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Abelhas Nativas
da Amazônia
e Populações
Tradicionais
PROGRAMA CASA DA VIRADA
Programa Abelhas Nativas da Amazônia
Instituto Peabiru
Belém, Pará, 2013
Richardson Ferreira Frazão
Manual de Meliponicultura
1ª Edição
Realização Patrocínio
RafaelAraújo
Programa Abelhas Nativas da Amazônia
Instituto Peabiru
Belém, Pará, 2013
Autor Richardson Frazão
Coordenador do Programa
Abelhas Nativas da Amazônia -
Instituto Peabiru
Biólogo, Mestre em
Desenvolvimento Regional –
Universidade Federal do Amapá –
UNIFAP/AP
Manual de Meliponicultura
1ª Edição
Abelhas Nativas
da Amazônia
e Populações
Tradicionais
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
ManualdeMeliponicultura
ManualdeMeliponicultura
54
Autor
Richardson Ferreira Frazão
Organização Editorial
Su Carvalho
Design e editoração
Mapinguari Design
Ilustração
Lucca Maia
Revisão Técnica
Fernando Oliveira
Fotografia
Fernando Oliveira
Rafael Araujo
Richardson Frazão
Agradecimentos
As comunidades de Cabeceira, Pingo
D´água, Caju, São Pedro e Pedras Grandes
sócios da Associação de Meliponicultores de
Curuçá – ASMELC em Curuçá - PA na pes-
soa de Maria Liliana Rodrigues e Maria das
Graças Lins. As comunidades Quilombolas
do Amapá – Mel da Pedreira, São Pedro dos
Bois, Ressaca da Pedreira, Torrão do Matapí,
Conceição do Macacoarí, Carvão, Curiaú,
Ambé, Mata Fome e Curralinho, represen-
tados por Dionatan C. de Souza e Joao B.
Fortunato “Paredão”. Aos Povos Indígenas
do Oiapoque representados por Evandro
Karipuna da Aldeia Açaizal etnia Karipuna e
Manoel Luis da Aldeia Kumenê etnia Palikur
na Terra Indígena Uaçá. As comunidades
Praia Verde e Lago Branco representadas
por Mário Bezerra, Jaci Flexa “Rauzito” e
Marinaldo Moreira em Almeirim - PA. A
RESEX do Cajarí no Amapá representados
por Ademir da Silva “‘K7” e Joelma Ferreira.
A Sybelle R. Machado Rabelo, Ana Laura
Rabelo Frazão, Maria Gabriela Rabelo
Frazão, Maria Jose Barney Gonzalez, Arley
Silveira da Costa, Jeronimo Khan Villas-Bôas,
Fernando Oliveira, Guilherme Romano,
José da Silva “Xarope”, Alexander P. Melo,
Domingos Santa Rosa, Plácido Magalhães.
Aos apoiadores desta iniciativa nos últimos
oito anos, em especial ao Banco Santander
(na ocasião ABN AMRO Foundation 2006-
2008); à Bolsa de Valores Sociais & Ambien-
tais 2009; à Embaixada dos Países Baixos
2009; à Sambazon, nas pessoas de Travis
Baumgardner e Miguel Hauat e os doadores
do Açaí Sustainable Project – VeeV Life e
Zorbit 2007-2012; à Petrobras, Programa
Petrobras Ambiental – Casa da Virada Fase
I e II em Curuçá 2007-2009 e 2011-2013;
à Conservação Internacional 2009; à The
Nature Conservancy 2009–2011; ao Fundo
Vale e à AMATA, parceiros nas primeiras
aquisições de mel do Amapá 2010; ao
Instituto Floresta Tropical (IFT) 2011 e 2012;
à Mapinguari Design pelo desenvolvimento
do design relacionado ao conceito, marca e
embalagem da Néctar da Amazônia.
Carta do Diretor
Apresentação
Meliponicultura e oportunidade
de renda complementar
A Meliponicultura e o combate
a mudanças climáticas
As abelhas e o meio ambiente
Abelhas sem ferrão? Como assim?
Meliponicultura: como fazer?
Conheça a biologia das abelhas
nativas sem ferrão
Divisão de castas de abelhas
Ciclo de Vida
Corpo das Abelhas
Estrutura dos ninhos naturais
Passo a Passo de como
começar a produção
Colmeia
O manejo correto
Multiplicação de colmeias
Colheita do mel
Considerações finais
Índice
7
9
10
11
13
15
16
17
18
19
21
23
25
29
37
44
46
49
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
ManualdeMeliponicultura
ManualdeMeliponicultura
76
É com muita alegria que apresentamos este manual,
fruto de árduos oito anos de trabalho de Richardson
Frazão e a equipe do Programa Abelhas Nativas da
Amazônia, do Instituto Peabiru junto a comunidades
e populações tradicionais da Amazônia setentrional
e oriental.
As abelhas nativas nos surpreendem a cada dia. São
as melhores companheiras de que dispomos para
enfrentar a destruição ambiental do Planeta Terra.
Indicam-nos o doce caminho para manter a floresta
em pé, a manutenção da água e da biodiversidade,
a colheita abundante de frutas e a geração de
renda complementar.
As abelhas nativas nos ensinam a enxergar os
ambientes naturais de outra maneira. Na medida
que compreendemos a fragilidade das abelhas,
entendemos de que maneira cuidar da Amazônia
para as presentes e as futuras gerações.
João Meirelles Filho
Diretor Geral
Instituto Peabiru
Carta do Diretor
RafaelAraújo
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
ManualdeMeliponicultura
ManualdeMeliponicultura
98
Pesquisas aplicadas do Instituto Peabiru sobre as
abelhas nativas da Amazônia demonstram o potencial
da meliponicultura – produção de mel de abelhas sem
ferrão – como cadeia de valor sustentável e participa-
tiva. Esta incrementa a renda familiar de agricultores e
inclui mulheres e jovens de comunidades tradicionais
na economia local. Além disso, as áreas manejadas
para criação das abelhas, resultam em diminuição de
desmatamento e queimadas na zona rural, contri-
buindo para o combate a mudanças climáticas.
Este manual traz, de maneira simples e resumida,
orientações básicas de como criar, manejar e produzir
mel de abelhas nativas sem ferrão, a partir da realida-
de de comunidades tradicionais que habitam a região
amazônica, como estratégia de conservação da socio-
biodiversidade. Apoiar a conservação é uma maneira
inovadora de comunidades tradicionais prestarem
importantes serviços ambientais, garantindo a
manutenção de seus recursos naturais.
Este manual foi desenvolvido para apoiar a capacita-
ção de comunidades tradicionais em meliponicultura,
e foi elaborado com base na experiência do Instituto
Peabiru que, desde 2006, desenvolve o Programa
Abelhas Nativas da Amazônia. Este programa já aten-
deu 350 famílias em 38 comunidades, nos estados do
Pará e Amapá com uma área de 20 mil hectares de
florestas sobre influencia do manejo das abelhas junto
às famílias capacitadas.
Apresentação
RafaelAraújo
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
ManualdeMeliponicultura
ManualdeMeliponicultura
1110
No contexto da agricultura familiar, as abelhas nativas
representam uma oportunidade para complementar
a renda familiar das comunidades. O mel pode gerar
uma renda de R$ 20,00 por quilo. Para famílias de
renda média individual próxima a R$ 100,00, um
único quilo de mel significa um aumento de 20% da
renda mensal.
Em função do apoio do Programa do Instituto
Peabiru, um grupo de mulheres da Associação dos
Meliponicultores de Curuçá (ASMELC), de Curuçá,
no Nordeste do Pará, produz cosméticos (sabonetes,
shampus e esfoliantes) à base de mel das abelhas sem
ferrão. No Amapá, quilombolas que trabalham com
meliponicultura comercializaram cerca de 200 quilos
de mel entre 2010 e 2011, o que possibilitou
aumento da autoestima das famílias envolvidas.
Meliponicultura
e oportunidade
de renda complementar
A criação das abelhas nativas é uma atividade
inovadora no combate a mudanças climáticas. Cada
quilo de mel produzido pode neutralizar até 16 quilos
de dióxido de carbono (CO²) lançados na atmosfera.
Este é um serviço ambiental importante, além de ser
uma ferramenta econômica para a conservação.
Uma comunidade com 30 meliponicultores fixa cerca
de 166 toneladas de carbono por ano e conserva mais
de 16 km2
de área florestada (160 hectares), além de
proteger a água, a biodiversidade e outros
recursos naturais da região.
O Programa Abelhas Nativas, tem contribuído para
manutenção de aproximadamente 20.000 hectares
de florestas tropicais manejados com abelhas nativas
e comunidades.
A Meliponicultura
e o combate a
mudanças climáticas
InstitutoPeabiru/RichardsonFrazão
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
ManualdeMeliponicultura
ManualdeMeliponicultura
1312
12
As abelhas são os principais polinizadores de espécies
de árvores da Amazônia. As abelhas são operárias da
conservação das florestas. Árvores e outras plantas
se reproduzem, multiplicam-se e dão frutos por meio
de um eficiente trabalho de polinização e fecundação
feito pelas abelhas, fundamentais para o equilíbrio do
ecossistema e produção de alimentos para o homem
e animais nas florestas tropicais.
No entanto, o desmatamento e as queimadas
ameaçam este exército de polinizadores, que de-
fendem, de forma quase invisível, a biodiversidade.
Assim, a valorização, proteção, conservação e criação
das abelhas nativas garantem a manutenção das
florestas, a partir de informações e o manejo correto.
A Amazônia possui cerca de 600 espécies de
abelhas nativas, conhecidas como abelhas sem ferrão
ou abelhas indígenas. Muitas destas abelhas ainda
são desconhecidas pela ciência, por pesquisadores e
pelos próprios comunitários da região. Além disto, é
preciso investigar sobre a construção de seus ninhos,
a capacidade de produção, a interação com plantas
e a melhor forma de criá-las, utilizando seus serviços
ambientais de polinização para a produção de
alimentos e conservação das espécies florais.
As abelhas e
o meio ambiente
Se as abelhas desaparecerem da face da terra,
a humanidade terá apenas mais quatro anos
de existência. Sem abelhas não há polinização,
não há reprodução da flora, sem flora
não há animais, sem animais não haverá
raça humana.
Albert Einstein
FernandoOliveira
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
ManualdeMeliponicultura
ManualdeMeliponicultura
1514
Os pesquisadores chamam as abelhas sem ferrão de
melíponíneos – por isso a atividade é chamada de
meliponicultura. Popularmente as abelhas são
conhecidas como uruçú, tiúba, tíuba rosilha, jupará,
jurupara, rajada, canudo, jandaíra, entre outros
nomes, de acordo com a região de ocorrência.
Em função da atrofia do ferrão, estas abelhas ficam
impossibilitadas de ferroar, o que facilita a sua criação
e produção de mel por comunidades tradicionais. Ao
mesmo tempo, por não ferroarem, suas colônias são
facilmente predadas por meleiros (coletores de mel).
