1) A professora ministrou uma aula interdisciplinar de Artes e História sobre artistas viajantes do período colonial brasileiro, como Debret e Rugendas, utilizando vídeos, obras de arte e pesquisas.
2) Os alunos participaram ativamente, comentando as obras e fazendo conexões com conteúdos de diferentes disciplinas.
3) Como atividade prática, os alunos irão fazer desenhos observacionais de espaços da escola, simulando uma expedição de artistas viajantes.
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS
Disciplina: Planejamento Educacional em Artes Visuais
Professora: Andrea Hofstaetter
Aluna: Alexandra Rita Flores
RELATÓRIO DE OBSERVAÇÃO
Realizei minha observação em uma turma de 6° ano do ensino fundamental,
em uma escola urbana da rede municipal de Novo Hamburgo. A escola tem 360
alunos em 16 turmas do Jardim Nível 4 ao 6° ano. A turma do 6° ano é composta por
24 alunos, sendo 14 meninas e 10 menos, da faixa etária de 11 a 13 anos. De
acordo com o depoimento da professora, “é uma turma bem integrada, sendo a
maioria colegas de anos anteriores, participativos e interessados nas propostas das
aulas de artes”. Ao acompanhar a aula, constatei o quadro relatado pela professora,
observando a ativa participação dos alunos comentando e perguntando sobre as
questões abordadas, estabelecendo relações com as outras áreas de conhecimento,
principalmente com os conteúdos de História, disciplina que tem a mesma
professora como regente.
A professora tem 18 anos de Magistério, atuando grande parte deste tempo
nas série iniciais com unidocência. Graduada em Arte na Diversidade desde 2008,
atualmente atua no 6° ano com História e Arte e, na parte da tarde em uma turma de
3° ano. A professora demonstra muita afinidade com os alunos, estabelece um
diálogo harmonioso com os mesmos, obtendo atenção e respeito de todos. É
motivadora, questiona, incentiva a participação dos alunos, solicitando depoimentos,
valorizando os comentários. Durante a mediação, busca estabelecer relações com
outras áreas do conhecimento, principalmente História, disciplina que também
leciona para a turma. É evidente na atuação da professora a preocupação com a
aprendizagem significativa, a mediação ao processo de construção de
conhecimentos dos alunos, valorizando as contribuições de cada um, de acordo com
2. o estágio em que se encontram no seu processo individual, oportunizando durante a
aula a socialização.
A escola de modo geral apresenta uma boa estrutura, biblioteca, sala de
informática, quadra de esportes, recursos de mídia como data show, salas de aula
amplas e organizadas, no entanto, não há uma sala específica para artes. As aulas
são ministradas em dois períodos semanais, na sala convencional, onde há uma
pequena pia ao fundo, o que pode colaborar em algumas atividades. Há várias
produções artísticas dos alunos expostas na sala e referenciais de obras e de
artistas como Romero Brito, Tarsila do Amaral e Lasar Segall.
A professora recebeu os alunos com a sala organizada anteriormente para a
projeção de vídeo e slides no data show.
Inicia sua aula, relembrando com os alunos o filme: “A missão”, assistido pela
turma dois dias antes, na aula de História. Ela questiona:
• Como sabemos que as coisas, os fatos retratados no filme eram realmente
assim naquela época?
• Como temos acesso a estas informações, se na época não existiam
máquinas fotográficas e filmadoras?
A professora cita alguns fatos e situações do filme, questionando sobre a origem
das informações para a realização do mesmo, destacando que ele retrata alguns
fatos históricos, reais.
Os alunos levantam hipóteses:
• “As pessoas que viveram na época foram contanto para outras e passando de
geração em geração.”
• “Pesquisas em livros, internet, museus.”
• “As pessoas desenhavam o que viam e hoje estes desenhos servem para
pesquisa.”
Após os comentários, a professora faz uma introdução:
3. “Vamos relembrar o período do início da colonização do Brasil, de 1500 a mais
ou menos 1890, quando expedições vinham ao nosso país para estudar, pesquisar a
fauna, a flora, a vida. Estas expedições eram compostas por estudiosos, cientistas,
acompanhados por artistas que tinham a função de fazer os registros através de
seus desenhos – os artistas viajantes. Dois artistas se destacaram nesta época:
• Rugendas – alemão
• Debret – francês
Já ouviram falar nestes artistas?”
Os alunos respondem que não.
A professora escreve no quadro os nomes dos artistas e propõe:
“Agora, vamos assistir a um vídeo, onde conheceremos melhor o trabalho das
expedições e dos artistas viajantes no Brasil.”
