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o Método nas Ciências
    Naturais e Sociais:
   Pesquisa Quantitativa
       e Qualitativa

                        Alda Judith Alves-Mazzotti
                        Fernando Gewandsznajder




                                      PION E IRA
                                           )tE
                                 T t-I O M SON LEARNIN G



Australia   Brasil   Canadá   (ingapura   Espanha    Estados Unidos   México   Reino Unido
CAPÍTULO 7

o Planejamento de Pesquisas
Qualitativas


      Oferecer sugestões para o planejamento de estudos qualitativos não é fácil.
Em primeiro luga r porque, ao contrário do que ocorre com as pesquisas quan-
titativas, as inves tigações qualitativas, por sua diversidade e flexibilidade, não
admitem regras precisas, aplicáveis a uma ampla gama de casos. Além disso, as
pesquisas qualitativas diferem bastante quanto ao grau de estruturação prévia,
isto é, quanto aos aspec tos que podem ser definidos já no projeto. Assim, por
exemplo, enquanto os pós-positivi stas trabalham com proj etos bem detalhados,
os construtivistas sociais defendem um mínimo de es truturação prévia, consi-
derando que o foco da pesquisa, bem como as ca tegorias teóricas e o próprio
desigl1 1 só deverão ser definidos no decorrer do processo de investigação.
      Entre os argumentos usados para defender um mini mo de estruturação
(Lincoln & Guba, 1985) podemos destacar:

      a) o foco e o desigll do estudo não podem ser definidos n priori, pois a
rea lidade é múltipla, socia lmente construída em uma dada situação e, portanto,
não se pode apreender seu sig nificad o se, de modo arbitrário e precoce, a
aprisionarmos em dimensões e categorias. O foco e o desigl1 d evem, então,
emergi!; por um processo de ind ução, do conheci mento do contexto e das
múltiplas realidades construídas pelos participantes em suas influências recí-
procas;



       1. O termo rlesigll, no que se refere ~ pcsCjui sé1, tcm sid o tradu zido como desenho o u pla-
ncjamenlo. O rlesigll corresponde ao plnllo e lIs cstr.l légias utilizndCls pelo pesqui sndor para responder
às C]ucstõcs propost(lS pelo estudo, incl uindo os procedimentos c instrumentos d e coleta, análise
c interpretação dos dados, bem como       ii   lógica que liga entre si diversos aspectos da pesqu isa .
148         ALDA JUDITH ALVES-MAZZOrn & FERNANDO GEWANDSZNAjDER



     b) dada a natureza idiográfica (não repetível) e holística (que exige a visão
da totalidade) dos fenômenos socia is, nenhuma teoria selecionada n priori é
capaz de dar conta dessa realidade em sua especificidade e globalidade;
     c) a focalização prematura do problema e a adoção de um quadro teórico
n priori turvam a visão do pesquisador, levando-o a desconsiderar aspectos
importantes que não se encaixam na teor ia e a fazer interpretações distorcidas
dos fenômenos estudados.

    Entre os argumentos a favor de um maior grau de estruturação (Marshall
& Rossman, 1989, Milles & Huberman, 1984) destacam-se:

     a) qualquer pesquisador, ao escolher um determinado "campo" (uma
comunidade, uma instituição), já o faz com algum objetivo e algumas questões
em mente; se é assim, não há porque não explicitá-los, mesmo que sujeitos a
reajustes futuros;
     b) dificilmente um pesquisador inicia sua cole ta de dados sem que algu-
ma teoria esteja orientando seus passos, mesmo que implicitamente; nesse caso,
é preferível torná-la pública;
     c) a ausência de focalização e de critérios na coleta de dados freqüentemente
resulta em perda da tempo, excesso de dados e dificuldade de interpretação.

      ArgLUuentos de ambos os lados podem ser considerados válidos depen-
dendo da situação estudada : planejamentos menos estrutl1l'ados são mais adequa-
dos para o estudo de realidades muito complexas e/ou pouco conhecidas; se,
entretanto, o pesquisador está lidando com um fenômeno sobre o qual já existe
conhecimento acumulado por outras pesCluisas realizadas em contexto semelhan-
te, lun planejamento pouco estruturado, altamente indutivo, resulta em perda de
tempo e de profundidade. Além disso, trabalhar de forma altamente indutiva,
deixando que o design e a teoria emerjam dos dados, é difícil até mesmo para
pesquisadores mais experientes. Quanto menos experiente for O pesquisadOl~
mais ele precisará de um planejamento cuidadoso, sob pena de se perder num
emaranhado de dados dos quais não conseguirá extrair qualquer significado.
      É importante lembrar também que esse planejamento não precisa e nem
deve ser apriorístico no sentido mais estrito, pois, nos estudos qualitativos, a
cole ta sistemática de dados deve ser precedida por uma imersão do pesquisa-
dor no contex to a ser estudado. Essa fase exploratória permite que o pesquisa-
dOl~ sem descer ao detalhamento exigido na pesquisa tradicional, defina pelo
menos algumas questões iniciais, bem como os procedimentos adequados à
investigação dessas questões.
      Um último argumento a favor de um maior grau de estruturação n priori é
o fato d e que, muito freqUentemente, a realização da pesquisa depende de uma
avaliação que também é n priori: alunos de graduação e pós-graduação precisam
ter o projeto aprovado por seus professores, e mesmo pesquisadores mais
o MÉTODO NAS CI ~NC I AS NATURAIS E SOCIAIS                  149


experientes precisam ter seus projetos aprovados, seja por colegiados das insti-
tuições em que traba lham, seja por agências de fin anciamento. Por isso, o
projeto precisa ser convincente, demonstrando ao ava li ador que: a) vale a pena
fazer a pesq uisa; b) o pesq uisador tem condições de realizá-Ia; c) o estudo es tá
cuidadosamente planejado e pode ser implementado com sucesso (Marshall &
Rossman, 1989). Nunca é demais lembrar que comissões avaliadoras, sejam elas de
un.iversid ades, de centros de pesquisa ou de agências financiadoras, difici lmente
aprovarão um projeto que não define nem o foco, nem o quadro teórico, nem o
rlesign, nem o cronograma, nem as contribuições que pretende dm; como defendem
alguns constl'ltivistas (vel; por exemplo, Lincoln & Guba, 1985, pp. 224-225).
      Concluindo, diante das dificuldades mencionadas, d ecorrentes da história
e da própria natlll'eza da s p esquisas qualitativas, é compreensível que p esqui-
sadores inexperien tes que optam por utili za r uma metodologia qualitativa
fiquem inseglll'os quanto ao planejamento de sua p esqui sa e, mais esp ecifica-
mente, quanto à elaboração do projeto. Consciente d essas dificuldades, procu-
ramos, com base na litera tura recente e em nossa própria experiência como
p esquisadora e orientadora d e teses e di ssertações, di scutir alternativas e ofere-
cer sugestões, acompanhadas de exe mplos e indicações bibliográficas, que
possa m ser de utilidade no p la nejamento de pesqu isas qualitativas. Tais suges-
tões d evem ser v is tas com a flexibilidad e que, sendo inerente a qua lquer projeto
d e pesquisa, é essencial aos es tudos qualitativos.
      Um projeto d e p esqui sa consis te ba sicamente em um plano para uma
inves tigação sistemática que busca uma melhor comprensão d e um dado
problema. Não é uma "ca misa-de-força" nem um contrato civil que prevê
penalidades, caso alguma das promessas feitas for quebrada . É um g uia, uma
orientação que indica onde o pesquisador quer chegar e os caminhos que
pre tende tomar.
      Assim, seja qual for o paradigma em que se es tá op erand o, o projeto deve
indicar: (a) o que se pretende inves tigar (o problema, o objetivo ou as ques tões
do estudo); (b) como se p lanejou condu zir a investi gação de modo a atingir o
objetivo e/ ou a responder as ques tões propostas (procedimentos me todológi-
cos); e (c) porque o es tudo é relevan te (em termos de contribui ções teóricas e/ ou
práticas que o estudo p ode oferecer).
      Esses aspec tos serão d iscutid os a seguir.


1.   Foca lização do problema

      No seu sentido mais es trito, "problema de pesqu isa" é definid o como uma
indagação referente à relação entre d uas ou m ais va riáveis. Essas variáveis
podem ser diferentes aspectos da conduta de indivíduos, como, por exemplo,
fru stração e agressividade; d ois eventos socia is, como, exclusão socia l e crimi-
nalidad e; e assim por diante. Al'elação esperada (a hipótese) é d ed uz ida de uma
150         ALDA )UDITH ALVES-MAzzorn & FERNANDO GEWANDSZNA)DER



teoria e o pesquisador procura cúar ou encontrar situações nas quais essa
relação possa ser verificada. Muitos estudos qualitativos, porém, são explorató-
rios, não se preocupando em verificar teorias. Assim, nesse campo, o concei to
de "problema de pesquisa" se torna bem mais amplo, podendo ser definido
como uma questão relevante que nos intriga e sobre a qual as informações
disponíveis são insuficientes.
      Além disso, como foi mencionado, nas pesquisas qualitativas as exigências
sobre o que deve ser antecipado no projeto, tanto no que se refere ao proble-
ma/ questões do estudo, como na descrição do quadro teórico e dos procedi-
mentos metodológicos, são menores do que nas pesquisas tradicionais, uma vez
que o foco da pesquisa vai sendo ajustado ao longo do processo. Assim, o grau
de especificação do problema na fase de planejamento irá variar em função de
características deste, bem como da posição do pesquisador ao longo do conti-
m/UlII qualitativo.
      O fato de que, nas pesquisas qualitativas, o detalhamento prévio exigido é
menor não deve levar à conclusão de que a formulação do problema se torna
uma tarefa trivial. Na verdade, esta é a etapa mais difícil e trabalhosa do
planejamento de uma pesquisa, exigind o do pesquisador muita leitura e refle-
xão. Entretanto, uma vez definido o foco inicial, a decisão sobre os demais
aspectos da pesquisa fi ca extremamente facilitada.
      Pesquisadores iniciantes freqüentemente confundem um tema ou um tó-
pico de interesse com um problema de pesquisa. É comu m um aluno procurar
o orientador dizendo, por exemplo: "Eu quero fazer minha pesquisa' sobre o
movimento dos sem-tena". O interesse pelo tema, embora seja um aspecto
importante, não é suficiente para condu zir uma pesquisa. É necessário proble-
matizar esse tema, refletindo sobre o que é que, mais especificamente, nos atrai,
preocupa ou intriga nesse movimento: é a sua capacidade de organização? é o
papel das mulheres nessa organização? é o fato de que o movimento se desen-
volveu em alguns estados e não em outros? é a maneira como ele é visto pela
opinião pública? é a observação de que determinada teoria sobre movimentos
sociais pal'ece não se aplica r às características dos sem-terra? Podemos ter aí
cinco problemas de pesquisa sobre o mesmo tema, dependendo do aprofunda-
mento a ser dado a essas questões, ou podemos combi nar algumas delas em um
novo problema. Mas, um maior conhecimento da questão, por meio do exame
do que já foi investigado sobre o assunto, e também pelo contato com sujeitos
envolvid os no movimento, é essencia l para a formulação de um problema
origi nal e relevante.
      O conhecimen to da literatura pertinente ao problema que nos interessa
(relatos de pesquisa, teorias utilizadas para explicá-lo) é indispensável para
identificar ou definir com mais precisão os problemas que precisam ser
investigados em uma dada área . Três situações encontradas na literatura
podem dar origem a um problema de pesquisa: (a) lacu nas no conhecimento
existente; (b) inconsistências entre o que uma teoria prevê que aconteça e
o MIITODO NAS CI~NCIAS NATURAI S E SOCIAIS                              151


resultados de pesquisas ou observações de práticas cotidi anas; e (c) inconsis-
tênci as en tre resultados de diferentes pesquisas ou entre estes e o que se
observou na prática.
       Os diferentes paradigmas aqui examinados têm posições distintas quanto
à utili zação dessas fontes . Os construtivistas, por exemplo, por trabalharem
preferencialmente no "contex to da descoberta", não se propõem a tes tar teorias,
enquanto os pós-positivistas, e também muitos teórico-críticos, va lori za m a
utilização de teorias, form ula ndo hipóteses delas derivadas para que sejam
testadas empiricamente. Nossa experiênci a indica que a maior parte d as p esqui-
sas qualitativas se propõe a preencher lacunas no conheci mento, sendo poucas
as que se originam no plano teórico, daí serem essas pesq uisas freqüentemente
definidas como descritivas ou exploratóri as . Essas lacunas geralmente se refe-
rem à compreensão de processos que ocorrem em uma dada institui ção, grupo
ou comunidade.
       De qualquer fo rma, o fato de uma pesq uisa se propor à compreensão de
uma reaUdade específi ca, idiográfica, cujos significados são vincul ados a um
dado contex to, não a exime de contribui r para a produção do conhecimento.
Seja qual for a ques tão focali zada, é essencial que o pesquisador adqui ra
familiaridade com o es tado do conheci mento sobre o tema para que possa
propor questões significa tivas e ainda não investi gada s.
       Além do exa me da bibliogra fia sobre o tema,2 o contato com o campo na
fa se inicial do planejamento é d e suma importância, não apenas para a geração
de questões e identi ficação de in formantes e documentos, como para uma
primeira avaliação da pertinência, ao contexto considerado, das questões suge-
ridas por outras fontes. As ques tões inici ais assi m selecionadas, serão, então,
explicitadas no projeto de pesqu isa, o que não quer dizer que não possa m ser
reformuladas, abandonadas ou acrescidas de outras no decorrer do es tud o,
num processo de foca li zação progressiva. Nas etapas iniciais dessa focalização,
Guba e Lincoln (1989) enfa ti za m a importância do "conhecimento tácito" -
aquilo que o pesqui sador "sabe" embora não consiga expressar sob forma
proposicional - para orientá-lo sobre o que observa r. Posição semelhante é
defendida por Marshall e Rossman (1989) que destacam o valor da intui ção. e a
utili zação d e metáforas e ana logias nessa fase.
       Concluindo, a foca li zação atende a vári os objetivos: a) es tabelece as fron-
teiras da investigação; b) orienta os critéri os de inclusão-exclusão, ajudando o
pesqui sador a selecionar as informações relevantes; c) ajuda a orientar decisões
sobre atores e cená rios (Lincoln & Guba, 1985; Mil es e H uberman, 1984).


      2. Dada s ua impo rt ância na pCSqu iSél e, t,lInbélll, as d ificuld ndes cnvolvidns, a "revisão
da bibliografia" se rá objc lo de um capí tul o à péll' tC.
152            ALDA JU DITH ALVES-MAZZOTTI & FERNANDO GEWANDSZNAJDER



     No que se refere ao projeto, a foca lização do problema cos tuma ser feita
nas seções:3 de "Introdução", "Obje ti vo e/o u Questões ou Hipóteses cio Estu-
do", aí podendo se incluir também o "Q uadro Teórico", quando isto não fere os
pressupostos do paradigma em que se es tá opera nd o. Esses aspectos serão
analisados a seg uir.


1 . 1 Introdução

       Esta é a parte em que o pesqu isador "constrói O seu problema", isto é,
coloca a p esquisa prop osta no contex to da discussão acadêmica sobre o tema,
indicando qual a lacuna ou inconsistência no conheci mento an terior que busca-
rá esclarecei; demonstrando assim que o que es tá planejando fazer é necessário
e original. É na Introdução que o pesq uisa dor fornece o "pano de fundo " para
que o leitor possa entender, com clareza, a proposta e como esta se relaciona
com as questões atuais da área temá tica a qu e se refere. É aí também que o
pesquisa dor procura despertar o interesse do leitor pelo seu trabalho.
      Creswell (1994) aponta quatro componentes-chave na Introdução de um
projeto de pesq uisa: a) apresentação d o problema que levou ao estud o propos-
to; b) inserção do problema no âmbito da litera tura acadêmica; c) discussão das
d efici ências encontradas na litera tura que trata do prob lema; e d) id entificação
da audi ência a que se des tina prioritariamente e explici tação da significância do
estudo para essa audiência. Para elaborar uma introdução que contemple esses
componentes, o autor oferece alguma s suges tões interessa ntes.
      Na apresentação do problema, recomenda: a) iniciar com um parágrafo
que expresse a questão focalizada inserind o-a numa problemática mai s ampla,
de modo a es timular o interesse de um grande nlimero de leitores;4 b) esp eci fi -
car o problema que levou ao es tudo propos to; c) indicar por que o problema é
impor tante; d) focali zar a formula ção d o problema nos conceitos-chave que
serão ex plorados; e e) considerar o uso de dados numéricos que possa m causar
impac to.
      Ao discutir a litera tura relacionada ao tema, recomend a que se evite a
referência a es tud os indi vid uais, gl'l1 pa nd o-os por tópicos para efeito de análi-


      3. USíll110S o termo "seção" à fa lta de o ut ro melhor, mns is to não quer d ize r que cad"
urna dessas informações precise co n ~ titll i r 1I1l1íl scçfi.o do projeto, o importé
                                                                                     mte é que estej ,m1
presentes.
      4. De fato, mes mo ao es tud<ll' um "CílSO" específico, o pesq uisador deverá, sempre que
possível, ind ica r íl que rcnômcllo mais am plo o "Cíl 50" cs tud élclo se relaciolla, m as não Clpenas
para in teressaI" um nlimero mêlior de leitores c sim parn 'l llC ii ilcul1llilnçi'io do con hec imento,
nccess<Ír ia aO cl escnvo lvilnento da 'lllcla <Í rcôI cm 'lue o caso se in scrc, possa ocorreI".
o Mi'rrODO NAS CI~NCIAS NATURAIS E SOCIAIS                153


se. A referência a várias pesquisas uma a uma, além de desnecessária, torna a
leitura do texto extremamente tediosa .
      No que se refere às deficiências encontradas na literatura, sugere: a) apon-
tar aspectos negligenciados pelos estudos anteriores, como, por exemplo, tópi-
cos não explorados, tratamentos estatísticos inovadores ou implicações signifi-
cativas não analisadas; e b) indicar como o estudo proposto pretende superar
essas deficiências, oferecendo uma contribuição original à literatura na área.
      Finalmente, com relação à audiência, sugere que se finalize a Introdução
apontando a relevância do estudo para um público específico, que pode ser
representado por outros pesquisadores e profissionais da área a que está afeto
o problema, formuladores de políticas e outros.
      Quanto à significância do estudo, vale lembrar que muitos pesquisadores,
mesmo mencionando-a na "Introd ução", como sugere Creswell, a ela dedicam
uma seção separada, após o "Objetivo e/ou Questões", para que possam explo-
rar melhor as possibilidades de contribuição teórica e prática ensejadas pela
pesquisa. Embora não haja regra quanto a isto, freqüentemente esta é uma
localização mais lógica, uma vez que aí o interesse central do estudo estará mais
claro para o leitor. Por uma questão de organização da exposição, a "Importân-
cia do Estudo" será aqui apresentada em seção própria.
      Em resumo, uma Introdução bem feita deve lembrar a imagem de um
funil: começar pelo problema mais amplo e ir tecendo a argumentação com base
na análise das lacunas e dos pontos controvertidos na bibliografia pertinente ao
tema, examinando aspectos cada vez mais diretamente relacionados à questão
focalizada no projeto, com o objetivo de demonstrar a necessidade de investi-
gá-la. Quando essa argumentação é realizada com sucesso, ao finalizar a leitura
da Introdução o leitor estará convencido da necessidade de realizar a pesquisa
proposta e o "Objetivo" ou as "Questões do Estudo" serão vistos como uma
conseqüência lógica da argumentação apresentada.
      A título de ilustração, apresentamos a seguir a Introdução da pesquisa "Do
trabalho à rua: Uma análise das representações produzidas por meninos traba-
lhadores e meninos de rua" (Alves-Mazzotti, 1994).



                          [Apresentação do problema):
      Durante a década de 80, a população das grandes cidades brasileiras viu,
 entre assustada e perplexa, os espaços urbanos serem ocupados por um
 crescente contingente de crianças e adolescentes que buscavam, nas ruas,
 meios de sobrevivência. Embora o problema da "infância desvalida" não seja
 novo nem circunscrito aos parses pobres, constitura-se ar um novo objeto social,
 uma vez que, por seu número e modos de agir, aqueles que passaram a ser
 chamados genericamente de "meninos de rua" representavam um fenômeno
 ainda desconhecido.
154        ALDA JUDITH ALVE5-MA ZZOm & FERNANDO GEWANDSZNA1DER



                [Inserção do problema no contexto da literatura]:
      A gravidade do problema deu origem a um número sign ifi cativo de pesqui-
sas sobre essas crianças e ado lescentes no decorrer da última década IAlvim &
Valiadares, 1988). Essas pesquisas, re alizadas em diversas cidades, apresentam
entre si um alto grau de consistência no que se refere ao perfil e às "estratégias
de sobrevivência" utilizadas pelos "meninos de rua", as quais incluem uma série
de ocupações ligadas ao mercado informal e também, embora em número
significativamente menor, atividades ilegais tais como roubo, furto, mendicân-
cia, consumo de drogas e prostituição. As pesquisas indi caram ainda que, ao
contrário do que se pensava até então, ao lado de um pequeno grupo que, tendo
rompido parcial ou totalmente os laços familiares, mora efetivamente na rua,
encontra-se uma grande maioria que, ao término de suas jornadas de trabalho,
volta ao convrvio familiar IRizzini & Rizzini, 1992).


