O documento discute a revolução neolítica e o surgimento da agricultura e da vida sedentária. A domesticação de plantas e animais ocorreu de forma independente em diversas regiões entre 10 a 5 mil anos atrás, incluindo o Crescente Fértil, Ásia, África e Américas. A agricultura levou ao aumento populacional e ao surgimento das primeiras cidades e estruturas políticas complexas.
2. Nós chamamos de “Revolução
Neolítica” o processo histórico
de passagem do modo de vida
baseado na caça e na coleta
para o modo de vida baseado
na agricultura e na criação de
animais.
Essa mudança na forma de
como conseguimos nossos
alimentos causou uma série de
transformações em todos os
aspectos de como homens e
mulheres viviam em sociedade.
Essa transformação ocorreu na
fase final da Idade da Pedra,
conhecida como Neolítico.
3. O processo de Domesticação de plantas e animais
Nem todos os vegetais e nem todos
os animais são domesticáveis.
Animais que tolerassem a presença
humana, que tivessem sistemas
hierárquicos (o que facilitava o
domínio), que se adaptassem a
dietas mais pobres e que se
reproduzissem muito e
rapidamente, eram mais
propensos à domesticação.
No caso dos vegetais, eram
domesticados aqueles de ciclo
produtivo mais estável.
Além disso, a domesticação causa
um processo de “seleção artificial
de animais e vegetais. Algumas
características se sobressaem
enquanto outras desaparecem por
causa das escolhas feitas pelos
humanos de quais animais cuidar e
quais vegetais cultivar.
4. Revolução ou Armadilha?
Durante muito tempo se acreditou que a Agricultura era
um modo de vida obviamente superior à Caça e Coleta.
Assim, sua descoberta pelos seres humanos seria o
simples resultado da busca humana por melhores
maneiras de sustentar sua vida. Grupos de caçadores
procuravam melhores formas de garantir seu alimento e
teriam encontrado isso quando descobriram como
cultivar alimentos.
Pensando na nossa sociedade atual, sem sombra de
dúvidas que todas as descobertas, invenções e avanços
seriam impossíveis sem a existência da agricultura. É
possível dizer que praticamente todos os processos
históricos que se seguiram à invenção da agricultura
(surgimento das cidades, dos Estados, da “Civilização”,
etc.) só foram possíveis por causa desta descoberta. Sem
esta, nosso desenvolvimento histórico teria sido
completamente diferente.
A invenção da Agricultura como “Revolução” A invenção da Agricultura como “Armadilha”
Contudo, estudos recentes têm mostrado que povos
caçadores e coletores têm acesso a uma variedade maior
de alimentos gastando menos tempo em média para
obtê-los. Além disso, esses povos de caçadores e
coletores são menos vulneráveis a crises de fome,
porque dependem menos de uma única fonte de
nutrientes.
Isso significa que muito provavelmente os primeiros
povos a adotarem a agricultura não melhoraram sua
condição de vida em geral e podem, talvez, ter piorado
suas condições de vida. Por que, então, eles teriam
deixado à caça e a coleta e investido em um modo de
vida mais trabalhoso e menos sustentável?
Provavelmente a opção pela vida baseada na agricultura
não foi uma simples escolha entre diferentes opções,
mas um processo histórico longo impulsionado por
outros fatores para além do cálculo de qual era a melhor
forma de conseguir alimentos.
5. Sedentarização e Domesticação
Busca por
Alimentos
Vida
Nômade
Caça e
Coleta
Invenção da
Agricultura
Escassez
de
Alimentos
Estabilidade
Alimentar
Vida
Sedentária
Agri-
cultura
Antigamente se entendia que a sedentarização
(isto é, as pessoas viverem fixas em um local)
tinha sido uma consequência da invenção da
Agricultura. Enquanto eram caçadores e
coletores, as pessoas precisavam sempre ir em
busca de alimentos. A Agricultura teria sido
inventada em momentos e lugares onde
faltaram alimentos aos caçadores e coletores – e
por isso eles inventaram a agricultura e depois
disso passaram a viver de maneira sedentária.
