhavam vacas
não contraíam a varíola, desde que tivessem
adquirido a forma animal da doença, extraiu o pus da
mão de uma ordenhadora que havia contraído a
varíola bovina e o inoculou em um menino saudável,
James Phipps, de oito anos, em 04 de maio de 1796.
O menino contraiu a doença de forma branda e logo
ficou curado. Em 1º de julho, Jenner inoculou no
mesmo menino líquido extraído de uma pústula de
varíola humana. James não contraiu a doença, o que
significava que estava imune à varíola.
As vacinas são substâncias, como proteínas,
toxinas, partes de bactérias ou vírus, ou mesmo
vírus e bactérias inteiros, atenuados ou mortos, que
ao serem introduzidas no organismo humano,
suscitam uma reação do sistema imunológico
semelhante à que ocorreria no caso de uma infecção
por um determinado agente patogênico,
desencadeando a produção de anticorpos que
acabam por tornar o organismo imune ou, pelo
menos mais resistente, a esse agente.
Gostaria de descobrir uma vacina que
desencadeasse a produção de anticorpos que
acabam por tornar o pastor e a esposa imunes, ou
pelo menos, mais resistentes aos agentes
patogênicos do divórcio.
Comecei esta procura há sete anos escrevendo
minha tese de doutorado. Neste estudo, um projeto
de pesquisa qualitativo e descritivo foi escolhido
empregando-se a entrevista etnográfica. O estudo
identifica e analisa os fatores que contribuem para o
divórcio ou separação legal de doze pastores
divorciados e oito de suas ex-mulheres, ou seja,
entre 20 pessoas divorciadas. Todos eles eram
membros da Igreja Cristã Evangélica do Brasil. Usei
o mesmo protocolo (as mesmas perguntas) com
todos eles. Gravei todas as entrevistas que duraram
entre uma hora e meia até quatro horas e meia, com
a média de duas horas e meia por pessoa. Fiz a
transcrição, resultando em mais que 1500 folhas
datilografadas em espaço simples. No momento em
que as entrevistas foram feitas, a amostra de
pastores divorciados e separados era igual a da
população. Em outras palavras, entrevistei todos os
pastores divorciados da denominação, faltando 4 ex-
esposas.
A terceira pergunta da pesquisa era: “Que fatores
levaram os pastores divorciados ou separados da
ICEB e suas ex-mulheres ao divórcio?” A pergunta
da entrevista era: “Você poderia me contar a história
de seu casamento?” A partir desta pergunta nós
identificamos 6 níveis de causas do divórcio: 1.
Causas legalmente registradas do divórcio; 2.
Causas que de acordo com os entrevistados
provocaram o divórcio (geralmente não são as
mesmas das causas legalmente registradas); 3.
Causas ou fatores que trouxeram estresse não-
solucionado para o casamento; 4. Causas indiretas
do divórcio (fatores que não residem somente na
alma de um ou de outro dos cônjuges; 5. Causas ou
fatores pré-matrimoniais que predizem a qualidade
da relação conjugal; e 6. Os Fatores da Família de
Origem.
É muito raro haver - se é que há – apenas um fator
contribuinte para o divórcio. Os fatores do divórcio
podem ser comparados a um triângulo eqüilátero.
Em seu cume está o fator, digamos de adultério ou
abandono do lar (por, no mínimo, um ano
ininterrupto pelas leis brasileiras). Isto é registrado
nos argumentos legais para a avaliação do juiz, e
fica lá, no seu gabinete. Contudo, há um segundo
nível, mais profundo, de causas. Estas causas são
reconhecidas e discutidas por um dos cônjuges ou
por ambos; às vezes discutem a causa entre si, às
vezes não. Um dos cônjuges, ou mesmo os dois,
discutirá com uma terceira pessoa. Este é o segundo
nível do triângulo. Há o terceiro nível na base,
intermediário do triângulo o qual inclui todos os
conflitos não-solucionados, não percebidos como
causas para um divórcio. Os entrevistados
continuam a falar destes conflitos quando contam
suas histórias, mas não percebem conscientemente,
que estes conflitos são fatores que contribuíram para
seus divórcios. Este terceiro nível, contém o maior
número de ofensas, mas está em um nível mais
baixo de intensidade, em comparação com os níveis
acima, os quais eles reconhecem e com o topo, o
qual é reconhecido legalmente pelo juiz e pela
sociedade. Finalmente, vêm as causas pré-
matrimoniais. Este quinto nível, a base do triângulo,
determina uma parte considerável do ambiente, calor
humano, confiança ou não, presença de ciúmes, etc,
etc, para um tempo indeterminado do casamento.
Dependendo como o casal resolve as tensões, o
casamento cresce ou murcha. O suporte do triângulo
do divórcio é a mesa dos fatores da família de
origem.
A hipótese é que os maridos e esposas não estão
conscientemente cônscios dos conflitos conjugais do
dia-a-dia que, se deixados irresolvidos, contribuem
para o divórcio. Somente após o divórcio ter ocorrido
e ao relatar suas histórias a outras pessoas, estes
fatores revelam-se a eles. A base para colocar o
material discutido no primeiro e segundo níveis foi o
fato de os próprios indivíduos fazerem uma
declaração alegando a causa, ou causas, que
contribuíram para o divórcio. O pesquisador colocou
os fatores na terceira seção com base na repetição
do informante e no conflito interno por ele
demonstrado. A suposição subjacente era que
enquanto os participantes contassem as histórias de
seus casamentos, aqueles incidentes (tanto bons
como ruins) que marcaram suas vidas surgissem.
Fatores irresolvidos mostraram-se presentes através
de lágrimas, de mudança no tom ou na velocidade
da voz, pela repetição ao longo da narrativa, ou pela
afirmação tácita que tais fatores haviam sido - e em
alguns casos ainda o eram - difíceis para eles.
Algumas vezes, um movimento corporal ou uma
risada nervosa denunciaram a tensão. O teor do
fator foi, obviamente, de grande ajuda na
identificação.
1. CAUSAS REGISTRADAS LEGALMENTE:
A pergunta era: “Você pode me dizer o que foi
escrito no documento legal como sendo a causa do
divórcio? Mais tarde na entrevista, eu levantei a
pergunta, “Em sua opinião, o que causou o
divórcio”? As respostas não foram as mesmas, isto
é, o que foi escrito no documento, não foi o que os
cônjuges realmente acreditaram, exceto um único
entrevistado.
1.1. As três causas registradas: Abandono do lar (10
casais); Adultério (1); União Estável (1); Como
resultado do estudo, quatro verdades básicas
concernentes aos aspectos legais do processo de
divórcio brasileiro emergiram:
1.1.1.1. As esposas deram início a oito das doze
separações. => Este fato demonstra as constatações
(Holman 2001) de que as mulheres frequentemente
pedem o divórcio.
1.1.1.2. Quase todos os divórcios foram
consensuais, e não litigiosos. => Dos doze casais,
apenas um passou por um processo litigioso, e um
não é legalmente separado. A lei reconhece a
segunda união como uma lei de casamento comum.
1.1.1.3. Foi difícil obter informações sobre as causas
legalmente escritas.
1.1.1.4. Havia uma grande diferença entre adultério
reconhecido e o que foi registrado no divórcio legal.
=> Havia uma grande diferença entre adultério
reconhecido/confesso como causa não-oficial do
divórcio e a causa realmente escrita. Havia apenas
um caso oficial escrito como adultério, todos os
outros casos foram registrados como abandono
permanente do lar.
2. CINCO CAUSAS MAIS ALEGADAS => Os
informantes discutiram um total de 26 razões que
levaram à dissolução de seus casamentos
respondendo à pergunta, “Em sua opinião, o que
causou o divórcio?
2.1. Adultério (9 cônjuges) => Importante destacar
que somente três destes nove acreditaram que esta
foi a causa principal do divórcio.
2.2. Falta de qualidades virtuosas (7 cônjuges)
2.2.1.Falta do E.S em mim, como está em Gálatas,
eu era imatura -“vaidade, orgulho, insegurança
pessoal, falta de temor, reverência e respeito à
Deus”;
2.2.2. Faltou bondade, amor compreensão, falta do
Espirito;
2.2.3. Relutância de pedir perdão ou em admitir o
erro sufocou meu casamento;
2.2.4. Dureza do meu coração; eu era extremente
individualista.
2.2.5.Só pensava em mim; coloquei a minha vontade
acima da vontade de Deus; 2.2.6.Ciúme do
relacionamento pastoral com outras mulheres;
2.2.7. Perda de autocontrole em momentos de
agressão verbal também foi identificada:
“Tinha momentos em que eu explodia”.
2.3. Ele (a) nunca me amou (5 cônjuges)
Ela falava, “Como posso dar alguma coisa que
nunca recebi”. Ela não gostava de mim. Falou isto
por 20 anos. Ela queria separar de mim.
2.4. Problemas sexuais (3 cônjuges)
2.4.1. Procurando outra mulher na internet
2.4.2. Incapacidade de satisfazer a esposa
sexualmente devido a orgasmo precoce
2.4.3. Estupro antes do casamento
2.5. Problemas Comportamentais: hipocrisia como
pastor (2); problemas de comunicação (2); não
dedicava tempo suficiente à família (2); dificuldades
para procurar aconselhamento (2); álcoolismo (2).
3. CINCO CAUSAS MAIS DESPERCEBIDAS (e não
resolvidas)
Esses conflitos foram colocados nesta categoria
porque os entrevistados não fizeram ligação
consciente, oral entre a separação e esses conflitos
não resolvidos, e não percebidos como fatores
contribuintes para o divórcio.
3.1. Problemas sexuais (10 cônjuges)
3.1.1. Fantasias sexuais não realizadas
3.1.2. Esposa que nunca sentiu orgasmo
3.1.3. “Eu não sei fazer amor. Não sei como
satisfazer meu marido como eu deveria”.
3.1.4. Negar o ato sexual quando foi pedido por um
cônjuge
3.1.5. Problemas sexuais na família de origem de um
cônjuge causam tensão entre marido e mulher
3.2. Adultério (7 cônjuges)
3.3. Falta de qualidades virtuosas (7 cônjuges)
3.4. “Minha esposa não queira ser mulher de pastor”
(6 cônjuges)
3.5. Problemas comportamentais: hipocrisia como
pastor (5 cônjuges); dificuldades para procurar
aconselhamento (5 cônjuges) ; pais e sogros (5
cônjuges); problemas de comunicação (5 cônjuges).
4. CINCO CAUSAS INDIRETAS (intercâmbio entre
cônjuges e agentes de fora) => Enquanto os
entrevistados contavam a história de seus
casamentos e divórcios resultantes, uma causa
indireta que foi citada várias vezes foi que pastores
e/ou suas esposas não pediam ajuda antes da crise.