Embora sua característica principal seja ausência do
ferrão, as espécies utilizam métodos comportamentais
de defesa das colônias, que vão desde ataques em
massa sobre os pelos dos agressores, até a criação de
barreiras para dificultar o acesso às colônias.
O maior inimigo das abelhas nativas é o homem,
quando este realiza a derrubada ilegal da floresta e a
coleta predatória de mel. A introdução da apicultura
(criação das abelhas europeias com ferrão, chama-
das também africanas, africanizadas ou sicilianas) em
grande escala na Amazônia tem desestimulado muitas
famílias a manejarem as abelhas nativas em função
da quantidade de mel produzido pela abelha africani-
zada. O grande problema é que as abelhas européias
possuem ninhos com dez vezes mais abelhas operá-
rias que as abelhas sem ferrão, tendo assim uma dis-
puta por alimento muito desproporcional em função
da quantidade de abelhas por colônia.
Abelhas sem ferrão?
Como assim?
RafaelAraújo
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionaisManualdeMeliponicultura
17
Meliponicultura:
como fazer?
Quem cria as abelhas sem ferrão?
(Meliponíneos)
Porque pratica a
MELIPONICULTURA
É um
MELIPONICULTOR
Na natureza as colônias de abelhas nativas sem ferrão
são encontradas em troncos de árvores vivas ou
mortas. Eventualmente serão encontradas em paredes
das casas e muros, postes de energia, forros de
residências e até mesmo no chão. Elas vivem
organizadas em sociedade, com divisão de trabalho
na colônia. Vamos conhecer:
RAINHA
É a responsável pela postura dos ovos. É reconhecida
por seu abdômen dilatado.
RAINHAS VIRGENS
Sempre presentes na colônia para o momento de
substituir a rainha mãe quando velhas ou doentes.
OPERÁRIAS
São responsáveis pela defesa, busca de alimentos e
outras atividades de manutenção da colmeia. São
todas fêmeas.
MACHOS
Realizam pequenos trabalhos com cerume e quando
férteis, são expulsos da colmeia, afastando-se desta a
procura de rainhas virgens para o acasalamento.
1Conheça a biologia
das abelhas nativas
sem ferrão
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
ManualdeMeliponicultura
ManualdeMeliponicultura
1918
O ciclo de vida de uma abelha inicia-se com a rainha
pondo os ovos, passa por várias fases, entre sair da
célula de cria já adulta, até a atividade operária de
manutenção da colônia. Após o nascimento, o tempo
de vida de uma abelha é de 55 dias. Acompanhe o
ciclo de desenvolvimento pré-adulto na figura abaixo:
2Ciclo de Vida
1
5
3
7
9
11
Célula de cria
Larva no 1º estádio
Pré-pupa
Abelha jovem
2
6
4
8
10
Ovo em cima do alimento liquido
Larva pós-defecante
Larva no 2º estádio
Pupa não pigmentada
Larva de último estádio, larva pré-defecante
fabricando o casulo de seda e comendo o
resto sólido de alimento
Pupa pigmentada, com movimentos chamada
de farato.
Abelha emergindo usualmente com auxílio de
operárias mais velhas, imago.
Macho
Operárias
Rainha
Rainha Virgem
Divisão de castas
das abelhas
Adaptado de Kerr et al. 1996
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
ManualdeMeliponicultura
ManualdeMeliponicultura
2120
1
7
2
8
3
9
4
10
5
11
6
Esquema adaptado de Posey e Camargo 1985
As abelhas são insetos com o corpo dividido em 3
partes: cabeça, tórax e abdome.
3Corpo
das abelhas
Adaptado de Nogueira Neto 1997
Língua
3 ocelos
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
ManualdeMeliponicultura
ManualdeMeliponicultura
2322
Formado internamente pela
vesícula melífera, um papo de mel
para transporte de néctar e água;
glândulas cerígenas, produtoras de
cera na porção dorsal; glândulas de
cheiro e o aparelho reprodutivo;
Abdome
Formada por um par de olhos
compostos; três ocelos, que servem
para enxergar no interior da colmeia
e dentro das flores; um par de
antenas, onde localizam-se os órgãos
sensoriais para tato e odor; a boca,
que possui as mandíbulas, a língua e
as glândulas salivares;
e o cérebro.
Formado por três segmentos:
protórax, mesotórax e metatórax.
Nele se encontram três pares de
pernas e dois pares de asas. Nas
tíbias das pernas traseiras está a cor-
bícula, estrutura em forma de colher,
que serve para carregar pólen ou
outras substâncias.
Tórax
Cabeça
A estrutura dos ninhos das abelhas sem ferrão é
diferente de espécie para espécie. Há ninhos em
forma de cachos, cujas células de crias são
emaranhadas e sobrepostas, como para as abelhas
marmelada (Frieseomellita sp), cachorro Trigona sp)
e jataí (Tetragonisca sp).
Por sua vez, o grupo onde estão classificadas as abelhas
uruçú, tiúba, jandaíra, tiúba rosilha, jupará, jurupará são
classificadas no gêreno (Melipona sp) e possuem um
padrão de estrutura similar.
4Estrutura dos
ninhos naturais
ESPÉCIES DE ABELHAS MANEJADAS PELOS COMUNITÁRIOS
Uruçú cinzenta,
rajada, tiúba
rosilha, jupará
Melipona
compressipes
5 quilos
Serrado e mata
fechada (savana
tropical e floresta
ombrófila)
Macapá, Terra
Indígena Uaça, Cajarí,
Centro-oeste
Calha
Norte
Jurupará, uruçú
preguiçosa
Melipona
fulva
5 quilos Serrado (Savana)
Macapá, Terra
Indígena Uaça, Cajarí
Calha
Norte
Pinto de velho,
abelha tigre
Melipona
lateralis
5 quilos
Mata fechada
(floresta ombrófila)
Cajarí, Terra Indigena
Uaçá, Centro-oeste
Sem
registro
Uruçú laranjada,
uruçú amarela
Melipona
paraensis
10 quilos
Mata alagada
(floresta de
varzea e igapó)
Carvão, Cajarí, Terra
Indígena Uaça
Sem
registro
Uruçú amarela
Melipona
flavolineata
3 quilos
Mangue e floresta
de terra firme
Sem registro
Nordeste
do Pará
Uruçú cinzenta,
tiúba
Melipona
fasciculata
5 quilos
Mangue e floresta
de terra firme
Sem registro
Nordeste
do Pará
Taquaruçú
Melipona me-
lanoventer
3 quilos
Mata alagada
(floresta de
varzea e igapó)
Sem registro
Ilhas do
Pará
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
ManualdeMeliponicultura
ManualdeMeliponicultura
2524
Fim do oco
(batume superior)
Potes de mel
Pote
não tapado
Boca
de entrada
Túnel
principal
de entrada
Tampa
do ninho
Potes de saborá
(pólen)
Os favos mais
novos (escuro)
Os favos mais
velhos (claro)
Invólucro
(cobertor
do ninho)
Pilares de
sustentação
dos favos de cria
Fim do oco
(batume
inferior crivado)
Esquema adaptado de Posey e Camargo 1985
Para iniciar a criação de abelhas sem ferrão, com o
objetivo de produzir mel, é necessário um planeja-
mento básico inicial. Importante: isto evita erros que
costumam desanimar quem começa a atividade sem
informação técnica.
5Passo a Passo de
como começar
a produção
Instituto Peabiru / Richardson Frazão
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
ManualdeMeliponicultura
ManualdeMeliponicultura
2726
III
IV
Construir um meliponário, ou seja, organizar um
local para instalar as colmeias para criação de
abelhas melíponas. É importante que essa instala-
ção seja feita nas proximidades de residências da
comunidade, a pelo menos 50 a 100 metros das
casas, para facilitar o acesso às colmeias. O espa-
ço deve ter sombra, ser plano, de fácil acesso e
próximo a fonte de água. Caso o interesse seja por
criação com mais de 50 colmeias, deve-se optar
por áreas em zonas rurais, para configurar uma
atividade de base agroecológica. Após a escolha
do local, siga os passos seguintes:
Obter as colônias de abelhas. Isto pode ser reali-
zado de quatro maneiras: a) coleta de ninho em
áreas de vegetação nativa, b) resgate em áreas
sujeitas a queimadas; c) adquirindo de criadores
(de preferência, criadores com registro no IBAMA
- Cadastro Técnico Federal) ou d) por multiplica-
ção artificial, caso o produtor possua colmeias.
I
II
Identificar qual espécie de abelha nativa ocorre no
local. Isso é muito importante, pois não se deve
introduzir espécies que não são daquele ambiente,
pois estas podem interferir na biodiversidade local.
Conforme o local, o Instituto Peabiru pode apoiar
com uma avaliação ou diagnóstico (ver contatos
ao final desse manual). Caso não possa, pode
recomendar profissionais qualificados nas insti-
tuições da região. O importante é evitar seguir o
palpite de quem não conhece o assunto.
Identificar se no local onde se pretende construir
o meliponário ainda existem abelhas nativas sem
ferrão. Veja se há outros produtores na região.
Procure mapear os ninhos naturais na propriedade
e nos vizinhos.
MATERIAIS NECESSÁRIOS PARA
CONSTRUÇÃO DE UM MELIPONÁRIO
PARA A ESTRUTURA
Cavaletes: são suportes de madeira medindo 1,5 m,
devem ser enterrados no solo a 50 cm, ou ficar a uma
altura onde o meliponicultor se sinta confortável para
manejar suas colmeias.
Suporte para as colmeias: são peças de madeira que
devem ser fixadas com pregos na parte superior do
cavaletes para receber as colmeias;
Chumaços de esponjas: esponja (tipo colchão) cor-
tada em tira e fixada com arame 20 cm abaixo do
suporte das colmeias e ensopadas com óleo de carter,
para evitar ataques de inimigos naturais
(ver item manejo);
Arames: servem para prender a colmeia no suporte
fixado ao cavalete, evitando deixar a colmeia cair no
chão por fortes ventos e animais;
Telhas: servem para proteger as colmeias contra
chuvas e sol intenso;
Peso da Telha: serve para apoiar a telha na colméia,
evitando que caiam no chão e quebrem facilmente,
pequenos tijolos maciços são suficientes.
InstitutoPeabiru/RichardsonFrazão
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
ManualdeMeliponicultura
ManualdeMeliponicultura
2928
PARA MONTAGEM
Fita métrica e/ou trenas: para medir os espaços entre
as colmeias e entre as fileiras de colmeias
no meliponário;
Linha de nylon: necessária para o alinhamento dos
cavaletes no meliponário;
Ferro de covas e/ou dragas: necessário para a
abertura das covas para fixar os cavaletes;
Pregos: para fixar suporte para as colmeias
no cavalete;
Serrotes: para ajustes nos cavaletes e nos suporte das
caixas, quando necessário;
Aconselhamos que pelo menos duas pessoas se dediquem à construção
de um meliponário padrão, com capacidade inicial de 50 colmeias.