Hoje se sabe que em vários lugares onde a
Agricultura foi inventada havia, pelo contrário,
abundância de alimentos. Uma abundância tão
grande que permitia que mesmo sendo
caçadores e coletores, algumas populações
conseguissem viver de maneira sedentária. Pelo
menos em alguns lugares, foi a vida sedentária
que levou à invenção da Agricultura, e não o
contrário. Em outros lugares, o cultivo surgiu de
maneira complementar à vida de caça e coleta e
apenas depois de milênios deu lugar a
sedentarização completa.
Busca por
Alimentos
Vida
Nômade
Caça e
Coleta
Estabilidade
Alimentar
Vida
Sedentária
Fartura de
Alimentos
Aumento
populacional
Complexidade
Social
Invenção
da Agri-
cultura
Antigo modelo de desenvolvimento da agricultura
Novo modelo de desenvolvimento da agricultura 1
Escassez de alimentos? Aumento do excedente?
Busca por
Alimentos
Vida
Nômade
Caça e
Coleta
Vida Semi-
nômade
Invenção
da Agri-
cultura
Aumento
populacional
Complexidade
Social
Desenvol-
vimento da
Agri-
Cultura
Novo modelo de desenvolvimento da agricultura 2
6. Quando e onde isso aconteceu?
É difícil para a Arqueologia precisar
quando isso ocorreu em cada lugar. O
indício usado são sementes e ossos de
animais encontrados em sítios
arqueológicos. Quando apresentam
certas características típicas do
processo de domesticação, eles são
prova que ali já havia Agricultura e
Pastoreio. Contudo, o início do
processo é difícil de ser identificado,
porque essas características ainda
não estavam desenvolvidas.
Sabemos, de toda forma, que entre 10
mil e 5 mil anos atrás a domesticação
de vegetais e animais visando a
alimentação surgiu de maneira
independente em várias regiões do
mundo.
Mesoamérica
Milho e Abóbora
Crescente Fértil
Trigo e Cevada
Cabra, Ovelha e Boi
Centros principais
Centros secundários
Ásia central e
oriental
Arroz e Milheto
Porcos e Galinhas
Andes e Amazônia
Batata e Mandioca
Lhamas e Alpacas
África Ocidental,
Sahel e Etiópia
Sorgo e Inhame
Nova Guiné
Taro e Banana
Estudos identificaram alguns dos centros principais e
secundários onde surgiram os principais cultivos humanos:
7. O crescente Fértil
O Crescente fértil é uma região do Oriente Médio. Durante muito tempo
acreditou-se que ali teria sido o local de origem da agricultura (para
onde teria se espalhado para o resto do mundo). Hoje sabemos que
pessoas em outras regiões inventaram o cultivo de maneira
independente, mas a importância dessa região continua muito grande.
Foi nessa região que as três diferentes espécies de trigo que são
cultivadas até hoje foram domesticadas pela primeira vez.
Por volta de 12 mil anos atrás um
povo conhecido por Natufianos
começou a viver de maneira
sedentária no Levante. Eles
desenvolveram ferramentas de
pedra especiais para a coleta de
trigo, além de muitas outras.
Essa experiência de vida sedentária
e de coleta desses alimentos foi o
que deu início ao desenvolvimento
das técnicas e dos conhecimentos
necessários à agricultura.
Natufianos
Por volta de 12 mil anos atrás o
grande templo de Göbleki Tepe foi
construído. Esta é a construção de
grande porte mais antiga que se
conhece no mundo.
A origem de uma das espécies de
trigo domesticado é uma
montanha próxima ao templo. Por
isso, estudiosos acreditam que a
construção do templo estimulou a
invenção da agricultura para
alimentar os construtores do
templo.
Göbleki Tepe
8. Ásia central e Oriental
Os diferentes locais onde houve desenvolvimento da
domesticação na Ásia oriental e central parece ter seguido
uma história parecida com a do Crescente Fértil. Povos que se
tornaram sedentários pelo acesso a recursos abundantes de
alimento começaram, aos poucos, a desenvolver técnicas de
cultivo de algumas plantas que, em um momento posterior,
foram a base do desenvolvimento da agricultura na região.
