2. Produtores Independentes
O outroBrasil
do petróleo por Cassiano Viana
A revista TN Petróleo inicia, nesta edição,
uma série de reportagens sobre a produção
independente de petróleo no Brasil.
D
entre os tantos mar- rem considerados economicamente
cos da história do irrelevantes), de posse de campos Município de Araçá, onde está
petróleo brasileiro, devolvidos à União pela Petrobras, localizado o Campo de Bom
Lugar, da Alvorada Petróleo.
pelo menos dois di- a Agência decidiu ofertá-los ao
zem respeito direta- mercado.
mente ao estado da Outro marco – esse, de certa
Bahia: a descoberta, em 1939, do forma, de impacto negativo para
petróleo em Lobato – que, mesmo a região –, foi a decisão da Petro-
considerada subcomercial incen- bras de explorar petróleo no mar
tivou as pesquisas do Conselho e o deslocamento, gradativamente
Nacional do Petróleo (CNP) – e a e a partir de então, dos investi-
campanha promovida pela Agência mentos para as bacias do Sudeste
Nacional do Petróleo, Gás Natural do país.
e Biocombustíveis (ANP), pós-Lei Até ali (início da década de 80),
do Petróleo. a atividade petrolífera no país es-
Visando recuperar e prolongar tava concentrada nas operações de
a vida de produção em áreas com produção terrestres localizadas em
acumulações marginais (os cha- regiões carentes na Bahia, Sergi-
mados campos marginais, aque- pe, Alagoas, Espírito Santo, Rio
les cuja produção não passa 500 Grande do Norte e Ceará. Mas
barris diários, um volume baixo, esta é uma outra história.
no limite da economicidade, em Com a Lei do Petróleo, veio a
grande parte abandonados por se- aprovação, pelo Governo Fede-
TN Petróleo 70 19
3. independentes
cado para atender o segmento.
Isso criou a possibilidade, para
muitas empresas, de diversificar
a atuação. Empresas locais que
tinham como único cliente a Pe-
trobras agora podiam fornecer
para outras empresas, as quais,
ainda que representando pouco, já
começavam a gerar movimento”,
explica. “Não há competição entre
os produtores. Estão todos alinha-
dos, buscando encontrar soluções
para os problemas comuns.”
Isso sem contar a rede de em-
presas, instituições de ensino e
pesquisa, cursos e universidades:
“Em termos políticos, as prefeitu-
ras também perceberam que se
as empresas saí-
rem, o impacto
será enor me”,
comenta Donei-
va n Fer r ei r a,
ral, da licitação pública de cam- de Blocos Exploratórios da ANP. professor de Eco-
pos marginais e a consequente Apesar da redução ao longo dos nomia de Petró-
preocupação com sua viabilidade anos – o pico de produção ocor- leo do Instituto
econômica. Foi quando ANP pas- reu em 2007, com 1.800 barris de Geociências da Universidade
sou a incentivar a implantação do por dia –, a produção destas gira, Federal da Bahia (Ufba).
segmento de produtores de mé- hoje, em torno de 1.500 barris Levando em consideração que
dio e pequeno porte, comumente diários. grandes empresas operam com
chamados de ‘produtores indepen- No Brasil, cerca de 50% dos expectativas de retornos elevados,
dentes’. campos é marginal e representa a atuação das pequenas e médias
Estas novas empresas teriam perto de 1% das reservas provadas libera as maiores para atuarem em
seu foco principal de atuação nes- do país, um mercado atraente para reservas mais estratégicas, como
sas bacias que já não constituíam as companhias petrolíferas inde- a do pré-sal.
o objetivo principal da Petrobras pendentes de pequeno e médio “O portfólio de projetos de uma
e das grandes companhias de pe- porte. grande empresa inclui vários cam-
tróleo, mas que ainda poderiam “A presença de petroleiras pos de produção diária de milhares
significar geração de riqueza e de pequeno e médio porte é de de barris. Uma empresa com esse
incorporação de mercado de tra- suma importân- perfil não poderia justificar a seus
balho de boa parte das populações cia não só para o acionistas a decisão de investir e
locais. desenvolvimento direcionar esforços em recursos
da indústria na- humanos e equipamentos, ambos
Desenvolvimento local cional como um escassos, em projetos de baixo re-
Segundo a Associação Bra- todo, mas para o torno”, explica Doneivan.
sileira dos Produtores Indepen- desenvolvimen- “Poços marginais precisam de
dentes de Petróleo e Gás (Abpip), to de municípios atenção especial para continuar
as petroleiras independentes já com poucas oportunidades econô- produzindo e, compreensivelmen-
investiram cerca de R$ 2 bilhões micas”, avalia Oswaldo Pedrosa, te, grandes empresas não podem
desde 2003, quando as empresas presidente da Associação. priorizar pequenos projetos em
de menor porte começaram a par- “Nos últimos anos, assisti- detrimento de produções mais lu-
ticipar das Rodadas de Licitação mos ao surgimento de um mer- crativas”, complementa.
20 TN Petróleo 70
4. independentes
Bahia onde tudo
começou
B
erço do Brasil e da história
do petróleo no país, foi na
Bahia que a indústria nacio-
nal do petróleo deu seus primeiros
passos. Responsável pela quinta
maior produção de petróleo do país
– em termos de produção a Bahia
fica atrás do Rio de Janeiro, Espí-
rito Santo, Rio Grande do Norte e
Sergipe –, o estado tem consolidado
o segmento de micro e pequenas
empresas que atuam na cadeia de
petróleo, gás e energia.
A Bahia possui, hoje, em terra
e sob a concessão de produtoras
independentes brasileiras, na Bacia
do Recôncavo, 15 campos produ- BAHIA
tores: Canário, Uirapuru, Fazenda
Santo Estevão, Lagoa do Campo
Norte, Fazenda Rio Branco, Lagoa
do Paulo, Bom Lugar, Santana, Ji- Área: 567.692,669 km² (5º)
ribatuba, Juriti, Morro do Barro, Municípios: 417
Araçás Leste, Burizinho, Lagoa do População (2007): 14 milhões (4º)
Paulo Sul e Sempre-viva. PIB: R$ 110 bilhões (6º)
Os campos estão localizados em PIB per capita: R$ 8 mil (19º)
oito municípios: São Sebastião do IDH: 0,742 (19º)
Produção de petróleo: 15 mil bpd
Passe, Catu, Alagoinhas, Araçás,
Produção de gás: 3 milhões m³/d
Itanagra, Vera Cruz, Entre Rios
e Sátiro Dias. Metade deles, nos
municípios de Catu e Araçás. E é
O petróleo na Bahia Petrobras (%) Independentes (%)
lá que estão algumas das principais
empresas independentes de petró- Poços produtores: 1.695 98,6 1,4
leo em atividade no país.
Poços produtores de gás: 285 97,9 2,1
Petrosynergy Produção diária média de
98,7 1,3
A Petrosynergy possui 12 blocos petróleo: 47 mil barris/dia
adquiridos na segunda, terceira, Produção diária média de gás:
quinta, sexta, sétima e nona Roda- 99,8 0,2
5,25 milhões/m³
da de Licitação de Blocos da ANP .
Seis deles no Recôncavo, seis na Número de poços injetores: 533; número de empresas produtoras: 9;
Bacia Potiguar. Com uma produção extensão da malha de dutos (óleo + gás): 1.575 km; volume médio de
diária em torno de 800 barris/dia e petróleo refinado: 261 milhões b/d.
um faturamento anual de cerca de Obs.: ICMs pago ao Estado da Bahia (só E&P): R$ 2,9 bilhões.