         [Di scussão das lacun as encontradas na literatura de pesquisa]:
      O fato de que a identificação dessas duas subpopu lações não se deu senão
muito recentemente faz com que a quase totalidade das caracterizações exis-
tentes trate os "meninos de rua" como uma população homogênea na qual
aqueles mais propriamente chamados "de rua" estão sub-representados, além
de impedir comparações entre os grupos. A não diferenciação entre os grupos
parece ser também, em parte, responsável pela ampla prevalência, nesses
estudos, das interpretações de natureza sociológica sobre os motivos que
levariam os meninos à rua. Podemos resumi -Ias no seguinte esquema:
 migração --> desemprego --> desagregação familiar e necessidade de gerar renda
 -7 menino de rua.

       Tais expli cações, porém, deixam de lado uma questão crucia l para a
 comprensão do problema dos meninos e meninas de rua, e que procuramos
 investigar em estudo anterior: "o que faz com que, aparentemente enfrentando
 condições socioeconôm icas igualmente desfavoráveis, algumas crianças perma-
 neçam ligadas a suas famrlias enquanto outras trocam a casa pela rua?" IAlves,
 1992, p. 119). Os resultados desse estudo, que distinguiu e comparou familias
 de meninos trabalhadores e de meninos de rua - aqueles que romperam os
 vrnculos familiares e moram na rua - indicaram que os rendimentos desses dois
 grupos eram equivalentes, não constituindo, portanto, fator relevante na distin-
 ção entre eles. Mais ainda, a investigação de fatores socioeconômicos, familia-
 res e individuais nos permitiu conc luir que somente a análise da interação entre
 esses fatores seria capaz de levar a uma compreensão mais acurada do
 problema. Em outras palavras, uma abordagem psicossocial fazia-se necessária.


      [Identificação da audiência e explicitação da relevância do problema]:
      Cabe assinalar que, paralelamente às tentativas de ampliar o conhecimento
 sobre esses grupos, realizadas no âmbito da pesquisa, um número crescente de
 atares sociais vem se mobilizando com o int uito de lhes oferecer alguma forma
o MÉTODO NAS CI~NCIAS NATURAIS E SOCIAIS                      155


 de ajuda . Valladares e Impelizieri (1991). em minucioso levantamento da ação
 não-governam ental voltada para as crianças carentes, locali zaram, apenas no
 Município do Rio de Janeiro, 619 iniciativas de natureza e filia ções diversa s, das
 qu ais 39 dirigida s exc lusivam ente aos meninos e meninas de rua. A qua se
 totalidade desses projetos data, igu alm ente, da década de 80, em conseqüência
 da agudização do problem a. Con siderando-se que as autoras trabalharam com
 dados disponíveis até maio de 1991 , e que aí não estão incluídas as ações
 governamentais, pod e-se concluir qu e o número de iniciativas é hoj e muito
 maior.
       Face à magnitud e desses esforços e aos modestos resultados até agora
 obtidos, torna-se urgente a produção de conhecimentos que possa m orientar as
 práticas e polrticas pública s dirigidas à ressociali zação dos meninos e meninas
 de rua.



1.2 Objetivo e/ou questões do estudo

     A introdução, como vimos, apresenta o problema que levou ao estudo
proposto, iniciando o processo de focalização. Mas é o "Objetivo" que d efine,
de modo mais claro e direto, que aspecto da problemática mais ampla anterior-
mente exposta constitui o interesse central da pesquisa. Esse objetivo é geral-
mente formulado em apenas uma fra se ou em um parágra fo e pode ser agrega-
do ao final da Introdução (o que gera lmente ocorre quando a p esquisa é
transformada em artigo), ou constituir uma seção separada (o que é mais
comum em teses e dissertações) . O exemplo de formulação de objetivo apresen-
tado a seguir foi re tirado da pesquisa anteriormente citada para demonstrar a
continuidade lógica entre este e a "Introdução".


      A presente pesquisa, rea li zada no Município do Rio de Janeiro, teve por
 objetivo investigar, junto a meninos e menina s de rua e a meninos e meninas
 trabal hadores, as seguintes rep resentações consid eradas relevantes para os
 processos de socialização e ressocia li zação : famrlia, rua, turma, criança, adulto,
 escola, trabalho, futuro e auto-imagem. Entre os quadros teórico-m etodológicos
 disponíveis, o das representações socia is (Moscovici, 1978) nos parece o mais
 adequado a esses propósitos por se r aque le qu e permite abordar, de forma
 articu lada, aspectos de natureza psicológica e sociológica .



     Note-se que nesta formulação já se menciona e justifica o quadro teórico-
metodológico adotado, embora ele vá ser aprofundado em outra parte do
projeto. Apesar de isto não ser uma exigência, a autora considerou necessário
explicitm; de itúcio, a ótica pela qual os dados seriam abordados, uma vez que
156         ALDA JUDITH ALVES-MAZZOTII & FERNANDO GEWANDSZNAjDER



o termo "representações", que consta do "Objetivo" tem diferentes significaçõ-
es em diferentes contextos teóricos. A definjção d e conceitos teóricos (como
representação socia l) é necessária, assim como a de termos que dão margem a
muita ambigüidade (como, por exemplo, "menino de rua"). Esses termos de-
vem ser d efinjdos na primeira vez em que aparecem no texto.
      Freqüentemente, o "Objetivo" é desdobrado em questões que d etalham e
clarificam seu conteúdo. Essas questões ajudam o pesquisador a selecionar os
dados e as fontes de in formação, e também a organizar a apresentação dos
resultados, uma vez que estes devem ser organizad os de modo a responder às
questões propostas. Como já foi menci onado, o fato de estarem especificadas no
projeto não significa que essas questões iniciais não possam ser reformuladas,
substituídas, abandonadas ou acrescidas d e outras, em decorrência d e observa-
ções feitas durante a coleta d e dados. Esta fl exibilidade, porém, não d escarta a
possibilidade de se antecipar algumas questões para orientar as decisões ini-
ciais sobre dados relevantes a serem buscad os.
      Cabe assinalar que nem semp,re há necessidade d e formu lar questões corno
d etalhamento do "Objetivo" . Há casos em qu e es te já explicita suficientemente
os asp ectos do problema que podem ser antecipados. Além di sso, o p esquisador
pode optar por formular um objetivo geral e desd obrá-lo em objetivos esp ecífi-
cos, os quais cumprem as mesmas funções das ques tões, tornando-as desneces-
sárias.
      Por outro lado, uma ou m ais "Questões do Estudo" podem substituir o
"Objetivo", o que ocorre sobretudo nas pesquisas vincu ladas ao constl'lltivismo
social. Em consonância com os pressupostos d esse paradigma (ver Capítulo 6),
essas questões são bas tante gerais e sua formulação não é orientada por um
referencia l teórico. Em estudos feitos segundo outros paradigmas qualitativos,
as questões p odem ser mais gerais ou mai s específicas, dependendo do conhe-
cimento acumulado na área temática pesquisada. O referencial teórico, bem
como estudos anteriores sobre o tema, depoimentos de especialistas e, eviden-
temente, o conheci mento do contexto são utilizados para formular ques tões
mais específicas.
      A título d e ilustração, apresentamos a seguir três exemplos de questões
propostas em estudos qualitativos com diferentes grau s de estruturação prévia.


      Por que algumas esco las co nseg uem rndic es de aprovação t ão mais altos
 que a média das que trabalham com alunos de baixo nrvel sócio-económ ico?
      O que seus professo res e administradores t êm de especia l? O que distingue
 a prática doce nte desses professores dos demais?
      Qu al o impacto do Projeto X sob re o desenvolvimento da ca pac idade de
 organização co munitári a do s moradores da fave la Y?
o MéTODO NAS C I ~NCIAS NATURA IS E SOCIAIS                   157


        Qu ais as evid ências desse impacto seg un do a equipe do Projeto e seg un do
 os moradores da fave la (part ic ip antes e não parti cipant es)? Qu e as pectos do
 Proj eto parece m ter contribufdo ma is signi fi cativame nte pa ra esse imp acto e
 quais as principais defi ciências obse rva das, seg und o esses dois grupos? Que
 outros fatores presentes na situação po dem ter cont ri bufdo para o dese nvolvi-
 mento da orga ni zação co munitári a, segundo os moradores da favela?
       Como se caracteri za a partic ipação dos pa is na gestão de uma esco la de
 1.° grau?
       Qu al o nfve l dessa particip ação, seg un do a escala de Bordenave, nas
 reuniões de pais promov id as pela escola? Em qu e os pais qu e comparece m a
 essas reuni ões se di stin guem dos que não comp arecem? Como a escola estimula
 ou ini be essa parti cipação? Que outras form as de parti cip ação (além das
 reuniões form ais ) podem se r obse rva das? Como pais, profess ores e adm inistra-
 do res vêem a participação de pais na gestão da esco la? Seg undo estes gru pos,
 de que tipo de decisões os pais deve riam particip ar?



      Além d e questões, pesquisas q ualita tivas pod em também trabalhar com
hipóteses. Uma hipótese pode ser definid a como uma conjec tura, uma "ap os ta"
(Luna, 1997) que o pesquisad or faz sobre o que irá resultar da investigação, ou
ainda, a explicação que cons idera a m ais p rovável para um d ado fato ou
fe nômeno a ser estudad o. Se um p roblema d e pesqui sa pod e ser visto com o
uma indagação, como uma pergunta (ou conjunto d e perg untas) que se preten-
d e responder com a pesquisa, a hipótese é uma respos ta plausível para essa
indagação, a ser testada no processo de investigação. Conseqü entem ente, as
hipó teses são, d e um lado, decorrentes do problema, de outro, elas d eterminam
o tipo d e d ados que permitem testá-Ia.
      Tip icamente, as hipóteses a fi rm am relações esperadas. Por exem plo:


       1. Em atividades aca dêm icas, os pro fessores interagem mais com os
 aluno s sobre os quais têm altas expec tativas.
       2. Grupos subm etid os a lidera nça autoritári a tend em a ser mais agress ivos
 qu e aq ueles cujas li deranças são democ ráti cas.



     Os pós-positivistas recomen da m que, sempre que o conheci mento acumu-
lado sobre uma dad a questão permita, o pesqui sad or deve trabalhar antecip an-
d o hipóteses d ecorrentes da teoria adotad a, pois estas representam o mais
pod eroso instrumento de inves tigação com que ele pode contar. Nos outros
pa radigmas qualita ti vos, porém, a utili zação de hipóteses n priori é bastante
158            ALDA JUDITH ALVES' MAZZOTTl & FERNANDO GEWANDSZNAJDER



rara, embora, a utiUzação de "hipóteses orientadoras" iniciais, referentes a
padrões ou d imensões esperados não seja descartada (Marshall e Rossman,
1989).
      O procedimento mais comum entre os pesquisadores qualitativos é formu-
lar "hipóteses d e trabalho" durante o processo de investigação, em decorrência
da análise inicial dos dados. Quando é este o caso, o pesquisador redireciona
sua cole ta em função d a hipótese, de modo a obter novos dados que possam
sustentá-Ia ou refutá-Ia: formu la novas perguntas, inclui novos sujeitos, observa
outros aspectos que não haviam sid o inicial mente foca lizados, etc. Além d isso,
ele pode rever os dados brutos já coletados, buscando encontrar evidências que
haviam passado despercebidas nas análises anteriores, nas quais a atenção do
pesquisador não estava direcionada para os conteúdos expressos na hipótese.
     Quanto aos critérios para a formu lação d e uma boa hipótese, o primeiro e
mais evidente é q ue esta precisa ser testável, ou seja, é necessário que possamos
contar com d ados que possam, d e maneira confiável, confirma r ou refutar a
hipótese. l3ecker (1997), referindo-se a hipóteses formu ladas durante a investi-
gação, a fi rma que uma "boa hipótese" é aquela que parece ser capaz de organi-
zar um grande número de dados, aquela à qual se podem vincular tantas
sub-hipóteses quantas forem necessá rias para dar conta dos dados pesquisados
e que não entra em choque com qualquer parcela dos dados já coletados.


1.3 Quadro teórico 5

      Já vimos que a adoção de um quadro teórico n priori não é consensualmente
aceita por pesquisadores qualitativos. Os construtivistas preferem que a teori-
zação emerja da análi se dos dados (a "teoria fundamentada"), embora reconhe-
çam as dificuldades inerentes a essa proposta. Nesse caso, é evidente que o
quadro teórico não pode ser antecipado no projeto, mas é recom endável que
es te explicite e jus tifique a posição adotada .
      Consideramos, porém, como o fa zem muitos autores (como, por exemplo,
Marshall e Rossman, 1989; Miles e Huberman, 1984; Yin, 1984), que contar com
um esquema conceituaI anteriormente à coleta de dados é de grande utilidade
para a identificação de aspectos relevantes e relações significativas nos eventos
observados. Esse esquema conceituaI tanto pode ser uma teoria mais elaborada,
como um ou mais cons tructos, ou mesmo uma m etáfora, dependendo do
problema abordado. A adoção prévia de uma direção teórica, não impede que
ou tras categorias teóricas sejam posteriormente acrescentadas, desd e que estas
não sejam incompatíveis com a p osição anterior.



      S. Oqua dro tc6 r i coser~ discutido em d ct<llhc l1oc<lpítulo rcfcrcnte à revisão da bibliografia.
o MÉTODO NAS CI ~NCIAS NATURAIS E SOCIA IS                   159


     Quando se opta por um referencial teórico, es te d eve constar, em suas
linhas gerais, d o projeto. A coerência entre este, o problema focalizado, e a
metodologia adotada é essencial e não se d eve esp erar que o leitor faça, por si
mesmo, a vinculação entre eles. A adequação do quadro conceituai escolhido
d eve, portanto, ser justificada.


1.4 Importância do estudo

     A significância de um estudo pode ser demonstrada indicando sua
contribuição pal·a a construção do conhecimento e sua utilidade para a
prática profissional e para a formulação de políticas. A ênfase relativa da
contribuição para cada um desses donúnios dependerá dos objetivos do estu-
do, mas em áreas de conhecimento aplicadas, como é o caso da educação, é
especialmente importante indicar contribuições nos três dOl1Únios (Marshall e
Rossman, 1989).
     Para apontar a contribuiçã o do estudo para a produção de conhecimento,
o pesquisador deve se referir à revisão inicia l da litera tura p ertinente, apresen-
tada na Introdução, d estacando a lacuna que irá preencher ou os inconsistências
que o estudo se propõe a esclarecer. Pode, ainda, fazer referência a aspectos
teóricos que o estudo irá testar em outros contextos, ou com outros grupos, ou
ainda, utilizando procedimentos ou instrumentos diferentes daqueles usados
em pesquisas anteriores.
     A significância para a prática e a formulação d e políticas pode ser d emons-
trada apresentando dados que evidenciem a incid ência e/ou gravidade do
problema e os custos socia is e econômicos aí envolvidos. A relevância de um
estudo pode também ser sustentada citando p lanos de Governo e artigos de
especialistas no tema ou revisões d e literatura na área que apontem a necessi-
dade de p esquisas sobre o problema proposto. No caso de a p esquisa ser
financiada, estando o tema incluído em área prioritária definido p ela agência
financiadora, esse aspecto deve ser também enfati zado.


2.   Pro ce diment os metodológicos

      o detalhamento dos procedimentos metodológicos inclui a indicação e
justificação do paradigma que orienta o es tudo, as etapas de desenvolvi-
m ento da pesquisa, a descrição do contexto, o processo de seleção dos
participantes, os procedimentos e o instrumental de coleta e análise dos dados,
os recursos utilizados para maximi zar a confiabilidade dos resultados e o
cronogrélnlél .
160         ALDA JUDITH ALVES·MAZZOTTl & FERNANDO GEWANDSZNAJDER



2.1 Justificação do paradigma adotado

      Partindo do princípi o de que não há metodologias "boas" ou "m ás" em si,
e sim metodologias adequadas ou inadequadas para tra tar um determinado
problema, recomenda-se que, antes de iniciar a descrição dos procedimentos, o
pesquisador demonstre a adeq uação do paradigma ado tado ao estudo propos-
to. Essa argumentação deverá fazer referência aos pressupostos daquele para-
digma, quer discutindo-os explicitamente, quer remetendo o lei tor para textos
esp ecia lizados no assunto. A pertinência do formato utilizado - estudo de caso,
etnografia, histórias de vida, ou outros - ao objetivo da pesquisa deve também
ser mencionada.
     Considerando que, nos estudos qualitativos, o p esquisad or é o principal
instrumento de inves tigação, alguns autores recomendam que, nesses parágra-
fos iniciais da metodologia, ele forneça informações sobre suas experiências
relacionadas ao tópico, ao contexto ou aos sujeitos (v el~ por exemplo, Creswell,
1994). A recomendação se justifica pelo suposto de que tanto a formação inte-
lectual do pesquisadOl~ quanto suas experiênci as pessoais e profissionais rela-
cionadas ao contexto e aos sujeitos introdu zem vieses na interpretação dos
fenômenos observados e, nesse caso devem ser explicitados ao leitor. De fato,
muitas vezes, em função de dificuldades d e tempo ou mesmo de acesso a outros
locais, o p esquisador realiza s ua inves tigação em ins tituições com as quais já
tem famili aridade, e nas quais exerce um outro papel (por exemplo, o professOl~
na escola em que trabalha; a enfermeira, no hospital). As possíveis implicações
desse duplo papel devem ser discutidas.


2.2 Etapas de desenvolvimento da pesquisa

      Dada a importância atribuída ao contex to n as pesquisas qualitativas, reco-
m enda-se, como vimos, que a investigação focali zada seja precedida por um
p eríodo exploratório. Este, por sua vez, é antecedido por uma fa se de negocia-
ções para obter acesso ao campo.
      Freqüentemente, pesquisadores inici antes encontram uma certa dificulda-
d e de obter esse acesso, sobretudo quando o estudo focali za uma ins tituição
(como, por exemplo, uma escola, uma empresa, um hospital, um sindicato). As
instituições costumam ter procedimentos formais para conceder autorização
para a entrada d e um observad or externo, bem como para dar acesso a deter-
minados esp aços e documentos. Quando se trata d e alunos d e graduação ou
pós-graduação, é importante contar com uma carta de apresentação da ins titui-
ção a que pertencem, ava lizando a seriedade do estudo. O conhecimento da
hierarquia que rege a instituição a ser pesquisada e a ajuda informal d e alguém
do próprio sistema são outros elementos facilitadores da entrada no campo.
Nos casos em que o interesse da pesquisa se centra, não em uma instituição, mas
o MÉTODO NAS CI ÊNCI AS NATURA IS E SOCIAIS                   161


em uma comunidade, é necessário conhecer as lideranças, pois sua ajuda é
essencial p ara obter o acesso aos d emais sujeitos.
      Q ualquer que seja o caso, porém, o pesqui sador d eve estar preparado para
responder a algumas questões que fatalmente surgirão, como, p or exemplo: "o
que você quer inves tiga r?"; "o es tud o vai interferir na rotina das pessoas?"; "o
que vai fazer com os resultados?"; "que tipo d e benefício a pesquisa vai trazer
p ara a ins tituição ou para a comunidade?". Uma análise de talhad a dessas
ques tões e do que p ode fazer o pesqui sad or para respondê-Ias foge ao nosso
objetivo aqui, bastando saber que as respostas não devem ser nem fal seadoras
da verdade, nem tão preci sas que p ossa m conduzir o comportamento d os
sujeitos durante a pesquisa. (Uma boa discussão sobre essas questões pode ser
encontrada em Bogdan e Bikle n, 1992.)
      No que se refere ao proje to, recomenda-se que se descreva brevemente os
passos para a obtenção do acesso ao campo, bem como as informações p resta-
das aos administradores e aos participantes d a p esquisa durante esse processo
d e negociação.
      Uma vez obtido o acesso ao campo, pode se iniciar o período exploratório,
cujo principal objetivo é prop orcionat~ através d a imersão do p esquisador no
contex to, uma visão geral do problema considerado, contribuindo para a foca-
lização d as questões e a identificação de informantes e outras fontes de dados.
Pesquisadores mais ligados ii linha e tnográfi ca recomendam que, nesse primei-
ro contato com O campo, se regis tre o maior número possível de observações
dos aspectos característicos ou inusitados da cultura estud ada, pois, com a
convivência, eles tendem a ir perd endo o relevo, passando a "fa zer parte da
paisagem". As perg untas feitas aos sujeitos durante essa fase são, em sua
maioria, bastante gerais, do ti po "O que você acha que eu deveria saber sobre
esta escola?" ou "Quais são as suas p reocupações com relação ao novo progra-
ma d e treinamento de pessoal?" ou "O que você acha que p recisa ser mudado
neste sindicato?".
      Os dados obtidos nessa fase são anali sados e di scutidos com os infor-
mantes para que estes opinem sobre a p ertinência das observações feitas pelo
p esquisador e a relevância dos asp ectos p or ele d estacados. Considerando que
o principal objetivo do p eríodo exploratório é obter informações suficientes
p ara orientar decisões iniciais sobre as questões relevantes e o r/esign do estudo,
as observações, impressões e insigltts que levaram a essas d ecisões d evem ser
d escri tas no projeto.
      Tend o-se d efinid o os contornos da p esquisa, pa ssa-se ii fa se d e investiga-
ção focali zada, na qual se inici a a coleta sistemática d e d ados. Enquanto n o
p eríodo exploratório o pesquisad or, tipica mente, conta apenas com seus olhos
e ouvidos, nesta fa se ele pod e recorrer a ins trumentos auxilia res, como questio-
nários, roteiros d e entrevis ta, formul ários de observação ou outros que surjam
d a criatividade d o p esquisad o r.
162            ALDA JUDITH ALVÉS-MAZZOTII & FERNANDO GEWANDSZNAJDER



      Em decorrência da feição indutiva que caracteriza os estudos qualitativos,
as e tapas de coleta, análi se e interpretação ou formulação d e hipóteses e verifi-
cação não obedecem a U'Tt él seqüência, cada um a correspondend o a um único
m omento da investigação, com o ocorre nas pesquisas tradicionais. A análise e
a interpretação d os dados vão sendo feitas de forma intera ti va com a coleta,
acompanhando todo o processo de investigação.


