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O Papel do Estado na Sociedade da Informação
              Um novo olhar sobre a reforma do estado à luz das tecnologias

                                        Luís Vidigal

                                       Agosto 2011

Introdução

O modelo burocrático tradicional foi imaginado no contexto da sociedade industrial, com
preocupações predominantemente de eficiência e racionalidade da máquina do estado, ao
mesmo tempo que é o fruto das mudanças científicas e tecnológicas produzidas no final do
séc. XIX e no princípio do séc. XX, sem ter em conta comportamentos e atitudes
disfuncionais por parte de pessoas e grupos sociais. A nova gestão pública, na tentativa de
superar a rigidez e a paralisia do modelo burocrático, acabou por transformar o estado numa
soma de partes independentes, autogeridas e auto-protegidas, em vez de um todo coerente,
integrado e perceptível por parte do cidadão. As tentativas mais ou menos prescritivas e
idealistas do novo serviço público, para restaurar os valores do serviço público, não passam
mais uma vez de desejos bem intencionados mas de difícil concretização no mundo real em
transformação e estão longe de incorporar as novas lógicas e oportunidades da sociedade
da informação.

O que se propõe neste texto é uma tentativa de construção de um modelo viável de
administração pública onde pessoas e máquinas cooperem para satisfazer as necessidades
do estado e da sociedade, reinventando processos mais rápidos, mais baratos e mais
eficientes, sem colocar em risco valores fundamentais de soberania e de serviço público.
Pretende-se deste modo chamar à atenção para a necessidade de aprofundar o estudo
científico do papel das tecnologias na reforma do estado, no contexto da sociedade da
informação.

As funções do estado em transformação

Nos dias de hoje, com a aceleração tecnológica e do processo de globalização à escala
mundial, os estados são cada vez mais forçados a uma transformação e mudança em três
tipos de paradigmas: (1) As actividades do estado estão primordialmente sujeitas às
exigências do estado eficiente; (2) Redistribuição das responsabilidades entre o estado e a
sociedade, num contexto de uma gestão global e conjunta do desenvolvimento nacional,
transnacional, supranacional e internacional, enquanto estado funcional; (3) Um governo em
que a sociedade constitui uma das condições básicas da legitimidade e necessidade de um
estado prestador de serviços (Pitschas, 2007). Com efeito, a globalização conduziu, nos

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últimos anos, os estados para novas fronteiras e novos constrangimentos na soberania,
novos desafios de concorrência visando alcançar níveis de maior eficiência e atractividade
do investimento a nível mundial, disputando cada vez mais uma imagem positiva junto da
comunidade internacional. O poder económico do estado, reforçado durante a segunda
guerra mundial, está a ser reduzido pela internacionalização e pela necessidade de
estratégias mais flexíveis no funcionamento das empresas, questionando as funções
tradicionais de regulação por parte dos estados nacionais (Demarigny, 1996). Tomando como
exemplo as tecnologias da informação e comunicação (TIC), tem-se assistido a uma
deslocação de grande parte das funções reguladoras, que tradicionalmente pertenciam ao
estado, para entidades privadas ou organizações voluntárias da sociedade civil1 å escala
transnacional e supranacional, constituindo-se em entidades certificadoras da credibilidade
técnica e funcional de parceiros tendencialmente mais distantes e que mal se conhecem no
espaço virtual.

A competitividade que se faz sentir a nível mundial está a questionar o próprio conceito de
estado-nação (Holton, 1998) e a desafiar as fronteiras tradicionais. A prestação de serviços
do estado, num mundo em globalização, vai no sentido de apoiar as necessidades
específicas das empresas no processo de internacionalização e na captação prioritária de
investimento estrangeiro, reconhecendo um mundo em competição pelo domínio das áreas
de maior valor acrescentado - inovação, concepção e marketing. Constata-se que hoje
existem países ganhadores e países perdedores com a globalização produtiva (Capello,
2011), o que significa que os países que competem com as grandes economias
emergentes, como a Índia e a China, em áreas operacionais de baixo valor acrescentado
estão a perder com a globalização, enquanto que os países, que contribuem de forma
complementar com áreas inovadoras e de elevado valor acrescentado, estão a ser
altamente ganhadores à escala global. Portugal, que foi pioneiro da globalização desde o
Séc. XV, infelizmente está a ser o país, no âmbito da União Europeia, que mais está a
perder com a globalização, por dificuldades de domínio nas áreas de maior inovação
(OCDE, 2010). Esta luta pela competitividade e sustentabilidade à escala global constitui
talvez o maior desafio dos estados modernos, sendo uma das razões apontadas para a
grande mudança de paradigma nos anos 80 (Peters, 1996).

As administrações públicas à escala nacional, europeia e mundial estão a enfrentar novos
momentos de contingência e incerteza, que forçam mudanças de cultura induzidas por

1
 O conceito de sociedade civil é um dos mais ambíguos desde a Roma antiga até à actualidade e é
muito difícil de estabilizar analiticamente no âmbito das ciências sociais e políticas (Harris, 2006).
Neste texto utilizamos o conceito como uma combinação de interesses económicos com
organizações voluntárias e não lucrativas, ou seja a combinação dos modelos 2 e 3 propostos por
Jose Harris (2006).

                                                                                                    2
novas formas de funcionamento da economia real em mercados altamente competitivos e
globalizados, novos contextos demográficos, novas tecnologias e novas formas de
regulação (Majone, 1997). A questão está em saber como a administração pública vai
adaptar o seu modelo de funcionamento e as suas estruturas a estes novos ambientes
económicos, sociais e tecnológicos (Thompson, 2008), sem destruir valores e princípios
fundamentais do serviço público.

No estado providência, construído a partir da segunda guerra mundial e acelerado nas
décadas de 60 a 80, habituámo-nos que os orçamentos nacionais eram inesgotáveis e que
as administrações públicas deveriam fazer tudo para servir uma espiral infinita de
expectativas sociais, numa lógica de acumulação e preservação de bens públicos,
alimentada pelo modelo Keynesiano de dinamização da economia através da criação de
emprego e pela competição com o socialismo real. "O estado providência foi sobrecarregado
para além das suas capacidades" (Pitschas, 2001), “daí que seja inevitável um recuo do
estado para uma reformulação das suas responsabilidades sociais" (Pitschas, 2007). Mas
será que esta lógica é inevitável ou é apenas o resultado da manutenção de contextos
baseados em factores constantes e inquestionáveis em que o estado providência foi
concebido e desenvolvido.

Está-se a assistir a um movimento internacional para tornar o sector estatal mais económico
e a fazer com que se concentre nas suas responsabilidades incontestáveis, o que implica
uma transição de um estado que produz para um estado que salvaguarda, mais próximo de
um modelo de "estado activador" (Pitschas, 2001). A tendência da reorganização das
funções do estado tem-se “acentuado nas funções de apoio, monitorização e regulação das
actividades económicas – inovação, competitividade, nichos com complexidade tecnológicas
e exportações” e tem sido “mais selectiva nas funções sociais – na saúde, na acção social e
na segurança social” (Mozzicafreddo, 2009). No que se refere à gestão dos recursos
informacionais do estado, enquanto função cada vez mais crítica e estratégica nos dias de
hoje, os recursos financeiros já não são suficientes para sustentar legiões de funcionários
capazes de assegurar toda a cadeia de valor desde as tarefas de maior soberania como a
estratégia e a gestão, até às tarefas de menor soberania como a implementação e a
operação de aplicações informáticas. Os grandes centros de informática da administração
pública debatem-se hoje com um dilema de sustentabilidade e preservação de funções,
nomeadamente ensaiando uma ainda tímida concentração em tarefas de maior criticidade e
risco estratégico e operacional, descartando para o mercado privado algumas tarefas de
baixa soberania e menor valor acrescentado.




                                                                                          3
Presentemente, os serviços públicos em todo o mundo estão a ser alvo de um forte
processo de racionalização e a estrutura da administração está a ser analisada para saber
se devem ou não ser abolidas as hierarquias e os procedimentos desnecessários, ao
mesmo tempo que a orientação para as melhores soluções possibilita a optimização dos
processos de funcionamento e cria estruturas mais capazes para o futuro. As formas pós-
burocráticas de organização e os valores do serviço público estão a tornar-se mais
significativos, obtendo-se maior independência organizativa por parte dos órgãos
administrativos, que passam a recorrer ao outsourcing de forma mais independente
(Pitschas, 2001). Mas será que este movimento está a conduzir os países aos resultados
esperados? O aumento da produtividade parece constituir a única saída para a reforma dos
estados, considerando a existência de limites políticos, sociais e profissionais à redução do
pessoal dos serviços públicos” (Mozzicafreddo, 2001). O aumento da produtividade nos dias
de hoje passa pelo uso intensivo de tecnologias, sem necessidade de recorrer à
fragmentação organizacional nem à demarcação territorial, que caracterizavam os modelos
clássicos de gestão baseados na energia e no músculo.

A gestão do valor público tornou-se uma prioridade para a maioria dos governos, forçando
mudanças funcionais básicas e novas parcerias entre o estado e a sociedade, ao mesmo
tempo que coloca novos desafios às funções e competências de coordenação e regulação
do estado, decorrentes da externalização progressiva das tarefas de menor soberania, que
actualmente encontram solução no mercado, e à necessidade de reforçar algumas funções
mais soberanas do presente (Majone, 1997). Num mundo que já disse adeus à sociedade
industrial tradicional, onde foi gerado o modelo burocrático Weberiano, o estado ainda não
soube adaptar as suas estruturas à nova economia de serviços, baseada em valores de
autodesenvolvimento e iniciativa individual, em que os cidadãos se envolvem cada vez mais
na auto-regulação das suas sociedades (Pitschas, 2007). A individualização, a globalização
e a economia de serviços, são hoje desafios a que o estado burocrático e hierarquizado
ainda não soube responder de forma adequada, por isso, e como aconteceu ao longo da
História, o estado tem de ser reinventado para estes novos contextos mais participativos e
abertos å sociedade civil, em que as tecnologias podem desempenhar um papel mais
estruturante e integrador.

Será que as tipologias pré, anti e pós-modernas atribuídas às diversas administrações
públicas (Konig, 2003) poderão ser questionadas à luz da sociedade da informação actual
ou apenas poderão ser reforçadas pelos seus poderosos instrumentos tecnológicos? Será
que passaremos a ter modelos mistos e ajustados a diversas culturas e fases de
desenvolvimento? As tecnologias da informação podem servir os actuais modelos, mas
também poderão ajudar a reinventá-los para o futuro, porque estamos cada vez mais

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libertos dos constrangimentos de um passado baseado apenas na energia e na força
laboral.

Para um estado em tempo real ao serviço da cidadania

Nos novos modelos de modernização do estado, há um recurso crescente aos benefícios do
governo electrónico2 em que as tecnologias da Informação constituem a base da Informação
e comunicação com os indivíduos (Pitschas, 2001), mas também uma nova forma de
relacionamento interno. Os autores Fred Thompson e L. R. Jones (2008) constatam que os
actuais organismos do sector público estão a mudar significativamente à medida que
adoptam as novas tecnologias de informação e com isso procuram ser progressivamente
mais eficientes e eficazes nas respostas às necessidades dos cidadãos, de forma centrada
na Internet (hyperarcky e netcentricity). Parte desta transição envolve uma reformulação do
pensamento sobre o desenho organizacional do estado. Estes dois autores analisam a
contradição entre as estruturas hierarquizadas e fechadas que ainda caracterizam os
serviços públicos, face aos novos modelos inspirados nas redes e comunidades baseadas
na Internet e citam autores (Evans, 1997) que desde há muito anteciparam a possibilidade
(ou a ameaça) do acesso igualitário e simétrico à informação conduzir à destruição das
hierarquias lógicas e de poder e exigir que a estratégia e os processos operacionais sejam
profundamente repensados para a nova economia da informação, passando a organizar-se
em torno de modelos fluidos, baseados em equipas, comunidades e alianças colaborativas
estruturadas em redes de conhecimento.

“As redes parecem estar em todo o lado e reduzem o tempo e o espaço nas inter-relações
entre os seus actores” (Castells, 1998) e podem ser utilizadas como metáfora, para
descrever uma nova forma de trabalhar; como teoria, para analisar a administração pública
e a execução de políticas; ou com um sentido prescritivo na reforma da gestão pública
(Rhodes, 2008, citado por Pollitt e Hupe, 2009). Rhodes (2008) definiu as redes como
“conjuntos de ligações institucionais, formais e informais, entre entidades da administração
pública e outros actores estruturados em torno de interesses partilhados na elaboração e
execução de políticas públicas”. Esta poderia constituir também uma boa definição de e-
Government, com tudo o que traz de mudança forçada para contextos cooperativos
orientados à prestação de serviços públicos. Koppenjan e Klijn (2004) citados por Pollitt e
Hupe (2009) afirmam que o modelo de funcionamento com organizações isoladas assim


2
  Nos países de língua latina discute-se o equívoco entre os conceitos de Governo Electrónico e
Administração Publica Electrónica, que resultam da mesma palavra em inglês - e-Government. A
generalização do conceito Governo Electrónico, linearmente importado e traduzido pelas
multinacionais anglo-saxónicas, ao segmentarem os seus clientes por áreas de actividade, ignora que
o Governo e a Administração Pública são níveis institucionais diferentes.

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como o modelo de comando a partir das pirâmides descendentes ou do centro para a
periferia estão obsoletos, salientando que as redes horizontais estão a substituir as
hierarquias. Os processos horizontais referidos neste texto constituem redes horizontais de
trabalho inter-institucional ou cadeias de valor, para chegar a um produto ou serviço de
interesse para os cidadãos ou agentes económicos.

A tecnologia é cada vez mais um poderoso auxiliar para o processo decisório e um
acelerador dos       processos     administrativos, aumentando         o seu      grau   de certeza,
transparência, imparcialidade e auditabilidade. Daí a resistência que muitas vezes se verifica
na introdução de sistemas automatizados, facilmente escrutináveis e que impeçam a
arbitrariedade e a conveniência na aceleração ou desaceleração dos processos ao serviço
de interesses particulares3. A corrupção como a transparência do estado têm sido desde o
séc. XIX um dos objectivos da ciência administrativa, nomeadamente em Woodrow Wilson
(1887) citado por Behn (1998) e as tecnologias da informação acabaram por se traduzir num
instrumento precioso para aumentar a transparência dos processos administrativos, mas
também um motivo de forte resistência à introdução de escrutínios automáticos. Luhmann
(1989), citado por Mozzicafreddo (2009), considera que “a ética, para além de se relacionar
com valores e atitudes, tem a ver, sobretudo, com procedimentos” e nada melhor do que as
tecnologias para minimizar a arbitrariedade decisória.

A cibernética é uma tentativa de compreender a comunicação e o controle de máquinas,
seres vivos e grupos sociais através de analogias com as máquinas (cibernéticas) e,
segundo Wiener (1968), estas analogias tornam-se possíveis através do estudo do
tratamento da informação no interior destes processos como codificação e descodificação,
realimentação (feedback), aprendizagem, etc. A aplicação da cibernética a várias disciplinas
(biologia, fisiologia, psicologia, sociologia, etc.) e em particular ao funcionamento dos
processos organizacionais tem sido objecto de estudo ao longo de várias décadas (Ashby,
1956; Beer, 1981).

Andrew Barry (2001) afirma que a tecnologia assume cada vez mais importância na vida
política actual e constitui “uma forma de evitar o ruído e a irracionalidade do conflito político”,
mas também considera uma fantasia que mecanismos não-humanos possam trabalhar
autonomamente das suas múltiplas conexões humanas ou não-humanas, tais como

3
  É exemplo da resistência à introdução das tecnologias para escrutínio político e administrativo, o
Sistema de Informação para a Transparência da Administração Pública (SITAP), várias vezes
proposto pelas oposições, mas sistematicamente adiado pelos sucessivos governos, capaz de
responsabilizar os decisores políticos e administrativos e suportar a avaliação e o escrutínio por parte
da sociedade. É também exemplo desta resistência o tempo que demorou a colocar em
funcionamento real o Sistema de Execuções de Justiça Fiscal, que acabou por ser desbloqueado
pelo director-geral dos Impostos Paulo Macedo, o qual veio impedir a discricionariedade na gestão
destes processos e as possibilidades de corrupção daí decorrentes.