R$ 25 milhões, a Petrosynergy já Fonte: Rede Petro Bahia, 2008
22 TN Petróleo 70
5. A história do
petróleo na Bahia
1858 – Primeira extração de mineral
betuminoso em Maraú
1939 –
Primeiro poço
descobridor
de petróleo em
Lobato
perfurou 25 poços com o índice de m³/dia e Uirapuru, quando os dois
1941 –
sucesso maior que 60%. poços estão operando, com 6 m³/dia.
Descobrimento
Na Bahia, a companhia possui o A produção acumulada nesses dois
do Campo de
campo de Uirapuru, adquirido em campos é de 85 mil m³.
Candeias
2005 e localizado no município de A companhia é proprietária de
Catu, com produção total de 108,3 duas sondas, uma de perfuração
boe/d (42,1 b/d de óleo, 66,2 boe/d de (sonda PSY01) e outra de worko-
gás). Ainda em Catu, a Petrosynergy ver (PSY14). No final de janeiro,
possui o campo de Canário, cuja pro- a sonda de pulling estava sendo
dução total é de 189,4 boe/d (177,0 transportada para a locação do poço
b/d de óleo, 12,4 boe/d de gás). do campo do Uirapuru, para reali-
Com uma população estimada zação de troca de bomba e limpeza
de 50 mil habitantes, Catu fica a 78 do poço. A outra sonda, a de per-
km de Salvador. Outros municípios furação, está sendo transportada
1949 – Início da construção da
petroleiros como Alagoinhas e São até a locação no bloco REC-T-153,
refinaria RLAM
Sebastião do Passe estão no limite adquirido na Nona Rodada de Li-
1954 – Início das operações da
do município. citações, para a perfuração de dois
Petrobras
Os campos de Canário e Uirapuru poços exploratórios. A perfuração
1957 – Início dos cursos de
são fruto das duas primeiras desco- do primeiro poço exploratório já
Geologia e de Perfuração
bertas da Petrosynergy. O Uirapuru foi iniciada e o segundo poço tem
1957 – Inauguração do oleoduto
teve ainda mais um poço perfurado. previsão de início na próxima.
Catu-Temadre
Os dois campos são oriundos do bloco
1969 – Máxima produção na Bahia
exploratório BT-REC-3 e a produção Alvorada (146 mil barris/dia)
dos dois foram iniciadas em 2005. “ As Constituída em 2006, a Alvorada
1978 – Inauguração do Polo
descobertas contribuíram para novos Petróleo é formada por quatro gru-
Petroquímico de
horizontes, uma vez que as formações pos empresariais de tradição: Cons-
Camaçari
produtoras nestes campos estavam trutora Empa (do grupo português
1994 – Início das
a uma profundidade que ainda não Teixeira Duarte, com atuação em
operações da
tinha sido explorada pelas operadoras construção pesada, distribuição de
Bahiagás
ao redor deles.” combustíveis e Pequenas Centrais
1997 – Criação da
“A campanha de exploração na Hidrelétricas – PCHs), Construtora
ANP
Bahia foi de extrema importância Pioneira (atua na área de geofísica
2000 – Descobrimento do Campo
para a companhia uma vez que suas e construção), Grupo Asamar (atua
marítimo de Manati
descobertas foram significativas e na área de incorporações, distribui-
2001 – 1º Leilão de Campos
puderam suportar novas perfura- ção de combustíveis, construção) e
Marginais
ções de poços exploratórios”, ex- AEL (distribuição de combustíveis,
2005 – 1º campo
plica Daniel Romeiro, engenheiro construção civil e PCHs).
descoberto
da Petrosynergy. A Alvorada é uma empresa de
por operadora
Hoje, a produção desses dois exploração, produção e comerciali-
independente
campos corresponde a pouco mais zação de petróleo onshore, embora
(Uirapuru –
de 35% do que é produzido pela já possua qualificações para con-
Petrosynergy)
empresa, sendo Canário com 40 correr como operadora em conces-
TN Petróleo 70 23
6. independentes
Principais campos
na Bahia
Locais de entrega do óleo produzido na região
Refinaria Distância (Km)** Capacidade
RLAM 63,4 325 mil bpd
Dax Oil (BA, privada) 102 2,5 mil bpd
Manguinhos (RJ, privada) 1.975 30 mil bpd
Univen (Itupeva – SP privada)
, 2.018 5 mil bpd
Refinaria Atlântico Sul* (SE) 267 200 mil bpd
* Pedido em análise na ANP
** A partir da cidade de Catu
Catu
Além dos campos na
tabela em azul, outros são
de propriedade da ANP:
Bela vista, Caracatu, Dom
João, fazenda Azevedo
Oeste, fazenda Gameleira,
Jacarandá, Miranga Leste,
Pitanga, Rio Una e vale do
Quiricó.
Os demais pertencem à
Petrobras.
Campo Município Concessionários / Participação (%)
Guanambi São Sebastião do Passe Petrobras 80 / Starfish 20
Canário Catu Petrosynergy 100
Uirapuru Catu Petrosynergy 100
Fazenda Santo Estevão Alagoinhas W Petróleo 52,5 / Brazalta 47,5
Lagoa do Paulo Norte Araçás Recôncavo 100
Fazenda Rio Branco Catu W Petróleo 52,5 / Brazalta 47,5
Petrobras Lagoa do Paulo Itanagra Recôncavo 100
Bom Lugar Araçás Alvorada 100
Petrobras
Santana Catu W Petróleo 52,5 /Brazalta 47,5
El Paso Jiribatuba Vera Cruz Alvorada 100
Juriti Entre Rios Recôncavo 100
Morro do Barro Vera Cruz Panergy 30/ ER 70
El Paso Araçás Leste Araçás Egesa 100
Ilustração: TN Petróleo
Burizinho Itanagra Recôncavo 100
Lagoa do Paulo Sul Araçás Recôncavo 100
El Paso Sempre Viva Sátiro Dias Orteng 34 / Delp 33 / Logos 33
24 TN Petróleo 70
7. o outro brasil do petróleo
sões públicas para exploração em realizado até o momento nos blocos
águas rasas. Com sede em Belo exploratórios da Nona Rodada.
Horizonte (MG), as atividades re- Além de Bom Lugar, a Alvora-
lacionadas a exploração, produção da possui a concessão dos campos
e comercialização ficam sediadas produtores de Jiribatuba e Aracaju.
em Salvador (BA). A produção atual dos três campos é
A petroleira possui três campos da ordem de 80 barris/dia.
em produção, arrematados na Sé- “Visando incrementar a pro-
tima Rodada da ANP na região do
, dução, estão previstos estudos de
Recôncavo Baiano e em Sergipe reservatório e geologia e trabalhos
(Campo Bom Lugar/BA, Campo nos campos e poços produtores, a
Jiribatuba/BA e Campo Cidade de fim de se testar novos horizontes
Aracaju/SE), além de 11 blocos em produtores nos poços citados, bem
fase exploratória, arrematados na como o potencial de novas reservas Ladislau Oliveira, diretor da Alvorada Petróleo
Nona Rodada da ANP na região
, nestas áreas”, explica Ladislau Oli- sido alvo de grande interesse entre
do Recôncavo Baiano. veira, diretor da Alvorada Petróleo. os participantes do leilão”, avalia
A Bacia do Recôncavo Baiano, “Os blocos da Nona Rodada, per- Oliveira.
onde está localizada a maioria dos tencentes à Alvorada Petróleo, são
ativos da Alvorada Petróleo, é con- estratégicos, dadas as excelentes Novas descobertas
siderada uma área de exploração características de logística e conhe- Em fins de 2009, a Alvorada
madura, com risco de exploração cida capacidade petrolífera da área. obteve duas descobertas, referen-
limitado por conta disso. Até o mo- Estão próximos a grandes Campos tes aos blocos 155 e 129 da Nona
mento já foram investidos R$ 70 mi- produtores da Petrobras como Mi- Rodada. Em janeiro de 2010, a pe-
lhões incluindo aí os investimentos ranga, Água Grande e Mata de S. troleira executou a completação e os
nos campos da Sétima Rodada e o João, além de alguns deles terem testes de formação a poço revestido
SANkeN
8. independentes
(MA), ambos promissores como
produtor de gás natural.