2.3 Contexto e participantes

      Ao contrário do que ocorre com as pesquisas tradicionais, a escolha do
campo onde serão colhidos os dados, bem como dos participantes é proposital,
isto é, o pesquisador os escolhe em função das questões d e interesse do estudo
e também das condições de acesso e permanência no campo e disponibilidade
dos sujeitos.
      No que se refere aos participantes, nem sempre é possível indicar no
projeto quantos e quais serão os sujeitos envolvidos, embora sempre seja possí-
vel indicar alguns, bem como a forma pela qual se pre tende selecionar os
demais. Lincoln e Cuba (1985) sugerem o seguinte processo para a seleção d e
sujeitos:

      1. Identificação dos participantes inici ais. A identificação d esses elemen-
tos pode ser feita com a ajuda de informantes que, por suas características e/ ou
funções, tenham amplo conhecimento d o contexto estudado. Por exemplo, em
um estudo sobre organização comunitári a, líderes de associ ações d e m oradores
e de comunidades eclesiais d e base podem indicar tanto aqueles que participam
como os que não participam dos problemas da comunidade.
      2. Emergência ordenada da amostra. 6 Isto é obtido através da seleção
serial, ou seja, novos sujeitos só vão sendo incluídos à medida que já se tenham
obtido as informações desejadas dos sujeitos anteriormente selecionados. Tal
procedimento p ermite que cada novo p articipante seja escolhido d e modo a
complementar ou a testar as infor mações já obtidas.
     3. Focalização contínua da amostra. À medida que novos aspectos rele-
vantes da situação vão sendo identificados p ela análise que acompanha a coleta,
novas ques tões emergem, tornando freqüentemente necessário incluir outros
que estejam mais relacionados a essas questões emergentes.



      6. Embora vários especia li s tas CIl' pesquisa 'lu<llitativa use m o termo "a mos tra" (além
de Lincoln e Guba podemos citar Huber man c Miles, 1984, Pattoll, 1986, Mars hal e ROSSl11iUl,
1989), concordamos co m Yin (1985) qu e o termo n ~o é adequêldo, lima vez que n50 se pretende
fazer genera li zações de ti po estatístico.
o M ÚTODO NAS c i êN CIAS NAT URAIS E SOCIAIS                163


      4. Encerramento da cole ta. A p artir de um certo momento, observa-se que
as informações já obtid as es tão suficientemente confirmadas e que o surgimen-
to d e novos d ados va i fi cando cada vez m ais raro, a té que se atinge um "p onto
d e redund ância" a par tir do qual não mais se justifica a inclu são d e novos
elementos.

      Lincoln e Guba (1985) consideram que nenhuma d essas etapas p od e ser
inteiramente p revis ta. Admitem, entretanto, que o pl anejamento d a p esquisa
d eve incluir alguma discussão desses aspectos como evidênci a d e que o p esqui-
sad or es tá consciente deles e tem alguma idéia do que fa zer a respeito. Su gerem,
a inda que, nos casos em que não é possível obter muitas informações prévias
sobre o contexto investigado, a técnica da "bola d e neve" é de grande utilid ade
no processo de seleção dos s ujeitos. Esta técn.ica consis te em identificar uns
poucos sujeitos e p edir-lhes que indiquem outros, os qua is, por s ua vez, indica-
rão outros e assim s ucessiva mente, até que se a tinja o p onto d e redund ância.
      Miles e I-Iuberman (1984) alertam para o fato de que a tendência de
procurar os "a tares principais" do fenômeno es tudado p ode resultar na p erda
d e informações importantes e recomendam que se inves tig ue também a "p eri-
feria", ou seja, os "coadjuvantes" e os "excluíd os" . Isto quer di zer que, p or
exemplo, na avaliação do impacto d e um d eterminad o p rograma d esenvolvido
numa favela, al ém de ouvir os membros d a comun.id ad e que p a rticiparam do
referido programa, dever-se-i a ouvir também aqueles qu e não quiseram parti-
cipar ou que d esis tiriam em me io ao processo. A suges tão de Miles e I-Iuberman
está de acordo com observação d e Pa tton (1986) que, ap ós analisar várias
form as d e amos tragem proposital, conclui que aquela que proporciona variação
m áxima d e participantes é, geralmente, a d e maior utilidade em p esquisas
qualitati vas.


2.4 Procedimentos e instrumentos de coleta de dados

      As p esquisas qua litativas são carac teri stica mente multimetodol ógicas, isto
é, u sam uma grande variedad e de procedimentos e instrumentos d e coleta de
dados. Podemos dizer, entreta nto, que observação (participante ou não), a
entrevista em profundid ad e e a análise de d ocumentos são os m ais utili zad os,
embora possam ser complementad os por outras técnicas. Para uma descrição
d essas técnicas, suas vantagens e principais apli cações, bem como indicações d e
bibliogra fi a esp ecífi ca sobre cad a uma, ver Lincoln e Denzin (1994), Ludke &
André (1986), Le Compte, Mill roy e Preissle (1992), Marshall e Ross l~1an (1989)
e Yin (1985). Para técnicas quantita tivas, ver Kidder (1987). Na impossibilidad e
d e analisar aqui tod as essas técnicas, focali zarem os apenas as mais utili zad as.
164         ALDA JUDITH ALVES-MAZZOTTI & FERNANDO GEWANDSZNAJDER



2.4.1 Observação

        A observação de fatos, comportamentos e cenários é extremamente valori-
zada pelas pesquisas qualitativas. A pesquisa tradicional, embora também
 utili zasse com freqüência essa técnica, costumava lhe atribuir as seguintes
desvantagens: a) abrange apenas seus próprios limites temporais e espaciais,
isto, é, eventos que ocorrem fora do período de observação não são registrados;
b) é uma técnka pouco econômka, pois exige muitas horas de trabalho do
pesquisador, c) geralmente requer alta dose de interpretação por parte do
observador, o que pode l evar a inferências incorretas; d) a presença do observa-
dor pode interferir na situação observada.
        Nenhuma das desvantagens apontadas constitui problema para as pesqui-
sas qualitativas, considerando-se seus pressupostos e características. O limite
temporal-espacial só é problema quando a observação é a únka técnka usada
para a coleta de dados, o que não é o caso das pesquisas qualitativas, que se
caracterizam pela utilização de múltiplas formas de coleta de dados . O consu-
mo de tempo só parece excessivo quando comparado ao despendido em pes-
quisas baseadas em aplicação coletiva de questionários ou testes, que pode ser
feita num únko dia. Nas pesquisas qualitativas, porém, o consumo de tempo é
inerente à necessidade de apreender os significados de eventos e comportamen-
tos. Já a possibilidade de fazer inferências incorre tas, não é exclusiva da obser-
vação, além poder ser minimi zada pelo uso de outras técnicas como, por exem-
plo, a checagem, com os participantes, das interpretações feitas pelo pesquisa-
dor. Finalmente, quanto à interferência do observador na si tuação observada,
pode-se argumentar que esta fica minimizada pela permanência prolongada do
pesquisador no ca mpo, pois os sujeitos, com o tempo, se acostumam com a sua
presença. Ou, pode-se considera!~ ainda, como preferem os teórico-críticos, que
as relações socia is que se estabelecem entre pesquisador e pesquisados não são
diferentes daquelas que existem na sociedade, e como tal devem ser encaradas
e discutidas.
        Por outro lado, as seguintes vantagens cos tumam ser atribuídas à observa-
ção: a) independe do lúvel de conheci mento ou da capacidade verbal dos
sujeitos; b) permite "checar", na prática, a sinceridade de certas respostas que,
às vezes, são dadas só para "causar boa in1pl'essão"i c) pern1He identificar
comportamentos não-intencionais ou inconscientes e explorar tópicos que os
informantes não se sentem à vontade para discutir; e d) permite o registro do
comportamento em seu contexto temporal-espacial.
        Quanto à flexibilidade, as observações podem ser estruturadas (ou "siste-
máticas") e não-estruturadas (também chamadas assistemáticas, antropológi-
cas ou livres). Nas primeiras, os comportamentos a serem observados, bem
como a forma de registro, são preestabelecidos. São gera lmente usadas quando
o pesquisador trabalha com um quadro teórico n priori que lhe permite propor
questões mais precisas, bem como identificar categorias de observação relevan-
o MÉTODO NAS CI ~NC IAS NATURAIS E SOCIAIS                  165


tes para respondê-las. Este tipo de observação é muito usado para identificar
práticas que a teoria indica que são efi cazes e eventualmente pode u sa r alguma
forma de quantificação.
     O lúvel d e quantificação pode apresentar as seg uintes variações:

     1. sistema de sina l - quando se registra apenas a presença ou ausência do
com portamento durante o período observado, sem preocupação com a freqüên-
cia ou grau em que ocorre. Tipicamente o instrumento consiste numa lista d e
itens ou comportamentos (ciJecklists) onde o observador "checa" aqueles que
ocorrem. O exemplo abaixo é parte de uma lis ta utilizada para avaliar o desem-
penho de professores.




     o professor:                                                Sim   Não
     explicita os objetivos da au la                             ./
     expõe o assunto de maneira interessa nte                           ./
     demonst ra conhecimento da matéri a                         ./
     usa o li vro-t exto e materi al de apoio de forma eficaz    ./




     2. registro d e freqüência - o comportamento é regis trado cada vez que
ocorre. Exemplo:




     o professor:
     se dirige à classe como um todo                                   111111
     trabalha com pequeno s grupos                                      III
     traba lha ind ividua lmente com aluno                              1111
     não está envo lvido em qu alquer intera ção                         II




    3. escalas - perm.item es timar o grau em que um de terminado comporta-
mento ocorre e fa zer um julgamento quali tativo sobre esse comportamento ou
166           ALDA JUDITH ALVES-MAZZO"ITI & FERNANDO GEWANDSZNAJDER



atividade observados. São apresentados abaixo três exemp los de escalas de
observação:

      a) O professor estimula a participação na discussão:


                      rara men te                    121
                      ocas ionalm ente               D
                      freqüentemente                 D

      b) Variedade de técnicas utili zadas p elo professor:




(
       alta              2           mOd;rada              0            ba~xa    J
    "--------

      c) O relacionamento professor-aluno parece:




                             x
         exce lente       bom            reg ul ar    so frrvel   péssimo



      Todos esses instrumentos au xil iares da observação estruturada podem ser
usados em pesquisas qualitativas, desde que combinados com observações
mai s livres. O tipo de observação característico dos es tudos qualitativos, porém,
é a observação não-estruturad a, na qual os comportamentos a serem observa-
dos não são predeterminados, eles são observad os e rela tados da forma como
ocorrem, visando descrever e compreender o que es tá ocorrendo numa dada
si tuação.
      Esta é a forma, por excelência, da observação participante, uma das técni-
cas mais utili zadas pelos pesquisadores qualita tivos. Na observação p articipan-
te, o pesquisador se torna parte da situ ação observada, interagi nd o por longos
períod os com os sujeitos, buscando parti lhar o se u co tidiano para sentir o que
significa es tar naquela situ ação. A importância atribuída ~ observação partici-
o MÉTODO   NAS CI ~NCl AS NATURAIS E SOC IAIS              167


pante está relacionada à valori zação d o instrumental humano, característica d a
tradição etnográfica . Por is to se afirma que o observador participante "deve
aprender a usar s ua própria pessoa como o principal e mai s confiável instru-
mento d e observação, seleção, coordenação e interpretação" (Sanday, 1984,
p. 20). Para C uba e Lincoln (1989), esse papel atribuído ao instrumental humano
d ecorre de sua extrema adaptabilidade, o que leva esses autores a recomenda-
rem que, nos estágios iniciais do trabalho d e ca mpo ele seja, não apenas o
principal, mas o único instrumento de investigação. Em outras etapas, porém,
o observador participante, tipicamente, combina a observação com entrevistas
e análise d e documentos.
      Embora geralmente se associe a observação participante à imersão total do
p esquisador no contexto observado, passando a ser um membro do grupo, o
nível de participação do observador é bas tante variável, bem como o nível de
exposição de seu papel d e pesquisador aos outros membros do grupo estudado.
Assim, por exemplo, o pesqui sador pode freqüentar um curso supletivo, como
se fosse um aluno comum, para estudar o significado da escolarização primária
para alunos adultos; ou pode se apresentar como pesquisador ao "pa i-d e-sa n-
to" e pedir autorização para freq üentar o terreiro d e candomblé, para es tudar o
papel terapêutico dos ritos mágicos.
      Diante de tudo o que foi dito, é fácil concluir que as habilidades exigidas
do observador participante são muitas. Entre estas, podemos d estacar: a) ser
capaz d e estabelecer uma relação de confiança com os sujeitos; b) ter sensibili-
dade para pessoas; c) ser bom um ouvinte; d) formular boas perguntas; e) ter
familiaridad e com as questões investigadas; f) ter flexibilid ade para se adaptar
a situações inesperadas; e g) n ão ter pressa d e identificar padrões ou atribuir
significados aos fenôm enos observados (Mi lles e I-Iuberman, 1984; Sanday,
1984; Yin, 1985).
      No que se refere ao projeto, deverão ser esclareci d os os seguintes aspectos
da observação participante: a) o nível de participação do observador no contex-
to estudado (por exemplo, o pesquisador interessado em inves tigar práticas
autoritárias em um sindicato d eve informar se é um observador externo, um
profissional filiado, ou, ainda, se ocupa algum cargo no referido sindicato); b) o
grau de conhecimento dos participantes sobre os objetivos do estudo proposto
(que poderá variar do total desconhecimento, inclusive do fato de que o sujeito
é um pesquisadO!; até o conhecimento dos objetivos específicos da p esquisa); c)
o contexto da observação (o cotidiano do sindicato, reuniões plenárias, reuniões
de dirigentes etc.); d) duração provável e, sempre que possível, di stribuição do
tempo (por exemplo, durante seis meses, o p esqui sador pretende passar seis
horas semanais na sed e d o sindicato, além de comparecer às reuniões plenárias
ou ou tras); e e) forma d e reg is tro dos dados (notas d e ca mpo, gravações em
áudio ou vídeo formulários etc.).
168         ALDA JUDITH ALVES-MAZZOTTI & FERNANDO GEWAND5ZNAJDER



2.4.2 Entrevistas

      Por sua natureza interativa, a entrevista permite tratar de temas complexos
que dificilmente poderiam ser investigados adequadamente através de questio-
nários, explorando-os em profundidade. A entrevista pode ser a principal
técnica de coleta de dados ou pode, como vimos, ser parte integrante da
observação participante. Neste último caso, ela costuma sei; pelo menos de
início, inteiramente informal. O pesquisador se aproxima do sujeito e diz, por
exemplo: "Nós ai nda não conversamos. Você tem um tempinho?".
      De um m odo gera l, as en trevistas qualitativas são muito pouco estrutura-
das, sem um fraseamento e uma ordem rigidamente estabelecidos para as
perguntas, assemelhando-se muito a uma conversa. Tipicamente, o investiga-
dor está interessado em compreender o significado atrib uído pelos sujeitos a
eventos, situações, processos ou personagens que fazem parte de sua vida
cotidiana.
      Rubin & Rubin (1995) descrevem uma variada gama de tipos de entrevis-
tas qualitativas, distinguindo-as pelo gra u de controle exercido pelo entrevista-
dor sobre o diálogo. Assim, nas entrevistas não estruturadas, o entrevistador
introduz o tema da pesquisa, pedindo que o sujeito fale um pouco sobre ele,
eventualmente inserindo algu ns tópicos de interesse no fluxo da conversa. Este
tipo de entrevista é gera lmente usado no início da coleta de dados, quando o
entrevistador tem pouca clareza sobre aspectos mais específicos a serem focali-
zados, e é freqüentemente complemen tado, no decorrer da pesquisa, por entre-
vistas semi-estruturadas. Nestas, também chamadas focalizadas, o entrevi sta-
dor faz perguntas específicas, mas também deixa que o entrevistado responda
em seus próprios t'ermos. É também possível op tar por um tipo misto, com
algumas partes mais es truturadas e ou tras menos.
      Outros tipos de entrevis ta qualitativa descritas por esses autores são a
história oral e a história de vida. Na primeira o pesquisador procura reconsti-
tuir, através da visão dos sujeitos envolvidos, um período ou evento histórico,
pedindo, por exemplo, a sujeitos que sofreram perseguições políticas para
falarem sobre as diferentes fases da ditadura militar; ou pedindo a pessoas que
participaram da marcha dos "sem-terra" a Brasília que contem como foi. Já nas
histórias de vida, o pesquisador está interessado na trajetória de vida dos
entrevistados, geralmente com o objetivo de associá-l a a situações presentes.
Esta técnica tem sido muito usada para compreender aspectos específicos de
determinadas profissões e para identificar problemas a elas relacionados.
      Qualquer das modalidades de entrevista mencionadas exige conh ecimen-
to e arte. Indicações sobre como rea liza r entrev istas fogem ao nosso propósito
aqui, mas estas podem ser encon tradas em Bogda n & Biklen (1994), Garret
(1988), Ludke & André (1986), Patton (1986); Rubin & Rubin, (1995); Thiollent
(1980).
o MÉTODO NAS C I ~NClAS NATURAIS E SOCIAlS                  169


      Quanto ao que deverá constar do projeto, o lúvel de detalhamento depen-
derá do tipo d e entrevista a ser feita, o qual, por sua vez, deve ser coerente com
o seu o objetivo e com o paradigma adotado. É sempre possível, porém, indicar
o tipo (livre, semi-es trutmada, estruturada, mi sta) e o objetivo geral da entre-
vista. No caso de entrevistas estruturad as ou semi-es truturadas freqüentemente
é possível indicar que fontes serão usadas para gerar os itens (pesquisas ante-
riores, teoria, observações e conversas ilúorma is com os participantes) também
indicar o nltmero aproximado de entrevistàs e o tipo d e respondentes (por
exempl o, pais e professores, ou médicos, etúermeiras e pacientes, e tc.).


2.4.3 Documentos

      Considera-se como documento qualquer registro escrito que possa ser
usado como fonte de informa ção. Reg ulamentos, a tas de reunião, livros de
freqüência, relatórios, arquivos, pareceres, etc., podem nos di zer muita coisa
sobre os princípios e normas que regem o comportamento de um grupo e sobre
as relações que se estabelecem entre diferentes subgrupos. Cartas, diários pes-
soais, jornais, revistas, também podem ser muito úteis para a compreensão d e
um processo ainda em curso ou para a reconstituição de uma situação passada.
No caso da ed ucação, livros didáticos, registros escolares, programas de curso,
planos de au la, trabalhos d e alunos são bastante utilizados.
      A análise de documentos pode ser a única fonte de dados - o que costuma
ocorrer quando os sujeitos envolvidos na situação estudada não podem mais
ser encontrados - ou pode ser combinada com outras téclúcas de coleta, o que
ocorre com mai s freqüência. Nesses casos, ela pode pode ser usada, tanto como
uma téclúca exploratória (indicando aspectos a serem focalizados por outras
téct~ica s), como para "checagem" ou complementação dos dados obtidos por
meio de ou tras téclúcas.
      Qualquer que seja a forma de utili zação dos documentos, o pesquisador
precisa conhecer algumas itúormações sobre eles, como por exemplo, por qual
instituição ou por quem foram criados, que procedimentos e/ou fontes utiliza-
ram e com que propósitos foram elabora dos. A interpretação d e seu conteúdo
não pode presci ndir d essas informações (llecket; 1997).
      Quanto ao que deve figurar no projeto, recomenda-se que, ao menos, se
indique a natureza dos docLUnentos com que se pretende trabalhar (se são leis,
discm sos oficiais, h'abalhos escolmes, etc.) e com que finalidade serão utilizados.


2.5 Unidade de análise

     A expressão "unidade de análise" se refere à forma pela qual organizamos
os dados para efeito de aná li se. Para definir a unidade d e análise é preciso
170         ALDA JU DITH ALVES·MA ZZOTrI & FERNANDO GEWANDSZNAJDER



d ecidir se o que nos interessa primordialmente é uma organização, um grupo,
diferentes subgrupos em uma comunidade ou determinados indivíduos. Em
cad a um desses casos temos uma unidade de análise dis tinta: ou tratamos a
organização como um todo, ou ana lisa mos sepa radamente diferentes grupos
dessa organização, ou ainda, diferentes indivíduos . Es tar interessado em indi-
víduos não significa que não se possa focali za r vários indivíd uos, apenas eles
não são tratados como grupo. Além disso, nada impede que se utili ze mais de
uma unidade de análise no mesmo estudo. Isto pode ser feito, tanto para a
investigação de um mesmo aspecto, como para diferentes aspectos do proble-
ma, bas tando, neste caso, que se especi fique que unidades correspondem a que
aspectos da análise. Essa especificação, porém, nem sempre pode ser feita no
projeto porque, freqüentem ente, é a própria análise dos dados que indica a
necessidade de se incluir uma outra unidade de análise.
      Em se tratando d e estudos de caso, o estabelecimento da unidad e de
análise corresponde ii d efini ção do "caso" (Yin, 1984). Assim, por exemplo, em
um estudo localizad o em uma instituição d e ensino superior (uma fac uldade,
instituto ou departamento), pode-se estar interessado na implementação de
uma inovação (nível organizacional), ou em como diferentes segmentos (pro-
fessores, alunos e técnicos) reagiram ii inovação (Iúvel grupal), ou ainda, na
atuação d e alguns tipos d e líderes estudantis (lúvel individual). Uma descrição
sucinta dos aspectos relevantes do "caso" deve ser incluída no projeto. Por
exemplo, se o "caso" é uma favela, d ados sobre loca lização, condições sanitárias
e d e habitação, serviços disponíveis na área (escola, posto d e saúde, segurança),
grupos atuantes, e outros pertinentes ii questão estudada devem ser incluídos.


