1. Disciplina de Português
Ficha de Trabalho
“Dom Quixote de la Mancha” de Miguel de Cervantes
A Espanha celebrou em 2005 os 400 anos da primeira edição de D. Quixote de La Mancha, surgido em 1605.
Para o governo espanhol tratou-se de aproveitar uma oportunidade única para afirmar a vocação
universal da cultura e da literatura espanhola e para colocar em execução um ambicioso plano de tornar
acessível a leitura para todos. Dia 8 de Maio de 2002, durante a entrega dos Prémios Nobel, o Instituto
Nobel e o Clube do Livro Norueguês, organizaram um concurso informal onde juntaram cerca de uma
centena de escritores vindos de 54 países diferentes, para lhes perguntarem qual o melhor livro de sempre.
Eles escolheram D. Quixote de La Mancha e alguns aconselharam os leitores a “não morrerem antes de o
lerem”!
Miguel de Cervantes (poeta, dramaturgo e novelista espanhol) nasceu a 9 de Outubro de 1547 em Alcalá
de Henares, em Espanha. Seguiu a carreira das armas e de cobrador de impostos até morrer na miséria em
1616. Escreveu poesias, comédias, sátiras, as excelentes "Novelas Exemplares" - 1613 - e sobretudo o
romance "Don Quijote de la Mancha" - 1605-1615 - que o colocou entre os mais célebres escritores de todos
os tempos. Não existem certezas sobre se Cervantes frequentou ou não a universidade. Sabe-se, contudo,
que teve estudos literários, e que alguma coisa aprendeu de humanidades, com o presbítero João Lopes, de
Hoyos. Vai para Itália aos 23 anos como escudeiro de D. Júlio Água Viva, um jovem teólogo letrado que
gostava das suas poesias. Na sua companhia percorreu as cidades italianas mais importantes até chegar a
Roma.
O renascimento literário italiano influenciou o autor de D. Quixote e tornou-o a força mais irresistível da
renascença. O seu génio aventureiro levou-o a sair do palácio do erudito e foi como soldado raso numa
expedição que o rei mandou a Chipre, em auxílio da República de Veneza, que o turco sultão Selim
ameaçava. Desde esta data começa a sua odisseia de desventuras e feitos militares, mas Cervantes nunca
passou de simples soldado.
Em 1571, na célebre batalha de Lepanto, perde a mão esquerda vendo-se coagido a abandonar o serviço
militar e a dirigir-se à corte a pedir a remuneração dos seus feitos de soldado. A embarcação onde seguia
foi aprisionada pelos marroquinos, tendo ficado prisioneiro em Argel. A sua família conseguiu trazê-lo de
volta a Espanha em 1580. Serviu nas campanhas de 1581 a 1583, na expedição que Filipe mandou aos
Açores, contra o Prior do Crato, que pretendia o trono de Portugal e envolve-se com uma dama
portuguesa, de quem teve uma filha natural, D.Isabel de Saavedra.
Em 1584 desposou legitimamente D. Catarina de Palácios Salazar y Vosnediano, dama de linhagem
fidalga. Sem esperança de obter uma carreira militar, pediu e obteve uma função civil. Foi nomeado
comissário de fazenda em Sevilha. Em 1585 publica a sua primeira obra, la Galatea, um romance pastoril.
Em 1605 publica a primeira parte de o engenhoso fidalgo Dom Quixote de la Mancha, sendo imediato o seu
êxito literário. Os últimos anos da sua vida são caracterizados por uma intensa produção criativa. No estilo
de Miguel de Cervantes, confluem todos os géneros novelescos, até então cultivados: o picaresco, o
pastoril, o mourisco e o cavalheiresco, sendo considerado o representante máximo das letras de língua
castelhana.
2. A sua obra capital, porém, é o D. Quixote, obra que dizem ter sido começada na cadeia de Toboso, onde foi
encerrado, acusado de peculato e concussões à fazenda.
Em 1605 é publicado e o seu êxito foi colossal. A glória e a fama saudaram-no, esgotaram-se
sucessivamente a fio, quatro edições. Isto porém não impediu que, passado o entusiasmo, Cervantes já
sexagenário e doente, morresse em 1616 pobre e esquecido dos reis por quem dera o seu sangue.
Camões e Cervantes
Há uma grande semelhança de destinos entre Camões, o épico lusitano, e
Cervantes, a encarnação do génio espanhol. Efectivamente, há uma certa
afinidade de sucessos entre eles: ambos foram dois génios que encarnaram a
pátria, ao mesmo tempo guerreiros e literários, ambos sofreram calúnias e
injustiças do seu tempo, ambos foram mutilados nas batalhas, ambos
encarcerados, e ambos tendo que comer o pão salgado do exílio de que falou o Dante.
Foi tão infeliz como soldado, como mal aventurado nas letras, como desditoso funcionário de estado. Só foi
verdadeiramente grande o seu génio reconhecido depois de morto.