A Cultura Hoa Binh
Entre 10 e 2 mil anos atrás se
desenvolveu no sudeste
asiático uma cultura baseada
na caça, coleta e pesca.
Existem alguns indícios de
que depois de algum tempo,
os hoabinhianos começaram
a cultivar algumas das
plantas que antes eles
coletavam.
Bacia do Rio Amarelo:
Área de domesticação
do Milheto
Bacia do Yangtze:
Área de domesticação
do Arroz
As principais áreas de domesticação nessa área do
mundo foram os vales dos principais rios chineses. Ao
sul, nas regiões mais quentes e em áreas alagáveis, se
desenvolveu o cultivo de arroz, que depois se espalhou
por vários regiões da Ásia subtropical
9. África subsaariana e a Nova Guiné
Durante muito tempo se acreditou
que a agricultura teria chegado na
África por influência de migrantes
do Crescente Fértil. Porém, hoje
sabemos que plantas específicas da
África subsaariana foram
domesticadas nessa região de
maneira independente. Ainda se
sabe pouco sobre os primeiros
agricultores africanos, mas eles já
existiam desde pelo menos 7 mil
anos atrás (com o cultivo do
inhame). O milheto e o sorgo foram
domesticado nos milênios seguintes.
África subsaaariana
Nova Guiné
Outra região que desenvolveu de
maneira independente o cultivo foi a
Nova Guiné. Há pelo menos 7 mil
anos o taro é cultivado nas
montanhas dessa ilha da Oceania.
10. Transição demográfica do Neolítico
Ainda que, na média, a agricultura do Neolítico demande mais
trabalho para a produção do mínimo necessário para
subsistência do que a caça e a coleta, na soma total ela tem uma
capacidade maior de produção. Somado à vida sedentária, mais
favorável à criação de filhos pequenos, esse fato permitiu e
mesmo estimulou o aumento da taxa de natalidade humana. As
mulheres começaram a ter mais filhos do que tinham durante o
Paleolítico.
Ao mesmo tempo, contudo, o aumento da densidade
populacional (que facilitava a transmissão de doenças) assim
como o aumento do número de conflitos (causado pela disputa
de territórios, acentuada pelo sedentarismo) aumentou
bastante a taxa de mortalidade.
Esse fato mudou o regime demográfico humano. Em
momentos de difusão de doenças e crises na colheita,
a população de certas regiões podia sofrer graves
quedas. Ao mesmo tempo, em momentos melhores,
com boas colheitas e ausência de epidemias, a
população crescia. Ao longo dos milênios, a
incorporação de mais terras à agricultura acabou por
impulsionar um grande aumento populacional.
Estimativa da densidade
populacional na Europa
Ocidental durante o
Neolítico.
11. Como consequência na longa
duração do desenvolvimento da
agricultura, da sedentarização e do
aumento populacional, surgiram
aquilo que chamamos de
sociedades complexas. Esse
processo foi chamado de
Revolução Urbana por alguns por
estar ligado ao surgimento das
primeiras cidades do mundo.
Nesse processo, cresce a divisão do
trabalho, o que leva ao surgimento
de uma classe dominante que
consome os excedentes produzidos
pelos agricultores. O comércio de
longa distância, a escrita, a
arquitetura mais monumental,
entre outras coisas, também surge
nesse momento.
12. Uma consequência imediata do desenvolvimento da
agricultura e do aumento populacional foi o surgimento
de grandes conglomerados de habitações de
agricultores. Uma grande quantidade de pessoas
vivendo próximas, tecendo relações entre elas, muitas
vezes se ajudando entre si, outras vezes entrando em
conflito, determinou a formação de estruturas políticas
cada vez mais complexas.
Com a divisão social do trabalho social se tornando
cada vez mais complexa, muitas vezes uma parte da
população de uma região conseguiu controlar recursos
importantes (alimentos, matérias-primas, força militar,
poder religioso) e passou a dominar o resto da
população de sua região. Assim surgiram as primeiras
sociedades complexas, com estruturas hierárquicas.