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linguagem, corpos, mentes, desejos, competências, tradições, etc. (Barry, 2001, citado por
Pollitt, 2011).

Tal como a Organização Científica do Trabalho (Taylor, 1911), a burocracia Weberiana
(Weber, 1946) e outros modelos mais ou menos prescritivos de gestão, as promessas e as
expectativas decorrentes do New Public Management (NPM) ignoraram os comportamentos
psico-sociais, capazes de gerar disfunções profundas nos modelos originais. Tal como
aconteceu com o modelo Weberiano, o NPM está longe de ter sido implementado com todo
o rigor e não deixou de ser fortemente afectado por lobbies e interesse pessoais, muito
distantes das expectativas do modelo original, o qual foi amplamente propagado por todo o
mundo e adoptado como esquema de referência pelas organizações internacionais.

A necessidade de mudanças e reformas no estado

Chevallier (1997), citado por Mozzicafreddo (2001), constata que tanto as organizações
públicas como as organizações privadas confrontam-se cada vez mais com novos desafios
conducentes à necessidade de promover mudanças e reformas no seu funcionamento:
Problemas de identidade organizacional, mudança tecnológica e de comportamentos,
concorrência e necessidade de melhorar a produtividade e de responder às exigências dos
clientes e dos cidadãos, visando melhorar a qualidade dos serviços e dos produtos
fornecidos.

Guy Peters (1997) identificou três tipos diferentes de reformas do estado umas mais
orientadas ao mercado, outras mais participativas e outras mais desreguladoras, partindo
cada uma delas de diagnósticos e motivações diferentes. O agenciamento, a
contratualização e a retribuição em função do desempenho, os relacionamentos internos de
cliente-fornecedor, a contabilidade patrimonial, a avaliação sistemática dos programas de
acção e os centros únicos de formalidades são exemplos de iniciativas de reforma
orientadas a um lógica de mercado. A gestão da qualidade, a descentralização e as cartas
de qualidade, são estratégias de reforma do tipo participativo. A autonomia orçamental e
logística assim como a flexibilidade laboral são exemplos de retomas mais desreguladoras.

Portugal iniciou em meados dos anos 80 uma estratégia mais participativa e a partir deste
século tem ensaiado sobretudo estratégias mais orientadas a um modelo de mercado e
mais desreguladoras e flexibilizadoras, no entanto encontramos afloramentos de cada um
destes três modelos ao longo de mais de 25 anos de história recente da reforma
administrativa em Portugal. Em qualquer dos casos o slogan “menos estado e melhor
estado” não deixou de trespassar legislaturas distintas e impressionar políticos e eleitores
durante este quarto de século. Esta mudança de paradigma teve a sua expressão pública


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nos princípios defendidos pelo New Public Management, iniciado no Reino Unido no
governo Thatcher em 1979, com a determinação e o grito político de "aliviar o fardo" (lift the
burden).

O modelo burocrático de Weber (1946) que ainda inspira o pensamento administrativo
actual, quer por contraposição quer por referenciação, foca-se estritamente na execução
técnica e profissional das políticas definidas pelo poder político, confiando em funcionários
com pouca margem de discricionariedade, obedecendo de forma descendente aos seus
superiores, orientados por valores de eficiência e racionalidade, com pouco ou nenhum
envolvimento dos cidadãos (Denhardt, 2003). O funcionário deveria ser apolítico, ter
estabilidade no posto de trabalho e obedecer a qualquer chefe (Peters, 1996). Estamos em
presença de um modelo estritamente mecânico de relação causa-efeito fortemente inspirado
nos 14 princípios básicos da Administração Científica de Taylor (1911) e na Administração
Industrial e Geral de Fayol (1916), como tentativa de responder cientificamente ao volume
crescente da informação e à complexidade organizacional através de cadeias de comando
altamente reguladas e previsíveis. Estes modelos acabaram por ter muito pouco de
científico, assemelhando-se mais a prescrições religiosas (Peters, 1996). Hoje sabe-se que,
à luz da tecnologia actual, grande parte dos méritos mecânicos do modelo burocrático
tradicional podem ser garantidos por sistemas de informação automatizados com o rigor e o
determinismo com que a natureza humana é incapaz de competir. Verificam-se, nos dias de
hoje, défices burocráticos injustificáveis por preconceito em relação ao passado ou por
resistência a mecanismos de clareza e transparência tão caros à ciência da administração
desde o séc. XIX (Wilson, 1887).

Por seu lado o New Public Management tem vários entendimentos e várias aplicações
conforme os autores, Hood (1991), Peters (1996), Minogue et al, (1998), Pollitt e Bouckaert
(2000a), entre outros, contudo, podem-se reduzir a três grandes princípios (Rocha, 2000):
(1) Controlo das despesas públicas, através da adopção de técnicas e processos de gestão
empresarial, nomeadamente a separação das funções concepção política da execução em
agências e a convicção de que os gestores devem gozar de total autonomia e dispor de
orçamentos globais, sendo a sua actuação avaliada a posteriori; (2) Os cidadãos são vistos
como clientes e consumidores de serviços públicos, daí que se adopte um conjunto de
medidas destinadas a simplificar os procedimentos, identificação dos responsáveis,
possibilidade de escolha entre vários prestadores e a adopção de cartas de qualidade
(primeiro na Inglaterra em 1991; depois na Bélgica, França e Espanha em 1992, Portugal
em 1993, Canadá e Estados Unidos da América em 1994); (3) Mudança de estatuto dos
funcionários, os quais tendem a perder o estatuto tradicional de segurança de emprego,
uma vez que a modernização administrativa está associada a uma visão crítica da função

                                                                                            8
pública, tentando por isso reduzir o número de funcionários e mudar o regime rígido de
emprego para as regras privadas de contratação mais flexíveis. O NPM encara a gestão
privada e os seus instrumentos como princípios de gestão indiscutíveis e definitivos para a
gestão pública, fazendo a apologia do modelo de mercado e do espírito empreendedor por
parte do gestor público (Denhardt, 2003). O Estado passa a ser uma soma de partes
independentes e autogeridas, trata-se de um amontoado de empresas de faz de conta em
vez de um todo coerente e integrado, constituindo um bloqueio para a fluidez dos processos
interdepartamentais tão necessários a uma estratégia bem sucedida e madura de e-
Government.

O New Public Management está ligado a quatro megatendências: (1) Tentativa de suster o
crescimento da administração pública, nomeadamente em recursos humanos e financeiros;
(2) A mudança para uma progressiva privatização ou quase-privatização, para fora das
instituições públicas com uma ênfase renovada na “subsidiariedade” no fornecimento de
serviços; (3) A automatização da produção e da distribuição de serviços, através do maior
uso das tecnologias da informação e comunicação; (4) O desenvolvimento de uma agenda
de cooperação internacional (sobretudo centrada na OCDE), sobre questões gerais de
gestão pública, estilos de liderança e políticas públicas, ao invés de uma postura
estritamente baseada em especialistas nacionais (Hood, 1991). As doutrinas de
contabilidade privada e as mudanças induzidas nas finanças públicas de alguns países da
OCDE nos anos 80, tiveram uma influência decisiva no desenvolvimento do NPM (Hood,
1995).

Mozzicafreddo (2001) afirma que o paradigma do NPM parte de um pressuposto erróneo, ao
considerar a gestão empresarial como inerentemente superior à gestão pública, passando
os cidadãos a ser meros consumidores. Peters (2000) refere que a reforma de base
gestionária conduziu a alguns excessos, uma vez que a procura de serviços mais eficazes e
eficientes levou a que se preterissem alguns valores do serviço público importantes, como a
accountability. Também Denhardt (2003) sublinha que a abordagem de mercado esquece a
deliberação democrática, assim como o conceito de serviço público.

Christopher Hood criticou desde muito cedo o New Public Management ou o
managerialismo, como também é conhecido, por não ter qualquer conteúdo teórico e por ser
apenas uma roupagem vazia. A grande consequência do managerialismo tem sido o
aumento exponencial dos controladores orçamentais e de performance, sem que o facto se




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tenha traduzido em melhorias efectivas dos serviços públicos4. Embora se apresente como
promotor do bem comum, na realidade o managerialismo tem servido de veículo para
interesses particulares, sendo criada uma elite de novos gestores públicos, cujos privilégios
são muito superiores aos dos antigos administradores (Hood, 1991). Muitas destas críticas
parecem-nos pertinentes e actuais, pois a doutrina do NPM continua viva e a ser exportada
para o mundo menos desenvolvido, dando a ilusão de luta contra a corrupção e a má
gestão, impressionando políticos e algumas elites da economia real, que encontram nela
uma oportunidade para se demarcarem dos velhos modelos burocráticos e aproveitarem
para tirar partido de algum património público, quer estejam dentro quer estejam fora do
aparelho do estado.

Com o desenvolvimento do NPM, certos autores destacaram alguns dos mais importantes
paradoxos que estariam por detrás deste novo modelo. Giauque (2003a) ao analisar o NPM
sob a perspectiva da regulação, salientou a natureza paradoxal deste novo modelo de
estado, a que chamou burocracia liberal, que combina liberdade com constrangimentos,
neoliberalismo e burocracia, descentralização e concentração de poder. John Bumgarner
(2009) refere que o NPM conduz o estado a um paradoxo, se por um lado se pretende mais
minimalista, por outro, parece iniciar-se um processo de valorização do papel da cidadania e
dos valores do serviço público a ela associados, como a abertura, a responsabilização
(accountability), a representatividade, a disponibilidade (responsiveness), a transparência, a
equidade, a legalidade, tendo como consequência o alargamento e o aprofundamento da
intervenção do estado na sociedade, realinhando o papel da administração pública aos
objectivos constitucionais, acabando por expandir o seu poder tradicional (Bumgarner,
2009). Ao contrário, os autores que mais criticam o New Public Management consideram
que a perca destes valores do serviço público é também considerada uma das razões para
o declínio do NPM (Denhardt, 2003). Ao longo dos últimos trinta anos assistimos a um
balanceamento entre os valores do serviço público (equidade, cidadania, accountability,
transparência e interesse público) e os valores de desempenho (eficiência, eficácia,
qualidade, objectivos e avaliação dos organismos e indivíduos), como se se tratasse de
valores mutuamente exclusivos.

A gestão profissional pode cumprir em simultâneo todos estes valores e as tecnologias
podem dar um excelente contributo para que isso aconteça (canais de interacção múltiplos e




4
 Em Portugal o managerialismo não foi acompanhado por um esforço proporcional de accountability
e de controlo orçamental eficaz, tendo por isso provocado um aumento descontrolado da despesa
pública.

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universais, business intelligence5, sistemas de reporte e alerta automáticos, workflows6,
tecnologias móveis, etc.), suportando todo o ciclo da gestão, seja ela pública ou privada (p.
ex. as cinco funções de administração de Fayol7, o PDCA8 de Deming, o DMAIC9 do Six
Sigma, etc.). A questão está nas competências profissionais, na determinação e na
confiança nos valores do serviço público, por parte de políticos, gestores e funcionários.
Acima de tudo, o que se pretende é a “criação do ambiente de confiança, potenciador da
capacidade do estado em impor decisões vinculantes em nome do interesse público”
(Mozzicafreddo, 2009).

O NPM tem de ser entendido como um modelo de gestão pública fortemente influenciado
pelos preconceitos gerados durante a administração Thatcher, dificilmente exportável para
outras estruturas e culturas administrativas (Minogue, 1998), no entanto continua a ser
propagado em muitos países e continua a representar-se como um referencial das
organizações internacionais (OCDE, FMI e Banco Mundial) para os países do terceiro
mundo, onde predomina o excesso do poder estatal, a corrupção e a permeabilidade entre
política e administração pública.

O New Public Service (NPS) proposto por Janet e Robert Denhardt (2003) é uma tentativa
normativa de superar alguns fracassos do NPM, mas está longe de ser um modelo concretizado e
testado no terreno, no entanto, abre perspectivas para novos caminhos da estruturação e
funcionamento do estado, mais aberto à sociedade através da governação partilhada com a
sociedade (governance). Os novos modelos de governance propostos pela OCDE (2008) e
alguns autores da área das ciências da administração estão longe de estar estabilizados
(Pollitt and Hupe, 2009)10 mas podem ser viabilizados através da gestão e utilização



5
   Business Intelligence é uma família tecnológica criada pelo Gartner Group nos anos 80, que se
refere ao processo de recolha, organização, análise, partilha e controlo de informações de suporte à
gestão, normalmente contidas num grande repositório de dados (Data Warehouse ou Data Mart)
6
  Workflow, segundo a WfMC (Workflow Management Coalition), é a automação de um processo, na
sua totalidade ou em partes, onde documentos, informações ou tarefas são passadas de um
participante para outro visando a execução de uma acção, de acordo com um conjunto de regras e
procedimentos
7
   Henry Fayol atribuiu em 1916 cinco funções ao administrador: Planear, Organizar, Comandar,
Coordenar e Controlar
8
  PDCA – Plan Do Check, Act
9
  DMAIC – Define, Measure, Analyse, Improve, Control
10
   Pollitt and Hupe (2009), fazem uma análise do conceito de governance, muito utilizado, mas ainda
pouco estabilizado na literatura, considerando-o atractivo, vago e amplo, carregado de valor,
associado ao processo de reforma e confundido com governo no sentido estrito. Estes autores
propõem uma definição para o conceito normativo de “good governance”: “garantir um comando da
sociedade através de redes e parcerias entre governos, empresas e associações da sociedade civil,
para encontrar o interesse comum””. Trata-se de um conceito que não se opõe ao conceito de
governo, pois alarga-o a outros elementos, tornando-se mais inclusivo e aberto à conciliação entre
escolhas e conflitos reais. A palavra “governaça” tem em português um sentido pejorativo (que se
governa), por isso a tradução para “governação” parece mais adequada.

                                                                                                 11
adequada das redes sociais e da chamada Web 2.011. e da Web semântica12. Mais uma vez
é possível esperar da sociedade da informação novos modelos de governação e de reforma
do estado, como aconteceu durante a sociedade industrial com o advento do modelo
burocrático.

O papel da gestão dos recursos informacionais na acção do estado

A maioria das análises sobre a sociedade da informação em que vivemos centra-se quase
sempre nas tecnologias da informação e só ocasionalmente separa o recurso que é
manipulado (a informação) daquilo que facilita o seu processamento e manipulação (as
TIC), por isso não é de estranhar que a informação ainda não seja verdadeiramente
considerada um recurso susceptível de ser gerido e valorizado e as tecnologias não passem
de mais um instrumento surpreendente ao serviço do homem, naquilo que elas representam
como utility de acesso cada vez mais banalizado.

De uma maneira ou de outra, a maior parte da actividade da administração pública passa
pela recolha, tratamento e difusão de informação através de uma posição privilegiada e
nodal no centro de redes de informação (Hood and Margetts, 2007). O estado pode recolher
informação recorrendo å sua centralidade nodal na sociedade ou de forma mais persuasiva,
utilizando mecanismos obrigatórios de alimentação dos vários processos, nomeadamente
através do preenchimento de formulários para impostos, segurança social, saúde, etc. O
escrutínio dos media, mediante a análise de notícias generalistas e especializadas e da
análise da publicidade, alimenta alguns sistemas de decisão estatais, para a recolha de
indícios na luta contra a evasão e fraude fiscal, no combate à corrupção, na protecção do
consumidor ou do ambiente, etc. A recolha directa de informação através de questionários e
focus groups tornou-se uma prática habitual na recolha da opinião pública desde a segunda
guerra mundial. Os media electrónicos, nomeadamente a Internet, tornaram as fontes de
informação muito mais variadas, abundantes e facilmente escrutináveis por motores de
busca ou agentes inteligentes específicos, tornando-se igualmente mais difícil esconder e
apagar dados já anteriormente publicados (p. ex. www.archive.org). Em qualquer destes
casos, o estado apropria-se desta Informação de forma tendencialmente gratuita, para além
dos custos operacionais inerentes à sua recolha.




