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Escola Estadual Professora Beathris Caixeiro Del Cistia 
Trabalhos de Língua Portuguesa 
Nome: Wesley Germano Otávio Nº 41 Série: 3ºB
Música Asa Branca e livro Vidas Secas abordam 
o contexto da seca no Nordeste 
Ser forte não significa apenas resistir, representa também a sabedoria 
de escolher a hora certa para se retirar em um momento de perigo. Muito 
conhecida é a seca que castiga o nordestino, fazendo com que esse povo deixe 
sua região em busca de condições de sobrevivência. O momento de retirada 
dessas pessoas inspira a arte brasileira. Entre elas a canção de Luiz Gonzaga, 
''Asa Branca'' e a literatura de Graciliano Ramos, no livro ''Vidas Secas.'' 
A música foi lançada no ano de 1.947 e o livro em 1.938. Atualmente o 
êxodo diminuiu, mas ainda acontece. Como a natureza tem seus caprichos ''O 
sertão continuaria a mandar para a cidade homens fortes, brutos como Fabiano, 
Sinhá Vitória e os dois meninos. '' A família inteira sai a procura de um abrigo 
salvador. Na canção o personagem faz seu percurso sozinho, mas promete 
voltar, com o verde da plantação. 
Já em ''Vidas secas'', o receio do contato com uma cultura desconhecida 
e a tentativa de criar esperanças para vencer o caminho faz os personagens se 
dividirem entre a saudade da terra natal e a promessa de nunca mais voltar. 
Figuras presentes nas duas obras são os animais que também sofrem 
com a estiagem. A ave que dá nome a música Asa Branca partiu em busca de 
refúgio. Enquanto em ''Vidas secas'' a cachorra Baleia sofre e sonha com um 
osso cheio de tutano. A morte do gado serve como alerta para que os sertanejos 
consigam perceber o momento desfavorável. 
Tanto na música como na obra literária são apresentadas características 
da seca. Em ''Asa branca'' a terra é comparada com a fogueira, quente e 
vermelha, a mesma de ''Vidas secas'' , que logo no início apresenta como cenário 
uma planície avermelhada. O braseiro e o fornalho dão a dimensão do calor que 
Luiz Gonzaga quis retratar e Graciliano Ramos fala de uma manhã, sem 
pássaros, sem folhas e sem ventos. 
Asa Branca é um baião, que foi composto por Luiz Gonzaga e Humberto 
Teixeira. Na voz de Luiz Gonzaga, a música fez e ainda faz sucesso nacional e 
internacional. ''Vidas Secas'', de autoria de Graciliano Ramos, fala sobre a seca
do nordeste e também da secura nos atos dos personagens, que precisam 
dessas atitudes para resistir aos muitos obstáculos, impostos pela natureza. 
Antropofagia e Tropicália 
Contra a realidade social, vestida e opressora, 
cadastrada por Freud – a realidade sem complexos, 
sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias 
do matriarcado de Pindorama. 
Oswald de Andrade – Manifesto antropófago 
a alegria é a prova dos nove 
e a tristeza é teu porto seguro 
minha terra é onde o sol é mais limpo 
e mangueira é onde o samba é mais puro 
tumbadora na selva selvagem 
pindorama – país do futuro 
Gilberto Gil & Torquato Neto – Geléia geral 
“O Tropicalismo é um neoantropofagismo”: assim definiu Caetano 
Veloso, em entrevista concedida a Augusto de Campos , o movimento que 
ajudara a fundar e deflagrar.A explosão do Tropicalismo (ou Tropicália), se deu 
nos Festivais da Música Brasileira, no fim da década de 60, quando “Alegria, 
Alegria”, de Caetano Veloso e “Domingo no Parque” de Gilberto Gil chamaram a 
atenção da mídia e do público por trazerem uma proposta inovadora em suas 
letras e arranjos, misturando Rock’n’roll, música experimental de vanguarda e 
ritmos brasileiros. Pouco depois, seria lançado o LP Tropicália, do qual 
participaram Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Torquato Neto, Rogério 
Duprat, Os Mutantes, etc. 
Neste texto, procuraremos investigar mais afundo esse que é “antes de 
tudo um movimento dessacralizador. Irônico e parodístico” (SANTANA, 1977, p.
233), segundo nos diz Afonso Romano de Santana. Observar a importância 
deste movimento para a formação da (contra-) cultura brasileira no que se chama 
modernismo tardio ou pós-modernismo, e sua poética dessacralizadora que 
mescla o popular e o erudito, que incorpora o “canônico” a “cultura de massa” 
(ou vice-versa), que deglute os monumentos de cultura das fontes irradiadoras 
(seja do colonialismo ou neoimperialismo), carnavaliza-as e descentra sua 
influência. 
A partir daí, podemos observar as origens imediatas e remotas da 
Tropicália, que busca desde a tradição barroca, do já antropófago Gregório de 
Matos, retoma as propostas do modernismo de 22, principalmente as lançadas 
no “Manifesto Antropofágico” de Oswald de Andrade (“Tupy, or not Tupy...”) e, 
dessa forma, se relaciona com outros movimentos de vanguarda de sua época, 
como o Cinema Novo e o Cinema Marginal, o Poema-Processo, a Poesia 
Marginal, a psicodelia hippie, todos marcados pelo seu aspecto experimental e 
iconoclasta, que mescla elementos heteróclitos, de diferentes linguagens e 
contextos, para criar uma arte autêntica de caráter híbrido. É importante ressaltar 
que tudo isto se deu em plena ditadura militar, e a estética arrojada da Tropicália 
era também uma forma de velar uma crítica, dessa forma, o protesto social 
adquiria caráter estético, de maneira que forma e conteúdo se uniam em uma 
proposta revolucionária que extrapolava para o comportamento: as cores, 
roupas e danças, a libertação dos instintos e o caráter muitas vezes andrógino 
dos artistas dialogavam em um sistema de signos constituindo uma mensagem 
subversiva. 
O grupo Secos e Molhados surge pouco depois da deflagração da 
Tropicália. Formado por Ney Matogrosso, João Ricardo e Gerson Conrad, 
lançaram dois discos, o primeiro em 1973 e o outro em 1974, trazendo ainda as 
concepções estéticas do movimento, evidenciadas nas performances e visual 
pitorescas e na musicalização de poemas de Fernando Pessoa, Manuel 
Bandeira, Oswald de Andrade, Julio Cortázar resinificando estes textos 
transpondo-os para outra realidade histórico–social e retomando, ainda, a 
proposta de Mallarmé, de [re]junção entre música e poesia. 
Dessa forma, o Secos e Molhados talvez refine ainda mais a proposta 
tropicalista de transgressão estética e comportamental, trazendo em suas letras
críticas veladas através de jogos intertextuais, confirmando em suas canções a 
equivalência entre os termos “antropofagia”, de Oswald de Andrade, 
“intertextualidade” de Kristeva e “dialogismo” ou “carnavalização” de Bakhtim, e 
o poder subversivo que essas práticas textuais assumem por meio da paródia, 
quando o dominado assume a força do discurso dominante para denunciar as 
próprias instituições de poder, onde o nivelamento da arte dita “elevada” e a arte 
“baixa”, popular, é uma forma de provocar e atacar a cultura oficial, elitista e 
colonizada, colocando a expressão da margem no centro da discussão e 
derrubando as hierarquias. Isto é, antropofagia e carnavalização são meios de 
inversão e resistência. 
Para melhor ilustrarmos essas afirmações, cabe partirmos para a análise 
de uma letra dos Secos e Molhados. Trata-se de “El Rey”, canção composta por 
Gerson Conrad e João Ricardo e lançada no disco de 1973: 
“Eu vi El Rey andar de quatro 
De quatro caras diferentes 
De quatrocentas celas 
Cheias de gente 
“Eu vi El Rey andar de quatro 
De quatro patas reluzentes 
De quatrocentas mortes... 
“Eu vi El Rey andar de quatro 
De quatro poses atraentes 
De quatrocentas velas 
Feitas duendes” 
Devemos observar, primeiramente, que o texto é permeado pela relação 
entre três ideias: Poder — decadência — resistência. El Rey é o signo do poder. 
A forma castelhana nos remete ao poder colonial: opulência, riqueza e 
dominação. Entretanto, o primeiro verso da canção diz: “Eu vi El Rey andar de 
quatro”. Neste verso entra também o elemento da decadência. O rei de quatro é 
a ridicularizarão do grandioso, e, quando no verso seguinte, lemos “quatro caras 
diferentes”, observamos que a palavra “cara” traz um sentido diferente de “face” 
ou “rosto”, pois, apesar de serem aparentemente sinônimos, a forma utilizada no
texto é cotidiana, uma gíria comum em contextos informais e referente ao que é 
baixo, sem apresentar qualquer reverência ou respeito, então aqui a palavra 
“cara” aparece como índice se dessacralização. 
Quatro caras: o poder se apresenta de várias formas, muda as máscaras 
(as personas, como no teatro grego), transforma o discurso. Assim como em um 
teatro, o poder muda de máscaras, e, assim como em um carnaval, suas 
máscaras trazem o brilho da riqueza na forma de extravagância. E, como bem 
traduz o barroco, o grandioso e o grotesco — a opulência e a decadência — 
andam juntos. O índice do despotismo surge no verso seguinte: “De 
quatrocentas celas cheias de gente”. Aqui vemos que o poder se despersonaliza, 
muda de máscaras e de discursos, mas, seja o discurso colonial imperialista, 
seja o neoliberal pretensamente democrático, vemos as história dos vencedores 
marchando sobre os corpos dos vencidos, e a tirania aparece no fim desta 
primeira estrofe na forma da supressão da liberdade do outro. 
A estrutura da primeira estrofe se repete na seguinte, isto é, o estribilho 
inicial, no segundo verso, “patas reluzentes” aparece no lugar de “caras 
diferentes”, apresentando, contudo, a mesma estrutura morfológica: caras/patas, 
assim como diferentes/reluzentes, apresentam o mesmo número de sílabas, as 
silabas tônicas na mesma posição e as mesmas terminações, mantendo a 
cadência e a melodia do texto. Além disso, essa correspondência estrutural 
anuncia que também será mantida as relações de ideias, pios, “quatro patas 
reluzentes” podem referir-se tanto à imagem de uma montaria, símbolo de altivez 
cavalheiresca, ou às quatro patas do próprio rei. O reluzente da riqueza vem 
novamente associado ao rebaixamento da imagem grotesca do “rei de quatro”. 
Cabe aqui enfocarmos a peculiaridade da palavra “morte” dentro do 
texto. Como podemos observar, o poema é dividido em três estrofes, duas de 
quatro versos, e uma, à qual nos reportamos agora, de três. Porém, na cadência 
da música, o lugar do quarto verso da segunda estrofe fica vazio, ou melhor, é 
preenchido pelo silêncio. Silêncio expressivo. Os três pontos que seguem a 
palavra “morte” corroboram essa ideia. Assim, podemos compreender a morte 
como forma maior de violência e coação, a pena capital empreendida pelo poder, 
sobre a qual não se faz necessário o uso de nenhum adjetivo: diante da (ameaça
de) morte, o coagido deve calar, não por respeito à autoridade, mas por medo 
de sua força. 
A terceira estrofe traz a mesma estrutura das anteriores: após o 
estribilho, surge, no segundo verso, “poses atraentes”, que se relaciona 
morfologicamente a “caras diferentes” e “patas reluzentes” reiteram a idéia da 
elegância atrativa ligada à imagem de riqueza ostentada pelo rei se relacionando 
à extravagância humorística, por meio da imagem caricatural atribuída à 
elegância e à riqueza na paródia carnavalizante. E nos dois últimos versos temos 
novamente o índice da dominação em “quatrocentas velas”. Num primeiro 
momento, o vocábulo “velas” pode ser visto como índice da dominação 
colonizadora se associado metonimicamente às caravelas que cruzaram o 
oceano subjugando povos. Por outro lado, “velas” pode também ser relacionado 
metonimicamente à morte. Visto por essa segunda perspectiva, a palavra 
“duentes”, presente no último verso, apresenta-se como uma chave de leitura 
por ilustrar como a resistência se integra no texto. 
Este ente fantástico, muito comum na mitologia céltica, é um símbolo de 
travessuras, de caráter semelhante aos sátiros da mitologia grega. Dessa forma, 
o duende é o que satiriza, ironiza, parodia, ridiculariza, ou seja, uma figura 
carnavalizante. As quatrocentas velas, quatrocentos mortos — políticos, 
culturais, etc. —, os vencidos e marginalizados dos centros de poder, erguem-se 
para novamente se opor, utilizando da carnavalização como instrumento de 
resistência. A carnavalização, apresentando-se como paródia, isto é, reescritura 
e transformação de outro texto, torna-se antropofagia quando o autor imerso em 
uma situação desfavorável, ou subdesenvolvida, como diz Antonio Candido, isto 
é, na situação de dominado, assume o texto do outro, do dominador, e o 
transforma. Dessa forma, como diz Robert Stam: 
O artista não pode ignorar a presença da arte estrangeira; tem de engoli - 
la, carnavalizá-la e fazer uma reciclagem para objetivos nacionais. 
‘Antropofagia’, nesse sentido, é um outro nome para o que Kristeva, traduzindo 
Bakhtin, chamou de ‘intertextualidade’ e que o próprio Bakhtin chama de 
‘dialogismo’ e carnavalização. (STAM, 1992, p. 49) 
Nesse sentido, a carnavalização como resistência apresenta-se no plano 
estético e textual assim como no plano social:
[O carnaval é] uma celebração coletiva que funciona como um modo de 
resistência simbólica, da parte da maioria marginalizada dos brasileiros, às 
hegemonias internas de classe, raça e gênero. Para Da Matta, o carnaval é o 
lócus privilegiado da inversão. Todos os que foram socialmente marginalizados 
invadem o centro simbólico da cidade (Idem, Ibidem, p. 50.) 
E, mais adiante, afirma que “A lógica do carnaval é a do mundo de 
pernas para o ar, onde se zomba dos poderosos e onde reis são entronizados e 
depostos” (Idem, Ibidem. p. 52) 
A carnavalização é a principal forma de subversão do oprimido contra o 
discurso oficial do dominador e é amplamente utilizada pela Tropicália e, mais 
especificamente, pelos Secos e Molhados. 
Nesse ponto, cabe ainda ressaltar o diálogo do texto com a tradição 
literária colonial, marcadamente o Barroco. Esse diálogo é já evidente na 
linguagem medievalista do texto, mas pode ser aprofundado observando-se 
algumas características barrocas dentro do poema em análise. Uma delas é o 
exagero das imagens. Tal característica é evidenciada não só nas imagens 
exóticas e grotescas, mas também com a utilização do conceptismo, recurso que 
cria um jogo verbal, o qual se estende a um jogo de idéias antitéticas. Assim, os 
números quatro e quatrocentos se referem ao exagero do poder: o quatro a 
riqueza que atrai, o quatrocentos a tirania que oprime. E, desse jogo de idéias 
antitéticas que desvela a decadência daquilo que é grandioso através da ironia 
e da paródia, resulta a resistência. Gregório de Matos é um baluarte dessa 
prática, com suas elaboradas sátiras ao governo colonial antecipou a 
Antropofagia oswaldiana, quando parafraseou o poema “Triste Tejo” do 
português Francisco Rodrigues Lobo em seu ácido “Triste Bahia”. 
Dessa forma, nota-se também, o aspecto metalinguístico de “El Rey, 
pois evidencia a atitude do artista Latino Americano, que, ao tomar consciência 
de seu subdesenvolvimento, não se isola da cultura dominante, símbolo do poder 
colonial outrora, e neo colonial atualmente, e sim devora-a, parodia e 
dessacraliza, impondo sua resistência.
Intertextualidade Manuel Bandeira e Millôr 
Fernandes (Pasárgada) 
Vou-me embora de Pasárgada 
Sou inimigo do rei 
Não tenho nada que quero 
Não tenho e nunca terei 
Vou-me embora de Pasárgada 
Aqui eu não sou feliz 
A existência é tão dura 
As elites tão senis 
Que Joana, a louca da Espanha 
Ainda é mais coerente 
Do que os donos do país. 
(Millôr Fernandes. Folha de S. Paulo, 
março/2001) 
Vou-me embora pra Pasárgada 
Lá sou amigo do rei 
Lá tenho a mulher que eu quero 
Na cama que escolherei 
Vou-me embora pra Pasárgada 
Vou-me embora pra Pasárgada 
Aqui eu não sou feliz 
Lá a existência é uma aventura 
De tal modo inconsequente 
Que Joana a Louca de Espanha 
Rainha e falsa demente 
Vem a ser contraparente 
Da nora que nunca tive. 
(Manuel Bandeira. “Bandeira a Vida Inteira”. 