Em torno destes grupos poderosos se aglomeravam
pessoas que atuavam como artesãos, comerciantes,
auxiliares, entre outros. Assim surgiram as primeiras
cidades. Eventualmente, os poderosos de uma região
formaram exércitos poderosos o bastante para dominar
outras regiões, formando os primeiros Impérios.
Aldeias e Cidades
Jericó (Cisjordânia)
Por volta de 9.000 a.C., o local onde mais tarde existiria a
cidade de Jericó já era habitado. Não sabemos, contudo, se já
era um grande assentamento, porque o estrato que
corresponde a esse período está sob as ruínas da grande
cidade posterior e não pode ser escavado totalmente. Contudo,
sabemos que por volta de 7.000 a.C. já existia uma grande
cidade, fortificada por um espesso muro, onde habitavam 2
mil pessoas.
Escavação do sítio
de Tell es-Sultan
(identificado como a
Jericó histórica)
Reconstrução hipotética de Jericó
13. Uma consequência imediata do desenvolvimento da
agricultura e do aumento populacional foi o surgimento
de grandes conglomerados de habitações de
agricultores. Uma grande quantidade de pessoas
vivendo próximas, tecendo relações entre elas, muitas
vezes se ajudando entre si, outras vezes entrando em
conflito, determinou a formação de estruturas políticas
cada vez mais complexas.
Com a divisão social do trabalho social se tornando
cada vez mais complexa, muitas vezes uma parte da
população de uma região conseguiu controlar recursos
importantes (alimentos, matérias-primas, força militar,
poder religioso) e passou a dominar o resto da
população de sua região. Assim surgiram as primeiras
sociedades complexas, com estruturas hierárquicas.
Em torno destes grupos poderosos se aglomeravam
pessoas que atuavam como artesãos, comerciantes,
auxiliares, entre outros. Assim surgiram as primeiras
cidades. Eventualmente, os poderosos de uma região
formaram exércitos poderosos o bastante para dominar
outras regiões, formando os primeiros Impérios.
Aldeias e Cidades
Çatalhüyük (Turquia)
Por volta de 6700 a.C. surgiu na atual Turquia um grande
assentamento conhecido atualmente como Çatalhüyük (não
sabemos o nome que seus moradores dava a essa enorme
aldeia). O assentamento era bastante complexo, possui
vestígios de rituais e cultos bastante refinados e chegou a ter 5
mil habitantes. Existe um debate, contudo, se esta já é uma
cidade ou se é uma grande aldeia, porque não existem muitos
vestígios de uma divisão social do trabalho muito complexa.
Escavação de
Çatalhüyük
Reconstrução hipotética de Çatalhüyük
14. Uma consequência imediata do desenvolvimento da
agricultura e do aumento populacional foi o surgimento
de grandes conglomerados de habitações de
agricultores. Uma grande quantidade de pessoas
vivendo próximas, tecendo relações entre elas, muitas
vezes se ajudando entre si, outras vezes entrando em
conflito, determinou a formação de estruturas políticas
cada vez mais complexas.
Com a divisão social do trabalho social se tornando
cada vez mais complexa, muitas vezes uma parte da
população de uma região conseguiu controlar recursos
importantes (alimentos, matérias-primas, força militar,
poder religioso) e passou a dominar o resto da
população de sua região. Assim surgiram as primeiras
sociedades complexas, com estruturas hierárquicas.
Em torno destes grupos poderosos se aglomeravam
pessoas que atuavam como artesãos, comerciantes,
auxiliares, entre outros. Assim surgiram as primeiras
cidades. Eventualmente, os poderosos de uma região
formaram exércitos poderosos o bastante para dominar
outras regiões, formando os primeiros Impérios.
Aldeias e Cidades
Uruk (Iraque)
Entre 4.000 a.C e 3.200 a.C., Uruk se transformou de uma
pequena aldeia de agricultores em uma grande cidade, com
uma classe dominante que governava a cidade controlando um
corpo administrativo (burocracia) e militar (exército). Estima-
se sua população em 45 mil pessoas no final desse período.