Cinco fatores impediam os pastores e/ou suas
esposas de buscar ajuda antes que fosse tarde
demais
4.1. Os pastores e esposas não procuraram ajuda
devido à vergonha. => Ficou claro durante as
entrevistas que devido à dinâmica internalizada do
filho pródigo, o casal com problemas matrimoniais
não queria se expor devido à vergonha e ao medo
de ser envergonhado. Como resultado, o casal não
procurava ajuda. Eles não expuseram a si mesmos.
Este fato pode ser exemplificado através da história
do seguinte pastor que nunca expôs seu problema
matrimonial.
“Nesse período de vinte e um anos de casamento
ninguém soube dessas coisas, absolutamente
ninguém. Muitas pessoas tinham suas dúvidas, mas
ninguém soube dessas questões sobre a infidelidade
da minha esposa, ninguém (...) A primeira e única
pessoa que sabe a história toda do meu divórcio é
você! Algumas pessoas talvez saibam pedaços.”
E quando o casal se expôs (a denominação estava
ciente) esta esposa argumenta que a denominação
não veio em socorro antes do divórcio.
“Não houve apoio da denominação nesse sentido -
nada. Eu nunca vi, e olha! Todo mundo sabia que
uma separação estava para acontecer (...) Eles
sabiam, porque eu não escondi isso das pessoas.
Eu estava muito fora de forma, vivendo mal, e
ninguém veio à nossa casa para trabalhar isso com
meu marido, ou conosco, para nos apoiar, para
apoiá-lo.” (11: 4)
Nós começamos a pesquisar a dinâmica do medo de
ser abandonado pela denominação antes e durante
os dias sombrios do divórcio. O que encontramos foi
a dinâmica entendidada pelos divorciados da
parábola do Filho Pródigo versus a parábola do Bom
Samaritano. A dinâmica da vergonha era: informar o
comportamento de colegas da denominação para
envergonhar o irmão em pecado até que ele se
arrependesse, distanciando-o do grupo e,
consequentemente, também sua ex-esposa e filhos.
Quando o pastor divorciado estivesse se afundando
na lama do chiqueiro - sozinho e no fim de seus
próprios recursos - ele então tomaria a iniciativa de
confessar seu pecado ao grupo, e ao fazê-lo,
retornaria ao grupo novamente. Entretanto,
enquanto isso, o pastor separado expressou a
necessidade do judeu viajante que foi atacado e
surrado pelos ladrões. O pastor e sua ex-esposa
esperavam que um Bom Samaritano viesse e os
socorresse. Encontramos dois temas nesta
dinâmica: procura e abandono.
O Tema da Procura
A definição de amigo forneceu a estrutura de
identificação de duas parábolas que lidaram com um
traço essencial e seu traço oposto. De acordo com
os entrevistados, este é o traço necessário para
evitar um divórcio e a cura após um divórcio. O
amigo que procura precisou encontrar e abrir a porta
para um pastor sofredor que muitas vezes não pediu
ajuda a um Bom Samaritano para evitar o fim de seu
casamento. Atentem para o relato deste pastor:
“Entretanto, eu sempre precisei de um Bom
Samaritano porque eu deixei Jerusalém em direção
a Jericó. Traduzindo, eu deixei o centro de adoração,
que era a igreja (denominação) e fui em direção ao
mundo e fui assaltado por agressores, que são as
circunstâncias da vida, e eu fui ferido. Eu estava
meio-morto espiritual e fisicamente falando. Todos
os perigos que você puder imaginar eu corri -
pessoas que queriam se vingar de mim, como de
fato aconteceu. Um cara veio à loja onde eu estava
trabalhando para me matar e foi só por Deus que ele
não o fez. O revólver estava carregado, e quando ele
chegou à loja (eu não o tinha visto) ele se sentiu
muito mal e foi embora. Sua consciência estava
pesada e ele não teve coragem [de atirar em mim].
Ele era um homem que já havia feito isso antes
[matado], e ele me contou depois (...) Então, na
verdade, eu me tornei um homem moribundo e
precisava muito de um Bom Samaritano ao meu lado
que me orientasse e me amparasse “ (...) (12:17)
O Tema do Abandono
Enquanto o pastor estava procurando pelo Tema da
Procura, elemento essencial da parábola do Bom
Samaritano, seus colegas estavam demonstrando o
Tema do Abandono da Parábola do Filho Pródigo:
“Talvez estes que se diziam amigos simplesmente
queriam que a parábola do Filho Pródigo
acontecesse. Isto é, que eu fosse até comer com os
porcos e então voltasse ao meu juízo e voltasse
[para casa]. Talvez esta seja a atitude deles. Eu sou
como o cara na história do Bom Samaritano.
Enquanto todo mundo olhava para mim da
perspectiva do Filho Pródigo, eu sou na verdade o
judeu ferido da parábola do Bom Samaritano. Eu
estou caído e só vendo sacerdotes passando do
outro lado (...) Então, por causa disso, quando o
pastor de [cidade] disse que sentia saudade de mim,
eu quase disse para ele ir para o inferno (...) Você,
Pastor Bill, que mora tão longe - quando você quis
me encontrar você me encontrou (…) em outra
cidade onde eu estava morando. Eu estava andando
por aí e todo mundo sabia meu endereço [mas não
apareceram]. Outros dois pastores que moram nesta
cidade me pediram meu endereço e meu telefone
várias vezes mas nunca vieram, e agiam como se eu
não estivesse aqui.” (12:43).
4.2 Os pastores e esposas não procuraram ajuda
devido à igreja não ser uma comunidade terapêutica.
=> Um pastor ex-marido deu o seguinte conselho:
“Procure ajuda de alguém que pode ajudar você.
Não é sempre o homem intelectual, mas o homem
de Deus pode ser o melhor para fazer isso.
Antigamente eles diziam que era a cura para a alma
(...) Nossas igrejas não são uma comunidade
terapêutica. Ela ficou doente. Você tem algum
problema aqui? Você não pode abrir seu coração
nem mesmo com seu pastor. Vá procurar um
psicólogo.” (14: 57)
4.3 Os pastores e esposas não procuraram ajuda
devido à falta de transparência nos pastores. => os
seminários não criaram uma mentalidade da
transparência entre os pastores.
“Ninguém respondeu à minha necessidade porque
eu tenho a impressão que isso tem que começar no
seminário. O seminário tem que orientar o aluno - se
você está em crise, procure um colega, um pastor. É
lá que essa mentalidade é criada (...) Quando nós
nos formamos no seminário nós pensamos que
somos donos da verdade (...) Tem muito orgulho e
arrogância (...) Se eu abrir meu coração com o
[entrevistador] ele pode usar isso contra mim e me
destruir. Eu vou perder meu pastorado. Muitos fazem
isso. (14: 58)
4.4 Os pastores e esposas não procuraram ajuda
devido à ideia que o pastor é perfeito. => Os
pastores e congregações persistem em manter a
noção de que os pastores são perfeitos.
Quando eu estava em um dos meus períodos de
internato, eu pedi ao grupo de adolescentes para
orar pelo meu namoro. Ele não estava bem e eu
precisava de oração. O pastor lá veio a saber sobre
meu pedido e ficou irritado porque eu tinha pedido
para os adolescentes orarem por mim. Ele veio e me
disse: ‘Os alunos do seminário não precisam pedir
oração para os membros da igreja em relação ao
namoro. Eles olham para nós e vêm que nós somos
perfeitos’. Eu não sou perfeito. Você pode ser, mas
eu não (...) Eu preciso de oração. (17: 10)
Um segundo exemplo da perspectiva de um membro
da igreja:
“Eu lembro quando eu estava pastoreando e uma
senhora me disse: ‘Reverendo, você está se
expondo demais no púlpito. Não se esqueça que
você é meu pastor.’ Ela disse ‘Não se exponha’
porque eu abri meu coração. A pessoa disse: ‘Eu
não quero este tipo de pastor. Eu quero um pastor
perfeito’.” (14: 39)
4.5 Os pastores e esposas não procuraram ajuda
devido aos colegas que não encararam o
problema seriamente.
“Uma vez eu estava dirigindo, voltando da minha
cidade de origem com quatro colegas pastores e eu
disse a eles: ‘Nós estamos tendo bastante atrito e eu
sinto que isso está atrapalhando nosso casamento.
Eu acho que eu estou perdendo minha esposa
pouco a pouco (...)’ Meus colegas só zombaram do
meu relacionamento com minha sogra. ‘Diga para
ela ir embora, ponha ela para fora’, eles disseram.
Eu vi que eu não podia contar com eles para me
ajudarem. (17: 38)
5. CINCO CAUSAS PRÉ-MATRIMONIAIS MAIS
COMUNS => O objetivo de perguntar aos
entrevistados a respeito de suas fases de namoro e
noivado era descobrir fatores pré-matrimoniais que
poderiam prognosticar o divórcio e lutar contra a
capacidade de romper um relacionamento (namoro)
ruim.
De acordo com Holman, os fatores pré-matrimoniais
que predizem o divórcio podem ser agrupados em
quatro áreas de princípios: 1) fatores de histórico da
família de origem, 2) características individuais, 3)
fatores sócio-contextuais, e 4) processo interacional
do casal (Holman 2001, 56).
Nós usamos estas quatro categorias para identificar
prognosticadores pré-matrimoniais de divórcio. Os
indivíduos que têm dificuldade em romper um
relacionamento (namoro) ruim são aqueles que
tiveram um relacionamento insatisfatório com seus
pais, baixa estabilidade emocional, controle
insuficiente de seus impulsos, baixa auto-estima, e
posturas ou atitudes que não proporcionam
encorajamento ou ajuda emocional em
relacionamentos duradouros de alta qualidade com
seus pais ou outros adultos. “Nós podemos
especular que quando se eles casam, dirigem-se
para os grupos de... divorciados/separados” (Holman
2001, 75).
Em nossa análise, o empecilho mais comum para
que um indivíduo rompesse um relacionamento pré-
matrimonial ruim era a personalidade “ansiosa-
ambivalente”, de acordo com a teoria da ligação.
Nove cônjuges (cinco homens e quatro mulheres)
tinham tendências a serem emocionalmente
instáveis, impulsivos, e tinham baixa auto-estima.
Eles eram indivíduos inseguros e preocupados; têm
a tendência de formar modelos negativos de si
mesmos, são altamente dependentes e receiam que
as demais pessoas não os valorizem. Este tipo de
personalidade normalmente impede que um
indivíduo rompa um relacionamento pré-matrimonial
doentio. Estas mesmas características também
influenciam negativamente a qualidade do
casamento uma vez que o indivíduo se casa.