Após a publicação da obra em 1605, começou a verificar-se uma enorme influência das personagens sobre a
sociedade europeia, chegando mesmo a existirem registos de um nobre português que se apresentou numa
festa em Valhadolide vestido de Dom Quixote e montado num cavalo, fazendo-se acompanhar por um
escudeiro que só podia ser Sancho Pança.
Dom Quixote de la Mancha
A história começa após o nosso cavaleiro – D. Quixote de la Mancha - a ler muitos livros sobre cavalaria andante, o
que o leva a enlouquecer e em consequência disso sente uma necessidade absoluta de também imitar os cavaleiros
andantes.
O nosso cavaleiro veste uma velha armadura, pertença dos seus ancestrais, convida o seu vizinho Sancho Pança
(prometendo-lhe, que se fosse seu fiel escuteiro, este lhe daria o governo de uma ilha), monta o seu cavalo, que
baptiza com o nome de Rocinante, e transforma-se no Dom Quixote. Cavaleiro, escudeiro, cavalo e burrico, partem
em busca de aventuras, salvando e protegendo fracos e oprimidos, donzelas em perigo e tantos outros injustiçados.
Os feitos que esperava realizar, dedicou-os por antecipação, à donzela Dulcinéia del Toboso, na verdade, uma
simples camponesa da região em que ele vivia, mas que na sua prodigiosa fantasia de doido era a mais digna das
damas. Tudo tão irreal quanto o demais. Durante as suas aventuras, Sancho Pança tenta, inutilmente, incutir em D.
Quixote algum princípio de realidade, isto porque durante todo o tempo o cavaleiro oscila em melancólicos sonhos.
D. Quixote é visto como um louco, de quem as pessoas zombam e ridicularizam. Tem, no entanto, momentos em
que é sábio, filósofo e poeta, de um mundo que o reprime, que zomba dele, que o humilha, não reconhecendo a sua
bondade infinita e o seu desejo incansável e extraordinário de salvar o mundo.
A história continua, quando um amigo seu, disfarçado de cavaleiro, lhe propõe um dueto, cujo oponente que for
vencido terá que obedecer ao vencedor.
D. Quixote perde e, como pagamento, o cavaleiro vencedor exige-lhe que deixe a vida de cavaleiro andante e que
volte para casa. No caminho começa a idealizar uma vida amena e tranquila no campo, onde ele e o seu amigo
Sancho viveriam à moda de pastores ao lado das suas “Dulcinéias”. Mas felizmente recupera-se da sanidade e
poucos dias depois morre.
3. Resumo do Livro
O protagonista da obra é Dom Quixote, um pequeno fidalgo castelhano que perdeu a razão por muita
leitura de romances de cavalaria e pretende imitar seus heróis preferidos. O romance narra as suas
aventuras em companhia de Sancho Pança, seu fiel amigo e companheiro, que tem uma visão mais realista.
A ação gira em torno das três incursões da dupla por terras de La Mancha, de Aragão e de Catalunha.
Nessas incursões, ele envolve-se numa série de aventuras, mas as suas fantasias são sempre desmentidas
pela dura realidade. O efeito é altamente humorístico. O encanto da obra nasce do descompasso entre o
idealismo do protagonista e a realidade na qual ele atua. Cem anos antes, Dom Quixote teria sido um herói
a mais nas crónicas ou romances de cavalaria, mas ele havia-se enganado no século. A sua loucura residia
no anacronismo. Isso permitiu ao autor fazer uma sátira da sua época, usando a figura de um cavaleiro
medieval em plena Idade Moderna para retratar uma Espanha que, após um século de glórias, começava a
duvidar de si mesma.
Crítica Literária
Considerado o primeiro romance moderno, D. Quixote de La Mancha foi eleito em 2002 o
melhor livro de todos os tempos por um conjunto de cem escritores nomeados pelo
Instituto Nobel. D. Quixote, um fidalgo de Castela assanhado pela leitura de romances de
cavalaria, decide que é seu "ofício e exercício andar pelo mundo endireitando tortos, e
desfazendo agravos" e parte à aventura na companhia de seu fiel e prosaico escudeiro,
Sancho Pança. As hilariantes maluquices do Cavaleiro Andante liquidam, com a sua
"moral do fracasso", as últimas ilusões da epopeia: aquilo a que Adorno chama "a
ingenuidade épica". Depois de D. Quixote, nada mais será igual.
As Personagens
As duas figuras centrais na história de Cervantes surgem na obra com um
contraste espantoso: o cavaleiro da triste figura, como D. Quixote a si próprio
chamou, magro e alto, aprumado no seu pangaré e o seu inseparável valet, o
pequenino e roliço Sancho, que se tornaram na sociedade de então os símbolos da
amizade e a bandeira do convívio entre a fantasia e a realidade.