Vídeo: “500 anos o Brasil –Império na TV - O Brasil dos Viajantes”
http://www.youtube.com/watch?v=oTp6897A-ig
Durante a exibição, a professora pára do vídeo, fazendo observações,
comentários, questionamentos sobre o conteúdo do mesmo, contextualizando
conhecimentos de outras áreas, promovendo a interação da turma com a proposta.
Os alunos correspondem aos questionamentos da professora, estabelecendo
relações com conteúdos de Matemática (calculando períodos, lendo números
romanos), de Geografia (identificando a localização das regiões onde se passam os
fatos relatados, as etnias presentes no vídeo), de História (contextualizando os fatos
mencionados no vídeo com os conteúdos estudados na disciplina, com o filme
assistido), de Ciências (tratando das doenças mencionadas como um problema
enfrentado pelas expedições, citando também a importância das pesquisas e
estudos da fauna e flora, realizados por cientistas até hoje) , bem como da Arte,
comentando sobre a situação dos artistas e o seu papel na sociedade naquela
época.
4. Uma aluna comenta:
“Profê, que monte de coisa a gente estudou hoje! Tu deu aula de um pouquinho
de cada coisa. Tudo junto.
Um aluno solicitou a URL do vídeo para assisti-lo em casa. Vários alunos
anotaram o endereço eletrônico, demonstrando muito interesse em rever o vídeo e
mostrar para seus familiares.
Devido ao horário, a continuidade da proposta fica para a próxima aula.
A professora comenta que quem quiser buscar informações sobre Debret e
Rugendas poderá socializar com os colegas na próxima aula.
Na aula seguinte, uma semana depois, a professora inicia solicitando a
socialização das informações caso alguém tenha pesquisado sobre os artistas.
Dois alunos fazem a leitura de dados sobre os artistas que registraram após
pesquisa na internet.
Em seguida, a professora apresenta a projeção de uma obra de Debret e
propõe a observação e leitura coletiva da mesma.
Família de Botocudos em marcha, 1834
Litogravura
Jean Baptiste Debret
Durante a leitura da obra, os alunos fizeram comentários significativos,
questionados, provocados pela intervenção da professora, estabelecendo relações
com conteúdos abordados nas aulas de História.
“Esses índios são daqui? Usam roupas de peles.”
5. “São aqueles que dormem em buracos cavados no chão?”
A professora questiona sobre a identificação da técnica da obra.
• O que é litogravura?
• Lembram da xilogravura?
Explica que “os desenhos eram feitos em papel durante a expedição e, ao
retornar, eram impressos através da litogravura. A imagem era esculpida em pedra
(lito) e após, impressa em papel.”
Após a leitura da obra, a professora apresenta um Power Point com a
biografia de Debret, a qual é lida e comentada pelos alunos. Ela propõe que, no
caderno, cada um registre as informações que julgam importantes sobre o artista.
A mesma proposta é realizada com a obra de Rugendas, que é projetada
para leitura coletiva.
Habitação de negros,
1822-1825
Johann Moritz Rugendas
A professora comenta:
“Além de registros da fauna e da flora do Brasil, os artistas viajantes
retratavam a vida e os costumes do povo. O que vemos aqui?”
Os alunos comentam que são pessoas pobres, em um barraco, favelados.
“Observem o título da obra.” – provoca a professora.
Comentários sobre a presença dos negros no Brasil, a origem dos mesmos,
participação na história do nosso país.
Em seguida, a professora apresenta a biografia de Rugendas para a leitura e
comentários, propondo o registro das informações significativas, assim como
realizaram anteriormente com a biografia de Debret.
Após o registro, a professora lança a proposta de produção através do
seguinte slide:
6. Nossa Expedição
Destino: Escola...
Época: ano de 2011
Técnica: Desenho de
obervação
Vamos lá, nós somos artistas
viajantes!
A professora explica que cada aluno deverá escolher um espaço da escola (
quadra, área coberta, refeitório, sala de aula, secretaria,...) para observar e
desenhar assim como faziam os artistas viajantes, Destaca a importância da
atenção aos detalhes pois, os desenhos serão registro da realidade que
encontramos hoje na escola.
Durante a produção, a professora interagiu com os alunos, chamando
atenção para a imagem escolhida, os detalhes, a atenção na observação,
motivando, estimulando os mesmos.
Ao final do período, as produções não estavam concluídas. A professora
orienta que darão continuidade no dia seguinte, na aula de História.
A observação das aulas foi muito gratificante, principalmente por perceber
que a metodologia da professora contempla a proposta triangular, apreciar-refletir-
fazer, possibilitando a construção de conhecimentos, expressos nos comentários
dos alunos, que durante as aulas estabeleceram relações com abordagens
anteriores e experiências vivenciadas. O interesse e participação ativa dos alunos é
notório, sendo estimulados e encorajados para o desenvolvimento no processo de
construção do conhecimento.