A escolha por blocos portado-
res de gás natural tem sido uma
estratégia da empresa. Localizado
no município de Vera Cruz, Ilha de
Itaparica, baía de Todos os Santos,
o Campo de Morro do Barro tem
hoje uma produção diária contra-
tada com a Companhia de Gás da
Bahia (Bahiagás), de 35 mil m3 de
gás. Já foram investidos no projeto
mais de R$ 9 milhões.
Este é o primeiro projeto com-
Normando Paes, presidente da Panergy e presidente da Associação de Empresas Produtoras de Petróleo
petitivo para reativar um campo
e Gás Natural Extraídos de Campos Marginais (Appom) marginal de gás natural e distribuir
a fim de qualificar estas descobertas Com estes resultados, a Alvorada sua produção com o que havia de
identificadas durante a perfuração trabalha para ainda no primeiro modal disponível, que era o GNC
dos dois primeiros poços explorató- semestre deste ano colocar estes (Gás Natural Comprimido). E o pri-
rios. O poço 1-ALV1-BA mostrou-se poços em produção. meiro contrato assinado, no país,
portador de óleo com API 32° em para distribuição de gás produzido
formação Marfim, com vazão de Panergy em campo maduro.
teste de 140 barris de óleo por dia. A Panergy foi criada como uma “ então, o escoamento do gás
Até
Já o poço 1-ALV2-BA, mostrou-se firma de consultoria para o setor de era pensado apenas por gasoduto.
portador de óleo com API 38º e gás energia. Em 2005, com a Primeira Mas em uma região isolada como
em reservatório de formação Sergi, Rodada de Leilões da ANP para esta nossa, a solução era outra”, ex-
com vazão de teste de 700 barris áreas inativas com acumulações plica Normando Paes, presidente da
de óleo por dia e 10.000 m³ de gás marginais de petróleo e gás natural, Panergy e presidente da Associação
por dia. a empresa saiu vencedora do Cam- de Empresas Produtoras de Petróleo
Ambas as descobertas estão com po de Morro do Barro, na Bacia de e Gás Natural Extraídos de Campos
seus respectivos planos de avaliação Camamu (BA). No ano seguinte, no Marginais (Appom).
sendo finalizados e serão encami- segundo leilão, arrematou o campo A Panergy vende todo seu gás
nhados para apreciação da ANP . de Espigão na Bacia de Barreirinhas para a Bahiagás, que atende ao
Sonda Petrobras, dificilmente teríamos uma
compartilhada
janela de sonda para atender aos 16
blocos que foram licitados.” A ideia
era conseguir uma sonda que pudesse
ALéM DA DIsTRIBUIçãO, outra difi- atender a todos os poços, de 3.000
culdade enfrentada pelos independen- a 600 m de profundidade. “Como a
tes é a contratação de sondas. “Mes- distância entre sergipe e Bahia não é
mo as grandes petroleiras enfrentam significativa, conseguimos atender a
esse obstáculo. A OGX, por exemplo, todos”, recorda Normando.
está com dificuldade de contratação Na segunda Rodada de Licitações
de sondas.” de Campos Marginais da ANP, esse
Em 2005, os associados da Appom modelo se estendeu para as capixabas uma sonda para atender ao merca-
se reuniram em consórcio para viabi- Cheim Transportes e da Koch Petróleo do.” Com a crise, a Panergy resolveu
lizar um contrato anual de uma sonda do Brasil, empresas que arremataram sair momentaneamente da atividade,
que, dentro de um cronograma, inter- lotes no Espírito santo. entregando a sonda para um outro
viesse em todos os poços das conces- Dentro de um plano estratégico da grupo operar. “A sonda ainda é nossa,
sionárias que entraram em 2005. companhia, posteriormente a Panergy mas temos planos de nos desfazer do
“Como todas as sondas estavam decidiu adquirir sua própria sonda. ativo”, comenta Paes. “Ainda não está
naquele momento contratadas pela “Na época, parecia uma boa ideia ter compensando.”
26 TN Petróleo 70
9. o outro brasil do petróleo
mercado de cidades próximas ao
Campo não servidas pela malha de
dutos da Companhia. São 35 mil
m³ por dia de gás contratados. O
que equivale a seis a sete carretas
feixe por dia.
“Este é não só o primeiro contra-
to de gás natural de campo maduro
no Brasil, mas a primeira vez que o
GN produzido em um campo com
acumulações marginais é comercia-
lizado no país”, diz. “Nosso plano
agora é tocar o projeto do campo
de Espigão, em Barreirinhas, no
município de Santo Amaro, no Ma-
ranhão.”
Marcelo Campos Magalhães, diretor-presidente da PetroRecôncavo
A companhia também possui,
em outro compartimento do campo contexto da produção indepen- da nossa estrutura de custos. Es-
de Morro do Barro, um único poço dente. tamos trabalhando para reduzir
produtor de óleo leve, com produção A companhia começou a ope- este limite econômico, o que im-
estimada entre 25 e 40 barris/dia. rar a partir de 2000 a partir de plica em mais produção, royalties,
O poço está parado por dificulda- contratos de prestação de serviços impostos, empregos, etc”.
de de comercialização. Esse é um para a Petrobras. A companhia “Temos também alguns cam-
problema que ainda não está equa- opera 12 campos para a Petro- pos exploratórios que foram ad-
cionado. Existe uma expectativa de bras, dentre eles os de Mata de quiridos ao longo dos Leilões da
comercializar essa produção com as São João, Remanso, São Pedro e ANP e nas Rodadas de Campos
independentes Dax Oil, na Bahia, Fazenda Belém, cerca de 50 km Marginais e que são explorados
Manguinhos, no Rio de Janeiro e a nordeste de Salvador. através de uma subsidiária cha-
Univen em São Paulo. “É um modelo (o de contra- mada Recôncavo E&P”, explica.