5.1. Muito novo quando se casou
5.2. Pouco tempo de namoro-noivado.
5.3. Formação fraca de identificação como casal
5.4. Andavam contra a sua “rede” social
5.5. Discrepância em atitudes e crenças entre o
casal
6. OS FATORES DA FAMÍLIA DE ORIGEM
6.1. O Lar intacto ou não intacto => De acordo com a
pesquisa de Holman (2001,p.99), o fator da família
de origem definida como ‘estrutura familiar’ é
explicado como uma família intacta ou não intacta. A
família intacta significa que ambos os pais biológicos
estão presentes até os filhos deixassem o lar.
Quando um dos pais não está presente até a saída
do lar do filho, a estrutura familiar será não intacta.
Holman disse “... os maridos e as mulheres
provenientes de lares intactos disseram que seus
pais demonstravam uma satisfação conjugal
significativamente mais alta, e que a qualidade de
vida conjugal de seus pais estava positiva e
significativamente relacionada à qualidade do
relacionamento entre pais e filhos” (Holman 2001,
99). Ou seja, a presença dos dois pais até a saída
dos filhos, melhora o grau de satisfação conjugal e o
relacionamento entre pais e filhos.
No nosso estudo, quanto à estrutura familiar (lar
intacto ou não) houve oito cônjuges (dentre eles
cinco mulheres), incluindo dois casais, que não
cresceram em uma família intacta. Um total de sete,
dos doze casais, sofreram em uma estrutura familiar
fraca. Houve quatro pessoas (três mulheres e um
homem) cujas mães morreram. Outras duas (um
homem e uma mulher) perderam um dos pais pelo
divórcio. Uma mulher nasceu fora do casamento, foi
adotada, e depois criada por um padrasto, que
faleceu quando ela tinha sete anos de idade. Um
homem também nasceu fora do casamento e foi
criado por um padrasto.
6.2. A Qualidade Conjugal dos Pais => O segundo
fator da família de origem que influencia a qualidade
de um casamento é a qualidade da vida conjugal
dos pais.
“Os melhores prognósticos do tipo de ligação (ou
conexão) adulta foram as percepções do
respondente à qualidade de seu relacionamento com
cada um dos pais, e do relacionamento dos pais um
com o outro” (Hazan e Shaver 1987, 8).
A qualidade do casamento dos pais foi avaliada por
meio dos comentários feitos pelos entrevistados.
Cinco áreas foram avaliadas:
1) Intimidade física (freqüência e qualidade do sexo,
ou adultério);
2) Amor (afeição demonstrada entre os pais);
3) Comunicação (aumento ou diminuição da
qualidade do relacionamento);
4) Capacidade de resolver conflitos (trabalhando em
prol da resolução de conflitos de maneira saudável);
5) Igualdade (ambos entendendo que têm o mesmo
valor, não necessariamente o mesmo papel).
Em havendo mais comentários positivos sobre
qualquer combinação de fatores nas cinco áreas
pelos entrevistados, o lar era considerado saudável;
havendo mais comentários negativos, o lar era
considerado não-saudável.
Dezenove dos vinte entrevistados foram criados em
lares abaixo do nível considerado “saudável”. =>
Dois eram crianças♣ bastardas, seus pais
biológicos (homens) os abandonaram, e eles jamais
os conheceram.
Uma dessas crianças é um homem que, aos quatro
anos de idade,♣ perdeu seu pai adotivo e foi criado
por uma mãe viúva em um relacionamento
“emaranhado”.
Os pais (homens) de quatro dos entrevistados
tiveram casos♣ amorosos contínuos; dois deles
mantêm seus casos até hoje.
Cinco homens♣ tiveram pais (homens) severos,
frios, emocionalmente distantes que, segundo os
filhos, nunca demonstraram carinho fisicamente nem
por eles, nem por suas mães. Esses cinco admitem
que tiveram dificuldades para demonstrar carinho e
se comunicar com suas ex-esposas.
Uma mulher teve pais emocionalmente♣ distantes
que nunca a colocaram no colo quando era criança.
Um homem, cujo♣ pai alcoólatra passava a maior
parte das noites nas ruas da cidade, assistiu ao
divórcio dos pais quando tinha apenas sete anos.
Duas mulheres perderam♣ suas mães aos seis
anos e viveram com vários tios até os onze anos.
Depois disso, uma foi para um internato e outra para
um orfanato.
Um dos homens♣ afirmou que odiava seu pai e que
não o perdoara por ter sido constantemente ausente
durante a sua infância. Sua ex-sogra tinha uma
baixa auto-estima e passou este sentimento para a
filha (sua ex-esposa).
Outra mulher disse♣ que sua mãe era “dominadora,
irritada, ingrata, crítica e não acariciava meu pai” (4:
5). Ela afirmou ainda: “Vivi um triângulo amoroso
com meus pais. Minha mãe tinha ciúmes do meu
relacionamento com meu pai” (4: 14).
Finalmente,♣ uma mulher apontou sua mãe como
sendo super exigente, dominadora (provavelmente
um relacionamento emaranhado com esta filha) e
seu pai como injusto (no que diz respeito à
disciplina).
6.3. A Ligação Afetiva entre filhos e pais vira a
ligação romântica do Entrevistado => O terceiro fator
da família de origem que influencia a qualidade de
um casamento é o relacionamento entre pais e
filhos.
Com base nos comentários feitos pelos
entrevistados sobre o seu relacionamento com os
pais, identificamos o seu estilo de ligação afetiva de
acordo com o experimento laboratorial “Strange
Situation” (Situação Estranha) de Ainsworth, feito em
1978. Portanto, argumentamos que, com base em
dois estudos (Hazan e Shaver 1987; Fraley e Shaver
2000), o estilo de ligação afetiva aprendido com os
pais (em especial com as mães, mas não
exclusivamente) é o mesmo estilo de ligação
utilizado nos relacionamentos românticos.
O pesquisador identificou o estilo de ligação de cada
um dos cônjuges. A escolha do estilo de ligação
afetiva romântica feita por este pesquisador foi
confirmada por características reconhecidas pelo
entrevistado em como ele(a) se relacionava com
seus(suas) próprios(as) filhos(as), ou em como
ele(a) se relacionava com seu(ua) marido(mulher).
Usamos três estilos de conexão sentimental
originalmente desenvolvidos por Ainsworth e usados
por Hazan e Shaver (1987), a saber: seguros,
evitantes (elusivos) e ansiosos / ambivalentes.
Um relacionamento seguro entre os pais é aquele
que é afetivo, generoso e nada infeliz. Um
relacionamento seguro entre pais e filhos é aquele
em que a mãe respeitava o sujeito e se mostrava
confiante, acolhedora, responsável, não intrusa e
não exigente, confiável, compreensiva e bondosa ou
generosa, e no qual o pai, entre outras coisas, era
generoso, amoroso, bem-humorado e afetivo. Ao
dizer que os sujeitos seguros, quando comparados
aos sujeitos inseguros, relataram relacionamentos
mais calorosos com ambos os pais e entre os pais,
podemos dizer que “Visto que menos pesquisas
foram feitas com os pais, experimentalmente
presumimos que os resultados relacionados a eles
fossem vagamente semelhantes aos resultados
obtidos para as mães” (Hazan e Shaver 1987, 2).
Os respondentes evitantes (elusivos) devem declarar
que suas mães foram, no geral, frias e rejeitadoras
(os pais também). Os adultos evitantes também
tinham a probabilidade a terem tido um pai ou mãe
alcoólatra do que os adultos com outros estilos de
ligação.
Os respondentes ansiosos/ambivalentes devem se
lembrar de uma mistura de experiências positivas e
negativas com suas mães. Os sujeitos
ansiosos/ambivalentes enxergavam seus pais como
homens injustos. (Hazan e Shaver 1987, 9)
Hazan e Shaver (1987) identificaram os estilos de
ligação românticos dos entrevistados dizendo que os
amantes seguros eram felizes, amigáveis e
confiantes. Os inquiridos enfatizaram o fato de
serem capazes de aceitar e apoiar o (a) seu(a)
parceiro(a) apesar de suas falhas. Mais ainda, seus
relacionamentos tendiam a durar mais tempo.
O comportamento romântico evitante foi
caracterizado como medo de intimidade, altos e
baixos emocionais e ciúmes. Os entrevistados não
estavam interessados em buscar e desenvolver a
intimidade e se mostraram cínicos em relação aos
seus relacionamentos.
O comportamento ansioso/ambivalente inclui adultos
que anseiam por relacionamentos românticos;
alguns até se mostram desesperados. Os sujeitos da
pesquisa foram argumentativos, intrusos e
extremamente controladores em seus
relacionamentos românticos. Os adultos
ansiosos/ambivalentes enxergavam o amor como
algo que envolvia a obsessão, o desejo por
reciprocidade e união, altos e baixos emocionais e
atração sexual e ciúmes em demasia (Hazan e
Shaver 1987, 6).
Ambos os comportamentos evitantes e
ansioso/ambivalente, ligações afetivas que foram
aprendidas na relação entre pais e filhos, são
modelos que prevalecem nas histórias dos
entrevistados nesta pesquisa. Tais modelos foram
analisados observando-se as qualidades citadas por
Hazan e Shaver. Esses dois comportamentos
aprendidos foram encontrados em dezenove dos
vinte entrevistados.
Os pastores brasileiros e suas ex-mulheres
sentiram-se inclinados ao casamento com pessoas
que tinham a mesma dificuldade para criar vínculos
afetivos. Dois casais eram compostos por maridos e
mulheres evitantes, quase anti-românticos. Outros
dois casais escolheram parceiros
ansiosos/ambivalentes. A única exceção à regra foi
um marido seguro que se casou com uma mulher
ansiosa/ambivalente. Seis casais escolheram
parceiros inseguros quanto ao estabelecimento de
uma ligação afetiva romântica - uma combinação de
evitante com ansioso/ambivalente.
Se as conclusões de Bowlby, Ainsworth, Hazan e
Shaver puderem ser aplicadas ao nosso estudo,
afirmamos, portanto, que os comportamentos de
ligação afetiva insegura, herdados do
relacionamento entre pais e filhos, influenciaram
negativamente a qualidade dos casamentos e
aumentaram a propensão ao divórcio.
Está claro que doze casais divorciados
demonstraram insegurança em sua capacidade de
criar vínculos afetivos; dezenove dos vinte cônjuges
entrevistados vieram de lares cujo nível é abaixo do
considerado saudável, e nove deles são
provenientes de lares “não intactos”.
SUGESTÃO DOS ENTREVISTADOS PARA UMA
VACINA ANTI-DIVÓRCIO CLERICAL:
1. Orarem juntos pedindo Deus manter a vida
conjugal de vocês => Para um casal de pastores
evitar o divórcio, acima de tudo, depender de Deus,
orar sempre no sentido de manter a vida conjugal
que tudo depende da vida espiritual (2:29:1610).