No caso de um meliponários com menos de 50 colmeias, uma única
pessoa poderá construi-lo em cerca de 3 dias. Não se esqueça de,
primeiramente, ter em mão todos os materiais, além de planejar o
tempo de acordo com as demais atividades do meliponicultor.
MÃO-DE-OBRA
No meliponário as colônias são instaladas em colmeias
de madeira com arquitetura adequada para o manejo,
a reprodução controlada, a produção e a coleta de
mel. Apresentaremos, a seguir, o principal modelo de
colmeia utilizado na Amazônia: a colmeia Fernando
Oliveira, idealizada por Fernando Oliveira (Oliveira e
Kerr, 2000).
Esta colmeia apresenta bons resultados para a meli-
ponicultura desenvolvida na Amazônia. Possui tecno-
logia simples e de fácil acesso às populações tradicio-
nais, e é mais adequada à região, sobretudo para as
espécies ocorrentes no Pará e no Amapá. No Estado
do Amazonas, a partir das experiências do Instituto
Iraquara, esta colméia apresenta resultados muitos sa-
tisfatórios quanto à transferência de colônias, manejo
e produção de mel.
Embora existam outros modelos a partir da colmeia
de Virgílio de Portugal Araújo, pioneiro na melipo-
nicultura do país (Kerr, 1984), o Programa Abelhas
Nativas, do Instituto Peabiru, adota o modelo de
colmeia Fernando de Oliveira para o desenvolvimento
da cadeia de produção de mel das abelhas sem ferrão
da Amazônia.
6Colmeia
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
ManualdeMeliponicultura
ManualdeMeliponicultura
3130
Tampa
Melgueira
Módulo de Divisão
Fundo
Entrada da colmeia
Arame de apoio
50cm do
cavalete
enterrados
1m do
cavalete
para fora
Pode-se usar qualquer madeira durável, com cheiro
agradável e macia (para não rachar com os pregos).
Dê preferência a madeiras vermelhas, pois, em geral,
são mais resistentes. É nestas madeiras que se encon-
tram os ninhos de abelhas na natureza.
Para colmeia pequena - a mais recomendada para as
espécies ocorrentes no Amapá e no Pará. As medi-
das apresentadas seguem o modelo construído pelo
pesquisador Fernando Oliveira. Neste caso as células de
crias dos ninhos são construídas na posição horizontal
formando um disco de cria. Isto possibilita seu manejo
por meio de colmeias racionais, em especial a colmeia
Fernando Oliveira, apresentada nesse manual.
1. Seis pedaços A (20 X 7,5 X 2,5 cm).
2. Seis pedaços B (15 X 7,5 X 2,5 cm).
6.1As medidas
25 cm
2 cm
4 cm
20 cm
F
20 cm
6x
1x
6x
15 cm
15 cm
12 cm
7,5 cm
2,5 cm
7,5 cm
2,5 cm
1,5 cm
B
C
A
6x
1x
15 cm
15 cm
12 cm
7,5 cm
2,5 cm
1,5 cm
B
C
Adaptado de Oliveira e Kerr 2000
InstitutoPeabiru/RichardsonFrazão
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
ManualdeMeliponicultura
ManualdeMeliponicultura
3332
3. Apontar dois pregos finos de 2” (duas polegadas)
em cada lado das peças A e B. Montar duas peças
A sobre duas peças B.
4. Estes são os Quadros e faremos três.
B
B
A
A
2”
5. Um pedaço C (15 X 12 X 1,5 cm) esta peça é o
fundo do Primeiro quadro, a Melgueira.
1x
15 cm
12 cm
7,5 cm
1,5 cm
C
1.5”
1.5 cm
B1
B1
A
1
A
1
C
4x
2x
20 cm
25 cm
2 cm
4 cm
20 cm
7,5 cm
11 cm
7,5 cm
2,5 cm
1,5 cm
F
E
D
20 cm
6x
15 cm
7,5 cm
2,5 cm
A
6. Vestir C na face interna do primeiro quadro, deixar
dois espaços laterais de 1,5 cm de cada lado, para
as abelhas terem acesso a melgueira.
7. Fixar o C com três pregos finos de 1,5” de cada
lado, o prego atravessa a parede do quadro vazan-
do na peça C.
8. Quatro triângulos D (7,5 X 7,5 X 11 X 1,5 cm).
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
ManualdeMeliponicultura
ManualdeMeliponicultura
3534
B2
B2
A
2
A
2
D D
DD
B2
B2
A
2
A
2
D D
DD
B2
B2
A
2
D D
DD
B2
B2
A
2
A
2
D D
DD
0,5”
1,5”
9. Fixar nas paredes internas do segundo quadro os
quatro triângulos D, utilizando um prego fino de
0,5”, para fixar cada um dos triângulos nos cantos
das paredes quadro. O prego atravessa o triângulo
D e vaza na parede interna do quadro. Este segun-
do quadro com quatro triângulos D chamamos de
Gaveta de Divisão.
10. Na Gaveta de Divisão, fixar pela metade, um prego
fino de 1,5” nas duas laterais e ao centro, servirá
para fixar com arame a colmeia no cavalete.
2 cm
2”
4x
2x
20 cm
25 cm
2 cm
4 cm
20 cm
7,5 cm
11 cm
7,5 cm
2,5 cm
1,5 cm
F
E
D
B3
A3
B3
A3
E
11. Dois pedaços E (20 X 20 X 2,5 cm).
12. Sob o terceiro quadro, fixar com prego fino de 2”
um pedaço E. Fazer um furo de 2 cm de diâmetro
em baixo e na lateral deste quadro. Para este qua-
dro chamamos de Fundo.
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
ManualdeMeliponicultura
ManualdeMeliponicultura
3736
4x
2x
20 cm
25 cm
2 cm
4 cm
20 cm
7,5 cm
11 cm
7,5 cm
2,5 cm
1,5 cm
F
E
D
20 cm
6x
7,5 cm
2,5 cm
A
F
F
E
2”
13. Quatro triângulos D (7,5 X 7,5 X 11 X 1,5 cm).
14. Um pedaço de E no sentido do corte da madeira.
Fixar com 3 pregos finos de 2” um batente F deita-
do em uma das extremidades, e outro batente em
pé na outra extremidade. Para esta peça chama-
mos de Tampa, os batentes invertidos são para dar
caimento na telha.
Pintar com verniz o lado externo da colmeia para evitar o
encharcamento, possibilitando maior durabilidade, além de
valorizar a colmeia.
PINTURA DA COLMEIA
7O manejo correto
Após a seleção das espécies, da área do meliponário
e a construção da colmeia, inicia-se o processo de
criação. Aqui é preciso seguir todas as orientações
de manejo, ou seja, um conjunto de cuidados com
as abelhas, de modo a possibilitar as multiplicações e
produtividade. Entre estes cuidados estão:
FernandoOliveira
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ManualdeMeliponicultura
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3938
ALIMENTAÇÃO ARTIFICIAL CONSTANTE
(no período de chuva)
As abelhas necessitam de uma alimentação de
reforço, que consiste em solução de água com açúcar
(xarope), para garantir a sobrevivência nas condições
de poucas flores no período chuvoso.
MÍNIMA PERTURBAÇÃO
Não seja curioso e nem abelhudo. Quando estão
alocadas nas colmeias, as abelhas necessitam de tran-
quilidade para não enxamearem (abandonar o ninho),
para evitar perder a rainha, e diminuir as chances de
sucesso do ataques de predadores.
VERIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES DIÁRIAS
Para evitar perdas das colônias por inimigos naturais,
uso de agrotóxicos e outras situações ocasionais é
preciso realizar visitas diárias ao meliponário. Observe
atentamente as colmeias para ver se houve modifica-
ções de um dia para o outro.
LIMPEZA DA ÁREA DO MELIPONÁRIO
O terreno do meliponário deve estar sempre limpo.
Isto garante a segurança do meliponicultor em visita
às colmeias (ataque de animais peçonhentos como
cobras, escorpiões e aranhas). Além do mais, em
todas as etapas de produção o mel necessita higiene
total. Lembre-se, trata-se de um alimento. A limpeza
evita possíveis contaminações e riscos para a saúde
das pessoas que irão consumi-lo.
COBERTURA DAS COLMEIAS CONTRA CHUVAS
Na natureza as abelhas estão sempre abrigadas em
seus ninhos e protegidas nos ocos das árvores. No
meliponário as colmeias devem receber uma cobertu-
ra de telha, para evitar tanto a incidência da luz do sol
a pino, como a chuva intensa. Deve-se lembrar que a
madeira das colmeias é resistente até certo ponto ao
sol e água de chuva intensos.
Se estas
orientações
forem seguidas
a risca, você terá
um meliponário
seguro, para as
colmeias de
abelhas e capaz
de produzir mel.
IMPORTANTE!
VEDAÇÃO DAS LATERAIS COM FITA
No momento da transferência para a colméia, reco-
menda-se a vedação das frestas com auxilio de fita
gomada. Quando você perceber que as colmeias
estão vedadas internamente, não será mais preciso
utilizar as fitas gomadas.
MANTER OS CAVALETES UMEDECIDOS
COM ÓLEO DE CARTER USADO
As formigas e cupins são inimigos naturais que destroem
as colônias de abelhas, e precisam ser eliminados antes
da montagem do meliponário. Quando isso não é
possível, use uma tira de espuma para amarrar no
cavalete e mantenha esta espuma encharcada com
óleo de carter usado.
LIMPEZA DAS COLMEIAS
Caso não seja feita uma limpeza rotineira, ao longo
do tempo as colmeias acumulam entulho natural de
folhas, cascas de árvores, teias de aranha e mesmo
outros insetos indesejados (como marimbondos, la-
gartixas, sapos, aranhas, escorpiões e mesmo cobras).
Portanto, realize uma limpeza periódica para evitar
perdas de colmeias e acidentes com o meliponicultor.
SUBSTITUIÇÃO OU CONCERTOS
DE MÓDULOS DANIFICADOS
Na Amazônia a umidade e mudanças do clima acele-
ram o desgaste da colméia. Quando constatar que as
partes de madeira precisam ser consertadas ou subs-
tituídas, não espere muito tempo. No entanto, avaliar
se é melhor realizar primeiro a transferência completa
da colônia, antes de qualquer reparo. Isto porque a
perturbação pode prejudicar a colônia, levando a morte
da rainha e /ou exameagem (abandono da colônia).
