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FAVELIZAÇÃO NÃO

        Rio de Janeiro – Cidade do Esplendor, filme de Winton Hoch, de 1936,
retrata o cenário trágico do populismo, da favelização, da ocupação
desordenada dos morros da “cidade maravilhosa”.
        Nas ultimas semanas foi possível acompanhar o deslizamento do Morro
do Bumba, antigo lixão hoje favela, em Niterói, onde milhares de pessoas
perderam suas casas, familiares e amigos. No meio da cratera que se abriu,
sobrou lixo, lama e lembranças do esplendor da cidade maravilhosa.
        Indaga-se se o que ocorreu é obra da natureza. Esta, estaria se voltando
contra o homem, o qual, desmatou e desmata, poluiu e polui cada vez mais? A
resposta afirmativa está na boca de todos. Mas pensando bem, no Brasil não
tem tsunamis, tornados, vulcões, terremotos, enfim fenômenos naturais que
abalem o país. Que fenômeno que abala o povo brasileiro? Mensalão, caixa
dois, dinheiro na meia, CPIs. A velha e conhecida política. Sim, a política
brasileira, seria um fator em potencial a ser considerado um dos causadores de
tragédias.
        As pessoas e as casas que foram soterrados por avalanches no Rio de
Janeiro e região metropolitana, foram vitimas da irresponsabilidade, da
demagogia de governantes que abriram caminho para que o processo da
“indústria da favelização”, ou seja, a ocupação desordenadas dos morros e
locais inadequados, acontecesse. Uma reportagem da revista Veja do mês de
abril mostra que a ocupação das favelas cariocas aumentou em um ritmo 270%
maior do que o crescimento populacional da cidade. Isso evidencia que as
pessoas mais pobres não foram parar nos morros por conseqüência da
demografia natural, mas sim, comunidades foram fundadas para eleger
políticos inescrupulosos, que assentaram essas pessoas humildes e sem voz
ativa em locais de risco. Currais eleitorais entremeio à maravilhosa paisagem
da Baia de Guanabara, Copacabana, Ipanema, Pão de Açúcar e Cristo
Redentor. Populismo desenfreado nas encostas da Serra do Mar. Pontos nem
tão turísticos, lembrados apenas em períodos de eleições.
        São essas pessoas, essas comunidades, currais eleitorais, que sofrem
com as chuvas, com a escassez de água, com a falta de recursos e com as
tragédias naturais. São eles, que perdem tudo. São eles a maioria, que com
seus votos, elegem esse ou aquele. A cidade nem mais tão maravilhosa assim,
precisa de ajuda. Favela é problema e voto não é a solução.
                                                      BRUNA BRINGHENTTI DALMAGRO

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