As palavras de Sancho Pança tornam-se por demais verdadeiras: “ (..) que antes de muito tempo não há-de
haver albergaria, nem estalagem, nem, tenda de barbeiro por onde não ande pintada a história das nossas
façanhas”.
Os estudiosos da obra de Cervantes referem como pontos essenciais presentes no seu trabalho, a profunda
critica à sociedade da época e a diversão associada à mesma, procurando divertir, talvez a primeira das
reacções que Cervantes procurava. Exemplo desta afirmação encontra-se no seguinte: “esta Dulcineia del
Toboso, tantas vezes nesta história referida, dizem que teve melhor mão para salgar porcos que outra mulher alguma
de toda a mancha”.
4. O livro surgiu num período de grande inovação e diversidade por parte dos escritores ficcionistas espanhóis. Parodiou os
romances de cavalaria que gozaram de imensa popularidade
no período e, na altura, já se encontravam em declínio. Nesta
obra, a paródia apresenta uma forma invulgar. O protagonista,
já de certa idade, entrega-se à leitura desses romances, perde
o juízo, acredita que tenham sido historicamente verdadeiros
e decide tornar-se um cavaleiro andante. Por isso, parte pelo
mundo e vive o seu próprio romance de cavalaria. Enquanto
narra os feitos do Cavaleiro da Triste Figura, Cervantes
satiriza os preceitos que regiam as histórias fantasiosas
daqueles heróis. A história é apresentada sob a forma de
novela realista.
Causas do surgimento de Dom Quixote:
Perda da riqueza - Dom Quixote era um fidalgo, filho de pais ricos. No entanto, durante sua vida, ele vai perdendo
sua riqueza, pagando dívidas e comprando livros. Por isso, mergulha na literatura em busca da solução desta
dificuldade, até demais.
Mudança na sua vida - Além de perder sua riqueza, Dom Quixote começa a agir como um cavaleiro em busca de
uma mudança, uma nova vida. Ele já tinha uma idade relativamente avançada e vivia muito só. Por isso deixa-se
levar por imaginação e passa a viver num mundo ilusório, fantasioso.
Consequências da “loucura” de Dom Quixote
Lesão às pessoas - Ao agir como Dom Quixote, o cavaleiro não distinguia as pessoas com quem encontrava,
prejudicando algumas e, consequentemente, auxiliando outras, física e financeiramente. Perda da história - Quando
os amigos de Dom Quixote descobrem a causa de sua “insanidade”, decidem por acabar de vez com ela, queimando
todas as suas novelas de cavalaria. Por outro lado, ao agir desta forma, a sociedade comprova seu poder, eliminando
algo que possa causar mais problemas futuros, que possa incomodá-la.
Morte do personagem - Dom Quixote, inconsciente de seus atos, não percebe o desgaste de seu corpo e,
infelizmente, como ele próprio afirma, só retorna à realidade quando já está nos momentos finais de sua vida. Morre
arrependido, mas em paz por tê-la feito a tempo.
Conclusão - O livro de Miguel de Cervantes retoma a história do povo espanhol e da Europa, retratando as aventuras
de seus inúmeros cavaleiros, sendo por isso considerado a última novela de cavalaria. Critica também as atitudes da
sociedade e como alguns componentes desta alertaram para o problema de Dom Quixote e se esforçaram para
tentar solucioná-lo.
Cronologia
1547 - Nasce Miguel de Cervantes Saavedra. 1551 - O pai, Rodrigo, é preso por causa de dívidas de jogo.
1566 - A família instala-se em Madrid. 1569 - Após incidente no qual teria ferido um homem, deixa Madrid e vai morar em
Roma.
1571 - Participa da batalha de Lepanto, contra os turcos. Ferido em combate, tem a mão esquerda inutilizada.
1575 - Capturado por corsários, é levado para Argel, com seu irmão Rodrigo, onde fica cinco anos em cativeiro.
1581 - Vai para Lisboa, onde escreve peças de teatro.
1584 - De um romance com Ana Franca, nasce Isabel de Saavedra. Casa-se com Catalina de Palácios Salazar.
1585 - Publica La Galatea. Morte do pai. 1587 - É nomeado comissário real encarregado de recolher azeite e trigo para a Armada
Invencível. 1593 - Morte da mãe. Publicação do romance La casa de los celos. 1597 - É preso em Sevilha, após ser condenado a
pagar dívida exorbitante.
1598 - Deixa a prisão. Morte de Ana Franca. 1605 - É publicada a primeira parte de Dom Quixote de La Mancha.
1613 - Ingressa na Ordem Terceira de São Francisco. Publicação de Novelas exemplares.
1614 - Surge uma continuação de Dom Quixote, escrita por Avellaneda.
1615 - Cervantes publica a segunda parte de Dom Quixote de La Mancha.
1616 - Morre em Madrid, no dia 23 de abril.