2. Compreenda e aceitar o outro. => Procurar
compreender o máximo um ao outro e aceitar o outro
como ele é, como ela é.... com todos os seus
defeitos, reconhecer que todo ser humano é
defeituoso, não existe ninguem perfeito (2:29:1615).
3. Invistam no casamento de vocês. => Invistam o
que puderem investir no casamento de vocês.
Casamento é um investimento e tem que ser para o
resto da vida porque tudo que você dá e não coloca
de novo, um dia vai desgastar e vai acabar. Então
casamento é um investimento. Vocês precisam
investir no casamento de vocês, no relacionamento
de vocês (9:51: 2157)
4. Divórcio não soluciona nada. => Eu não acho que
divórcio seja solucão para nada nessa vida. Divorcio
não soluciona nada. O caminho de resolucão para o
casamento de vocês não é pelo divórcio – é pelo
diálogo, pelo tratamento, pela conversa, pelo
investimento naquilo que vocês precisam fazer. Se
tem alguma coisa no relacionamento de vocês que
precisa ser tratado, busque tratamento, busque
ajuda, mas não pense que separando, vai resolver o
problema. Porque vai causar um problema muito
maior, uma dor muito mais intensa. (9:52:27)
A segunda coisa que vou perguntar para eles que
querem divorciar é “O que que eles acreditam que
um divórcio pode levar? Ah, está bom vocês vão se
divorciar?” Resposta: “Vamos sim”. É esse divórcio,
o que vai trazer para vocês? Eu disse isso para uma
família algum tempo atrás, eu falei: sabe qual é o
problema? ”Nós não estamos educando os nossos
filhos para enfrentar problemas, hoje o divórcio é um
meio de evitar problemas e com Jesus a gente não
evita problemas, com Jesus a gente supera
problemas. A gente aprende a pedir perdão, a gente
aprende a se perdoar, a gente aprende a se
levantar.... (18:60:3220)
5. Admita que existe uma atração por outra pessoa,
e peça ajuda ao seu cônjuge => Talvez se na
primeira vez que eu senti vontade de esconder a
aliança e eu não fiz, mas senti vontade e tivesse
contado para a minha esposa, e dividido isso com
ela, por mais brava que ela ficasse, por mais
enciumada e outras coisas, mas eu iria pedir ajuda
para ela. Acho que o conselho que eu daria é jogar
limpo, sentar e conversar mesmo, “olha eu senti
vontade de tirar a aliança”. Olha o fulano ou fulana
de tal me atraiu então vamos tentar resolver isso, e
tantar resolver isso com Deus, porque isso é só um
milagre, porque Deus é o dono do Amor (12:53).
6. Procurar um mentor ou mentora. => Tem de ter
uma terceira pessoa para aconselhar, tanto o rapaz
como a moça. Tem que ser suficentemente
humildes, ter uma pessoa. Procure uma pessoa. Isso
é importante, uma pessoa que você pode abrir o
coração. (14:49:2600)
MINHAS SUGESTÕES PARA UMA VACINA ANTI-
DIVÓRCIO CLERICAL:
1. PROCESSO TERAPÊUTICO: Um processo
terapêutico para casais em crise deve ser
estabelecido. Vários casais sugeriram isso. De
acordo com os entrevistados, a ênfase deveria estar
sobre a intensidade das primeiras poucas semanas.
Uma “(con)vivência saturada”, como um deles a
chamou; uma semana ou duas na companhia de
um(a) conselheiro(a), seguidas de uma redução
gradativa das sessões por parte do terapeuta. Foi
esta sugestão que acabou nos motivando para
iniciar o Ministério Oásis.
2. IDENTIFICAÇÃO DOS FATORES DA FAMÍLIA
DE ORIGEM: Pastores, professores e
conselheiros(as) que são procurados por namorados
e casais, devem os entrevistar e identificar os fatores
da família de origem (a família intacta ou não), a
qualidade do casamento dos pais e o estilo de
ligação afetiva existente no aconselhando. Quando
se constata que a combinação desses três fatores
não é saudável, as intervenções (sessões de
aconselhamento) devem continuar a fim de que eles
sejam trabalhados e superados. Sugestão de
Leitura: Se tiver problemas pessoais na área de
fatores da familia de Origem, podem ler “An
emotional healthy church” por Peter Scazzero; ou
Por que tenho medo de lhe dizer quem sou? por
John Powell, ou Limites por Cloud e Townsend; ou
Construindo uma nova imagem pessoal por Joshua
McDowell.
3. PERIGO NOS CONTEXTOS DE GRANDES
METRÓPOLES: O estresse produzido num contexto
de grandes metrópoles pode representar um perigo
para o casamento: Exemplo: A cidade de Brasília
tem o maior número de divórcios na denominação
ICEB. Estas estatísticas coincidiram com as
estatísticas brasileiras: Brasília é a cidade com o
maior número de divórcios em todo o país.
Sugerimos, portanto, que num contexto de cidade
grande, os casais fiquem em alerta.
4. NECESSIDADE DE MODELOS: Os seminários
devem criar uma mentalidade de transparência entre
os seus pastores, começando em primeiro lugar
entre os professores que são os modelos. => Um
pastor argumentou que nenhum colega atendeu às
suas necessidades por não haver modelos de
transparência quando ainda estava no seminário.
“Ninguém atendeu às minhas necessidades porque
tenho a impressão de que isso deve começar no
seminário. O seminário tem que orientar o aluno – se
você está em crise, procure um colega, um pastor. É
lá que essa mentalidade deve ser criada. (...)
Quando nos formamos no seminário pensamos que
somos os donos da verdade (...) há muito orgulho e
altivez. (...) Se eu abrir meu coração para o Bill, o Bill
pode usar isso contra mim e me destruir. Vou perder
meu pastorado. Muitos fazem isso. Tantos vão para
outras cidades e se abrem para um colega. É um
tormento o fato de o pastor não ter com quem abrir
seu coração.” (14: 58)
Sugestão de Currículo: Algumas tentativas formais
de prevenção ao divórcio poderiam ser incluídas no
currículo do seminário: teologia e prática da família,
entrevistas anuais e avaliações dos casais e um
retiro de casais anual para tratar de tópicos
relacionados ao casamento.
5. TEOLOGIA PASTORAL: As aulas de teologia
pastoral devem lidar muito mais profundamente com
os seguintes conceitos: (1) a igreja como uma
comunidade terapêutica incluindo o pastor e sua
família; (2) a humanidade do pastor (vulnerabilidade,
sexualidade, transparência); (3) sensibilidade e
sobriedade em relação aos problemas dos colegas.
(Talvez seja muito mais necessário que os próprios
professores residentes dêem o exemplo de tais
princípios a seus alunos e colegas.); (4) as causas
do divórcio entre os pastores da ICEB são iguais às
obtidas em pesquisas feitas entre pessoas não
cristãs e pertencentes a outras culturas - adultério,
seguido de dificuldades pessoais (falta dos frutos do
Espírito Santo) e problemas sexuais. Estas causas
enfatizam a humanidade do pastor e apontam para o
fato de que um cuidado muito especial deve ser
dado às questões da sexualidade humana sob o
controle do Espírito; e (5) a análise do fenômeno das
expectativas pessoais do pastor, as quais excedem
as expectativas de Cristo e da igreja.
Conclusões
1. O adultério raramente é a primeira e única causa
do divórcio. => Nossa tendência é dar um grau maior
ao adultério e classificá-lo como “a” causa de um
divórcio. Na verdade, tal classificação superior
aplica-se a qualquer um dos motivos descritos na
documentação do divórcio. Nossa língua desmente
esta ênfase imerecida. Tendemos a dizer e a ouvir,
“O adultério foi ‘a’ causa do divórcio deles”. Ao
compararmos esta citação com outros casos; casos
em que existiram expectativas frustradas durante o
casamento, é possível ouvir alguém afirmar: “Suas
expectativas sobre o casamento não foram
satisfeitas, o que aumentou o estresse conjugal”. Na
realidade, o adultério, o abandono do lar, ou
qualquer outra razão citada, foi apenas uma das
causas do divórcio, e não a única, nem tampouco a
primeira. Em geral, o motivo dado foi a causa final.
Melhor dizendo, foi o resultado final de um processo
de divórcio prévia e (no geral) clandestinamente
desenvolvido por um ou por ambos os cônjuges.
2. As histórias dos pastores divorciados e de suas
ex-esposas repetidamente enfatizam que o divórcio
é tanto um processo quanto um ato final.
Compreendido sob a perspectiva bíblica, o processo
do divórcio é pecaminoso, mas a “carta de divórcio”
final é uma permissão misericordiosa de Deus.
3. O divórcio não é a solução para nada nesta vida.
=> Este conceito foi cristalizado pelas palavras de
um ex-marido:
Invista em seu casamento. O divórcio não é a
solução para nada nesta vida. O divórcio não resolve
nada. O caminho da solução para o seu casamento
não passa pelo divórcio. É pelo diálogo e tratamento,
pela conversa, pelo investimento naquilo que você
precisa fazer. Se há algo em seu relacionamento
que precisa ser tratado, busque tratamento, busque
ajuda, mas não pense que a separação resolverá
seu problema. (9: 51)
Os pastores que passaram pela separação judicial
expressaram verbalmente que hoje se posicionam
ainda mais fortemente contra o divórcio do que
quando ainda estavam casados. Uma resposta típica
foi:
“Sou divorciado, mas sou uma pessoa
veementemente contra o divórcio. Não vale a pena.
Ele transforma pessoas íntimas em estranhos” (14:
23).
4. A maioria dos divórcios ocorre porque um ou
ambos os cônjuges estão no estado de “dureza de
coração”. => Um ou outro ou os dois se recusam a
admitir atitudes e comportamentos pecaminosos
e/ou emocionalmente insalubres e não se
arrependem. A metáfora bíblica é a “dureza de
coração”. Um ex-marido pastor dá sua compreensão
do raciocínio bíblico sobre o divórcio.
“Vejo as Escrituras admitindo o divórcio em três
situações. Antes de mais nada, as Escrituras não
encorajam o divórcio. (...) O divórcio aconteceu para
preservar os direitos da mulher, porque uma mulher
era descartável. (...) Mas porque Deus permitiu que
Moisés desse uma carta de divórcio? Cleriocardia -
dureza de coração. A dureza de coração. Não foi por
causa de uma relação sexual ilícita; nem por uma
deserção voluntária. O ponto principal foi a dureza
de coração.” (14: 47)
Um outro ex-marido descreve sua própria
experiência como endurecimento do coração.
