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CADERNOSDEEDUCAÇÃOAMBIENTALAGRICULTURASUSTENTÁVEL
13
AGRICULTURA
SUSTENTÁVEL
CadernosdeEducaçãoAmbiental
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE
COORDENADORIA DE BIODIVERSIDADE
E RECURSOS NATURAIS
13
Capa Caderno de Agricultura Sustentavel 2011-12.indd 1 20/05/2011 09:53:07
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE
COORDENADORIA DE BIODIVERSIDADE
E RECURSOS NATURAIS
SÃO PAULO - 2012
Autora:
Araci Kamiyama
Agricultura
CadernosdeEducaçãoAmbiental
Sustentável
13
04717 - 35538001miolo.indd 104717 - 35538001miolo.indd 1 23/5/2011 10:04:2923/5/2011 10:04:29
S24a São Paulo (Estado) . Secretaria do Meio Ambiente / Coordenadoria
de Biodiversidade e Recursos Naturais.Agricultura sustentável.
Kamiyama,Araci. - - São Paulo: SMA, 2011.
7 p., x 2 , cm (Cadernos de Educação Ambiental, 13)
Bibliografia.
ISBN – 978-85-86624-84-1
1.Agricultura sustentável 2.Agroecologia 3. Produtos orgânicos
4. Sistemas agroflorestais I.Título. II. Série.
Catalogação na fonte: Lucia Marins - CRB 4908
Ficha Catalográfica – preparada pela:
Biblioteca – Centro de Referências de Educação Ambiental
CDU – 349.6
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6 15,5 2 3
1 Reimpressão 2012a
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Governador
SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE
Secretário
COORDENADORIA DE
BIODIVERSIDADE E
RECURSOS NATURAIS
Geraldo Alckmin
Bruno Covas
Helena Carrascosa
von Glehn
04717 - 35538001miolo.indd 304717 - 35538001miolo.indd 3 23/5/2011 10:04:3023/5/2011 10:04:30
SOBRE A SÉRIE CADERNOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
ASOCIEDADE BRASILEIRA, CRESCENTEMENTE PREOCUPADA COM AS QUESTÕES ECOLÓGICAS,
MERECE SER MAIS BEM INFORMADA SOBRE A AGENDA AMBIENTAL. AFINAL, O DIREITO À
INFORMAÇÃO PERTENCE AO NÚCLEO DA DEMOCRACIA. CONHECIMENTO É PODER.
CRESCE, ASSIM, A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL.A CONSTRUÇÃO DO AMANHÃ EXIGE
NOVAS ATITUDES DA CIDADANIA, EMBASADAS NOS ENSINAMENTOS DA ECOLOGIA E DO DESENVOLVI-
MENTO SUSTENTÁVEL. COM CERTEZA, A MELHOR PEDAGOGIA SE APLICA ÀS CRIANÇAS, CONSTRUTORAS
DO FUTURO.
A SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO, PREOCUPADA EM TRANSMITIR,
DE FORMA ADEQUADA, OS CONHECIMENTOS ADQUIRIDOS NA LABUTA SOBRE A AGENDA AMBIENTAL,
CRIA ESSA INOVADORA SÉRIE DE PUBLICAÇÕES INTITULADA CADERNOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL. A
LINGUAGEM ESCOLHIDA, BEM COMO O FORMATO APRESENTADO, VISA ATINGIR UM PÚBLICO FORMADO
PRINCIPALMENTE POR PROFESSORES DE ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO, OU SEJA, EDUCADORES DE
CRIANÇAS E JOVENS.
OS CADERNOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL, FACE À SUA PROPOSTA PEDAGÓGICA, CERTAMENTE
VÃO INTERESSAR AO PÚBLICO MAIS AMPLO, FORMADO POR TÉCNICOS, MILITANTES AMBIENTALISTAS,
COMUNICADORES E DIVULGADORES, INTERESSADOS NA TEMÁTICA DO MEIO AMBIENTE. SEUS TÍTULOS
PRETENDEM SER REFERÊNCIAS DE INFORMAÇÃO, SEMPRE PRECISAS E DIDÁTICAS.
OS PRODUTORES DE CONTEÚDO SÃO TÉCNICOS, ESPECIALISTAS, PESQUISADORES E GERENTES DOS
ÓRGÃOS VINCULADOS À SECRETARIA ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE. OS CADERNOS DE EDUCAÇÃO
AMBIENTAL REPRESENTAM UMA PROPOSTA EDUCADORA, UMA FERRAMENTA FACILITADORA, NESSA DI-
FÍCIL CAMINHADA RUMO À SOCIEDADE SUSTENTÁVEL.