2.6 Análise dos dados

       Pesquisas qualitativas tipicamente gera m um enorme volume d e d ados
que precisa m ser organizados e compreendidos. Isto se fa z através de um
processo continuado em que se procura identificar dimensões, categorias, ten-
dências, padrões, relações, desvendando-lhes o significado. Este é um processo
complexo, não-linear, que impli ca um trabalho de red ução, organização e inter-
pretação dos d ados que se inicia já na fase explora tória e acompanha toda a
investigação. À med ida que os dados vão sendo cole tados, o pesquisador vai
procurando tantativamente identifica r temas e relações, cons truindo interpre-
tações e gerando novas questões e/ou aperfeiçoando as anteriores, o que, por
sua vez, o leva a buscar novos dados, complementares ou mais específicos, que
testem suas interpretações, num processo de "sintonia fina" que vai até a análise
final.
       Miles e Huberman (1984) oferecem um rico material para orientar o pes-
quisador nas tarefa s de registro, análise e apresentação d e dad os qualitativos.
Esse m aterial sugere proced imentos a serem adotados na análise du rante a
o MÉTODO NAS C IÊNCIAS NATURAIS E SOCIAIS                    171


coleta de dados e na análi se fin al, e inclui suges tões específi cas para pesquisas
desenvolvidas em um único contex to e parn aq uelas qu e comparam dois ou
mais contex tos, Tai s sugestões, desde que usa das com a fl exibilidade que p er-
mita a emergência de achad os não antecipados, podem ser de grand e utilid ade,
principalmente para o pesqui sador ini cian te,
      Q uanto ao projeto de pesquisa, embora de um modo geral pouco possa ser
antecipado, em decorrência d a próp ria natureza do processo de análi se de
dados qualitativos, o grau de especificação possível vai variar em função do
grau de focalização prévia do problema, Se o pesqui sa dor adotou um referen-
ciai teórico que lhe permite des tacar dimensões e ca tegori as inici ais de análi se,
ou mesmo relações esperadas, estas devem ser explicitadas, Se, ao contrário,
op tou por uma focali zação mais aberta, sem um referencia l interpretativo,
dimensões ou categorias definidas, pode, ao menos, antecipar os proced imen-
tos gerais que permiti rão que emerjam dimensões e ca tegorias relevantes, bem
como suas relações e significados, Em ou tras palavras, o pesquisador pode
informar que sua análi se será desenvolvida durante tod a a investigação, a través
de teorizações progressivas em um processo interativo com a cole ta de dados,
      Como observam Marshall e Rossman (1989), nesta seção do projeto o
pesquisad or deve descrever suas decisões iniciais sobre a análise dos dados e
convencer o leitor de que está consciente das dificuld ades inerentes a essa
análise e é suficientemente competente para rea lizá-la,
      É necessário lembrm; ainda, que, quando dados quantitativos são usados
p ara complementar os qualitativ os, o tratamento dado a cada um deles deve ser
descri to separadamen te,


2.7 Procedimentos para maximizar a confiabili dade

      A natureza das abordagens qualitativas, ali ada a sua di sseminação recente
em algumas áreas de conheci mento como a ed ucação e a psicolog ia, exige qtle
os pesquisadores que as adotam demonstrem preocupação com o ri gor com que
pre tend em condu zir sua investi gação, Os traba lhos inici ais relacionados a es ta
ques tão procuravam "trnd uzir" para a pesq ui sa qualita tiva os conceitos de
validade interna (referente ao controle de variáveis estranhas), validade ex terna
(grau de generalização dos resultados), fid edi gnidade (possibilidade de repli-
cação dos resultados), usados na pesquisa tradicional (ver, por exemplo, Yin,
1984). Atua lmente, porém, muitos autores consideram que tai s conceitos não
cons tituem modelos apropriados para a pesq uisa qualitativa e propõem uma
grande variedade de critérios para substituí-los,
      Lincoln & Guba (1985) sugerem os seguintes critérios: a) credibilidade (os
resultados e interpretações feitas pelo pesquisador são plausíveis para os sujei-
tos envolvidos?); b) transferibilidade (os resultados d o es tud o podem ser trans-
feridas para outros contextos ou para o mesmo contex to em outras épocas?); c)
172         ALDA JU DITH ALV ES-MAZZOITI & FERNANDO GEWANDSZNAJDER



consistência (os resultados obtidos têm estabilidad e no tempo?); e d) confirma-
bilidade (os resultados obtidos são confirmáveis?) . Para atender a cada um
desses critérios, os autores sugerem vários proced imen tos. Entre os procedi-
mentos para ma ximizar a cred ibilidade, citados por estes e por muitos outl'OS
autores (vel; por exempl o, Creswell, 1994, Merril, 1988, Patton, 1986), destaca-
mos: a permanência prolongada no campo; a "checagem pelos participantes",
o questionamento por pares, a tri angulação e a análise de hipóteses rivais e d e
casos negativos.


2.7.1 Critérios relativos à credibilidade

Permanência prolongada no campo. O tempo d e permanência no campo,
principalmente nos estudos de tipo etnográfico, d eve ser suficientemente longo
para que o pesquisador possa apreender a cultlll'a d e uma perspec tiva mais
ampla, corrigir interpretações fal sas ou enviesadas e identificar dis torções nas
informações apresentadas pelos sujeitos (voluntárias ou involuntárias). O que
pode ser considerado tempo suficiente, porém, não é fáci l d e determinar, pois
varia em função da situação observada. Segundo Spindler & Spindler (1992) um
período longo é importante para que o pesqui sad or veja as coisas acontecerem,
não uma vez, mas repetidamente, o que - ad mitem - nem sempre é possível.
Usualmente, porém, considera-se que um ano é um tempo razoável.

"Checagem" pelos participantes. Considerando-se que a abordagem qualitati-
va proclll'a captar os significados atribuídos aos eventos pelos participantes,
torna-se necessário verificar se as interpretações d o pesquisador fa zem sentido
para aqueles que forneceram os dad os nos quai s essas interpre tações se ba-
seiam. Embora verificações parciais sejam feitas ao longo d e toda a pesquisa,
esta é feita d e modo mais completo e form al no final , apresentando-se aos
participantes os resultados e conclusões, bem como outros aspectos do relatório
julgados relevantes e p edindo-lhes que os ava li em quanto à precisão e relevân-
cia. Isto pode ser feito sob forma escrita, oral ou visual (dependendo das
características dos sujeitos). Com base nas reações obtidas, é então elaborado o
relatório final que será divulgado entre os interessados.

Questionamento por pares. Este procedimento consiste em solicitar a colegas
não envolvidos na pesquisa, mas que trabalhem no m es mo paradigma e conhe-
çam o tema pesquisado, que funcionem como "ad vogad os d o diabo". A função
do "advogado do diabo" é apontar falha s, pontos obsclll'oS e vieses nas inter-
pre tações, bem como identificar evidências não exploradas e oferecer explica-
ções ou interpretações alternativas àquelas elaboradas pelo pesquisador. Graças
à sua relativa fa cilidade e também à sua eficácia, este é um procedimento
o MÉTODO NAS C1eNCIAS NATURAIS E SOC IAIS                   173


bas tante usado, constituindo qu ase u ma rotina entre pesquisadores de uma
mesma área.

Tri ang ul ação. Já d issemos anteriormente que as pesqu isas q uali ta tivas costu-
mam usar várias maneiras de ob ter seus dados. Q uando buscamos d ife rentes
maneiras para investiga r   UIll   IllesnlQ ponto, estmn os lIsando tuna forma de
tri angul ação. Denzin (1978) apresenta quatro ti pos de triangulação: de fontes,
de mé todos, d e investigadores e de teorias. Q uando u m pesq uisad or compara
o rela to de um informante sobre o que ocorreu em uma re união com a ata dessa
mesma reunião, es tá fazendo uma triangulação de fontes. A triangulação d e
métodos gera lmente se refere à com paração de d ados coletados por mé todos
qualitativos e quantita tivos (Patton, 1986), mas também pode se referir à com-
p aração d e d ados de entrevistas com dados obtidos em um teste de associ ação
livre, por exemplo. As duas outras formas de triangulação - d e investigadores
e d e teorias - são menos usadas, não apenas por aca rretarem maiores dificulda-
d es, mas também por terem implicações epistemológicas que entra m em cho-
que com características d o pa rad igma construtivista, impedind o s ua aceitação
pelos adeptos dessa corrente. Q uanto ao primeiro, Lincoln e Guba (1985) argu-
mentam que, se o design é emergente e se sua form a depende d a interação do
investigad or com o contexto, não se pode esperar que diferentes pesquisad ores
cheguem aos mesmos resultados . Quanto à triangulação de teori as, esses auto-
res afirm am que, se as teorias de terminam os fatos, a confirmação d e um fa to
por duas teorias ind ica ria m uito m ais uma semelhança entre elas que uma
maior significação d o fa to.

Análise de hipóteses alternativas . Tendo analisado seus dados e formulado
suas hipóteses sobre, por exem plo, as dimensões que compõem um d ad o
fenômeno ou sobre as relações entre eventos ou comportamentos observados, o
pesquisador d eve procura r interpretações ou explicações rivais d e suas hipóte-
ses. Isto implica em tentar outras m aneiras de organi zar os d ad os, buscar outras
formas d e pensar sobre eles que possam levar a diferentes conclusões. Não se
trata aí d e tentar d errubar essas hipó teses rivais e sim de tentar confirmá-las,
pois, caso o pesquisador tenha se esforçado por confirmá-l as sem obter sucesso,
a cOlúiabilidad e d e suas hipóteses iniciais aumenta.

Análi se de casos negativos. O fa to d e que é possível identificar padrões e
tendências de comportamento não significa que todos os s ujeitos sigam o
padrão identificad o. A análise d os casos que se afastam do padrão pod e trazer
esclarecimentos importantes e aj ud ar a refinar explicações e interpretações.
Esse procedimento foi utili zad o por nós em uma pesquisa sobre as repre-
sentações d e "meninos de rua" elaborad as por diversos grupos que m antêm
cantata com esses m eninos: educad ores sociais, meninos e meninas que traba-
lham na rua, meninos e meninas d e cl asse média, polici ais e seguranças (A1ves-
174        ALDA JUDITH ALVES-MAZZOTTI & FERNANDO GEWANDSZNAJDER



Mazzotti, 1994). A análise das respostas do grupo de policiais apresentava um
alto grau de redundância no que se referia ii caracterização dos meninos e ii
atitude dos entrevistados com relação a eles. As respostas de um dos sujeitos,
porém, se afastavam sistematicamente das respostas do grupo, o que nos levou
a procurar entender o que o distinguia dos demais policiais. Verificamos, então,
que o referido policial era evangélico, o que nos levou a concluir que o sistema
de valores com o qual ele se identificava era o dos evangélicos e não o dos
policiais.



2.7.2 Critérios relativos à transferibilidade

      Nas pesquisas qualitativas, a genera lização dos resultados obtidos tem
sido uma questão recorrente e polêmica. Nas pesquisas quantitativas, a possi-
bilidade de generalização depende da representatividade da amostra seleciona-
da pelo pesquisador: se essa amostra é representativa da população da qual foi
retirada, supõe-se que o que foi observado na amostra vale para toda aquela
população. Neste caso, cabe ao pesquisador descrever claramente a população
para a qual seus resultados seriam generalizáveis. As pesquisas qualitativas se
baseiam em uma outra lógica. Inicialmente, vale lembrar que elas raramente
trabalham com amostras representativas, dando preferência a formatos etno-
gráficos ou de estudo de caso, nos quais os sujeitos são escolhidos de forma
proposital, em função de suas características, ou dos conhecimen tos que detêm
sobre as questões de interesse da pesquisa. Além disso, é também característica
dos estudos qualitativos a crença de que as interpretações feitas são vinculadas
a um dado tempo e a um dado contexto e, portanto, não se poderia falar de
generalização nos termos tradicionais. Nes te caso, a possibilidade de aplicação
dos resultados a um outro contexto dependerá das semelhanças entre eles e a
decisão sobre essa possibilidade cabe ao "consumidor potencial", isto é, a quem
pretende aplicá-los em um contexto diverso daquele no qual os dados foram
gerados. A responsabilidade do pesquisador qualitativo é oferecer ao seu leitor
urna "descrição densa" do contexto estudado, bem como das características de
seus sujeitos, para permitir que a decisão de aplicar ou não os resultados a um
novo contexto possa ser bem fundamentada. Este conceito de generalização é
conhecido como "generalização natlll'alística".



2.7.3 Critérios relativos à consistência e confirmabilidade

     A consistência é apresentada por Lincoln e Guba (1985) como uma alter-
nativa ao conceito de fidedignidade, usado peja pesquisa tradicional. O concei-
o MÉTODO NAS CIÊNCIAS NATURAIS E SOCIAIS                  175


to de fidedignidade foi desenvolvido no âmbito dos estudos referentes à preci-
são de instrumentos de medida. Embora haja muitas formas de estima r a
fidedignidade, a maneira mais comum de fazê-lo é repetir a aplicação do
instrumento - um teste de in teligência, por exemplo - e ver se são obtidos os
mesmos resultados. Caso haja uma variação significa tiva nos resultados, o
instrumento não é fidedigno. Lincoln e Cuba (1985) admitem que o instrumen-
tai humano também pode ser inconsistente, por razões várias, como, por exem-
p lo, cansaço ou mesmo desatenção. Afirmam, entretanto, que é necessário
distinguir as variações decorrentes de falhas de observação daquelas que refle-
tem mudanças no próprio fenômeno observado.
      A confirmabilid ade, por sua vez, é proposta por aqueles autores, como
alternativa ao conceito de objetividade. A distinção entre confirmabilidade e
consistência, porém, parece se devei; mais ao desejo de estabelecer correspon-
dências com a pesquisa tradicional, do que a uma necessidade conceitua i ou
prática. Em termos conceituais, ambas se referem ao túvel de acordo intersub-
jetivo; em termos práticos, as técnicas propostas para estimar a primeira tam-
bém estimam a segunda. Assim, uma vez que a distinção entre os dois conceitos
confunde mais do que ajuda, optamos por apresenta!; em conj unto, as técnicas
vinculadas por Lincoln e Cuba (1985) a um e a outro desses conceitos.
      Uma técnica bastante interessante é a que esses autores chamam de "repli-
cação passo a passo". Essa técnica consiste em ter, pelo menos, duas pessoas da
equipe de pesquisa (e de preferência mais que duas pessoas) cond uzindo suas
investigações independentemente. Os autores observam, entretanto, que, quan-
do se trabalha com um desigll muito flexível, ou emergente, os dois pesquisado-
res, ou as duas subdivisões da eq uipe podem desenvolver linhas de investiga-
ção muito diversas, o que comprometeria a efi cácia da técnica. Para con tornar
esse problema sugerem que as duas partes se comuniquem sempre que uma
delas considere necessária uma mudança no p lanejamento anterior.
      Uma outra técnica mencionada por Lincoln e C uba (1985) é a chamada
"auditoria", termo escolhido por analogia com a contabilidade fiscal. À seme-
lhança do que faz um auditor para decidir se pode autenticar as con tas de uma
firma, um segundo pesquisadO!; com experiência na área, avalia tanto o proces-
so - isto é, a adequação dos procedimentos de coleta e aná li se dos dados - como
o produto, anali sando desde os dados brutos (como notas de campo, transcri-
ções de entrevistas, documentos e outros que tenham sid o coletados), passando
pelas categorizações inicia is, identificação de temas e interpretações e chegando
às conclusões e relatório final. Aaud itoria pode ir acompanhando o processo de
investigação ou pode ser feita retrospectivamente após o seu término. Em
ambos os casos é necessário manter organizado todo o material bruto prod uzi-
do, bem como registrar cuidadosamente as razões que levaram a determinadas
decisões.
176         ALDA JUDITH ALVES·MAZZOTTI & FERNANDO GEWA NDSZNAJDER



     Informações relevantes para o auditor podem ser obtidas no "diário refl e-
xivo". Nele, o pesquisador anota suas intuições, dúvidas, sentimentos, percep-
ções, relacionadas à investigação, bem como as razões das decisões metodoló-
gicas feitas durante o processo.Tais informações permitem ava liar, por exemplo,
em que medida os vieses do pesquisador influenciaram suas conclusões. Per-
nútem também ava li ar a necessid ade e/ou pertinência das mudanças efetuadas
durante a investigação. Assim, o d iário reflex ivo é um precioso auxiliar para a
análise dos dadQs, além de oferecer subsídi os para posterior crítica dessa
análise, por parte de outrem ou d o próprio p esqui sador. Por essas razões, seu
uso não se restringe ii auditoria, sendo recomendado mesmo quando não se
pretende fa zê-la.
     Q uanto ao projeto, os procedimentos que o pesquisador pretende usar
para maxinúzar a confiabilid ade devem ser explicitados, descrevendo-os bre-
vemente ou apenas indicando quais os procedimentos selecionados e remeten-
do a um autor (ou autores) que os descreva.



3.    Conclusão

      Voltando à questão inicia l, sobre o que precisa constar de um projeto
de pesquisa qualitativa, poderíamos, resunúnd o, d izer que o "deve" é o que
pode ser anteci pado. E o que "pode" vai depender da natureza do próprio
problema (de seu gra u de complexidade, d o conhecimento acumulado
sobre o tema), bem como da posição do pesquisador dentro do cont il1lllll11
qualitativo. Procuramos discutir as alternativas que se apresentam ao pes-
quisador qualitativo em cada um dos aspectos relevantes para a ava liação
de um projeto, analisando as implicações de cada uma dessas alternativas,
porque acreditamos que é fundamenta l que o pesq uisador esteja consciente
delas, para que possa justificar adequadamente suas escolhas. Se a opção
sobre o que antecipar cabe, em grande parte, ao pesquisador, a ele cabe
também a tarefa de sustentar as decisões tomadas. Se, por exemplo, considera
que deve trabalhar com o "foco aberto", com questões bastante amplas e
sem um referencia l teórico, deve justificar essa decisão em função da natureza
do problema proposto e indicar como espera que eles surjam no decorrer do
es tudo. Mas é importante lembrar que, mes mo aquelas informações que
nem sempre podem ser antecipadas no projeto, devem ser esclarecidas no
relatório final.
      Com o objetivo de auxiliar pesqu isadores inexperientes a revisar seu
relatório, apresentamos a seguir um conjunto de itens que cos tumam ser consi-
derados na avaUação de relatórios de pesquisa.
o MÉTODO NAS CI~NCIAS NATURAIS E SOCIAIS                      177


                      Sugestões para a avaliação do relatório


  1.   O título está adequado ao estudo realizado?
 2.    A Introdução procura inserir o problema proposto no processo de produção
       do conhecimento na área? As questões atuais, relevantes para o problema,
       são tratadas? As lacunas elou contradições (entre resultados de diferentes
       pesquisas; entre teorias e resultados de pesquisa; entre o problema e as
       abordagens metodológicas utilizadas etc.) são discutidas com o objetivo
       de indicar de onde se originou o estudo proposto?
 3.    O objetivo (ou questão central) do estudo é enunc iado de forma clara e
       concisa?
 4.    O estudo é relevante, em termos de suas contribuições teóricas elou
       práticas? Tais contribuições são expli citadas no texto?
 5.    As questões elou hipóteses são claramente formuladas? São coe rentes
       com o objetivo?
 6.    No caso específico das hipóteses, seu respaldo teó rico ou empírico é
       indicado?
 7.    Os termos     relacionados   a contextos     teóricos   são   adequadamente
       definidos?
 8.    Os pressupostos conceituais são exp li citados·?
 9.    O quadro teórico é ana li sado em profundidade?
10.    As fontes bibliográficas utili zadas são adequadas em termos de qualidade
       e atua lid ade? O autor privilegia as fontes primárias?
11 .   A revisão da bibliografia pertinente ao problema é c rític a, isto é , compara,
       contrasta e discute as diversas posições frente ao tema, elaborando suas
       próprias conclusões frente à li teratura revista?
12.    A pesquisa in cluiu um período exploratório? As informações relevantes
       obtidas nesse período são mencionadas?
13.    O autor justifica a escolha do paradigma adotado? A metodologia é
       coerente com os pressupostos do paradigma e apropriada ao objetivo do
       estudo?
14.    O contexto e as características dos sujeitos são suficientemente descritos
       para permitir a genera lização de resultados e conclusões para outros
       contextos e grupos?
15.    Os procedimentos metodológicos (seleção dos sujeitos, técnicas de
       co leta) são adequados e suficientes para responder às questões propostas
       elou para testar ais) hipótese(s) do estudo?
16.    O(s) instrumento(s) utilizados para a coleta de dados são apropriados aos
       objetivos elou questões?
178          ALDA JU DITH ALVES·MAZZOTTI & FERNANDO GEWANDSZNAJDER



        Caso o pesqui sador t enh a utilizado instrumentos es pecialm ente
 17 .
        con strufd os para o est udo (entrev istas se mi ·estruturadas, rot eiros ou
        esca las de obse rvação, qu estioná ri os, etc), o processo de elaboração
        desses in st rum entos é desc rito (de ond e se ori ginaram os itens, co mo foi
        vali dado etc. )?
 18 .   A unid ade de análi se é explicitada?
 19 .   A análi se e a coleta dos dados foram sendo f eitas simultânea e
        interati va mente, uma rea lim entando a ou tr a?
 20.    Os res ultados res pondem às qu estões propos tas? No caso de se rem
        usadas hipót eses, as ev id ências aprese ntadas para co nfirm á· la ou refutá-
        la são sufi cientes?
2 1.    A s interpretações e conclu sões se apóiam nos dados apresentados (falas,
        do cumentos, dados de ob serv ação e outros que tenh am sid o utilizados)?
22 .    A s interpret ações e conclusões utili za m o qu adro t eóri co adotado ? São
        comparad as a outras pes qui sas sobre o mes mo t em a?
23 .    Caso o pesqui sador tenh a optado por con struir uma " t eori a
        fund amentada" com base nos dados obtid os, est a ap rese nta profundidad e
        interpret ativa?
24.     São feitas recom endações pertine ntes, baseadas nos resultados e
        conclus ões da pesquisa, relat ivas a estud os co mpl ementares elou a
        mud anças em práticas co rrentes?
25 .    Considerando o relatório com o um t odo, as idéias são aprese ntadas com
        clareza e org ani zação?