“ Petrobras continua reestudan-
A to de produção de risco) que nós Dentre os blocos da Recôncavo
do as suas condições operacionais achamos interessante. Compete E&P estão o BT-REC-10, o BT-
e comerciais para atender o volume muito mais à Petrobras e a ANP do REC-14 e o REC-T-225.
de produção do pequeno produtor, que a nós produtores avaliar qual A PetroRecôncavo adquiriu re-
mas na Bahia, ainda temos certa di- o modelo mais interessante para centemente da National Oilwell
ficuldade para a comercialização”, ela e para o país”, avalia Marcelo Varco (NOV), hoje o maior fornece-
observa Paes. Campos Magalhães, diretor-presi- dor de sondas dos EUA, uma son-
dente da PetroRecôncavo. “Filoso- da de perfuração com previsão de
PetroRecôncavo ficamente, estamos trazendo um chegada ao país ainda no primeiro
Outra companhia que atua modelo adotado em várias partes semestre. “Nós temos hoje três son-
na região é a PetroRecôncavo. do mundo, nas quais você procura das de trabalho. Esta nova sonda
Maior operadora independente um perfil de operador adequado vai nos permitir um bom nível de
de extração de petróleo onshore ao perfil do ativo. Então se você eficiência de perfuração. A idéia
no país, com foco principal de tem um campo maduro com baixa é começar a perfurar no segundo
atuação em Campos Maduros e produção média por poço, uma semestre”, observa. “Mas ainda
Campos Marginais localizados no empresa mais enxuta, e de atuação estamos avaliando as locações”.
Recôncavo Baiano, ela tem uma mais local, com maior capacidade A companhia tem como sócios
produção total nos campos opera- de tomar decisões rápidas e ágeis, um grupo americano, especialis-
dos de 1.657.112 boe no ano. tem condições de operar o ativo ta em administração de campos
A PetroRecôncavo produz atu- de forma mais eficiente”, explica. maduros e marginais, que já atua
almente 4 mil barris/dia de óleo “Isso permite, por exemplo, que mundialmente nesse tipo de em-
e gás. É uma produção extrema- um poço com produção média de preendimento e dois grupos locais
mente relevante, sobretudo no 5 barris se torne rentável dentro aqui no Brasil.
TN Petróleo 70 27
10. independentes
sucesso
Retomada de
Um bom exemplo da revitalização é o Projeto Campo-Escola,
iniciativa pioneira que vem assegurando resultados positivos
Poço Quiambina 1-QB-04A-BA, em setembro de 2003 (foto menor),
e nos dias de hoje (foto maior)
I
dealizado por Newton Monteiro, do à ANP em 1997, o primeiro pela ANP e pela Ufba, a previsão de
o Projeto Campo-Escola (PCE) revitalizado pelo projeto, possui produção de gás encontra-se entre
foi criado, em julho de 2003, pela um único poço produtor de óleo 5 mil a 10 mil m³/dia e 30 barris por
ANP em parceria com a Ufba, e
, e está equipado com bombeio dia de óleo.
apoio da Fundação de Apoio à Pes- mecânico. O Fazenda Mamoeiro está pron-
quisa e à Extensão (Fapex), com a Sua retomada produtiva ocorreu to para produzir gás (mas aguarda
finalidade de gerir e operacionalizar em janeiro de 2004. O poço alcan- o resultado de uma licitação para
os campos de Quiambina, Fazenda çou uma produção acumulada de um operador terceirizado – outro
Mamoeiro, Caracatu, Riacho Ses- mais de 14 mil barris em março de operador independente). Os outros
maria e Bela Vista. 2007. Atualmente, a produção men- três campos (Bela Vista, Caracatu e
Com isso, a ANP esperava atin- sal do poço está variando entre 290 Riacho Sesmaria) estão sendo ava-
gir vários objetivos, dentre eles a e 310 barris/mês. liados pelo Instituto de Geociências.
capacitação de mão de obra local, O campo de Fazenda Mamoeiro, Esses campos poderão abrigar ou-
treinada em operação de campos escolhido para entrar em operação tros projetos de produção ou uma
de petróleo e gás, e pronta para em junho de 2007, foi descoberto variedade de projetos de pesquisa
atuar nas pequenas e médias em- e colocado em produção em 1982, aplicada.
presas operadoras de campos de sendo fechado em 1987. Os volumes Além disso, hoje vem sendo
petróleo. in situ de óleo e gás são de 19,3 mi- desenvolvido no PCE o Curso de
O campo de Quiambina, des- lhões de barris e 1,28 bilhões de m³, Especialização em Engenharia de
coberto em abril de 1983 pela respectivamente. De acordo com o Petróleo, com carga horária de 629
Petrobras e fechado e devolvi- programa de reabilitação elaborado horas. Já em sua terceira turma.
28 TN Petróleo 70
11. Impactos socioeconômicos do ouro negro
Retomada das operações fortalece a economia local
De 1997 a 2005, no Recôncavo, foram gerados e distribuídos mais de R$ 2 bilhões
em royalties para municípios e estado da Bahia.
S
exta maior economia do Bra- compensações ambientais e gera- nárias de energia elétrica. “Com isso,
sil, com um PIB superior a ção de renda. Além, obviamente, a população também se beneficia”,
R$ 90 bilhões, a Bahia tem do aumento da necessidade de con- assegura Marcelo Campos Maga-
o nono pior IDH do país (0,742 em tratação de mão de obra direta ou lhães, da PetroRecôncavo. “É uma
2005), equivalente ao IDH de 2005 indireta, local ou regional. equação simples: se gerarmos mais
do Sri Lanka, que é o 99º do mundo, Com a presença das operadoras, royalties e mais atividade econômica
com 0,743. No entanto, segundo a a infraestrutura dos municípios tam- local as prefeituras podem melhorar
ANP no período de 1997 a 2005,
, bém melhora. Muitas vezes estradas a prestação de serviços, a educação,
no Recôncavo foram gerados e dis- são abertas, pavimentadas e man- a infra-estrutura e podemos dar inicio
tribuídos mais de R$ 2 bilhões em tidas pelas operadoras. Chegam a um circulo virtuoso.”
royalties para municípios e o estado bancos e agências dos correios. “É preciso lembrar que grande
baiano. Não é difícil imaginar o im- A presença das operadoras tam- parte das operações encontra-se em
pacto positivo dessa arrecadação. bém possibilita o estabelecimento áreas isoladas e de baixo Índice de
Ao mesmo tempo, Lobato, marco de restaurantes, pousadas, hotéis e Desenvolvimento Humano (IDH)”,
da descoberta do petróleo no Brasil, outros comércios, como aluguel de observa o professor Doneivan Fer-
virou uma favela, após a interrupção, carros e transportes e contratação de reira, do Instituto de Geociências
na década de 1970, da produção de serviços de segurança, fazendo cir- da Universidade Federal da Bahia.
petróleo (ver box na página 31). cular a moeda dentro do município “A retomada de operações tempo-
A presença de pequenas ope- e comunidades circunvizinhas. rariamente abandonadas e o pro-
rações e de qualquer eventual au- O mesmo acontece com a eletrici- longamento da vida de operações
mento de produção se reflete em dade, com a solicitação de linhas ou maduras fortalecem as economias
royalties, mais receita e impostos, aumento de carga junto às concessio- locais enfraquecidas”.
Aposta nos independentes dos independentes vai nos facilitar
essa aquisição.”