11
   Web 2.0 é um termo criado em 2004 por Tim O'Reilly, para designar uma segunda geração de
comunidades e serviços, tendo como conceito a "Web como plataforma", envolvendo wikis,
aplicações baseadas em redes sociais através da Internet.
12
   A ideia da Web Semântica surgiu em 2001, num artigo de Tim Berners-Lee na revista Scientific
American, promovendo o desenvolvimento de tecnologias e linguagens capazes de tornar a
informação legível para as máquinas, permitindo a partilha global de conhecimento.

                                                                                            12
Com a progressiva desmaterialização dos processos operacionais do estado e dos dados
que os suportam, verifica-se uma dependência cada vez mais acentuada em relação às
tecnologias da informação, acabando mesmo estas por se confundir com as áreas nucleares
dos serviços públicos, com riscos bastante elevados de continuidade, sustentabilidade e
soberania para o futuro. Alguns autores da área da administração pública, começam a
reconhecer a importância e os riscos associados às tecnologias da informação e à
consequente relação com os fornecedores na soberania dos estados (Dunleavy, 2006) e
chamam à atenção para a necessidade de aprofundar o estudo científico do papel das
tecnologias na reforma do estado (Pollitt, 2011).

Torna-se evidente a necessidade de salvaguardar as regras, os processos e os dados, que
estão a ser cada vez mais desmaterializados e embebidos em tecnologias, constituindo eles
próprios os verdadeiros activos das organizações. Já não se trata apenas de
desmaterialização, mas também de deslocalização através da colocação de dados e regras
processuais na nuvem13 O estado na sociedade da informação, como todas as organizações
em geral, tem necessidade de salvaguardar os seus activos e precisa proteger-se contra a
excessiva dependência em relação a fornecedores externos de tecnologia. O New Public
Management acentuou a tendência para o recurso à contratação externa de serviços (Hood,
1991) e para novos modelos de governação orientados para o mercado e de forma menos
regulada pelo estado (Peters, 1996), mas infelizmente ainda não se aprofundou a discussão
sobre a separação necessária entre as funções e os componentes que envolvem os mais
elevados níveis de soberania e risco operacional – gestão estratégica e arquitectura de
processos e os dados, e o que pode ser subcontratado externamente e substituído sempre
que for necessário e conveniente – a engenharia e os sistemas tecnológicos. As boas
práticas de gestão de sistemas e tecnologias exigem salvaguardas que nos permitem
livremente mudar de tecnologia em qualquer momento, protegendo a soberania sobre os
activos informacionais (processos e dados), através da segregação adequada das camadas
semânticas e tecnológicas. Todos os activos de uma organização (processos e dados) que
entram num produto tecnológico devem poder sair em qualquer momento e ser
reaproveitados futuramente numa nova infra-estrutura tecnológica. Esta não será apenas
uma opção tecnológica, mas uma prática política e de gestão capaz de orientar as escolhas,
muito especialmente quando se trata de aplicações em larga escala para o estado.

Os novos modelos de governance propostos pelo NPM (Peters, 1996) e pelo NPS (Denhardt,
2003) estão longe de incorporar no seu corpo teórico uma visão holística ajustada à actual


13
  O conceito de computação na nuvem (cloud computing) refere-se à utilização da memória e das
capacidades de armazenamento e cálculo de computadores e servidores partilhados e interligados
por meio da Internet.

                                                                                           13
era digital. Ainda se está longe de uma visão do estado como um sistema de informação
que se pretende global, desobstruído de silos de poder e fortemente integrado e inclusivo,
para servir os eventos de vida dos cidadãos e das empresas, de forma cada vez mais rápida
e económica. “Ironicamente o sucesso de alguns estados modernos, na implementação do
NPM, contribuiu para uma diminuição da orientação para o interesse público” (Bozeman,
2007) e para a fragmentação destes processos transversais e inter-departamentais, tão
caros às fases mais evoluídas e maduras de e-Governement..

Fala-se em desregulação e em re-regulação ao mesmo tempo (Majone, 1997),
correspondendo com novos modelos organizacionais à necessidade de aliviar áreas de
menor soberania e de reforçar algumas funções do estado que no passado não seriam
consideradas estratégicas, como a gestão da informação. A gestão da informação está cada
vez mais associada à avaliação da qualidade dos serviços públicos, através de medições
extensivas, intensivas e externalizadas. confrontando-se com problemas conceptuais,
motivacionais e técnicos (Pollitt, 2000), difíceis de superar não apenas através do uso
intensivo de tecnologias de informação, a que Pollitt (2000) chamou de automaticity, mas
sobretudo através de mecanismos de interoperabilidade semântica e sócio-organizacional,
para que todos possam, respectivamente, falar a mesma língua e sejam capazes de
concertar visões e vontades.

Em tempo de crise é um luxo não automatizar a burocracia

Torna-se difícil desinstrumentalizar o papel das tecnologias da informação e converte-las
num efectivo facilitador e interventor nas mudanças nos processos, nas pessoas e nas
estruturas do estado. Se alguma coisa a sociedade moderna nos ensina é que as
tecnologias não são apenas uma ajuda à actividade humana, mas constituem sobretudo
uma força poderosa para lhe dar uma nova concepção e um novo significado (Winner, 1986,
citado por Pollit, 2010). As questões políticas da introdução das tecnologias e os riscos de
determinismo tecnológico (Smith and Marx, 1994) associados à automatização da sociedade
têm preocupado alguns autores (Winner, 1977; Beer, 1981), porém estas questões
merecem ser hoje revisitadas à luz dos actuais instrumentos de desmaterialização de
processos e de tomada de decisão. O computador tem sido demasiadas vezes mitificado
como o melhor modo de executar uma tarefa e tem vindo a provocar num certo sentido um
retrocesso cultural que nos lembra o velho paradigma da Organização Científica do
Trabalho de Taylor, o qual tem a ver mais com os princípios da engenharia do que a
generalização da ciência posta ao serviço das organizações humanas.

A burocracia é o resultado da complexidade progressiva das organizações, sejam elas
públicas ou privadas, e a departamentalização adequada ou excessiva é a forma de

                                                                                         14
responder a exigências cada vez mais diferenciadas da sociedade. O aparecimento da
burocracia funcional está na base da autonomização do espaço administrativo e da
afirmação dos estados modernos (Chevallier, 1994). A divisão funcional foi e ainda é a
característica dominante das organizações clássicas onde predomina o papel e a energia
(humana ou mecânica). O NPM, ao contrário de reduzir, aumentou nalguns países o número
de entidades estatais (Peters, 1996) e alargou o fosso entre elas. É lugar comum salientar-
se a necessidade de diminuir ou até mesmo acabar com os papéis, entendidos como o
estigma da burocracia. Os papéis existem porque o estado, nalgum momento da sua
evolução, entendeu intervir nalgum sector da economia ou proteger o cidadão de alguma
injustiça (estado poder), satisfazer alguma necessidade (estado providência), definir padrões
e valores sociais (estado ético), etc. O processo legislativo tem sido, nos países de forte
cultura normativa, um dos factores mais responsáveis pelo crescimento da burocracia 14.
Basta comparar o número de páginas de legislação que se foi publicando ao longo dos
últimos cem anos e o engrossar progressivo dos volumes do jornal oficial de ano para ano.
Este crescendo legislativo vem tornando a burocracia cada vez mais distante e complexa
para o cidadão comum e vem obrigando os serviços públicos a aplicarem leis de difícil
interpretação e com isso a engrossarem as legiões de funcionários. A tendência é portanto
complicar e não simplificar. A gordura burocrática aparece com o decorrer dos tempos e
custa-nos descartar o que se vai tornando inútil, mantendo apenas o que é essencial e dá
vida aos processos e aos resultados que a sociedade espera dos serviços públicos.

Desburocratizar significa para a maioria das pessoas reduzir papéis e pontos de controlo e
no limite acabar com a soberania e a intervenção do estado. As tecnologias permitem
qualificar e dar inteligência à burocracia melhorando significativamente os processos e os
serviços prestados (Qianwei, 2010), sem enveredar necessariamente pelo caminho único da
desregulamentação e da desintervenção. Neste quadro de preocupações, as tecnologias e
as redes de informação têm um papel estruturante e facilitador dos novos serviços, tendo
em vista aproveitar com sucesso as oportunidades que vão surgindo todos os dias para
melhorar a qualidade de vida e facilitar o quotidiano dos cidadãos.

O recente desenvolvimento das redes alargadas de informação e em particular da Internet,
criou novas oportunidades para fazer chegar ao cidadão toda a informação de que ele
carece no quotidiano, todavia corre-se o risco de projectar para a sociedade, através dos
meios amplificadores da tecnologia, toda a complexidade inerente a um sistema dividido e
compartimentado nos seus diversos canais de comunicação, se não forem tomadas

14
  A maior parte dos custos de informatização estatal dirigem-se a resolver situações de excepção
duma legislação mal concebida, vulnerável a lobbies e que persiste em não ter em conta as
oportunidades tecnológicas, apesar das recentes boas intenções do chamado Teste SIMPLEX.

                                                                                             15
medidas conducentes à criação de produtos agregadores, integrados e fáceis de utilizar pelo
cidadão comum. Este tema já há alguns anos que preocupa alguns estados e começa a
interessar alguns autores, não apenas nas áreas tecnológicas e dos sistemas de
informação, mas também nas áreas da administração e políticas públicas – “Em tempo de
crise é um luxo não cooperar” (Dunleavy, 2010).

Grande parte das tecnologias que irão mudar significativamente o funcionamento da
administração pública nos próximos anos serão essencialmente de natureza colaborativa e
interdepartamental. Vamos necessariamente assistir a um choque motivacional e de
atitudes, capaz de acompanhar e dar sentido ao choque tecnológico politicamente
anunciado em meados dos anos 90 em Portugal. A experiência e a evolução tecnológica
demonstraram que hoje é possível mudar comportamentos e atitudes das pessoas através
da introdução adequada de tecnologias e mecanismos automáticos nos processos
administrativos, respeitadores e em boa convivência com o ser humano.

David Giauque (2003b) salienta a unidade sistémica e o papel político da administração
pública ao controlar o funcionamento do estado para além dos ciclos governativos,
preservando alguns aspectos mais estruturantes e intemporais, o que implica um certo grau
de neutralidade política nas medidas de reforma administrativa, questionada por alguns
autores mais preocupados com a necessidade de “servir os objectivos do sistema político
democrático baseado na cidadania e não a de ter um sistema político que sirva as
necessidades de gestão da administração pública” (Mozzicafreddo, 2001). Não se trata de
desobediência política, mas de uma forma sustentável e profissional de evitar
descontinuidades que impossibilitam medidas estruturais de mais longo prazo.

A nova visão holística e estruturante dos sistemas de informação no estado conduz-nos à
necessidade de representações únicas de pessoas, empresas, território, veículos, etc. e à
eliminação definitiva de certidões e comprovantes em papel. Não basta criar processos
horizontais e acabar com silos verticais. São necessárias representações únicas para evitar
a criação de novos silos horizontais (processuais), tanto ou mais perversos que os silos
verticais (departamentais). Todos os silos afectam a qualidade da informação e é por isso
que a informação incoerente e redundante é muito pior do que a informação eventualmente
errada mas que, por ser partilhada, pode ser rapidamente corrigida e credibilizada. Com
efeito, a informação é o único produto à face da terra que aumenta a sua qualidade e valor à
medida que é mais utilizada e mais partilhada.

As sucessivas iniciativas de reforma do estado estão a desencadear novos modelos de
organização e novos processos de trabalho em todo o sector público, induzindo
comportamentos e atitudes circunstanciais (Mozzicafreddo, 2001), contudo a crise que

                                                                                         16
actualmente se vive, mais do que reformas, exige cortes orçamentais drásticos e urgentes
(Pollitt, 2010). A pressão crescente no sentido da redução da despesa pública, sem perder
de vista a necessidade de melhorar a qualidade da prestação de serviços à sociedade,
obriga a repensar o factor humano e a sua capacidade de integração em ambientes
tecnológicos inovadores. A experiência tem demonstrado que a evolução dos mecanismos
progressivamente mais automáticos de tratamento da informação tem tornado possível uma
separação cada vez maior entre tarefas de pessoas e máquinas, respeitando a
especificidade de cada um dos intervenientes15.

A administração pública tem um custo de satisfação e protecção de direitos considerados
fundamentais e alguns interesses sempre crescentes, a que corresponde um custo fiscal
equivalente (Holmes and Sunstein, 1999). Hoje, como no início do NPM há trinta anos atrás,
a palavra de ordem é aliviar a carga fiscal e procedimental sobre o cidadão, no entanto a
carga excessiva que se pretende aliviar acaba por não ser só gordura burocrática
dispensável, mas também músculo de cidadania conquistado ao longo de séculos. Acabar
com certidões e licenciamentos, prescindir da fé pública, desintervir, desregulamentar, etc.
são formas de desburocratizar, que nalguns casos são modos irreversíveis de restrição
democrática, uma vez que se abdica de algumas garantias de segurança e qualidade de
vida dos cidadãos, na maior parte dos casos só asseguradas pelo estado. Tem-se muitas
vezes uma visão redutora da reforma do estado, propondo-se a diminuição de direitos e
garantias da sociedade por sermos incapazes de acelerar, electronicamente ou não, os
processos administrativos. Acabar com licenciamentos, desintervir, desregular, etc. são
formas de desburocratizar, que nalguns casos são caminhos sem retorno de restrição
democrática e de redução dos direitos e garantias do cidadão. É cada vez mais necessário
analisar as necessidades actuais de desburocratização e ao mesmo tempo de
burocratização (Qianwei, 2010), pois hoje é possível tecnologicamente reburocratizar, de
forma inteligente, processos críticos para a sociedade, mas que se consideram
irremediavelmente descartáveis devido ao esforço, ao tempo e ao custo que acarretam
devido à não utilização adequada de tecnologias. O custo dos direitos (Holmes and




15
   É exemplo desta evolução os erros de reconhecimento automático de caracteres (OCR) que se
verificavam em meados dos anos 80 e que exigiam postos de trabalho específicos para verificação e
correcção humana das diferenças detectadas visualmente. Quinze anos depois da informatização do
IVA em Portugal, ainda existiam pessoas cuja tarefa era exclusivamente conferir erros informáticos de
reconhecimento de caracteres. Felizmente que hoje as declarações de IVA são apenas submetidas
através da Internet, tendo-se desmaterializado integralmente esse processo e aliviado as pessoas
destas tarefas penosas.

                                                                                                  17
Sunstein, 1999) pode ser reavaliado à luz de uma nova arquitectura de sistemas e
tecnologias da informação16.

A qualidade e a quantidade do retorno económico, social e político, relativamente ao
investimento efectuado em sistemas e tecnologias da informação, dependem em grande
parte das competências que o sector público souber mobilizar para a aquisição e gestão de
projectos. Não existem bons fornecedores sem bons compradores e hoje existem normas e
boas práticas que auxiliam os serviços da administração pública a avaliar a capacidade do
mercado. Assim os grandes centros de informática da administração pública se consigam
libertar   das   tentações   predominantemente     orientadas   à   construção      de     produtos
tecnológicos, em vez de os saber arquitectar e gerir de forma soberana, integrada e
independente. Poderemos questionar o insourcing ou o outsourcing, todavia em qualquer
dos casos nunca se poderá baixar a fasquia da qualidade no fornecimento de serviços, se
se quiser maximizar o retorno do investimento. Decerto ninguém quererá empresários
públicos sem risco e com soberania de fachada, mas também não se quererá um país em
que o sector privado viva à sombra de um estado mau comprador e se recuse a acrescentar
valor à economia.

O actual esforço na reforma do estado e a consequente externalização de serviços públicos
não forem acompanhadas por investimentos adequados em sistemas de informação para a
sua monitorização e controlo, não nos deveremos surpreender com um efectivo aumento do
défice estatal e com um retorno negativo em relação às expectativas, traçadas há uns anos
atrás para os países da OCDE, de melhor servir o cidadão e reduzir a despesa pública
(Leroy, 1996).