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Planejamento de pesquisas qualitativas

  • 1. o Método nas Ciências Naturais e Sociais: Pesquisa Quantitativa e Qualitativa Alda Judith Alves-Mazzotti Fernando Gewandsznajder PION E IRA )tE T t-I O M SON LEARNIN G Australia Brasil Canadá (ingapura Espanha Estados Unidos México Reino Unido
  • 2. CAPÍTULO 7 o Planejamento de Pesquisas Qualitativas Oferecer sugestões para o planejamento de estudos qualitativos não é fácil. Em primeiro luga r porque, ao contrário do que ocorre com as pesquisas quan- titativas, as inves tigações qualitativas, por sua diversidade e flexibilidade, não admitem regras precisas, aplicáveis a uma ampla gama de casos. Além disso, as pesquisas qualitativas diferem bastante quanto ao grau de estruturação prévia, isto é, quanto aos aspec tos que podem ser definidos já no projeto. Assim, por exemplo, enquanto os pós-positivi stas trabalham com proj etos bem detalhados, os construtivistas sociais defendem um mínimo de es truturação prévia, consi- derando que o foco da pesquisa, bem como as ca tegorias teóricas e o próprio desigl1 1 só deverão ser definidos no decorrer do processo de investigação. Entre os argumentos usados para defender um mini mo de estruturação (Lincoln & Guba, 1985) podemos destacar: a) o foco e o desigll do estudo não podem ser definidos n priori, pois a rea lidade é múltipla, socia lmente construída em uma dada situação e, portanto, não se pode apreender seu sig nificad o se, de modo arbitrário e precoce, a aprisionarmos em dimensões e categorias. O foco e o desigl1 d evem, então, emergi!; por um processo de ind ução, do conheci mento do contexto e das múltiplas realidades construídas pelos participantes em suas influências recí- procas; 1. O termo rlesigll, no que se refere ~ pcsCjui sé1, tcm sid o tradu zido como desenho o u pla- ncjamenlo. O rlesigll corresponde ao plnllo e lIs cstr.l légias utilizndCls pelo pesqui sndor para responder às C]ucstõcs propost(lS pelo estudo, incl uindo os procedimentos c instrumentos d e coleta, análise c interpretação dos dados, bem como ii lógica que liga entre si diversos aspectos da pesqu isa .
  • 3. 148 ALDA JUDITH ALVES-MAZZOrn & FERNANDO GEWANDSZNAjDER b) dada a natureza idiográfica (não repetível) e holística (que exige a visão da totalidade) dos fenômenos socia is, nenhuma teoria selecionada n priori é capaz de dar conta dessa realidade em sua especificidade e globalidade; c) a focalização prematura do problema e a adoção de um quadro teórico n priori turvam a visão do pesquisador, levando-o a desconsiderar aspectos importantes que não se encaixam na teor ia e a fazer interpretações distorcidas dos fenômenos estudados. Entre os argumentos a favor de um maior grau de estruturação (Marshall & Rossman, 1989, Milles & Huberman, 1984) destacam-se: a) qualquer pesquisador, ao escolher um determinado "campo" (uma comunidade, uma instituição), já o faz com algum objetivo e algumas questões em mente; se é assim, não há porque não explicitá-los, mesmo que sujeitos a reajustes futuros; b) dificilmente um pesquisador inicia sua cole ta de dados sem que algu- ma teoria esteja orientando seus passos, mesmo que implicitamente; nesse caso, é preferível torná-la pública; c) a ausência de focalização e de critérios na coleta de dados freqüentemente resulta em perda da tempo, excesso de dados e dificuldade de interpretação. ArgLUuentos de ambos os lados podem ser considerados válidos depen- dendo da situação estudada : planejamentos menos estrutl1l'ados são mais adequa- dos para o estudo de realidades muito complexas e/ou pouco conhecidas; se, entretanto, o pesquisador está lidando com um fenômeno sobre o qual já existe conhecimento acumulado por outras pesCluisas realizadas em contexto semelhan- te, lun planejamento pouco estruturado, altamente indutivo, resulta em perda de tempo e de profundidade. Além disso, trabalhar de forma altamente indutiva, deixando que o design e a teoria emerjam dos dados, é difícil até mesmo para pesquisadores mais experientes. Quanto menos experiente for O pesquisadOl~ mais ele precisará de um planejamento cuidadoso, sob pena de se perder num emaranhado de dados dos quais não conseguirá extrair qualquer significado. É importante lembrar também que esse planejamento não precisa e nem deve ser apriorístico no sentido mais estrito, pois, nos estudos qualitativos, a cole ta sistemática de dados deve ser precedida por uma imersão do pesquisa- dor no contex to a ser estudado. Essa fase exploratória permite que o pesquisa- dOl~ sem descer ao detalhamento exigido na pesquisa tradicional, defina pelo menos algumas questões iniciais, bem como os procedimentos adequados à investigação dessas questões. Um último argumento a favor de um maior grau de estruturação n priori é o fato d e que, muito freqUentemente, a realização da pesquisa depende de uma avaliação que também é n priori: alunos de graduação e pós-graduação precisam ter o projeto aprovado por seus professores, e mesmo pesquisadores mais
  • 4. o MÉTODO NAS CI ~NC I AS NATURAIS E SOCIAIS 149 experientes precisam ter seus projetos aprovados, seja por colegiados das insti- tuições em que traba lham, seja por agências de fin anciamento. Por isso, o projeto precisa ser convincente, demonstrando ao ava li ador que: a) vale a pena fazer a pesq uisa; b) o pesq uisador tem condições de realizá-Ia; c) o estudo es tá cuidadosamente planejado e pode ser implementado com sucesso (Marshall & Rossman, 1989). Nunca é demais lembrar que comissões avaliadoras, sejam elas de un.iversid ades, de centros de pesquisa ou de agências financiadoras, difici lmente aprovarão um projeto que não define nem o foco, nem o quadro teórico, nem o rlesign, nem o cronograma, nem as contribuições que pretende dm; como defendem alguns constl'ltivistas (vel; por exemplo, Lincoln & Guba, 1985, pp. 224-225). Concluindo, diante das dificuldades mencionadas, d ecorrentes da história e da própria natlll'eza da s p esquisas qualitativas, é compreensível que p esqui- sadores inexperien tes que optam por utili za r uma metodologia qualitativa fiquem inseglll'os quanto ao planejamento de sua p esqui sa e, mais esp ecifica- mente, quanto à elaboração do projeto. Consciente d essas dificuldades, procu- ramos, com base na litera tura recente e em nossa própria experiência como p esquisadora e orientadora d e teses e di ssertações, di scutir alternativas e ofere- cer sugestões, acompanhadas de exe mplos e indicações bibliográficas, que possa m ser de utilidade no p la nejamento de pesqu isas qualitativas. Tais suges- tões d evem ser v is tas com a flexibilidad e que, sendo inerente a qua lquer projeto d e pesquisa, é essencial aos es tudos qualitativos. Um projeto d e p esqui sa consis te ba sicamente em um plano para uma inves tigação sistemática que busca uma melhor comprensão d e um dado problema. Não é uma "ca misa-de-força" nem um contrato civil que prevê penalidades, caso alguma das promessas feitas for quebrada . É um g uia, uma orientação que indica onde o pesquisador quer chegar e os caminhos que pre tende tomar. Assim, seja qual for o paradigma em que se es tá op erand o, o projeto deve indicar: (a) o que se pretende inves tigar (o problema, o objetivo ou as ques tões do estudo); (b) como se p lanejou condu zir a investi gação de modo a atingir o objetivo e/ ou a responder as ques tões propostas (procedimentos me todológi- cos); e (c) porque o es tudo é relevan te (em termos de contribui ções teóricas e/ ou práticas que o estudo p ode oferecer). Esses aspec tos serão d iscutid os a seguir. 1. Foca lização do problema No seu sentido mais es trito, "problema de pesqu isa" é definid o como uma indagação referente à relação entre d uas ou m ais va riáveis. Essas variáveis podem ser diferentes aspectos da conduta de indivíduos, como, por exemplo, fru stração e agressividade; d ois eventos socia is, como, exclusão socia l e crimi- nalidad e; e assim por diante. Al'elação esperada (a hipótese) é d ed uz ida de uma
  • 5. 150 ALDA )UDITH ALVES-MAzzorn & FERNANDO GEWANDSZNA)DER teoria e o pesquisador procura cúar ou encontrar situações nas quais essa relação possa ser verificada. Muitos estudos qualitativos, porém, são explorató- rios, não se preocupando em verificar teorias. Assim, nesse campo, o concei to de "problema de pesquisa" se torna bem mais amplo, podendo ser definido como uma questão relevante que nos intriga e sobre a qual as informações disponíveis são insuficientes. Além disso, como foi mencionado, nas pesquisas qualitativas as exigências sobre o que deve ser antecipado no projeto, tanto no que se refere ao proble- ma/ questões do estudo, como na descrição do quadro teórico e dos procedi- mentos metodológicos, são menores do que nas pesquisas tradicionais, uma vez que o foco da pesquisa vai sendo ajustado ao longo do processo. Assim, o grau de especificação do problema na fase de planejamento irá variar em função de características deste, bem como da posição do pesquisador ao longo do conti- m/UlII qualitativo. O fato de que, nas pesquisas qualitativas, o detalhamento prévio exigido é menor não deve levar à conclusão de que a formulação do problema se torna uma tarefa trivial. Na verdade, esta é a etapa mais difícil e trabalhosa do planejamento de uma pesquisa, exigind o do pesquisador muita leitura e refle- xão. Entretanto, uma vez definido o foco inicial, a decisão sobre os demais aspectos da pesquisa fi ca extremamente facilitada. Pesquisadores iniciantes freqüentemente confundem um tema ou um tó- pico de interesse com um problema de pesquisa. É comu m um aluno procurar o orientador dizendo, por exemplo: "Eu quero fazer minha pesquisa' sobre o movimento dos sem-tena". O interesse pelo tema, embora seja um aspecto importante, não é suficiente para condu zir uma pesquisa. É necessário proble- matizar esse tema, refletindo sobre o que é que, mais especificamente, nos atrai, preocupa ou intriga nesse movimento: é a sua capacidade de organização? é o papel das mulheres nessa organização? é o fato de que o movimento se desen- volveu em alguns estados e não em outros? é a maneira como ele é visto pela opinião pública? é a observação de que determinada teoria sobre movimentos sociais pal'ece não se aplica r às características dos sem-terra? Podemos ter aí cinco problemas de pesquisa sobre o mesmo tema, dependendo do aprofunda- mento a ser dado a essas questões, ou podemos combi nar algumas delas em um novo problema. Mas, um maior conhecimento da questão, por meio do exame do que já foi investigado sobre o assunto, e também pelo contato com sujeitos envolvid os no movimento, é essencia l para a formulação de um problema origi nal e relevante. O conhecimen to da literatura pertinente ao problema que nos interessa (relatos de pesquisa, teorias utilizadas para explicá-lo) é indispensável para identificar ou definir com mais precisão os problemas que precisam ser investigados em uma dada área . Três situações encontradas na literatura podem dar origem a um problema de pesquisa: (a) lacu nas no conhecimento existente; (b) inconsistências entre o que uma teoria prevê que aconteça e
  • 6. o MIITODO NAS CI~NCIAS NATURAI S E SOCIAIS 151 resultados de pesquisas ou observações de práticas cotidi anas; e (c) inconsis- tênci as en tre resultados de diferentes pesquisas ou entre estes e o que se observou na prática. Os diferentes paradigmas aqui examinados têm posições distintas quanto à utili zação dessas fontes . Os construtivistas, por exemplo, por trabalharem preferencialmente no "contex to da descoberta", não se propõem a tes tar teorias, enquanto os pós-positivistas, e também muitos teórico-críticos, va lori za m a utilização de teorias, form ula ndo hipóteses delas derivadas para que sejam testadas empiricamente. Nossa experiênci a indica que a maior parte d as p esqui- sas qualitativas se propõe a preencher lacunas no conheci mento, sendo poucas as que se originam no plano teórico, daí serem essas pesq uisas freqüentemente definidas como descritivas ou exploratóri as . Essas lacunas geralmente se refe- rem à compreensão de processos que ocorrem em uma dada institui ção, grupo ou comunidade. De qualquer fo rma, o fato de uma pesq uisa se propor à compreensão de uma reaUdade específi ca, idiográfica, cujos significados são vincul ados a um dado contex to, não a exime de contribui r para a produção do conhecimento. Seja qual for a ques tão focali zada, é essencial que o pesquisador adqui ra familiaridade com o es tado do conheci mento sobre o tema para que possa propor questões significa tivas e ainda não investi gada s. Além do exa me da bibliogra fia sobre o tema,2 o contato com o campo na fa se inicial do planejamento é d e suma importância, não apenas para a geração de questões e identi ficação de in formantes e documentos, como para uma primeira avaliação da pertinência, ao contexto considerado, das questões suge- ridas por outras fontes. As ques tões inici ais assi m selecionadas, serão, então, explicitadas no projeto de pesqu isa, o que não quer dizer que não possa m ser reformuladas, abandonadas ou acrescidas de outras no decorrer do es tud o, num processo de foca li zação progressiva. Nas etapas iniciais dessa focalização, Guba e Lincoln (1989) enfa ti za m a importância do "conhecimento tácito" - aquilo que o pesqui sador "sabe" embora não consiga expressar sob forma proposicional - para orientá-lo sobre o que observa r. Posição semelhante é defendida por Marshall e Rossman (1989) que destacam o valor da intui ção. e a utili zação d e metáforas e ana logias nessa fase. Concluindo, a foca li zação atende a vári os objetivos: a) es tabelece as fron- teiras da investigação; b) orienta os critéri os de inclusão-exclusão, ajudando o pesqui sador a selecionar as informações relevantes; c) ajuda a orientar decisões sobre atores e cená rios (Lincoln & Guba, 1985; Mil es e H uberman, 1984). 2. Dada s ua impo rt ância na pCSqu iSél e, t,lInbélll, as d ificuld ndes cnvolvidns, a "revisão da bibliografia" se rá objc lo de um capí tul o à péll' tC.
  • 7. 152 ALDA JU DITH ALVES-MAZZOTTI & FERNANDO GEWANDSZNAJDER No que se refere ao projeto, a foca lização do problema cos tuma ser feita nas seções:3 de "Introdução", "Obje ti vo e/o u Questões ou Hipóteses cio Estu- do", aí podendo se incluir também o "Q uadro Teórico", quando isto não fere os pressupostos do paradigma em que se es tá opera nd o. Esses aspectos serão analisados a seg uir. 1 . 1 Introdução Esta é a parte em que o pesqu isador "constrói O seu problema", isto é, coloca a p esquisa prop osta no contex to da discussão acadêmica sobre o tema, indicando qual a lacuna ou inconsistência no conheci mento an terior que busca- rá esclarecei; demonstrando assim que o que es tá planejando fazer é necessário e original. É na Introdução que o pesq uisa dor fornece o "pano de fundo " para que o leitor possa entender, com clareza, a proposta e como esta se relaciona com as questões atuais da área temá tica a qu e se refere. É aí também que o pesquisa dor procura despertar o interesse do leitor pelo seu trabalho. Creswell (1994) aponta quatro componentes-chave na Introdução de um projeto de pesq uisa: a) apresentação d o problema que levou ao estud o propos- to; b) inserção do problema no âmbito da litera tura acadêmica; c) discussão das d efici ências encontradas na litera tura que trata do prob lema; e d) id entificação da audi ência a que se des tina prioritariamente e explici tação da significância do estudo para essa audiência. Para elaborar uma introdução que contemple esses componentes, o autor oferece alguma s suges tões interessa ntes. Na apresentação do problema, recomenda: a) iniciar com um parágrafo que expresse a questão focalizada inserind o-a numa problemática mai s ampla, de modo a es timular o interesse de um grande nlimero de leitores;4 b) esp eci fi - car o problema que levou ao es tudo propos to; c) indicar por que o problema é impor tante; d) focali zar a formula ção d o problema nos conceitos-chave que serão ex plorados; e e) considerar o uso de dados numéricos que possa m causar impac to. Ao discutir a litera tura relacionada ao tema, recomend a que se evite a referência a es tud os indi vid uais, gl'l1 pa nd o-os por tópicos para efeito de análi- 3. USíll110S o termo "seção" à fa lta de o ut ro melhor, mns is to não quer d ize r que cad" urna dessas informações precise co n ~ titll i r 1I1l1íl scçfi.o do projeto, o importé mte é que estej ,m1 presentes. 4. De fato, mes mo ao es tud<ll' um "CílSO" específico, o pesq uisador deverá, sempre que possível, ind ica r íl que rcnômcllo mais am plo o "Cíl 50" cs tud élclo se relaciolla, m as não Clpenas para in teressaI" um nlimero mêlior de leitores c sim parn 'l llC ii ilcul1llilnçi'io do con hec imento, nccess<Ír ia aO cl escnvo lvilnento da 'lllcla <Í rcôI cm 'lue o caso se in scrc, possa ocorreI".
  • 8. o Mi'rrODO NAS CI~NCIAS NATURAIS E SOCIAIS 153 se. A referência a várias pesquisas uma a uma, além de desnecessária, torna a leitura do texto extremamente tediosa . No que se refere às deficiências encontradas na literatura, sugere: a) apon- tar aspectos negligenciados pelos estudos anteriores, como, por exemplo, tópi- cos não explorados, tratamentos estatísticos inovadores ou implicações signifi- cativas não analisadas; e b) indicar como o estudo proposto pretende superar essas deficiências, oferecendo uma contribuição original à literatura na área. Finalmente, com relação à audiência, sugere que se finalize a Introdução apontando a relevância do estudo para um público específico, que pode ser representado por outros pesquisadores e profissionais da área a que está afeto o problema, formuladores de políticas e outros. Quanto à significância do estudo, vale lembrar que muitos pesquisadores, mesmo mencionando-a na "Introd ução", como sugere Creswell, a ela dedicam uma seção separada, após o "Objetivo e/ou Questões", para que possam explo- rar melhor as possibilidades de contribuição teórica e prática ensejadas pela pesquisa. Embora não haja regra quanto a isto, freqüentemente esta é uma localização mais lógica, uma vez que aí o interesse central do estudo estará mais claro para o leitor. Por uma questão de organização da exposição, a "Importân- cia do Estudo" será aqui apresentada em seção própria. Em resumo, uma Introdução bem feita deve lembrar a imagem de um funil: começar pelo problema mais amplo e ir tecendo a argumentação com base na análise das lacunas e dos pontos controvertidos na bibliografia pertinente ao tema, examinando aspectos cada vez mais diretamente relacionados à questão focalizada no projeto, com o objetivo de demonstrar a necessidade de investi- gá-la. Quando essa argumentação é realizada com sucesso, ao finalizar a leitura da Introdução o leitor estará convencido da necessidade de realizar a pesquisa proposta e o "Objetivo" ou as "Questões do Estudo" serão vistos como uma conseqüência lógica da argumentação apresentada. A título de ilustração, apresentamos a seguir a Introdução da pesquisa "Do trabalho à rua: Uma análise das representações produzidas por meninos traba- lhadores e meninos de rua" (Alves-Mazzotti, 1994). [Apresentação do problema): Durante a década de 80, a população das grandes cidades brasileiras viu, entre assustada e perplexa, os espaços urbanos serem ocupados por um crescente contingente de crianças e adolescentes que buscavam, nas ruas, meios de sobrevivência. Embora o problema da "infância desvalida" não seja novo nem circunscrito aos parses pobres, constitura-se ar um novo objeto social, uma vez que, por seu número e modos de agir, aqueles que passaram a ser chamados genericamente de "meninos de rua" representavam um fenômeno ainda desconhecido.
  • 9. 154 ALDA JUDITH ALVE5-MA ZZOm & FERNANDO GEWANDSZNA1DER [Inserção do problema no contexto da literatura]: A gravidade do problema deu origem a um número sign ifi cativo de pesqui- sas sobre essas crianças e ado lescentes no decorrer da última década IAlvim & Valiadares, 1988). Essas pesquisas, re alizadas em diversas cidades, apresentam entre si um alto grau de consistência no que se refere ao perfil e às "estratégias de sobrevivência" utilizadas pelos "meninos de rua", as quais incluem uma série de ocupações ligadas ao mercado informal e também, embora em número significativamente menor, atividades ilegais tais como roubo, furto, mendicân- cia, consumo de drogas e prostituição. As pesquisas indi caram ainda que, ao contrário do que se pensava até então, ao lado de um pequeno grupo que, tendo rompido parcial ou totalmente os laços familiares, mora efetivamente na rua, encontra-se uma grande maioria que, ao término de suas jornadas de trabalho, volta ao convrvio familiar IRizzini & Rizzini, 1992). [Di scussão das lacun as encontradas na literatura de pesquisa]: O fato de que a identificação dessas duas subpopu lações não se deu senão muito recentemente faz com que a quase totalidade das caracterizações exis- tentes trate os "meninos de rua" como uma população homogênea na qual aqueles mais propriamente chamados "de rua" estão sub-representados, além de impedir comparações entre os grupos. A não diferenciação entre os grupos parece ser também, em parte, responsável pela ampla prevalência, nesses estudos, das interpretações de natureza sociológica sobre os motivos que levariam os meninos à rua. Podemos resumi -Ias no seguinte esquema: migração --> desemprego --> desagregação familiar e necessidade de gerar renda -7 menino de rua. Tais expli cações, porém, deixam de lado uma questão crucia l para a comprensão do problema dos meninos e meninas de rua, e que procuramos investigar em estudo anterior: "o que faz com que, aparentemente enfrentando condições socioeconôm icas igualmente desfavoráveis, algumas crianças perma- neçam ligadas a suas famrlias enquanto outras trocam a casa pela rua?" IAlves, 1992, p. 119). Os resultados desse estudo, que distinguiu e comparou familias de meninos trabalhadores e de meninos de rua - aqueles que romperam os vrnculos familiares e moram na rua - indicaram que os rendimentos desses dois grupos eram equivalentes, não constituindo, portanto, fator relevante na distin- ção entre eles. Mais ainda, a investigação de fatores socioeconômicos, familia- res e individuais nos permitiu conc luir que somente a análise da interação entre esses fatores seria capaz de levar a uma compreensão mais acurada do problema. Em outras palavras, uma abordagem psicossocial fazia-se necessária. [Identificação da audiência e explicitação da relevância do problema]: Cabe assinalar que, paralelamente às tentativas de ampliar o conhecimento sobre esses grupos, realizadas no âmbito da pesquisa, um número crescente de atares sociais vem se mobilizando com o int uito de lhes oferecer alguma forma