Dax Oil – Investimentos sem contrato de fornecimento A instalação terá capacidade para
2.500 barris/dia, um volume que, hoje,
UMA ALTERNATIvA PARA a comer- Implantada há sete anos, localizada não está disponível no mercado. A
cialização da produção dos produto- no polo petroquímico de Camaçari, a ideia é que sejam produzidas na colu-
res independentes, que atualmente companhia produz solventes a partir na três correntes petroquímicas, uma
contam apenas com a Petrobras, do refino da nafta e correntes petro- nafta bruta pelo topo, uma mistura
Manguinhos (RJ) e a refinaria paulista químicas. No momento, está promo- de diesel e querosene no meio (uma
Univen, em Itupeva (sP), é a Dax Oil. vendo adequação das instalações para das aplicações poderia ser diluente
processar o óleo do Recôncavo. para ligas de asfalto) e RAT (resíduo
Apostando na região e na produ- atmosférico) que poderá ser comer-
ção independente, a companhia cializado como óleo combustível, com
inaugura em março a segunda boa colocação no mercado).
coluna para refino do óleo. A companhia processa, hoje,
“Resolvemos investir sem condensado de gás vindo do campo de
termos sequer contratos de Manati. “Temos um contrato de com-
fornecimento, mas acreditando pra de toda a produção da Queiroz
no potencial de produção da Galvão. A matéria-prima é transfor-
região”, comenta Cyro valentini mada em três tipos de solventes.”
Jr, da Dax Oil. “Já sofremos a Dentre os clientes da Dax Oil estão
falta de matéria-prima. Essa BR, Quantic, Ipiranga Química e Aruja
Cyro Valentini,Sulaimen Bittar e Francisco Carlos Carvalho,
da Dax Oil dificuldade de comercialização Petróleo.
TN Petróleo 70 29
12. independentes
Cadeia
produtiva baiana
Bahia tem empresas com perfil adequado aos pequenos produtores
D
epois do pioneirismo dos “A chegada de novas empresas série de equipamentos para cam-
anos 1940 e 50, quando mes- operadoras de campos de petróleo pos de baixa produção que não
mo enfrentando a ausência é um fato sem precedentes”, obser- são fabricados no Brasil, mas que
de equipamentos e utilizando méto- va Nicolas Honorato, coordenador existem em países com tradição
dos e ferramentais quase artesanais executivo da RedePetro Bahia. “Re- onshore”, comenta. “Infelizmente
o estado entrou para o mapa das giões em que a atividade petrolei- existe alguma incerteza. As empre-
regiões petrolíferas produtoras, a ra ainda é associada à Petrobras sas estão esperando para saber se
Bahia assiste, nos últimos anos, ao começam a perceber uma tímida, o mercado vai deslanchar ou não”,
ressurgimento das oportunidades mas firme pulverização industrial, destaca. “Pena que essa dinami-
de negócios como consequência da o que gera uma dinamização da zação tem ficado estagnada nos
reativação dos campos onshore e economia.” E assegura: “Com isso, últimos meses. Não houve novas
descobertas em bacias offshore. o estado pode estabelecer as bases rodadas, não houve a entrada de
E todos acreditam que pode- de um sólido polo industrial e de novas companhias. Infelizmente,
rá ser uma fase das mesmas di- autoproteção de eventuais crises não temos assistido a grandes in-
mensões do período de bonança no setor, no futuro.” vestimentos de exploração. A ca-
dos anos 1960, 70 e 80, quando a Honorato opina que, com o deia de fornecedores só vai crescer
intensa atividade exploratória da tempo, muitas empresas passa- quando existirem investimentos na
Petrobras permitiu o crescimento e rão a desenvolver equipamentos Bahia e no Nordeste em geral”,
consolidação de um parque supri- específicos para o setor, para as avalia Honorato. “Se o mercado
dor local, processo que naufragou petroleiras de pequeno porte, pe- não for apoiado e desenvolvido,
na crise nos anos 90 – uma das quenas produções, baixas vazões infelizmente essas empresas não
maiores da história do estado. e do setor onshore. “Temos uma vão para a frente.”
Rede fortalece a cadeia de fornecedores
CRIADA EM MAIO de 2006, com três Em dezembro de 2006, após Diagnóstico da Cadeia de Pe-
anos de atividades, a RedePetro Bahia quase um ano de pesquisa, a tróleo e Gás do Estado da Bahia
tem gerado negócios e reduzido custos Rede divulgou os resultados do (DiagPetro).
para as empresas associadas por meio
de ações de capacitação, encontros
de negócios, missões empresariais e
programas cooperativos. As empresas
associadas à Rede fabricam bens ou
prestam serviços que atendem aos
segmentos de exploração, produção,
refino, petroquímica, transporte e
distribuição de óleo e gás.
A Rede hoje reúne cerca de 50
empresários e tem o apoio não só
do serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas (se-
brae) e da Petrobras, mas de em-
presas como Bahiagás e Braskem, e
instituições como a ANP, o Governo
do Estado e a Appom.
30 TN Petróleo 70
13. o outro brasil do petróleo
Inovação para
O presidente Getúlio Vargas durante
visita ao Campo de Lobato, Bahia.
campos maduros
foto: Agência Petrobras
Tratador de óleo in situ Lobato: Promessa na
U ficção, abandono na
m exemplo de empresa que sicamente água, ou muito mais
busca soluções adequadas água que óleo”, explica. “Isso
para o perfil dos produtores nos motivou a buscar uma solu-
vida real
independentes é a Fluxotécnica. ção para resolver esse problema. EM fEvEREIRO de 2008, o jornal Folha de S.
Paulo publicou uma reportagem mostrando
Ela vem desenvolvendo um trata- Para fazer esse tratamento não
que Lobato, marco da descoberta do petróleo
dor de óleo para campos de baixa nas estações que estavam sobre- no Brasil, havia se transformado em uma
produção. O equipamento, móvel carregadas, mas perto da região grande favela, com a interrupção, na década
e adaptável, não é fabricado no produtora dos poços”. de 1970, da produção de petróleo. Casas che-
Brasil. A ideia é que o mesmo vá de garam a ser construídas em cima de locais
campo em campo coletando produ- Maximizando a produção onde antes existiam poços de petróleo.
A descoberta de petróleo em Lobato
ção dos pequenos produtores. Outro exemplo de inovação é a
ocorreu no final da década de 1930, quando
“Tínhamos um projeto de de- Quantas Biotecnologia. Ela cultiva o engenheiro Manoel Inácio Bastos começou
senvolvimento de um sistema bactérias que ajudam na perfura- a fazer coletas no local. Procurou o presi-
de aumento de produção de gás. ção e completação dos poços de dente Getúlio vargas em 1932 para mostrar
Quando passamos a vivenciar petróleo. O resultado dessa cultura a ocorrência de óleo.
mais do que acontece no campo, biológica é um biopolímero de alto A perfuração do poço foi feita em 21
de janeiro de 1939, logo após a criação do
percebemos a dificuldade que os peso molecular, denominado goma
Conselho Nacional de Petróleo. A partir daí,
produtores têm de tratar o óleo”, xantana, um dos componentes do a exploração de petróleo ganhou fôlego na
recorda João Paulo Paschoarelli, fluido de perfuração usado como Bahia e permitiu a descoberta de outros cam-
da Fluxotécnica. Falta info. uma espécie de lubrificante para pos no Recôncavo Baiano.
Os campos marginais e madu- proteger as brocas de perfuração Monteiro Lobato, entusiasta da explo-
ros produzem uma quantidade de contra o desgaste e maximizar a ração do petróleo no país, escreveu sobre o
fato em O poço do visconde, de 1937. No livro,
água muito elevada, o que traz uma produção.
o visconde de sabugosa encontra petróleo no
série de transtornos, por sobrecar- Melhor ainda: trata-se de maté- sítio do Pica-pau Amarelo e o óleo passa a
regar as estações de tratamento ria-prima renovável, decompondo- ser explorado pela “Companhia Donabetense
existentes – cada vez que se au- se mais rapidamente na natureza. de Petróleo”. visconde afirma que no dia em
menta a capacidade de tratatamen- O produto hoje é 100% importado, que o Brasil tivesse petróleo, ele não veria
mais “milhões de brasileiros descalços, anal-
to da água é reduzida a capacidade de interesse da Petrobras e obvia-
fabetos, andrajosos na miséria”.
de tratar o óleo. mente dos pequenos produtores.