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CADERNOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL - AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
AAGRICULTURA É UMA DAS ATIVIDADES PRODUTIVAS MAIS IMPORTANTES DE QUALQUER NA-
ÇÃO, MAS SUA PRÁTICA REQUER CUIDADOS ESPECIAIS, POIS A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS
ESTÁ DIRETAMENTE LIGADA À QUALIDADE AMBIENTAL. SEGUINDO OS PRECEITOS DO DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL, O SETOR AGRÍCOLA, COMO UM DOS PRINCIPAIS MOTORES ECONÔMICOS DO BRASIL,
FICOU MAIS ATENTO ÀS QUESTÕES AMBIENTAIS NAS ÚLTIMAS DÉCADAS. PARALELAMENTE A ISSO, O
CONSUMIDOR PASSOU A PRIORIZAR UMA DIETA MAIS SAUDÁVEL, BASEADA EM ALIMENTOS QUE NÃO
AGRIDEM O MEIO AMBIENTE.
O CONCEITO DE AGRICULTURA SUSTENTÁVEL SURGIU NA DÉCADA DE 1980, EM RESPOSTA ÀS
TÉCNICAS E MÉTODOS EMPREGADOS NA AGRICULTURA CONVENCIONAL, QUE AO LONGO DOS ÚLTIMOS
ANOS PERMITIU AUMENTAR A PRODUÇÃO MUNDIAL DE ALIMENTOS E DIMINUIU CUSTOS DE PLANTIO,
TRANSPORTE E COMERCIALIZAÇÃO. NO ENTANTO, ESTE TIPO DE AGRICULTURA TAMBÉM PROVOCOU A
DEGRADAÇÃO DO SOLO E A PERDA DA BIODIVERSIDADE, COM A PRÁTICA DA MONOCULTURA E O USO
INDISCRIMINADO DE FERTILIZANTES E AGROTÓXICOS.
SEGUNDO A FAO (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA AGRICULTURA E ALIMENTA-
ÇÃO), AGRICULTURA SUSTENTÁVEL CONSISTE, ENTRE OUTROS FATORES, “NA CONSERVAÇÃO DO SOLO,
DA ÁGUA E DOS RECURSOS GENÉTICOS ANIMAIS E VEGETAIS, ALÉM DE NÃO DEGRADAR O AMBIENTE, SER
TECNICAMENTE APROPRIADA, ECONOMICAMENTE VIÁVEL E SOCIALMENTE ACEITÁVEL”. ESTE CONCEITO
TEM SIDO CADA VEZ MAIS APLICADO NAS LAVOURAS BRASILEIRAS, INCLUSIVE POR UMA DEMANDA DA
PRÓPRIA SOCIEDADE.
NÃO SE TRATA, PORÉM, DE VOLTAR AOS MÉTODOS E TÉCNICAS PRATICADOS ANTES DO SÉCULO
XVIII E DAS REVOLUÇÕES AGRÍCOLAS, MAS SIM DE DESVINCULAR A IDEIA DE QUE AGRICULTURA E MEIO
AMBIENTE NÃO PODEM CAMINHAR JUNTOS. ESTE É UM DOS OBJETIVOS DO CADERNO - AGRICULTURA
SUSTENTÁVEL. A PUBLICAÇÃO ABORDA, TAMBÉM, OS SISTEMAS AGROFLORESTAIS, A MUDANÇA DO
SISTEMA CONVENCIONAL PARA O ORGÂNICO, A GARANTIA DE QUALIDADE E A COMERCIALIZAÇÃO DE
ALIMENTOS PRODUZIDOS EM HARMONIA COM O MEIO AMBIENTE.
BRUNO COVAS
SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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CADERNOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL “AGRICULTURA SUSTENTÁVEL”
APREOCUPAÇÃO COM A QUALIDADE DOS ALIMENTOS E AS QUESTÕES AMBIENTAIS GLOBAIS, LI-
GADAS ÀS PERSPECTIVAS DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS, COMO A DESTRUIÇÃO DAS FLORESTAS,
CHUVAS ÁCIDAS E EFEITO ESTUFA, NO FINAL DOS ANOS 80, EXTRAPOLA O AMBIENTE ACADÊMICO E DAS
INSTITUIÇÕES. O CONCEITO DE QUE O CRESCIMENTO ECONÔMICO DEVE CONCILIAR COM CONSERVAÇÃO
DOS RECURSOS NATURAIS JÁ ERA CONSENSO PARA A SOCIEDADE. ASSIM, OS CONSUMIDORES MAIS
CONSCIENTES E PREOCUPADOS COM A QUALIDADE DE VIDA, PASSAM A INTERFERIR NO SISTEMA DE PRO-
DUÇÃO AGRÍCOLA, DEMANDANDO PRODUTOS COMPROVADAMENTE MAIS SUSTENTÁVEIS E SAUDÁVEIS.