“Então, toda a culpa de perdê-la foi minha. Ela não é
culpada de nada. Simplesmente, eu sou a causa de
tudo isso. Deus colocou em minhas mãos; Ele me
deu todos os tipos de chances. Só faltou um anjo
descer do céu e me dizer que saísse daquele lugar.
Deus colocou milhares e milhares de pessoas para
me dizerem isso, mas eu não ouvi. Eu agi como
faraó; endureci meu coração a ponto de perder
tudo.” (17: 16)

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  • 1. CASAMENTOS SAUDÁVEIS: 2010-05-04 12:08:17 Descobrindo uma vacina contra o divórcio clerical - Dr. Bill Bacheller, 2010 O dia 14 de maio de 1796 foi um dia extraordinário na história da saúde humana. Como quase sempre acontece, os inventores ou pesquisadores não percebem na hora. O criador da primeira vacina, contra a varíola, Edward Jenner, um médico inglês, ao observar que pessoas que ordenhavam vacas não contraíam a varíola, desde que tivessem adquirido a forma animal da doença, extraiu o pus da mão de uma ordenhadora que havia contraído a varíola bovina e o inoculou em um menino saudável, James Phipps, de oito anos, em 04 de maio de 1796. O menino contraiu a doença de forma branda e logo ficou curado. Em 1º de julho, Jenner inoculou no mesmo menino líquido extraído de uma pústula de varíola humana. James não contraiu a doença, o que
  • 2. significava que estava imune à varíola. As vacinas são substâncias, como proteínas, toxinas, partes de bactérias ou vírus, ou mesmo vírus e bactérias inteiros, atenuados ou mortos, que ao serem introduzidas no organismo humano, suscitam uma reação do sistema imunológico semelhante à que ocorreria no caso de uma infecção por um determinado agente patogênico, desencadeando a produção de anticorpos que acabam por tornar o organismo imune ou, pelo menos mais resistente, a esse agente. Gostaria de descobrir uma vacina que desencadeasse a produção de anticorpos que acabam por tornar o pastor e a esposa imunes, ou pelo menos, mais resistentes aos agentes patogênicos do divórcio. Comecei esta procura há sete anos escrevendo minha tese de doutorado. Neste estudo, um projeto de pesquisa qualitativo e descritivo foi escolhido
  • 3. empregando-se a entrevista etnográfica. O estudo identifica e analisa os fatores que contribuem para o divórcio ou separação legal de doze pastores divorciados e oito de suas ex-mulheres, ou seja, entre 20 pessoas divorciadas. Todos eles eram membros da Igreja Cristã Evangélica do Brasil. Usei o mesmo protocolo (as mesmas perguntas) com todos eles. Gravei todas as entrevistas que duraram entre uma hora e meia até quatro horas e meia, com a média de duas horas e meia por pessoa. Fiz a transcrição, resultando em mais que 1500 folhas datilografadas em espaço simples. No momento em que as entrevistas foram feitas, a amostra de pastores divorciados e separados era igual a da população. Em outras palavras, entrevistei todos os pastores divorciados da denominação, faltando 4 ex- esposas. A terceira pergunta da pesquisa era: “Que fatores levaram os pastores divorciados ou separados da ICEB e suas ex-mulheres ao divórcio?” A pergunta da entrevista era: “Você poderia me contar a história
  • 4. de seu casamento?” A partir desta pergunta nós identificamos 6 níveis de causas do divórcio: 1. Causas legalmente registradas do divórcio; 2. Causas que de acordo com os entrevistados provocaram o divórcio (geralmente não são as mesmas das causas legalmente registradas); 3. Causas ou fatores que trouxeram estresse não- solucionado para o casamento; 4. Causas indiretas do divórcio (fatores que não residem somente na alma de um ou de outro dos cônjuges; 5. Causas ou fatores pré-matrimoniais que predizem a qualidade da relação conjugal; e 6. Os Fatores da Família de Origem. É muito raro haver - se é que há – apenas um fator contribuinte para o divórcio. Os fatores do divórcio podem ser comparados a um triângulo eqüilátero. Em seu cume está o fator, digamos de adultério ou abandono do lar (por, no mínimo, um ano ininterrupto pelas leis brasileiras). Isto é registrado nos argumentos legais para a avaliação do juiz, e fica lá, no seu gabinete. Contudo, há um segundo
  • 5. nível, mais profundo, de causas. Estas causas são reconhecidas e discutidas por um dos cônjuges ou por ambos; às vezes discutem a causa entre si, às vezes não. Um dos cônjuges, ou mesmo os dois, discutirá com uma terceira pessoa. Este é o segundo nível do triângulo. Há o terceiro nível na base, intermediário do triângulo o qual inclui todos os conflitos não-solucionados, não percebidos como causas para um divórcio. Os entrevistados continuam a falar destes conflitos quando contam suas histórias, mas não percebem conscientemente, que estes conflitos são fatores que contribuíram para seus divórcios. Este terceiro nível, contém o maior número de ofensas, mas está em um nível mais baixo de intensidade, em comparação com os níveis acima, os quais eles reconhecem e com o topo, o qual é reconhecido legalmente pelo juiz e pela sociedade. Finalmente, vêm as causas pré- matrimoniais. Este quinto nível, a base do triângulo, determina uma parte considerável do ambiente, calor humano, confiança ou não, presença de ciúmes, etc, etc, para um tempo indeterminado do casamento.
  • 6. Dependendo como o casal resolve as tensões, o casamento cresce ou murcha. O suporte do triângulo do divórcio é a mesa dos fatores da família de origem. A hipótese é que os maridos e esposas não estão conscientemente cônscios dos conflitos conjugais do dia-a-dia que, se deixados irresolvidos, contribuem para o divórcio. Somente após o divórcio ter ocorrido e ao relatar suas histórias a outras pessoas, estes fatores revelam-se a eles. A base para colocar o material discutido no primeiro e segundo níveis foi o fato de os próprios indivíduos fazerem uma declaração alegando a causa, ou causas, que contribuíram para o divórcio. O pesquisador colocou os fatores na terceira seção com base na repetição do informante e no conflito interno por ele demonstrado. A suposição subjacente era que enquanto os participantes contassem as histórias de seus casamentos, aqueles incidentes (tanto bons como ruins) que marcaram suas vidas surgissem. Fatores irresolvidos mostraram-se presentes através
  • 7. de lágrimas, de mudança no tom ou na velocidade da voz, pela repetição ao longo da narrativa, ou pela afirmação tácita que tais fatores haviam sido - e em alguns casos ainda o eram - difíceis para eles. Algumas vezes, um movimento corporal ou uma risada nervosa denunciaram a tensão. O teor do fator foi, obviamente, de grande ajuda na identificação. 1. CAUSAS REGISTRADAS LEGALMENTE: A pergunta era: “Você pode me dizer o que foi escrito no documento legal como sendo a causa do divórcio? Mais tarde na entrevista, eu levantei a pergunta, “Em sua opinião, o que causou o divórcio”? As respostas não foram as mesmas, isto é, o que foi escrito no documento, não foi o que os cônjuges realmente acreditaram, exceto um único entrevistado. 1.1. As três causas registradas: Abandono do lar (10 casais); Adultério (1); União Estável (1); Como resultado do estudo, quatro verdades básicas
  • 8. concernentes aos aspectos legais do processo de divórcio brasileiro emergiram: 1.1.1.1. As esposas deram início a oito das doze separações. => Este fato demonstra as constatações (Holman 2001) de que as mulheres frequentemente pedem o divórcio. 1.1.1.2. Quase todos os divórcios foram consensuais, e não litigiosos. => Dos doze casais, apenas um passou por um processo litigioso, e um não é legalmente separado. A lei reconhece a segunda união como uma lei de casamento comum. 1.1.1.3. Foi difícil obter informações sobre as causas legalmente escritas. 1.1.1.4. Havia uma grande diferença entre adultério reconhecido e o que foi registrado no divórcio legal. => Havia uma grande diferença entre adultério reconhecido/confesso como causa não-oficial do divórcio e a causa realmente escrita. Havia apenas um caso oficial escrito como adultério, todos os outros casos foram registrados como abandono
  • 9. permanente do lar. 2. CINCO CAUSAS MAIS ALEGADAS => Os informantes discutiram um total de 26 razões que levaram à dissolução de seus casamentos respondendo à pergunta, “Em sua opinião, o que causou o divórcio? 2.1. Adultério (9 cônjuges) => Importante destacar que somente três destes nove acreditaram que esta foi a causa principal do divórcio. 2.2. Falta de qualidades virtuosas (7 cônjuges) 2.2.1.Falta do E.S em mim, como está em Gálatas, eu era imatura -“vaidade, orgulho, insegurança pessoal, falta de temor, reverência e respeito à Deus”; 2.2.2. Faltou bondade, amor compreensão, falta do Espirito; 2.2.3. Relutância de pedir perdão ou em admitir o erro sufocou meu casamento;
  • 10. 2.2.4. Dureza do meu coração; eu era extremente individualista. 2.2.5.Só pensava em mim; coloquei a minha vontade acima da vontade de Deus; 2.2.6.Ciúme do relacionamento pastoral com outras mulheres; 2.2.7. Perda de autocontrole em momentos de agressão verbal também foi identificada: “Tinha momentos em que eu explodia”. 2.3. Ele (a) nunca me amou (5 cônjuges) Ela falava, “Como posso dar alguma coisa que nunca recebi”. Ela não gostava de mim. Falou isto por 20 anos. Ela queria separar de mim. 2.4. Problemas sexuais (3 cônjuges) 2.4.1. Procurando outra mulher na internet 2.4.2. Incapacidade de satisfazer a esposa sexualmente devido a orgasmo precoce 2.4.3. Estupro antes do casamento 2.5. Problemas Comportamentais: hipocrisia como pastor (2); problemas de comunicação (2); não
  • 11. dedicava tempo suficiente à família (2); dificuldades para procurar aconselhamento (2); álcoolismo (2). 3. CINCO CAUSAS MAIS DESPERCEBIDAS (e não resolvidas) Esses conflitos foram colocados nesta categoria porque os entrevistados não fizeram ligação consciente, oral entre a separação e esses conflitos não resolvidos, e não percebidos como fatores contribuintes para o divórcio. 3.1. Problemas sexuais (10 cônjuges) 3.1.1. Fantasias sexuais não realizadas 3.1.2. Esposa que nunca sentiu orgasmo 3.1.3. “Eu não sei fazer amor. Não sei como satisfazer meu marido como eu deveria”. 3.1.4. Negar o ato sexual quando foi pedido por um cônjuge 3.1.5. Problemas sexuais na família de origem de um cônjuge causam tensão entre marido e mulher 3.2. Adultério (7 cônjuges) 3.3. Falta de qualidades virtuosas (7 cônjuges) 3.4. “Minha esposa não queira ser mulher de pastor”
  • 12. (6 cônjuges) 3.5. Problemas comportamentais: hipocrisia como pastor (5 cônjuges); dificuldades para procurar aconselhamento (5 cônjuges) ; pais e sogros (5 cônjuges); problemas de comunicação (5 cônjuges). 4. CINCO CAUSAS INDIRETAS (intercâmbio entre cônjuges e agentes de fora) => Enquanto os entrevistados contavam a história de seus casamentos e divórcios resultantes, uma causa indireta que foi citada várias vezes foi que pastores e/ou suas esposas não pediam ajuda antes da crise. Cinco fatores impediam os pastores e/ou suas esposas de buscar ajuda antes que fosse tarde demais 4.1. Os pastores e esposas não procuraram ajuda devido à vergonha. => Ficou claro durante as entrevistas que devido à dinâmica internalizada do filho pródigo, o casal com problemas matrimoniais não queria se expor devido à vergonha e ao medo de ser envergonhado. Como resultado, o casal não procurava ajuda. Eles não expuseram a si mesmos.