“Tendo sob os pés até 1 milhão de barris,
As produtoras independentes O projeto conta com a parceria cerca de 1.500 moradores de Lobato convivem
não possuem estações de trata- e o apoio de diversos organismos com saneamento precário, desemprego e
mento, o que gera um problema e instituições, como o Instituto pobreza”, escreve a repórter da Folha, Janaína
de preço, tornando a produção Baiano de Biotecnologia (IBB), a Lage. Com a matéria, ela recebeu o merecido
Prêmio Onip de Jornalismo em 2009.
economicamente inviável. Logo, Rede Nordeste de Biotecnologia,
“Do papel que desempenhou no impulso
existe uma carência muito grande a RedePetro Bahia e a Fundação à indústria petrolífera do país pouco res-
de tratadores. de Amparo à Pesquisa do Estado tou em Lobato: uma réplica de um cavalo
“ produção de água aumentou
A da Bahia (Fapesb). A ideia é que, (equipamento usado para bombear petróleo),
muito e as estações estavam sobre- no médio prazo, o volume de bio- uma placa de cimento onde ficava o primei-
carregadas. Outro problema era de polímero produzido atenda a todo ro poço e um painel da Petrobras que diz:
“Aqui começou o sonho da autossuficiência”,
logística. Quando você transporta o mercado nacional, substituindo
descreve.
a emulsão não tratada (e um poço plenamente as importações e pos- Para a ANP, ainda existe em Lobato um
pode produzir até 95% de água), sibilitando ao Brasil tornar-se um volume entre 500 mil a 1 milhão de barris
você pode estar transportando ba- país exportador desse produto. de petróleo...
TN Petróleo 70 31
14. independentes
Pequenos produtores, pequenos
municípios e
grandes
esperanças
Segundo dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP),
em 2006, na Bahia, existiam cerca de 1.780 poços produtores terrestres de óleo em
atividade. Esses poços faziam parte de um sistema de 44 blocos exploratórios, seis
campos em desenvolvimento e 82 campos em produção.
E
sse sistema beneficiava 195 municípios com royalties (entre 5 e 10%
da receita bruta). Em 2006, 374 superficiários e proprietários de terras
regularizadas receberam cerca de R$ 20,6 milhões. No ano seguinte, a
Bahia recebeu R$ 152,1 milhões em royalties e R$ 2,3 milhões em Participa-
ção Especial (PE). Os municípios baianos receberam R$ 106,8 milhões em
royalties e R$ 568 mil em PE. Os proprietários de terra do estado receberam
entre 1998 e 2007 cerca de R$ 108 milhões em remuneração compensatória
pela atividade de produção em suas terras.
Não é difícil imaginar o tipo de movimentação financeira que poderia
ocorrer na Bahia caso parte dos 1.600 a 1.800 poços produtores hoje para-
dos estivessem em plena atividade. Esses poços inativos representam, em
muitos casos, a subutilização das concessões (muitos campos que poderiam
operar 50 poços atualmente operando apenas um), a falta de equipamentos
de intervenção, a carência de mão de obra disponível, ou a simples falta de
interesse nos mesmos.
No entanto, a movimentação dos royalties não é o principal benefício do
prolongamento da vida dos campos maduros da Bahia. Estudos preliminares
sobre os impactos socioeconômicos desse segmento indicam que em Mata
de São João, município onde a Petrobras terceiriza suas operações para a
empresa PetroRecôncavo, as receitas oriundas do pagamento de ISS por
prestadores de serviços são duas vezes superiores às receitas provenientes
dos royalties. Ademais, a movimentação do comércio local é fortemente
impactada pelo modelo de operação de uma empresa terceirizada. A tabela
a seguir indica os setores que foram identificados como agentes impactados
pelas atividades de produção de óleo e gás no modelo dos concessionários
independentes.
Os possíveis modelos operacionais nos campos maduros no Brasil são: 1)
Doneivan F. Ferreira é professor de Econo- Petrobras como concessionária e operadora; 2) Petrobras como concessionária
mia de Petróleo do Instituto de Geociências terceirizando a produção para um operador independente; 3) Concessionário
da Universidade federal da Bahia (Ufba) e não Petrobras (pequeno produtor ou operador independente).
organizador do livro Produção de petróleo
e gás em campos marginais: um nascente A presença de pequenas operações de produção possibilita a instalação e/ou
mercado no Brasil. manutenção de alguns serviços públicos que não estariam disponíveis em áreas
32 TN Petróleo 70
15. Setores mobilizados pelo nicho de produtores independentes
Petróleo e gás Transporte e armazenagem Produtos químicos
Arrendamento e locação Comércio atacado Produtos plásticos e de borracha
serviços técnicos e especializados Utilities Bens imóveis
Gestão empresarial serviços financeiros Indústria da informação
Produtos de petróleo e lubrificantes Máquinas e manufaturados serviços de suporte administrativo
Produtos minerais não metálicos fabricação de metais Equipamentos de transporte
serviços de alimentação e restauran- Construção civil Entretenimento e lazer
tes locais
serviços de qualificação Gestão de resíduos e serviços de sa- Governo estadual e local
neamento
Mercados e supermercados Produtos de informática e outros ele- Concessionárias, revendedoras e ofici-
trônicos nas de veículos
Mercadorias em geral Postos de combustível Equip. elétricos e eletrodomésticos
serviços de manutenção serviços informais serviços de transporte
do interior do Nordeste (estradas pavimentadas, agências A PetroRecôncavo tinha um poço de difícil acesso
bancárias, energia elétrica, agências dos Correios, etc.). passando por uma estrada com elevado índice de aciden-
Grande parte dessas operações encontra-se em áreas isoladas tes. A estrada foi asfaltada pela empresa, o que tornou o
e de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). trajeto seguro para todos os usuários. Uma das maiores
As experiências vividas por pequenos operadores despesas da empresa concentra-se justamente na ma-
dão testemunho dessa realidade. Em vários lugares do nutenção de pistas de circulação na região. Essa mesma
Nordeste, povoamentos isolados vêm estabelecendo empresa é responsável por mais de 30% da freguesia de
contato com a economia regional por meio de abertura dois restaurantes de Mata de São João. Em suas proximi-
de estradas de acesso a poços. Da mesma forma, co- dades, pode-se encontrar: 1) uma vendedora ambulante
munidades sem energia elétrica são beneficiadas por que serve diariamente cerca de 150 cafés da manhã para
investimentos de pequenos produtores na instalação e empregados terceirizados; 2) um pequeno negócio de
ampliação da rede elétrica para atender a demandas de lavagem rápida que presta serviços para a empresa; 3)
poços e bombas elétricas em áreas isoladas. uma oficina que faz manutenção da frota; 4) um posto
Em Itaparica, a empresa Panergy abriu uma estrada de gasolina que abastece a frota; 5) uma cooperativa de
de acesso para uma comunidade isolada na contracosta mototáxi que atende aos trabalhadores terceirizados;
da Ilha, facilitando a chegada do programa Luz para 6) um artesão que fabrica móveis com fibra de dendê e
Todos do Governo Federal. Quando a empresa precisou vende para os funcionários da PetroRecôncavo.