NESTE CONTEXTO, SURGEM DIVERSOS MOVIMENTOS EM PROL DA AGRICULTURA SUSTENTÁVEL,
FAZENDO SURGIR DIVERSAS DEFINIÇÕES SOBRE O TEMA.
MAS, O QUE É AGRICULTURA SUSTENTÁVEL?
DE UM MODO GERAL, AO ANALISAR AS DEFINIÇÕES, TODAS EXPRESSAM A NECESSIDADE DE SE
ESTABELECER UM NOVO PADRÃO PRODUTIVO, QUE UTILIZE, DE FORMA MAIS RACIONAL, OS RECURSOS
NATURAIS E MANTENHA A CAPACIDADE PRODUTIVA NO LONGO PRAZO.
SABE-SE QUE A ATIVIDADE AGRÍCOLA PRATICADA COM TÉCNICAS AGROECOLÓGICAS (ORGÂNICA,
BIODINÂMICA, NATURAL, ECOLÓGICA) É UMA ALTERNATIVA VIÁVEL, SUSTENTÁVEL E AUMENTA A COM-
PETITIVIDADE DO AGRICULTOR, SOBRETUDO O AGRICULTOR FAMILIAR.
O CADERNO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL “AGRICULTURA SUSTENTÁVEL” APRESENTA, DE FORMA
CLARA E OBJETIVA, ALGUMAS DEFINIÇÕES SOBRE O TEMA, AS DIFERENTES VERTENTES DA AGRICULTU-
RA SUSTENTÁVEL E AS PRINCIPAIS PRÁTICAS DE PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO AGROECOLÓGICAS.
COM AS RECOMENDAÇÕES DE DIVERSOS ÓRGÃOS INTERNACIONAIS, FICA EVIDENTE QUE AS POLÍTICAS
VOLTADAS À ADOÇÃO DE MÉTODOS DE PRODUÇÃO MAIS SUSTENTÁVEIS PODEM DESENVOLVER NOVOS
MERCADOS, MELHORAR A RENDA E GARANTIR A SEGURANÇA ALIMENTAR DA POPULAÇÃO.
HELENA CARRASCOSA VON GLEHN
COORDENADORA DE BIODIVERSIDADE E RECURSOS NATURAIS
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...............................................................................................9
2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL............................................................15
3. A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL..................................................................19
4. AGROECOLOGIA.........................................................................................25
5. O SOLO E AS PRINCIPAIS PRÁTICAS DE MANEJO AGROECOLÓGICO..........35
6. SISTEMAS AGROFLORESTAIS.......................................................................49
7. MUDANÇA DO SISTEMA CONVENCIONAL PARA O SISTEMA ORGÂNICO...53
8. GARANTIA DA QUALIDADE ORGÂNICA NOS PRODUTOS............................59
9. COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS ORGÂNICOS........................................63
10. RECOMENDAÇÕES DE ÓRGÃOS INTERNACIONAIS......................................69
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................72
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1. Introdução
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1. Introdução
AGRICULTURA SUSTENTÁVEL10
As primeiras formas de agricultura surgiram em torno de 10 mil
anos atrás, no período da pré-história denominado NEOLÍTICO.
Nesse período, ocorreram as primeiras formas de domesticação de espécies
de vegetais e animais e o clima foi se tornando mais ameno e adequado
ao cultivo de alimentos. O uso de técnicas, mesmo que inicialmente rudi-
mentares, passou a fazer parte do cotidiano dos primeiros aglomerados
humanos. Destaca-se o uso do fogo e de algumas ferramentas, assim como
do esterco animal.
Entre os anos de 8 mil e 6 mil a.C., a agricultura foi se desenvolvendo
de forma diferente e independente nas diversas partes do mundo, prova-
velmente nos vales fluviais habitados por antigas civilizações. O ser huma-
no não necessitava mais coletar seu alimento na natureza (frutos, raízes e
folhas). No Oriente Médio e na Europa desenvolveu-se, principalmente, o
trigo e a cevada; no continente americano, o milho, o feijão e a batata; na
Ásia, o arroz.
As principais características deste período são:
√ A domesticação de espécies animais (criações) e vegetais (culti-
vos) e o aumento da produção de alimentos;
√ O aparecimento das primeiras comunidades, pois com o desen-
volvimento da agricultura, o homem deixa de ser nômade para morar em
aldeias, vilas ou cidades;
√ As primeiras comunidades localizam-se nas proximidades dos rios
e lagos. A água, além de atender as necessidades humanas e dos animais
domesticados, assume a função de irrigar o solo para o cultivo de alimentos.
√ O desenvolvimento da cerâmica, que ocorreu associado à neces-
sidade de armazenamento dos alimentos.
√ O início das trocas de produtos entre as comunidades, devido à
produção excedente.