Os    orçamentos     anualizados   e    departamentalizados     fragmentam     os        processos.
Paradoxalmente os fornecedores externos, ao tentarem reduzir o risco e definir o âmbito da
sua actuação no seu contrato com o cliente, também contribuem para esta fragmentação.
Se a informação não existe recolhe-se de novo, se o organismo não respeita normas nem
possui dicionários de dados inventam-se tabelas para a circunstância, evitando-se o
incómodo e o risco de ir à procura de dados e semânticas comuns e partilháveis noutras
entidades nacionais e internacionais.

Informatização, recursos humanos, políticas de emprego e sustentabilidade

A promoção de empregos pagos continua a ser considerada a base do bem-estar social e
uma condição sine qua non para se atingir uma sociedade inclusiva (Esping-Andersen,

16
   O Chief Information Officer Council e o Office of Management of Budget dos EUA condicionam a
aprovação de projectos de investimento em TIC à existência prévia de arquitecturas de sistemas e
tecnologias de informação baseadas na Enterprise Architecture Assessment Framework (EAAF).

                                                                                                 18
2002). A procura do aumento de eficiência nos processos e de aumento da produtividade
nas administrações públicas criam uma aparente contradição e um conflito potencial entre a
informatização e as políticas de emprego público. Supostamente todos os postos de
trabalho baseados em tarefas em que tendencialmente as máquinas têm um melhor
desempenho, estão condenados ao desaparecimento, criando um novo desafio às políticas
de emprego e uma necessidade de requalificação de competências e reorientação das
atitudes mais dirigidas à intermediação entre os serviços públicos electrónicos e o exercício
da cidadania, assegurando a promoção de um estado mais eficiente, mais rápido, mais
económico e melhor adaptado a uma sociedade da informação cada vez mais equitativa e
inclusiva.

Sabemos que a informatização conduz a uma segregação progressiva de tarefas entre
máquinas e pessoas, nomeadamente cabe às máquinas desempenhar tarefas como
procurar, recolher, copiar, comparar, calcular, ordenar, medir, verificar, armazenar, etc.,
enquanto as pessoas devem ser libertas para inovar, sonhar, criar, comunicar, dar afecto,
decidir, etc. A inovação tecnológica está permanentemente em busca de tarefas e verbos
desempenhados pelas pessoas, que são melhor desempenhados por máquinas e os
empregos correspondentes acabam mais tarde ou mais cedo por desaparecer. No caso dos
agentes do estado, a grande maioria das tarefas ainda tem um grande potencial de
automação, podendo ser descartados postos de trabalho mais mecanizados e rotineiros, em
favor do aumento da produtividade e do exercício de novas funções de intermediação e de
apoio à cidadania, enquanto não for possível uma diminuição mais significativa dos recursos
humanos.

O trabalho humano, enquanto energia e músculo, desde há muito que deixou de ser o factor
mais importante na criação da riqueza. A intangibilidade dos serviços, a automação dos
processos produtivos e a utilização generalizada das TIC por parte dos novos trabalhadores
do conhecimento, passaram a ser motivos indutores de valorização ou desvalorização do
factor trabalho, reduzindo-se drasticamente o número de oportunidades de emprego para
aqueles que concorrem globalmente em postos de trabalho baseados na energia, no
músculo e em competências de baixo valor acrescentado, ao mesmo tempo que abrem
novas oportunidades e novos desafios profissionais.

Os processos de produção aceleraram-se tremendamente com a Sociedade da Informação
e a acumulação de mais-valias aumentou exponencialmente e passou a concentrar-se em
menos pessoas, agravando as desigualdades sociais, sem contribuir na mesma proporção
para a sustentabilidade do estado. O velho sistema contributivo para a Segurança Social
tarda em reconhecer e não vai tendo imaginação para encontrar novas formas de


                                                                                          19
financiamento alternativos à força de trabalho, capazes de suportar o estado social. Nos
últimos trinta anos, os estados europeus e americanos estão a estudar sistemas alternativos
de sustentabilidade do welfare state (Flora, 1984), no entanto, terá de ser aberto um novo
espaço de reflexão sobre os contributos das TIC para a competitividade, crescimento e
emprego no curto e longo prazo e travar a tendência de aprofundamento das desigualdades
sociais que paradoxalmente acabam por resultar da sua crescente utilização. É certo que
todos queremos beneficiar de mais tempo livre e melhor qualidade de vida, porque as
tecnologias progressivamente vão ocupando os nossos lugares, mas esse tempo de
desocupação não pode ser convertido em mais desemprego e mais miséria para a
sociedade, devendo dar origem a novas actividades capazes de gerar riqueza e bem-estar
social.

Os defensores do NPM, rejeitam a ideia de que a política deva (ou possa) ser desligada da
administração e defendem que os agentes do estado não são autómatos cumprindo apenas
regras e ordens superiores, ao contrário, o novo paradigma pressupõe trabalhadores
inteligentes e capazes de compreender os problemas das suas agências e converter ideias
em acções eficazes (Behn, 1998). Como foi afirmado acima, este poderia ser um
instrumento eficaz de sustentabilidade das medidas estruturais, mas isso raramente
aconteceu devido à forte fragmentação e defesa de territórios empresarialistas.

Nos últimos anos assistiu-se a uma descapitalização do factor humano da administração
directa do estado e a crise hoje já não é apenas financeira, mas sobretudo de falta de
competências para assegurar as funções básicas do estado e garantir a confiança (Pitschas,
2006), com gravíssimos reflexos no aumento da despesa pública. Com a fuga para a
empresarialização da administração directa do estado, não apenas se perderam alguns dos
principais valores e comportamentos específicas do serviço público mais valorizados pela
sociedade, tais como a competência e o respeito, a independência e a equidade, a
universalidade e a inclusão, a confiança e a harmonização, a clareza e a simplicidade, a
segurança e a estabilidade, etc., tendo-se perdido a capacidade de exercício da soberania
por parte dos agentes públicos. As competências internas do estado e as suas áreas de
maior soberania foram substituídas por estudos e pareceres de consultoras e escritórios de
advogados da confiança dos membros do Governo e que, muitas vezes, dão suporte às
próprias empresas contratadas, descartando-se e desqualificando-se o factor humano dos
serviços públicos e desgastando progressivamente o próprio poder e a confiança no estado
(Pitschas, 2006). O outsourcing e as parcerias público-privadas seriam uma boa solução,
para um estado que se pretende cada vez mais regulador e menos executor, mas quem é
que estará a dialogar do lado do estado, que competências técnicas e de gestão existem
hoje para negociar e gerir contratos, para elaborar as especificações e controlar a qualidade

                                                                                          20
dos resultados? Onde estão os arquitectos de sistemas e tecnologias da informação para
definir com clareza os problemas e fazer o alinhamento estratégico entre os objectivos
políticos e as soluções do mercado? Também aqui se trata de uma boa governance, no
sentido partilhado, dado por Pollitt e Hupe (2009).

A cibernética ao serviço da restauração dos valores de serviço público

Esperar-se-ia com o NPM ter uma administração pública mais baseada na informação, com
melhores profissionais relacionados com este valioso recurso estratégico e operacional, em
que as relações de autoridade seriam substituídas pelas relações de informação, criando-se
uma dinâmica e uma cadeia virtual entre os vários parceiros da administração pública, num
ambiente de liberdade, diversidade e igualdade, aumentando a acessibilidade, a
receptividade e a confiança recíproca entre o estado e os cidadãos (Pitschas, 2006). No
entanto, porque existem e são fáceis de usar, as tecnologias despertam o desejo de
protagonismo e fechamento organizacional, fortemente marcados pela competição e defesa
de territórios, confinados às legislaturas e servindo ambições políticas, pessoais e
institucionais. O futuro exige da administração pública a adopção de novos paradigmas,
novas estratégias e novas visões, passando cada vez mais pela partilha de soluções e
plataformas tecnológicas comuns. A desagregação dos processos que deveriam ser
integrados, interoperáveis e orientados para o cidadão, assim como a competição entre
parceiros que deveriam cooperar entre si, atrasaram em muito o que hoje poderia ser um
verdadeiro estado em tempo real, mais produtivo e mais económico.

Retomando os paradoxos da burocracia liberal propostos por Giauque (2003), que
combinam liberdade com constrangimentos, neoliberalismo e burocracia, descentralização e
concentração de poder, podemos analisar o potencial transformador da introdução das
tecnologias da informação na administração pública, as quais na actualidade combinam de
igual modo estes três paradoxos. Com efeito, a introdução da computação pessoal nos
últimos trinta anos deram liberdade individual aos utilizadores, ao mesmo tempo que foi
possível uma nova recentralização dos dados e processos, através da Internet, do business
intelligence, do cloud computing, etc. Por outro lado, o neoliberalismo permitido nas
aplicações departamentais acaba por ser equilibrado pela utilização de normas semânticas
e tecnológicas, enquanto quadros de referência para a interoperabilidade entre sistemas
heterogéneos e para uma efectiva desmaterialização de processos do princípio ao fim (end
to end), Por último, nunca como hoje foi possível descentralizar e centralizar ao mesmo
tempo o poder nas organizações, por maior que elas sejam, pois as tecnologias permitem-
nos aproximar os recursos informacionais a todas as pessoas de uma organização de forma



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totalmente descentralizada e operacional, ao mesmo tempo que possibilitam a agregação de
dados e informação para apoio às decisões de topo de forma centralizada e estratégica.

O aparecimento de estudos interdisciplinares em torno da utilização das tecnologias na
administração pública está a ter o mérito de introduzir novas perspectivas capazes de
desconstruir algumas das disfunções da burocracia tradicional, mas também alguns dos
paradoxos do NPM, sem necessidade de esperar por mudanças de cultura ou de atitude. Os
processos poderão ser arquitectados de forma a satisfazer necessidades paradoxais mas
igualmente necessárias no mundo de hoje. Não se trata de acreditar ideologicamente no
novo serviço público (New Public Service) à espera de novos homens e novas atitudes,
como se fosse uma questão de fé ou de ideologia, trata-se de uma profunda mudança de
processos capazes de induzir novos comportamentos cientificamente possíveis, como nos
propõe Mozzicafreddo (2001), “a integração e o apoio dos agentes na modernização não é
uma questão de mentalidade, mas de processos, de competências, de autonomias e, ainda,
de formas de participação e negociação”. Se as competências e a participação são baixas e
as autonomias estão mal reguladas no nosso país, só nos resta mexer nos processos de
uma forma científica, neo-burocrática e cibernética, respeitando as competências de
pessoas e máquinas17.

As redes e as tecnologias da informação são um poderoso instrumento para capacitar
informacionalmente toda a administração directa e indirecta do estado, viabilizando os
propósitos de flat state e de lean state (Hood, 1991), mediante uma efectiva reengenharia de
processos e a eliminação de estruturas e formalidades desnecessárias, sem contudo perder
o controlo e a accountability destes decisores, num verdadeiro federalismo informacional18,
sem necessidade de desprezar o paradigma da administração pública e os respectivos
valores.

No entender de Bozeman (2007), ao contrário do interesse público, o percurso recente das
reformas do estado têm acentuado o individualismo económico, dando ênfase à liberdade
individual dos clientes e a uma mera relação de produtor-consumidor, o que não facilita a
promoção de uma visão agregadora orientada para as necessidades dos cidadãos e
agentes económicos numa lógica de interesse público. Os sistemas de informação estatais

17
    Os processos administrativos do futuro irão constituir coreografias bem sincronizadas entre
pessoas e máquinas e a evolução do trabalho do mundo analógico para a era digital constituirá uma
revolução inevitável nos serviços públicos para os próximos anos. Os funcionários vão ter de se
confrontar com novos paradigmas, em que os originais passarão a ser bits em vez de coisas e em
que se assistirá finalmente ao desaparecimento das certidões e à sua substituição por intercâmbio de
bits (p. ex. web services) entre bases de dados que falam a mesma língua.
18
   Durante os anos 90 alguns autores passaram a utilizar o conceito de “federalismo informacional”,
visando defender o equilíbrio entre o centro do poder e as periferias nos grandes sistemas
transversais da administração pública (Vidigal, 1997 e Maxwell, 1998).

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são necessariamente configurados para o interesse público e, apesar dos serviços
electrónicos estarem a ser tendencialmente mais personalizados, individualizando serviços e
interfaces consoante os públicos e a fase do seu ciclo de vida, eles nunca deverão servir
interesses individuais diferenciados pela condição social ou económica, como acontece no
mercado privado, pois deverão estar sujeitos a valores públicos universais. Daí o paradoxo
da suposta superioridade do modelo de mercado aplicado aos estados modernos, através
do NPM.

Não é fácil a libertação do aparelho de estado em relação às corporações e aos grupos de
interesse, quando se invoca um modelo liberal de New Public Managemnet que acaba
quase sempre por conduzir a uma apropriação do estado pelos interesses individuais e
corporativos, mas não esperemos tão cedo pelas mudanças profundas de atitudes que nos
são propostas no New Public Service, as tecnologias permitem hoje criar uma verdadeira
burocracia participativa, suficientemente eficiente, eficaz, transparente, independente,
regulada, equitativa e personalizada, sem questionar os valores do serviço público e sem ter
de retirar direitos e garantias ao estado e aos cidadãos (van Lucke, 2010).

Considerações finais

A questão da continuidade ou descontinuidade dos vários modelos de reforma,
nomeadamente o modelo burocrático, o gerencialismo e a governança pública estudada por
Secchi (2009) e as influências dos vários regimes político-administrativos nas várias opções de
reforma (Pollitt and Bouckaert 2000b) demonstram que as fronteiras entre estes três modelos de
reforma não são nítidas nem redutoras, no entanto, as tecnologias da informação parecem permitir
uma retoma de modelos descontinuados prematuramente por limitações técnico-funcionais e com
isso viabilizar competências, valores e princípios entretanto descartados por modismo político.

Tal como a burocracia, as tecnologias da informação não deixam de ser uma forma de
regulação e de fecho do sistema através de regras e procedimentos facilmente
incorporáveis em algoritmos e processos automáticos de tomada de decisão. A burocracia e
a regulação, tal como as tecnologias, propõem-se reduzir a margem de incerteza e a
arbitrariedade, através da construção de modelos da realidade e de recondução de
comportamentos e atitudes à legalidade e à previsibilidade. Em muitos processos de
licenciamento, judiciais, clínicos ou outros é possível introduzir algoritmia e com isso garantir
e restaurar os valores de serviço público previstos no modelo burocrático tradicional, de
forma suficientemente económica, flexível e ajustada às necessidades da sociedade, como
seria espectável no NPM. As tecnologias podem ser um tipo de regulação automática ou




                                                                                                  23
cibernética, que o ser humano sozinho é incapaz de desempenhar apenas com recurso ao
processo normativo19.

Aqui fica o desafio para um trabalho futuro, em torno de novos caminhos e oportunidades
para a reforma administrativa, através da adopção de novas perspectivas de funcionamento
e estruturação do estado à luz das tecnologias da informação e da possibilidade de
introdução de mecanismos cibernéticos nos processos administrativos, aumentando a
confiança, a eficiência e a transparência perante a sociedade e reduzindo as oportunidades
de arbitrariedade e corrupção por parte dos vários agentes envolvidos.




19
   A introdução de simuladores de cálculo do IRS, dos subsídios de arrendamento jovem, e outros no
Infocid durante os anos 90 e mais recentemente algumas iniciativas no género no âmbito do
SIMPLEX, são formas intencionais de acabar com divergências na interpretação da lei e de criar uma
“verdade” informática no processo decisório, baseada em algoritmos suficientemente fechados e
definitivos, para não permitirem arbitrariedades nos processos de tomada de decisão.