  • 10. o MÉTODO NAS CI~NCIAS NATURAIS E SOCIAIS 155 de ajuda . Valladares e Impelizieri (1991). em minucioso levantamento da ação não-governam ental voltada para as crianças carentes, locali zaram, apenas no Município do Rio de Janeiro, 619 iniciativas de natureza e filia ções diversa s, das qu ais 39 dirigida s exc lusivam ente aos meninos e meninas de rua. A qua se totalidade desses projetos data, igu alm ente, da década de 80, em conseqüência da agudização do problem a. Con siderando-se que as autoras trabalharam com dados disponíveis até maio de 1991 , e que aí não estão incluídas as ações governamentais, pod e-se concluir qu e o número de iniciativas é hoj e muito maior. Face à magnitud e desses esforços e aos modestos resultados até agora obtidos, torna-se urgente a produção de conhecimentos que possa m orientar as práticas e polrticas pública s dirigidas à ressociali zação dos meninos e meninas de rua. 1.2 Objetivo e/ou questões do estudo A introdução, como vimos, apresenta o problema que levou ao estudo proposto, iniciando o processo de focalização. Mas é o "Objetivo" que d efine, de modo mais claro e direto, que aspecto da problemática mais ampla anterior- mente exposta constitui o interesse central da pesquisa. Esse objetivo é geral- mente formulado em apenas uma fra se ou em um parágra fo e pode ser agrega- do ao final da Introdução (o que gera lmente ocorre quando a p esquisa é transformada em artigo), ou constituir uma seção separada (o que é mais comum em teses e dissertações) . O exemplo de formulação de objetivo apresen- tado a seguir foi re tirado da pesquisa anteriormente citada para demonstrar a continuidade lógica entre este e a "Introdução". A presente pesquisa, rea li zada no Município do Rio de Janeiro, teve por objetivo investigar, junto a meninos e menina s de rua e a meninos e meninas trabal hadores, as seguintes rep resentações consid eradas relevantes para os processos de socialização e ressocia li zação : famrlia, rua, turma, criança, adulto, escola, trabalho, futuro e auto-imagem. Entre os quadros teórico-m etodológicos disponíveis, o das representações socia is (Moscovici, 1978) nos parece o mais adequado a esses propósitos por se r aque le qu e permite abordar, de forma articu lada, aspectos de natureza psicológica e sociológica . Note-se que nesta formulação já se menciona e justifica o quadro teórico- metodológico adotado, embora ele vá ser aprofundado em outra parte do projeto. Apesar de isto não ser uma exigência, a autora considerou necessário explicitm; de itúcio, a ótica pela qual os dados seriam abordados, uma vez que
  • 11. 156 ALDA JUDITH ALVES-MAZZOTII & FERNANDO GEWANDSZNAjDER o termo "representações", que consta do "Objetivo" tem diferentes significaçõ- es em diferentes contextos teóricos. A definjção d e conceitos teóricos (como representação socia l) é necessária, assim como a de termos que dão margem a muita ambigüidade (como, por exemplo, "menino de rua"). Esses termos de- vem ser d efinjdos na primeira vez em que aparecem no texto. Freqüentemente, o "Objetivo" é desdobrado em questões que d etalham e clarificam seu conteúdo. Essas questões ajudam o pesquisador a selecionar os dados e as fontes de in formação, e também a organizar a apresentação dos resultados, uma vez que estes devem ser organizad os de modo a responder às questões propostas. Como já foi menci onado, o fato de estarem especificadas no projeto não significa que essas questões iniciais não possam ser reformuladas, substituídas, abandonadas ou acrescidas d e outras, em decorrência d e observa- ções feitas durante a coleta d e dados. Esta fl exibilidade, porém, não d escarta a possibilidade de se antecipar algumas questões para orientar as decisões ini- ciais sobre dados relevantes a serem buscad os. Cabe assinalar que nem semp,re há necessidade d e formu lar questões corno d etalhamento do "Objetivo" . Há casos em qu e es te já explicita suficientemente os asp ectos do problema que podem ser antecipados. Além di sso, o p esquisador pode optar por formular um objetivo geral e desd obrá-lo em objetivos esp ecífi- cos, os quais cumprem as mesmas funções das ques tões, tornando-as desneces- sárias. Por outro lado, uma ou m ais "Questões do Estudo" podem substituir o "Objetivo", o que ocorre sobretudo nas pesquisas vincu ladas ao constl'lltivismo social. Em consonância com os pressupostos d esse paradigma (ver Capítulo 6), essas questões são bas tante gerais e sua formulação não é orientada por um referencia l teórico. Em estudos feitos segundo outros paradigmas qualitativos, as questões p odem ser mais gerais ou mai s específicas, dependendo do conhe- cimento acumulado na área temática pesquisada. O referencial teórico, bem como estudos anteriores sobre o tema, depoimentos de especialistas e, eviden- temente, o conheci mento do contexto são utilizados para formular ques tões mais específicas. A título d e ilustração, apresentamos a seguir três exemplos de questões propostas em estudos qualitativos com diferentes grau s de estruturação prévia. Por que algumas esco las co nseg uem rndic es de aprovação t ão mais altos que a média das que trabalham com alunos de baixo nrvel sócio-económ ico? O que seus professo res e administradores t êm de especia l? O que distingue a prática doce nte desses professores dos demais? Qu al o impacto do Projeto X sob re o desenvolvimento da ca pac idade de organização co munitári a do s moradores da fave la Y?
  • 12. o MéTODO NAS C I ~NCIAS NATURA IS E SOCIAIS 157 Qu ais as evid ências desse impacto seg un do a equipe do Projeto e seg un do os moradores da fave la (part ic ip antes e não parti cipant es)? Qu e as pectos do Proj eto parece m ter contribufdo ma is signi fi cativame nte pa ra esse imp acto e quais as principais defi ciências obse rva das, seg und o esses dois grupos? Que outros fatores presentes na situação po dem ter cont ri bufdo para o dese nvolvi- mento da orga ni zação co munitári a, segundo os moradores da favela? Como se caracteri za a partic ipação dos pa is na gestão de uma esco la de 1.° grau? Qu al o nfve l dessa particip ação, seg un do a escala de Bordenave, nas reuniões de pais promov id as pela escola? Em qu e os pais qu e comparece m a essas reuni ões se di stin guem dos que não comp arecem? Como a escola estimula ou ini be essa parti cipação? Que outras form as de parti cip ação (além das reuniões form ais ) podem se r obse rva das? Como pais, profess ores e adm inistra- do res vêem a participação de pais na gestão da esco la? Seg undo estes gru pos, de que tipo de decisões os pais deve riam particip ar? Além d e questões, pesquisas q ualita tivas pod em também trabalhar com hipóteses. Uma hipótese pode ser definid a como uma conjec tura, uma "ap os ta" (Luna, 1997) que o pesquisad or faz sobre o que irá resultar da investigação, ou ainda, a explicação que cons idera a m ais p rovável para um d ado fato ou fe nômeno a ser estudad o. Se um p roblema d e pesqui sa pod e ser visto com o uma indagação, como uma pergunta (ou conjunto d e perg untas) que se preten- d e responder com a pesquisa, a hipótese é uma respos ta plausível para essa indagação, a ser testada no processo de investigação. Conseqü entem ente, as hipó teses são, d e um lado, decorrentes do problema, de outro, elas d eterminam o tipo d e d ados que permitem testá-Ia. Tip icamente, as hipóteses a fi rm am relações esperadas. Por exem plo: 1. Em atividades aca dêm icas, os pro fessores interagem mais com os aluno s sobre os quais têm altas expec tativas. 2. Grupos subm etid os a lidera nça autoritári a tend em a ser mais agress ivos qu e aq ueles cujas li deranças são democ ráti cas. Os pós-positivistas recomen da m que, sempre que o conheci mento acumu- lado sobre uma dad a questão permita, o pesqui sad or deve trabalhar antecip an- d o hipóteses d ecorrentes da teoria adotad a, pois estas representam o mais pod eroso instrumento de inves tigação com que ele pode contar. Nos outros pa radigmas qualita ti vos, porém, a utili zação de hipóteses n priori é bastante
  • 13. 158 ALDA JUDITH ALVES' MAZZOTTl & FERNANDO GEWANDSZNAJDER rara, embora, a utiUzação de "hipóteses orientadoras" iniciais, referentes a padrões ou d imensões esperados não seja descartada (Marshall e Rossman, 1989). O procedimento mais comum entre os pesquisadores qualitativos é formu- lar "hipóteses d e trabalho" durante o processo de investigação, em decorrência da análise inicial dos dados. Quando é este o caso, o pesquisador redireciona sua cole ta em função d a hipótese, de modo a obter novos dados que possam sustentá-Ia ou refutá-Ia: formu la novas perguntas, inclui novos sujeitos, observa outros aspectos que não haviam sid o inicial mente foca lizados, etc. Além d isso, ele pode rever os dados brutos já coletados, buscando encontrar evidências que haviam passado despercebidas nas análises anteriores, nas quais a atenção do pesquisador não estava direcionada para os conteúdos expressos na hipótese. Quanto aos critérios para a formu lação d e uma boa hipótese, o primeiro e mais evidente é q ue esta precisa ser testável, ou seja, é necessário que possamos contar com d ados que possam, d e maneira confiável, confirma r ou refutar a hipótese. l3ecker (1997), referindo-se a hipóteses formu ladas durante a investi- gação, a fi rma que uma "boa hipótese" é aquela que parece ser capaz de organi- zar um grande número de dados, aquela à qual se podem vincular tantas sub-hipóteses quantas forem necessá rias para dar conta dos dados pesquisados e que não entra em choque com qualquer parcela dos dados já coletados. 1.3 Quadro teórico 5 Já vimos que a adoção de um quadro teórico n priori não é consensualmente aceita por pesquisadores qualitativos. Os construtivistas preferem que a teori- zação emerja da análi se dos dados (a "teoria fundamentada"), embora reconhe- çam as dificuldades inerentes a essa proposta. Nesse caso, é evidente que o quadro teórico não pode ser antecipado no projeto, mas é recom endável que es te explicite e jus tifique a posição adotada . Consideramos, porém, como o fa zem muitos autores (como, por exemplo, Marshall e Rossman, 1989; Miles e Huberman, 1984; Yin, 1984), que contar com um esquema conceituaI anteriormente à coleta de dados é de grande utilidade para a identificação de aspectos relevantes e relações significativas nos eventos observados. Esse esquema conceituaI tanto pode ser uma teoria mais elaborada, como um ou mais cons tructos, ou mesmo uma m etáfora, dependendo do problema abordado. A adoção prévia de uma direção teórica, não impede que ou tras categorias teóricas sejam posteriormente acrescentadas, desd e que estas não sejam incompatíveis com a p osição anterior. S. Oqua dro tc6 r i coser~ discutido em d ct<llhc l1oc<lpítulo rcfcrcnte à revisão da bibliografia.
  • 14. o MÉTODO NAS CI ~NCIAS NATURAIS E SOCIA IS 159 Quando se opta por um referencial teórico, es te d eve constar, em suas linhas gerais, d o projeto. A coerência entre este, o problema focalizado, e a metodologia adotada é essencial e não se d eve esp erar que o leitor faça, por si mesmo, a vinculação entre eles. A adequação do quadro conceituai escolhido d eve, portanto, ser justificada. 1.4 Importância do estudo A significância de um estudo pode ser demonstrada indicando sua contribuição pal·a a construção do conhecimento e sua utilidade para a prática profissional e para a formulação de políticas. A ênfase relativa da contribuição para cada um desses donúnios dependerá dos objetivos do estu- do, mas em áreas de conhecimento aplicadas, como é o caso da educação, é especialmente importante indicar contribuições nos três dOl1Únios (Marshall e Rossman, 1989). Para apontar a contribuiçã o do estudo para a produção de conhecimento, o pesquisador deve se referir à revisão inicia l da litera tura p ertinente, apresen- tada na Introdução, d estacando a lacuna que irá preencher ou os inconsistências que o estudo se propõe a esclarecer. Pode, ainda, fazer referência a aspectos teóricos que o estudo irá testar em outros contextos, ou com outros grupos, ou ainda, utilizando procedimentos ou instrumentos diferentes daqueles usados em pesquisas anteriores. A significância para a prática e a formulação d e políticas pode ser d emons- trada apresentando dados que evidenciem a incid ência e/ou gravidade do problema e os custos socia is e econômicos aí envolvidos. A relevância de um estudo pode também ser sustentada citando p lanos de Governo e artigos de especialistas no tema ou revisões d e literatura na área que apontem a necessi- dade de p esquisas sobre o problema proposto. No caso de a p esquisa ser financiada, estando o tema incluído em área prioritária definido p ela agência financiadora, esse aspecto deve ser também enfati zado. 2. Pro ce diment os metodológicos o detalhamento dos procedimentos metodológicos inclui a indicação e justificação do paradigma que orienta o es tudo, as etapas de desenvolvi- m ento da pesquisa, a descrição do contexto, o processo de seleção dos participantes, os procedimentos e o instrumental de coleta e análise dos dados, os recursos utilizados para maximi zar a confiabilidade dos resultados e o cronogrélnlél .
  • 15. 160 ALDA JUDITH ALVES·MAZZOTTl & FERNANDO GEWANDSZNAJDER 2.1 Justificação do paradigma adotado Partindo do princípi o de que não há metodologias "boas" ou "m ás" em si, e sim metodologias adequadas ou inadequadas para tra tar um determinado problema, recomenda-se que, antes de iniciar a descrição dos procedimentos, o pesquisador demonstre a adeq uação do paradigma ado tado ao estudo propos- to. Essa argumentação deverá fazer referência aos pressupostos daquele para- digma, quer discutindo-os explicitamente, quer remetendo o lei tor para textos esp ecia lizados no assunto. A pertinência do formato utilizado - estudo de caso, etnografia, histórias de vida, ou outros - ao objetivo da pesquisa deve também ser mencionada. Considerando que, nos estudos qualitativos, o p esquisad or é o principal instrumento de inves tigação, alguns autores recomendam que, nesses parágra- fos iniciais da metodologia, ele forneça informações sobre suas experiências relacionadas ao tópico, ao contexto ou aos sujeitos (v el~ por exemplo, Creswell, 1994). A recomendação se justifica pelo suposto de que tanto a formação inte- lectual do pesquisadOl~ quanto suas experiênci as pessoais e profissionais rela- cionadas ao contexto e aos sujeitos introdu zem vieses na interpretação dos fenômenos observados e, nesse caso devem ser explicitados ao leitor. De fato, muitas vezes, em função de dificuldades d e tempo ou mesmo de acesso a outros locais, o p esquisador realiza s ua inves tigação em ins tituições com as quais já tem famili aridade, e nas quais exerce um outro papel (por exemplo, o professOl~ na escola em que trabalha; a enfermeira, no hospital). As possíveis implicações desse duplo papel devem ser discutidas. 2.2 Etapas de desenvolvimento da pesquisa Dada a importância atribuída ao contex to n as pesquisas qualitativas, reco- m enda-se, como vimos, que a investigação focali zada seja precedida por um p eríodo exploratório. Este, por sua vez, é antecedido por uma fa se de negocia- ções para obter acesso ao campo. Freqüentemente, pesquisadores inici antes encontram uma certa dificulda- d e de obter esse acesso, sobretudo quando o estudo focali za uma ins tituição (como, por exemplo, uma escola, uma empresa, um hospital, um sindicato). As instituições costumam ter procedimentos formais para conceder autorização para a entrada d e um observad or externo, bem como para dar acesso a deter- minados esp aços e documentos. Quando se trata d e alunos d e graduação ou pós-graduação, é importante contar com uma carta de apresentação da ins titui- ção a que pertencem, ava lizando a seriedade do estudo. O conhecimento da hierarquia que rege a instituição a ser pesquisada e a ajuda informal d e alguém do próprio sistema são outros elementos facilitadores da entrada no campo. Nos casos em que o interesse da pesquisa se centra, não em uma instituição, mas
  • 16. o MÉTODO NAS CI ÊNCI AS NATURA IS E SOCIAIS 161 em uma comunidade, é necessário conhecer as lideranças, pois sua ajuda é essencial p ara obter o acesso aos d emais sujeitos. Q ualquer que seja o caso, porém, o pesqui sador d eve estar preparado para responder a algumas questões que fatalmente surgirão, como, p or exemplo: "o que você quer inves tiga r?"; "o es tud o vai interferir na rotina das pessoas?"; "o que vai fazer com os resultados?"; "que tipo d e benefício a pesquisa vai trazer p ara a ins tituição ou para a comunidade?". Uma análise de talhad a dessas ques tões e do que p ode fazer o pesqui sad or para respondê-Ias foge ao nosso objetivo aqui, bastando saber que as respostas não devem ser nem fal seadoras da verdade, nem tão preci sas que p ossa m conduzir o comportamento d os sujeitos durante a pesquisa. (Uma boa discussão sobre essas questões pode ser encontrada em Bogdan e Bikle n, 1992.) No que se refere ao proje to, recomenda-se que se descreva brevemente os passos para a obtenção do acesso ao campo, bem como as informações p resta- das aos administradores e aos participantes d a p esquisa durante esse processo d e negociação. Uma vez obtido o acesso ao campo, pode se iniciar o período exploratório, cujo principal objetivo é prop orcionat~ através d a imersão do p esquisador no contex to, uma visão geral do problema considerado, contribuindo para a foca- lização d as questões e a identificação de informantes e outras fontes de dados. Pesquisadores mais ligados ii linha e tnográfi ca recomendam que, nesse primei- ro contato com O campo, se regis tre o maior número possível de observações dos aspectos característicos ou inusitados da cultura estud ada, pois, com a convivência, eles tendem a ir perd endo o relevo, passando a "fa zer parte da paisagem". As perg untas feitas aos sujeitos durante essa fase são, em sua maioria, bastante gerais, do ti po "O que você acha que eu deveria saber sobre esta escola?" ou "Quais são as suas p reocupações com relação ao novo progra- ma d e treinamento de pessoal?" ou "O que você acha que p recisa ser mudado neste sindicato?". Os dados obtidos nessa fase são anali sados e di scutidos com os infor- mantes para que estes opinem sobre a p ertinência das observações feitas pelo p esquisador e a relevância dos asp ectos p or ele d estacados. Considerando que o principal objetivo do p eríodo exploratório é obter informações suficientes p ara orientar decisões iniciais sobre as questões relevantes e o r/esign do estudo, as observações, impressões e insigltts que levaram a essas d ecisões d evem ser d escri tas no projeto. Tend o-se d efinid o os contornos da p esquisa, pa ssa-se ii fa se d e investiga- ção focali zada, na qual se inici a a coleta sistemática d e d ados. Enquanto n o p eríodo exploratório o pesquisad or, tipica mente, conta apenas com seus olhos e ouvidos, nesta fa se ele pod e recorrer a ins trumentos auxilia res, como questio- nários, roteiros d e entrevis ta, formul ários de observação ou outros que surjam d a criatividade d o p esquisad o r.