Editora Alumbramento – Rio 
de Janeiro, 1986, pág. 90) 
Pasárgada, poesia de Manuel Bandeira (que é um poema conhecido, 
consagrado, um cânone) e uma releitura do mesmo poema realizada por Millôr 
Fernandes. Manuel Bandeira é da Primeira Geração Modernista e sua 
característica é uma linguagem renovada ao falar do cotidiano. As lentes líricas 
de Manuel Bandeira transformam cenas banais do dia-dia em poesia "é o olhar 
terno para o cotidiano". Segundo o próprio autor, o poema "veio" na sua primeira 
vez, na adolescência quando traduzia textos em latim e nestes textos Ciro estava 
construindo uma casa de veraneio e o nome era Pasárgada, que significa campo 
dos persas. Então sua imaginação começou a tentar criar este lugar, como seria 
Pasárgada. Mas foi na vida adulta, cansado da vida, vindo do trabalho que o 
autor falou: "Vou-me embora pra Pasárgada!" e o poema veio inteiro. A 
Pasárgada de Manuel Bandeira é uma cidade imaginária que o eu- poético 
idealiza como um lugar perfeito e onde tudo pode ser realizado. A voz que fala 
está desapontada, sem esperanças e cansada da sua realidade e usa a fuga 
para o seu imaginário onde fica uma cidade em que todos os seus desejos serão 
realizados. Em Pasárgada o eu poético é amigo do rei, a autoridade maior do
lugar e consequentemente tudo que quiser ou que desejar estará ao seu dispor, 
pois no verso "Aqui eu não sou feliz" fala claramente que no mundo real é infeliz. 
A ausência de leis ou regras a cumprir, a liberdade sexual para ter a mulher que 
quiser e "um processo seguro contra concepção" refletem o desejo de realizar 
coisas que no seu "mundo" real não são possíveis. Bem como o uso de drogas 
"à vontade", é mais um desejo que só em Pasárgada pode ser realizado. E ainda 
há a referência dos contraceptivos que funcionam e portanto não há motivos 
para preocupação com gravidez indesejada em Pasárgada. Outro fato 
interessante é o fato do eu poético tratar de forma idílica as prostitutas no verso 
"pra gente namorar", termo só usado para as "moças de família", é como se 
fosse uma forma de respeito também. Tudo é tão subversivo em Pasárgada, que 
o parentesco também "quebra sua ordem" e Joana a Louca da Espanha é a 
contraparente da nora que ele nunca teve! A rainha espanhola Joana, era uma 
mulher a frente de seu tempo, inteligente, ousada, que não se conformava em 
ficar sem fazer nada, queria governar, realizar coisas...E ainda amava seu 
marido, o rei Felipe "O Belo", e demonstrava isso em uma época de casamentos 
arranjados para juntar fortunas, não era comum e até "loucura" demonstrar amor. 
Outra "imagem" existente no poema é a infância do autor que foi privado da 
liberdade das brincadeiras infantis e em Pasárgada ele realiza o sonho de tomar 
banho de rio, banho de mar, subir em pau-de-sebo, montar à cavalo e ouvir as 
histórias de Rosa, sua babá, que é homenageada no poema. E quando estiver 
triste, com vontade de se "matar", há a fuga para Pasárgada, lá tudo é possível, 
lá "sou amigo do rei". A Pasárgada de Millôr Fernandes é o retrato do desencanto 
com a situação política e econômica brasileira, pode-se afirmar que o autor fala 
do Brasil devido a semelhança dos fatos narrados com os problemas do nosso 
país. No primeiro verso do poema, que também é o título, em vez do eu poético 
ir para Pasárgada, seu desejo é de ir embora de Pasárgada. E então se inicia o 
poema com a crítica social a esta cidade imaginária que é a representação do 
pessimismo diante da realidade da vida. Após o primeiro verso, que é a repetição 
do título do poema, o eu lírico afirma que é inimigo do rei, informação contrária 
ao poema de Manuel Bandeira. E ser inimigo do rei significa também não aprovar 
as atitudes desta pessoa, no caso, pode-se entender que a referência é feita ao 
presidente do país, que é a nossa autoridade máxima. Nos versos seguintes em 
que o eu poético afirma que a existência é dura, as elites são senis e que não
tem e nem nunca terá nada do que deseja, podemos confirmar o seu sentimento 
de revolta e pessimismo diante da situação caótica de Pasárgada. No verso 
"Aqui não sou feliz" que é o mesmo verso de Manuel Bandeira em Pasárgada, 
mas há a diferença de sentido atribuído que para um significa a realidade com a 
perspectiva de ser feliz em Pasárgada e para o outro o eu poético é a realidade 
do seu sentimento e sem ter nenhuma opção de fuga para a felicidade. A rainha 
espanhola Joana, no verso de Millôr Fernandes, mesmo com toda sua "loucura" 
é mais "coerente do que os donos do país". O contexto social brasileiro é 
denunciado no poema ao se referir, também, na forma como a polícia age 
"baixando o pau", ou seja, com violência, o exercício que o trabalhador tem 
tempo para fazer é nos velhos trens, lotados, a caminho e na volta do trabalho. 
A voz que fala está angustiada que fala está cansada do país em que tudo a 
revolta, sem esperança, que já comprou ida sem volta e diz "Aqui não quero 
ficar", não tem nada, nem mesmo a recordação. Está muito claro seu sentimento 
e o que quer dizer, não há metáforas ou outro meio de disfarçar o que quer 
transmitir, o poema é muito objetivo. E a outra crítica social que há no texto 
poético é sobre a alta taxa de natalidade, a falta de planejamento familiar que é 
uma das causas do aumento desordenado da população. O Estado não 
consegue alimentar, abrigar e educar tanta gente. E é nos versos "Nem a fome 
e doença, Impedem a concepção" que estes fatos podem ser relacionados. E 
ainda fazendo uma comparação entre o poema e a realidade brasileira e até 
mundial, o telefone não telefona: como está sendo o serviço prestado pelas 
operadoras de telefone fixo e móvel? 
Não é atual esse tema? E preços altos, linhas cruzadas, clonadas, fora 
de área... 
No verso "A droga é falsificada" é também um fato contemporâneo que 
se confirmava imprensa escrita, televisiva e outras fontes que atualmente 
falsifica-se inclusive drogas, que são misturadas com produtos químicos para 
render, não há mais droga pura. 
Em se falando de prostitutas aidéticas é outro retrato atual. 
A expansão do vírus da AIDS, que embora não tenha mais tanta vez na 
mídia, está aí e é preocupante. E mesmo assim, a "geração do ficar" não parece 
preocupada com isso.
Finalizando, a tentativa de interpretar um poema claro como este, 
percebemos as características contemporâneas no texto de Millôr Fernandes, 
com a presença da crítica social e humor sarcástico para denunciar os problemas 
sociais e políticos que presenciamos nessa época de mensalão, juízes presos, 
memórias de Bruna Surfistinha, cracolândia, chacinas... 
O autor está ou não está falando da realidade? 
Resenha Sociedade dos Poetas Mortos 
O filme sociedade dos poetas mortos, dirigido por Peter Weir é um drama 
vivido na Academia Welton no ano 1959, nos Estados Unidos. Uma escola 
tradicional de segundo grau, que aplica um ensino rígido como na academia 
militar e adota uma concepção didática racionalizada com prospecção para 
formação superior. 
No início do filme, uma solenidade de abertura do ano letivo, onde os 
alunos adentram o auditório com trajes formais exibindo os brasões, a farda e o 
comportamento sisudo exigido pela escola. Na plateia, os pais e funcionários 
acompanham o hino exaltando a herança histórica e os legados da colonização. 
O discurso formal do diretor Nolan(Norman Lioyd), enfatizando os cem anos da 
escola e o orgulho estribado nos quatro pilares, que ainda garantiam o sucesso 
daquela instituição: Tradição; Honra; Disciplina; Excelência. A menção desses 
princípios empolga muito os pais de alunos no auditório, pois sabem que ali as 
chances são bem maiores de seus filhos ingressarem em curso superior e a 
garantia de um futuro promissor. 
A apresentação do novo professor John Keating (Robin Willins) que já 
fora aluno dessa escola. 
Na sua primeira aula, o professor Keating inicia a leitura com uma frase 
de um poema de Walt Whitman a respeito de Abraham Lincoln: “Meu Capitão, 
Meu Capitão”, o que se pode entender teria chamado assim também seu mestre 
que o inspirou. Pede aos alunos que leiam o primeiro verso do poema “Às virgens 
para aproveitar o tempo” da página 542 do livro de hinos:
“Pegue seus botões de rosas enquanto podem...”. O professor explica 
que o termo em latim para esse termo é Carpe Diem - Aproveite o dia. Viver cada 
dia intensamente como se fosse o último. 
Na aula seguinte, solicita a leitura da introdução do livro: “Entendendo a 
Poesia”. O texto diz que a poesia pode ser demonstrada com gráfico matemático, 
não parece ser aplicação da interdisciplinaridade, mas apenas um método 
antiquado de olhar a poesia. Keating pede que arranquem essa e outras páginas 
semelhantes. Diz ele: “Poesia é para ser vivida e não calculada”. Que não 
pensem como são mandados, mas pensem por si mesmos. Com certa 
dificuldade consegue convencê-los. O professor sobe na mesa, pede aos alunos 
que subam também e vejam de forma diferente. Ver de outro ângulo, por si 
mesmos e não apenas como são induzidos. 
O professor Keating é do tipo que entra na sala assoviando; Descontrai 
os alunos; Leva-os para aulas ao ar livre; Pede que façam poesias espontâneas; 
Incute neles o desejo de viver cada momento intensamente. Adota um estilo 
divergente da escola tradicional. Leva os alunos a uma nova forma de ver as 
coisas. 
Os alunos começam a tomar gosto pela literatura e a perceberem a 
sensação de viver a poesia. Sentem o ambiente, que aliás é propício para aulas 
ao ar livre. O ambiente evoca a tradição inglesa: Árvores altas, extensos jardins, 
a exuberância da natureza, espaços bem definidos. Os alunos se sentem à 
vontade com o professor Keating, deixam fluir suas inspirações. As aulas 
começam a produzir efeitos. 
Neil Perry (Robert Sean) um dos alunos, descobre o anuário do 
professor Keating e o questiona sobre o que seria a Sociedade dos Poetas 
Mortos, da qual ele fazia parte. O professor hesita, mas fala dos hábitos e do 
local secreto onde costumavam se reunir para ler poesia. Isso foi o bastante para 
aguçar a curiosidade no grupo, que nas horas de folga com facilidade 
conseguiam chegar até a caverna onde principiaram suas primeiras leituras 
ainda tímidas.Tomaram gosto e as idas até lá viraram o hobby preferido deles, 
às vezes até as garotas também participavam. 
Essa nova sensação despertou em Neil o gosto pela dramatização e 
resolveu se inscrever para uma peça de teatro, onde concorreu e conseguiu o
papel principal. Empolgado contou aos colegas, mas não conseguiu o apoio do 
pai. Ficou muito triste. Pediu a opinião do professor Keating, que o aconselhou 
a ser aberto com seu pai. Neil não tem liberdade para se expressar. Seu pai, é 
um linha dura, que não abre mão dos seus princípios e lhe nega o 
consentimento. Neil forja uma autorização da escola com assinatura falsa do 
diretor. Saiu-se bem na peça. Festejou o sucesso da apresentação. Recebeu os 
aplausos do auditório. O abraço dos colegas e amigos, mas teve de suportar a 
dura chamada do pai. A gota d’água para sua decepção com relação à futura 
carreira. Desanimou totalmente. Desistiu de viver. A arma do próprio pai foi seu 
carrasco. Aquela noite de glória foi também de caos. Entrou definitivamente para 
a sociedade dos poetas mortos, mas de forma trágica. O tão entusiasmado Neil, 
agora deixa tristeza na família, na escola, nos colegas e amigos. É a notícia do 
momento. Assunto dos corredores. A escola não iria perder sua reputação. O 
diretor tem de punir alguém. Não poderia ser outro: O professor Keating, seria 
demitido. Convoca os alunos do professor Keating e interroga-os, quer saber 
quem faz parte da sociedade. Terão de renunciar e assinar o termo de 
responsabilidade. Os pais estão presentes e certificam-se de que tal professor 
não lecionará mais ali. Os jovens não têm escolha. Grande é a sua dor em ter 
de separar-se do professor. As aulas voltarão a ser com antes dele. O diretor 
assume a sala. Todos terão de pagar as matérias atrasadas. Rever o assunto 
antes refutado. 
O professor Keating entra na sala para pegar suas coisas no armário. 
Será o último encontro com aqueles alunos. Ao sair, mesmo sem se despedir, 
Anderson um dos alunos, com uma atitude inusitada, sobe na carteira, e 
exclama: Meu capitão! Esse era o apelido carinhoso que lhe deram. Os outros 
imitam. O diretor que está lecionando perde o domínio da sala. O professor 
keating agradece, pois sabe, mesmo não podendo mais continuar ali, leva a 
certeza de que algo ficou marcado naqueles garotos. 
A conclusão desse episódio é que o filme Sociedade dos Poetas Mortos 
mostra uma crítica à educação tradicional, onde o aprendizado acontece de 
forma mecânica: O professor fala, o aluno ouve. O discente não inclui suas 
experiências do dia-a-dia no processo de aprendizagem. O professor Keating 
rompe com o tradicional e mostra um novo ideal pedagógico no qual a relação
entre professor e aluno deve ter uma vivência democrática e interativa de forma 
espontânea, permitindo ao aluno poder extrair o melhor de si. 
Carpem Die Sociedade dos Poetas Mortos 
“Mas se você escutar bem de perto, você pode ouvi-los sussurrar o seu 
legado. Vá em frente, abaixe-se. Escute, está ouvindo? - Carpe - ouve? - Carpe, 
carpe diem, colham o dia garotos, tornem extraordinárias as suas vidas." 
Nesta cena do filme o Prof. Keating está em frente a uma galeria de fotos 
de ex-alunos que formaram na tradicional escola Welton, ele pede para que os 
alunos se aproximem da galeria para ouvirem o espirito de seus predecessores 
a dizer: "carpe diem"1. 
1 Carpe diem é uma expressão em latim que significa "aproveite o dia". Essa é a tradução literal, e não 
significa aproveitar um dia específico, mas tem o sentido de aproveitar ao máximo o agora, apreciar o 
presente.
Intertextualidade Triste Bahia! Ó quão dessemelhante (Gregório de 
Matos) e Triste Bahia (Caetano Veloso) 
Triste Bahia 
Caetano Veloso 
*A primeira estrofe da música é parte do 
poema homônimo de Gregório de 
Mattos 
Triste Bahia, oh, quão dessemelhante 
estás 
E estou do nosso antigo estado 
Pobre te vejo a ti, tu a mim empenhado 
Rico te vejo eu, já tu a mim abundante 
Triste Bahia, oh, quão dessemelhante 
A ti tocou-te a máquina mercante 
Quem tua larga barra tem entrado 
A mim vem me trocando e tem trocado 
Tanto negócio e tanto negociante 
Triste, oh, quão dessemelhante, triste... 
Pastinha já foi à África 
Pastinha já foi à África 
Pra mostrar capoeira do Brasil 
Eu já vivo tão cansado 
De viver aqui na Terra 
Minha mãe, eu vou pra lua 
Eu mais a minha mulher 
Vamos fazer um ranchinho 
Tudo feito de sapê, minha mãe eu vou 
pra lua 
E seja o que Deus quiser 
Triste, oh, quão dessemelhante 
Ê, ô, galo canta 
O galo cantou, camará 
Ê, cocorocô, ô cocorocô, camará 
Ê, vamo-nos embora, ê vamo-nos 
embora camará 
Ê, pelo mundo afora, ê pelo mundo afora 
camará 
Ê, triste Bahia, ê triste Bahia, camará 
Bandeira branca enfiada em pau forte 
Afoxé leî, leî, leô 
Bandeira branca, bandeira branca 
enfiada em pau forte 
O vapor da cachoeira não navega mais 
no mar 
Triste recôncavo, oh, quão 
dessemelhante 
Maria pegue o mato é hora, arriba a saia 
e vamo-nos embora 
Pé dentro, pé fora, quem tiver pé 
pequeno vai embora 
Oh, virgem mãe puríssima 
Bandeira branca enfiada em pau forte 
Trago no peito a estrela do norte 
Bandeira branca enfiada em pau forte
Triste Bahia! Ó quão dessemelhante 
Gregório de Matos 
Triste Bahia! Ó quão dessemelhante 
Estás e estou do nosso antigo estado! 
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado, 
Rica te vi eu já, tu a mi abundante. 
A ti trocou-te a máquina mercante, 
Que em tua larga barra tem entrado, 
A mim foi-me trocando e tem trocado 
Tanto negócio e tanto negociante. 
Deste em dar tanto açúcar excelente 
Pelas drogas inúteis, que abelhuda 
Simples aceitas do sagaz Brichote. 
Oh quisera Deus que de repente 
Um dia amanheceras tão sisuda 
Que fora de algodão o teu capote! 
No soneto, Gregório de Matos lamenta o estado de sua cidade, outrora 
rica, agora pobre. Há a personificação da cidade, por o eu-lírico se identificar 
com sua condição/a ti trocou-te e a mim foi me trocando. A condição de miséria 
da cidade se deve ao fato de ela se dar ao estrangeiro/brichote. O desfecho do 
poema possui teor moralizante, já que o poeta propõe como saída o retorno da 
cidade á condição de humildade, desejando – por Deus! – vê-la em simples 
capote de algodão, desprovida da sedutora seda. 