                                                                                               24
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O papel do estado na sociedade da informação luis vidigal

  • 1. O Papel do Estado na Sociedade da Informação Um novo olhar sobre a reforma do estado à luz das tecnologias Luís Vidigal Agosto 2011 Introdução O modelo burocrático tradicional foi imaginado no contexto da sociedade industrial, com preocupações predominantemente de eficiência e racionalidade da máquina do estado, ao mesmo tempo que é o fruto das mudanças científicas e tecnológicas produzidas no final do séc. XIX e no princípio do séc. XX, sem ter em conta comportamentos e atitudes disfuncionais por parte de pessoas e grupos sociais. A nova gestão pública, na tentativa de superar a rigidez e a paralisia do modelo burocrático, acabou por transformar o estado numa soma de partes independentes, autogeridas e auto-protegidas, em vez de um todo coerente, integrado e perceptível por parte do cidadão. As tentativas mais ou menos prescritivas e idealistas do novo serviço público, para restaurar os valores do serviço público, não passam mais uma vez de desejos bem intencionados mas de difícil concretização no mundo real em transformação e estão longe de incorporar as novas lógicas e oportunidades da sociedade da informação. O que se propõe neste texto é uma tentativa de construção de um modelo viável de administração pública onde pessoas e máquinas cooperem para satisfazer as necessidades do estado e da sociedade, reinventando processos mais rápidos, mais baratos e mais eficientes, sem colocar em risco valores fundamentais de soberania e de serviço público. Pretende-se deste modo chamar à atenção para a necessidade de aprofundar o estudo científico do papel das tecnologias na reforma do estado, no contexto da sociedade da informação. As funções do estado em transformação Nos dias de hoje, com a aceleração tecnológica e do processo de globalização à escala mundial, os estados são cada vez mais forçados a uma transformação e mudança em três tipos de paradigmas: (1) As actividades do estado estão primordialmente sujeitas às exigências do estado eficiente; (2) Redistribuição das responsabilidades entre o estado e a sociedade, num contexto de uma gestão global e conjunta do desenvolvimento nacional, transnacional, supranacional e internacional, enquanto estado funcional; (3) Um governo em que a sociedade constitui uma das condições básicas da legitimidade e necessidade de um estado prestador de serviços (Pitschas, 2007). Com efeito, a globalização conduziu, nos 1
  • 2. últimos anos, os estados para novas fronteiras e novos constrangimentos na soberania, novos desafios de concorrência visando alcançar níveis de maior eficiência e atractividade do investimento a nível mundial, disputando cada vez mais uma imagem positiva junto da comunidade internacional. O poder económico do estado, reforçado durante a segunda guerra mundial, está a ser reduzido pela internacionalização e pela necessidade de estratégias mais flexíveis no funcionamento das empresas, questionando as funções tradicionais de regulação por parte dos estados nacionais (Demarigny, 1996). Tomando como exemplo as tecnologias da informação e comunicação (TIC), tem-se assistido a uma deslocação de grande parte das funções reguladoras, que tradicionalmente pertenciam ao estado, para entidades privadas ou organizações voluntárias da sociedade civil1 å escala transnacional e supranacional, constituindo-se em entidades certificadoras da credibilidade técnica e funcional de parceiros tendencialmente mais distantes e que mal se conhecem no espaço virtual. A competitividade que se faz sentir a nível mundial está a questionar o próprio conceito de estado-nação (Holton, 1998) e a desafiar as fronteiras tradicionais. A prestação de serviços do estado, num mundo em globalização, vai no sentido de apoiar as necessidades específicas das empresas no processo de internacionalização e na captação prioritária de investimento estrangeiro, reconhecendo um mundo em competição pelo domínio das áreas de maior valor acrescentado - inovação, concepção e marketing. Constata-se que hoje existem países ganhadores e países perdedores com a globalização produtiva (Capello, 2011), o que significa que os países que competem com as grandes economias emergentes, como a Índia e a China, em áreas operacionais de baixo valor acrescentado estão a perder com a globalização, enquanto que os países, que contribuem de forma complementar com áreas inovadoras e de elevado valor acrescentado, estão a ser altamente ganhadores à escala global. Portugal, que foi pioneiro da globalização desde o Séc. XV, infelizmente está a ser o país, no âmbito da União Europeia, que mais está a perder com a globalização, por dificuldades de domínio nas áreas de maior inovação (OCDE, 2010). Esta luta pela competitividade e sustentabilidade à escala global constitui talvez o maior desafio dos estados modernos, sendo uma das razões apontadas para a grande mudança de paradigma nos anos 80 (Peters, 1996). As administrações públicas à escala nacional, europeia e mundial estão a enfrentar novos momentos de contingência e incerteza, que forçam mudanças de cultura induzidas por 1 O conceito de sociedade civil é um dos mais ambíguos desde a Roma antiga até à actualidade e é muito difícil de estabilizar analiticamente no âmbito das ciências sociais e políticas (Harris, 2006). Neste texto utilizamos o conceito como uma combinação de interesses económicos com organizações voluntárias e não lucrativas, ou seja a combinação dos modelos 2 e 3 propostos por Jose Harris (2006). 2
  • 3. novas formas de funcionamento da economia real em mercados altamente competitivos e globalizados, novos contextos demográficos, novas tecnologias e novas formas de regulação (Majone, 1997). A questão está em saber como a administração pública vai adaptar o seu modelo de funcionamento e as suas estruturas a estes novos ambientes económicos, sociais e tecnológicos (Thompson, 2008), sem destruir valores e princípios fundamentais do serviço público. No estado providência, construído a partir da segunda guerra mundial e acelerado nas décadas de 60 a 80, habituámo-nos que os orçamentos nacionais eram inesgotáveis e que as administrações públicas deveriam fazer tudo para servir uma espiral infinita de expectativas sociais, numa lógica de acumulação e preservação de bens públicos, alimentada pelo modelo Keynesiano de dinamização da economia através da criação de emprego e pela competição com o socialismo real. "O estado providência foi sobrecarregado para além das suas capacidades" (Pitschas, 2001), “daí que seja inevitável um recuo do estado para uma reformulação das suas responsabilidades sociais" (Pitschas, 2007). Mas será que esta lógica é inevitável ou é apenas o resultado da manutenção de contextos baseados em factores constantes e inquestionáveis em que o estado providência foi concebido e desenvolvido. Está-se a assistir a um movimento internacional para tornar o sector estatal mais económico e a fazer com que se concentre nas suas responsabilidades incontestáveis, o que implica uma transição de um estado que produz para um estado que salvaguarda, mais próximo de um modelo de "estado activador" (Pitschas, 2001). A tendência da reorganização das funções do estado tem-se “acentuado nas funções de apoio, monitorização e regulação das actividades económicas – inovação, competitividade, nichos com complexidade tecnológicas e exportações” e tem sido “mais selectiva nas funções sociais – na saúde, na acção social e na segurança social” (Mozzicafreddo, 2009). No que se refere à gestão dos recursos informacionais do estado, enquanto função cada vez mais crítica e estratégica nos dias de hoje, os recursos financeiros já não são suficientes para sustentar legiões de funcionários capazes de assegurar toda a cadeia de valor desde as tarefas de maior soberania como a estratégia e a gestão, até às tarefas de menor soberania como a implementação e a operação de aplicações informáticas. Os grandes centros de informática da administração pública debatem-se hoje com um dilema de sustentabilidade e preservação de funções, nomeadamente ensaiando uma ainda tímida concentração em tarefas de maior criticidade e risco estratégico e operacional, descartando para o mercado privado algumas tarefas de baixa soberania e menor valor acrescentado. 3
  • 4. Presentemente, os serviços públicos em todo o mundo estão a ser alvo de um forte processo de racionalização e a estrutura da administração está a ser analisada para saber se devem ou não ser abolidas as hierarquias e os procedimentos desnecessários, ao mesmo tempo que a orientação para as melhores soluções possibilita a optimização dos processos de funcionamento e cria estruturas mais capazes para o futuro. As formas pós- burocráticas de organização e os valores do serviço público estão a tornar-se mais significativos, obtendo-se maior independência organizativa por parte dos órgãos administrativos, que passam a recorrer ao outsourcing de forma mais independente (Pitschas, 2001). Mas será que este movimento está a conduzir os países aos resultados esperados? O aumento da produtividade parece constituir a única saída para a reforma dos estados, considerando a existência de limites políticos, sociais e profissionais à redução do pessoal dos serviços públicos” (Mozzicafreddo, 2001). O aumento da produtividade nos dias de hoje passa pelo uso intensivo de tecnologias, sem necessidade de recorrer à fragmentação organizacional nem à demarcação territorial, que caracterizavam os modelos clássicos de gestão baseados na energia e no músculo. A gestão do valor público tornou-se uma prioridade para a maioria dos governos, forçando mudanças funcionais básicas e novas parcerias entre o estado e a sociedade, ao mesmo tempo que coloca novos desafios às funções e competências de coordenação e regulação do estado, decorrentes da externalização progressiva das tarefas de menor soberania, que actualmente encontram solução no mercado, e à necessidade de reforçar algumas funções mais soberanas do presente (Majone, 1997). Num mundo que já disse adeus à sociedade industrial tradicional, onde foi gerado o modelo burocrático Weberiano, o estado ainda não soube adaptar as suas estruturas à nova economia de serviços, baseada em valores de autodesenvolvimento e iniciativa individual, em que os cidadãos se envolvem cada vez mais na auto-regulação das suas sociedades (Pitschas, 2007). A individualização, a globalização e a economia de serviços, são hoje desafios a que o estado burocrático e hierarquizado ainda não soube responder de forma adequada, por isso, e como aconteceu ao longo da História, o estado tem de ser reinventado para estes novos contextos mais participativos e abertos å sociedade civil, em que as tecnologias podem desempenhar um papel mais estruturante e integrador. Será que as tipologias pré, anti e pós-modernas atribuídas às diversas administrações públicas (Konig, 2003) poderão ser questionadas à luz da sociedade da informação actual ou apenas poderão ser reforçadas pelos seus poderosos instrumentos tecnológicos? Será que passaremos a ter modelos mistos e ajustados a diversas culturas e fases de desenvolvimento? As tecnologias da informação podem servir os actuais modelos, mas também poderão ajudar a reinventá-los para o futuro, porque estamos cada vez mais 4
  • 5. libertos dos constrangimentos de um passado baseado apenas na energia e na força laboral. Para um estado em tempo real ao serviço da cidadania Nos novos modelos de modernização do estado, há um recurso crescente aos benefícios do governo electrónico2 em que as tecnologias da Informação constituem a base da Informação e comunicação com os indivíduos (Pitschas, 2001), mas também uma nova forma de relacionamento interno. Os autores Fred Thompson e L. R. Jones (2008) constatam que os actuais organismos do sector público estão a mudar significativamente à medida que adoptam as novas tecnologias de informação e com isso procuram ser progressivamente mais eficientes e eficazes nas respostas às necessidades dos cidadãos, de forma centrada na Internet (hyperarcky e netcentricity). Parte desta transição envolve uma reformulação do pensamento sobre o desenho organizacional do estado. Estes dois autores analisam a contradição entre as estruturas hierarquizadas e fechadas que ainda caracterizam os serviços públicos, face aos novos modelos inspirados nas redes e comunidades baseadas na Internet e citam autores (Evans, 1997) que desde há muito anteciparam a possibilidade (ou a ameaça) do acesso igualitário e simétrico à informação conduzir à destruição das hierarquias lógicas e de poder e exigir que a estratégia e os processos operacionais sejam profundamente repensados para a nova economia da informação, passando a organizar-se em torno de modelos fluidos, baseados em equipas, comunidades e alianças colaborativas estruturadas em redes de conhecimento. “As redes parecem estar em todo o lado e reduzem o tempo e o espaço nas inter-relações entre os seus actores” (Castells, 1998) e podem ser utilizadas como metáfora, para descrever uma nova forma de trabalhar; como teoria, para analisar a administração pública e a execução de políticas; ou com um sentido prescritivo na reforma da gestão pública (Rhodes, 2008, citado por Pollitt e Hupe, 2009). Rhodes (2008) definiu as redes como “conjuntos de ligações institucionais, formais e informais, entre entidades da administração pública e outros actores estruturados em torno de interesses partilhados na elaboração e execução de políticas públicas”. Esta poderia constituir também uma boa definição de e- Government, com tudo o que traz de mudança forçada para contextos cooperativos orientados à prestação de serviços públicos. Koppenjan e Klijn (2004) citados por Pollitt e Hupe (2009) afirmam que o modelo de funcionamento com organizações isoladas assim 2 Nos países de língua latina discute-se o equívoco entre os conceitos de Governo Electrónico e Administração Publica Electrónica, que resultam da mesma palavra em inglês - e-Government. A generalização do conceito Governo Electrónico, linearmente importado e traduzido pelas multinacionais anglo-saxónicas, ao segmentarem os seus clientes por áreas de actividade, ignora que o Governo e a Administração Pública são níveis institucionais diferentes. 5
  • 6. como o modelo de comando a partir das pirâmides descendentes ou do centro para a periferia estão obsoletos, salientando que as redes horizontais estão a substituir as hierarquias. Os processos horizontais referidos neste texto constituem redes horizontais de trabalho inter-institucional ou cadeias de valor, para chegar a um produto ou serviço de interesse para os cidadãos ou agentes económicos. A tecnologia é cada vez mais um poderoso auxiliar para o processo decisório e um acelerador dos processos administrativos, aumentando o seu grau de certeza, transparência, imparcialidade e auditabilidade. Daí a resistência que muitas vezes se verifica na introdução de sistemas automatizados, facilmente escrutináveis e que impeçam a arbitrariedade e a conveniência na aceleração ou desaceleração dos processos ao serviço de interesses particulares3. A corrupção como a transparência do estado têm sido desde o séc. XIX um dos objectivos da ciência administrativa, nomeadamente em Woodrow Wilson (1887) citado por Behn (1998) e as tecnologias da informação acabaram por se traduzir num instrumento precioso para aumentar a transparência dos processos administrativos, mas também um motivo de forte resistência à introdução de escrutínios automáticos. Luhmann (1989), citado por Mozzicafreddo (2009), considera que “a ética, para além de se relacionar com valores e atitudes, tem a ver, sobretudo, com procedimentos” e nada melhor do que as tecnologias para minimizar a arbitrariedade decisória. A cibernética é uma tentativa de compreender a comunicação e o controle de máquinas, seres vivos e grupos sociais através de analogias com as máquinas (cibernéticas) e, segundo Wiener (1968), estas analogias tornam-se possíveis através do estudo do tratamento da informação no interior destes processos como codificação e descodificação, realimentação (feedback), aprendizagem, etc. A aplicação da cibernética a várias disciplinas (biologia, fisiologia, psicologia, sociologia, etc.) e em particular ao funcionamento dos processos organizacionais tem sido objecto de estudo ao longo de várias décadas (Ashby, 1956; Beer, 1981). Andrew Barry (2001) afirma que a tecnologia assume cada vez mais importância na vida política actual e constitui “uma forma de evitar o ruído e a irracionalidade do conflito político”, mas também considera uma fantasia que mecanismos não-humanos possam trabalhar autonomamente das suas múltiplas conexões humanas ou não-humanas, tais como 3 É exemplo da resistência à introdução das tecnologias para escrutínio político e administrativo, o Sistema de Informação para a Transparência da Administração Pública (SITAP), várias vezes proposto pelas oposições, mas sistematicamente adiado pelos sucessivos governos, capaz de responsabilizar os decisores políticos e administrativos e suportar a avaliação e o escrutínio por parte da sociedade. É também exemplo desta resistência o tempo que demorou a colocar em funcionamento real o Sistema de Execuções de Justiça Fiscal, que acabou por ser desbloqueado pelo director-geral dos Impostos Paulo Macedo, o qual veio impedir a discricionariedade na gestão destes processos e as possibilidades de corrupção daí decorrentes. 6