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
ManualdeMeliponicultura
ManualdeMeliponicultura
4140
7.1Alimentação
de reforço
Esta é uma das principais etapas do manejo, princi-
palmente no inverno, quando as colmeias precisam
de alimentação de reforço devido a baixa coleta de
néctar e pólen. Isto ocorre porque há poucas floradas
no período das chuvas na Amazônia. Algumas espé-
cies como o açaí têm a capacidade de produzir pólen
o ano todo, o que auxilia o manejo das colmeias, caso
na área do meliponário exista um açaizal natural
e/ou plantado.
Nesse período as abelhas precisam receber um xarope
de reforço. É barato e fácil de fazer. Veja a receita:
XAROPE DE REFORÇO
RECEITA PARA 9 COLMEIAS
Ingredientes:
- 1 litro de água;
- 1 quilo de açúcar; 4
PASSO A PASSO DO PREPARO
DO XAROPE DE REFORÇO
Usando um funil,
encher a garrafa (PET)
Colocar 1l de água na
panela
1
2
3
Levar ao fogo e
ficar mexendo só para
dissolver o açúcar,
não precisa esquentar
muito e se ficar quente,
deixar esfriar.
Depois acrescentar 1kg
de açúcar no recipiente.
Fazer a
quantidade
exata para usar
no mesmo dia.
O xarope não
pode ser
guardado
porque estraga.
NOTA
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionaisManualdeMeliponicultura
43
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionaisManualdeMeliponicultura
42
O xarope deve ser servido às abelhas quando estiver
à temperatura ambiente. Garrafas de refrigerante tipo
PET são ideais para armazenar o xarope e para auxi-
liar na alimentação das colmeias.
Importante: Dependendo do número de colmeias, a
quantidade de xarope pode ser maior ou menor, mas
a medida deve ser sempre de 1 para 1, ou seja,
a quantidade de água e açúcar devem ser iguais.
COMO SERVIR O XAROPE
Coloque nas melgueiras uma cumbuca plástica de
120 ml de capacidade, com cinco palitos de picolé
dentro. Encha a cumbuca de xarope.
Lembre-se: Esses palitos de picolé servem para que as
abelhas não morram afogadas ao entrarem na cum-
buca para se alimentar. Assim elas podem caminhar
até o nível mais baixo do recipiente de plástico.
No verão o xarope deve ser colocado pelo menos
uma vez por semana. No inverno é necessário que
seja colocado duas vezes (lembre que há poucas plan-
tas com flores na região).
InstitutoPeabiru/RichardsonFrazão
RafaelAraújo
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AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
ManualdeMeliponicultura
ManualdeMeliponicultura
4544
Quanto mais colmeias, maior a produção de mel. Por
isso, é importante que o meliponicultor multiplique
suas colônias de abelhas. Estas também poderão ser
comercializadas ou trocadas por outros produtos com
outros produtores iniciantes. Esta é uma etapa impor-
tante e deve ser realizada por técnicos, profissionais
especializados ou pessoas treinadas. As multiplicações
devem obedecer alguns critérios importantes:
As abelhas devem ter sido manejadas corretamente;
O ninho deve ocupar todo o módulo de baixo da col-
méia e o módulo de divisão da colmeia, ou seja, este
deve ser um ninho bem forte;
A quantidade de abelhas deve ser ótima
(colmeia populosa);
O tempo de manejo deve ser seguido corretamente,
ou seja um mínimo de 4 meses e, um máximo de 6
meses (manejo correto);
O meliponário deve estar estruturado para receber
um maior número de abelhas de maneira cômoda;
Se você não tiver segurança em fazer este trabalho,
chame o técnico!
8Multiplicação
de colmeias
Após as multiplicações, adote todos os cuidados
para que o o manejo correto seja feito. Além disso,
é necessário manter um registro constante do que
ocorre com as colônias no meliponário, mantendo um
caderno de anotações organizado.
8.1Cuidados
importantes
As datas de alimentação com o xarope;
As datas de limpeza de colmeias e do meliponário;
A ocorrência de enxames em migração, ataques de
abelhas ladras, além de outros insetos e predadores;
As anotações das plantas em floração no entorno do
meliponário;
Os acontecimentos e outras informações que o
meliponicultor considerar relevantes.
SEU CADERNO DE ANOTAÇÕES DEVE CONTER
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AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
ManualdeMeliponicultura
ManualdeMeliponicultura
4746
Na Amazônia, se as colmeias forem manejadas corre-
tamente, a coleta de mel ocorrerá no verão (em geral,
de julho a dezembro), período de maior floração.
COMO COLHER O MAIS DELICIOSO MEL DO MUNDO
É muito simples fazer a coleta do mel das abelhas
nativas sem ferrão e diferentes maneiras podem ser
usadas. Veja abaixo qual a melhor opção para o seu
meliponário:
Bomba a vácuo: ligada a energia elétrica, a
bomba suga o mel dos potinhos rapidamente, por
meio de uma mangueira fina, armazenando-o no
recipiente de 1,5 litros já acoplado ao aparelho.
Seringa descartável: basta inserir a seringa des-
cartável no potinho e sugar o mel até ficar cheia.
Depois, despejar todo o conteúdo da seringa no
vidro que irá armazenar o mel.
Peneira: colocar uma peneira em cima da vasilha
onde o mel será armazenado. Com cuidado, retirar
a melgueira da caixa para abrir os potes e virar sobre
a peneira. Ficar atendo para quando o mel parar de
escorrer e recolocar a melgueira na caixa.
9Coleta
do mel
Esse tipo de bomba geralmente é encontrada em lojas de produtos
hospitalares e custa cerca de R$ 400,00.
Telas de nylon utilizadas em janelas de casas também podem ser usa-
das como peneiras, porém o mel deverá passar por uma nova filtragem.
A bomba a
vácuo é a maneira
mais higiênica de
colher mel.
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47
FILTRAGEM
Depois de colhido o mel deve ser filtrado. Nos proces-
sos artesanais, pode-se utilizar meias-calças femininas,
tipo de seda. Custa pouco e deve funcionar como
coadores de café feitos de meia. Antes e após o uso os
coadores caseiros devem ser bem lavados e mantidos
higienizados.
DESUMIDIFICAÇÃO DO MEL
Cuidados importantes para o mel não estragar
O mel das abelhas sem ferrão é fino, diferente do mel
da apicultura. Por ter muita umidade, pode fermentar
facilmente, o que vai estragar sua produção. Por isso
alguns cuidados devem ser tomados. Para beneficiar
o mel, siga o passo a passo:
1) Leve ao fogo, em banho Maria, o vidro com o mel
coletado.
2) Deixe o vidro aberto e mexa o mel com um termô-
metro de laticínio até alcançar 60 graus.
3) Feche o vidro ainda quente e deixe esfriar.
4) Armazenar em local ventilado, dentro de caixas ou
enrolados em papel.
Obs.: Calor e luminosidade devem ser evitados.
LEMBRE-SE
Se o mel não for beneficiado, conserve-o na geladeira, como se faz
com o iogurte. O mel colhido e envasado sem aquecimento deve
ser mantido na geladeira. Fora dela, o mel se estraga.
IMPORTANTE!
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AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais
ManualdeMeliponicultura
ManualdeMeliponicultura
4948
OUTRAS FORMAS DE TIRAR A UMIDADE
No caso de grandes quantidades de mel coletado, a
umidade do mel deve ser retirada com um equipamen-
to especialmente construído para isso, o desumidifica-
dor. Trata-se de uma máquina para grandes produto-
res, pois o investimento é alto, podendo chegar
a R$ 50.000,00.
Não esqueça que, independente da forma de coleta,
só o mel desumidificado atende às normas brasileiras
de produção de alimentos.
ATENÇÃO!
10Considerações
1. Antes de iniciar sua criação busque orientação
com técnicos capacitados. Não se deixe levar por
pessoas que não tem nenhuma prática no manejo
das abelhas e desconhecem as espécies, assim você
evitará dor de cabeça;
2. Não introduza colônias de espécies de abelhas que
não ocorram na sua comunidade e/ou região onde
está sua propriedade rural, procure conservar as
espécies da fauna local;
3. Na época do plantio e de preparo da terra, caso
seja necessário derrubar árvores, lembre de ter autori-
zação do órgão ambiental de sua cidade. Sempre
tente resgatar as abelhas mesmo sendo de espécies
que não produzem mel, elas são suas aliadas na
produção de alimento saudável;
4. Caso você não tenha interesse em criar as abelhas,
resgate as colônias e as deixe no interior da floresta.
Um dia você precisará delas para a polinização das
plantas frutíferas da sua propriedade;
5. Não venda as colmeias e/ou colônias somente
pelo interesse financeiro momentâneo, você estará
apoiando o comércio ilegal e apoiando pessoas de
caráter duvidoso;
AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionaisManualdeMeliponicultura
50
Referência
bibliográfica
Kerr,W.E.VirgiliodePortugalAraujo(1919-1983).ActaAmazonica
13 (1-2):327-328.1984.
Kerr, W. E.; Carvalho, G. A.; Nascimento, V. A. 1996. Abelha
Uruçu: Biologia, Manejo e Conservação. Belo Horizonte MG,
Ed. Fundação Acangaú, 144pp.
Nogueira-Neto, P. Vida e Criação de Abelhas indígenas sem
ferrão. — São Paulo: Editora Nogueirapis, 1997. 445p.
Oliveira, F.; Kerr, W. E. 2000. Divisão de uma colônia de jupará
(Melipona compressipes) usando-se o método Fernando Oliveira.
INPA, Manaus - AM. 7pp.
Posey, D. A.; Camargo, J. M. F. 1985. Additional Notes on the
Classification and Knowledge of Stingless Bees (Meliponinae,
Apidae, Hymenoptera) by Kayapó Indians of Gorotire, Pará,
Brazil. Annals of Carnegie Museum54 (8): 247-274.
Fontes de consulta
Frazão, R. F.; Reis, R. W. A.; da Costa, A. J. S. Espécies de Abelhas
Indígenas Sem Ferrão com Potencial de Uso como Estratégia de
Desenvolvimento Social por Comunidades do Entorno de Macapá,
Ap.. In: 2º Seminário de Iniciação Científica da Universidade
Federal do Amapá. Macapá: UNIFAP, 2006.
Oliveira, F. Manual de Meliponicultura: Edição Especial para
Meliponicultores Tradicionais - Tecnologia e Técnicas de Manejo
para a Reprodução de Colônias e Produção de Mel de Abelhas
Indígenas Sem Ferrão (Meliponíneos). Instituto Iraquara. 2006.
36p.
Villas-Bôas, J. Manual Tecnológico: Mel de Abelhas sem Ferrão.
Brasília – DF. Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).
Brasil, 2012. 96 p.; il. - (Série Manual Tecnológico). Disponível
em http://www.ispn.org.br/arquivos/mel008_31.pdf.