Gravado integralmente em Londres, em1972, Transa é o terceiro 
trabalho solo de Caetano Veloso. Marcante pela mistura de ritmos e de 
referências culturais e literárias, o disco traz em Triste Bahia uma analogia do 
compositor com o Boca do Inferno – ambos perseguidos. Na letra, Caetano 
Veloso destaca aspectos culturais – Mestre Pastinha, responsável pela difusão 
da capoeira na África e perseguido pelos militares - musicais e literárias – para 
lamentar a perda da identidade de sua terra. 
A música inicia com alguns versos de Triste Bahia (Gregório de Mattos). 
Apesar da grande diferença de épocas entre Gregório e Caetano, ambos criticam 
a Bahia com o mesmo poema: Gregório num cenário econômico, quando itens 
de necessidade eram trocados por especiarias europeias e Caetano no cenário 
político da Ditadura Militar. 
Máquina mercante na música de Caetano refere-se à Ditadura. 
A partir do trecho "Pastinha já foi à África", Caetano adiciona seus 
próprios versos à música.
Durante a Ditadura Militar, a capoeira foi marginalizada e perseguida. 
Caetano faz uma citação ao mestre Pastinha, capoeirista que visitou a África 
para mostrar a capoeira brasileira. Caetano faz um jogo com o acontecimento e 
a época dizendo que Pastinha preferiu ir à África à ficar no Brasil. 
Caetano sempre cita uma fuga da Ditadura, como quando diz querer ir 
morar na lua e "Vamo-nos embora pelo mundo afora, camará. Triste Bahia 
camará" ou "Maria pegue o mato é hora, Arriba a saia e vamo-nos embora". E 
"Bandeira branca enfiada em pau forte" significa um pedido de paz, de fim da 
Ditadura Militar. 
Da poesia barroca, identifica-se o hipérbato, ou seja, a troca da ordem 
direta dos termos da oração, a antítese, que consiste na exposição de ideias 
opostas e a obsessão pela linguagem culta, característica barroca. 
Sermão de Santo Antônio aos Peixes 
Resumo 
O sermão foi proferido em São Luís do Maranhão em 13 de junho de 
1654, dia de Santo Antônio e três dias antes da partida de Vieira para Portugal, 
onde pretendia interceder em favor dos índios diante das autoridades 
portuguesas. O sermão é construído em forma de alegoria, dirige-se aos peixes 
mas, na verdade, fala aos homens. 
O texto está dividido em seis partes. A primeira delas é o exórdio, ou 
introdução, na qual faz o chamamento "Vós sois o sal da terra". Os pregadores 
são o sal da terra, cabendo ao sal impedir a corrupção. Mas na terra não lhes 
dão ouvidos, por isso voltam-se para o mar, onde estão os peixes. Há também 
a invocação da Virgem Maria. 
Nas partes II a V temos o desenvolvimento do sermão. Antônio Vieira 
exalta as qualidades dos peixes, como a obediência, e repreende os vícios, como 
a soberba e o oportunismo. Deve-se destacar aí a citação de diversos tipos de 
peixes. As virtudes são descritas nos peixes de Tobias, Rémora, Torpedo e 
Quatro-Olhos. Já os defeitos estão nos seguintes peixes: Roncadores, 
Pegadores, Voadores e no Polvo. O principal defeito apontado é a voracidade,
já que os peixes devoram uns aos outros, e, pior ainda, os maiores devoram os 
menores. 
A última parte é a peroração, ou conclusão, na qual Vieira exalta os 
peixes que, por sua natureza, não podem ser sacrificados vivos a Deus e 
sacrificam-se então, em respeito e reverência. Confessando-se pecador, o 
orador se despede com uma oração de louvor a Deus. 
Contexto 
 Sobre o autor 
Antônio Vieira é o maior representante da prosa barroca no Brasil e o 
maior orador sacro do Brasil-Colônia. Nascido em Portugal, veio para o Brasil 
ainda criança e estudou no Colégio dos Jesuítas, em Salvador. 
Importância do livro 
Os sermões do Padre Vieira são o melhor exemplo do Barroco 
Conceptista no Brasil. São textos que usam a retórica, com jogos de ideias e 
palavras, para convencer os leitores (no caso, os assistentes) pelo raciocínio, 
mais que pela emoção. No Sermão de Santo Antônio aos Peixes, além de exaltar 
a necessidade da pregação, Vieira usa a alegoria dos peixes para criticar a 
exploração do homem pelo homem e, mais especificamente, para condenar a 
escravidão indígena. 
 Período histórico 
Na época em que o sermão foi escrito, 1654, Padre Antônio Vieira lutava 
contra a escravidão indígena e contra a exploração portuguesa. Logo depois do 
sermão, o Padre foi para Portugal interceder pelos índios. 
Análise 
No Sermão de Santo Antônio aos Peixes, Vieira junta sua devoção ao 
santo à preocupação que o levaria, dias depois da pregação, a fugir 
secretamente para Portugal: a questão da escravidão e dos maus tratos contra
os indígenas. A alegoria e a ironia são a chave de um discurso argumentativo 
que quer levar o ouvinte à reflexão. Ao mesmo tempo, a saudação inicial “Vós 
sois o sal da terra” é um chamamento à participação ativa na sociedade. 
A discussão sobre as virtudes e os vícios humanos passa 
necessariamente por uma preocupação social. A ideia de que peixes maiores 
comem os peixes menores, ou seja, que a grandeza de cada um na sociedade 
tem valor relativo, surge espantosamente à frente do seu tempo. Em plena era 
mercantil, o texto de Vieira, por meio da alegoria, desvenda para os colonos do 
Maranhão a realidade da competição proto-capitalista: são peixes grandes na 
colônia, pois escravizam os nativos, que consideram inferiores, porém, uma vez 
na metrópole, serviriam de alimento para outros peixes maiores, contra os quais 
não teriam defesa. 
Portanto, o texto de Vieira, datado do século XVII, traz para nós uma 
inquietante contemporaneidade, pois seus temas principais são a ganância 
humana e a corrupção da sociedade, assuntos mais do que presentes em nosso 
cotidiano. Por meio de sua linguagem finamente elaborada, Vieira nos faz refletir 
sobre os desafios da sociedade de seu tempo, nos ajudando também a pensar 
sobre a nossa realidade. 
Morte e Vida Severina 
RESUMO 
Na abertura da peça, o retirante Severino se apresenta à plateia e se 
dispõe a narrar sua trajetória. Sai do sertão nordestino em direção ao litoral, em 
busca da vida que escasseava em sua terra. Ao longo do caminho, mantém uma 
série de encontros com tipos nordestinos. Logo de saída encontra os irmãos das 
almas, lavradores encarregados de conduzir a um cemitério distante o corpo de 
um colega, assassinado a mando de latifundiários. Aos poucos, assiste à seca 
do rio Capiberibe, que Severino segue em sua viagem ao litoral. Passa por um 
lugarejo e ouve uma cantoria vinda de uma casa. Trata-se do canto de 
excelências, isto é, fúnebre, em honra a outro Severino morto. 
Com a morte definitiva do rio, Severino pensa em desistir de sua viagem, 
mas acaba por optar pelo prosseguimento. Assim, planeja instalar-se naquele
mesmo lugar. Conversando com uma moradora, percebe que nenhuma das 
atividades que poderia desempenhar – agricultura e pecuária – encontraria 
espaço ali, mas apenas aquelas ligadas à morte, como rezadeira e coveiro. 
Severino continua sua jornada e passa pela Zona da Mata, região de 
relativa prosperidade no interior do sertão. Encanta-se com a natureza 
verdejante do lugar, mas percebe ainda a presença da morte ao testemunhar o 
funeral de um lavrador que se realiza no cemitério local. Abandona o 
pensamento inicial de encerrar ali a busca que mantinha pela vida e continua 
sua viagem. 
Por fim, chega ao Recife, onde resolve descansar ao pé de um muro. 
Trata-se de um cemitério, e Severino escuta então o diálogo entre dois coveiros. 
Os trabalhadores conversam sobre o trabalho que lhes dão os retirantes que 
saem de suas casas sertanejas para morrer ali, fazendo-o ademais no seco e 
não no rio – o que lhes daria menos serviço e mais sossego. Diante desse novo 
encontro com a morte, Severino resolve entregar-se a ela e se matar, atirando-se 
em um dos rios que cortam a cidade. 
Ao se aproximar do rio, inicia um diálogo com José, mestre carpina 
(carpinteiro), morador ribeirinho. Pergunta-lhe se aquele ponto do rio era propício 
ao suicídio. O mestre responde positivamente, mas tenta convencer o retirante 
a não se atirar. Severino pede então que lhe dê uma única razão para não fazê-lo. 
A resposta do mestre é interrompida pelo anúncio do nascimento de seu 
filho. José o celebra com vizinhos e conhecidos, recebe os presentes pobres que 
lhe trazem, ouve as previsões pessimistas de duas ciganas a respeito do futuro 
da criança e, por fim, recordando-se da pergunta de Severino, dispõe-se a 
respondê-la. Afirma então que ele, José, não tem a resposta para a questão de 
saber se a vida vale ou não a pena, mas que o nascimento de seu filho funciona 
como resposta, representando a reafirmação da vida diante da morte. 
CONTEXTO 
 Sobre o autor 
João Cabral é o maior poeta da terceira fase modernista. Mais do que 
isso: forma, ao lado de Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira o trio 
de poetas mais importantes da nossa história. É o poeta da pesquisa formal, da
exatidão, da linguagem enxuta cuja matriz está, reconhecidamente, em 
Graciliano Ramos. 
 Importância do livro 
Em Morte e Vida Severina, sem abrir mão do rigor imagético e da síntese 
expressiva, João Cabral alcança uma comunicabilidade maior, talvez em função 
do fato de ter sido desafiado a escrever uma peça de teatro – destinada, 
portanto, a um público mais amplo do que aquele que sua poesia poderia 
alcançar. A abordagem do drama da seca é feita de tal forma a dialogar com o 
romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos, do qual funciona quase como 
continuação. 
 Período histórico 
Os anos 1950 se caracterizam na história brasileira pelo 
desenvolvimentismo do governo de Juscelino Kubitscheck. Trata-se de um 
período de grande entusiasmo cultural e intelectual, que atinge o campo da 
literatura em autores como Guimarães Rosa e Clarice Lispector, além do próprio 
João Cabral. 
ANÁLISE 
João Cabral classificou sua peça de auto de natal pernambucano, 
levando em conta tanto a forma popular dos versos curtos, comuns nos autos 
medievais, quanto a circunstância de tratar de um nascimento (natal) e de 
ambientar-se no sertão pernambucano. O título promove uma proposital 
inversão entre vida e morte, colocando esta em primeiro lugar. Essa troca da 
ordem natural indica os encontros com a morte e a vitória da vida, no final. 
 LEMBRETE 
Morte e Vida Severina é uma peça de teatro em versos. O autor resgata 
uma forma popular – os versos curtos – para tratar de um assunto que atingia 
particularmente o povo nordestino: a seca. 
Além disso, o nome próprio Severina é usado como adjetivo no título, 
sugerindo uma ampliação de sentido que é confirmada logo nas primeiras 
palavras do retirante, que, ao tentar se apresentar, evidencia que sua situação 
particular é, na verdade, uma metonímia do que ocorre com outros sertanejos, 
igualmente vítimas da seca. 
Em seu caminho em direção ao litoral, Severino alterna diálogos e 
monólogos. Os primeiros representam os encontros sucessivos com figuras
simbólicas da morte – irmãos de almas, carpideiras, rezadeiras, funeral –, 
inseridas no fundo social da peça, que é a disputa pela terra. Já os monólogos 
mostram as reflexões do retirante, que tenta redefinir seus rumos depois de cada 
diálogo. 
Os pontos culminantes da trajetória fatalista do retirante são a morte do 
rio cujo percurso ele acompanha até o litoral – representação de um meio que 
se rende à morte como o morador instalado nele – e o paradoxo do contato com 
ofícios que demonstram vitalidade justamente porque associados à morte – 
rezadeira, coveiro, farmacêutico etc. 
A chegada à cidade é a desilusão final do retirante. O diálogo travado 
entre os coveiros funciona como sua sentença de rendição à morte, ato máximo 
de seu desespero. Por outro lado, o nascimento de uma criança instala a 
contradição entre a opção de saltar fora da vida, desistindo dela e a alternativa 
de agarrar-se à existência e resistir à morte opressora. Nesse sentido, a 
simbologia da criança – para além de figurar o nascimento de Cristo, em sua 
condição de filho de carpinteiro – abarca a ideia da purificação, da limpeza de 
toda a podridão associada à morte. 
A peça não resolve a contradição, já que sua última fala é a do carpina 
propondo a vida a Severino, sem que se saiba a opção feita por este. No entanto, 
o título da peça, que propõe o encontro final com a vida, parece sugerir a vitória 
da resistência e da insistência na esperança. 
 O que é uma vida severina? 
'Vida severina' é uma vida dura, de labuta, dissabores, coragem, força e 
fé. 
 O que é morte severina? 
A história começa com um homem chamado Severino que, ao percorrer 
todo o sertão, em busca de trabalho só se depara com funerais de pessoas que 
morreram de fome, caracterizando a "morte severina", pois eram todos iguais, 
tanto na vida, como na morte, morrem sempre da mesma causa: a fome, 
provocada pela falta de recursos em decorrência da seca. Uma passagem do
livro que exemplifica bem a morte severino é quando o personagem Severino 
diz: 
Somos muitos Severinos 
iguais em tudo na vida: 
na mesma cabeça grande 
que a custo é que se equilibra, 
no mesmo ventre crescido 
sobre as mesmas pernas finas 
e iguais também porque o sangue, 
que usamos tem pouca tinta. 
E se somos Severinos 
iguais em tudo na vida, 
morremos de morte igual, 
mesma morte severina: 
que é a morte de que se morre 
de velhice antes dos trinta, 
de emboscada antes dos vinte 
de fome um pouco por dia 
(de fraqueza e de doença 
é que a morte severina 
ataca em qualquer idade, 
e até gente não nascida). 
 O que ser severino? 
Severino é uma metáfora para nordestino, que na maioria das vezes sai 
do sertão acreditando que no Recife, ou outras cidades nas quais a seca é mais 
branda, a vida pode ser melhor, mas em todo percurso ele vai percebendo que 
a vida Severina, independe do lugar, ou das condições climáticas. 
 Se a vida dos severinos é tão sofrida, com tantas dificuldades 
deve continuar sendo vivida? 
José, não tem a resposta para a questão de saber se a vida vale ou não 
a pena, mas que o nascimento de seu filho funciona como resposta, 
representando a reafirmação da vida diante da morte.
Resenha Filme "Xica da Silva" 1976 
O filme Xica da Silva (1976) foi dirigido por Cacá Diegues, grande 
cineasta brasileiro. Formou-se em Direito na Pontifícia Universidade Católica do 
Rio de Janeiro (PUC-RJ), mas seu amor pelo cinema falou mais alto. Dirigiu 
filmes como Ganga Zumba (1964), Bye Bye Brasil (1979) e Deus é Brasileiro 
(2003). Venceu inúmeros prêmios em variados festivais pelo mundo, como o 
Festival de Londres e de Cartagena. 
Xica da Silva é um filme de comédia baseado no livro homônimo de João 
Felício dos Santos. Narra a estória da escrava Francisca da Silva, mais 
conhecida como Xica, que se envolve com o contratador português João 
Fernandes, e causa grande alvoroço na cidade e até em Portugal. 
Xica da Silva é uma esperta escrava que serve ao Sargento-Mor e a seu 
filho, José, um rapaz rebelde que sonha com o fim da exploração. O maior desejo 
de Xica é ter a liberdade e ser tratada como “gente”, mas nunca é levada a sério, 
e sempre é vista como objeto sexual. 
Chega à cidade o Contratador João Fernandes de Oliveira, enviado pela 
Coroa para liderar a busca por diamantes. É tratado como um rei pela população 
e pelo interesseiro Intendente. Xica é outra que se interessa por ele, e consegue 
chamar sua atenção usando seu exotismo e sensualidade. Logo, vira amante de 
João Fernandes e tem todos os seus desejos realizados, até os mais 
extravagantes, sentindo-se uma rainha. A relação entre escrava e comendador 
é vista por maus olhos entre a “elite” da cidade, que acha uma grande burrice 
um homem rico e prestigiado gastar fortunas com uma escrava. 
Como passo final para sentir-se tratada como “gente”, Xica consegue 
sua carta de alforria, mas ao tentar entrar na igreja, é barrada por conta de sua 
cor da pele, o que a deixa furiosa. João Fernandes lhe dá um palácio e um navio 
para ratificar que ela é uma rainha, e tais atitudes são denunciadas ao rei de 
Portugal. 