  • 7. linguagem, corpos, mentes, desejos, competências, tradições, etc. (Barry, 2001, citado por Pollitt, 2011). Tal como a Organização Científica do Trabalho (Taylor, 1911), a burocracia Weberiana (Weber, 1946) e outros modelos mais ou menos prescritivos de gestão, as promessas e as expectativas decorrentes do New Public Management (NPM) ignoraram os comportamentos psico-sociais, capazes de gerar disfunções profundas nos modelos originais. Tal como aconteceu com o modelo Weberiano, o NPM está longe de ter sido implementado com todo o rigor e não deixou de ser fortemente afectado por lobbies e interesse pessoais, muito distantes das expectativas do modelo original, o qual foi amplamente propagado por todo o mundo e adoptado como esquema de referência pelas organizações internacionais. A necessidade de mudanças e reformas no estado Chevallier (1997), citado por Mozzicafreddo (2001), constata que tanto as organizações públicas como as organizações privadas confrontam-se cada vez mais com novos desafios conducentes à necessidade de promover mudanças e reformas no seu funcionamento: Problemas de identidade organizacional, mudança tecnológica e de comportamentos, concorrência e necessidade de melhorar a produtividade e de responder às exigências dos clientes e dos cidadãos, visando melhorar a qualidade dos serviços e dos produtos fornecidos. Guy Peters (1997) identificou três tipos diferentes de reformas do estado umas mais orientadas ao mercado, outras mais participativas e outras mais desreguladoras, partindo cada uma delas de diagnósticos e motivações diferentes. O agenciamento, a contratualização e a retribuição em função do desempenho, os relacionamentos internos de cliente-fornecedor, a contabilidade patrimonial, a avaliação sistemática dos programas de acção e os centros únicos de formalidades são exemplos de iniciativas de reforma orientadas a um lógica de mercado. A gestão da qualidade, a descentralização e as cartas de qualidade, são estratégias de reforma do tipo participativo. A autonomia orçamental e logística assim como a flexibilidade laboral são exemplos de retomas mais desreguladoras. Portugal iniciou em meados dos anos 80 uma estratégia mais participativa e a partir deste século tem ensaiado sobretudo estratégias mais orientadas a um modelo de mercado e mais desreguladoras e flexibilizadoras, no entanto encontramos afloramentos de cada um destes três modelos ao longo de mais de 25 anos de história recente da reforma administrativa em Portugal. Em qualquer dos casos o slogan “menos estado e melhor estado” não deixou de trespassar legislaturas distintas e impressionar políticos e eleitores durante este quarto de século. Esta mudança de paradigma teve a sua expressão pública 7
  • 8. nos princípios defendidos pelo New Public Management, iniciado no Reino Unido no governo Thatcher em 1979, com a determinação e o grito político de "aliviar o fardo" (lift the burden). O modelo burocrático de Weber (1946) que ainda inspira o pensamento administrativo actual, quer por contraposição quer por referenciação, foca-se estritamente na execução técnica e profissional das políticas definidas pelo poder político, confiando em funcionários com pouca margem de discricionariedade, obedecendo de forma descendente aos seus superiores, orientados por valores de eficiência e racionalidade, com pouco ou nenhum envolvimento dos cidadãos (Denhardt, 2003). O funcionário deveria ser apolítico, ter estabilidade no posto de trabalho e obedecer a qualquer chefe (Peters, 1996). Estamos em presença de um modelo estritamente mecânico de relação causa-efeito fortemente inspirado nos 14 princípios básicos da Administração Científica de Taylor (1911) e na Administração Industrial e Geral de Fayol (1916), como tentativa de responder cientificamente ao volume crescente da informação e à complexidade organizacional através de cadeias de comando altamente reguladas e previsíveis. Estes modelos acabaram por ter muito pouco de científico, assemelhando-se mais a prescrições religiosas (Peters, 1996). Hoje sabe-se que, à luz da tecnologia actual, grande parte dos méritos mecânicos do modelo burocrático tradicional podem ser garantidos por sistemas de informação automatizados com o rigor e o determinismo com que a natureza humana é incapaz de competir. Verificam-se, nos dias de hoje, défices burocráticos injustificáveis por preconceito em relação ao passado ou por resistência a mecanismos de clareza e transparência tão caros à ciência da administração desde o séc. XIX (Wilson, 1887). Por seu lado o New Public Management tem vários entendimentos e várias aplicações conforme os autores, Hood (1991), Peters (1996), Minogue et al, (1998), Pollitt e Bouckaert (2000a), entre outros, contudo, podem-se reduzir a três grandes princípios (Rocha, 2000): (1) Controlo das despesas públicas, através da adopção de técnicas e processos de gestão empresarial, nomeadamente a separação das funções concepção política da execução em agências e a convicção de que os gestores devem gozar de total autonomia e dispor de orçamentos globais, sendo a sua actuação avaliada a posteriori; (2) Os cidadãos são vistos como clientes e consumidores de serviços públicos, daí que se adopte um conjunto de medidas destinadas a simplificar os procedimentos, identificação dos responsáveis, possibilidade de escolha entre vários prestadores e a adopção de cartas de qualidade (primeiro na Inglaterra em 1991; depois na Bélgica, França e Espanha em 1992, Portugal em 1993, Canadá e Estados Unidos da América em 1994); (3) Mudança de estatuto dos funcionários, os quais tendem a perder o estatuto tradicional de segurança de emprego, uma vez que a modernização administrativa está associada a uma visão crítica da função 8
  • 9. pública, tentando por isso reduzir o número de funcionários e mudar o regime rígido de emprego para as regras privadas de contratação mais flexíveis. O NPM encara a gestão privada e os seus instrumentos como princípios de gestão indiscutíveis e definitivos para a gestão pública, fazendo a apologia do modelo de mercado e do espírito empreendedor por parte do gestor público (Denhardt, 2003). O Estado passa a ser uma soma de partes independentes e autogeridas, trata-se de um amontoado de empresas de faz de conta em vez de um todo coerente e integrado, constituindo um bloqueio para a fluidez dos processos interdepartamentais tão necessários a uma estratégia bem sucedida e madura de e- Government. O New Public Management está ligado a quatro megatendências: (1) Tentativa de suster o crescimento da administração pública, nomeadamente em recursos humanos e financeiros; (2) A mudança para uma progressiva privatização ou quase-privatização, para fora das instituições públicas com uma ênfase renovada na “subsidiariedade” no fornecimento de serviços; (3) A automatização da produção e da distribuição de serviços, através do maior uso das tecnologias da informação e comunicação; (4) O desenvolvimento de uma agenda de cooperação internacional (sobretudo centrada na OCDE), sobre questões gerais de gestão pública, estilos de liderança e políticas públicas, ao invés de uma postura estritamente baseada em especialistas nacionais (Hood, 1991). As doutrinas de contabilidade privada e as mudanças induzidas nas finanças públicas de alguns países da OCDE nos anos 80, tiveram uma influência decisiva no desenvolvimento do NPM (Hood, 1995). Mozzicafreddo (2001) afirma que o paradigma do NPM parte de um pressuposto erróneo, ao considerar a gestão empresarial como inerentemente superior à gestão pública, passando os cidadãos a ser meros consumidores. Peters (2000) refere que a reforma de base gestionária conduziu a alguns excessos, uma vez que a procura de serviços mais eficazes e eficientes levou a que se preterissem alguns valores do serviço público importantes, como a accountability. Também Denhardt (2003) sublinha que a abordagem de mercado esquece a deliberação democrática, assim como o conceito de serviço público. Christopher Hood criticou desde muito cedo o New Public Management ou o managerialismo, como também é conhecido, por não ter qualquer conteúdo teórico e por ser apenas uma roupagem vazia. A grande consequência do managerialismo tem sido o aumento exponencial dos controladores orçamentais e de performance, sem que o facto se 9
  • 10. tenha traduzido em melhorias efectivas dos serviços públicos4. Embora se apresente como promotor do bem comum, na realidade o managerialismo tem servido de veículo para interesses particulares, sendo criada uma elite de novos gestores públicos, cujos privilégios são muito superiores aos dos antigos administradores (Hood, 1991). Muitas destas críticas parecem-nos pertinentes e actuais, pois a doutrina do NPM continua viva e a ser exportada para o mundo menos desenvolvido, dando a ilusão de luta contra a corrupção e a má gestão, impressionando políticos e algumas elites da economia real, que encontram nela uma oportunidade para se demarcarem dos velhos modelos burocráticos e aproveitarem para tirar partido de algum património público, quer estejam dentro quer estejam fora do aparelho do estado. Com o desenvolvimento do NPM, certos autores destacaram alguns dos mais importantes paradoxos que estariam por detrás deste novo modelo. Giauque (2003a) ao analisar o NPM sob a perspectiva da regulação, salientou a natureza paradoxal deste novo modelo de estado, a que chamou burocracia liberal, que combina liberdade com constrangimentos, neoliberalismo e burocracia, descentralização e concentração de poder. John Bumgarner (2009) refere que o NPM conduz o estado a um paradoxo, se por um lado se pretende mais minimalista, por outro, parece iniciar-se um processo de valorização do papel da cidadania e dos valores do serviço público a ela associados, como a abertura, a responsabilização (accountability), a representatividade, a disponibilidade (responsiveness), a transparência, a equidade, a legalidade, tendo como consequência o alargamento e o aprofundamento da intervenção do estado na sociedade, realinhando o papel da administração pública aos objectivos constitucionais, acabando por expandir o seu poder tradicional (Bumgarner, 2009). Ao contrário, os autores que mais criticam o New Public Management consideram que a perca destes valores do serviço público é também considerada uma das razões para o declínio do NPM (Denhardt, 2003). Ao longo dos últimos trinta anos assistimos a um balanceamento entre os valores do serviço público (equidade, cidadania, accountability, transparência e interesse público) e os valores de desempenho (eficiência, eficácia, qualidade, objectivos e avaliação dos organismos e indivíduos), como se se tratasse de valores mutuamente exclusivos. A gestão profissional pode cumprir em simultâneo todos estes valores e as tecnologias podem dar um excelente contributo para que isso aconteça (canais de interacção múltiplos e 4 Em Portugal o managerialismo não foi acompanhado por um esforço proporcional de accountability e de controlo orçamental eficaz, tendo por isso provocado um aumento descontrolado da despesa pública. 10
  • 11. universais, business intelligence5, sistemas de reporte e alerta automáticos, workflows6, tecnologias móveis, etc.), suportando todo o ciclo da gestão, seja ela pública ou privada (p. ex. as cinco funções de administração de Fayol7, o PDCA8 de Deming, o DMAIC9 do Six Sigma, etc.). A questão está nas competências profissionais, na determinação e na confiança nos valores do serviço público, por parte de políticos, gestores e funcionários. Acima de tudo, o que se pretende é a “criação do ambiente de confiança, potenciador da capacidade do estado em impor decisões vinculantes em nome do interesse público” (Mozzicafreddo, 2009). O NPM tem de ser entendido como um modelo de gestão pública fortemente influenciado pelos preconceitos gerados durante a administração Thatcher, dificilmente exportável para outras estruturas e culturas administrativas (Minogue, 1998), no entanto continua a ser propagado em muitos países e continua a representar-se como um referencial das organizações internacionais (OCDE, FMI e Banco Mundial) para os países do terceiro mundo, onde predomina o excesso do poder estatal, a corrupção e a permeabilidade entre política e administração pública. O New Public Service (NPS) proposto por Janet e Robert Denhardt (2003) é uma tentativa normativa de superar alguns fracassos do NPM, mas está longe de ser um modelo concretizado e testado no terreno, no entanto, abre perspectivas para novos caminhos da estruturação e funcionamento do estado, mais aberto à sociedade através da governação partilhada com a sociedade (governance). Os novos modelos de governance propostos pela OCDE (2008) e alguns autores da área das ciências da administração estão longe de estar estabilizados (Pollitt and Hupe, 2009)10 mas podem ser viabilizados através da gestão e utilização 5 Business Intelligence é uma família tecnológica criada pelo Gartner Group nos anos 80, que se refere ao processo de recolha, organização, análise, partilha e controlo de informações de suporte à gestão, normalmente contidas num grande repositório de dados (Data Warehouse ou Data Mart) 6 Workflow, segundo a WfMC (Workflow Management Coalition), é a automação de um processo, na sua totalidade ou em partes, onde documentos, informações ou tarefas são passadas de um participante para outro visando a execução de uma acção, de acordo com um conjunto de regras e procedimentos 7 Henry Fayol atribuiu em 1916 cinco funções ao administrador: Planear, Organizar, Comandar, Coordenar e Controlar 8 PDCA – Plan Do Check, Act 9 DMAIC – Define, Measure, Analyse, Improve, Control 10 Pollitt and Hupe (2009), fazem uma análise do conceito de governance, muito utilizado, mas ainda pouco estabilizado na literatura, considerando-o atractivo, vago e amplo, carregado de valor, associado ao processo de reforma e confundido com governo no sentido estrito. Estes autores propõem uma definição para o conceito normativo de “good governance”: “garantir um comando da sociedade através de redes e parcerias entre governos, empresas e associações da sociedade civil, para encontrar o interesse comum””. Trata-se de um conceito que não se opõe ao conceito de governo, pois alarga-o a outros elementos, tornando-se mais inclusivo e aberto à conciliação entre escolhas e conflitos reais. A palavra “governaça” tem em português um sentido pejorativo (que se governa), por isso a tradução para “governação” parece mais adequada. 11
  • 12. adequada das redes sociais e da chamada Web 2.011. e da Web semântica12. Mais uma vez é possível esperar da sociedade da informação novos modelos de governação e de reforma do estado, como aconteceu durante a sociedade industrial com o advento do modelo burocrático. O papel da gestão dos recursos informacionais na acção do estado A maioria das análises sobre a sociedade da informação em que vivemos centra-se quase sempre nas tecnologias da informação e só ocasionalmente separa o recurso que é manipulado (a informação) daquilo que facilita o seu processamento e manipulação (as TIC), por isso não é de estranhar que a informação ainda não seja verdadeiramente considerada um recurso susceptível de ser gerido e valorizado e as tecnologias não passem de mais um instrumento surpreendente ao serviço do homem, naquilo que elas representam como utility de acesso cada vez mais banalizado. De uma maneira ou de outra, a maior parte da actividade da administração pública passa pela recolha, tratamento e difusão de informação através de uma posição privilegiada e nodal no centro de redes de informação (Hood and Margetts, 2007). O estado pode recolher informação recorrendo å sua centralidade nodal na sociedade ou de forma mais persuasiva, utilizando mecanismos obrigatórios de alimentação dos vários processos, nomeadamente através do preenchimento de formulários para impostos, segurança social, saúde, etc. O escrutínio dos media, mediante a análise de notícias generalistas e especializadas e da análise da publicidade, alimenta alguns sistemas de decisão estatais, para a recolha de indícios na luta contra a evasão e fraude fiscal, no combate à corrupção, na protecção do consumidor ou do ambiente, etc. A recolha directa de informação através de questionários e focus groups tornou-se uma prática habitual na recolha da opinião pública desde a segunda guerra mundial. Os media electrónicos, nomeadamente a Internet, tornaram as fontes de informação muito mais variadas, abundantes e facilmente escrutináveis por motores de busca ou agentes inteligentes específicos, tornando-se igualmente mais difícil esconder e apagar dados já anteriormente publicados (p. ex. www.archive.org). Em qualquer destes casos, o estado apropria-se desta Informação de forma tendencialmente gratuita, para além dos custos operacionais inerentes à sua recolha. 11 Web 2.0 é um termo criado em 2004 por Tim O'Reilly, para designar uma segunda geração de comunidades e serviços, tendo como conceito a "Web como plataforma", envolvendo wikis, aplicações baseadas em redes sociais através da Internet. 12 A ideia da Web Semântica surgiu em 2001, num artigo de Tim Berners-Lee na revista Scientific American, promovendo o desenvolvimento de tecnologias e linguagens capazes de tornar a informação legível para as máquinas, permitindo a partilha global de conhecimento. 12