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Foi somente no século 18, com o advento da agricultura moderna, que
a produção em maior escala começou, caracterizando a Primeira Revolu-
ção Agrícola, que ainda mantinha as seguintes características:
√ A integração da produção agrícola e pecuária;
√ O domínio sobre as técnicas de produção em maior escala e
√ Aintensificaçãodousoderotaçãodeculturascomplantasforrageiras.
Em meados do século 19, até o início
do século XX, a Segunda Revolução Agrí-
cola marcou uma série de descobertas
científicas e avanços tecnológicos. Suas
principais características são:
√ O melhoramento genético das
plantas e o uso de fertilizantes químicos;
√ O distanciamento da produção
vegetal, da produção animal e
√ A prática da monocultura.
Aliadas a outras práticas agrícolas, como o uso de variedades melho-
radas, irrigação, uso intensivo de insumos industriais, sobretudo os fertili-
zantes químicos e os agrotóxicos, e uso intensivo de máquinas agrícolas no
preparo do solo caracterizaram a chamada “Revolução Verde”. Este mo-
delo produtivo que vem sendo praticado nas últimas décadas é, também,
chamado de agricultura convencional.
111. INTRODUÇÃO
Figura 1. Quadro de Jean Millet
mostrando a agricultura no século 18
Figura 2b. Cultivo convencional de
cenoura (2006).
Foto: Sebastião Wilson Tivelli
Figura 2a. Cultivo convencional de batata,
utilizando pulverização com mangueira
(2006). Foto: Sebastião Wilson Tivelli
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A Revolução Verde teve seus méritos: aumentou a produção mundial
de alimentos e diminuiu os custos de produção (benefícios repassados aos
consumidores). Contudo, os resultados ambientais e sociais não foram os
melhores:
√ Degradação dos solos pela ocorrência de erosão, acidificação, sa-
linização e compactação;
√ Desmatamentos ilegais;
√ Erosão genética e perda da biodiversidade pela especialização da
produção;
√ Contaminação da água, solos e dos alimentos pelo uso inadequa-
do de adubos químicos e agrotóxicos;
√ Intoxicação de agricultores, trabalhadores rurais e consumidores
pelo uso indevido de agrotóxicos;
√ Aparecimento de novas pragas e surgimento de pragas resisten-
tes;
√ Concentração de renda e exclusão social.
Figura 3. Perigosa vala de erosão em estrada
rural municipal, em Campinas, SP.
Foto: Paulo Espíndola Trani, 2005
(Instituto Agronômico, SP)
Figura 4. Voçoroca em áreas inicial-
mente cobertas com pastagem no
Pontal do Paranapanema, SP.
Foto: P. Espíndola Trani, 1995
AGRICULTURA SUSTENTÁVEL12
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Em resposta a esses impactos, surgiram diversos movimentos em prol
de uma agricultura mais sustentável, ambiental e socialmente. Os diversos
movimentos, cada um com suas especificidades, se voltaram para práticas
agrícolas que respeitavam os recursos naturais e o conhecimento tradi-
cional. Podemos destacar os movimentos orgânico, biodinâmico, natural,
regenerativo, permacultura, dentre outros.
As discussões sobre os impactos ambientais e sociais da agricultura
convencional, em meados dos anos 80, juntaram-se às questões ambien-
tais globais (destruição de florestas, chuvas ácidas, acidentes ambientais,
efeito estufa), saindo do ambiente agronômico e das instituições e atin-
gindo os consumidores. Preocupados com a qualidade dos produtos que
estão ingerindo e os danos ambientais causados pelo modelo convencional
agrícola, os consumidores passaram a interferir no sistema de produção,
por meio da demanda por produtos saudáveis, que fossem produzidos res-
peitando o meio ambiente e a saúde dos trabalhadores.
Surgiu, então, o termo “agricultura sustentável”. Neste contexto, o
Relatório de Brundtland foi fundamental para que o conceito de susten-
tabilidade, antes restrito a outros ramos da economia, fosse estendido para
a agricultura. Também intitulado “Nosso Futuro Comum”, foi elaborado
em 1987 pela CMMAD - Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e De-
senvolvimento e aponta para a incompatibilidade entre desenvolvimento
sustentável e os padrões de produção e consumo vigentes.
O Relatório de Brundtland é um documento intitulado
“Nosso Futuro Comum” e foi elaborado em 1987. Aponta
para a incompatibilidade entre o desenvolvimento susten-
tável e os padrões de produção e consumo vigentes.
1. INTRODUÇÃO 13
04717 - 35538001miolo.indd 1304717 - 35538001miolo.indd 13 23/5/2011 10:04:3523/5/2011 10:04:35
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2
2. Desenvolvimento
Sustentável
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Apalavra sustentável é originada do latim: sus-tenere e significa
“sustentar, suportar ou manter”. É utilizada, na Língua Inglesa,
desde o século 13, mas somente a partir dos anos 80 o termo “sustentá-
vel” começou a ser empregado com maior frequência1
.