O rei de Portugal envia o Conde de Valadares para inspecionar o 
trabalho do Contratador. Sua chegada causa medo em João Fernandes, que 
teme ter que voltar a Portugal, e por isso, enche o Conde de presentes como
meio de “amansá-lo”. Logo, Xica percebe que presentear Valadares não está 
funcionando e tenta criar um exército, com ajuda de Teodoro, um garimpeiro 
ilegal, mas ele acaba sendo pego por Valadares e seus capangas. Como última 
cartada, a dama do contratador oferece um banquete africano ao Conde, que 
fica furioso. João Fernandes é obrigado a voltar a Portugal, deixando sua amante 
na colônia. Xica vê seu prestígio e poder se diluir com a partida forçada de seu 
companheiro. Volta a ser anônima. 
O filme de Cacá Diegues é comédia de forte apelo popularesco com 
personagens estereotipados e até exagerados. Na primeira cena, um dos 
personagens diz ao Contratador “Somos artistas e não nos metemos com 
política”. Tal fala parece ser um recado para a censura militar da época com o 
intuito de frisar que o filme ali produzido não tocará no assunto política. Mas, 
claro que Diegues não deixaria de fazer sua crítica, para tanto, usa o 
personagem José, interpretado por Stepan Nercessian, um jovem que é contra 
a exploração vivida pela colônia. Em um momento, diz “O povo gosta de quem 
os explora”. José é da era colonial, mas suas ideias são atuais. Ele, como 
muitos, lutam contra a exploração do sistema. 
Zezé Motta foi feliz em sua interpretação como Xica da Silva, que, no 
filme, veio buscando sua liberdade e reconhecimento. Xica viu em João 
Fernandes o meio mais rápido de atingir seus objetivos. Ela queria ser 
reconhecida como um branco era reconhecido na sociedade, para isso, passou 
a se vestir, comer e frequentar os mesmos lugares que os brancos, mas não 
importava o que ela fizesse, sua cor de pele sempre estaria a frente na hora de 
ser julgada. Assim é a realidade, não importa o que as pessoas façam, sempre 
serão julgadas pela cor da pele, opção sexual, peso... Ao final do filme, quando 
seu amante vai embora, Xica, mesmo livre, é ainda tratada como escrava. 
Xica da Silva se passa na metade do Séc. XVIII e trata de questões como 
escravidão e extração de diamantes, além de ser uma adaptação de um livro de 
grande sucesso. Portanto é uma boa pedida para quem se interesse em estudar 
o período colonial do Brasil.
Romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles 
RESUMO 
Na Idade Média, romance era o nome que se atribuía a uma obra poética 
de caráter narrativo. Uma reunião de romances formava um romanceiro. O 
Romanceiro da Inconfidência narra a história da Conjuração Mineira, movimento 
revoltoso de 1789 promovido por colonos brasileiros que pretendiam tornar a 
região de Vila Rica (Minas Gerais) independente do domínio português. O 
sucesso poderia levar à utilização da riqueza produzida pelo ouro na própria 
região, acabando com a sangria monetária promovida pelos interesses 
metropolitanos. 
Em uma “Fala inicial”, o narrador, assumindo a primeira pessoa, 
manifesta a sensação imperativa de tornar pública a revolta que toma conta da 
colônia, o que funciona como justificativa para a própria obra. A partir daí, a 
história narrada é dividida em “Cenários”, obedecendo à ordem cronológica dos 
acontecimentos. 
Assim, o primeiro Cenário enquadra o desenrolar da febre do ouro na 
região: a busca enlouquecida pelo metal, a crescente intervenção das 
autoridades, a consequente luta dos colonos contra o poder instituído (como a 
Revolução de 1720, liderada por Felipe dos Santos), a prática do contrabando e, 
por fim, a presença ativa dos escravos na mineração. A atuação dos negros 
acabou por gerar a lenda do Chico-Rei, lendário negro que, enriquecido, 
dedicava-se a comprar a liberdade de outros, e a de Chica da Silva, a sedutora 
namorada de um rico minerador. Essa primeira parte da narrativa se encerra com 
o nascimento de Tiradentes (1746). 
O segundo Cenário é a cidade de Vila Rica. Esta parte retrata a vida 
local: a bucólica e pacífica poesia dos árcades convive com o crescimento do 
espírito de rebelião, que envolve um número cada vez maior de colonos. Surge 
o herói Tiradentes, o “animoso alferes”, e, ao mesmo tempo, aquele que viria a 
ser o traidor, Joaquim Silvério dos Reis. Espalha-se o terror, com a prisão dos 
envolvidos. 
Uma “Fala aos pusilânimes” serve como página de acusação aos 
traidores de todos os tempos e trata da consequência das prisões: a morte
suspeita do inconfidente e poeta Claudio Manuel da Costa, os padecimentos de 
Tomás Antônio Gonzaga, autor dos versos de Marília de Dirceu e o abandono a 
que é relegado Tiradentes, que acaba por assumir a culpa solitariamente. 
O Cenário seguinte mostra os desdobramentos da Inconfidência para 
seus participantes, destacando a relação de Gonzaga com Maria Joaquina, a 
Marília de seus poemas: ele se casa no exílio africano, enquanto ela sofre em 
terras brasileiras. 
O último Cenário relata as atitudes das autoridades portuguesas 
responsáveis pela punição dos revoltosos. Narra-se aqui ainda a morte de 
Marília. A obra termina com uma homenagem aos rebeldes (“Fala aos 
inconfidentes mortos”). 
CONTEXTO 
 Sobre o autor 
Cecília Meireles é bem o retrato da poesia de seu tempo. Tendo se 
destacado no resgate de recursos da estética simbolista, criando uma atmosfera 
difusa para explorar temas abstratos – como fizeram muitos poetas da época – 
também enveredou por caminhos mais concretos, como aqueles pertinentes à 
temática social – que atravessa igualmente a obra de muitos de seus 
contemporâneos. 
 Importância do livro 
Mesmo que destoe um pouco do sentido geral que a autora imprimiu à 
sua obra, o fato é que o Romanceiro da Inconfidência se tornou a obra mais 
conhecida de Cecília Meireles. De um lado, por apresentar uma linguagem mais 
clara e comunicativa; de outro, por tratar de um assunto familiar a muitos leitores. 
Seja como for, trata-se de grande poesia. 
ANÁLISE 
A fala que abre o livro, tratando da necessidade imperativa do canto, 
sugere uma concepção da arte como instrumento de eternização da ação 
humana. O Romanceiro assume, com essa proposição, uma postura de 
combate, opondo-se aos relatos produzidos pela história oficial – pelo menos 
aquela construída no período da Conjura. Essa oposição se dá de duas 
maneiras: em primeiro lugar, porque aqueles que a história oficial poderia 
conceber como traidores são vistos aqui como heróis; segundo, porque a 
narrativa de seus atos será feita de uma perspectiva lírica e não apenas factual
– como ocorre no “Romance X”, no qual a Inconfidência é vista da perspectiva 
de uma donzela: “Donzelinha, donzelinha / dos grandes olhos sombrios, / teus 
parentes andam longe, / pelas serras, pelos rios, / tentando a sorte nas catas, / 
em barrancos já vazios!”. 
 LEMBRETE 
Um evento histórico conhecido é abordado sob um prisma subjetivo, no 
qual a voz lírica se confunde com atores ou testemunhas do fato. Muitas vezes, 
explora-se a função apelativa da linguagem, isto é, aquela que é centrada no 
receptor da mensagem. Destacam-se ainda as analogias criadas pela autora. 
No entanto, é curioso verificar certa persistência de concepções 
maniqueístas – as mesmas que costumam fundamentar algumas produções da 
historiografia oficial, pródiga em criar heróis da pátria. Assim, no Romanceiro, 
reforça-se a imagem dos inconfidentes como vítimas de perseguições políticas 
e indivíduos antecipadores da independência brasileira. Particularmente, a figura 
de Tiradentes ganha destaque: mesmo com sua morte, a ideia libertária 
permanece, o que sugere o triunfo do heroísmo. Por outro lado, temos o 
estereótipo do vilão em Joaquim Silvério dos Reis, o traidor da causa 
inconfidente, que merece do Romanceiro a mesma verve acusatória que 
acabaria por receber da própria história. 
Embora essas ressalvas possam – e devam – ser feitas, é preciso 
sempre lembrar que a proposta da autora nunca foi produzir uma obra 
documental, mas lírica. Tal característica é comprovada pela insistência com que 
a voz poética assume a primeira pessoa, explicitando um olhar subjetivo mais 
próprio da poesia que da historiografia. Dessa forma, o livro conduz a um 
envolvimento mais lírico que ideológico. 
A própria linguagem da obra parece confirmar esse viés: Cecília resgata 
algumas expressões árcades, como ocorre no “Romance LIV ou Do enxova l 
interrompido”: “Sabeis, ó pastora, / daquele zagal / que andava num prado / 
sobrenatural?”. Convém lembrar que muitos poetas do arcadismo brasileiro se 
envolveram diretamente com a Inconfidência, como foi o caso de Claudio Manuel 
da Costa e Tomás Antônio Gonzaga – ambos referidos no Romanceiro. 
Por fim, é importante notar que a força dos versos do texto de Cecília 
Meireles é transcendental, isto é, vai além do tempo e do espaço referidos ali. 
Na obra, passado e presente dialogam de forma produtiva, de maneira a iluminar
questões que não dizem respeito apenas ao século XVIII da Inconfidência. Afinal, 
o livro trata de assuntos bastante atuais, como a ambição humana, a ação de 
traidores e a necessidade de se continuar lutando contra ambos. A “Fala aos 
pusilânimes”, por exemplo, que encerra uma das partes do livro, é dirigida aos 
traidores de todos os tempos, tratados ali por “vós”, o que sugere um olhar 
voltado para o presente. Assim, o Romanceiro aponta para um fato histórico 
isolado, mas estende suas reflexões para toda a história humana. 
Contexto político que deu origem à Inconfidência 
(o plano e porque fracassou) 
Na segunda metade do século XVIII, Minas Gerais entrou em fase de 
decadência econômica (jazidas de ouro esgotadas, mineiros empobrecidos, 
altos impostos sobre os mineradores). 
Em 1788, a Coroa Portuguesa nomeou o Visconde de Barbacena. 
Objetivo: aplicar a Derrama (cobrança dos impostos atrasados). 
Movidos pela revolta, importantes membros da elite econômica e cultural 
de Minas planejaram um movimento contra as autoridades portuguesas: a 
Inconfidência Mineira. 
Os planos dos inconfidentes eram: 
1) Libertar o Brasil de Portugal, criando uma república com capital em 
São João Del Rei. 
2) Adotar uma nova bandeira que teria um triângulo no centro com a 
frase latina: Libertas quae sera tamen (liberdade ainda que tardia). 
3) Desenvolver indústrias no País. 
4) Criar uma universidade em Vila Rica. 
Sem tropas, sem armas, sem a participação do povo, sem intenção de 
libertar os negros, sem o mínimo de organização, bastou que o coronel Joaquim 
Silvério dos Reis denunciasse os planos dos inconfidentes ao Governador de 
Minas Gerais para que o movimento fracassasse. 
Todos os participantes foram presos, julgados e condenados. Só 
Tiradentes (o mais pobre, o mais entusiasmado) teve sua pena de morte
mantida: na manhã de 21 de abril de 1792, numa cerimônia pública no Rio de 
Janeiro, foi executado. Em seguida, teve a cabeça cortada e o corpo 
esquartejado. 
Intertextualidade Cláudio Manuel da Costa e 
Vladmir Herzog 
Cláudio Manuel da Costa 
Sua morte está cercada de detalhes obscuros. Há mais de duzentos 
anos que o assunto suscita debates e há argumentos de peso tanto a favor como 
contra a tese do suicídio. Os partidários da crença de que Cláudio Manuel da 
Costa tenha se suicidado se baseiam no fato de que ele estava profundamente 
deprimido na véspera da sua morte. 
Isso está estampado no seu próprio depoimento, registrado na Devassa. 
Além disso, seu padre confessor teria confirmando seu estado depressivo a um 
frade que trouxe o registro à luz. Os partidários da tese de que Cláudio tenha 
sido assassinado, contestam tanto a autenticidade do depoimento apensado aos 
autos da Devassa, quanto a honestidade do registro do frade. 
Quem acredita na tese do assassinato se baseia em um argumento 
principal: o próprio laudo pericial que concluiu pelo suicídio. Pelo laudo, o 
indigitado poeta teria se enforcado usando os cadarços do calção, amarrados 
numa prateleira, contra a qual ele teria apertado o laço, forçando com um braço 
e um joelho. Muitos acreditam ser impossível alguém conseguir se enforcar em 
tais circunstâncias. 
O historiador Ivo Porto de Menezes relata que ao organizar antigos 
documentos relativos à Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto, 
em 1957 ou 1958, encontrou no livro de assentos dos integrantes da Irmandade 
de São Miguel e Almas, a anotação da admissão de Cláudio Manuel e à margem 
a observação de que havia "sufragado com 30 missas" a alma do falecido, e 
"pago tudo pela fazenda real". De igual forma procedera a Irmandade de Santo 
Antônio, que lançou em seu livro: "falecido em julho de 1789. E feitos os 
sufrágios." Relembra que havia à época proibição de missas pelos suicidas.
Também Jarbas Sertório de Carvalho, em ensaio publicado na Revista 
do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, defende com boa 
documentação a tese do assassinato. 
Há ainda quem acredite que o próprio governador, Visconde de 
Barbacena, esteve envolvido na conspiração e Cláudio teria sido eliminado por 
estar disposto a revelar isso. Mas o fato é que somente a tese do suicídio pôde 
se lastrear em documentos, ainda que duvidosos quanto a sua honestidade e 
veracidade, como bem salientam os adeptos da tese de assassinato. 
Júlio José Chiavenato lança um dado que reforça a tese da farsa 
montada do "suicídio" de Cláudio Manuel da Costa. Na tarde do mesmo dia em 
que o advogado é preso, são assassinados no sítio da Vargem a sua filha, o 
genro e outros familiares, bem como alguns escravos e roubados todos os seus 
bens. O Visconde de Barbacena só informou Lisboa da morte de Cláudio Manuel 
da Costa a 15 de julho, onze dias depois de ter ocorrido e quando dera 
conhecimento a Lisboa do seu interrogatório a 11 de Julho, sem nunca referir o 
facto. Se a morte do alferes (Tiradentes) não causaria embaraços em Lisboa a 
de Cláudio e da sua família poderia causar, daí a necessidade da farsa ser 
montada. 
Dez dias depois da sua morte, a população de Paris tomava a fortaleza 
da Bastilha, marcando o início do fim da dinastia dos gloriosos Luíses de França. 
Começava a tomar corpo então, um projeto político, sonhado pelo próprio 
Cláudio Manuel da Costa para seu país. Demoraria, no entanto, mais trinta anos 
para que o Brasil se tornasse liberto de Portugal. Cem anos a mais seriam 
necessários para a realização da segunda parte do sonho, a implantação do 
regime republicano no Brasil. 
Vladmir Herzog 
O Serviço Nacional de Informações recebeu uma mensagem em Brasília 
de que naquele dia 25 de outubro: "cerca de 15h, o jornalista Vladimir Herzog 
suicidou-se no DOI/CODI/II Exército". Na época, era comum que o governo 
militar divulgasse que as vítimas de suas torturas e assassinatos haviam 
perecido por "suicídio", fuga ou atropelamento, o que gerou comentários irônicos 
de que Herzog e outras vítimas haviam sido "suicidados" pela ditadura. O
jornalista Elio Gaspari comenta que "suicídios desse tipo são possíveis, porém 
raros. No porão da ditadura, tornaram-se comuns, maioria até." 
Conforme o Laudo de Encontro de Cadáver expedido pela Polícia 
Técnica de São Paulo, Herzog se enforcara com uma tira de pano - a "cinta do 
macacão que o preso usava" - amarrada a uma grade a 1,63 metro de altura. 
Ocorre que o macacão dos prisioneiros do DOI-CODI não tinha cinto, o qual era 
retirado, juntamente com os cordões dos sapatos, segundo a praxe naquele 
órgão. No laudo, foram anexadas fotos que mostravam os pés do prisioneiro 
tocando o chão, com os joelhos fletidos - posição em que o enforcamento era 
impossível. Foi também constatada a existência de duas marcas no pescoço, 
típicas de estrangulamento. 
Vladimir era judeu, e a tradição judaica manda que suicidas sejam 
sepultados em local separado. Mas quando os membros da Chevra kadisha – 
responsáveis pela preparação dos corpos dos mortos segundo os preceitos do 
judaísmo – preparavam o corpo para o funeral, o rabino Henry Sobel, líder da 
comunidade, viu as marcas da tortura. "Vi o corpo de Herzog. Não havia dúvidas 
de que ele tinha sido torturado e assassinado", declarou. Assim, foi decidido que 
Vlado seria enterrado no centro do Cemitério Israelita do Butantã, o que 
significava desmentir publicamente a versão oficial de suicídio. As notícias sobre 
a morte de Vlado se espalharam, atropelando a censura à imprensa então 
vigente. Sobel diria mais tarde: "O assassinato de Herzog foi o catalisador da 
volta da democracia". 