  • 13. Este fato pode ser exemplificado através da história do seguinte pastor que nunca expôs seu problema matrimonial. “Nesse período de vinte e um anos de casamento ninguém soube dessas coisas, absolutamente ninguém. Muitas pessoas tinham suas dúvidas, mas ninguém soube dessas questões sobre a infidelidade da minha esposa, ninguém (...) A primeira e única pessoa que sabe a história toda do meu divórcio é você! Algumas pessoas talvez saibam pedaços.” E quando o casal se expôs (a denominação estava ciente) esta esposa argumenta que a denominação não veio em socorro antes do divórcio. “Não houve apoio da denominação nesse sentido - nada. Eu nunca vi, e olha! Todo mundo sabia que uma separação estava para acontecer (...) Eles sabiam, porque eu não escondi isso das pessoas. Eu estava muito fora de forma, vivendo mal, e ninguém veio à nossa casa para trabalhar isso com meu marido, ou conosco, para nos apoiar, para apoiá-lo.” (11: 4)
  • 14. Nós começamos a pesquisar a dinâmica do medo de ser abandonado pela denominação antes e durante os dias sombrios do divórcio. O que encontramos foi a dinâmica entendidada pelos divorciados da parábola do Filho Pródigo versus a parábola do Bom Samaritano. A dinâmica da vergonha era: informar o comportamento de colegas da denominação para envergonhar o irmão em pecado até que ele se arrependesse, distanciando-o do grupo e, consequentemente, também sua ex-esposa e filhos. Quando o pastor divorciado estivesse se afundando na lama do chiqueiro - sozinho e no fim de seus próprios recursos - ele então tomaria a iniciativa de confessar seu pecado ao grupo, e ao fazê-lo, retornaria ao grupo novamente. Entretanto, enquanto isso, o pastor separado expressou a necessidade do judeu viajante que foi atacado e surrado pelos ladrões. O pastor e sua ex-esposa esperavam que um Bom Samaritano viesse e os socorresse. Encontramos dois temas nesta dinâmica: procura e abandono.
  • 15. O Tema da Procura A definição de amigo forneceu a estrutura de identificação de duas parábolas que lidaram com um traço essencial e seu traço oposto. De acordo com os entrevistados, este é o traço necessário para evitar um divórcio e a cura após um divórcio. O amigo que procura precisou encontrar e abrir a porta para um pastor sofredor que muitas vezes não pediu ajuda a um Bom Samaritano para evitar o fim de seu casamento. Atentem para o relato deste pastor: “Entretanto, eu sempre precisei de um Bom Samaritano porque eu deixei Jerusalém em direção a Jericó. Traduzindo, eu deixei o centro de adoração, que era a igreja (denominação) e fui em direção ao mundo e fui assaltado por agressores, que são as circunstâncias da vida, e eu fui ferido. Eu estava meio-morto espiritual e fisicamente falando. Todos os perigos que você puder imaginar eu corri - pessoas que queriam se vingar de mim, como de
  • 16. fato aconteceu. Um cara veio à loja onde eu estava trabalhando para me matar e foi só por Deus que ele não o fez. O revólver estava carregado, e quando ele chegou à loja (eu não o tinha visto) ele se sentiu muito mal e foi embora. Sua consciência estava pesada e ele não teve coragem [de atirar em mim]. Ele era um homem que já havia feito isso antes [matado], e ele me contou depois (...) Então, na verdade, eu me tornei um homem moribundo e precisava muito de um Bom Samaritano ao meu lado que me orientasse e me amparasse “ (...) (12:17) O Tema do Abandono Enquanto o pastor estava procurando pelo Tema da Procura, elemento essencial da parábola do Bom Samaritano, seus colegas estavam demonstrando o Tema do Abandono da Parábola do Filho Pródigo: “Talvez estes que se diziam amigos simplesmente queriam que a parábola do Filho Pródigo acontecesse. Isto é, que eu fosse até comer com os
  • 17. porcos e então voltasse ao meu juízo e voltasse [para casa]. Talvez esta seja a atitude deles. Eu sou como o cara na história do Bom Samaritano. Enquanto todo mundo olhava para mim da perspectiva do Filho Pródigo, eu sou na verdade o judeu ferido da parábola do Bom Samaritano. Eu estou caído e só vendo sacerdotes passando do outro lado (...) Então, por causa disso, quando o pastor de [cidade] disse que sentia saudade de mim, eu quase disse para ele ir para o inferno (...) Você, Pastor Bill, que mora tão longe - quando você quis me encontrar você me encontrou (…) em outra cidade onde eu estava morando. Eu estava andando por aí e todo mundo sabia meu endereço [mas não apareceram]. Outros dois pastores que moram nesta cidade me pediram meu endereço e meu telefone várias vezes mas nunca vieram, e agiam como se eu não estivesse aqui.” (12:43). 4.2 Os pastores e esposas não procuraram ajuda devido à igreja não ser uma comunidade terapêutica. => Um pastor ex-marido deu o seguinte conselho:
  • 18. “Procure ajuda de alguém que pode ajudar você. Não é sempre o homem intelectual, mas o homem de Deus pode ser o melhor para fazer isso. Antigamente eles diziam que era a cura para a alma (...) Nossas igrejas não são uma comunidade terapêutica. Ela ficou doente. Você tem algum problema aqui? Você não pode abrir seu coração nem mesmo com seu pastor. Vá procurar um psicólogo.” (14: 57) 4.3 Os pastores e esposas não procuraram ajuda devido à falta de transparência nos pastores. => os seminários não criaram uma mentalidade da transparência entre os pastores. “Ninguém respondeu à minha necessidade porque eu tenho a impressão que isso tem que começar no seminário. O seminário tem que orientar o aluno - se você está em crise, procure um colega, um pastor. É lá que essa mentalidade é criada (...) Quando nós nos formamos no seminário nós pensamos que
  • 19. somos donos da verdade (...) Tem muito orgulho e arrogância (...) Se eu abrir meu coração com o [entrevistador] ele pode usar isso contra mim e me destruir. Eu vou perder meu pastorado. Muitos fazem isso. (14: 58) 4.4 Os pastores e esposas não procuraram ajuda devido à ideia que o pastor é perfeito. => Os pastores e congregações persistem em manter a noção de que os pastores são perfeitos. Quando eu estava em um dos meus períodos de internato, eu pedi ao grupo de adolescentes para orar pelo meu namoro. Ele não estava bem e eu precisava de oração. O pastor lá veio a saber sobre meu pedido e ficou irritado porque eu tinha pedido para os adolescentes orarem por mim. Ele veio e me disse: ‘Os alunos do seminário não precisam pedir oração para os membros da igreja em relação ao namoro. Eles olham para nós e vêm que nós somos perfeitos’. Eu não sou perfeito. Você pode ser, mas eu não (...) Eu preciso de oração. (17: 10)
  • 20. Um segundo exemplo da perspectiva de um membro da igreja: “Eu lembro quando eu estava pastoreando e uma senhora me disse: ‘Reverendo, você está se expondo demais no púlpito. Não se esqueça que você é meu pastor.’ Ela disse ‘Não se exponha’ porque eu abri meu coração. A pessoa disse: ‘Eu não quero este tipo de pastor. Eu quero um pastor perfeito’.” (14: 39) 4.5 Os pastores e esposas não procuraram ajuda devido aos colegas que não encararam o problema seriamente. “Uma vez eu estava dirigindo, voltando da minha cidade de origem com quatro colegas pastores e eu disse a eles: ‘Nós estamos tendo bastante atrito e eu sinto que isso está atrapalhando nosso casamento. Eu acho que eu estou perdendo minha esposa pouco a pouco (...)’ Meus colegas só zombaram do
  • 21. meu relacionamento com minha sogra. ‘Diga para ela ir embora, ponha ela para fora’, eles disseram. Eu vi que eu não podia contar com eles para me ajudarem. (17: 38) 5. CINCO CAUSAS PRÉ-MATRIMONIAIS MAIS COMUNS => O objetivo de perguntar aos entrevistados a respeito de suas fases de namoro e noivado era descobrir fatores pré-matrimoniais que poderiam prognosticar o divórcio e lutar contra a capacidade de romper um relacionamento (namoro) ruim. De acordo com Holman, os fatores pré-matrimoniais que predizem o divórcio podem ser agrupados em quatro áreas de princípios: 1) fatores de histórico da família de origem, 2) características individuais, 3) fatores sócio-contextuais, e 4) processo interacional do casal (Holman 2001, 56). Nós usamos estas quatro categorias para identificar prognosticadores pré-matrimoniais de divórcio. Os indivíduos que têm dificuldade em romper um relacionamento (namoro) ruim são aqueles que
  • 22. tiveram um relacionamento insatisfatório com seus pais, baixa estabilidade emocional, controle insuficiente de seus impulsos, baixa auto-estima, e posturas ou atitudes que não proporcionam encorajamento ou ajuda emocional em relacionamentos duradouros de alta qualidade com seus pais ou outros adultos. “Nós podemos especular que quando se eles casam, dirigem-se para os grupos de... divorciados/separados” (Holman 2001, 75). Em nossa análise, o empecilho mais comum para que um indivíduo rompesse um relacionamento pré- matrimonial ruim era a personalidade “ansiosa- ambivalente”, de acordo com a teoria da ligação. Nove cônjuges (cinco homens e quatro mulheres) tinham tendências a serem emocionalmente instáveis, impulsivos, e tinham baixa auto-estima. Eles eram indivíduos inseguros e preocupados; têm a tendência de formar modelos negativos de si mesmos, são altamente dependentes e receiam que as demais pessoas não os valorizem. Este tipo de personalidade normalmente impede que um
  • 23. indivíduo rompa um relacionamento pré-matrimonial doentio. Estas mesmas características também influenciam negativamente a qualidade do casamento uma vez que o indivíduo se casa. 5.1. Muito novo quando se casou 5.2. Pouco tempo de namoro-noivado. 5.3. Formação fraca de identificação como casal 5.4. Andavam contra a sua “rede” social 5.5. Discrepância em atitudes e crenças entre o casal 6. OS FATORES DA FAMÍLIA DE ORIGEM 6.1. O Lar intacto ou não intacto => De acordo com a pesquisa de Holman (2001,p.99), o fator da família de origem definida como ‘estrutura familiar’ é explicado como uma família intacta ou não intacta. A família intacta significa que ambos os pais biológicos estão presentes até os filhos deixassem o lar.