  • 13. Com a progressiva desmaterialização dos processos operacionais do estado e dos dados que os suportam, verifica-se uma dependência cada vez mais acentuada em relação às tecnologias da informação, acabando mesmo estas por se confundir com as áreas nucleares dos serviços públicos, com riscos bastante elevados de continuidade, sustentabilidade e soberania para o futuro. Alguns autores da área da administração pública, começam a reconhecer a importância e os riscos associados às tecnologias da informação e à consequente relação com os fornecedores na soberania dos estados (Dunleavy, 2006) e chamam à atenção para a necessidade de aprofundar o estudo científico do papel das tecnologias na reforma do estado (Pollitt, 2011). Torna-se evidente a necessidade de salvaguardar as regras, os processos e os dados, que estão a ser cada vez mais desmaterializados e embebidos em tecnologias, constituindo eles próprios os verdadeiros activos das organizações. Já não se trata apenas de desmaterialização, mas também de deslocalização através da colocação de dados e regras processuais na nuvem13 O estado na sociedade da informação, como todas as organizações em geral, tem necessidade de salvaguardar os seus activos e precisa proteger-se contra a excessiva dependência em relação a fornecedores externos de tecnologia. O New Public Management acentuou a tendência para o recurso à contratação externa de serviços (Hood, 1991) e para novos modelos de governação orientados para o mercado e de forma menos regulada pelo estado (Peters, 1996), mas infelizmente ainda não se aprofundou a discussão sobre a separação necessária entre as funções e os componentes que envolvem os mais elevados níveis de soberania e risco operacional – gestão estratégica e arquitectura de processos e os dados, e o que pode ser subcontratado externamente e substituído sempre que for necessário e conveniente – a engenharia e os sistemas tecnológicos. As boas práticas de gestão de sistemas e tecnologias exigem salvaguardas que nos permitem livremente mudar de tecnologia em qualquer momento, protegendo a soberania sobre os activos informacionais (processos e dados), através da segregação adequada das camadas semânticas e tecnológicas. Todos os activos de uma organização (processos e dados) que entram num produto tecnológico devem poder sair em qualquer momento e ser reaproveitados futuramente numa nova infra-estrutura tecnológica. Esta não será apenas uma opção tecnológica, mas uma prática política e de gestão capaz de orientar as escolhas, muito especialmente quando se trata de aplicações em larga escala para o estado. Os novos modelos de governance propostos pelo NPM (Peters, 1996) e pelo NPS (Denhardt, 2003) estão longe de incorporar no seu corpo teórico uma visão holística ajustada à actual 13 O conceito de computação na nuvem (cloud computing) refere-se à utilização da memória e das capacidades de armazenamento e cálculo de computadores e servidores partilhados e interligados por meio da Internet. 13
  • 14. era digital. Ainda se está longe de uma visão do estado como um sistema de informação que se pretende global, desobstruído de silos de poder e fortemente integrado e inclusivo, para servir os eventos de vida dos cidadãos e das empresas, de forma cada vez mais rápida e económica. “Ironicamente o sucesso de alguns estados modernos, na implementação do NPM, contribuiu para uma diminuição da orientação para o interesse público” (Bozeman, 2007) e para a fragmentação destes processos transversais e inter-departamentais, tão caros às fases mais evoluídas e maduras de e-Governement.. Fala-se em desregulação e em re-regulação ao mesmo tempo (Majone, 1997), correspondendo com novos modelos organizacionais à necessidade de aliviar áreas de menor soberania e de reforçar algumas funções do estado que no passado não seriam consideradas estratégicas, como a gestão da informação. A gestão da informação está cada vez mais associada à avaliação da qualidade dos serviços públicos, através de medições extensivas, intensivas e externalizadas. confrontando-se com problemas conceptuais, motivacionais e técnicos (Pollitt, 2000), difíceis de superar não apenas através do uso intensivo de tecnologias de informação, a que Pollitt (2000) chamou de automaticity, mas sobretudo através de mecanismos de interoperabilidade semântica e sócio-organizacional, para que todos possam, respectivamente, falar a mesma língua e sejam capazes de concertar visões e vontades. Em tempo de crise é um luxo não automatizar a burocracia Torna-se difícil desinstrumentalizar o papel das tecnologias da informação e converte-las num efectivo facilitador e interventor nas mudanças nos processos, nas pessoas e nas estruturas do estado. Se alguma coisa a sociedade moderna nos ensina é que as tecnologias não são apenas uma ajuda à actividade humana, mas constituem sobretudo uma força poderosa para lhe dar uma nova concepção e um novo significado (Winner, 1986, citado por Pollit, 2010). As questões políticas da introdução das tecnologias e os riscos de determinismo tecnológico (Smith and Marx, 1994) associados à automatização da sociedade têm preocupado alguns autores (Winner, 1977; Beer, 1981), porém estas questões merecem ser hoje revisitadas à luz dos actuais instrumentos de desmaterialização de processos e de tomada de decisão. O computador tem sido demasiadas vezes mitificado como o melhor modo de executar uma tarefa e tem vindo a provocar num certo sentido um retrocesso cultural que nos lembra o velho paradigma da Organização Científica do Trabalho de Taylor, o qual tem a ver mais com os princípios da engenharia do que a generalização da ciência posta ao serviço das organizações humanas. A burocracia é o resultado da complexidade progressiva das organizações, sejam elas públicas ou privadas, e a departamentalização adequada ou excessiva é a forma de 14
  • 15. responder a exigências cada vez mais diferenciadas da sociedade. O aparecimento da burocracia funcional está na base da autonomização do espaço administrativo e da afirmação dos estados modernos (Chevallier, 1994). A divisão funcional foi e ainda é a característica dominante das organizações clássicas onde predomina o papel e a energia (humana ou mecânica). O NPM, ao contrário de reduzir, aumentou nalguns países o número de entidades estatais (Peters, 1996) e alargou o fosso entre elas. É lugar comum salientar- se a necessidade de diminuir ou até mesmo acabar com os papéis, entendidos como o estigma da burocracia. Os papéis existem porque o estado, nalgum momento da sua evolução, entendeu intervir nalgum sector da economia ou proteger o cidadão de alguma injustiça (estado poder), satisfazer alguma necessidade (estado providência), definir padrões e valores sociais (estado ético), etc. O processo legislativo tem sido, nos países de forte cultura normativa, um dos factores mais responsáveis pelo crescimento da burocracia 14. Basta comparar o número de páginas de legislação que se foi publicando ao longo dos últimos cem anos e o engrossar progressivo dos volumes do jornal oficial de ano para ano. Este crescendo legislativo vem tornando a burocracia cada vez mais distante e complexa para o cidadão comum e vem obrigando os serviços públicos a aplicarem leis de difícil interpretação e com isso a engrossarem as legiões de funcionários. A tendência é portanto complicar e não simplificar. A gordura burocrática aparece com o decorrer dos tempos e custa-nos descartar o que se vai tornando inútil, mantendo apenas o que é essencial e dá vida aos processos e aos resultados que a sociedade espera dos serviços públicos. Desburocratizar significa para a maioria das pessoas reduzir papéis e pontos de controlo e no limite acabar com a soberania e a intervenção do estado. As tecnologias permitem qualificar e dar inteligência à burocracia melhorando significativamente os processos e os serviços prestados (Qianwei, 2010), sem enveredar necessariamente pelo caminho único da desregulamentação e da desintervenção. Neste quadro de preocupações, as tecnologias e as redes de informação têm um papel estruturante e facilitador dos novos serviços, tendo em vista aproveitar com sucesso as oportunidades que vão surgindo todos os dias para melhorar a qualidade de vida e facilitar o quotidiano dos cidadãos. O recente desenvolvimento das redes alargadas de informação e em particular da Internet, criou novas oportunidades para fazer chegar ao cidadão toda a informação de que ele carece no quotidiano, todavia corre-se o risco de projectar para a sociedade, através dos meios amplificadores da tecnologia, toda a complexidade inerente a um sistema dividido e compartimentado nos seus diversos canais de comunicação, se não forem tomadas 14 A maior parte dos custos de informatização estatal dirigem-se a resolver situações de excepção duma legislação mal concebida, vulnerável a lobbies e que persiste em não ter em conta as oportunidades tecnológicas, apesar das recentes boas intenções do chamado Teste SIMPLEX. 15
  • 16. medidas conducentes à criação de produtos agregadores, integrados e fáceis de utilizar pelo cidadão comum. Este tema já há alguns anos que preocupa alguns estados e começa a interessar alguns autores, não apenas nas áreas tecnológicas e dos sistemas de informação, mas também nas áreas da administração e políticas públicas – “Em tempo de crise é um luxo não cooperar” (Dunleavy, 2010). Grande parte das tecnologias que irão mudar significativamente o funcionamento da administração pública nos próximos anos serão essencialmente de natureza colaborativa e interdepartamental. Vamos necessariamente assistir a um choque motivacional e de atitudes, capaz de acompanhar e dar sentido ao choque tecnológico politicamente anunciado em meados dos anos 90 em Portugal. A experiência e a evolução tecnológica demonstraram que hoje é possível mudar comportamentos e atitudes das pessoas através da introdução adequada de tecnologias e mecanismos automáticos nos processos administrativos, respeitadores e em boa convivência com o ser humano. David Giauque (2003b) salienta a unidade sistémica e o papel político da administração pública ao controlar o funcionamento do estado para além dos ciclos governativos, preservando alguns aspectos mais estruturantes e intemporais, o que implica um certo grau de neutralidade política nas medidas de reforma administrativa, questionada por alguns autores mais preocupados com a necessidade de “servir os objectivos do sistema político democrático baseado na cidadania e não a de ter um sistema político que sirva as necessidades de gestão da administração pública” (Mozzicafreddo, 2001). Não se trata de desobediência política, mas de uma forma sustentável e profissional de evitar descontinuidades que impossibilitam medidas estruturais de mais longo prazo. A nova visão holística e estruturante dos sistemas de informação no estado conduz-nos à necessidade de representações únicas de pessoas, empresas, território, veículos, etc. e à eliminação definitiva de certidões e comprovantes em papel. Não basta criar processos horizontais e acabar com silos verticais. São necessárias representações únicas para evitar a criação de novos silos horizontais (processuais), tanto ou mais perversos que os silos verticais (departamentais). Todos os silos afectam a qualidade da informação e é por isso que a informação incoerente e redundante é muito pior do que a informação eventualmente errada mas que, por ser partilhada, pode ser rapidamente corrigida e credibilizada. Com efeito, a informação é o único produto à face da terra que aumenta a sua qualidade e valor à medida que é mais utilizada e mais partilhada. As sucessivas iniciativas de reforma do estado estão a desencadear novos modelos de organização e novos processos de trabalho em todo o sector público, induzindo comportamentos e atitudes circunstanciais (Mozzicafreddo, 2001), contudo a crise que 16
  • 17. actualmente se vive, mais do que reformas, exige cortes orçamentais drásticos e urgentes (Pollitt, 2010). A pressão crescente no sentido da redução da despesa pública, sem perder de vista a necessidade de melhorar a qualidade da prestação de serviços à sociedade, obriga a repensar o factor humano e a sua capacidade de integração em ambientes tecnológicos inovadores. A experiência tem demonstrado que a evolução dos mecanismos progressivamente mais automáticos de tratamento da informação tem tornado possível uma separação cada vez maior entre tarefas de pessoas e máquinas, respeitando a especificidade de cada um dos intervenientes15. A administração pública tem um custo de satisfação e protecção de direitos considerados fundamentais e alguns interesses sempre crescentes, a que corresponde um custo fiscal equivalente (Holmes and Sunstein, 1999). Hoje, como no início do NPM há trinta anos atrás, a palavra de ordem é aliviar a carga fiscal e procedimental sobre o cidadão, no entanto a carga excessiva que se pretende aliviar acaba por não ser só gordura burocrática dispensável, mas também músculo de cidadania conquistado ao longo de séculos. Acabar com certidões e licenciamentos, prescindir da fé pública, desintervir, desregulamentar, etc. são formas de desburocratizar, que nalguns casos são modos irreversíveis de restrição democrática, uma vez que se abdica de algumas garantias de segurança e qualidade de vida dos cidadãos, na maior parte dos casos só asseguradas pelo estado. Tem-se muitas vezes uma visão redutora da reforma do estado, propondo-se a diminuição de direitos e garantias da sociedade por sermos incapazes de acelerar, electronicamente ou não, os processos administrativos. Acabar com licenciamentos, desintervir, desregular, etc. são formas de desburocratizar, que nalguns casos são caminhos sem retorno de restrição democrática e de redução dos direitos e garantias do cidadão. É cada vez mais necessário analisar as necessidades actuais de desburocratização e ao mesmo tempo de burocratização (Qianwei, 2010), pois hoje é possível tecnologicamente reburocratizar, de forma inteligente, processos críticos para a sociedade, mas que se consideram irremediavelmente descartáveis devido ao esforço, ao tempo e ao custo que acarretam devido à não utilização adequada de tecnologias. O custo dos direitos (Holmes and 15 É exemplo desta evolução os erros de reconhecimento automático de caracteres (OCR) que se verificavam em meados dos anos 80 e que exigiam postos de trabalho específicos para verificação e correcção humana das diferenças detectadas visualmente. Quinze anos depois da informatização do IVA em Portugal, ainda existiam pessoas cuja tarefa era exclusivamente conferir erros informáticos de reconhecimento de caracteres. Felizmente que hoje as declarações de IVA são apenas submetidas através da Internet, tendo-se desmaterializado integralmente esse processo e aliviado as pessoas destas tarefas penosas. 17
  • 18. Sunstein, 1999) pode ser reavaliado à luz de uma nova arquitectura de sistemas e tecnologias da informação16. A qualidade e a quantidade do retorno económico, social e político, relativamente ao investimento efectuado em sistemas e tecnologias da informação, dependem em grande parte das competências que o sector público souber mobilizar para a aquisição e gestão de projectos. Não existem bons fornecedores sem bons compradores e hoje existem normas e boas práticas que auxiliam os serviços da administração pública a avaliar a capacidade do mercado. Assim os grandes centros de informática da administração pública se consigam libertar das tentações predominantemente orientadas à construção de produtos tecnológicos, em vez de os saber arquitectar e gerir de forma soberana, integrada e independente. Poderemos questionar o insourcing ou o outsourcing, todavia em qualquer dos casos nunca se poderá baixar a fasquia da qualidade no fornecimento de serviços, se se quiser maximizar o retorno do investimento. Decerto ninguém quererá empresários públicos sem risco e com soberania de fachada, mas também não se quererá um país em que o sector privado viva à sombra de um estado mau comprador e se recuse a acrescentar valor à economia. O actual esforço na reforma do estado e a consequente externalização de serviços públicos não forem acompanhadas por investimentos adequados em sistemas de informação para a sua monitorização e controlo, não nos deveremos surpreender com um efectivo aumento do défice estatal e com um retorno negativo em relação às expectativas, traçadas há uns anos atrás para os países da OCDE, de melhor servir o cidadão e reduzir a despesa pública (Leroy, 1996). Os orçamentos anualizados e departamentalizados fragmentam os processos. Paradoxalmente os fornecedores externos, ao tentarem reduzir o risco e definir o âmbito da sua actuação no seu contrato com o cliente, também contribuem para esta fragmentação. Se a informação não existe recolhe-se de novo, se o organismo não respeita normas nem possui dicionários de dados inventam-se tabelas para a circunstância, evitando-se o incómodo e o risco de ir à procura de dados e semânticas comuns e partilháveis noutras entidades nacionais e internacionais. Informatização, recursos humanos, políticas de emprego e sustentabilidade A promoção de empregos pagos continua a ser considerada a base do bem-estar social e uma condição sine qua non para se atingir uma sociedade inclusiva (Esping-Andersen, 16 O Chief Information Officer Council e o Office of Management of Budget dos EUA condicionam a aprovação de projectos de investimento em TIC à existência prévia de arquitecturas de sistemas e tecnologias de informação baseadas na Enterprise Architecture Assessment Framework (EAAF). 18