O Desenvolvimento Sustentável possui basicamente duas vertentes:
√ Uma que privilegia o aspecto econômico e as relações que as ati-
vidades econômicas têm com o consumo crescente de energia e recursos
naturais e
√ Outra que considera os aspectos econômicos, sociais e ambien-
tais, estabelecendo desafios importantes para muitas áreas do conheci-
mento, implicando em mudanças nos padrões de consumo e do nível de
conscientização.
De acordo com o “Alternative Treaty on Sustainable Agriculture”2
:
“O desenvolvimento sustentável é um modelo social e econômico de
organização baseado na visão equitativa e participativa do desenvolvimen-
to e dos recursos naturais,como fundamentos para a atividade econômica”.
As críticas ao modelo de produção convencional já haviam surgido,
como a publicação, em 1962, do livro Primavera Silenciosa, da pesquisado-
ra Rachel Carson, nos EUA.
A publicação mostrou como se dava a contaminação da cadeia ali-
mentar pelo inseticida DDT (sigla de Dicloro-Difenil-Tricloroetano). Ao ser
utilizado como inseticida, o DDT mostrou a vulnerabilidade do ambiente à
ação humana, pois este se acumulava nos tecidos gordurosos do homem e
dos animais, com sérios riscos à saúde e ao meio ambiente. O livro também
questionava a confiança cega da humanidade no progresso tecnológico,
tornando-se uma das maiores referências para o movimento ambientalista
e aumentando a conscientização da população sobre o perigo no uso dos
pesticidas.
AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
1
Ehlers, 1999.
2
Global Action, 1993.
16
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A preocupação com os problemas ambientais gerou uma série de en-
contros internacionais a partir do final da década de 1960.A evolução dos
conceitos de desenvolvimento sustentável e os principias eventos ambien-
tais internacionais são apresentados na Tabela 1.
Tabela 1. Principais eventos ambientais internacionais (anos 1960 - 1990)
EVENTO OBSERVAÇÕES
(1968)
Clube de Roma
A impossibilidade do crescimento infinito com recursos finitos.
A conclusão do encontro foi que se as atuais tendências de crescimento
da população mundial, industrialização, poluição, produção de alimen-
tos e diminuição de recursos naturais continuarem imutáveis, os limites
de crescimento neste planeta serão alcançados dentro dos próximos
cem anos.
(1972)
Conferência de
Estocolmo
Ampliação do conceito de degradação ambiental, antes entendida ape-
nas como poluição industrial.
Tornaram-se evidentes a divergências entre os países industrializados e
os países não industrializados.
No Brasil, a oposição ao padrão produtivo da agrícola convencional
concentrou-se em um movimento que ficou conhecido como “agricul-
tura alternativa”.
(1987)
Relatório Brundtland,
da Comissão Mundial
de Meio Ambiente e
do Desenvolvimento
CMMAD
Definição oficial do conceito de Desenvolvimento Sustentável.
Primeira discussão do método para encarar a crise ecológica.
Foi um documento importante para estender os conceitos de desenvol-
vimento sustentável dos diversos setores para, também, a agricultura.
No Brasil, surgem diversas ONGs que exerceram papel fundamental no
desenvolvimento da agricultura sustentável no país
(1992)
Conferência do Rio
Conferência sobre
Meio
Ambiente e Desen-
volvimento
Princípio de que os países desenvolvidos têm maior parcela de respon-
sabilidade pela degradação ambiental.
Foi importante para o reconhecimento das conseqüências das mudan-
ças climáticas sobre o meio ambiente.
Evidencia a vontade das nações de conciliar o desenvolvimento eco-
nômico e o meio ambiente, integrando a problemática ambiental ao
campo da economia.
2. DESENVOLVIMENTO SUTENTÁVEL
Em 1962, a pesquisadora Rachel Carson lançou o livro
“Primavera Silenciosa”.
A publicação mostrou que o DDT e outros pesticidas
penetravam na cadeia alimentar, contaminando o
homem e o meio ambiente.
FONTE: http://amazon.com
17
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3
3.A Agricultura
Sustentável
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AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Oconceito de sustentabilidade na agricultura, a partir dos anos 70,
ganha interesse de profissionais, pesquisadores e produtores, fa-
zendo surgir uma infinidade de definições sobre o tema.