Anos depois, em outubro de 1978, o juiz federal Márcio Moraes, em 
sentença histórica, responsabilizou o governo federal pela morte de Herzog e 
pediu a apuração da sua autoria e das condições em que ocorrera. Entretanto 
nada foi feito. Em 24 de setembro de 2012, o registro de óbito de Vladimir Herzog 
foi retificado, passando a constar que a "morte decorreu de lesões e maus-tratos 
sofridos em dependência do II Exército – SP (Doi-Codi)", conforme havia sido 
solicitado pela Comissão Nacional da Verdade.
Quem sobe ao alto lugar, que não merece, 
Homem sobe, asno vai, burro parece, 
Que o subir é desgraça muitas vezes. 
Gregório de Matos
Bibliografia 
 http://folhab.blogspot.com.br/2012/05/musica-asa-branca-e-livro-vidassecas. 
html 
 http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Rela%C3%A7%C3%A3o- 
Entre-o-Livro-Vidas-Secas/31912297.html 
 http://literaturidade.blogspot.com.br/2012/05/graciliano-ramos-vidas- 
secas-e-luiz.html 
 http://revistakamikases.blogspot.com.br/2010_03_01_archive.html 
 http://jonesmatos.blogspot.com.br/2011/09/resenha-do-filme-sociedade- 
dos-poetas.html 
 http://pt.wikipedia.org/wiki/Carpe_diem 
 http://sabereslitbras1.wordpress.com/tag/gregorio-de-matos/ 
 http://www.vagalume.com.br/caetano-veloso/triste-bahia.html 
 http://www.guiadelinguagens.com.br/dicas-de-estudo/barroco-poesia- 
gregorio-de-matos/ 
 http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/ 
sermao-de-santo-antonio-aos-peixes.html 
 http://pt.wikipedia.org/wiki/Sermão_de_Santo_António_aos_Peix 
es 
 http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/ 
morte-e-vida-severina.html 
 http://www.coladaweb.com/resumos/morte-e-vida-severina-joao-cabral- 
de-melo-neto 
 http://loiroeinteligente.blogspot.com.br/2013/09/resenha-filme-xica- 
da-silva-1976.html 
 http://www.colegioweb.com.br/trabalhos-escolares/historia/crise-do- 
antigo-sistema-colonial/a-inconfidencia-mineira.html 
 http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/ 
romanceiro-da-inconfidencia.html
 http://www.franklinmartins.com.br/estacao_historia_artigo.php?tit 
ulo=cinco-poemas-de-gregorio-de-matos-o-boca-do-inferno-bahia- 
1682 
 http://pt.wikipedia.org/wiki/Vladimir_Herzog 
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Música asa branca e livro vidas secas Intertextualidade, Antropofagia e Tropicália, Intertextualidade Manuel Bandeira e Millôr Fernandes (Pasárgada), Resenha Sociedade dos Poetas Mortos e carpe diem,

  • 1. Escola Estadual Professora Beathris Caixeiro Del Cistia Trabalhos de Língua Portuguesa Nome: Wesley Germano Otávio Nº 41 Série: 3ºB
  • 2. Música Asa Branca e livro Vidas Secas abordam o contexto da seca no Nordeste Ser forte não significa apenas resistir, representa também a sabedoria de escolher a hora certa para se retirar em um momento de perigo. Muito conhecida é a seca que castiga o nordestino, fazendo com que esse povo deixe sua região em busca de condições de sobrevivência. O momento de retirada dessas pessoas inspira a arte brasileira. Entre elas a canção de Luiz Gonzaga, ''Asa Branca'' e a literatura de Graciliano Ramos, no livro ''Vidas Secas.'' A música foi lançada no ano de 1.947 e o livro em 1.938. Atualmente o êxodo diminuiu, mas ainda acontece. Como a natureza tem seus caprichos ''O sertão continuaria a mandar para a cidade homens fortes, brutos como Fabiano, Sinhá Vitória e os dois meninos. '' A família inteira sai a procura de um abrigo salvador. Na canção o personagem faz seu percurso sozinho, mas promete voltar, com o verde da plantação. Já em ''Vidas secas'', o receio do contato com uma cultura desconhecida e a tentativa de criar esperanças para vencer o caminho faz os personagens se dividirem entre a saudade da terra natal e a promessa de nunca mais voltar. Figuras presentes nas duas obras são os animais que também sofrem com a estiagem. A ave que dá nome a música Asa Branca partiu em busca de refúgio. Enquanto em ''Vidas secas'' a cachorra Baleia sofre e sonha com um osso cheio de tutano. A morte do gado serve como alerta para que os sertanejos consigam perceber o momento desfavorável. Tanto na música como na obra literária são apresentadas características da seca. Em ''Asa branca'' a terra é comparada com a fogueira, quente e vermelha, a mesma de ''Vidas secas'' , que logo no início apresenta como cenário uma planície avermelhada. O braseiro e o fornalho dão a dimensão do calor que Luiz Gonzaga quis retratar e Graciliano Ramos fala de uma manhã, sem pássaros, sem folhas e sem ventos. Asa Branca é um baião, que foi composto por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Na voz de Luiz Gonzaga, a música fez e ainda faz sucesso nacional e internacional. ''Vidas Secas'', de autoria de Graciliano Ramos, fala sobre a seca
  • 3. do nordeste e também da secura nos atos dos personagens, que precisam dessas atitudes para resistir aos muitos obstáculos, impostos pela natureza. Antropofagia e Tropicália Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud – a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama. Oswald de Andrade – Manifesto antropófago a alegria é a prova dos nove e a tristeza é teu porto seguro minha terra é onde o sol é mais limpo e mangueira é onde o samba é mais puro tumbadora na selva selvagem pindorama – país do futuro Gilberto Gil & Torquato Neto – Geléia geral “O Tropicalismo é um neoantropofagismo”: assim definiu Caetano Veloso, em entrevista concedida a Augusto de Campos , o movimento que ajudara a fundar e deflagrar.A explosão do Tropicalismo (ou Tropicália), se deu nos Festivais da Música Brasileira, no fim da década de 60, quando “Alegria, Alegria”, de Caetano Veloso e “Domingo no Parque” de Gilberto Gil chamaram a atenção da mídia e do público por trazerem uma proposta inovadora em suas letras e arranjos, misturando Rock’n’roll, música experimental de vanguarda e ritmos brasileiros. Pouco depois, seria lançado o LP Tropicália, do qual participaram Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Torquato Neto, Rogério Duprat, Os Mutantes, etc. Neste texto, procuraremos investigar mais afundo esse que é “antes de tudo um movimento dessacralizador. Irônico e parodístico” (SANTANA, 1977, p.
  • 4. 233), segundo nos diz Afonso Romano de Santana. Observar a importância deste movimento para a formação da (contra-) cultura brasileira no que se chama modernismo tardio ou pós-modernismo, e sua poética dessacralizadora que mescla o popular e o erudito, que incorpora o “canônico” a “cultura de massa” (ou vice-versa), que deglute os monumentos de cultura das fontes irradiadoras (seja do colonialismo ou neoimperialismo), carnavaliza-as e descentra sua influência. A partir daí, podemos observar as origens imediatas e remotas da Tropicália, que busca desde a tradição barroca, do já antropófago Gregório de Matos, retoma as propostas do modernismo de 22, principalmente as lançadas no “Manifesto Antropofágico” de Oswald de Andrade (“Tupy, or not Tupy...”) e, dessa forma, se relaciona com outros movimentos de vanguarda de sua época, como o Cinema Novo e o Cinema Marginal, o Poema-Processo, a Poesia Marginal, a psicodelia hippie, todos marcados pelo seu aspecto experimental e iconoclasta, que mescla elementos heteróclitos, de diferentes linguagens e contextos, para criar uma arte autêntica de caráter híbrido. É importante ressaltar que tudo isto se deu em plena ditadura militar, e a estética arrojada da Tropicália era também uma forma de velar uma crítica, dessa forma, o protesto social adquiria caráter estético, de maneira que forma e conteúdo se uniam em uma proposta revolucionária que extrapolava para o comportamento: as cores, roupas e danças, a libertação dos instintos e o caráter muitas vezes andrógino dos artistas dialogavam em um sistema de signos constituindo uma mensagem subversiva. O grupo Secos e Molhados surge pouco depois da deflagração da Tropicália. Formado por Ney Matogrosso, João Ricardo e Gerson Conrad, lançaram dois discos, o primeiro em 1973 e o outro em 1974, trazendo ainda as concepções estéticas do movimento, evidenciadas nas performances e visual pitorescas e na musicalização de poemas de Fernando Pessoa, Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Julio Cortázar resinificando estes textos transpondo-os para outra realidade histórico–social e retomando, ainda, a proposta de Mallarmé, de [re]junção entre música e poesia. Dessa forma, o Secos e Molhados talvez refine ainda mais a proposta tropicalista de transgressão estética e comportamental, trazendo em suas letras
  • 5. críticas veladas através de jogos intertextuais, confirmando em suas canções a equivalência entre os termos “antropofagia”, de Oswald de Andrade, “intertextualidade” de Kristeva e “dialogismo” ou “carnavalização” de Bakhtim, e o poder subversivo que essas práticas textuais assumem por meio da paródia, quando o dominado assume a força do discurso dominante para denunciar as próprias instituições de poder, onde o nivelamento da arte dita “elevada” e a arte “baixa”, popular, é uma forma de provocar e atacar a cultura oficial, elitista e colonizada, colocando a expressão da margem no centro da discussão e derrubando as hierarquias. Isto é, antropofagia e carnavalização são meios de inversão e resistência. Para melhor ilustrarmos essas afirmações, cabe partirmos para a análise de uma letra dos Secos e Molhados. Trata-se de “El Rey”, canção composta por Gerson Conrad e João Ricardo e lançada no disco de 1973: “Eu vi El Rey andar de quatro De quatro caras diferentes De quatrocentas celas Cheias de gente “Eu vi El Rey andar de quatro De quatro patas reluzentes De quatrocentas mortes... “Eu vi El Rey andar de quatro De quatro poses atraentes De quatrocentas velas Feitas duendes” Devemos observar, primeiramente, que o texto é permeado pela relação entre três ideias: Poder — decadência — resistência. El Rey é o signo do poder. A forma castelhana nos remete ao poder colonial: opulência, riqueza e dominação. Entretanto, o primeiro verso da canção diz: “Eu vi El Rey andar de quatro”. Neste verso entra também o elemento da decadência. O rei de quatro é a ridicularizarão do grandioso, e, quando no verso seguinte, lemos “quatro caras diferentes”, observamos que a palavra “cara” traz um sentido diferente de “face” ou “rosto”, pois, apesar de serem aparentemente sinônimos, a forma utilizada no
  • 6. texto é cotidiana, uma gíria comum em contextos informais e referente ao que é baixo, sem apresentar qualquer reverência ou respeito, então aqui a palavra “cara” aparece como índice se dessacralização. Quatro caras: o poder se apresenta de várias formas, muda as máscaras (as personas, como no teatro grego), transforma o discurso. Assim como em um teatro, o poder muda de máscaras, e, assim como em um carnaval, suas máscaras trazem o brilho da riqueza na forma de extravagância. E, como bem traduz o barroco, o grandioso e o grotesco — a opulência e a decadência — andam juntos. O índice do despotismo surge no verso seguinte: “De quatrocentas celas cheias de gente”. Aqui vemos que o poder se despersonaliza, muda de máscaras e de discursos, mas, seja o discurso colonial imperialista, seja o neoliberal pretensamente democrático, vemos as história dos vencedores marchando sobre os corpos dos vencidos, e a tirania aparece no fim desta primeira estrofe na forma da supressão da liberdade do outro. A estrutura da primeira estrofe se repete na seguinte, isto é, o estribilho inicial, no segundo verso, “patas reluzentes” aparece no lugar de “caras diferentes”, apresentando, contudo, a mesma estrutura morfológica: caras/patas, assim como diferentes/reluzentes, apresentam o mesmo número de sílabas, as silabas tônicas na mesma posição e as mesmas terminações, mantendo a cadência e a melodia do texto. Além disso, essa correspondência estrutural anuncia que também será mantida as relações de ideias, pios, “quatro patas reluzentes” podem referir-se tanto à imagem de uma montaria, símbolo de altivez cavalheiresca, ou às quatro patas do próprio rei. O reluzente da riqueza vem novamente associado ao rebaixamento da imagem grotesca do “rei de quatro”. Cabe aqui enfocarmos a peculiaridade da palavra “morte” dentro do texto. Como podemos observar, o poema é dividido em três estrofes, duas de quatro versos, e uma, à qual nos reportamos agora, de três. Porém, na cadência da música, o lugar do quarto verso da segunda estrofe fica vazio, ou melhor, é preenchido pelo silêncio. Silêncio expressivo. Os três pontos que seguem a palavra “morte” corroboram essa ideia. Assim, podemos compreender a morte como forma maior de violência e coação, a pena capital empreendida pelo poder, sobre a qual não se faz necessário o uso de nenhum adjetivo: diante da (ameaça
  • 7. de) morte, o coagido deve calar, não por respeito à autoridade, mas por medo de sua força. A terceira estrofe traz a mesma estrutura das anteriores: após o estribilho, surge, no segundo verso, “poses atraentes”, que se relaciona morfologicamente a “caras diferentes” e “patas reluzentes” reiteram a idéia da elegância atrativa ligada à imagem de riqueza ostentada pelo rei se relacionando à extravagância humorística, por meio da imagem caricatural atribuída à elegância e à riqueza na paródia carnavalizante. E nos dois últimos versos temos novamente o índice da dominação em “quatrocentas velas”. Num primeiro momento, o vocábulo “velas” pode ser visto como índice da dominação colonizadora se associado metonimicamente às caravelas que cruzaram o oceano subjugando povos. Por outro lado, “velas” pode também ser relacionado metonimicamente à morte. Visto por essa segunda perspectiva, a palavra “duentes”, presente no último verso, apresenta-se como uma chave de leitura por ilustrar como a resistência se integra no texto. Este ente fantástico, muito comum na mitologia céltica, é um símbolo de travessuras, de caráter semelhante aos sátiros da mitologia grega. Dessa forma, o duende é o que satiriza, ironiza, parodia, ridiculariza, ou seja, uma figura carnavalizante. As quatrocentas velas, quatrocentos mortos — políticos, culturais, etc. —, os vencidos e marginalizados dos centros de poder, erguem-se para novamente se opor, utilizando da carnavalização como instrumento de resistência. A carnavalização, apresentando-se como paródia, isto é, reescritura e transformação de outro texto, torna-se antropofagia quando o autor imerso em uma situação desfavorável, ou subdesenvolvida, como diz Antonio Candido, isto é, na situação de dominado, assume o texto do outro, do dominador, e o transforma. Dessa forma, como diz Robert Stam: O artista não pode ignorar a presença da arte estrangeira; tem de engoli - la, carnavalizá-la e fazer uma reciclagem para objetivos nacionais. ‘Antropofagia’, nesse sentido, é um outro nome para o que Kristeva, traduzindo Bakhtin, chamou de ‘intertextualidade’ e que o próprio Bakhtin chama de ‘dialogismo’ e carnavalização. (STAM, 1992, p. 49) Nesse sentido, a carnavalização como resistência apresenta-se no plano estético e textual assim como no plano social:
  • 8. [O carnaval é] uma celebração coletiva que funciona como um modo de resistência simbólica, da parte da maioria marginalizada dos brasileiros, às hegemonias internas de classe, raça e gênero. Para Da Matta, o carnaval é o lócus privilegiado da inversão. Todos os que foram socialmente marginalizados invadem o centro simbólico da cidade (Idem, Ibidem, p. 50.) E, mais adiante, afirma que “A lógica do carnaval é a do mundo de pernas para o ar, onde se zomba dos poderosos e onde reis são entronizados e depostos” (Idem, Ibidem. p. 52) A carnavalização é a principal forma de subversão do oprimido contra o discurso oficial do dominador e é amplamente utilizada pela Tropicália e, mais especificamente, pelos Secos e Molhados. Nesse ponto, cabe ainda ressaltar o diálogo do texto com a tradição literária colonial, marcadamente o Barroco. Esse diálogo é já evidente na linguagem medievalista do texto, mas pode ser aprofundado observando-se algumas características barrocas dentro do poema em análise. Uma delas é o exagero das imagens. Tal característica é evidenciada não só nas imagens exóticas e grotescas, mas também com a utilização do conceptismo, recurso que cria um jogo verbal, o qual se estende a um jogo de idéias antitéticas. Assim, os números quatro e quatrocentos se referem ao exagero do poder: o quatro a riqueza que atrai, o quatrocentos a tirania que oprime. E, desse jogo de idéias antitéticas que desvela a decadência daquilo que é grandioso através da ironia e da paródia, resulta a resistência. Gregório de Matos é um baluarte dessa prática, com suas elaboradas sátiras ao governo colonial antecipou a Antropofagia oswaldiana, quando parafraseou o poema “Triste Tejo” do português Francisco Rodrigues Lobo em seu ácido “Triste Bahia”. Dessa forma, nota-se também, o aspecto metalinguístico de “El Rey, pois evidencia a atitude do artista Latino Americano, que, ao tomar consciência de seu subdesenvolvimento, não se isola da cultura dominante, símbolo do poder colonial outrora, e neo colonial atualmente, e sim devora-a, parodia e dessacraliza, impondo sua resistência.