6. Caso você queira ser um médio produtor, maneje
as espécies da sua região. Se você tiver mais que 50
colmeias será necessário realizar o Cadastro Técnico
Federal junto ao IBAMA;
7. Faça das abelhas suas grande aliadas para a
produção de alimentos a partir da polinização das
plantas regionais como açaí, bacaba, goiaba,
pupunha, taperebá, cupuaçu. Lembre-se que essas e
outras plantas tem frutos importantes para alimenta-
ção de nossa população e poderão ser comercializa-
dos em feiras e em agroindustrias;
8. Plante árvores na sua propriedade, assim você
contribui com o clima de sua região de do planeta.
Incentive seus vizinhos a plantar árvores, suas abelhas
poderão utilizar as flores do seu vizinho para produzir
mel e frutos;
9. Respeite sua floresta. Cada hectare de floresta em
pé pode comportar até 2.500 colmeias e assegura
100 toneladas de carbono não emitidos na atmosfera;
10. Faça das abelhas nativas um aliado contra o
desmatamento e o aquecimento global, e tenha uma
vida saudável e bem doce com a sua família. O meio
ambiente agradece.
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Abelhas nativas da amazônia e populações tradicionais manual de meliponicultura

  • 1. Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais PROGRAMA CASA DA VIRADA Programa Abelhas Nativas da Amazônia Instituto Peabiru Belém, Pará, 2013 Richardson Ferreira Frazão Manual de Meliponicultura 1ª Edição Realização Patrocínio RafaelAraújo
  • 2. Programa Abelhas Nativas da Amazônia Instituto Peabiru Belém, Pará, 2013 Autor Richardson Frazão Coordenador do Programa Abelhas Nativas da Amazônia - Instituto Peabiru Biólogo, Mestre em Desenvolvimento Regional – Universidade Federal do Amapá – UNIFAP/AP Manual de Meliponicultura 1ª Edição Abelhas Nativas da Amazônia e Populações Tradicionais
  • 3. AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais ManualdeMeliponicultura ManualdeMeliponicultura 54 Autor Richardson Ferreira Frazão Organização Editorial Su Carvalho Design e editoração Mapinguari Design Ilustração Lucca Maia Revisão Técnica Fernando Oliveira Fotografia Fernando Oliveira Rafael Araujo Richardson Frazão Agradecimentos As comunidades de Cabeceira, Pingo D´água, Caju, São Pedro e Pedras Grandes sócios da Associação de Meliponicultores de Curuçá – ASMELC em Curuçá - PA na pes- soa de Maria Liliana Rodrigues e Maria das Graças Lins. As comunidades Quilombolas do Amapá – Mel da Pedreira, São Pedro dos Bois, Ressaca da Pedreira, Torrão do Matapí, Conceição do Macacoarí, Carvão, Curiaú, Ambé, Mata Fome e Curralinho, represen- tados por Dionatan C. de Souza e Joao B. Fortunato “Paredão”. Aos Povos Indígenas do Oiapoque representados por Evandro Karipuna da Aldeia Açaizal etnia Karipuna e Manoel Luis da Aldeia Kumenê etnia Palikur na Terra Indígena Uaçá. As comunidades Praia Verde e Lago Branco representadas por Mário Bezerra, Jaci Flexa “Rauzito” e Marinaldo Moreira em Almeirim - PA. A RESEX do Cajarí no Amapá representados por Ademir da Silva “‘K7” e Joelma Ferreira. A Sybelle R. Machado Rabelo, Ana Laura Rabelo Frazão, Maria Gabriela Rabelo Frazão, Maria Jose Barney Gonzalez, Arley Silveira da Costa, Jeronimo Khan Villas-Bôas, Fernando Oliveira, Guilherme Romano, José da Silva “Xarope”, Alexander P. Melo, Domingos Santa Rosa, Plácido Magalhães. Aos apoiadores desta iniciativa nos últimos oito anos, em especial ao Banco Santander (na ocasião ABN AMRO Foundation 2006- 2008); à Bolsa de Valores Sociais & Ambien- tais 2009; à Embaixada dos Países Baixos 2009; à Sambazon, nas pessoas de Travis Baumgardner e Miguel Hauat e os doadores do Açaí Sustainable Project – VeeV Life e Zorbit 2007-2012; à Petrobras, Programa Petrobras Ambiental – Casa da Virada Fase I e II em Curuçá 2007-2009 e 2011-2013; à Conservação Internacional 2009; à The Nature Conservancy 2009–2011; ao Fundo Vale e à AMATA, parceiros nas primeiras aquisições de mel do Amapá 2010; ao Instituto Floresta Tropical (IFT) 2011 e 2012; à Mapinguari Design pelo desenvolvimento do design relacionado ao conceito, marca e embalagem da Néctar da Amazônia. Carta do Diretor Apresentação Meliponicultura e oportunidade de renda complementar A Meliponicultura e o combate a mudanças climáticas As abelhas e o meio ambiente Abelhas sem ferrão? Como assim? Meliponicultura: como fazer? Conheça a biologia das abelhas nativas sem ferrão Divisão de castas de abelhas Ciclo de Vida Corpo das Abelhas Estrutura dos ninhos naturais Passo a Passo de como começar a produção Colmeia O manejo correto Multiplicação de colmeias Colheita do mel Considerações finais Índice 7 9 10 11 13 15 16 17 18 19 21 23 25 29 37 44 46 49
  • 4. AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais ManualdeMeliponicultura ManualdeMeliponicultura 76 É com muita alegria que apresentamos este manual, fruto de árduos oito anos de trabalho de Richardson Frazão e a equipe do Programa Abelhas Nativas da Amazônia, do Instituto Peabiru junto a comunidades e populações tradicionais da Amazônia setentrional e oriental. As abelhas nativas nos surpreendem a cada dia. São as melhores companheiras de que dispomos para enfrentar a destruição ambiental do Planeta Terra. Indicam-nos o doce caminho para manter a floresta em pé, a manutenção da água e da biodiversidade, a colheita abundante de frutas e a geração de renda complementar. As abelhas nativas nos ensinam a enxergar os ambientes naturais de outra maneira. Na medida que compreendemos a fragilidade das abelhas, entendemos de que maneira cuidar da Amazônia para as presentes e as futuras gerações. João Meirelles Filho Diretor Geral Instituto Peabiru Carta do Diretor RafaelAraújo
  • 5. AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais ManualdeMeliponicultura ManualdeMeliponicultura 98 Pesquisas aplicadas do Instituto Peabiru sobre as abelhas nativas da Amazônia demonstram o potencial da meliponicultura – produção de mel de abelhas sem ferrão – como cadeia de valor sustentável e participa- tiva. Esta incrementa a renda familiar de agricultores e inclui mulheres e jovens de comunidades tradicionais na economia local. Além disso, as áreas manejadas para criação das abelhas, resultam em diminuição de desmatamento e queimadas na zona rural, contri- buindo para o combate a mudanças climáticas. Este manual traz, de maneira simples e resumida, orientações básicas de como criar, manejar e produzir mel de abelhas nativas sem ferrão, a partir da realida- de de comunidades tradicionais que habitam a região amazônica, como estratégia de conservação da socio- biodiversidade. Apoiar a conservação é uma maneira inovadora de comunidades tradicionais prestarem importantes serviços ambientais, garantindo a manutenção de seus recursos naturais. Este manual foi desenvolvido para apoiar a capacita- ção de comunidades tradicionais em meliponicultura, e foi elaborado com base na experiência do Instituto Peabiru que, desde 2006, desenvolve o Programa Abelhas Nativas da Amazônia. Este programa já aten- deu 350 famílias em 38 comunidades, nos estados do Pará e Amapá com uma área de 20 mil hectares de florestas sobre influencia do manejo das abelhas junto às famílias capacitadas. Apresentação RafaelAraújo
  • 6. AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais ManualdeMeliponicultura ManualdeMeliponicultura 1110 No contexto da agricultura familiar, as abelhas nativas representam uma oportunidade para complementar a renda familiar das comunidades. O mel pode gerar uma renda de R$ 20,00 por quilo. Para famílias de renda média individual próxima a R$ 100,00, um único quilo de mel significa um aumento de 20% da renda mensal. Em função do apoio do Programa do Instituto Peabiru, um grupo de mulheres da Associação dos Meliponicultores de Curuçá (ASMELC), de Curuçá, no Nordeste do Pará, produz cosméticos (sabonetes, shampus e esfoliantes) à base de mel das abelhas sem ferrão. No Amapá, quilombolas que trabalham com meliponicultura comercializaram cerca de 200 quilos de mel entre 2010 e 2011, o que possibilitou aumento da autoestima das famílias envolvidas. Meliponicultura e oportunidade de renda complementar A criação das abelhas nativas é uma atividade inovadora no combate a mudanças climáticas. Cada quilo de mel produzido pode neutralizar até 16 quilos de dióxido de carbono (CO²) lançados na atmosfera. Este é um serviço ambiental importante, além de ser uma ferramenta econômica para a conservação. Uma comunidade com 30 meliponicultores fixa cerca de 166 toneladas de carbono por ano e conserva mais de 16 km2 de área florestada (160 hectares), além de proteger a água, a biodiversidade e outros recursos naturais da região. O Programa Abelhas Nativas, tem contribuído para manutenção de aproximadamente 20.000 hectares de florestas tropicais manejados com abelhas nativas e comunidades. A Meliponicultura e o combate a mudanças climáticas InstitutoPeabiru/RichardsonFrazão
  • 7. AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais ManualdeMeliponicultura ManualdeMeliponicultura 1312 12 As abelhas são os principais polinizadores de espécies de árvores da Amazônia. As abelhas são operárias da conservação das florestas. Árvores e outras plantas se reproduzem, multiplicam-se e dão frutos por meio de um eficiente trabalho de polinização e fecundação feito pelas abelhas, fundamentais para o equilíbrio do ecossistema e produção de alimentos para o homem e animais nas florestas tropicais. No entanto, o desmatamento e as queimadas ameaçam este exército de polinizadores, que de- fendem, de forma quase invisível, a biodiversidade. Assim, a valorização, proteção, conservação e criação das abelhas nativas garantem a manutenção das florestas, a partir de informações e o manejo correto. A Amazônia possui cerca de 600 espécies de abelhas nativas, conhecidas como abelhas sem ferrão ou abelhas indígenas. Muitas destas abelhas ainda são desconhecidas pela ciência, por pesquisadores e pelos próprios comunitários da região. Além disto, é preciso investigar sobre a construção de seus ninhos, a capacidade de produção, a interação com plantas e a melhor forma de criá-las, utilizando seus serviços ambientais de polinização para a produção de alimentos e conservação das espécies florais. As abelhas e o meio ambiente Se as abelhas desaparecerem da face da terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência. Sem abelhas não há polinização, não há reprodução da flora, sem flora não há animais, sem animais não haverá raça humana. Albert Einstein FernandoOliveira