Com o tempo, a elite de Uruk começou a controlar aldeias
outras cidades na região, dando início a um pequeno Império.
Escavações
em Uruk
Reconstrução hipotética de Uruk
15. Uma consequência imediata do desenvolvimento da
agricultura e do aumento populacional foi o surgimento
de grandes conglomerados de habitações de
agricultores. Uma grande quantidade de pessoas
vivendo próximas, tecendo relações entre elas, muitas
vezes se ajudando entre si, outras vezes entrando em
conflito, determinou a formação de estruturas políticas
cada vez mais complexas.
Com a divisão social do trabalho social se tornando
cada vez mais complexa, muitas vezes uma parte da
população de uma região conseguiu controlar recursos
importantes (alimentos, matérias-primas, força militar,
poder religioso) e passou a dominar o resto da
população de sua região. Assim surgiram as primeiras
sociedades complexas, com estruturas hierárquicas.
Em torno destes grupos poderosos se aglomeravam
pessoas que atuavam como artesãos, comerciantes,
auxiliares, entre outros. Assim surgiram as primeiras
cidades. Eventualmente, os poderosos de uma região
formaram exércitos poderosos o bastante para dominar
outras regiões, formando os primeiros Impérios.
Aldeias e Cidades
San Lorenzo (México)
Foi a principal cidade dos Olmecas, a primeira
grande civilização conhecida a ocupar a
Mesoamérica. Entre 1200 e 900 a.C. Chegou a ter 5
mil habitantes, aos quais se somavam mais 7 mil da
área ao redor da cidade.
Caral (Peru)
Foi ocupada entre 2600 e 1800
a.C.. Calcula-se uma população de
3 mil habitantes. Aqui foram
escavadas pirâmides e templos. É
a cidade mais antiga dos Andes.
Harappa e Mohenjo-daro (Paquistão)
Trata-se das duas cidades mais
importantes dos Harappianos, a mais
antiga civilização conhecida a se
desenvolver na importante região do
vale do rio Indo.
Ainda que o Crescente Fértil tenha
sido o local onde esse processo de
complexificação social e urbanização
começou mais cedo e teve mais força
nesse período, não foi só lá que ele
ocorreu.
16. Invenção dos vasos de cerâmica
Cerâmica Jomon
(Japão, 10-8 mil a.C.)
A fabricação de objetos de cerâmica havia se desenvolvido
ao longo do Paleolítico superior. Contudo, foi no Neolítico
que o principal uso da cerâmica ao longo da história, fazer
vasilhames, foi desenvolvido.
Os vasos de cerâmica são pesado e frágeis demais para
serem úteis a povos nômades, mas depois da
sedentarização, eles passaram a ser extremamente úteis:
armazenam líquidos e grãos de maneira eficiente, são
extremamente duradouras e podem ser utilizadas para
levar alimentos ao fogo.
Para os arqueólogos, os vasos de cerâmica são
importantíssimos: como são extremamente duráveis,
escavações arqueológicas costumam encontrar muitos
vasos. As diferentes formas, pinturas e materiais utilizados
servem de pista para identificar as origens de um vãos, as
transformações culturais dos povos que o fizeram e a
circulação de produtos entre diferentes locais por onde
esses vasos foram encontrados.
Cerâmica Machiayao
(China, 3500 a.C.)
Cerâmica Micênica
(Chipre, 1300-1200 a.C.)
Cerâmica de Chavin
(Peru, 900-400 a.C.)
17. Invenção do trabalho com metais
Por volta do 5º milênio a.C., alguns povos começaram a utilizar cobre
para fazer alguns objetos de luxo, sobretudo joias. No início, o
trabalho com esse metal era bastante rudimentar. Apenas depois da
invenção da metalurgia propriamente dita (isto é, o conjunto de
técnicas de aquecer o metal para obter o metal puro do mineral e
conseguir molda-lo sem quebra-lo), que o uso do cobre se difundiu.
Por volta do 4º milênio a.C. o Crescente Fértil conheceu grande
expansão do uso do cobre.