  • 9. Intertextualidade Manuel Bandeira e Millôr Fernandes (Pasárgada) Vou-me embora de Pasárgada Sou inimigo do rei Não tenho nada que quero Não tenho e nunca terei Vou-me embora de Pasárgada Aqui eu não sou feliz A existência é tão dura As elites tão senis Que Joana, a louca da Espanha Ainda é mais coerente Do que os donos do país. (Millôr Fernandes. Folha de S. Paulo, março/2001) Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconsequente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive. (Manuel Bandeira. “Bandeira a Vida Inteira”. Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, pág. 90) Pasárgada, poesia de Manuel Bandeira (que é um poema conhecido, consagrado, um cânone) e uma releitura do mesmo poema realizada por Millôr Fernandes. Manuel Bandeira é da Primeira Geração Modernista e sua característica é uma linguagem renovada ao falar do cotidiano. As lentes líricas de Manuel Bandeira transformam cenas banais do dia-dia em poesia "é o olhar terno para o cotidiano". Segundo o próprio autor, o poema "veio" na sua primeira vez, na adolescência quando traduzia textos em latim e nestes textos Ciro estava construindo uma casa de veraneio e o nome era Pasárgada, que significa campo dos persas. Então sua imaginação começou a tentar criar este lugar, como seria Pasárgada. Mas foi na vida adulta, cansado da vida, vindo do trabalho que o autor falou: "Vou-me embora pra Pasárgada!" e o poema veio inteiro. A Pasárgada de Manuel Bandeira é uma cidade imaginária que o eu- poético idealiza como um lugar perfeito e onde tudo pode ser realizado. A voz que fala está desapontada, sem esperanças e cansada da sua realidade e usa a fuga para o seu imaginário onde fica uma cidade em que todos os seus desejos serão realizados. Em Pasárgada o eu poético é amigo do rei, a autoridade maior do
  • 10. lugar e consequentemente tudo que quiser ou que desejar estará ao seu dispor, pois no verso "Aqui eu não sou feliz" fala claramente que no mundo real é infeliz. A ausência de leis ou regras a cumprir, a liberdade sexual para ter a mulher que quiser e "um processo seguro contra concepção" refletem o desejo de realizar coisas que no seu "mundo" real não são possíveis. Bem como o uso de drogas "à vontade", é mais um desejo que só em Pasárgada pode ser realizado. E ainda há a referência dos contraceptivos que funcionam e portanto não há motivos para preocupação com gravidez indesejada em Pasárgada. Outro fato interessante é o fato do eu poético tratar de forma idílica as prostitutas no verso "pra gente namorar", termo só usado para as "moças de família", é como se fosse uma forma de respeito também. Tudo é tão subversivo em Pasárgada, que o parentesco também "quebra sua ordem" e Joana a Louca da Espanha é a contraparente da nora que ele nunca teve! A rainha espanhola Joana, era uma mulher a frente de seu tempo, inteligente, ousada, que não se conformava em ficar sem fazer nada, queria governar, realizar coisas...E ainda amava seu marido, o rei Felipe "O Belo", e demonstrava isso em uma época de casamentos arranjados para juntar fortunas, não era comum e até "loucura" demonstrar amor. Outra "imagem" existente no poema é a infância do autor que foi privado da liberdade das brincadeiras infantis e em Pasárgada ele realiza o sonho de tomar banho de rio, banho de mar, subir em pau-de-sebo, montar à cavalo e ouvir as histórias de Rosa, sua babá, que é homenageada no poema. E quando estiver triste, com vontade de se "matar", há a fuga para Pasárgada, lá tudo é possível, lá "sou amigo do rei". A Pasárgada de Millôr Fernandes é o retrato do desencanto com a situação política e econômica brasileira, pode-se afirmar que o autor fala do Brasil devido a semelhança dos fatos narrados com os problemas do nosso país. No primeiro verso do poema, que também é o título, em vez do eu poético ir para Pasárgada, seu desejo é de ir embora de Pasárgada. E então se inicia o poema com a crítica social a esta cidade imaginária que é a representação do pessimismo diante da realidade da vida. Após o primeiro verso, que é a repetição do título do poema, o eu lírico afirma que é inimigo do rei, informação contrária ao poema de Manuel Bandeira. E ser inimigo do rei significa também não aprovar as atitudes desta pessoa, no caso, pode-se entender que a referência é feita ao presidente do país, que é a nossa autoridade máxima. Nos versos seguintes em que o eu poético afirma que a existência é dura, as elites são senis e que não
  • 11. tem e nem nunca terá nada do que deseja, podemos confirmar o seu sentimento de revolta e pessimismo diante da situação caótica de Pasárgada. No verso "Aqui não sou feliz" que é o mesmo verso de Manuel Bandeira em Pasárgada, mas há a diferença de sentido atribuído que para um significa a realidade com a perspectiva de ser feliz em Pasárgada e para o outro o eu poético é a realidade do seu sentimento e sem ter nenhuma opção de fuga para a felicidade. A rainha espanhola Joana, no verso de Millôr Fernandes, mesmo com toda sua "loucura" é mais "coerente do que os donos do país". O contexto social brasileiro é denunciado no poema ao se referir, também, na forma como a polícia age "baixando o pau", ou seja, com violência, o exercício que o trabalhador tem tempo para fazer é nos velhos trens, lotados, a caminho e na volta do trabalho. A voz que fala está angustiada que fala está cansada do país em que tudo a revolta, sem esperança, que já comprou ida sem volta e diz "Aqui não quero ficar", não tem nada, nem mesmo a recordação. Está muito claro seu sentimento e o que quer dizer, não há metáforas ou outro meio de disfarçar o que quer transmitir, o poema é muito objetivo. E a outra crítica social que há no texto poético é sobre a alta taxa de natalidade, a falta de planejamento familiar que é uma das causas do aumento desordenado da população. O Estado não consegue alimentar, abrigar e educar tanta gente. E é nos versos "Nem a fome e doença, Impedem a concepção" que estes fatos podem ser relacionados. E ainda fazendo uma comparação entre o poema e a realidade brasileira e até mundial, o telefone não telefona: como está sendo o serviço prestado pelas operadoras de telefone fixo e móvel? Não é atual esse tema? E preços altos, linhas cruzadas, clonadas, fora de área... No verso "A droga é falsificada" é também um fato contemporâneo que se confirmava imprensa escrita, televisiva e outras fontes que atualmente falsifica-se inclusive drogas, que são misturadas com produtos químicos para render, não há mais droga pura. Em se falando de prostitutas aidéticas é outro retrato atual. A expansão do vírus da AIDS, que embora não tenha mais tanta vez na mídia, está aí e é preocupante. E mesmo assim, a "geração do ficar" não parece preocupada com isso.
  • 12. Finalizando, a tentativa de interpretar um poema claro como este, percebemos as características contemporâneas no texto de Millôr Fernandes, com a presença da crítica social e humor sarcástico para denunciar os problemas sociais e políticos que presenciamos nessa época de mensalão, juízes presos, memórias de Bruna Surfistinha, cracolândia, chacinas... O autor está ou não está falando da realidade? Resenha Sociedade dos Poetas Mortos O filme sociedade dos poetas mortos, dirigido por Peter Weir é um drama vivido na Academia Welton no ano 1959, nos Estados Unidos. Uma escola tradicional de segundo grau, que aplica um ensino rígido como na academia militar e adota uma concepção didática racionalizada com prospecção para formação superior. No início do filme, uma solenidade de abertura do ano letivo, onde os alunos adentram o auditório com trajes formais exibindo os brasões, a farda e o comportamento sisudo exigido pela escola. Na plateia, os pais e funcionários acompanham o hino exaltando a herança histórica e os legados da colonização. O discurso formal do diretor Nolan(Norman Lioyd), enfatizando os cem anos da escola e o orgulho estribado nos quatro pilares, que ainda garantiam o sucesso daquela instituição: Tradição; Honra; Disciplina; Excelência. A menção desses princípios empolga muito os pais de alunos no auditório, pois sabem que ali as chances são bem maiores de seus filhos ingressarem em curso superior e a garantia de um futuro promissor. A apresentação do novo professor John Keating (Robin Willins) que já fora aluno dessa escola. Na sua primeira aula, o professor Keating inicia a leitura com uma frase de um poema de Walt Whitman a respeito de Abraham Lincoln: “Meu Capitão, Meu Capitão”, o que se pode entender teria chamado assim também seu mestre que o inspirou. Pede aos alunos que leiam o primeiro verso do poema “Às virgens para aproveitar o tempo” da página 542 do livro de hinos:
  • 13. “Pegue seus botões de rosas enquanto podem...”. O professor explica que o termo em latim para esse termo é Carpe Diem - Aproveite o dia. Viver cada dia intensamente como se fosse o último. Na aula seguinte, solicita a leitura da introdução do livro: “Entendendo a Poesia”. O texto diz que a poesia pode ser demonstrada com gráfico matemático, não parece ser aplicação da interdisciplinaridade, mas apenas um método antiquado de olhar a poesia. Keating pede que arranquem essa e outras páginas semelhantes. Diz ele: “Poesia é para ser vivida e não calculada”. Que não pensem como são mandados, mas pensem por si mesmos. Com certa dificuldade consegue convencê-los. O professor sobe na mesa, pede aos alunos que subam também e vejam de forma diferente. Ver de outro ângulo, por si mesmos e não apenas como são induzidos. O professor Keating é do tipo que entra na sala assoviando; Descontrai os alunos; Leva-os para aulas ao ar livre; Pede que façam poesias espontâneas; Incute neles o desejo de viver cada momento intensamente. Adota um estilo divergente da escola tradicional. Leva os alunos a uma nova forma de ver as coisas. Os alunos começam a tomar gosto pela literatura e a perceberem a sensação de viver a poesia. Sentem o ambiente, que aliás é propício para aulas ao ar livre. O ambiente evoca a tradição inglesa: Árvores altas, extensos jardins, a exuberância da natureza, espaços bem definidos. Os alunos se sentem à vontade com o professor Keating, deixam fluir suas inspirações. As aulas começam a produzir efeitos. Neil Perry (Robert Sean) um dos alunos, descobre o anuário do professor Keating e o questiona sobre o que seria a Sociedade dos Poetas Mortos, da qual ele fazia parte. O professor hesita, mas fala dos hábitos e do local secreto onde costumavam se reunir para ler poesia. Isso foi o bastante para aguçar a curiosidade no grupo, que nas horas de folga com facilidade conseguiam chegar até a caverna onde principiaram suas primeiras leituras ainda tímidas.Tomaram gosto e as idas até lá viraram o hobby preferido deles, às vezes até as garotas também participavam. Essa nova sensação despertou em Neil o gosto pela dramatização e resolveu se inscrever para uma peça de teatro, onde concorreu e conseguiu o
  • 14. papel principal. Empolgado contou aos colegas, mas não conseguiu o apoio do pai. Ficou muito triste. Pediu a opinião do professor Keating, que o aconselhou a ser aberto com seu pai. Neil não tem liberdade para se expressar. Seu pai, é um linha dura, que não abre mão dos seus princípios e lhe nega o consentimento. Neil forja uma autorização da escola com assinatura falsa do diretor. Saiu-se bem na peça. Festejou o sucesso da apresentação. Recebeu os aplausos do auditório. O abraço dos colegas e amigos, mas teve de suportar a dura chamada do pai. A gota d’água para sua decepção com relação à futura carreira. Desanimou totalmente. Desistiu de viver. A arma do próprio pai foi seu carrasco. Aquela noite de glória foi também de caos. Entrou definitivamente para a sociedade dos poetas mortos, mas de forma trágica. O tão entusiasmado Neil, agora deixa tristeza na família, na escola, nos colegas e amigos. É a notícia do momento. Assunto dos corredores. A escola não iria perder sua reputação. O diretor tem de punir alguém. Não poderia ser outro: O professor Keating, seria demitido. Convoca os alunos do professor Keating e interroga-os, quer saber quem faz parte da sociedade. Terão de renunciar e assinar o termo de responsabilidade. Os pais estão presentes e certificam-se de que tal professor não lecionará mais ali. Os jovens não têm escolha. Grande é a sua dor em ter de separar-se do professor. As aulas voltarão a ser com antes dele. O diretor assume a sala. Todos terão de pagar as matérias atrasadas. Rever o assunto antes refutado. O professor Keating entra na sala para pegar suas coisas no armário. Será o último encontro com aqueles alunos. Ao sair, mesmo sem se despedir, Anderson um dos alunos, com uma atitude inusitada, sobe na carteira, e exclama: Meu capitão! Esse era o apelido carinhoso que lhe deram. Os outros imitam. O diretor que está lecionando perde o domínio da sala. O professor keating agradece, pois sabe, mesmo não podendo mais continuar ali, leva a certeza de que algo ficou marcado naqueles garotos. A conclusão desse episódio é que o filme Sociedade dos Poetas Mortos mostra uma crítica à educação tradicional, onde o aprendizado acontece de forma mecânica: O professor fala, o aluno ouve. O discente não inclui suas experiências do dia-a-dia no processo de aprendizagem. O professor Keating rompe com o tradicional e mostra um novo ideal pedagógico no qual a relação
  • 15. entre professor e aluno deve ter uma vivência democrática e interativa de forma espontânea, permitindo ao aluno poder extrair o melhor de si. Carpem Die Sociedade dos Poetas Mortos “Mas se você escutar bem de perto, você pode ouvi-los sussurrar o seu legado. Vá em frente, abaixe-se. Escute, está ouvindo? - Carpe - ouve? - Carpe, carpe diem, colham o dia garotos, tornem extraordinárias as suas vidas." Nesta cena do filme o Prof. Keating está em frente a uma galeria de fotos de ex-alunos que formaram na tradicional escola Welton, ele pede para que os alunos se aproximem da galeria para ouvirem o espirito de seus predecessores a dizer: "carpe diem"1. 1 Carpe diem é uma expressão em latim que significa "aproveite o dia". Essa é a tradução literal, e não significa aproveitar um dia específico, mas tem o sentido de aproveitar ao máximo o agora, apreciar o presente.
  • 16. Intertextualidade Triste Bahia! Ó quão dessemelhante (Gregório de Matos) e Triste Bahia (Caetano Veloso) Triste Bahia Caetano Veloso *A primeira estrofe da música é parte do poema homônimo de Gregório de Mattos Triste Bahia, oh, quão dessemelhante estás E estou do nosso antigo estado Pobre te vejo a ti, tu a mim empenhado Rico te vejo eu, já tu a mim abundante Triste Bahia, oh, quão dessemelhante A ti tocou-te a máquina mercante Quem tua larga barra tem entrado A mim vem me trocando e tem trocado Tanto negócio e tanto negociante Triste, oh, quão dessemelhante, triste... Pastinha já foi à África Pastinha já foi à África Pra mostrar capoeira do Brasil Eu já vivo tão cansado De viver aqui na Terra Minha mãe, eu vou pra lua Eu mais a minha mulher Vamos fazer um ranchinho Tudo feito de sapê, minha mãe eu vou pra lua E seja o que Deus quiser Triste, oh, quão dessemelhante Ê, ô, galo canta O galo cantou, camará Ê, cocorocô, ô cocorocô, camará Ê, vamo-nos embora, ê vamo-nos embora camará Ê, pelo mundo afora, ê pelo mundo afora camará Ê, triste Bahia, ê triste Bahia, camará Bandeira branca enfiada em pau forte Afoxé leî, leî, leô Bandeira branca, bandeira branca enfiada em pau forte O vapor da cachoeira não navega mais no mar Triste recôncavo, oh, quão dessemelhante Maria pegue o mato é hora, arriba a saia e vamo-nos embora Pé dentro, pé fora, quem tiver pé pequeno vai embora Oh, virgem mãe puríssima Bandeira branca enfiada em pau forte Trago no peito a estrela do norte Bandeira branca enfiada em pau forte
  • 17. Triste Bahia! Ó quão dessemelhante Gregório de Matos Triste Bahia! Ó quão dessemelhante Estás e estou do nosso antigo estado! Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado, Rica te vi eu já, tu a mi abundante. A ti trocou-te a máquina mercante, Que em tua larga barra tem entrado, A mim foi-me trocando e tem trocado Tanto negócio e tanto negociante. Deste em dar tanto açúcar excelente Pelas drogas inúteis, que abelhuda Simples aceitas do sagaz Brichote. Oh quisera Deus que de repente Um dia amanheceras tão sisuda Que fora de algodão o teu capote! No soneto, Gregório de Matos lamenta o estado de sua cidade, outrora rica, agora pobre. Há a personificação da cidade, por o eu-lírico se identificar com sua condição/a ti trocou-te e a mim foi me trocando. A condição de miséria da cidade se deve ao fato de ela se dar ao estrangeiro/brichote. O desfecho do poema possui teor moralizante, já que o poeta propõe como saída o retorno da cidade á condição de humildade, desejando – por Deus! – vê-la em simples capote de algodão, desprovida da sedutora seda. Gravado integralmente em Londres, em1972, Transa é o terceiro trabalho solo de Caetano Veloso. Marcante pela mistura de ritmos e de referências culturais e literárias, o disco traz em Triste Bahia uma analogia do compositor com o Boca do Inferno – ambos perseguidos. Na letra, Caetano Veloso destaca aspectos culturais – Mestre Pastinha, responsável pela difusão da capoeira na África e perseguido pelos militares - musicais e literárias – para lamentar a perda da identidade de sua terra. A música inicia com alguns versos de Triste Bahia (Gregório de Mattos). Apesar da grande diferença de épocas entre Gregório e Caetano, ambos criticam a Bahia com o mesmo poema: Gregório num cenário econômico, quando itens de necessidade eram trocados por especiarias europeias e Caetano no cenário político da Ditadura Militar. Máquina mercante na música de Caetano refere-se à Ditadura. A partir do trecho "Pastinha já foi à África", Caetano adiciona seus próprios versos à música.