De um modo geral, ao analisar as inúmeras definições de Agricultura
Sustentável, as elaboradas pela FAO (Organização das Nações Unidas para
aAgricultura eAlimentação) e NCR (National Research Council) se comple-
mentam e, apesar de ainda não haver um consenso, dado a complexidade
do assunto, são as mais aceitas internacionalmente:
“A agricultura sustentável não constitui algum conjunto de práticas
especiais, mas sim um objetivo: alcançar um sistema produtivo de alimento
e fibras que: aumente a produtividade dos recursos naturais e dos sistemas
agrícolas, permitindo que os produtores respondam aos níveis de deman-
da engendrados pelo crescimento populacional e pelo desenvolvimento
econômico; produza alimentos sadios, integrais e nutritivos que permitam
o bem-estar humano; garanta uma renda líquida suficiente para que os ag-
ricultores tenham um nível de vida aceitável e possam investir no aumento
da produtividade do solo, da água e de outros recursos; e corresponda às
normas e expectativas da comunidade.”3
“Agricultura sustentável é o manejo e a conservação da base de re-
cursos naturais e a orientação tecnológica e institucional, de maneira a
assegurar a obtenção e a satisfação contínua das necessidades humanas
para as gerações presentes e futuras.Tal desenvolvimento sustentável (ag-
ricultura, exploração florestal e pesca) resulta na conservação do solo, da
água e dos recursos genéticos animais e vegetais, além de não degradar
o ambiente, ser tecnicamente apropriado, economicamente viável e social-
mente aceitável.”4
Pode-se dizer que praticamente todas as definições expressam a ne-
cessidade de se estabelecer outro padrão produtivo que utilize, de forma
3
NCR (National Research Council), 1989.
4
FAO, citado por Ehlers, 1999.
20
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3. A AGRICULTURA SUTENTÁVEL
mais racional, os recursos naturais e mantenha a capacidade produtiva no
longo prazo.
Atualmente a palavra “sustentabilidade” é mundialmente conhecida e
cada vez mais utilizada em todos os setores da economia. No entanto, não
há um consenso quanto ao seu real conceito. O significado é distinto para
diferentes pessoas e revela valores e percepções muitas vezes conflitantes
sobre a utilização dos recursos naturais e o desenvolvimento econômico e
social.
Portanto, uma definição única e de consenso global, sobre os termos
“sustentabilidade”, “desenvolvimento sustentável” ou “agricultura sus-
tentável” é inadequada.
No Brasil, alguns pesquisadores deixaram grandes contribuições ao
desenvolvimento da agricultura sustentável, uma vez que contestaram o
modelo vigente e apresentaram propostas de um novo padrão produtivo.
Destacam-se os trabalhos de Adilson Paschoal,Ana Maria Primavesi e José
Lutzemberger.
Em 1976, José Lutzemberger lançou o Manifesto ecológico brasileiro:
fim do futuro? Como tinha grandes conhecimentos no setor de agrotó-
xicos, pois havia trabalhado durante 15 anos na área, o pesquisador fez
severas críticas à agricultura convencional e propôs uma agricultura mais
ecológica.
Em 1979, Adilson Paschoal publicou Pragas, praguicidas e crise am-
biental, que recebeu o Prêmio Ipês de Ecologia, concedido pela Funda-
ção GetúlioVargas, para trabalhos sobre ecologia no Brasil. O livro mostrou
que o aumento do consumo de agrotóxicos vinha provocando o aumento
do número de pragas nas lavouras, por eliminar também grande parte dos
inimigos naturais e por proliferar pragas resistentes às aplicações.
Nos anos 1980, Ana Maria Primavesi lançou o livro Manejo Ecológi-
A Agricultura Sustentável no Brasil
21
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co do Solo, destacando a importância do manejo adequado dos recursos
naturais na agricultura tropical. Mas, a importância de Primavesi extrapola
a área técnica. Considerada a mãe da agricultura sustentável, deu grande
contribuição para a base científica da Agricultura Sustentável e para o mo-
vimento agroecológico brasileiro.
O livro Manejo Ecológico do Solo é considerado uma
referência técnica para a agricultura sustentável no
Brasil.
FONTE: http://fnac.com.br
“O futuro do Brasil está ligado à sua terra. O mane-
jo adequado de seus solos é a chave mágica para a
prosperidade e bem estar geral. A natureza em seus
caprichos e mistérios condensa em pequenas coisas,
o poder de dirigir as grandes; nas sutís, a potência
de dominar as mais grosseiras; nas coisas simples, a
capacidade de reger as complexas.”
Ana Maria Primavesi
j
p
c
o
d
c
Na segunda metade dos anos 1970, formou-se, na AEASP - Associação
de Engenheiros Agrônomos do Estado de São Paulo, um grupo de “agri-
cultura alternativa”, termo usado nesse período para designar as várias
experiências de contestação à agricultura convencional. O grupo discutia
os problemas sociais, ecológicos e econômicos da agricultura convencional
e propunha alternativas mais sustentáveis.