  • 24. Quando um dos pais não está presente até a saída do lar do filho, a estrutura familiar será não intacta. Holman disse “... os maridos e as mulheres provenientes de lares intactos disseram que seus pais demonstravam uma satisfação conjugal significativamente mais alta, e que a qualidade de vida conjugal de seus pais estava positiva e significativamente relacionada à qualidade do relacionamento entre pais e filhos” (Holman 2001, 99). Ou seja, a presença dos dois pais até a saída dos filhos, melhora o grau de satisfação conjugal e o relacionamento entre pais e filhos. No nosso estudo, quanto à estrutura familiar (lar intacto ou não) houve oito cônjuges (dentre eles cinco mulheres), incluindo dois casais, que não cresceram em uma família intacta. Um total de sete, dos doze casais, sofreram em uma estrutura familiar fraca. Houve quatro pessoas (três mulheres e um homem) cujas mães morreram. Outras duas (um homem e uma mulher) perderam um dos pais pelo divórcio. Uma mulher nasceu fora do casamento, foi
  • 25. adotada, e depois criada por um padrasto, que faleceu quando ela tinha sete anos de idade. Um homem também nasceu fora do casamento e foi criado por um padrasto. 6.2. A Qualidade Conjugal dos Pais => O segundo fator da família de origem que influencia a qualidade de um casamento é a qualidade da vida conjugal dos pais. “Os melhores prognósticos do tipo de ligação (ou conexão) adulta foram as percepções do respondente à qualidade de seu relacionamento com cada um dos pais, e do relacionamento dos pais um com o outro” (Hazan e Shaver 1987, 8). A qualidade do casamento dos pais foi avaliada por meio dos comentários feitos pelos entrevistados. Cinco áreas foram avaliadas: 1) Intimidade física (freqüência e qualidade do sexo, ou adultério); 2) Amor (afeição demonstrada entre os pais); 3) Comunicação (aumento ou diminuição da qualidade do relacionamento);
  • 26. 4) Capacidade de resolver conflitos (trabalhando em prol da resolução de conflitos de maneira saudável); 5) Igualdade (ambos entendendo que têm o mesmo valor, não necessariamente o mesmo papel). Em havendo mais comentários positivos sobre qualquer combinação de fatores nas cinco áreas pelos entrevistados, o lar era considerado saudável; havendo mais comentários negativos, o lar era considerado não-saudável. Dezenove dos vinte entrevistados foram criados em lares abaixo do nível considerado “saudável”. => Dois eram crianças♣ bastardas, seus pais biológicos (homens) os abandonaram, e eles jamais os conheceram. Uma dessas crianças é um homem que, aos quatro anos de idade,♣ perdeu seu pai adotivo e foi criado por uma mãe viúva em um relacionamento “emaranhado”. Os pais (homens) de quatro dos entrevistados tiveram casos♣ amorosos contínuos; dois deles
  • 27. mantêm seus casos até hoje. Cinco homens♣ tiveram pais (homens) severos, frios, emocionalmente distantes que, segundo os filhos, nunca demonstraram carinho fisicamente nem por eles, nem por suas mães. Esses cinco admitem que tiveram dificuldades para demonstrar carinho e se comunicar com suas ex-esposas. Uma mulher teve pais emocionalmente♣ distantes que nunca a colocaram no colo quando era criança. Um homem, cujo♣ pai alcoólatra passava a maior parte das noites nas ruas da cidade, assistiu ao divórcio dos pais quando tinha apenas sete anos. Duas mulheres perderam♣ suas mães aos seis anos e viveram com vários tios até os onze anos. Depois disso, uma foi para um internato e outra para um orfanato. Um dos homens♣ afirmou que odiava seu pai e que não o perdoara por ter sido constantemente ausente durante a sua infância. Sua ex-sogra tinha uma baixa auto-estima e passou este sentimento para a filha (sua ex-esposa). Outra mulher disse♣ que sua mãe era “dominadora,
  • 28. irritada, ingrata, crítica e não acariciava meu pai” (4: 5). Ela afirmou ainda: “Vivi um triângulo amoroso com meus pais. Minha mãe tinha ciúmes do meu relacionamento com meu pai” (4: 14). Finalmente,♣ uma mulher apontou sua mãe como sendo super exigente, dominadora (provavelmente um relacionamento emaranhado com esta filha) e seu pai como injusto (no que diz respeito à disciplina). 6.3. A Ligação Afetiva entre filhos e pais vira a ligação romântica do Entrevistado => O terceiro fator da família de origem que influencia a qualidade de um casamento é o relacionamento entre pais e filhos. Com base nos comentários feitos pelos entrevistados sobre o seu relacionamento com os pais, identificamos o seu estilo de ligação afetiva de acordo com o experimento laboratorial “Strange Situation” (Situação Estranha) de Ainsworth, feito em 1978. Portanto, argumentamos que, com base em
  • 29. dois estudos (Hazan e Shaver 1987; Fraley e Shaver 2000), o estilo de ligação afetiva aprendido com os pais (em especial com as mães, mas não exclusivamente) é o mesmo estilo de ligação utilizado nos relacionamentos românticos. O pesquisador identificou o estilo de ligação de cada um dos cônjuges. A escolha do estilo de ligação afetiva romântica feita por este pesquisador foi confirmada por características reconhecidas pelo entrevistado em como ele(a) se relacionava com seus(suas) próprios(as) filhos(as), ou em como ele(a) se relacionava com seu(ua) marido(mulher). Usamos três estilos de conexão sentimental originalmente desenvolvidos por Ainsworth e usados por Hazan e Shaver (1987), a saber: seguros, evitantes (elusivos) e ansiosos / ambivalentes. Um relacionamento seguro entre os pais é aquele que é afetivo, generoso e nada infeliz. Um relacionamento seguro entre pais e filhos é aquele em que a mãe respeitava o sujeito e se mostrava confiante, acolhedora, responsável, não intrusa e
  • 30. não exigente, confiável, compreensiva e bondosa ou generosa, e no qual o pai, entre outras coisas, era generoso, amoroso, bem-humorado e afetivo. Ao dizer que os sujeitos seguros, quando comparados aos sujeitos inseguros, relataram relacionamentos mais calorosos com ambos os pais e entre os pais, podemos dizer que “Visto que menos pesquisas foram feitas com os pais, experimentalmente presumimos que os resultados relacionados a eles fossem vagamente semelhantes aos resultados obtidos para as mães” (Hazan e Shaver 1987, 2). Os respondentes evitantes (elusivos) devem declarar que suas mães foram, no geral, frias e rejeitadoras (os pais também). Os adultos evitantes também tinham a probabilidade a terem tido um pai ou mãe alcoólatra do que os adultos com outros estilos de ligação. Os respondentes ansiosos/ambivalentes devem se lembrar de uma mistura de experiências positivas e negativas com suas mães. Os sujeitos ansiosos/ambivalentes enxergavam seus pais como
  • 31. homens injustos. (Hazan e Shaver 1987, 9) Hazan e Shaver (1987) identificaram os estilos de ligação românticos dos entrevistados dizendo que os amantes seguros eram felizes, amigáveis e confiantes. Os inquiridos enfatizaram o fato de serem capazes de aceitar e apoiar o (a) seu(a) parceiro(a) apesar de suas falhas. Mais ainda, seus relacionamentos tendiam a durar mais tempo. O comportamento romântico evitante foi caracterizado como medo de intimidade, altos e baixos emocionais e ciúmes. Os entrevistados não estavam interessados em buscar e desenvolver a intimidade e se mostraram cínicos em relação aos seus relacionamentos. O comportamento ansioso/ambivalente inclui adultos que anseiam por relacionamentos românticos; alguns até se mostram desesperados. Os sujeitos da pesquisa foram argumentativos, intrusos e extremamente controladores em seus relacionamentos românticos. Os adultos
  • 32. ansiosos/ambivalentes enxergavam o amor como algo que envolvia a obsessão, o desejo por reciprocidade e união, altos e baixos emocionais e atração sexual e ciúmes em demasia (Hazan e Shaver 1987, 6). Ambos os comportamentos evitantes e ansioso/ambivalente, ligações afetivas que foram aprendidas na relação entre pais e filhos, são modelos que prevalecem nas histórias dos entrevistados nesta pesquisa. Tais modelos foram analisados observando-se as qualidades citadas por Hazan e Shaver. Esses dois comportamentos aprendidos foram encontrados em dezenove dos vinte entrevistados. Os pastores brasileiros e suas ex-mulheres sentiram-se inclinados ao casamento com pessoas que tinham a mesma dificuldade para criar vínculos afetivos. Dois casais eram compostos por maridos e mulheres evitantes, quase anti-românticos. Outros dois casais escolheram parceiros
  • 33. ansiosos/ambivalentes. A única exceção à regra foi um marido seguro que se casou com uma mulher ansiosa/ambivalente. Seis casais escolheram parceiros inseguros quanto ao estabelecimento de uma ligação afetiva romântica - uma combinação de evitante com ansioso/ambivalente. Se as conclusões de Bowlby, Ainsworth, Hazan e Shaver puderem ser aplicadas ao nosso estudo, afirmamos, portanto, que os comportamentos de ligação afetiva insegura, herdados do relacionamento entre pais e filhos, influenciaram negativamente a qualidade dos casamentos e aumentaram a propensão ao divórcio. Está claro que doze casais divorciados demonstraram insegurança em sua capacidade de criar vínculos afetivos; dezenove dos vinte cônjuges entrevistados vieram de lares cujo nível é abaixo do considerado saudável, e nove deles são provenientes de lares “não intactos”.