  • 18. Durante a Ditadura Militar, a capoeira foi marginalizada e perseguida. Caetano faz uma citação ao mestre Pastinha, capoeirista que visitou a África para mostrar a capoeira brasileira. Caetano faz um jogo com o acontecimento e a época dizendo que Pastinha preferiu ir à África à ficar no Brasil. Caetano sempre cita uma fuga da Ditadura, como quando diz querer ir morar na lua e "Vamo-nos embora pelo mundo afora, camará. Triste Bahia camará" ou "Maria pegue o mato é hora, Arriba a saia e vamo-nos embora". E "Bandeira branca enfiada em pau forte" significa um pedido de paz, de fim da Ditadura Militar. Da poesia barroca, identifica-se o hipérbato, ou seja, a troca da ordem direta dos termos da oração, a antítese, que consiste na exposição de ideias opostas e a obsessão pela linguagem culta, característica barroca. Sermão de Santo Antônio aos Peixes Resumo O sermão foi proferido em São Luís do Maranhão em 13 de junho de 1654, dia de Santo Antônio e três dias antes da partida de Vieira para Portugal, onde pretendia interceder em favor dos índios diante das autoridades portuguesas. O sermão é construído em forma de alegoria, dirige-se aos peixes mas, na verdade, fala aos homens. O texto está dividido em seis partes. A primeira delas é o exórdio, ou introdução, na qual faz o chamamento "Vós sois o sal da terra". Os pregadores são o sal da terra, cabendo ao sal impedir a corrupção. Mas na terra não lhes dão ouvidos, por isso voltam-se para o mar, onde estão os peixes. Há também a invocação da Virgem Maria. Nas partes II a V temos o desenvolvimento do sermão. Antônio Vieira exalta as qualidades dos peixes, como a obediência, e repreende os vícios, como a soberba e o oportunismo. Deve-se destacar aí a citação de diversos tipos de peixes. As virtudes são descritas nos peixes de Tobias, Rémora, Torpedo e Quatro-Olhos. Já os defeitos estão nos seguintes peixes: Roncadores, Pegadores, Voadores e no Polvo. O principal defeito apontado é a voracidade,
  • 19. já que os peixes devoram uns aos outros, e, pior ainda, os maiores devoram os menores. A última parte é a peroração, ou conclusão, na qual Vieira exalta os peixes que, por sua natureza, não podem ser sacrificados vivos a Deus e sacrificam-se então, em respeito e reverência. Confessando-se pecador, o orador se despede com uma oração de louvor a Deus. Contexto  Sobre o autor Antônio Vieira é o maior representante da prosa barroca no Brasil e o maior orador sacro do Brasil-Colônia. Nascido em Portugal, veio para o Brasil ainda criança e estudou no Colégio dos Jesuítas, em Salvador. Importância do livro Os sermões do Padre Vieira são o melhor exemplo do Barroco Conceptista no Brasil. São textos que usam a retórica, com jogos de ideias e palavras, para convencer os leitores (no caso, os assistentes) pelo raciocínio, mais que pela emoção. No Sermão de Santo Antônio aos Peixes, além de exaltar a necessidade da pregação, Vieira usa a alegoria dos peixes para criticar a exploração do homem pelo homem e, mais especificamente, para condenar a escravidão indígena.  Período histórico Na época em que o sermão foi escrito, 1654, Padre Antônio Vieira lutava contra a escravidão indígena e contra a exploração portuguesa. Logo depois do sermão, o Padre foi para Portugal interceder pelos índios. Análise No Sermão de Santo Antônio aos Peixes, Vieira junta sua devoção ao santo à preocupação que o levaria, dias depois da pregação, a fugir secretamente para Portugal: a questão da escravidão e dos maus tratos contra
  • 20. os indígenas. A alegoria e a ironia são a chave de um discurso argumentativo que quer levar o ouvinte à reflexão. Ao mesmo tempo, a saudação inicial “Vós sois o sal da terra” é um chamamento à participação ativa na sociedade. A discussão sobre as virtudes e os vícios humanos passa necessariamente por uma preocupação social. A ideia de que peixes maiores comem os peixes menores, ou seja, que a grandeza de cada um na sociedade tem valor relativo, surge espantosamente à frente do seu tempo. Em plena era mercantil, o texto de Vieira, por meio da alegoria, desvenda para os colonos do Maranhão a realidade da competição proto-capitalista: são peixes grandes na colônia, pois escravizam os nativos, que consideram inferiores, porém, uma vez na metrópole, serviriam de alimento para outros peixes maiores, contra os quais não teriam defesa. Portanto, o texto de Vieira, datado do século XVII, traz para nós uma inquietante contemporaneidade, pois seus temas principais são a ganância humana e a corrupção da sociedade, assuntos mais do que presentes em nosso cotidiano. Por meio de sua linguagem finamente elaborada, Vieira nos faz refletir sobre os desafios da sociedade de seu tempo, nos ajudando também a pensar sobre a nossa realidade. Morte e Vida Severina RESUMO Na abertura da peça, o retirante Severino se apresenta à plateia e se dispõe a narrar sua trajetória. Sai do sertão nordestino em direção ao litoral, em busca da vida que escasseava em sua terra. Ao longo do caminho, mantém uma série de encontros com tipos nordestinos. Logo de saída encontra os irmãos das almas, lavradores encarregados de conduzir a um cemitério distante o corpo de um colega, assassinado a mando de latifundiários. Aos poucos, assiste à seca do rio Capiberibe, que Severino segue em sua viagem ao litoral. Passa por um lugarejo e ouve uma cantoria vinda de uma casa. Trata-se do canto de excelências, isto é, fúnebre, em honra a outro Severino morto. Com a morte definitiva do rio, Severino pensa em desistir de sua viagem, mas acaba por optar pelo prosseguimento. Assim, planeja instalar-se naquele
  • 21. mesmo lugar. Conversando com uma moradora, percebe que nenhuma das atividades que poderia desempenhar – agricultura e pecuária – encontraria espaço ali, mas apenas aquelas ligadas à morte, como rezadeira e coveiro. Severino continua sua jornada e passa pela Zona da Mata, região de relativa prosperidade no interior do sertão. Encanta-se com a natureza verdejante do lugar, mas percebe ainda a presença da morte ao testemunhar o funeral de um lavrador que se realiza no cemitério local. Abandona o pensamento inicial de encerrar ali a busca que mantinha pela vida e continua sua viagem. Por fim, chega ao Recife, onde resolve descansar ao pé de um muro. Trata-se de um cemitério, e Severino escuta então o diálogo entre dois coveiros. Os trabalhadores conversam sobre o trabalho que lhes dão os retirantes que saem de suas casas sertanejas para morrer ali, fazendo-o ademais no seco e não no rio – o que lhes daria menos serviço e mais sossego. Diante desse novo encontro com a morte, Severino resolve entregar-se a ela e se matar, atirando-se em um dos rios que cortam a cidade. Ao se aproximar do rio, inicia um diálogo com José, mestre carpina (carpinteiro), morador ribeirinho. Pergunta-lhe se aquele ponto do rio era propício ao suicídio. O mestre responde positivamente, mas tenta convencer o retirante a não se atirar. Severino pede então que lhe dê uma única razão para não fazê-lo. A resposta do mestre é interrompida pelo anúncio do nascimento de seu filho. José o celebra com vizinhos e conhecidos, recebe os presentes pobres que lhe trazem, ouve as previsões pessimistas de duas ciganas a respeito do futuro da criança e, por fim, recordando-se da pergunta de Severino, dispõe-se a respondê-la. Afirma então que ele, José, não tem a resposta para a questão de saber se a vida vale ou não a pena, mas que o nascimento de seu filho funciona como resposta, representando a reafirmação da vida diante da morte. CONTEXTO  Sobre o autor João Cabral é o maior poeta da terceira fase modernista. Mais do que isso: forma, ao lado de Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira o trio de poetas mais importantes da nossa história. É o poeta da pesquisa formal, da
  • 22. exatidão, da linguagem enxuta cuja matriz está, reconhecidamente, em Graciliano Ramos.  Importância do livro Em Morte e Vida Severina, sem abrir mão do rigor imagético e da síntese expressiva, João Cabral alcança uma comunicabilidade maior, talvez em função do fato de ter sido desafiado a escrever uma peça de teatro – destinada, portanto, a um público mais amplo do que aquele que sua poesia poderia alcançar. A abordagem do drama da seca é feita de tal forma a dialogar com o romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos, do qual funciona quase como continuação.  Período histórico Os anos 1950 se caracterizam na história brasileira pelo desenvolvimentismo do governo de Juscelino Kubitscheck. Trata-se de um período de grande entusiasmo cultural e intelectual, que atinge o campo da literatura em autores como Guimarães Rosa e Clarice Lispector, além do próprio João Cabral. ANÁLISE João Cabral classificou sua peça de auto de natal pernambucano, levando em conta tanto a forma popular dos versos curtos, comuns nos autos medievais, quanto a circunstância de tratar de um nascimento (natal) e de ambientar-se no sertão pernambucano. O título promove uma proposital inversão entre vida e morte, colocando esta em primeiro lugar. Essa troca da ordem natural indica os encontros com a morte e a vitória da vida, no final.  LEMBRETE Morte e Vida Severina é uma peça de teatro em versos. O autor resgata uma forma popular – os versos curtos – para tratar de um assunto que atingia particularmente o povo nordestino: a seca. Além disso, o nome próprio Severina é usado como adjetivo no título, sugerindo uma ampliação de sentido que é confirmada logo nas primeiras palavras do retirante, que, ao tentar se apresentar, evidencia que sua situação particular é, na verdade, uma metonímia do que ocorre com outros sertanejos, igualmente vítimas da seca. Em seu caminho em direção ao litoral, Severino alterna diálogos e monólogos. Os primeiros representam os encontros sucessivos com figuras
  • 23. simbólicas da morte – irmãos de almas, carpideiras, rezadeiras, funeral –, inseridas no fundo social da peça, que é a disputa pela terra. Já os monólogos mostram as reflexões do retirante, que tenta redefinir seus rumos depois de cada diálogo. Os pontos culminantes da trajetória fatalista do retirante são a morte do rio cujo percurso ele acompanha até o litoral – representação de um meio que se rende à morte como o morador instalado nele – e o paradoxo do contato com ofícios que demonstram vitalidade justamente porque associados à morte – rezadeira, coveiro, farmacêutico etc. A chegada à cidade é a desilusão final do retirante. O diálogo travado entre os coveiros funciona como sua sentença de rendição à morte, ato máximo de seu desespero. Por outro lado, o nascimento de uma criança instala a contradição entre a opção de saltar fora da vida, desistindo dela e a alternativa de agarrar-se à existência e resistir à morte opressora. Nesse sentido, a simbologia da criança – para além de figurar o nascimento de Cristo, em sua condição de filho de carpinteiro – abarca a ideia da purificação, da limpeza de toda a podridão associada à morte. A peça não resolve a contradição, já que sua última fala é a do carpina propondo a vida a Severino, sem que se saiba a opção feita por este. No entanto, o título da peça, que propõe o encontro final com a vida, parece sugerir a vitória da resistência e da insistência na esperança.  O que é uma vida severina? 'Vida severina' é uma vida dura, de labuta, dissabores, coragem, força e fé.  O que é morte severina? A história começa com um homem chamado Severino que, ao percorrer todo o sertão, em busca de trabalho só se depara com funerais de pessoas que morreram de fome, caracterizando a "morte severina", pois eram todos iguais, tanto na vida, como na morte, morrem sempre da mesma causa: a fome, provocada pela falta de recursos em decorrência da seca. Uma passagem do
  • 24. livro que exemplifica bem a morte severino é quando o personagem Severino diz: Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma cabeça grande que a custo é que se equilibra, no mesmo ventre crescido sobre as mesmas pernas finas e iguais também porque o sangue, que usamos tem pouca tinta. E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doença é que a morte severina ataca em qualquer idade, e até gente não nascida).  O que ser severino? Severino é uma metáfora para nordestino, que na maioria das vezes sai do sertão acreditando que no Recife, ou outras cidades nas quais a seca é mais branda, a vida pode ser melhor, mas em todo percurso ele vai percebendo que a vida Severina, independe do lugar, ou das condições climáticas.  Se a vida dos severinos é tão sofrida, com tantas dificuldades deve continuar sendo vivida? José, não tem a resposta para a questão de saber se a vida vale ou não a pena, mas que o nascimento de seu filho funciona como resposta, representando a reafirmação da vida diante da morte.
  • 25. Resenha Filme "Xica da Silva" 1976 O filme Xica da Silva (1976) foi dirigido por Cacá Diegues, grande cineasta brasileiro. Formou-se em Direito na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), mas seu amor pelo cinema falou mais alto. Dirigiu filmes como Ganga Zumba (1964), Bye Bye Brasil (1979) e Deus é Brasileiro (2003). Venceu inúmeros prêmios em variados festivais pelo mundo, como o Festival de Londres e de Cartagena. Xica da Silva é um filme de comédia baseado no livro homônimo de João Felício dos Santos. Narra a estória da escrava Francisca da Silva, mais conhecida como Xica, que se envolve com o contratador português João Fernandes, e causa grande alvoroço na cidade e até em Portugal. Xica da Silva é uma esperta escrava que serve ao Sargento-Mor e a seu filho, José, um rapaz rebelde que sonha com o fim da exploração. O maior desejo de Xica é ter a liberdade e ser tratada como “gente”, mas nunca é levada a sério, e sempre é vista como objeto sexual. Chega à cidade o Contratador João Fernandes de Oliveira, enviado pela Coroa para liderar a busca por diamantes. É tratado como um rei pela população e pelo interesseiro Intendente. Xica é outra que se interessa por ele, e consegue chamar sua atenção usando seu exotismo e sensualidade. Logo, vira amante de João Fernandes e tem todos os seus desejos realizados, até os mais extravagantes, sentindo-se uma rainha. A relação entre escrava e comendador é vista por maus olhos entre a “elite” da cidade, que acha uma grande burrice um homem rico e prestigiado gastar fortunas com uma escrava. Como passo final para sentir-se tratada como “gente”, Xica consegue sua carta de alforria, mas ao tentar entrar na igreja, é barrada por conta de sua cor da pele, o que a deixa furiosa. João Fernandes lhe dá um palácio e um navio para ratificar que ela é uma rainha, e tais atitudes são denunciadas ao rei de Portugal. O rei de Portugal envia o Conde de Valadares para inspecionar o trabalho do Contratador. Sua chegada causa medo em João Fernandes, que teme ter que voltar a Portugal, e por isso, enche o Conde de presentes como
  • 26. meio de “amansá-lo”. Logo, Xica percebe que presentear Valadares não está funcionando e tenta criar um exército, com ajuda de Teodoro, um garimpeiro ilegal, mas ele acaba sendo pego por Valadares e seus capangas. Como última cartada, a dama do contratador oferece um banquete africano ao Conde, que fica furioso. João Fernandes é obrigado a voltar a Portugal, deixando sua amante na colônia. Xica vê seu prestígio e poder se diluir com a partida forçada de seu companheiro. Volta a ser anônima. O filme de Cacá Diegues é comédia de forte apelo popularesco com personagens estereotipados e até exagerados. Na primeira cena, um dos personagens diz ao Contratador “Somos artistas e não nos metemos com política”. Tal fala parece ser um recado para a censura militar da época com o intuito de frisar que o filme ali produzido não tocará no assunto política. Mas, claro que Diegues não deixaria de fazer sua crítica, para tanto, usa o personagem José, interpretado por Stepan Nercessian, um jovem que é contra a exploração vivida pela colônia. Em um momento, diz “O povo gosta de quem os explora”. José é da era colonial, mas suas ideias são atuais. Ele, como muitos, lutam contra a exploração do sistema. Zezé Motta foi feliz em sua interpretação como Xica da Silva, que, no filme, veio buscando sua liberdade e reconhecimento. Xica viu em João Fernandes o meio mais rápido de atingir seus objetivos. Ela queria ser reconhecida como um branco era reconhecido na sociedade, para isso, passou a se vestir, comer e frequentar os mesmos lugares que os brancos, mas não importava o que ela fizesse, sua cor de pele sempre estaria a frente na hora de ser julgada. Assim é a realidade, não importa o que as pessoas façam, sempre serão julgadas pela cor da pele, opção sexual, peso... Ao final do filme, quando seu amante vai embora, Xica, mesmo livre, é ainda tratada como escrava. Xica da Silva se passa na metade do Séc. XVIII e trata de questões como escravidão e extração de diamantes, além de ser uma adaptação de um livro de grande sucesso. Portanto é uma boa pedida para quem se interesse em estudar o período colonial do Brasil.