O passo seguinte no desenvolvimento da metalurgia foi a invenção da
liga de cobre com estanho (ou arsênico) para fazer o Bronze, que se
tornou o metal mais difundido nessa região entre o final do 4º milênio
a.C. e o final do 2º. Nessa época, a tecnologia de fundição do ferro, que
antes era visto como metal precioso, se desenvolve e este se torna o
metal predominante na região.
A tecnologia desenvolvida nessa região se difundiu por várias regiões
do mundo, como a Europa, e a Ásia Central. Outras regiões, contudo,
desenvolveram de maneira independente suas tecnologias de trabalho
com metais. No Extremo Oriente da Ásia, entre os 4º e 2º milênios a.C.
o trabalho com bronze foi desenvolvido. Nos Andes, América do Sul, o
trabalho com cobre e ouro se desenvolveu entre o final do 2º milênio
a.C. e o início do 1º.
Difusão do Cobre e do Bronze a
partir do Oriente Médio e os Balcãs.
Necrópole de Varna, Bulgária.
Cerca de 4600 a.C.
Mais antigo uso do ouro como
adereço que se conhece
Espadas de Bronze (Romênia, 1700 a.C.)
18. As trocas e o comércio
Os arqueólogos encontram já em sítios
arqueológicos do Paleolítico a presença de
objetos (conchas, lâminas de obsidiana,
pedras preciosas) a muitos quilômetros de
distância de sua origem. Como os povos
desse período eram nômades, é possível
que um grupo em deslocamento tenha
levado consigo esses objetos.
Contudo, a presença dessas “importações”
em sítios de povos sedentários do Neolítico
mostra a existência de rotas de troca e
comércio desses produtos.
Não sabemos como funcionavam essas
trocas, mas elas deviam seguir os seguintes
modelos:
Rotas de comércio no início da Idade
do Bronze na região do Mediterrâneo
Formas de
circulação
de produtos:
Reciprocidade Redistribuição Comércio
“Troca de presentes”
entre grupos diferentes
para fortalecer os laços
de aliança entre eles.
Um poder central coleta
a produção de vários
lugares e depois as
redistribui seguindo
suas hierarquias.
Intercâmbio no qual uma
parte obtém um produto
em troca de alguma forma
de moeda que seja aceita
para obtenção de outros
produtos.
19. Os primeiros Estados e Impérios
Em vários lugares do mundo
o aumento da complexidade
social, da formação de
hierarquias sociais e de
organizações políticas levou
ao surgimento dos Estados.
Alguns desses Estados se
tornaram muito poderosos,
controlando a produção de
muitas aldeias e cidades,
concentrando recursos e
poder militar. Assim se
formaram os primeiros
grandes Impérios da história
em vários lugares do mundo.
América Central
Olmecas
1200 a.C.
Altiplano Andino
Chavin
900 a.C.
Egeu
Minóicos e Micênicos
2000 e 1300 a.C.
Vale do Nilo
Egito e Kush
3100 e 1000 a.C.
Mesopotâmia
Suméria, Acádia e Babilônia
3500, 2400 e 1800 a.C.
Anatólia
Hititas
1300 a.C.
Vale do Indo
Harappianos
2600 a.C.
Vale do Rio Amaralo
China, Dinastia Xia
2000 a.C.
20. A invenção da escrita
O aumento da complexidade social tornou cada vez maior o número de
informações gerenciadas pelos grupos humanos. Existem dois limites
fundamentais para o gerenciamento dessas informações: a capacidade
cerebral humana tem um certo limite e as informações precisam ser
transmitidas entre as gerações para se manterem acessíveis ao longo do
tempo.
A transmissão oral não dá conta de uma quantidade muito grande de
informações. Frente a isso, surgiu pela primeira vez na Suméria em
3200 a.C. e depois em outros lugares sistemas de escrita, capazes de
armazenar materialmente uma grande quantidade de informações. Por
isso, os primeiros textos escritos da história são simples contabilidades
realizadas por administradores ligados aos primeiros Estados.