  • 8. AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais ManualdeMeliponicultura ManualdeMeliponicultura 1514 Os pesquisadores chamam as abelhas sem ferrão de melíponíneos – por isso a atividade é chamada de meliponicultura. Popularmente as abelhas são conhecidas como uruçú, tiúba, tíuba rosilha, jupará, jurupara, rajada, canudo, jandaíra, entre outros nomes, de acordo com a região de ocorrência. Em função da atrofia do ferrão, estas abelhas ficam impossibilitadas de ferroar, o que facilita a sua criação e produção de mel por comunidades tradicionais. Ao mesmo tempo, por não ferroarem, suas colônias são facilmente predadas por meleiros (coletores de mel). Embora sua característica principal seja ausência do ferrão, as espécies utilizam métodos comportamentais de defesa das colônias, que vão desde ataques em massa sobre os pelos dos agressores, até a criação de barreiras para dificultar o acesso às colônias. O maior inimigo das abelhas nativas é o homem, quando este realiza a derrubada ilegal da floresta e a coleta predatória de mel. A introdução da apicultura (criação das abelhas europeias com ferrão, chama- das também africanas, africanizadas ou sicilianas) em grande escala na Amazônia tem desestimulado muitas famílias a manejarem as abelhas nativas em função da quantidade de mel produzido pela abelha africani- zada. O grande problema é que as abelhas européias possuem ninhos com dez vezes mais abelhas operá- rias que as abelhas sem ferrão, tendo assim uma dis- puta por alimento muito desproporcional em função da quantidade de abelhas por colônia. Abelhas sem ferrão? Como assim? RafaelAraújo
  • 9. AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionaisManualdeMeliponicultura 17 Meliponicultura: como fazer? Quem cria as abelhas sem ferrão? (Meliponíneos) Porque pratica a MELIPONICULTURA É um MELIPONICULTOR Na natureza as colônias de abelhas nativas sem ferrão são encontradas em troncos de árvores vivas ou mortas. Eventualmente serão encontradas em paredes das casas e muros, postes de energia, forros de residências e até mesmo no chão. Elas vivem organizadas em sociedade, com divisão de trabalho na colônia. Vamos conhecer: RAINHA É a responsável pela postura dos ovos. É reconhecida por seu abdômen dilatado. RAINHAS VIRGENS Sempre presentes na colônia para o momento de substituir a rainha mãe quando velhas ou doentes. OPERÁRIAS São responsáveis pela defesa, busca de alimentos e outras atividades de manutenção da colmeia. São todas fêmeas. MACHOS Realizam pequenos trabalhos com cerume e quando férteis, são expulsos da colmeia, afastando-se desta a procura de rainhas virgens para o acasalamento. 1Conheça a biologia das abelhas nativas sem ferrão
  • 10. AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais ManualdeMeliponicultura ManualdeMeliponicultura 1918 O ciclo de vida de uma abelha inicia-se com a rainha pondo os ovos, passa por várias fases, entre sair da célula de cria já adulta, até a atividade operária de manutenção da colônia. Após o nascimento, o tempo de vida de uma abelha é de 55 dias. Acompanhe o ciclo de desenvolvimento pré-adulto na figura abaixo: 2Ciclo de Vida 1 5 3 7 9 11 Célula de cria Larva no 1º estádio Pré-pupa Abelha jovem 2 6 4 8 10 Ovo em cima do alimento liquido Larva pós-defecante Larva no 2º estádio Pupa não pigmentada Larva de último estádio, larva pré-defecante fabricando o casulo de seda e comendo o resto sólido de alimento Pupa pigmentada, com movimentos chamada de farato. Abelha emergindo usualmente com auxílio de operárias mais velhas, imago. Macho Operárias Rainha Rainha Virgem Divisão de castas das abelhas Adaptado de Kerr et al. 1996
  • 11. AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais ManualdeMeliponicultura ManualdeMeliponicultura 2120 1 7 2 8 3 9 4 10 5 11 6 Esquema adaptado de Posey e Camargo 1985 As abelhas são insetos com o corpo dividido em 3 partes: cabeça, tórax e abdome. 3Corpo das abelhas Adaptado de Nogueira Neto 1997 Língua 3 ocelos
  • 12. AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais ManualdeMeliponicultura ManualdeMeliponicultura 2322 Formado internamente pela vesícula melífera, um papo de mel para transporte de néctar e água; glândulas cerígenas, produtoras de cera na porção dorsal; glândulas de cheiro e o aparelho reprodutivo; Abdome Formada por um par de olhos compostos; três ocelos, que servem para enxergar no interior da colmeia e dentro das flores; um par de antenas, onde localizam-se os órgãos sensoriais para tato e odor; a boca, que possui as mandíbulas, a língua e as glândulas salivares; e o cérebro. Formado por três segmentos: protórax, mesotórax e metatórax. Nele se encontram três pares de pernas e dois pares de asas. Nas tíbias das pernas traseiras está a cor- bícula, estrutura em forma de colher, que serve para carregar pólen ou outras substâncias. Tórax Cabeça A estrutura dos ninhos das abelhas sem ferrão é diferente de espécie para espécie. Há ninhos em forma de cachos, cujas células de crias são emaranhadas e sobrepostas, como para as abelhas marmelada (Frieseomellita sp), cachorro Trigona sp) e jataí (Tetragonisca sp). Por sua vez, o grupo onde estão classificadas as abelhas uruçú, tiúba, jandaíra, tiúba rosilha, jupará, jurupará são classificadas no gêreno (Melipona sp) e possuem um padrão de estrutura similar. 4Estrutura dos ninhos naturais ESPÉCIES DE ABELHAS MANEJADAS PELOS COMUNITÁRIOS Uruçú cinzenta, rajada, tiúba rosilha, jupará Melipona compressipes 5 quilos Serrado e mata fechada (savana tropical e floresta ombrófila) Macapá, Terra Indígena Uaça, Cajarí, Centro-oeste Calha Norte Jurupará, uruçú preguiçosa Melipona fulva 5 quilos Serrado (Savana) Macapá, Terra Indígena Uaça, Cajarí Calha Norte Pinto de velho, abelha tigre Melipona lateralis 5 quilos Mata fechada (floresta ombrófila) Cajarí, Terra Indigena Uaçá, Centro-oeste Sem registro Uruçú laranjada, uruçú amarela Melipona paraensis 10 quilos Mata alagada (floresta de varzea e igapó) Carvão, Cajarí, Terra Indígena Uaça Sem registro Uruçú amarela Melipona flavolineata 3 quilos Mangue e floresta de terra firme Sem registro Nordeste do Pará Uruçú cinzenta, tiúba Melipona fasciculata 5 quilos Mangue e floresta de terra firme Sem registro Nordeste do Pará Taquaruçú Melipona me- lanoventer 3 quilos Mata alagada (floresta de varzea e igapó) Sem registro Ilhas do Pará
  • 13. AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais ManualdeMeliponicultura ManualdeMeliponicultura 2524 Fim do oco (batume superior) Potes de mel Pote não tapado Boca de entrada Túnel principal de entrada Tampa do ninho Potes de saborá (pólen) Os favos mais novos (escuro) Os favos mais velhos (claro) Invólucro (cobertor do ninho) Pilares de sustentação dos favos de cria Fim do oco (batume inferior crivado) Esquema adaptado de Posey e Camargo 1985 Para iniciar a criação de abelhas sem ferrão, com o objetivo de produzir mel, é necessário um planeja- mento básico inicial. Importante: isto evita erros que costumam desanimar quem começa a atividade sem informação técnica. 5Passo a Passo de como começar a produção Instituto Peabiru / Richardson Frazão
  • 14. AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais ManualdeMeliponicultura ManualdeMeliponicultura 2726 III IV Construir um meliponário, ou seja, organizar um local para instalar as colmeias para criação de abelhas melíponas. É importante que essa instala- ção seja feita nas proximidades de residências da comunidade, a pelo menos 50 a 100 metros das casas, para facilitar o acesso às colmeias. O espa- ço deve ter sombra, ser plano, de fácil acesso e próximo a fonte de água. Caso o interesse seja por criação com mais de 50 colmeias, deve-se optar por áreas em zonas rurais, para configurar uma atividade de base agroecológica. Após a escolha do local, siga os passos seguintes: Obter as colônias de abelhas. Isto pode ser reali- zado de quatro maneiras: a) coleta de ninho em áreas de vegetação nativa, b) resgate em áreas sujeitas a queimadas; c) adquirindo de criadores (de preferência, criadores com registro no IBAMA - Cadastro Técnico Federal) ou d) por multiplica- ção artificial, caso o produtor possua colmeias. I II Identificar qual espécie de abelha nativa ocorre no local. Isso é muito importante, pois não se deve introduzir espécies que não são daquele ambiente, pois estas podem interferir na biodiversidade local. Conforme o local, o Instituto Peabiru pode apoiar com uma avaliação ou diagnóstico (ver contatos ao final desse manual). Caso não possa, pode recomendar profissionais qualificados nas insti- tuições da região. O importante é evitar seguir o palpite de quem não conhece o assunto. Identificar se no local onde se pretende construir o meliponário ainda existem abelhas nativas sem ferrão. Veja se há outros produtores na região. Procure mapear os ninhos naturais na propriedade e nos vizinhos. MATERIAIS NECESSÁRIOS PARA CONSTRUÇÃO DE UM MELIPONÁRIO PARA A ESTRUTURA Cavaletes: são suportes de madeira medindo 1,5 m, devem ser enterrados no solo a 50 cm, ou ficar a uma altura onde o meliponicultor se sinta confortável para manejar suas colmeias. Suporte para as colmeias: são peças de madeira que devem ser fixadas com pregos na parte superior do cavaletes para receber as colmeias; Chumaços de esponjas: esponja (tipo colchão) cor- tada em tira e fixada com arame 20 cm abaixo do suporte das colmeias e ensopadas com óleo de carter, para evitar ataques de inimigos naturais (ver item manejo); Arames: servem para prender a colmeia no suporte fixado ao cavalete, evitando deixar a colmeia cair no chão por fortes ventos e animais; Telhas: servem para proteger as colmeias contra chuvas e sol intenso; Peso da Telha: serve para apoiar a telha na colméia, evitando que caiam no chão e quebrem facilmente, pequenos tijolos maciços são suficientes. InstitutoPeabiru/RichardsonFrazão