Durante a década de 1980, o movimento da agricultura sustentável
ganhou força com a realização de três Encontros Brasileiros de Agricultura
Alternativa (EBAAs). De início. as discussões eram mais focadas em as-
pectos tecnológicos e na degradação ambiental provocada pela Revolução
Verde. No terceiro EBAA, o foco voltou-se às questões sociais da produção,
AGRICULTURA SUSTENTÁVEL22
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sobrepondo-as às questões ecológicas e técnicas. A partir deste encontro,
foram realizados diversos Encontros Regionais de Agricultura Alternativa
(ERAAs), nos quais foram incorporados, de modo permanente, os aspectos
socioeconômicos aos ecológicos e técnicos5
.
No Brasil, as organizações não governamentais – ONGs, como re-
presentantes dos anseios da sociedade, exerceram papel fundamental no
desenvolvimento da agricultura sustentável em suas diferentes vertentes,
sendo responsáveis pela pressão para que haja políticas públicas no setor.
Ainda na década de 80, surgiram várias ONGs voltadas para a “agri-
cultura alternativa”, termo que foi substituído numa fase seguinte por
“agricultura ecológica”. Atualmente, o termo “agricultura orgânica” é
comumente utilizado de forma abrangente, para designar as diferentes
vertentes.
Esses trabalhos e eventos despertaram, de um lado, o interesse da
opinião pública para as questões ambientais, e de outro, o interesse de
agricultores para a adoção de tecnologias mais sustentáveis, fortalecendo
o movimento agroecológico no país.
A adesão de pesquisadores ao movimento alternativo teve desdobra-
mentos importantes para a ciência e tecnologia, sobretudo na busca por
fundamentação científica para as propostas técnicas do sistema agroeco-
lógico.
5
Ehlers, 1999.
3. A AGRICULTURA SUTENTÁVEL 23
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4
4.Agroecologia
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AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Otermo “agroecologia” é geralmente empregado para designar
a incorporação de idéias ambientais e sociais aos sistemas de
produção.
No Brasil, o termo “agroecológico” ou “agricultura agroecológica”
é algumas vezes empregado para designar um segmento da agricultura
sustentável, que tem foco nos aspectos sociais da produção, como se fos-
sem um grupo à parte do movimento orgânico crescente no país. Mas, o
seu significado é mais amplo, constituindo-se em uma nova abordagem da
agricultura, que integra as diversas descobertas e estudos da natureza e
suas inter-relações aos aspectos econômicos, sociais e ambientais da pro-
dução de alimentos.
De forma resumida, podemos dizer que a Agroecologia é a base, o
alicerce, onde foram construídas as principais vertentes ou “correntes” de
uma agricultura sustentável, como:
Agricultura Orgânica ou Biológica;
Agricultura Biodinâmica;
Agricultura Natural e
Permacultura.
4.1 Agricultura Orgânica
A agricultura orgânica é a linha mais difundida da agroecologia. A
IFOAM (Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica)
e o Governo Federal têm como princípio e prática a agregação de todas as
demais vertentes à agricultura orgânica, respeitando as especificidades de
cada uma.
Sua base técnica está na manutenção da fertilidade do solo e da saúde
das plantas por meio da adoção de boas práticas agrícolas, como a diver-
sificação e rotação de culturas, adubação orgânica, manejo ecológico de
pragas e doenças e a preservação ambiental.
De acordo com a Lei Federal nº 10.831, de 23 de dezembro 20036
:
6
Brasil, 2003.
26
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4. AGROECOLOGIA
“Considera-se sistema orgânico de produção agropecuária todo aquele
em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos
recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade
cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade eco-
nômica e ecológica; a maximização dos benefícios sociais; a minimização
da dependência de energia não-renovável, empregando, sempre que possí-
vel, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de
materiais sintéticos; e a eliminação do uso de organismos geneticamente
modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de pro-
dução, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a
proteção do meio ambiente”.
Considerado o pai da agricultura orgânica, Sir Albert Howard, re-
alizou diversos estudos sobre compostagem e adubação orgânica, como
resultado de sua vivência, durante quase 30 anos com agricultores tradi-
cionais indianos. Os estudos realizados na Índia resultaram na publicação
do livro Um Testamento Agrícola, de 1940, que é considerado um marco
para a agricultura orgânica. No entanto, coube à Lady Balfour a respon-
sabilidade pela divulgação e aceitação desses conceitos na comunidade
européia. A pesquisadora publicou The Living Soil (O solo vivo), em 1943,
que deu origem àThe SoilAssociation (Associação do Solo), principal órgão
representativo do setor orgânico da Grã-Bretanha.
Sistema orgânico x convencional
A agricultura orgânica é um sistema de produção que se contrapõe ao
sistema convencional. A Tabela 2 destaca as principais diferenças entre os
dois sistemas de produção.
