O texto descreve a amizade entre Olímpia, uma girafa, e Dona Margarida, uma galinha-do-mato. Olímpia gosta de andar com a cabeça nas nuvens para ver os anjos, mas sua mãe a avisa para não pegar um resfriado. Quando a savana fica sem chuva por um mês, Olímpia parte para procurar ajuda e reencontra Dona Margarida. Juntas, elas sopram as nuvens de volta para o céu e Olímpia espirra para fazer chover e sal
1. “Olí mpia, Olí mpia, lá estás
tu outra vez com a cabeça
nas nuvens!”
Era tão alta que quando
levantava o pescoço e se
punha na ponta dos pés a
cabeça desaparecia entre as
nuvens.
2. “As nuvens são húmidas e
frias, Olimpiazinha, olha que
te constipas.”
3. Primeiro porque quando
espirram assustam todos os
outros bichos, e sacodem as
árvores e as coisas, e
algumas chegam mesmo a
perder a cabeça;…
4. …depois porque é difí cil
conseguir um cachecol capaz
de cobrir pescoços tão
compridos.
5. Olí mpia, porém, gostava de
andar com a cabeça nas
nuvens – queria ver os anjos.
A avó Rosália, mãe de
Dona Augusta, dissera-lhe
que os anjos dormem nas
nuvens.
À noite comia estrelas.
6. Enquanto as outras girafas
dormiam, Olí mpia subiu ao
morro mais alto da savana,
levantando o pescoço e
comia estrelas.
À medida que Olí mpia
comia estrelas, outras
7. estrelas nasciam, novinhas
em folha, brilhando ainda
mais do que as antigas.
Assim, de certa maneira,
ela renovava a noite.
Um dia, porém, descobriu
uma galinha-do-mato que
8. fizera ninho no meio das
nuvens.
O ninho estava cheio de
objectos brilhantes que a
9. galinha trouxera da terra –
três pares de óculos, oito
berlindes coloridos, um colar
de pérolas, um arco-í ris de
bolso, um olho de vidro…
Olí mpia e Dona Margarida
tornaram-se grandes amigas.
10. Como as nuvens correm no
céu, por vezes a grande
velocidade, Dona Margarida
viajava muito. Um dia estava
em cima da savana, e no
outro podia acordar em
11. Luanda, em Lisboa ou até em
Nova Iorque.
“Os homens são animais
estranhos: vivem
empoleirados uns em cima
dos outros, em grandes
galinheiros…”
12. Uma bela manhã Olí mpia
acordou e viu que não havia
nuvens. Enquanto o sol
brilhou o céu esteve sempre
azul.
13. Por onde andaria Dona
Margarida? Passou-se um mês
sem sinal de nuvens.
Não havendo nuvens
também não chove – e a
savana começou a secar. Era
difí cil encontrar alguma
coisa para comer.
14. Olí mpia era o único animal,
em toda a savana, que
continuava gordo.
Olí mpia decidiu então
partir à procura de ajuda.
Andou, andou, andou.
Andou muito.
15. Uma madrugada acordou
com um alegre cacarejar.
Abriu os olhos e viu a Dona
Margarida, lá em cima,
pendurada numa nuvem.
16. O que fazer?
“Já sei”, disse, “vamos
soprar as nuvens.”
17. As duas juntas soprando,
soprando, foram pouco a
pouco enchendo de nuvens o
céu da savana.
“E agora?”
Dona Margarida arrancou
uma pena da asa direita e
colocou-a no nariz da girafa:
“Agora espirra!”
18. Olí mpia espirrou.
O espirro sacudiu as
nuvens e começou a chover.
Choveu durante três dias e
a terra voltou a ficar verde.
19. É por isso que, até hoje,
as girafas são amigas das
galinhas do mato.