De maneira independente, a escrita foi inventada na China por volta de
1200 a.C. e na América central entre 1000 e 500 a.C.. Uma possível
escrita hindu de 3200 a.C. ainda não foi decifrada e não sabemos se é
um sistema de escrita de fato. Em outros lugares, ela provavelmente
chegou como adaptação de sistemas adquiridos pelo contato com povos
estrangeiros.
Escrita Cuneiforme
usada na Mesopotâmia
nos tempos sumérios e
acadianos
Pedra de Roseta, com
inscrições em Hieroglifos
egípcios, demótico e grego
antigo. Foi undamental
para decifrarmos o código
da escrita egípcia.
21. O desenvolvimento da Literatura
Sabe-se que desde muito tempo diversos grupos
humanos possuíam formas de poesia e narração
de histórias de maneira oral. Contudo, a fixação
dessas histórias na forma escrita, dando origem
ao que chamamos de Literatura, demorou ainda
muito tempo para acontecer.
As narrativas mais antigas que se conhece a
terem sido fixadas de forma escrita são:
• A epopeia de Gilgamesh (Suméria, 2000 a.C.)
• O livro dos Mortos (Egito, 1800 a.C.)
• Rigveda (Vale do Indo, 1700 a.C.)
• Pentateuco (Palestina, 1000 a.C.)
• Ilíada e Odisseia (Homero, Grécia, 800 a.C.)
O uso da escrita para difundir narrativas e ideias
vai ter um papel fundamental nas
transformações da história da humanidade. O
texto escrito aumentava em muito a capacidade
de certas ideias se propagarem não só por
diversas regiões, mas também no tempo.,
mantendo-se por séculos e mesmo milênios.
Homero, o poeta grego que teria escrito as duas primeiras
obras da literatura grega (Ilíada e Odisseia) foi tratado por
séculos pelos europeus como o inventor da Literatura. Hoje há
muitas dúvidas sobre se de fato existiu um Homero – o mais
provável é que essas histórias tenham sido elaboradas por
poetas que as transmitiram ao longo de séculos até que aos
poucos elas tenham sido postas no papel. Esse é o caso mais
provável de todas as obras literárias mais antigas que
conhecemos.
Os dois escritores mais antigos de que temos notícia são:
Ptahhotep (Egito, c.2400 a.C.)
Enheduanna (Ur, c.2250 a.C.)
Fazia parte da burocracia do Faraó
e escreveu um livro com uma série
de ensinamentos de como se
comportar corretamente.
Foi uma sacerdotisa, filha de um
rei de Ur, e escreveu 42 hinos para
diferentes templos de cidades
sumérias.
22. O fim da Pré-História e a
aurora das “Civilizações”
O aumento da população humana, o desenvolvimento de relações sociais
mais complexas, o desenvolvimento tecnológico, o surgimento das cidades e
das grandes construções e a invenção da escrita fizeram surgir em alguns
lugares do mundo formas de vida muito mais elaborada e cheia de variáveis.
As grandes construções e a escrita tinham ainda uma segunda consequência:
restavam como herança de uma geração para outra, fazendo com que as
ideias de um tempo restassem por muito mais tempo influenciando as
gerações futuras. A tudo isso se acostumou dar o nome de “Civilização”.
O surgimento da Civilização sempre foi considerado um marco na História
Humana. Certamente, nossas vidas seriam completamente diferentes hoje se
os processos históricos que ocorreram no final da Pré-História fossem
outros. Todas as transformações que desencadearam o surgimento do nosso
mundo dependem da existência da agricultura, das cidade, da escritas, etc..
De toda forma, hoje os estudiosos contestam a ideia de que a vida na
“Civilização” seja necessariamente melhor do que a vida na “Barbárie” dos
povos pré-históricos. A verdade é que isso depende de inúmeros fatores,
como em qual sociedade você vive e, especialmente, a que grupo social você
pertence nessa sociedade. Se por um lado, a “Civilização” resolveu muitos
problemas do mundo pré-histórico, por outro lado ela criou outros
problemas que antes não existiam.
Cidade do México nos dias atuais.