  • 17. 162 ALDA JUDITH ALVÉS-MAZZOTII & FERNANDO GEWANDSZNAJDER Em decorrência da feição indutiva que caracteriza os estudos qualitativos, as e tapas de coleta, análi se e interpretação ou formulação d e hipóteses e verifi- cação não obedecem a U'Tt él seqüência, cada um a correspondend o a um único m omento da investigação, com o ocorre nas pesquisas tradicionais. A análise e a interpretação d os dados vão sendo feitas de forma intera ti va com a coleta, acompanhando todo o processo de investigação. 2.3 Contexto e participantes Ao contrário do que ocorre com as pesquisas tradicionais, a escolha do campo onde serão colhidos os dados, bem como dos participantes é proposital, isto é, o pesquisador os escolhe em função das questões d e interesse do estudo e também das condições de acesso e permanência no campo e disponibilidade dos sujeitos. No que se refere aos participantes, nem sempre é possível indicar no projeto quantos e quais serão os sujeitos envolvidos, embora sempre seja possí- vel indicar alguns, bem como a forma pela qual se pre tende selecionar os demais. Lincoln e Cuba (1985) sugerem o seguinte processo para a seleção d e sujeitos: 1. Identificação dos participantes inici ais. A identificação d esses elemen- tos pode ser feita com a ajuda de informantes que, por suas características e/ ou funções, tenham amplo conhecimento d o contexto estudado. Por exemplo, em um estudo sobre organização comunitári a, líderes de associ ações d e m oradores e de comunidades eclesiais d e base podem indicar tanto aqueles que participam como os que não participam dos problemas da comunidade. 2. Emergência ordenada da amostra. 6 Isto é obtido através da seleção serial, ou seja, novos sujeitos só vão sendo incluídos à medida que já se tenham obtido as informações desejadas dos sujeitos anteriormente selecionados. Tal procedimento p ermite que cada novo p articipante seja escolhido d e modo a complementar ou a testar as infor mações já obtidas. 3. Focalização contínua da amostra. À medida que novos aspectos rele- vantes da situação vão sendo identificados p ela análise que acompanha a coleta, novas ques tões emergem, tornando freqüentemente necessário incluir outros que estejam mais relacionados a essas questões emergentes. 6. Embora vários especia li s tas CIl' pesquisa 'lu<llitativa use m o termo "a mos tra" (além de Lincoln e Guba podemos citar Huber man c Miles, 1984, Pattoll, 1986, Mars hal e ROSSl11iUl, 1989), concordamos co m Yin (1985) qu e o termo n ~o é adequêldo, lima vez que n50 se pretende fazer genera li zações de ti po estatístico.
  • 18. o M ÚTODO NAS c i êN CIAS NAT URAIS E SOCIAIS 163 4. Encerramento da cole ta. A p artir de um certo momento, observa-se que as informações já obtid as es tão suficientemente confirmadas e que o surgimen- to d e novos d ados va i fi cando cada vez m ais raro, a té que se atinge um "p onto d e redund ância" a par tir do qual não mais se justifica a inclu são d e novos elementos. Lincoln e Guba (1985) consideram que nenhuma d essas etapas p od e ser inteiramente p revis ta. Admitem, entretanto, que o pl anejamento d a p esquisa d eve incluir alguma discussão desses aspectos como evidênci a d e que o p esqui- sad or es tá consciente deles e tem alguma idéia do que fa zer a respeito. Su gerem, a inda que, nos casos em que não é possível obter muitas informações prévias sobre o contexto investigado, a técnica da "bola d e neve" é de grande utilid ade no processo de seleção dos s ujeitos. Esta técn.ica consis te em identificar uns poucos sujeitos e p edir-lhes que indiquem outros, os qua is, por s ua vez, indica- rão outros e assim s ucessiva mente, até que se a tinja o p onto d e redund ância. Miles e I-Iuberman (1984) alertam para o fato de que a tendência de procurar os "a tares principais" do fenômeno es tudado p ode resultar na p erda d e informações importantes e recomendam que se inves tig ue também a "p eri- feria", ou seja, os "coadjuvantes" e os "excluíd os" . Isto quer di zer que, p or exemplo, na avaliação do impacto d e um d eterminad o p rograma d esenvolvido numa favela, al ém de ouvir os membros d a comun.id ad e que p a rticiparam do referido programa, dever-se-i a ouvir também aqueles qu e não quiseram parti- cipar ou que d esis tiriam em me io ao processo. A suges tão de Miles e I-Iuberman está de acordo com observação d e Pa tton (1986) que, ap ós analisar várias form as d e amos tragem proposital, conclui que aquela que proporciona variação m áxima d e participantes é, geralmente, a d e maior utilidade em p esquisas qualitati vas. 2.4 Procedimentos e instrumentos de coleta de dados As p esquisas qua litativas são carac teri stica mente multimetodol ógicas, isto é, u sam uma grande variedad e de procedimentos e instrumentos d e coleta de dados. Podemos dizer, entreta nto, que observação (participante ou não), a entrevista em profundid ad e e a análise de d ocumentos são os m ais utili zad os, embora possam ser complementad os por outras técnicas. Para uma descrição d essas técnicas, suas vantagens e principais apli cações, bem como indicações d e bibliogra fi a esp ecífi ca sobre cad a uma, ver Lincoln e Denzin (1994), Ludke & André (1986), Le Compte, Mill roy e Preissle (1992), Marshall e Ross l~1an (1989) e Yin (1985). Para técnicas quantita tivas, ver Kidder (1987). Na impossibilidad e d e analisar aqui tod as essas técnicas, focali zarem os apenas as mais utili zad as.
  • 19. 164 ALDA JUDITH ALVES-MAZZOTTI & FERNANDO GEWANDSZNAJDER 2.4.1 Observação A observação de fatos, comportamentos e cenários é extremamente valori- zada pelas pesquisas qualitativas. A pesquisa tradicional, embora também utili zasse com freqüência essa técnica, costumava lhe atribuir as seguintes desvantagens: a) abrange apenas seus próprios limites temporais e espaciais, isto, é, eventos que ocorrem fora do período de observação não são registrados; b) é uma técnka pouco econômka, pois exige muitas horas de trabalho do pesquisador, c) geralmente requer alta dose de interpretação por parte do observador, o que pode l evar a inferências incorretas; d) a presença do observa- dor pode interferir na situação observada. Nenhuma das desvantagens apontadas constitui problema para as pesqui- sas qualitativas, considerando-se seus pressupostos e características. O limite temporal-espacial só é problema quando a observação é a únka técnka usada para a coleta de dados, o que não é o caso das pesquisas qualitativas, que se caracterizam pela utilização de múltiplas formas de coleta de dados . O consu- mo de tempo só parece excessivo quando comparado ao despendido em pes- quisas baseadas em aplicação coletiva de questionários ou testes, que pode ser feita num únko dia. Nas pesquisas qualitativas, porém, o consumo de tempo é inerente à necessidade de apreender os significados de eventos e comportamen- tos. Já a possibilidade de fazer inferências incorre tas, não é exclusiva da obser- vação, além poder ser minimi zada pelo uso de outras técnicas como, por exem- plo, a checagem, com os participantes, das interpretações feitas pelo pesquisa- dor. Finalmente, quanto à interferência do observador na si tuação observada, pode-se argumentar que esta fica minimizada pela permanência prolongada do pesquisador no ca mpo, pois os sujeitos, com o tempo, se acostumam com a sua presença. Ou, pode-se considera!~ ainda, como preferem os teórico-críticos, que as relações socia is que se estabelecem entre pesquisador e pesquisados não são diferentes daquelas que existem na sociedade, e como tal devem ser encaradas e discutidas. Por outro lado, as seguintes vantagens cos tumam ser atribuídas à observa- ção: a) independe do lúvel de conheci mento ou da capacidade verbal dos sujeitos; b) permite "checar", na prática, a sinceridade de certas respostas que, às vezes, são dadas só para "causar boa in1pl'essão"i c) pern1He identificar comportamentos não-intencionais ou inconscientes e explorar tópicos que os informantes não se sentem à vontade para discutir; e d) permite o registro do comportamento em seu contexto temporal-espacial. Quanto à flexibilidade, as observações podem ser estruturadas (ou "siste- máticas") e não-estruturadas (também chamadas assistemáticas, antropológi- cas ou livres). Nas primeiras, os comportamentos a serem observados, bem como a forma de registro, são preestabelecidos. São gera lmente usadas quando o pesquisador trabalha com um quadro teórico n priori que lhe permite propor questões mais precisas, bem como identificar categorias de observação relevan-
  • 20. o MÉTODO NAS CI ~NC IAS NATURAIS E SOCIAIS 165 tes para respondê-las. Este tipo de observação é muito usado para identificar práticas que a teoria indica que são efi cazes e eventualmente pode u sa r alguma forma de quantificação. O lúvel d e quantificação pode apresentar as seg uintes variações: 1. sistema de sina l - quando se registra apenas a presença ou ausência do com portamento durante o período observado, sem preocupação com a freqüên- cia ou grau em que ocorre. Tipicamente o instrumento consiste numa lista d e itens ou comportamentos (ciJecklists) onde o observador "checa" aqueles que ocorrem. O exemplo abaixo é parte de uma lis ta utilizada para avaliar o desem- penho de professores. o professor: Sim Não explicita os objetivos da au la ./ expõe o assunto de maneira interessa nte ./ demonst ra conhecimento da matéri a ./ usa o li vro-t exto e materi al de apoio de forma eficaz ./ 2. registro d e freqüência - o comportamento é regis trado cada vez que ocorre. Exemplo: o professor: se dirige à classe como um todo 111111 trabalha com pequeno s grupos III traba lha ind ividua lmente com aluno 1111 não está envo lvido em qu alquer intera ção II 3. escalas - perm.item es timar o grau em que um de terminado comporta- mento ocorre e fa zer um julgamento quali tativo sobre esse comportamento ou
  • 21. 166 ALDA JUDITH ALVES-MAZZO"ITI & FERNANDO GEWANDSZNAJDER atividade observados. São apresentados abaixo três exemp los de escalas de observação: a) O professor estimula a participação na discussão: rara men te 121 ocas ionalm ente D freqüentemente D b) Variedade de técnicas utili zadas p elo professor: ( alta 2 mOd;rada 0 ba~xa J "-------- c) O relacionamento professor-aluno parece: x exce lente bom reg ul ar so frrvel péssimo Todos esses instrumentos au xil iares da observação estruturada podem ser usados em pesquisas qualitativas, desde que combinados com observações mai s livres. O tipo de observação característico dos es tudos qualitativos, porém, é a observação não-estruturad a, na qual os comportamentos a serem observa- dos não são predeterminados, eles são observad os e rela tados da forma como ocorrem, visando descrever e compreender o que es tá ocorrendo numa dada si tuação. Esta é a forma, por excelência, da observação participante, uma das técni- cas mais utili zadas pelos pesquisadores qualita tivos. Na observação p articipan- te, o pesquisador se torna parte da situ ação observada, interagi nd o por longos períod os com os sujeitos, buscando parti lhar o se u co tidiano para sentir o que significa es tar naquela situ ação. A importância atribuída ~ observação partici-
  • 22. o MÉTODO NAS CI ~NCl AS NATURAIS E SOC IAIS 167 pante está relacionada à valori zação d o instrumental humano, característica d a tradição etnográfica . Por is to se afirma que o observador participante "deve aprender a usar s ua própria pessoa como o principal e mai s confiável instru- mento d e observação, seleção, coordenação e interpretação" (Sanday, 1984, p. 20). Para C uba e Lincoln (1989), esse papel atribuído ao instrumental humano d ecorre de sua extrema adaptabilidade, o que leva esses autores a recomenda- rem que, nos estágios iniciais do trabalho d e ca mpo ele seja, não apenas o principal, mas o único instrumento de investigação. Em outras etapas, porém, o observador participante, tipicamente, combina a observação com entrevistas e análise d e documentos. Embora geralmente se associe a observação participante à imersão total do p esquisador no contexto observado, passando a ser um membro do grupo, o nível de participação do observador é bas tante variável, bem como o nível de exposição de seu papel d e pesquisador aos outros membros do grupo estudado. Assim, por exemplo, o pesqui sador pode freqüentar um curso supletivo, como se fosse um aluno comum, para estudar o significado da escolarização primária para alunos adultos; ou pode se apresentar como pesquisador ao "pa i-d e-sa n- to" e pedir autorização para freq üentar o terreiro d e candomblé, para es tudar o papel terapêutico dos ritos mágicos. Diante de tudo o que foi dito, é fácil concluir que as habilidades exigidas do observador participante são muitas. Entre estas, podemos d estacar: a) ser capaz d e estabelecer uma relação de confiança com os sujeitos; b) ter sensibili- dade para pessoas; c) ser bom um ouvinte; d) formular boas perguntas; e) ter familiaridad e com as questões investigadas; f) ter flexibilid ade para se adaptar a situações inesperadas; e g) n ão ter pressa d e identificar padrões ou atribuir significados aos fenôm enos observados (Mi lles e I-Iuberman, 1984; Sanday, 1984; Yin, 1985). No que se refere ao projeto, deverão ser esclareci d os os seguintes aspectos da observação participante: a) o nível de participação do observador no contex- to estudado (por exemplo, o pesquisador interessado em inves tigar práticas autoritárias em um sindicato d eve informar se é um observador externo, um profissional filiado, ou, ainda, se ocupa algum cargo no referido sindicato); b) o grau de conhecimento dos participantes sobre os objetivos do estudo proposto (que poderá variar do total desconhecimento, inclusive do fato de que o sujeito é um pesquisadO!; até o conhecimento dos objetivos específicos da p esquisa); c) o contexto da observação (o cotidiano do sindicato, reuniões plenárias, reuniões de dirigentes etc.); d) duração provável e, sempre que possível, di stribuição do tempo (por exemplo, durante seis meses, o p esqui sador pretende passar seis horas semanais na sed e d o sindicato, além de comparecer às reuniões plenárias ou ou tras); e e) forma d e reg is tro dos dados (notas d e ca mpo, gravações em áudio ou vídeo formulários etc.).
  • 23. 168 ALDA JUDITH ALVES-MAZZOTTI & FERNANDO GEWAND5ZNAJDER 2.4.2 Entrevistas Por sua natureza interativa, a entrevista permite tratar de temas complexos que dificilmente poderiam ser investigados adequadamente através de questio- nários, explorando-os em profundidade. A entrevista pode ser a principal técnica de coleta de dados ou pode, como vimos, ser parte integrante da observação participante. Neste último caso, ela costuma sei; pelo menos de início, inteiramente informal. O pesquisador se aproxima do sujeito e diz, por exemplo: "Nós ai nda não conversamos. Você tem um tempinho?". De um m odo gera l, as en trevistas qualitativas são muito pouco estrutura- das, sem um fraseamento e uma ordem rigidamente estabelecidos para as perguntas, assemelhando-se muito a uma conversa. Tipicamente, o investiga- dor está interessado em compreender o significado atrib uído pelos sujeitos a eventos, situações, processos ou personagens que fazem parte de sua vida cotidiana. Rubin & Rubin (1995) descrevem uma variada gama de tipos de entrevis- tas qualitativas, distinguindo-as pelo gra u de controle exercido pelo entrevista- dor sobre o diálogo. Assim, nas entrevistas não estruturadas, o entrevistador introduz o tema da pesquisa, pedindo que o sujeito fale um pouco sobre ele, eventualmente inserindo algu ns tópicos de interesse no fluxo da conversa. Este tipo de entrevista é gera lmente usado no início da coleta de dados, quando o entrevistador tem pouca clareza sobre aspectos mais específicos a serem focali- zados, e é freqüentemente complemen tado, no decorrer da pesquisa, por entre- vistas semi-estruturadas. Nestas, também chamadas focalizadas, o entrevi sta- dor faz perguntas específicas, mas também deixa que o entrevistado responda em seus próprios t'ermos. É também possível op tar por um tipo misto, com algumas partes mais es truturadas e ou tras menos. Outros tipos de entrevis ta qualitativa descritas por esses autores são a história oral e a história de vida. Na primeira o pesquisador procura reconsti- tuir, através da visão dos sujeitos envolvidos, um período ou evento histórico, pedindo, por exemplo, a sujeitos que sofreram perseguições políticas para falarem sobre as diferentes fases da ditadura militar; ou pedindo a pessoas que participaram da marcha dos "sem-terra" a Brasília que contem como foi. Já nas histórias de vida, o pesquisador está interessado na trajetória de vida dos entrevistados, geralmente com o objetivo de associá-l a a situações presentes. Esta técnica tem sido muito usada para compreender aspectos específicos de determinadas profissões e para identificar problemas a elas relacionados. Qualquer das modalidades de entrevista mencionadas exige conh ecimen- to e arte. Indicações sobre como rea liza r entrev istas fogem ao nosso propósito aqui, mas estas podem ser encon tradas em Bogda n & Biklen (1994), Garret (1988), Ludke & André (1986), Patton (1986); Rubin & Rubin, (1995); Thiollent (1980).
  • 24. o MÉTODO NAS C I ~NClAS NATURAIS E SOCIAlS 169 Quanto ao que deverá constar do projeto, o lúvel de detalhamento depen- derá do tipo d e entrevista a ser feita, o qual, por sua vez, deve ser coerente com o seu o objetivo e com o paradigma adotado. É sempre possível, porém, indicar o tipo (livre, semi-es trutmada, estruturada, mi sta) e o objetivo geral da entre- vista. No caso de entrevistas estruturad as ou semi-es truturadas freqüentemente é possível indicar que fontes serão usadas para gerar os itens (pesquisas ante- riores, teoria, observações e conversas ilúorma is com os participantes) também indicar o nltmero aproximado de entrevistàs e o tipo d e respondentes (por exempl o, pais e professores, ou médicos, etúermeiras e pacientes, e tc.). 2.4.3 Documentos Considera-se como documento qualquer registro escrito que possa ser usado como fonte de informa ção. Reg ulamentos, a tas de reunião, livros de freqüência, relatórios, arquivos, pareceres, etc., podem nos di zer muita coisa sobre os princípios e normas que regem o comportamento de um grupo e sobre as relações que se estabelecem entre diferentes subgrupos. Cartas, diários pes- soais, jornais, revistas, também podem ser muito úteis para a compreensão d e um processo ainda em curso ou para a reconstituição de uma situação passada. No caso da ed ucação, livros didáticos, registros escolares, programas de curso, planos de au la, trabalhos d e alunos são bastante utilizados. A análise de documentos pode ser a única fonte de dados - o que costuma ocorrer quando os sujeitos envolvidos na situação estudada não podem mais ser encontrados - ou pode ser combinada com outras téclúcas de coleta, o que ocorre com mai s freqüência. Nesses casos, ela pode pode ser usada, tanto como uma téclúca exploratória (indicando aspectos a serem focalizados por outras téct~ica s), como para "checagem" ou complementação dos dados obtidos por meio de ou tras téclúcas. Qualquer que seja a forma de utili zação dos documentos, o pesquisador precisa conhecer algumas itúormações sobre eles, como por exemplo, por qual instituição ou por quem foram criados, que procedimentos e/ou fontes utiliza- ram e com que propósitos foram elabora dos. A interpretação d e seu conteúdo não pode presci ndir d essas informações (llecket; 1997). Quanto ao que deve figurar no projeto, recomenda-se que, ao menos, se indique a natureza dos docLUnentos com que se pretende trabalhar (se são leis, discm sos oficiais, h'abalhos escolmes, etc.) e com que finalidade serão utilizados. 2.5 Unidade de análise A expressão "unidade de análise" se refere à forma pela qual organizamos os dados para efeito de aná li se. Para definir a unidade d e análise é preciso
  • 25. 170 ALDA JU DITH ALVES·MA ZZOTrI & FERNANDO GEWANDSZNAJDER d ecidir se o que nos interessa primordialmente é uma organização, um grupo, diferentes subgrupos em uma comunidade ou determinados indivíduos. Em cad a um desses casos temos uma unidade de análise dis tinta: ou tratamos a organização como um todo, ou ana lisa mos sepa radamente diferentes grupos dessa organização, ou ainda, diferentes indivíduos . Es tar interessado em indi- víduos não significa que não se possa focali za r vários indivíd uos, apenas eles não são tratados como grupo. Além disso, nada impede que se utili ze mais de uma unidade de análise no mesmo estudo. Isto pode ser feito, tanto para a investigação de um mesmo aspecto, como para diferentes aspectos do proble- ma, bas tando, neste caso, que se especi fique que unidades correspondem a que aspectos da análise. Essa especificação, porém, nem sempre pode ser feita no projeto porque, freqüentem ente, é a própria análise dos dados que indica a necessidade de se incluir uma outra unidade de análise. Em se tratando d e estudos de caso, o estabelecimento da unidad e de análise corresponde ii d efini ção do "caso" (Yin, 1984). Assim, por exemplo, em um estudo localizad o em uma instituição d e ensino superior (uma fac uldade, instituto ou departamento), pode-se estar interessado na implementação de uma inovação (nível organizacional), ou em como diferentes segmentos (pro- fessores, alunos e técnicos) reagiram ii inovação (Iúvel grupal), ou ainda, na atuação d e alguns tipos d e líderes estudantis (lúvel individual). Uma descrição sucinta dos aspectos relevantes do "caso" deve ser incluída no projeto. Por exemplo, se o "caso" é uma favela, d ados sobre loca lização, condições sanitárias e d e habitação, serviços disponíveis na área (escola, posto d e saúde, segurança), grupos atuantes, e outros pertinentes ii questão estudada devem ser incluídos. 2.6 Análise dos dados Pesquisas qualitativas tipicamente gera m um enorme volume d e d ados que precisa m ser organizados e compreendidos. Isto se fa z através de um processo continuado em que se procura identificar dimensões, categorias, ten- dências, padrões, relações, desvendando-lhes o significado. Este é um processo complexo, não-linear, que impli ca um trabalho de red ução, organização e inter- pretação dos d ados que se inicia já na fase explora tória e acompanha toda a investigação. À med ida que os dados vão sendo cole tados, o pesquisador vai procurando tantativamente identifica r temas e relações, cons truindo interpre- tações e gerando novas questões e/ou aperfeiçoando as anteriores, o que, por sua vez, o leva a buscar novos dados, complementares ou mais específicos, que testem suas interpretações, num processo de "sintonia fina" que vai até a análise final. Miles e Huberman (1984) oferecem um rico material para orientar o pes- quisador nas tarefa s de registro, análise e apresentação d e dad os qualitativos. Esse m aterial sugere proced imentos a serem adotados na análise du rante a