  • 27. Romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles RESUMO Na Idade Média, romance era o nome que se atribuía a uma obra poética de caráter narrativo. Uma reunião de romances formava um romanceiro. O Romanceiro da Inconfidência narra a história da Conjuração Mineira, movimento revoltoso de 1789 promovido por colonos brasileiros que pretendiam tornar a região de Vila Rica (Minas Gerais) independente do domínio português. O sucesso poderia levar à utilização da riqueza produzida pelo ouro na própria região, acabando com a sangria monetária promovida pelos interesses metropolitanos. Em uma “Fala inicial”, o narrador, assumindo a primeira pessoa, manifesta a sensação imperativa de tornar pública a revolta que toma conta da colônia, o que funciona como justificativa para a própria obra. A partir daí, a história narrada é dividida em “Cenários”, obedecendo à ordem cronológica dos acontecimentos. Assim, o primeiro Cenário enquadra o desenrolar da febre do ouro na região: a busca enlouquecida pelo metal, a crescente intervenção das autoridades, a consequente luta dos colonos contra o poder instituído (como a Revolução de 1720, liderada por Felipe dos Santos), a prática do contrabando e, por fim, a presença ativa dos escravos na mineração. A atuação dos negros acabou por gerar a lenda do Chico-Rei, lendário negro que, enriquecido, dedicava-se a comprar a liberdade de outros, e a de Chica da Silva, a sedutora namorada de um rico minerador. Essa primeira parte da narrativa se encerra com o nascimento de Tiradentes (1746). O segundo Cenário é a cidade de Vila Rica. Esta parte retrata a vida local: a bucólica e pacífica poesia dos árcades convive com o crescimento do espírito de rebelião, que envolve um número cada vez maior de colonos. Surge o herói Tiradentes, o “animoso alferes”, e, ao mesmo tempo, aquele que viria a ser o traidor, Joaquim Silvério dos Reis. Espalha-se o terror, com a prisão dos envolvidos. Uma “Fala aos pusilânimes” serve como página de acusação aos traidores de todos os tempos e trata da consequência das prisões: a morte
  • 28. suspeita do inconfidente e poeta Claudio Manuel da Costa, os padecimentos de Tomás Antônio Gonzaga, autor dos versos de Marília de Dirceu e o abandono a que é relegado Tiradentes, que acaba por assumir a culpa solitariamente. O Cenário seguinte mostra os desdobramentos da Inconfidência para seus participantes, destacando a relação de Gonzaga com Maria Joaquina, a Marília de seus poemas: ele se casa no exílio africano, enquanto ela sofre em terras brasileiras. O último Cenário relata as atitudes das autoridades portuguesas responsáveis pela punição dos revoltosos. Narra-se aqui ainda a morte de Marília. A obra termina com uma homenagem aos rebeldes (“Fala aos inconfidentes mortos”). CONTEXTO  Sobre o autor Cecília Meireles é bem o retrato da poesia de seu tempo. Tendo se destacado no resgate de recursos da estética simbolista, criando uma atmosfera difusa para explorar temas abstratos – como fizeram muitos poetas da época – também enveredou por caminhos mais concretos, como aqueles pertinentes à temática social – que atravessa igualmente a obra de muitos de seus contemporâneos.  Importância do livro Mesmo que destoe um pouco do sentido geral que a autora imprimiu à sua obra, o fato é que o Romanceiro da Inconfidência se tornou a obra mais conhecida de Cecília Meireles. De um lado, por apresentar uma linguagem mais clara e comunicativa; de outro, por tratar de um assunto familiar a muitos leitores. Seja como for, trata-se de grande poesia. ANÁLISE A fala que abre o livro, tratando da necessidade imperativa do canto, sugere uma concepção da arte como instrumento de eternização da ação humana. O Romanceiro assume, com essa proposição, uma postura de combate, opondo-se aos relatos produzidos pela história oficial – pelo menos aquela construída no período da Conjura. Essa oposição se dá de duas maneiras: em primeiro lugar, porque aqueles que a história oficial poderia conceber como traidores são vistos aqui como heróis; segundo, porque a narrativa de seus atos será feita de uma perspectiva lírica e não apenas factual
  • 29. – como ocorre no “Romance X”, no qual a Inconfidência é vista da perspectiva de uma donzela: “Donzelinha, donzelinha / dos grandes olhos sombrios, / teus parentes andam longe, / pelas serras, pelos rios, / tentando a sorte nas catas, / em barrancos já vazios!”.  LEMBRETE Um evento histórico conhecido é abordado sob um prisma subjetivo, no qual a voz lírica se confunde com atores ou testemunhas do fato. Muitas vezes, explora-se a função apelativa da linguagem, isto é, aquela que é centrada no receptor da mensagem. Destacam-se ainda as analogias criadas pela autora. No entanto, é curioso verificar certa persistência de concepções maniqueístas – as mesmas que costumam fundamentar algumas produções da historiografia oficial, pródiga em criar heróis da pátria. Assim, no Romanceiro, reforça-se a imagem dos inconfidentes como vítimas de perseguições políticas e indivíduos antecipadores da independência brasileira. Particularmente, a figura de Tiradentes ganha destaque: mesmo com sua morte, a ideia libertária permanece, o que sugere o triunfo do heroísmo. Por outro lado, temos o estereótipo do vilão em Joaquim Silvério dos Reis, o traidor da causa inconfidente, que merece do Romanceiro a mesma verve acusatória que acabaria por receber da própria história. Embora essas ressalvas possam – e devam – ser feitas, é preciso sempre lembrar que a proposta da autora nunca foi produzir uma obra documental, mas lírica. Tal característica é comprovada pela insistência com que a voz poética assume a primeira pessoa, explicitando um olhar subjetivo mais próprio da poesia que da historiografia. Dessa forma, o livro conduz a um envolvimento mais lírico que ideológico. A própria linguagem da obra parece confirmar esse viés: Cecília resgata algumas expressões árcades, como ocorre no “Romance LIV ou Do enxova l interrompido”: “Sabeis, ó pastora, / daquele zagal / que andava num prado / sobrenatural?”. Convém lembrar que muitos poetas do arcadismo brasileiro se envolveram diretamente com a Inconfidência, como foi o caso de Claudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga – ambos referidos no Romanceiro. Por fim, é importante notar que a força dos versos do texto de Cecília Meireles é transcendental, isto é, vai além do tempo e do espaço referidos ali. Na obra, passado e presente dialogam de forma produtiva, de maneira a iluminar
  • 30. questões que não dizem respeito apenas ao século XVIII da Inconfidência. Afinal, o livro trata de assuntos bastante atuais, como a ambição humana, a ação de traidores e a necessidade de se continuar lutando contra ambos. A “Fala aos pusilânimes”, por exemplo, que encerra uma das partes do livro, é dirigida aos traidores de todos os tempos, tratados ali por “vós”, o que sugere um olhar voltado para o presente. Assim, o Romanceiro aponta para um fato histórico isolado, mas estende suas reflexões para toda a história humana. Contexto político que deu origem à Inconfidência (o plano e porque fracassou) Na segunda metade do século XVIII, Minas Gerais entrou em fase de decadência econômica (jazidas de ouro esgotadas, mineiros empobrecidos, altos impostos sobre os mineradores). Em 1788, a Coroa Portuguesa nomeou o Visconde de Barbacena. Objetivo: aplicar a Derrama (cobrança dos impostos atrasados). Movidos pela revolta, importantes membros da elite econômica e cultural de Minas planejaram um movimento contra as autoridades portuguesas: a Inconfidência Mineira. Os planos dos inconfidentes eram: 1) Libertar o Brasil de Portugal, criando uma república com capital em São João Del Rei. 2) Adotar uma nova bandeira que teria um triângulo no centro com a frase latina: Libertas quae sera tamen (liberdade ainda que tardia). 3) Desenvolver indústrias no País. 4) Criar uma universidade em Vila Rica. Sem tropas, sem armas, sem a participação do povo, sem intenção de libertar os negros, sem o mínimo de organização, bastou que o coronel Joaquim Silvério dos Reis denunciasse os planos dos inconfidentes ao Governador de Minas Gerais para que o movimento fracassasse. Todos os participantes foram presos, julgados e condenados. Só Tiradentes (o mais pobre, o mais entusiasmado) teve sua pena de morte
  • 31. mantida: na manhã de 21 de abril de 1792, numa cerimônia pública no Rio de Janeiro, foi executado. Em seguida, teve a cabeça cortada e o corpo esquartejado. Intertextualidade Cláudio Manuel da Costa e Vladmir Herzog Cláudio Manuel da Costa Sua morte está cercada de detalhes obscuros. Há mais de duzentos anos que o assunto suscita debates e há argumentos de peso tanto a favor como contra a tese do suicídio. Os partidários da crença de que Cláudio Manuel da Costa tenha se suicidado se baseiam no fato de que ele estava profundamente deprimido na véspera da sua morte. Isso está estampado no seu próprio depoimento, registrado na Devassa. Além disso, seu padre confessor teria confirmando seu estado depressivo a um frade que trouxe o registro à luz. Os partidários da tese de que Cláudio tenha sido assassinado, contestam tanto a autenticidade do depoimento apensado aos autos da Devassa, quanto a honestidade do registro do frade. Quem acredita na tese do assassinato se baseia em um argumento principal: o próprio laudo pericial que concluiu pelo suicídio. Pelo laudo, o indigitado poeta teria se enforcado usando os cadarços do calção, amarrados numa prateleira, contra a qual ele teria apertado o laço, forçando com um braço e um joelho. Muitos acreditam ser impossível alguém conseguir se enforcar em tais circunstâncias. O historiador Ivo Porto de Menezes relata que ao organizar antigos documentos relativos à Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto, em 1957 ou 1958, encontrou no livro de assentos dos integrantes da Irmandade de São Miguel e Almas, a anotação da admissão de Cláudio Manuel e à margem a observação de que havia "sufragado com 30 missas" a alma do falecido, e "pago tudo pela fazenda real". De igual forma procedera a Irmandade de Santo Antônio, que lançou em seu livro: "falecido em julho de 1789. E feitos os sufrágios." Relembra que havia à época proibição de missas pelos suicidas.
  • 32. Também Jarbas Sertório de Carvalho, em ensaio publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, defende com boa documentação a tese do assassinato. Há ainda quem acredite que o próprio governador, Visconde de Barbacena, esteve envolvido na conspiração e Cláudio teria sido eliminado por estar disposto a revelar isso. Mas o fato é que somente a tese do suicídio pôde se lastrear em documentos, ainda que duvidosos quanto a sua honestidade e veracidade, como bem salientam os adeptos da tese de assassinato. Júlio José Chiavenato lança um dado que reforça a tese da farsa montada do "suicídio" de Cláudio Manuel da Costa. Na tarde do mesmo dia em que o advogado é preso, são assassinados no sítio da Vargem a sua filha, o genro e outros familiares, bem como alguns escravos e roubados todos os seus bens. O Visconde de Barbacena só informou Lisboa da morte de Cláudio Manuel da Costa a 15 de julho, onze dias depois de ter ocorrido e quando dera conhecimento a Lisboa do seu interrogatório a 11 de Julho, sem nunca referir o facto. Se a morte do alferes (Tiradentes) não causaria embaraços em Lisboa a de Cláudio e da sua família poderia causar, daí a necessidade da farsa ser montada. Dez dias depois da sua morte, a população de Paris tomava a fortaleza da Bastilha, marcando o início do fim da dinastia dos gloriosos Luíses de França. Começava a tomar corpo então, um projeto político, sonhado pelo próprio Cláudio Manuel da Costa para seu país. Demoraria, no entanto, mais trinta anos para que o Brasil se tornasse liberto de Portugal. Cem anos a mais seriam necessários para a realização da segunda parte do sonho, a implantação do regime republicano no Brasil. Vladmir Herzog O Serviço Nacional de Informações recebeu uma mensagem em Brasília de que naquele dia 25 de outubro: "cerca de 15h, o jornalista Vladimir Herzog suicidou-se no DOI/CODI/II Exército". Na época, era comum que o governo militar divulgasse que as vítimas de suas torturas e assassinatos haviam perecido por "suicídio", fuga ou atropelamento, o que gerou comentários irônicos de que Herzog e outras vítimas haviam sido "suicidados" pela ditadura. O
  • 33. jornalista Elio Gaspari comenta que "suicídios desse tipo são possíveis, porém raros. No porão da ditadura, tornaram-se comuns, maioria até." Conforme o Laudo de Encontro de Cadáver expedido pela Polícia Técnica de São Paulo, Herzog se enforcara com uma tira de pano - a "cinta do macacão que o preso usava" - amarrada a uma grade a 1,63 metro de altura. Ocorre que o macacão dos prisioneiros do DOI-CODI não tinha cinto, o qual era retirado, juntamente com os cordões dos sapatos, segundo a praxe naquele órgão. No laudo, foram anexadas fotos que mostravam os pés do prisioneiro tocando o chão, com os joelhos fletidos - posição em que o enforcamento era impossível. Foi também constatada a existência de duas marcas no pescoço, típicas de estrangulamento. Vladimir era judeu, e a tradição judaica manda que suicidas sejam sepultados em local separado. Mas quando os membros da Chevra kadisha – responsáveis pela preparação dos corpos dos mortos segundo os preceitos do judaísmo – preparavam o corpo para o funeral, o rabino Henry Sobel, líder da comunidade, viu as marcas da tortura. "Vi o corpo de Herzog. Não havia dúvidas de que ele tinha sido torturado e assassinado", declarou. Assim, foi decidido que Vlado seria enterrado no centro do Cemitério Israelita do Butantã, o que significava desmentir publicamente a versão oficial de suicídio. As notícias sobre a morte de Vlado se espalharam, atropelando a censura à imprensa então vigente. Sobel diria mais tarde: "O assassinato de Herzog foi o catalisador da volta da democracia". Anos depois, em outubro de 1978, o juiz federal Márcio Moraes, em sentença histórica, responsabilizou o governo federal pela morte de Herzog e pediu a apuração da sua autoria e das condições em que ocorrera. Entretanto nada foi feito. Em 24 de setembro de 2012, o registro de óbito de Vladimir Herzog foi retificado, passando a constar que a "morte decorreu de lesões e maus-tratos sofridos em dependência do II Exército – SP (Doi-Codi)", conforme havia sido solicitado pela Comissão Nacional da Verdade.
  • 34. Quem sobe ao alto lugar, que não merece, Homem sobe, asno vai, burro parece, Que o subir é desgraça muitas vezes. Gregório de Matos
  • 35. Bibliografia  http://folhab.blogspot.com.br/2012/05/musica-asa-branca-e-livro-vidassecas. html  http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Rela%C3%A7%C3%A3o- Entre-o-Livro-Vidas-Secas/31912297.html  http://literaturidade.blogspot.com.br/2012/05/graciliano-ramos-vidas- secas-e-luiz.html  http://revistakamikases.blogspot.com.br/2010_03_01_archive.html  http://jonesmatos.blogspot.com.br/2011/09/resenha-do-filme-sociedade- dos-poetas.html  http://pt.wikipedia.org/wiki/Carpe_diem  http://sabereslitbras1.wordpress.com/tag/gregorio-de-matos/  http://www.vagalume.com.br/caetano-veloso/triste-bahia.html  http://www.guiadelinguagens.com.br/dicas-de-estudo/barroco-poesia- gregorio-de-matos/  http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/ sermao-de-santo-antonio-aos-peixes.html  http://pt.wikipedia.org/wiki/Sermão_de_Santo_António_aos_Peix es  http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/ morte-e-vida-severina.html  http://www.coladaweb.com/resumos/morte-e-vida-severina-joao-cabral- de-melo-neto  http://loiroeinteligente.blogspot.com.br/2013/09/resenha-filme-xica- da-silva-1976.html  http://www.colegioweb.com.br/trabalhos-escolares/historia/crise-do- antigo-sistema-colonial/a-inconfidencia-mineira.html  http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/ romanceiro-da-inconfidencia.html
  • 36.  http://www.franklinmartins.com.br/estacao_historia_artigo.php?tit ulo=cinco-poemas-de-gregorio-de-matos-o-boca-do-inferno-bahia- 1682  http://pt.wikipedia.org/wiki/Vladimir_Herzog  http://pt.wikipedia.org/wiki/Cl%C3%A1udio_Manuel_da_Costa