de três mil estacas de concreto para cercar suas áreas, Esses exemplos demonstram como o modelo de
um fabricante local de peças de concreto foi contratado operação dos produtores independentes movimenta a
dando início a uma nova modalidade de produtos para economia local – faz a moeda circular no município – e
região. Uma empresa local foi contratada para fazer os abre oportunidades de convivência e serviço.
uniformes dos funcionários. A sede da Panergy fica perto O prolongamento da vida desses projetos exige, prin-
da Rodovia BA-001 (na Ilha de Itaparica). A Rodovia é cipalmente, o gerenciamento da produção declinante,
perigosa, principalmente pela presença de animais na mediante investimentos em reparação de infraestrutura
pista. A empresa hoje oferece toda sua área cercada envelhecida, estudos geológicos e geofísicos, gerencia-
para que a comunidade local deixe seu gado dentro de mento da água produzida, e emprego dos recursos em
seus cercados pastando em grama de boa qualidade e técnicas para aumento da recuperação (convencional e
deixando a pista livre. avançada). É recomendável também o direcionamento
Em Aracaju, nas operações da Severo Villares, outros de esforços exploratórios para identificação de outros
exemplos são encontrados. Perto do campo de Tigres, reservatórios ainda não desenvolvidos, tudo isso sob
um bar local foi ampliado e transformado em restaurante cuidadosa análise de viabilidade técnico-econômica.
e pousada, servindo refeições para os trabalhadores e A indicação do ponto crítico em que o campo se torna
hospedando funcionários. marginal dependerá do cenário mercadológico.
TN Petróleo 70 33
16. independentes
O foco do negócio está na maximização da produção, piorar a situação, existe um impasse entre estado e muni-
otimização da produção diária, e na minimização das cípios acerca da competência para licenciar atividades de
perdas de produção, cujos itens mais importantes são: produção. As atividades de perfuração são complexas. É
a redução do tempo do poço parado; a redução do ciclo comum uma empresa requerer várias licenças de perfu-
de reparos; a escolha criteriosa do método de elevação ração enquanto estudos geofísicos estão em andamento.
adequado. Mesmo diante desses desafios, pequenas Como os processos são morosos, as solicitações de licença
empresas podem operar projetos de forma rentável. Além são feitas com antecedência. No entanto, muitas vezes,
da ausência do risco exploratório, este nicho ainda é os estudos em andamento acabam indicando outras áreas
motivado pela acessibilidade a tecnologias tradicionais, para perfuração e o processo precisa ser reiniciado. Um
pela previsibilidade do fluxo de caixa e por um claro processo de licenciamento ambiental ‘por campo’, ou
potencial para incremento da produção. Com custos ‘por área’, precisaria ser instituído. Uma licença seria
operacionais mais baixos, pequenas empresas podem dada para todo o campo (ou concessão) e as atividades
viabilizar a operação de poços de baixa produção. passariam apenas por registros e autorização expressa
Pequenos empreendedores nada podem fazer para dos órgãos responsáveis.
alterar o fator ‘mercado’. Resta ao setor reivindicar e Por fim, persistem os problemas na comercialização
aguardar um cenário regulatório favorável com dispo- do óleo. A Petrobras não pode ser obrigada a comprar
sições específicas, incluindo um tratamento adequado óleo. O mercado carece de alternativas. Em abril, a
para os pequenos concessionários / operadores e projetos Dax Oil começa a refinar o óleo de pequenos produ-
de pequeno porte. tores com uma capacidade inicial de 2.500 barris/
Um grande desafio é a oferta de campos por meio dia, atendendo perfeitamente as demandas do atual
de leilões da ANP A Agência precisa manter uma rotina
. mercado baiano.
de oferta de campos para dar suporte ao mercado. Não O óleo advindo desses pequenos projetos de pro-
somente para que os pequenos produtores atinjam os dução representa uma fatia insignificante do volume
volumes necessários para consolidar esse nicho, mas extraído anualmente no Brasil. No entanto, os ganhos
para quebrar o ciclo de custos altos para equipamentos sociais e econômicos diretos e indiretos nesta região são
e serviços, frutos de uma dinâmica ainda de mercado de grande significado. A não-consolidação deste nicho
monopolizado. de mercado para a livre atuação do pequeno e médio
Outra importante ação esperada do Governo Fede- empresários no esquema de produção de petróleo e gás
ral é a desburocratização e agilização dos processos de em campos maduros e acumulações marginais, portanto,
licenciamento ambiental. Atualmente estes processos significaria perdas econômicas e sociais expressivas em
para perfuração de poços levam entre 12 a 18 meses. Para vários níveis.
Sigpetro: banco de dados integrado e
georreferenciado para o upstream onshore
UM sIsTEMA CONfIávEL e inteligente que possibilite o nascente mercado no Brasil. “In-
acesso e a participação de outras instituições de Pesquisa, felizmente, a produção de dados
Desenvolvimento e Inovação (PDI) aos dados de campos do geográficos ainda é cara e con-
projeto. Essa é a ideia do sistema de Inteligência Integrada some muito tempo.”
de Acesso a Dados do setor de Petróleo (sigpetro), que O sigpetro ainda tem como
vem sendo desenvolvido pelo Instituto de Geociências do objetivo estabelecer o Projeto
Departamento de Geologia e Geofísica Aplicada da Univer- Campo-Escola da ANP/Ufba
sidade federal da Bahia (Ufba). como um importante agente
“Levando em consideração o mercado emergente de gerador de produtos cientí-
pequenos produtores e os planos da ANP de oferecer mais ficos, tecnológicos e de for-
áreas inativas com potencial de reativação para o projeto mação de Recursos Humanos,
Campo-Escola, o acesso à informação geográfica é um dos criando modelos que possam
fatores mais críticos em vários processos de suporte a de- ser replicados em outras áreas de produção.
cisão”, explica o professor Doneivan ferreira, da Ufba. Dentre os beneficiários diretos dessa ferramenta estão
“Muitos objetivos que diversas organizações pretendem os novos players do setor, os pequenos concessionários,
atingir em conjunto só podem ser alcançados se a informação empresas de infraestrutura e órgãos reguladores. A inicia-
geográfica consistente e de boa qualidade estiver disponível tiva tem também potencial de lançar as bases tecnológicas
e acessível”, avalia o professor, que é autor e organizador para uma série de produtos (equipamentos e serviços) con-
do livro Produção de petróleo e gás em campos marginais: um siderados gargalos críticos do segmento.
34 TN Petróleo 70
17. independentes
A cara e a cruz
Situação do parque supridor
na Bahia
A primeira década de 2000 começa aquecida aqui na Bahia. Havia
tempo não se via tanta cotação chegando às empresas, tanto
serviço para ser executado e tanto equipamento para ser fornecido.
C
oincidem no tempo as grandes adequações na RLAM, construção
do Gasene, ampliações da malha urbana de gás natural, retomada
dos trabalhos no estaleiro de São Roque do Paraguaçu (BA). E aqui
perto, os grandes empreendimentos em Suape (PE), Espírito Santo ou
Mossoró (RN). A nota discordante vem do E&P Este segue sem levantar
.
cabeça 20 anos depois da fuga de investimentos para Macaé (RJ).