  • 19. 2002). A procura do aumento de eficiência nos processos e de aumento da produtividade nas administrações públicas criam uma aparente contradição e um conflito potencial entre a informatização e as políticas de emprego público. Supostamente todos os postos de trabalho baseados em tarefas em que tendencialmente as máquinas têm um melhor desempenho, estão condenados ao desaparecimento, criando um novo desafio às políticas de emprego e uma necessidade de requalificação de competências e reorientação das atitudes mais dirigidas à intermediação entre os serviços públicos electrónicos e o exercício da cidadania, assegurando a promoção de um estado mais eficiente, mais rápido, mais económico e melhor adaptado a uma sociedade da informação cada vez mais equitativa e inclusiva. Sabemos que a informatização conduz a uma segregação progressiva de tarefas entre máquinas e pessoas, nomeadamente cabe às máquinas desempenhar tarefas como procurar, recolher, copiar, comparar, calcular, ordenar, medir, verificar, armazenar, etc., enquanto as pessoas devem ser libertas para inovar, sonhar, criar, comunicar, dar afecto, decidir, etc. A inovação tecnológica está permanentemente em busca de tarefas e verbos desempenhados pelas pessoas, que são melhor desempenhados por máquinas e os empregos correspondentes acabam mais tarde ou mais cedo por desaparecer. No caso dos agentes do estado, a grande maioria das tarefas ainda tem um grande potencial de automação, podendo ser descartados postos de trabalho mais mecanizados e rotineiros, em favor do aumento da produtividade e do exercício de novas funções de intermediação e de apoio à cidadania, enquanto não for possível uma diminuição mais significativa dos recursos humanos. O trabalho humano, enquanto energia e músculo, desde há muito que deixou de ser o factor mais importante na criação da riqueza. A intangibilidade dos serviços, a automação dos processos produtivos e a utilização generalizada das TIC por parte dos novos trabalhadores do conhecimento, passaram a ser motivos indutores de valorização ou desvalorização do factor trabalho, reduzindo-se drasticamente o número de oportunidades de emprego para aqueles que concorrem globalmente em postos de trabalho baseados na energia, no músculo e em competências de baixo valor acrescentado, ao mesmo tempo que abrem novas oportunidades e novos desafios profissionais. Os processos de produção aceleraram-se tremendamente com a Sociedade da Informação e a acumulação de mais-valias aumentou exponencialmente e passou a concentrar-se em menos pessoas, agravando as desigualdades sociais, sem contribuir na mesma proporção para a sustentabilidade do estado. O velho sistema contributivo para a Segurança Social tarda em reconhecer e não vai tendo imaginação para encontrar novas formas de 19
  • 20. financiamento alternativos à força de trabalho, capazes de suportar o estado social. Nos últimos trinta anos, os estados europeus e americanos estão a estudar sistemas alternativos de sustentabilidade do welfare state (Flora, 1984), no entanto, terá de ser aberto um novo espaço de reflexão sobre os contributos das TIC para a competitividade, crescimento e emprego no curto e longo prazo e travar a tendência de aprofundamento das desigualdades sociais que paradoxalmente acabam por resultar da sua crescente utilização. É certo que todos queremos beneficiar de mais tempo livre e melhor qualidade de vida, porque as tecnologias progressivamente vão ocupando os nossos lugares, mas esse tempo de desocupação não pode ser convertido em mais desemprego e mais miséria para a sociedade, devendo dar origem a novas actividades capazes de gerar riqueza e bem-estar social. Os defensores do NPM, rejeitam a ideia de que a política deva (ou possa) ser desligada da administração e defendem que os agentes do estado não são autómatos cumprindo apenas regras e ordens superiores, ao contrário, o novo paradigma pressupõe trabalhadores inteligentes e capazes de compreender os problemas das suas agências e converter ideias em acções eficazes (Behn, 1998). Como foi afirmado acima, este poderia ser um instrumento eficaz de sustentabilidade das medidas estruturais, mas isso raramente aconteceu devido à forte fragmentação e defesa de territórios empresarialistas. Nos últimos anos assistiu-se a uma descapitalização do factor humano da administração directa do estado e a crise hoje já não é apenas financeira, mas sobretudo de falta de competências para assegurar as funções básicas do estado e garantir a confiança (Pitschas, 2006), com gravíssimos reflexos no aumento da despesa pública. Com a fuga para a empresarialização da administração directa do estado, não apenas se perderam alguns dos principais valores e comportamentos específicas do serviço público mais valorizados pela sociedade, tais como a competência e o respeito, a independência e a equidade, a universalidade e a inclusão, a confiança e a harmonização, a clareza e a simplicidade, a segurança e a estabilidade, etc., tendo-se perdido a capacidade de exercício da soberania por parte dos agentes públicos. As competências internas do estado e as suas áreas de maior soberania foram substituídas por estudos e pareceres de consultoras e escritórios de advogados da confiança dos membros do Governo e que, muitas vezes, dão suporte às próprias empresas contratadas, descartando-se e desqualificando-se o factor humano dos serviços públicos e desgastando progressivamente o próprio poder e a confiança no estado (Pitschas, 2006). O outsourcing e as parcerias público-privadas seriam uma boa solução, para um estado que se pretende cada vez mais regulador e menos executor, mas quem é que estará a dialogar do lado do estado, que competências técnicas e de gestão existem hoje para negociar e gerir contratos, para elaborar as especificações e controlar a qualidade 20
  • 21. dos resultados? Onde estão os arquitectos de sistemas e tecnologias da informação para definir com clareza os problemas e fazer o alinhamento estratégico entre os objectivos políticos e as soluções do mercado? Também aqui se trata de uma boa governance, no sentido partilhado, dado por Pollitt e Hupe (2009). A cibernética ao serviço da restauração dos valores de serviço público Esperar-se-ia com o NPM ter uma administração pública mais baseada na informação, com melhores profissionais relacionados com este valioso recurso estratégico e operacional, em que as relações de autoridade seriam substituídas pelas relações de informação, criando-se uma dinâmica e uma cadeia virtual entre os vários parceiros da administração pública, num ambiente de liberdade, diversidade e igualdade, aumentando a acessibilidade, a receptividade e a confiança recíproca entre o estado e os cidadãos (Pitschas, 2006). No entanto, porque existem e são fáceis de usar, as tecnologias despertam o desejo de protagonismo e fechamento organizacional, fortemente marcados pela competição e defesa de territórios, confinados às legislaturas e servindo ambições políticas, pessoais e institucionais. O futuro exige da administração pública a adopção de novos paradigmas, novas estratégias e novas visões, passando cada vez mais pela partilha de soluções e plataformas tecnológicas comuns. A desagregação dos processos que deveriam ser integrados, interoperáveis e orientados para o cidadão, assim como a competição entre parceiros que deveriam cooperar entre si, atrasaram em muito o que hoje poderia ser um verdadeiro estado em tempo real, mais produtivo e mais económico. Retomando os paradoxos da burocracia liberal propostos por Giauque (2003), que combinam liberdade com constrangimentos, neoliberalismo e burocracia, descentralização e concentração de poder, podemos analisar o potencial transformador da introdução das tecnologias da informação na administração pública, as quais na actualidade combinam de igual modo estes três paradoxos. Com efeito, a introdução da computação pessoal nos últimos trinta anos deram liberdade individual aos utilizadores, ao mesmo tempo que foi possível uma nova recentralização dos dados e processos, através da Internet, do business intelligence, do cloud computing, etc. Por outro lado, o neoliberalismo permitido nas aplicações departamentais acaba por ser equilibrado pela utilização de normas semânticas e tecnológicas, enquanto quadros de referência para a interoperabilidade entre sistemas heterogéneos e para uma efectiva desmaterialização de processos do princípio ao fim (end to end), Por último, nunca como hoje foi possível descentralizar e centralizar ao mesmo tempo o poder nas organizações, por maior que elas sejam, pois as tecnologias permitem- nos aproximar os recursos informacionais a todas as pessoas de uma organização de forma 21
  • 22. totalmente descentralizada e operacional, ao mesmo tempo que possibilitam a agregação de dados e informação para apoio às decisões de topo de forma centralizada e estratégica. O aparecimento de estudos interdisciplinares em torno da utilização das tecnologias na administração pública está a ter o mérito de introduzir novas perspectivas capazes de desconstruir algumas das disfunções da burocracia tradicional, mas também alguns dos paradoxos do NPM, sem necessidade de esperar por mudanças de cultura ou de atitude. Os processos poderão ser arquitectados de forma a satisfazer necessidades paradoxais mas igualmente necessárias no mundo de hoje. Não se trata de acreditar ideologicamente no novo serviço público (New Public Service) à espera de novos homens e novas atitudes, como se fosse uma questão de fé ou de ideologia, trata-se de uma profunda mudança de processos capazes de induzir novos comportamentos cientificamente possíveis, como nos propõe Mozzicafreddo (2001), “a integração e o apoio dos agentes na modernização não é uma questão de mentalidade, mas de processos, de competências, de autonomias e, ainda, de formas de participação e negociação”. Se as competências e a participação são baixas e as autonomias estão mal reguladas no nosso país, só nos resta mexer nos processos de uma forma científica, neo-burocrática e cibernética, respeitando as competências de pessoas e máquinas17. As redes e as tecnologias da informação são um poderoso instrumento para capacitar informacionalmente toda a administração directa e indirecta do estado, viabilizando os propósitos de flat state e de lean state (Hood, 1991), mediante uma efectiva reengenharia de processos e a eliminação de estruturas e formalidades desnecessárias, sem contudo perder o controlo e a accountability destes decisores, num verdadeiro federalismo informacional18, sem necessidade de desprezar o paradigma da administração pública e os respectivos valores. No entender de Bozeman (2007), ao contrário do interesse público, o percurso recente das reformas do estado têm acentuado o individualismo económico, dando ênfase à liberdade individual dos clientes e a uma mera relação de produtor-consumidor, o que não facilita a promoção de uma visão agregadora orientada para as necessidades dos cidadãos e agentes económicos numa lógica de interesse público. Os sistemas de informação estatais 17 Os processos administrativos do futuro irão constituir coreografias bem sincronizadas entre pessoas e máquinas e a evolução do trabalho do mundo analógico para a era digital constituirá uma revolução inevitável nos serviços públicos para os próximos anos. Os funcionários vão ter de se confrontar com novos paradigmas, em que os originais passarão a ser bits em vez de coisas e em que se assistirá finalmente ao desaparecimento das certidões e à sua substituição por intercâmbio de bits (p. ex. web services) entre bases de dados que falam a mesma língua. 18 Durante os anos 90 alguns autores passaram a utilizar o conceito de “federalismo informacional”, visando defender o equilíbrio entre o centro do poder e as periferias nos grandes sistemas transversais da administração pública (Vidigal, 1997 e Maxwell, 1998). 22
  • 23. são necessariamente configurados para o interesse público e, apesar dos serviços electrónicos estarem a ser tendencialmente mais personalizados, individualizando serviços e interfaces consoante os públicos e a fase do seu ciclo de vida, eles nunca deverão servir interesses individuais diferenciados pela condição social ou económica, como acontece no mercado privado, pois deverão estar sujeitos a valores públicos universais. Daí o paradoxo da suposta superioridade do modelo de mercado aplicado aos estados modernos, através do NPM. Não é fácil a libertação do aparelho de estado em relação às corporações e aos grupos de interesse, quando se invoca um modelo liberal de New Public Managemnet que acaba quase sempre por conduzir a uma apropriação do estado pelos interesses individuais e corporativos, mas não esperemos tão cedo pelas mudanças profundas de atitudes que nos são propostas no New Public Service, as tecnologias permitem hoje criar uma verdadeira burocracia participativa, suficientemente eficiente, eficaz, transparente, independente, regulada, equitativa e personalizada, sem questionar os valores do serviço público e sem ter de retirar direitos e garantias ao estado e aos cidadãos (van Lucke, 2010). Considerações finais A questão da continuidade ou descontinuidade dos vários modelos de reforma, nomeadamente o modelo burocrático, o gerencialismo e a governança pública estudada por Secchi (2009) e as influências dos vários regimes político-administrativos nas várias opções de reforma (Pollitt and Bouckaert 2000b) demonstram que as fronteiras entre estes três modelos de reforma não são nítidas nem redutoras, no entanto, as tecnologias da informação parecem permitir uma retoma de modelos descontinuados prematuramente por limitações técnico-funcionais e com isso viabilizar competências, valores e princípios entretanto descartados por modismo político. Tal como a burocracia, as tecnologias da informação não deixam de ser uma forma de regulação e de fecho do sistema através de regras e procedimentos facilmente incorporáveis em algoritmos e processos automáticos de tomada de decisão. A burocracia e a regulação, tal como as tecnologias, propõem-se reduzir a margem de incerteza e a arbitrariedade, através da construção de modelos da realidade e de recondução de comportamentos e atitudes à legalidade e à previsibilidade. Em muitos processos de licenciamento, judiciais, clínicos ou outros é possível introduzir algoritmia e com isso garantir e restaurar os valores de serviço público previstos no modelo burocrático tradicional, de forma suficientemente económica, flexível e ajustada às necessidades da sociedade, como seria espectável no NPM. As tecnologias podem ser um tipo de regulação automática ou 23
  • 24. cibernética, que o ser humano sozinho é incapaz de desempenhar apenas com recurso ao processo normativo19. Aqui fica o desafio para um trabalho futuro, em torno de novos caminhos e oportunidades para a reforma administrativa, através da adopção de novas perspectivas de funcionamento e estruturação do estado à luz das tecnologias da informação e da possibilidade de introdução de mecanismos cibernéticos nos processos administrativos, aumentando a confiança, a eficiência e a transparência perante a sociedade e reduzindo as oportunidades de arbitrariedade e corrupção por parte dos vários agentes envolvidos. 19 A introdução de simuladores de cálculo do IRS, dos subsídios de arrendamento jovem, e outros no Infocid durante os anos 90 e mais recentemente algumas iniciativas no género no âmbito do SIMPLEX, são formas intencionais de acabar com divergências na interpretação da lei e de criar uma “verdade” informática no processo decisório, baseada em algoritmos suficientemente fechados e definitivos, para não permitirem arbitrariedades nos processos de tomada de decisão. 24
  • 25. Referências bibliográficas: Ashby, William Ross (1956), An introduction to cybernetics, London, Chapman & Hall. Barry, A. (2001), Political machines: governing a technological society, London and New York, Athlone Press. Beer, Stafford (1981), Brain of the Firm, 2ª Ed., Chichester, John Wiley & Sons. _____ (1984) “The Viable System Model: its Provenance, Development, Methodology and Pathology,” Journal of the Operational Research Society, 35, pp. 7-26. Behn, Robert (1998), “The New Public-Management Paradigm and the search for Democratic Accountability”, International Public Administration Journal, 1, (2), pp. 131-164. Bozeman, Barry (2007), Public values and Public interest: counterbalancing economic individualism, Washington, Georgetown University Press. Bumgarner, J. (2009), “The Irony of NPM – The inevitable extension of the role of the American State”, The American Review of Public Administration, 39 (2). Capello, Roberta et al (2011), “The European Territory in 2020: Winners and Losers in a Globalized World”, in Advances in Spatial Science, pp. 275-303 (Part 3). Castells, Manuel (1998), “The information Age: Economy, Society and Culture”, in End of Millennium, (Vol III), Oxford, Basil Blackwell. Chevallier, Jacques (1994), Science Administrative, Paris, Presses Universitaires de France. _____ (1997), “La gestion publique à l’heure de la banalisation”, Revue Française de Gestion, (115). Demarigny, Fabrice (1996), “Independent administrative authorities in France and the case of the French Council for Competition”, in Regulating Europe, London, Routledge (Capítulo 8) Denhardt, Janet and Robert Denhardt (2003), The New Public Service: Serving, not Steering, Armonk, M.E. Sharpe. Dunleavy, Patrick et al (2005), “New Public Management is dead – Long live digital-era governance”, Journal of Public Administration Research and Theory, 16, pp. 467-494. _____ (2006), Digital Era Governance, Oxford, Oxford University Press. Dunleavy, Patrick (2010), “The Future of Joined-up Public Services”, in 2020 Public Services Trust at RSA, London, ESRC. Evans, P. B. and T. S. Wurster (1997), “Strategy and the New Economics of Information”, Harvard Business Review, September-October, pp.71-82. Esping-Andersen, G. (2002), “Towards the Good Society, once again”, in Why we need the Welfare State, Oxford, Oxford University Press. Flora, Peter and Jens Alber (1984), “Modernization, Democratization and the Developing of the Welfare State in the Western Europe”, in Peter Flora and Arnold Heidenheimer (Ed.), The Development of the Welfare State in Europe and America, London, Transaction Publishers (Capítulo 2) Giauque, David (2003a), “New Public Management and Organizational Regulation: the Liberal Bureaucracy”, International Review of Administrative Sciences, 69 (4). _____ (2003b), La Bureaucratie libérale: Nouvelle gestion publique et regulation organisationnelle, Paris, L’Harmattan. 25
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