  • 26. o MÉTODO NAS C IÊNCIAS NATURAIS E SOCIAIS 171 coleta de dados e na análi se fin al, e inclui suges tões específi cas para pesquisas desenvolvidas em um único contex to e parn aq uelas qu e comparam dois ou mais contex tos, Tai s sugestões, desde que usa das com a fl exibilidade que p er- mita a emergência de achad os não antecipados, podem ser de grand e utilid ade, principalmente para o pesqui sador ini cian te, Q uanto ao projeto de pesquisa, embora de um modo geral pouco possa ser antecipado, em decorrência d a próp ria natureza do processo de análi se de dados qualitativos, o grau de especificação possível vai variar em função do grau de focalização prévia do problema, Se o pesqui sa dor adotou um referen- ciai teórico que lhe permite des tacar dimensões e ca tegori as inici ais de análi se, ou mesmo relações esperadas, estas devem ser explicitadas, Se, ao contrário, op tou por uma focali zação mais aberta, sem um referencia l interpretativo, dimensões ou categorias definidas, pode, ao menos, antecipar os proced imen- tos gerais que permiti rão que emerjam dimensões e ca tegorias relevantes, bem como suas relações e significados, Em ou tras palavras, o pesquisador pode informar que sua análi se será desenvolvida durante tod a a investigação, a través de teorizações progressivas em um processo interativo com a cole ta de dados, Como observam Marshall e Rossman (1989), nesta seção do projeto o pesquisad or deve descrever suas decisões iniciais sobre a análise dos dados e convencer o leitor de que está consciente das dificuld ades inerentes a essa análise e é suficientemente competente para rea lizá-la, É necessário lembrm; ainda, que, quando dados quantitativos são usados p ara complementar os qualitativ os, o tratamento dado a cada um deles deve ser descri to separadamen te, 2.7 Procedimentos para maximizar a confiabili dade A natureza das abordagens qualitativas, ali ada a sua di sseminação recente em algumas áreas de conheci mento como a ed ucação e a psicolog ia, exige qtle os pesquisadores que as adotam demonstrem preocupação com o ri gor com que pre tend em condu zir sua investi gação, Os traba lhos inici ais relacionados a es ta ques tão procuravam "trnd uzir" para a pesq ui sa qualita tiva os conceitos de validade interna (referente ao controle de variáveis estranhas), validade ex terna (grau de generalização dos resultados), fid edi gnidade (possibilidade de repli- cação dos resultados), usados na pesquisa tradicional (ver, por exemplo, Yin, 1984). Atua lmente, porém, muitos autores consideram que tai s conceitos não cons tituem modelos apropriados para a pesq uisa qualitativa e propõem uma grande variedade de critérios para substituí-los, Lincoln & Guba (1985) sugerem os seguintes critérios: a) credibilidade (os resultados e interpretações feitas pelo pesquisador são plausíveis para os sujei- tos envolvidos?); b) transferibilidade (os resultados d o es tud o podem ser trans- feridas para outros contextos ou para o mesmo contex to em outras épocas?); c)
  • 27. 172 ALDA JU DITH ALV ES-MAZZOITI & FERNANDO GEWANDSZNAJDER consistência (os resultados obtidos têm estabilidad e no tempo?); e d) confirma- bilidade (os resultados obtidos são confirmáveis?) . Para atender a cada um desses critérios, os autores sugerem vários proced imen tos. Entre os procedi- mentos para ma ximizar a cred ibilidade, citados por estes e por muitos outl'OS autores (vel; por exempl o, Creswell, 1994, Merril, 1988, Patton, 1986), destaca- mos: a permanência prolongada no campo; a "checagem pelos participantes", o questionamento por pares, a tri angulação e a análise de hipóteses rivais e d e casos negativos. 2.7.1 Critérios relativos à credibilidade Permanência prolongada no campo. O tempo d e permanência no campo, principalmente nos estudos de tipo etnográfico, d eve ser suficientemente longo para que o pesquisador possa apreender a cultlll'a d e uma perspec tiva mais ampla, corrigir interpretações fal sas ou enviesadas e identificar dis torções nas informações apresentadas pelos sujeitos (voluntárias ou involuntárias). O que pode ser considerado tempo suficiente, porém, não é fáci l d e determinar, pois varia em função da situação observada. Segundo Spindler & Spindler (1992) um período longo é importante para que o pesqui sad or veja as coisas acontecerem, não uma vez, mas repetidamente, o que - ad mitem - nem sempre é possível. Usualmente, porém, considera-se que um ano é um tempo razoável. "Checagem" pelos participantes. Considerando-se que a abordagem qualitati- va proclll'a captar os significados atribuídos aos eventos pelos participantes, torna-se necessário verificar se as interpretações d o pesquisador fa zem sentido para aqueles que forneceram os dad os nos quai s essas interpre tações se ba- seiam. Embora verificações parciais sejam feitas ao longo d e toda a pesquisa, esta é feita d e modo mais completo e form al no final , apresentando-se aos participantes os resultados e conclusões, bem como outros aspectos do relatório julgados relevantes e p edindo-lhes que os ava li em quanto à precisão e relevân- cia. Isto pode ser feito sob forma escrita, oral ou visual (dependendo das características dos sujeitos). Com base nas reações obtidas, é então elaborado o relatório final que será divulgado entre os interessados. Questionamento por pares. Este procedimento consiste em solicitar a colegas não envolvidos na pesquisa, mas que trabalhem no m es mo paradigma e conhe- çam o tema pesquisado, que funcionem como "ad vogad os d o diabo". A função do "advogado do diabo" é apontar falha s, pontos obsclll'oS e vieses nas inter- pre tações, bem como identificar evidências não exploradas e oferecer explica- ções ou interpretações alternativas àquelas elaboradas pelo pesquisador. Graças à sua relativa fa cilidade e também à sua eficácia, este é um procedimento
  • 28. o MÉTODO NAS C1eNCIAS NATURAIS E SOC IAIS 173 bas tante usado, constituindo qu ase u ma rotina entre pesquisadores de uma mesma área. Tri ang ul ação. Já d issemos anteriormente que as pesqu isas q uali ta tivas costu- mam usar várias maneiras de ob ter seus dados. Q uando buscamos d ife rentes maneiras para investiga r UIll IllesnlQ ponto, estmn os lIsando tuna forma de tri angul ação. Denzin (1978) apresenta quatro ti pos de triangulação: de fontes, de mé todos, d e investigadores e de teorias. Q uando u m pesq uisad or compara o rela to de um informante sobre o que ocorreu em uma re união com a ata dessa mesma reunião, es tá fazendo uma triangulação de fontes. A triangulação d e métodos gera lmente se refere à com paração de d ados coletados por mé todos qualitativos e quantita tivos (Patton, 1986), mas também pode se referir à com- p aração d e d ados de entrevistas com dados obtidos em um teste de associ ação livre, por exemplo. As duas outras formas de triangulação - d e investigadores e d e teorias - são menos usadas, não apenas por aca rretarem maiores dificulda- d es, mas também por terem implicações epistemológicas que entra m em cho- que com características d o pa rad igma construtivista, impedind o s ua aceitação pelos adeptos dessa corrente. Q uanto ao primeiro, Lincoln e Guba (1985) argu- mentam que, se o design é emergente e se sua form a depende d a interação do investigad or com o contexto, não se pode esperar que diferentes pesquisad ores cheguem aos mesmos resultados . Quanto à triangulação de teori as, esses auto- res afirm am que, se as teorias de terminam os fatos, a confirmação d e um fa to por duas teorias ind ica ria m uito m ais uma semelhança entre elas que uma maior significação d o fa to. Análise de hipóteses alternativas . Tendo analisado seus dados e formulado suas hipóteses sobre, por exem plo, as dimensões que compõem um d ad o fenômeno ou sobre as relações entre eventos ou comportamentos observados, o pesquisador d eve procura r interpretações ou explicações rivais d e suas hipóte- ses. Isto implica em tentar outras m aneiras de organi zar os d ad os, buscar outras formas d e pensar sobre eles que possam levar a diferentes conclusões. Não se trata aí d e tentar d errubar essas hipó teses rivais e sim de tentar confirmá-las, pois, caso o pesquisador tenha se esforçado por confirmá-l as sem obter sucesso, a cOlúiabilidad e d e suas hipóteses iniciais aumenta. Análi se de casos negativos. O fa to d e que é possível identificar padrões e tendências de comportamento não significa que todos os s ujeitos sigam o padrão identificad o. A análise d os casos que se afastam do padrão pod e trazer esclarecimentos importantes e aj ud ar a refinar explicações e interpretações. Esse procedimento foi utili zad o por nós em uma pesquisa sobre as repre- sentações d e "meninos de rua" elaborad as por diversos grupos que m antêm cantata com esses m eninos: educad ores sociais, meninos e meninas que traba- lham na rua, meninos e meninas d e cl asse média, polici ais e seguranças (A1ves-
  • 29. 174 ALDA JUDITH ALVES-MAZZOTTI & FERNANDO GEWANDSZNAJDER Mazzotti, 1994). A análise das respostas do grupo de policiais apresentava um alto grau de redundância no que se referia ii caracterização dos meninos e ii atitude dos entrevistados com relação a eles. As respostas de um dos sujeitos, porém, se afastavam sistematicamente das respostas do grupo, o que nos levou a procurar entender o que o distinguia dos demais policiais. Verificamos, então, que o referido policial era evangélico, o que nos levou a concluir que o sistema de valores com o qual ele se identificava era o dos evangélicos e não o dos policiais. 2.7.2 Critérios relativos à transferibilidade Nas pesquisas qualitativas, a genera lização dos resultados obtidos tem sido uma questão recorrente e polêmica. Nas pesquisas quantitativas, a possi- bilidade de generalização depende da representatividade da amostra seleciona- da pelo pesquisador: se essa amostra é representativa da população da qual foi retirada, supõe-se que o que foi observado na amostra vale para toda aquela população. Neste caso, cabe ao pesquisador descrever claramente a população para a qual seus resultados seriam generalizáveis. As pesquisas qualitativas se baseiam em uma outra lógica. Inicialmente, vale lembrar que elas raramente trabalham com amostras representativas, dando preferência a formatos etno- gráficos ou de estudo de caso, nos quais os sujeitos são escolhidos de forma proposital, em função de suas características, ou dos conhecimen tos que detêm sobre as questões de interesse da pesquisa. Além disso, é também característica dos estudos qualitativos a crença de que as interpretações feitas são vinculadas a um dado tempo e a um dado contexto e, portanto, não se poderia falar de generalização nos termos tradicionais. Nes te caso, a possibilidade de aplicação dos resultados a um outro contexto dependerá das semelhanças entre eles e a decisão sobre essa possibilidade cabe ao "consumidor potencial", isto é, a quem pretende aplicá-los em um contexto diverso daquele no qual os dados foram gerados. A responsabilidade do pesquisador qualitativo é oferecer ao seu leitor urna "descrição densa" do contexto estudado, bem como das características de seus sujeitos, para permitir que a decisão de aplicar ou não os resultados a um novo contexto possa ser bem fundamentada. Este conceito de generalização é conhecido como "generalização natlll'alística". 2.7.3 Critérios relativos à consistência e confirmabilidade A consistência é apresentada por Lincoln e Guba (1985) como uma alter- nativa ao conceito de fidedignidade, usado peja pesquisa tradicional. O concei-
  • 30. o MÉTODO NAS CIÊNCIAS NATURAIS E SOCIAIS 175 to de fidedignidade foi desenvolvido no âmbito dos estudos referentes à preci- são de instrumentos de medida. Embora haja muitas formas de estima r a fidedignidade, a maneira mais comum de fazê-lo é repetir a aplicação do instrumento - um teste de in teligência, por exemplo - e ver se são obtidos os mesmos resultados. Caso haja uma variação significa tiva nos resultados, o instrumento não é fidedigno. Lincoln e Cuba (1985) admitem que o instrumen- tai humano também pode ser inconsistente, por razões várias, como, por exem- p lo, cansaço ou mesmo desatenção. Afirmam, entretanto, que é necessário distinguir as variações decorrentes de falhas de observação daquelas que refle- tem mudanças no próprio fenômeno observado. A confirmabilid ade, por sua vez, é proposta por aqueles autores, como alternativa ao conceito de objetividade. A distinção entre confirmabilidade e consistência, porém, parece se devei; mais ao desejo de estabelecer correspon- dências com a pesquisa tradicional, do que a uma necessidade conceitua i ou prática. Em termos conceituais, ambas se referem ao túvel de acordo intersub- jetivo; em termos práticos, as técnicas propostas para estimar a primeira tam- bém estimam a segunda. Assim, uma vez que a distinção entre os dois conceitos confunde mais do que ajuda, optamos por apresenta!; em conj unto, as técnicas vinculadas por Lincoln e Cuba (1985) a um e a outro desses conceitos. Uma técnica bastante interessante é a que esses autores chamam de "repli- cação passo a passo". Essa técnica consiste em ter, pelo menos, duas pessoas da equipe de pesquisa (e de preferência mais que duas pessoas) cond uzindo suas investigações independentemente. Os autores observam, entretanto, que, quan- do se trabalha com um desigll muito flexível, ou emergente, os dois pesquisado- res, ou as duas subdivisões da eq uipe podem desenvolver linhas de investiga- ção muito diversas, o que comprometeria a efi cácia da técnica. Para con tornar esse problema sugerem que as duas partes se comuniquem sempre que uma delas considere necessária uma mudança no p lanejamento anterior. Uma outra técnica mencionada por Lincoln e C uba (1985) é a chamada "auditoria", termo escolhido por analogia com a contabilidade fiscal. À seme- lhança do que faz um auditor para decidir se pode autenticar as con tas de uma firma, um segundo pesquisadO!; com experiência na área, avalia tanto o proces- so - isto é, a adequação dos procedimentos de coleta e aná li se dos dados - como o produto, anali sando desde os dados brutos (como notas de campo, transcri- ções de entrevistas, documentos e outros que tenham sid o coletados), passando pelas categorizações inicia is, identificação de temas e interpretações e chegando às conclusões e relatório final. Aaud itoria pode ir acompanhando o processo de investigação ou pode ser feita retrospectivamente após o seu término. Em ambos os casos é necessário manter organizado todo o material bruto prod uzi- do, bem como registrar cuidadosamente as razões que levaram a determinadas decisões.
  • 31. 176 ALDA JUDITH ALVES·MAZZOTTI & FERNANDO GEWA NDSZNAJDER Informações relevantes para o auditor podem ser obtidas no "diário refl e- xivo". Nele, o pesquisador anota suas intuições, dúvidas, sentimentos, percep- ções, relacionadas à investigação, bem como as razões das decisões metodoló- gicas feitas durante o processo.Tais informações permitem ava liar, por exemplo, em que medida os vieses do pesquisador influenciaram suas conclusões. Per- nútem também ava li ar a necessid ade e/ou pertinência das mudanças efetuadas durante a investigação. Assim, o d iário reflex ivo é um precioso auxiliar para a análise dos dadQs, além de oferecer subsídi os para posterior crítica dessa análise, por parte de outrem ou d o próprio p esqui sador. Por essas razões, seu uso não se restringe ii auditoria, sendo recomendado mesmo quando não se pretende fa zê-la. Q uanto ao projeto, os procedimentos que o pesquisador pretende usar para maxinúzar a confiabilid ade devem ser explicitados, descrevendo-os bre- vemente ou apenas indicando quais os procedimentos selecionados e remeten- do a um autor (ou autores) que os descreva. 3. Conclusão Voltando à questão inicia l, sobre o que precisa constar de um projeto de pesquisa qualitativa, poderíamos, resunúnd o, d izer que o "deve" é o que pode ser anteci pado. E o que "pode" vai depender da natureza do próprio problema (de seu gra u de complexidade, d o conhecimento acumulado sobre o tema), bem como da posição do pesquisador dentro do cont il1lllll11 qualitativo. Procuramos discutir as alternativas que se apresentam ao pes- quisador qualitativo em cada um dos aspectos relevantes para a ava liação de um projeto, analisando as implicações de cada uma dessas alternativas, porque acreditamos que é fundamenta l que o pesq uisador esteja consciente delas, para que possa justificar adequadamente suas escolhas. Se a opção sobre o que antecipar cabe, em grande parte, ao pesquisador, a ele cabe também a tarefa de sustentar as decisões tomadas. Se, por exemplo, considera que deve trabalhar com o "foco aberto", com questões bastante amplas e sem um referencia l teórico, deve justificar essa decisão em função da natureza do problema proposto e indicar como espera que eles surjam no decorrer do es tudo. Mas é importante lembrar que, mes mo aquelas informações que nem sempre podem ser antecipadas no projeto, devem ser esclarecidas no relatório final. Com o objetivo de auxiliar pesqu isadores inexperientes a revisar seu relatório, apresentamos a seguir um conjunto de itens que cos tumam ser consi- derados na avaUação de relatórios de pesquisa.
  • 32. o MÉTODO NAS CI~NCIAS NATURAIS E SOCIAIS 177 Sugestões para a avaliação do relatório 1. O título está adequado ao estudo realizado? 2. A Introdução procura inserir o problema proposto no processo de produção do conhecimento na área? As questões atuais, relevantes para o problema, são tratadas? As lacunas elou contradições (entre resultados de diferentes pesquisas; entre teorias e resultados de pesquisa; entre o problema e as abordagens metodológicas utilizadas etc.) são discutidas com o objetivo de indicar de onde se originou o estudo proposto? 3. O objetivo (ou questão central) do estudo é enunc iado de forma clara e concisa? 4. O estudo é relevante, em termos de suas contribuições teóricas elou práticas? Tais contribuições são expli citadas no texto? 5. As questões elou hipóteses são claramente formuladas? São coe rentes com o objetivo? 6. No caso específico das hipóteses, seu respaldo teó rico ou empírico é indicado? 7. Os termos relacionados a contextos teóricos são adequadamente definidos? 8. Os pressupostos conceituais são exp li citados·? 9. O quadro teórico é ana li sado em profundidade? 10. As fontes bibliográficas utili zadas são adequadas em termos de qualidade e atua lid ade? O autor privilegia as fontes primárias? 11 . A revisão da bibliografia pertinente ao problema é c rític a, isto é , compara, contrasta e discute as diversas posições frente ao tema, elaborando suas próprias conclusões frente à li teratura revista? 12. A pesquisa in cluiu um período exploratório? As informações relevantes obtidas nesse período são mencionadas? 13. O autor justifica a escolha do paradigma adotado? A metodologia é coerente com os pressupostos do paradigma e apropriada ao objetivo do estudo? 14. O contexto e as características dos sujeitos são suficientemente descritos para permitir a genera lização de resultados e conclusões para outros contextos e grupos? 15. Os procedimentos metodológicos (seleção dos sujeitos, técnicas de co leta) são adequados e suficientes para responder às questões propostas elou para testar ais) hipótese(s) do estudo? 16. O(s) instrumento(s) utilizados para a coleta de dados são apropriados aos objetivos elou questões?
  • 33. 178 ALDA JU DITH ALVES·MAZZOTTI & FERNANDO GEWANDSZNAJDER Caso o pesqui sador t enh a utilizado instrumentos es pecialm ente 17 . con strufd os para o est udo (entrev istas se mi ·estruturadas, rot eiros ou esca las de obse rvação, qu estioná ri os, etc), o processo de elaboração desses in st rum entos é desc rito (de ond e se ori ginaram os itens, co mo foi vali dado etc. )? 18 . A unid ade de análi se é explicitada? 19 . A análi se e a coleta dos dados foram sendo f eitas simultânea e interati va mente, uma rea lim entando a ou tr a? 20. Os res ultados res pondem às qu estões propos tas? No caso de se rem usadas hipót eses, as ev id ências aprese ntadas para co nfirm á· la ou refutá- la são sufi cientes? 2 1. A s interpretações e conclu sões se apóiam nos dados apresentados (falas, do cumentos, dados de ob serv ação e outros que tenh am sid o utilizados)? 22 . A s interpret ações e conclusões utili za m o qu adro t eóri co adotado ? São comparad as a outras pes qui sas sobre o mes mo t em a? 23 . Caso o pesqui sador tenh a optado por con struir uma " t eori a fund amentada" com base nos dados obtid os, est a ap rese nta profundidad e interpret ativa? 24. São feitas recom endações pertine ntes, baseadas nos resultados e conclus ões da pesquisa, relat ivas a estud os co mpl ementares elou a mud anças em práticas co rrentes? 25 . Considerando o relatório com o um t odo, as idéias são aprese ntadas com clareza e org ani zação?