  • 34. SUGESTÃO DOS ENTREVISTADOS PARA UMA VACINA ANTI-DIVÓRCIO CLERICAL: 1. Orarem juntos pedindo Deus manter a vida conjugal de vocês => Para um casal de pastores evitar o divórcio, acima de tudo, depender de Deus, orar sempre no sentido de manter a vida conjugal que tudo depende da vida espiritual (2:29:1610). 2. Compreenda e aceitar o outro. => Procurar compreender o máximo um ao outro e aceitar o outro como ele é, como ela é.... com todos os seus defeitos, reconhecer que todo ser humano é defeituoso, não existe ninguem perfeito (2:29:1615). 3. Invistam no casamento de vocês. => Invistam o que puderem investir no casamento de vocês. Casamento é um investimento e tem que ser para o resto da vida porque tudo que você dá e não coloca de novo, um dia vai desgastar e vai acabar. Então casamento é um investimento. Vocês precisam
  • 35. investir no casamento de vocês, no relacionamento de vocês (9:51: 2157) 4. Divórcio não soluciona nada. => Eu não acho que divórcio seja solucão para nada nessa vida. Divorcio não soluciona nada. O caminho de resolucão para o casamento de vocês não é pelo divórcio – é pelo diálogo, pelo tratamento, pela conversa, pelo investimento naquilo que vocês precisam fazer. Se tem alguma coisa no relacionamento de vocês que precisa ser tratado, busque tratamento, busque ajuda, mas não pense que separando, vai resolver o problema. Porque vai causar um problema muito maior, uma dor muito mais intensa. (9:52:27) A segunda coisa que vou perguntar para eles que querem divorciar é “O que que eles acreditam que um divórcio pode levar? Ah, está bom vocês vão se divorciar?” Resposta: “Vamos sim”. É esse divórcio, o que vai trazer para vocês? Eu disse isso para uma família algum tempo atrás, eu falei: sabe qual é o problema? ”Nós não estamos educando os nossos
  • 36. filhos para enfrentar problemas, hoje o divórcio é um meio de evitar problemas e com Jesus a gente não evita problemas, com Jesus a gente supera problemas. A gente aprende a pedir perdão, a gente aprende a se perdoar, a gente aprende a se levantar.... (18:60:3220) 5. Admita que existe uma atração por outra pessoa, e peça ajuda ao seu cônjuge => Talvez se na primeira vez que eu senti vontade de esconder a aliança e eu não fiz, mas senti vontade e tivesse contado para a minha esposa, e dividido isso com ela, por mais brava que ela ficasse, por mais enciumada e outras coisas, mas eu iria pedir ajuda para ela. Acho que o conselho que eu daria é jogar limpo, sentar e conversar mesmo, “olha eu senti vontade de tirar a aliança”. Olha o fulano ou fulana de tal me atraiu então vamos tentar resolver isso, e tantar resolver isso com Deus, porque isso é só um milagre, porque Deus é o dono do Amor (12:53). 6. Procurar um mentor ou mentora. => Tem de ter
  • 37. uma terceira pessoa para aconselhar, tanto o rapaz como a moça. Tem que ser suficentemente humildes, ter uma pessoa. Procure uma pessoa. Isso é importante, uma pessoa que você pode abrir o coração. (14:49:2600) MINHAS SUGESTÕES PARA UMA VACINA ANTI- DIVÓRCIO CLERICAL: 1. PROCESSO TERAPÊUTICO: Um processo terapêutico para casais em crise deve ser estabelecido. Vários casais sugeriram isso. De acordo com os entrevistados, a ênfase deveria estar sobre a intensidade das primeiras poucas semanas. Uma “(con)vivência saturada”, como um deles a chamou; uma semana ou duas na companhia de um(a) conselheiro(a), seguidas de uma redução gradativa das sessões por parte do terapeuta. Foi esta sugestão que acabou nos motivando para
  • 38. iniciar o Ministério Oásis. 2. IDENTIFICAÇÃO DOS FATORES DA FAMÍLIA DE ORIGEM: Pastores, professores e conselheiros(as) que são procurados por namorados e casais, devem os entrevistar e identificar os fatores da família de origem (a família intacta ou não), a qualidade do casamento dos pais e o estilo de ligação afetiva existente no aconselhando. Quando se constata que a combinação desses três fatores não é saudável, as intervenções (sessões de aconselhamento) devem continuar a fim de que eles sejam trabalhados e superados. Sugestão de Leitura: Se tiver problemas pessoais na área de fatores da familia de Origem, podem ler “An emotional healthy church” por Peter Scazzero; ou Por que tenho medo de lhe dizer quem sou? por John Powell, ou Limites por Cloud e Townsend; ou Construindo uma nova imagem pessoal por Joshua McDowell. 3. PERIGO NOS CONTEXTOS DE GRANDES
  • 39. METRÓPOLES: O estresse produzido num contexto de grandes metrópoles pode representar um perigo para o casamento: Exemplo: A cidade de Brasília tem o maior número de divórcios na denominação ICEB. Estas estatísticas coincidiram com as estatísticas brasileiras: Brasília é a cidade com o maior número de divórcios em todo o país. Sugerimos, portanto, que num contexto de cidade grande, os casais fiquem em alerta. 4. NECESSIDADE DE MODELOS: Os seminários devem criar uma mentalidade de transparência entre os seus pastores, começando em primeiro lugar entre os professores que são os modelos. => Um pastor argumentou que nenhum colega atendeu às suas necessidades por não haver modelos de transparência quando ainda estava no seminário. “Ninguém atendeu às minhas necessidades porque tenho a impressão de que isso deve começar no seminário. O seminário tem que orientar o aluno – se você está em crise, procure um colega, um pastor. É
  • 40. lá que essa mentalidade deve ser criada. (...) Quando nos formamos no seminário pensamos que somos os donos da verdade (...) há muito orgulho e altivez. (...) Se eu abrir meu coração para o Bill, o Bill pode usar isso contra mim e me destruir. Vou perder meu pastorado. Muitos fazem isso. Tantos vão para outras cidades e se abrem para um colega. É um tormento o fato de o pastor não ter com quem abrir seu coração.” (14: 58) Sugestão de Currículo: Algumas tentativas formais de prevenção ao divórcio poderiam ser incluídas no currículo do seminário: teologia e prática da família, entrevistas anuais e avaliações dos casais e um retiro de casais anual para tratar de tópicos relacionados ao casamento. 5. TEOLOGIA PASTORAL: As aulas de teologia pastoral devem lidar muito mais profundamente com os seguintes conceitos: (1) a igreja como uma comunidade terapêutica incluindo o pastor e sua família; (2) a humanidade do pastor (vulnerabilidade,
  • 41. sexualidade, transparência); (3) sensibilidade e sobriedade em relação aos problemas dos colegas. (Talvez seja muito mais necessário que os próprios professores residentes dêem o exemplo de tais princípios a seus alunos e colegas.); (4) as causas do divórcio entre os pastores da ICEB são iguais às obtidas em pesquisas feitas entre pessoas não cristãs e pertencentes a outras culturas - adultério, seguido de dificuldades pessoais (falta dos frutos do Espírito Santo) e problemas sexuais. Estas causas enfatizam a humanidade do pastor e apontam para o fato de que um cuidado muito especial deve ser dado às questões da sexualidade humana sob o controle do Espírito; e (5) a análise do fenômeno das expectativas pessoais do pastor, as quais excedem as expectativas de Cristo e da igreja. Conclusões 1. O adultério raramente é a primeira e única causa do divórcio. => Nossa tendência é dar um grau maior
  • 42. ao adultério e classificá-lo como “a” causa de um divórcio. Na verdade, tal classificação superior aplica-se a qualquer um dos motivos descritos na documentação do divórcio. Nossa língua desmente esta ênfase imerecida. Tendemos a dizer e a ouvir, “O adultério foi ‘a’ causa do divórcio deles”. Ao compararmos esta citação com outros casos; casos em que existiram expectativas frustradas durante o casamento, é possível ouvir alguém afirmar: “Suas expectativas sobre o casamento não foram satisfeitas, o que aumentou o estresse conjugal”. Na realidade, o adultério, o abandono do lar, ou qualquer outra razão citada, foi apenas uma das causas do divórcio, e não a única, nem tampouco a primeira. Em geral, o motivo dado foi a causa final. Melhor dizendo, foi o resultado final de um processo de divórcio prévia e (no geral) clandestinamente desenvolvido por um ou por ambos os cônjuges. 2. As histórias dos pastores divorciados e de suas ex-esposas repetidamente enfatizam que o divórcio é tanto um processo quanto um ato final.
  • 43. Compreendido sob a perspectiva bíblica, o processo do divórcio é pecaminoso, mas a “carta de divórcio” final é uma permissão misericordiosa de Deus. 3. O divórcio não é a solução para nada nesta vida. => Este conceito foi cristalizado pelas palavras de um ex-marido: Invista em seu casamento. O divórcio não é a solução para nada nesta vida. O divórcio não resolve nada. O caminho da solução para o seu casamento não passa pelo divórcio. É pelo diálogo e tratamento, pela conversa, pelo investimento naquilo que você precisa fazer. Se há algo em seu relacionamento que precisa ser tratado, busque tratamento, busque ajuda, mas não pense que a separação resolverá seu problema. (9: 51) Os pastores que passaram pela separação judicial expressaram verbalmente que hoje se posicionam ainda mais fortemente contra o divórcio do que quando ainda estavam casados. Uma resposta típica
  • 44. foi: “Sou divorciado, mas sou uma pessoa veementemente contra o divórcio. Não vale a pena. Ele transforma pessoas íntimas em estranhos” (14: 23). 4. A maioria dos divórcios ocorre porque um ou ambos os cônjuges estão no estado de “dureza de coração”. => Um ou outro ou os dois se recusam a admitir atitudes e comportamentos pecaminosos e/ou emocionalmente insalubres e não se arrependem. A metáfora bíblica é a “dureza de coração”. Um ex-marido pastor dá sua compreensão do raciocínio bíblico sobre o divórcio. “Vejo as Escrituras admitindo o divórcio em três situações. Antes de mais nada, as Escrituras não encorajam o divórcio. (...) O divórcio aconteceu para preservar os direitos da mulher, porque uma mulher era descartável. (...) Mas porque Deus permitiu que Moisés desse uma carta de divórcio? Cleriocardia -
  • 45. dureza de coração. A dureza de coração. Não foi por causa de uma relação sexual ilícita; nem por uma deserção voluntária. O ponto principal foi a dureza de coração.” (14: 47) Um outro ex-marido descreve sua própria experiência como endurecimento do coração. “Então, toda a culpa de perdê-la foi minha. Ela não é culpada de nada. Simplesmente, eu sou a causa de tudo isso. Deus colocou em minhas mãos; Ele me deu todos os tipos de chances. Só faltou um anjo descer do céu e me dizer que saísse daquele lugar. Deus colocou milhares e milhares de pessoas para me dizerem isso, mas eu não ouvi. Eu agi como faraó; endureci meu coração a ponto de perder tudo.” (17: 16)