  • 15. AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais ManualdeMeliponicultura ManualdeMeliponicultura 2928 PARA MONTAGEM Fita métrica e/ou trenas: para medir os espaços entre as colmeias e entre as fileiras de colmeias no meliponário; Linha de nylon: necessária para o alinhamento dos cavaletes no meliponário; Ferro de covas e/ou dragas: necessário para a abertura das covas para fixar os cavaletes; Pregos: para fixar suporte para as colmeias no cavalete; Serrotes: para ajustes nos cavaletes e nos suporte das caixas, quando necessário; Aconselhamos que pelo menos duas pessoas se dediquem à construção de um meliponário padrão, com capacidade inicial de 50 colmeias. No caso de um meliponários com menos de 50 colmeias, uma única pessoa poderá construi-lo em cerca de 3 dias. Não se esqueça de, primeiramente, ter em mão todos os materiais, além de planejar o tempo de acordo com as demais atividades do meliponicultor. MÃO-DE-OBRA No meliponário as colônias são instaladas em colmeias de madeira com arquitetura adequada para o manejo, a reprodução controlada, a produção e a coleta de mel. Apresentaremos, a seguir, o principal modelo de colmeia utilizado na Amazônia: a colmeia Fernando Oliveira, idealizada por Fernando Oliveira (Oliveira e Kerr, 2000). Esta colmeia apresenta bons resultados para a meli- ponicultura desenvolvida na Amazônia. Possui tecno- logia simples e de fácil acesso às populações tradicio- nais, e é mais adequada à região, sobretudo para as espécies ocorrentes no Pará e no Amapá. No Estado do Amazonas, a partir das experiências do Instituto Iraquara, esta colméia apresenta resultados muitos sa- tisfatórios quanto à transferência de colônias, manejo e produção de mel. Embora existam outros modelos a partir da colmeia de Virgílio de Portugal Araújo, pioneiro na melipo- nicultura do país (Kerr, 1984), o Programa Abelhas Nativas, do Instituto Peabiru, adota o modelo de colmeia Fernando de Oliveira para o desenvolvimento da cadeia de produção de mel das abelhas sem ferrão da Amazônia. 6Colmeia
  • 16. AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais ManualdeMeliponicultura ManualdeMeliponicultura 3130 Tampa Melgueira Módulo de Divisão Fundo Entrada da colmeia Arame de apoio 50cm do cavalete enterrados 1m do cavalete para fora Pode-se usar qualquer madeira durável, com cheiro agradável e macia (para não rachar com os pregos). Dê preferência a madeiras vermelhas, pois, em geral, são mais resistentes. É nestas madeiras que se encon- tram os ninhos de abelhas na natureza. Para colmeia pequena - a mais recomendada para as espécies ocorrentes no Amapá e no Pará. As medi- das apresentadas seguem o modelo construído pelo pesquisador Fernando Oliveira. Neste caso as células de crias dos ninhos são construídas na posição horizontal formando um disco de cria. Isto possibilita seu manejo por meio de colmeias racionais, em especial a colmeia Fernando Oliveira, apresentada nesse manual. 1. Seis pedaços A (20 X 7,5 X 2,5 cm). 2. Seis pedaços B (15 X 7,5 X 2,5 cm). 6.1As medidas 25 cm 2 cm 4 cm 20 cm F 20 cm 6x 1x 6x 15 cm 15 cm 12 cm 7,5 cm 2,5 cm 7,5 cm 2,5 cm 1,5 cm B C A 6x 1x 15 cm 15 cm 12 cm 7,5 cm 2,5 cm 1,5 cm B C Adaptado de Oliveira e Kerr 2000 InstitutoPeabiru/RichardsonFrazão
  • 17. AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais ManualdeMeliponicultura ManualdeMeliponicultura 3332 3. Apontar dois pregos finos de 2” (duas polegadas) em cada lado das peças A e B. Montar duas peças A sobre duas peças B. 4. Estes são os Quadros e faremos três. B B A A 2” 5. Um pedaço C (15 X 12 X 1,5 cm) esta peça é o fundo do Primeiro quadro, a Melgueira. 1x 15 cm 12 cm 7,5 cm 1,5 cm C 1.5” 1.5 cm B1 B1 A 1 A 1 C 4x 2x 20 cm 25 cm 2 cm 4 cm 20 cm 7,5 cm 11 cm 7,5 cm 2,5 cm 1,5 cm F E D 20 cm 6x 15 cm 7,5 cm 2,5 cm A 6. Vestir C na face interna do primeiro quadro, deixar dois espaços laterais de 1,5 cm de cada lado, para as abelhas terem acesso a melgueira. 7. Fixar o C com três pregos finos de 1,5” de cada lado, o prego atravessa a parede do quadro vazan- do na peça C. 8. Quatro triângulos D (7,5 X 7,5 X 11 X 1,5 cm).
  • 18. AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais ManualdeMeliponicultura ManualdeMeliponicultura 3534 B2 B2 A 2 A 2 D D DD B2 B2 A 2 A 2 D D DD B2 B2 A 2 D D DD B2 B2 A 2 A 2 D D DD 0,5” 1,5” 9. Fixar nas paredes internas do segundo quadro os quatro triângulos D, utilizando um prego fino de 0,5”, para fixar cada um dos triângulos nos cantos das paredes quadro. O prego atravessa o triângulo D e vaza na parede interna do quadro. Este segun- do quadro com quatro triângulos D chamamos de Gaveta de Divisão. 10. Na Gaveta de Divisão, fixar pela metade, um prego fino de 1,5” nas duas laterais e ao centro, servirá para fixar com arame a colmeia no cavalete. 2 cm 2” 4x 2x 20 cm 25 cm 2 cm 4 cm 20 cm 7,5 cm 11 cm 7,5 cm 2,5 cm 1,5 cm F E D B3 A3 B3 A3 E 11. Dois pedaços E (20 X 20 X 2,5 cm). 12. Sob o terceiro quadro, fixar com prego fino de 2” um pedaço E. Fazer um furo de 2 cm de diâmetro em baixo e na lateral deste quadro. Para este qua- dro chamamos de Fundo.
  • 19. AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais ManualdeMeliponicultura ManualdeMeliponicultura 3736 4x 2x 20 cm 25 cm 2 cm 4 cm 20 cm 7,5 cm 11 cm 7,5 cm 2,5 cm 1,5 cm F E D 20 cm 6x 7,5 cm 2,5 cm A F F E 2” 13. Quatro triângulos D (7,5 X 7,5 X 11 X 1,5 cm). 14. Um pedaço de E no sentido do corte da madeira. Fixar com 3 pregos finos de 2” um batente F deita- do em uma das extremidades, e outro batente em pé na outra extremidade. Para esta peça chama- mos de Tampa, os batentes invertidos são para dar caimento na telha. Pintar com verniz o lado externo da colmeia para evitar o encharcamento, possibilitando maior durabilidade, além de valorizar a colmeia. PINTURA DA COLMEIA 7O manejo correto Após a seleção das espécies, da área do meliponário e a construção da colmeia, inicia-se o processo de criação. Aqui é preciso seguir todas as orientações de manejo, ou seja, um conjunto de cuidados com as abelhas, de modo a possibilitar as multiplicações e produtividade. Entre estes cuidados estão: FernandoOliveira
  • 20. AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais ManualdeMeliponicultura ManualdeMeliponicultura 3938 ALIMENTAÇÃO ARTIFICIAL CONSTANTE (no período de chuva) As abelhas necessitam de uma alimentação de reforço, que consiste em solução de água com açúcar (xarope), para garantir a sobrevivência nas condições de poucas flores no período chuvoso. MÍNIMA PERTURBAÇÃO Não seja curioso e nem abelhudo. Quando estão alocadas nas colmeias, as abelhas necessitam de tran- quilidade para não enxamearem (abandonar o ninho), para evitar perder a rainha, e diminuir as chances de sucesso do ataques de predadores. VERIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES DIÁRIAS Para evitar perdas das colônias por inimigos naturais, uso de agrotóxicos e outras situações ocasionais é preciso realizar visitas diárias ao meliponário. Observe atentamente as colmeias para ver se houve modifica- ções de um dia para o outro. LIMPEZA DA ÁREA DO MELIPONÁRIO O terreno do meliponário deve estar sempre limpo. Isto garante a segurança do meliponicultor em visita às colmeias (ataque de animais peçonhentos como cobras, escorpiões e aranhas). Além do mais, em todas as etapas de produção o mel necessita higiene total. Lembre-se, trata-se de um alimento. A limpeza evita possíveis contaminações e riscos para a saúde das pessoas que irão consumi-lo. COBERTURA DAS COLMEIAS CONTRA CHUVAS Na natureza as abelhas estão sempre abrigadas em seus ninhos e protegidas nos ocos das árvores. No meliponário as colmeias devem receber uma cobertu- ra de telha, para evitar tanto a incidência da luz do sol a pino, como a chuva intensa. Deve-se lembrar que a madeira das colmeias é resistente até certo ponto ao sol e água de chuva intensos. Se estas orientações forem seguidas a risca, você terá um meliponário seguro, para as colmeias de abelhas e capaz de produzir mel. IMPORTANTE! VEDAÇÃO DAS LATERAIS COM FITA No momento da transferência para a colméia, reco- menda-se a vedação das frestas com auxilio de fita gomada. Quando você perceber que as colmeias estão vedadas internamente, não será mais preciso utilizar as fitas gomadas. MANTER OS CAVALETES UMEDECIDOS COM ÓLEO DE CARTER USADO As formigas e cupins são inimigos naturais que destroem as colônias de abelhas, e precisam ser eliminados antes da montagem do meliponário. Quando isso não é possível, use uma tira de espuma para amarrar no cavalete e mantenha esta espuma encharcada com óleo de carter usado. LIMPEZA DAS COLMEIAS Caso não seja feita uma limpeza rotineira, ao longo do tempo as colmeias acumulam entulho natural de folhas, cascas de árvores, teias de aranha e mesmo outros insetos indesejados (como marimbondos, la- gartixas, sapos, aranhas, escorpiões e mesmo cobras). Portanto, realize uma limpeza periódica para evitar perdas de colmeias e acidentes com o meliponicultor. SUBSTITUIÇÃO OU CONCERTOS DE MÓDULOS DANIFICADOS Na Amazônia a umidade e mudanças do clima acele- ram o desgaste da colméia. Quando constatar que as partes de madeira precisam ser consertadas ou subs- tituídas, não espere muito tempo. No entanto, avaliar se é melhor realizar primeiro a transferência completa da colônia, antes de qualquer reparo. Isto porque a perturbação pode prejudicar a colônia, levando a morte da rainha e /ou exameagem (abandono da colônia).