Os petroleiros daqui falam saudosos do tempo em que na Bahia ha-
via fábricas de brocas, revestimentos, hastes de bombeio, unidades de
bombeio mecânico... De quando o “Bahia Mistura” do Recôncavo, leve,
tipo árabe, era chamado óleo cru rei no Brasil. E de quando a cadeia de
fornecedores se completou no dia em que decidiram construir aqui, em
Camaçari, um dos maiores polos petroquímicos do hemisfério Sul.
No downstream, sem dúvida, a Bahia continua possuindo uma mais
que respeitável malha de fornecedores, principalmente de serviços! Mais
de quatro décadas de refinaria e mais de três de polo petroquímico e
de estaleiros permitiram desenvolver, entre outras, excelentes empresas
de engenharia, de caldeiraria, de montagem e de inspeções técnicas.
Basta passar um dia percorrendo a região metropolitana de Salvador
para perceber a importante densidade industrial nos chamados “Polos de
Apoio”, em Dias D’Ávila, Simões Filho e na própria Camaçari. Estamos
bem servidos e, diante dos investimentos anunciados, acreditamos que
ainda há espaço para mais.
No upstream a coisa está pior. Quase todo o parque supridor que
havia fechou na década de 1990, quando a Petrobras direcionou seus
investimentos para Campos. A produção manda. Hoje, apenas há pres-
tadoras de serviços locais e os fornecedores de equipamentos se contam
com os dedos das mãos. São verdadeiros heróis que sobreviveram por-
que buscaram mercados em outras regiões do país. Não tinha como ser
de outra forma, porque por aqui se furam poucos poços e os recursos
se concentram em operações de manutenção da antiga infraestrutura
de produção existente. Sabemos que outra forma de gerenciar bacias
Nicolás Honorato Cavadas é secretário maduras é possível. Chega a dar água na boca ao conhecer os casos de
executivo da RedePetro Bahia. Alberta (Canadá) ou do Oklahoma (EUA). Lá perfuram milhares de poços
36 TN Petróleo 70
18. por ano e então há espaço para centenas de pequenas
empresas que prestam serviços de perfilagem ou de
cimentação e que fabricam todo tipo de ferramentas
e equipamentos. Aqui não.
Nesse sentido, tínhamos até esperanças de as
coisas começarem a mudar quando a ANP promo-
veu o mercado de pequenos produtores nacionais
em campos marginais, mas nem sempre a lógica e
as boas intenções conseguem vencer as barreiras do
poder estabelecido. Hoje existe um lugar no planeta
no qual há várias empresas produzindo petróleo e
gerando emprego local, mas precisam manter os Enquanto isso, pelo bem dos fornecedores locais,
poços fechados porque o único comprador viável não só nos cabe pedir a santos e orixás que alguém des-
quer comprá-lo: sim, só podia ser na Bahia. Em soma, cubra um pouco do pré-sal na nossa costa, que a ANP
investimento pouco e de fonte única que deixa muita consiga convencer às operadoras de se enquadrarem
riqueza desperdiçada no subsolo e deixa de gerar toda nas novas normas de Conteúdo Local ou que algum
a que poderia na superfície. político perceba quanto a Bahia está deixando de
A indústria baiana fornecedora de bens e serviços ganhar com o atual modelo de exploração da nossa
para o setor de petróleo busca agora, pela primeira querida e prolífera, porém quase esquecida, bacia
vez, se unir. A associação, chamada aqui de RedePetro, do Recôncavo. Vale dizer que a bacia do Recôncavo
tenta fazer o que os sucessivos governos estaduais e é a mais longeva dentre todas as bacias petroleiras
certas entidades de classe deveriam ter feito ao longo brasileiras, com mais de 70 anos de atividade, e até
dos anos, mas nunca fizeram: aprender, entender e hoje uma das mais prolíferas, com mais de 230 milhões
promover de verdade, com atos e não com palavras, de m³ produzidos nos seus 80 campos distribuidos em
os interesses do sofrido parque supridor baiano. pouco mais de 11.000 km².
The SPE International Conference on
in Oil and Gas Exploration and Production
Register Now
12–14 APRIL 2010
RIO DE JANEIRO, BRAZIL
www.spe.org/events/hse
Principal Sponsor
Society of Petroleum Engineers
TN Petróleo 70 37
19. independentes
Campos maduros e o
governemnt take A revisão da legislação sobre óleo e gás que ora se discute apresenta uma
oportunidade para se rever a questão do government take (os tributos
cobrados pelo governo) sobre os campos maduros. O cenário tributário
brasileiro, de maneira geral, trata grandes e pequenos empreendimentos
praticamente da mesma forma.
N
o caso dos hidrocarbonetos, não poderia ser diferente, e pune a
existência dos campos maduros, pois os trata da mesma forma que
os grandes campos, não fazendo distinção de natureza. Em geral, a
quase-totalidade destes campos encontra-se em terra e na região Nor-
deste, e em municípios que vivem orçamentariamente dos repasses dos
Fundos Constitucionais e da receita de royalties.
Ao contrário do que muitas prefeituras que abrigam estes campos
possam pensar, uma redução nos percentuais de pagamento de royalties
incentivaria os detentores dos campos maduros (sobretudo os produtores
independentes) a investir no aumento de sua produção, pois a desone-
ração da produção levaria a tal efeito econômico. A explicação é simples
– pagando menos royalties, sobram recursos para investir em aumento de
produção. Desta forma, o aumento de produção a ser verificado ampliaria
a base de cálculo, compensando a redução de alíquota, e os municípios
não teriam uma redução desta receita orçamentária.
Os motivos que justificam tal proposta são muitos, e podemos desta-
car alguns: a dinamização dos negócios regionais em áreas notadamente
carentes, a dinamização da indústria nacional em função do aumento
Thereza Aquino é econo-
mista e doutora em Eco- de encomendas de insumos de produção, e o consequente aumento na
nomia Mineral pela UfRJ. geração de empregos.
é diretora da Therac
É importante lembrar que, por diversas vezes, no Brasil, foram dados
Consultoria Econômica
e ex-superintendente de incentivos fiscais à produção de bens que poderiam ser comparados aos
Infraestrutura do BNDEs. campos maduros, como foi o caso dos chamados ‘carros populares’. Esses
é professora substituta
veículos, na sua maior parte, eram modelos já defasados e que seriam re-
da Escola Politécnica da UfRJ e pesquisa-
dora do Gesel (Grupo de Estudos do setor tirados de linha. Ganharam uma sobrevida com a diminuição da tributa-
Elétrico), da UfRJ. ção incidente e ao adotarem motores de menor potência. Hoje, continuam
sendo dos modelos mais produzidos e, gerando milhares de empregos e
de encomendas em toda a cadeia da indústria.
Mauricio Aquino é con- Desta forma, é importante que os agentes que estão discutindo as
tador e mestrando em Ad- mudanças na Lei do Petróleo observem que o mundo dos hidrocarbonetos
ministração no Ibmec-RJ.
é diretor de consultoria não é constituído apenas de grandes campos na camada pré-sal. Devem
da Praxis Brasil Consul- também dar atenção aos campos maduros e aos agentes que atuam nes-
toria e Investimentos. tas áreas, pois grande parte destes é de pequenas empresas que atuam
é ex-auditor da Deloitte
Touche Tohmatsu e ex-sócio da Ps Contax em áreas carentes, e que teriam a oportunidade de expandir negócios,
Auditores Independentes. através da expansão da produção de óleo e gás.
38 TN Petróleo 70