  • 21. AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais ManualdeMeliponicultura ManualdeMeliponicultura 4140 7.1Alimentação de reforço Esta é uma das principais etapas do manejo, princi- palmente no inverno, quando as colmeias precisam de alimentação de reforço devido a baixa coleta de néctar e pólen. Isto ocorre porque há poucas floradas no período das chuvas na Amazônia. Algumas espé- cies como o açaí têm a capacidade de produzir pólen o ano todo, o que auxilia o manejo das colmeias, caso na área do meliponário exista um açaizal natural e/ou plantado. Nesse período as abelhas precisam receber um xarope de reforço. É barato e fácil de fazer. Veja a receita: XAROPE DE REFORÇO RECEITA PARA 9 COLMEIAS Ingredientes: - 1 litro de água; - 1 quilo de açúcar; 4 PASSO A PASSO DO PREPARO DO XAROPE DE REFORÇO Usando um funil, encher a garrafa (PET) Colocar 1l de água na panela 1 2 3 Levar ao fogo e ficar mexendo só para dissolver o açúcar, não precisa esquentar muito e se ficar quente, deixar esfriar. Depois acrescentar 1kg de açúcar no recipiente. Fazer a quantidade exata para usar no mesmo dia. O xarope não pode ser guardado porque estraga. NOTA
  • 22. AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionaisManualdeMeliponicultura 43 AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionaisManualdeMeliponicultura 42 O xarope deve ser servido às abelhas quando estiver à temperatura ambiente. Garrafas de refrigerante tipo PET são ideais para armazenar o xarope e para auxi- liar na alimentação das colmeias. Importante: Dependendo do número de colmeias, a quantidade de xarope pode ser maior ou menor, mas a medida deve ser sempre de 1 para 1, ou seja, a quantidade de água e açúcar devem ser iguais. COMO SERVIR O XAROPE Coloque nas melgueiras uma cumbuca plástica de 120 ml de capacidade, com cinco palitos de picolé dentro. Encha a cumbuca de xarope. Lembre-se: Esses palitos de picolé servem para que as abelhas não morram afogadas ao entrarem na cum- buca para se alimentar. Assim elas podem caminhar até o nível mais baixo do recipiente de plástico. No verão o xarope deve ser colocado pelo menos uma vez por semana. No inverno é necessário que seja colocado duas vezes (lembre que há poucas plan- tas com flores na região). InstitutoPeabiru/RichardsonFrazão RafaelAraújo
  • 23. AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais ManualdeMeliponicultura ManualdeMeliponicultura 4544 Quanto mais colmeias, maior a produção de mel. Por isso, é importante que o meliponicultor multiplique suas colônias de abelhas. Estas também poderão ser comercializadas ou trocadas por outros produtos com outros produtores iniciantes. Esta é uma etapa impor- tante e deve ser realizada por técnicos, profissionais especializados ou pessoas treinadas. As multiplicações devem obedecer alguns critérios importantes: As abelhas devem ter sido manejadas corretamente; O ninho deve ocupar todo o módulo de baixo da col- méia e o módulo de divisão da colmeia, ou seja, este deve ser um ninho bem forte; A quantidade de abelhas deve ser ótima (colmeia populosa); O tempo de manejo deve ser seguido corretamente, ou seja um mínimo de 4 meses e, um máximo de 6 meses (manejo correto); O meliponário deve estar estruturado para receber um maior número de abelhas de maneira cômoda; Se você não tiver segurança em fazer este trabalho, chame o técnico! 8Multiplicação de colmeias Após as multiplicações, adote todos os cuidados para que o o manejo correto seja feito. Além disso, é necessário manter um registro constante do que ocorre com as colônias no meliponário, mantendo um caderno de anotações organizado. 8.1Cuidados importantes As datas de alimentação com o xarope; As datas de limpeza de colmeias e do meliponário; A ocorrência de enxames em migração, ataques de abelhas ladras, além de outros insetos e predadores; As anotações das plantas em floração no entorno do meliponário; Os acontecimentos e outras informações que o meliponicultor considerar relevantes. SEU CADERNO DE ANOTAÇÕES DEVE CONTER
  • 24. AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais ManualdeMeliponicultura ManualdeMeliponicultura 4746 Na Amazônia, se as colmeias forem manejadas corre- tamente, a coleta de mel ocorrerá no verão (em geral, de julho a dezembro), período de maior floração. COMO COLHER O MAIS DELICIOSO MEL DO MUNDO É muito simples fazer a coleta do mel das abelhas nativas sem ferrão e diferentes maneiras podem ser usadas. Veja abaixo qual a melhor opção para o seu meliponário: Bomba a vácuo: ligada a energia elétrica, a bomba suga o mel dos potinhos rapidamente, por meio de uma mangueira fina, armazenando-o no recipiente de 1,5 litros já acoplado ao aparelho. Seringa descartável: basta inserir a seringa des- cartável no potinho e sugar o mel até ficar cheia. Depois, despejar todo o conteúdo da seringa no vidro que irá armazenar o mel. Peneira: colocar uma peneira em cima da vasilha onde o mel será armazenado. Com cuidado, retirar a melgueira da caixa para abrir os potes e virar sobre a peneira. Ficar atendo para quando o mel parar de escorrer e recolocar a melgueira na caixa. 9Coleta do mel Esse tipo de bomba geralmente é encontrada em lojas de produtos hospitalares e custa cerca de R$ 400,00. Telas de nylon utilizadas em janelas de casas também podem ser usa- das como peneiras, porém o mel deverá passar por uma nova filtragem. A bomba a vácuo é a maneira mais higiênica de colher mel. AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionaisManualdeMeliponicultura 47 FILTRAGEM Depois de colhido o mel deve ser filtrado. Nos proces- sos artesanais, pode-se utilizar meias-calças femininas, tipo de seda. Custa pouco e deve funcionar como coadores de café feitos de meia. Antes e após o uso os coadores caseiros devem ser bem lavados e mantidos higienizados. DESUMIDIFICAÇÃO DO MEL Cuidados importantes para o mel não estragar O mel das abelhas sem ferrão é fino, diferente do mel da apicultura. Por ter muita umidade, pode fermentar facilmente, o que vai estragar sua produção. Por isso alguns cuidados devem ser tomados. Para beneficiar o mel, siga o passo a passo: 1) Leve ao fogo, em banho Maria, o vidro com o mel coletado. 2) Deixe o vidro aberto e mexa o mel com um termô- metro de laticínio até alcançar 60 graus. 3) Feche o vidro ainda quente e deixe esfriar. 4) Armazenar em local ventilado, dentro de caixas ou enrolados em papel. Obs.: Calor e luminosidade devem ser evitados. LEMBRE-SE Se o mel não for beneficiado, conserve-o na geladeira, como se faz com o iogurte. O mel colhido e envasado sem aquecimento deve ser mantido na geladeira. Fora dela, o mel se estraga. IMPORTANTE!
  • 25. AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionais ManualdeMeliponicultura ManualdeMeliponicultura 4948 OUTRAS FORMAS DE TIRAR A UMIDADE No caso de grandes quantidades de mel coletado, a umidade do mel deve ser retirada com um equipamen- to especialmente construído para isso, o desumidifica- dor. Trata-se de uma máquina para grandes produto- res, pois o investimento é alto, podendo chegar a R$ 50.000,00. Não esqueça que, independente da forma de coleta, só o mel desumidificado atende às normas brasileiras de produção de alimentos. ATENÇÃO! 10Considerações 1. Antes de iniciar sua criação busque orientação com técnicos capacitados. Não se deixe levar por pessoas que não tem nenhuma prática no manejo das abelhas e desconhecem as espécies, assim você evitará dor de cabeça; 2. Não introduza colônias de espécies de abelhas que não ocorram na sua comunidade e/ou região onde está sua propriedade rural, procure conservar as espécies da fauna local; 3. Na época do plantio e de preparo da terra, caso seja necessário derrubar árvores, lembre de ter autori- zação do órgão ambiental de sua cidade. Sempre tente resgatar as abelhas mesmo sendo de espécies que não produzem mel, elas são suas aliadas na produção de alimento saudável; 4. Caso você não tenha interesse em criar as abelhas, resgate as colônias e as deixe no interior da floresta. Um dia você precisará delas para a polinização das plantas frutíferas da sua propriedade; 5. Não venda as colmeias e/ou colônias somente pelo interesse financeiro momentâneo, você estará apoiando o comércio ilegal e apoiando pessoas de caráter duvidoso;
  • 26. AbelhasNativasdaAmazôniaePopulaçõesTradicionaisManualdeMeliponicultura 50 Referência bibliográfica Kerr,W.E.VirgiliodePortugalAraujo(1919-1983).ActaAmazonica 13 (1-2):327-328.1984. Kerr, W. E.; Carvalho, G. A.; Nascimento, V. A. 1996. Abelha Uruçu: Biologia, Manejo e Conservação. Belo Horizonte MG, Ed. Fundação Acangaú, 144pp. Nogueira-Neto, P. Vida e Criação de Abelhas indígenas sem ferrão. — São Paulo: Editora Nogueirapis, 1997. 445p. Oliveira, F.; Kerr, W. E. 2000. Divisão de uma colônia de jupará (Melipona compressipes) usando-se o método Fernando Oliveira. INPA, Manaus - AM. 7pp. Posey, D. A.; Camargo, J. M. F. 1985. Additional Notes on the Classification and Knowledge of Stingless Bees (Meliponinae, Apidae, Hymenoptera) by Kayapó Indians of Gorotire, Pará, Brazil. Annals of Carnegie Museum54 (8): 247-274. Fontes de consulta Frazão, R. F.; Reis, R. W. A.; da Costa, A. J. S. Espécies de Abelhas Indígenas Sem Ferrão com Potencial de Uso como Estratégia de Desenvolvimento Social por Comunidades do Entorno de Macapá, Ap.. In: 2º Seminário de Iniciação Científica da Universidade Federal do Amapá. Macapá: UNIFAP, 2006. Oliveira, F. Manual de Meliponicultura: Edição Especial para Meliponicultores Tradicionais - Tecnologia e Técnicas de Manejo para a Reprodução de Colônias e Produção de Mel de Abelhas Indígenas Sem Ferrão (Meliponíneos). Instituto Iraquara. 2006. 36p. Villas-Bôas, J. Manual Tecnológico: Mel de Abelhas sem Ferrão. Brasília – DF. Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN). Brasil, 2012. 96 p.; il. - (Série Manual Tecnológico). Disponível em http://www.ispn.org.br/arquivos/mel008_31.pdf. 6. Caso você queira ser um médio produtor, maneje as espécies da sua região. Se você tiver mais que 50 colmeias será necessário realizar o Cadastro Técnico Federal junto ao IBAMA; 7. Faça das abelhas suas grande aliadas para a produção de alimentos a partir da polinização das plantas regionais como açaí, bacaba, goiaba, pupunha, taperebá, cupuaçu. Lembre-se que essas e outras plantas tem frutos importantes para alimenta- ção de nossa população e poderão ser comercializa- dos em feiras e em agroindustrias; 8. Plante árvores na sua propriedade, assim você contribui com o clima de sua região de do planeta. Incentive seus vizinhos a plantar árvores, suas abelhas poderão utilizar as flores do seu vizinho para produzir mel e frutos; 9. Respeite sua floresta. Cada hectare de floresta em pé pode comportar até 2.500 colmeias e assegura 100 toneladas de carbono não emitidos na atmosfera; 10. Faça das abelhas nativas um aliado contra o desmatamento e o aquecimento global, e tenha uma vida saudável e bem doce com a sua família. O meio ambiente agradece.