27
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Tabela 2. Principais diferenças entre sistema convencional e orgânico.
INDICADORES CONVENCIONAL ORGÂNICO
Manejo do Solo Degradação ambiental por
práticas inadequadas:
• Monocultura
• Uso intensivo de máquinas
e implementos agrícolas
• Baixa cobertura do solo
Preservação ambiental por
uso de boas práticas agríco-
las:
• Maior diversidade de uso
do solo
• Uso racional de máquinas e
implementos
Boa cobertura do solo
Pragas e Doenças Medidas de controle:
Uso intensivo de agrotóxicos
Favorecimento de novas es-
pécies de pragas e doenças
Eliminação dos inimigos na-
turais das pragas pelo uso
inadequado de agrotóxicos.
Uso de medidas preventivas
Manejo ecológico de pragas e
doenças.
Quando necessário, utilização
de produtos não contaminan-
tes.
Adubação Uso intensivo de adubos quí-
micos
Uso de adubos orgânicos
(composto, esterco, adubo
verde).
Número de Espécies ou Varie-
dades (plantas e animais)
Plantas e animais seleciona-
dos para altos rendimentos
Uso de variedades e espécies
mais resistentes e adaptadas
ao ambiente da produção
Sustentabilidade Alta dependência externa de
insumos e de energia não re-
novável
Busca a autosustentabilidade
dos sistemas de produção
Riscos de Contaminação Contaminação de trabalhado-
res rurais e consumidores por
usos indevidos de agrotóxicos.
Contaminação ambiental
Produção de alimentos livres
de contaminação por agrotó-
xicos.
Preservação ambiental
Impacto sobre recursos hídri-
cos
Maior impacto Menor impacto
Vários estudos confirmam o melhor desempenho ambiental e quali-
dade dos produtos orgânicos, quando comparados com os convencionais.
Merecem destaque os resultados de uma pesquisa científica realizada
AGRICULTURA SUSTENTÁVEL28
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4. AGROECOLOGIA
durante 22 anos por David Pimentel, da Universidade Cornell, Estados Uni-
dos, comparando o cultivo orgânico de soja e milho com o convencional.
Nesse estudo, foram avaliados seus custos e benefícios ambientais, ener-
géticos e econômicos, concluindo-se que:
1. O cultivo orgânico utiliza uma média de 30 por cento menos energia
fóssil; conserva mais água no solo; induz menos erosão; mantém a qua-
lidade do solo e conserva mais recursos biológicos do que a agricultura
convencional.
2. Ao longo do tempo os sistemas orgânicos produziram mais; espe-
cialmente sob condições de seca.
3. A erosão degradou o solo na fazenda convencional, enquanto que
o solo das fazendas orgânicas melhorou continuamente em termos de
matéria orgânica, umidade, atividade microbiana e outros indicadores de
qualidade7
.
Quanto à qualidade dos alimentos, destacamos o trabalho realiza-
do pela Universidade Johns Hopkins, Baltimore, EUA, por meio da revisão
dos resultados da pesquisa disponíveis, comparando alimentos orgânicos
Ao longo do tempo, os sistemas orgâ-
nicos produziram mais, especialmente
sob circustâncias de seca.
O cultivo orgânico utiliza 30% menos energia
fóssil, conserva mais água no solo, induz me-
nos erosão, mantéma a qualidade do solo e
conserva mais recursos biológicos.
A erosão degradou o solo na fazenda convencional,
enquanto os solos das fazendas orgânicas melho-
rou continuamente em termos de matéria orgânica,
umidade, atividade microbiana e outros indicadores
de qualidade.
7
Conclusões do trabalho de Pimentel et al. 2005.
29
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AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
e convencionais8
. Esta revisão foi feita em 41 estudos com 1.240 compara-
ções de 35 vitaminas e minerais. Os principais resultados foram:
√ Os produtos orgânicos apresentaram maiores teores de magnésio
(29%), de vitamina C (27%) e de ferro (21%).
√ Os produtos orgânicos sempre apresentaram menor nível de ni-
tratos (em média 15 % menor) e menos metais pesados do que os produ-
tos cultivados convencionalmente.
√ Quanto aos efeitos dos alimentos orgânicos na saúde, estes foram
positivos sobre a saúde dos animais usados nos testes. Os efeitos foram mais
acentuados nos animais recém-nascidos ou enfraquecidos por doenças.
O Mercado de produtos orgânicos
De acordo com a IFOAM, a área mundial supera os 30 milhões de hec-
tares, sendo praticada em todos os continentes (Figura 5).
ÁREA PLANTADA EM HECTARES
América do Norte 2000 – 1 milhão
2006 – 2,2 milhões
América Latina 2000 – 3,3 milhões
2006 – 5,8 milhões
África 2000 – 0,02 milhão
2006 – 0,9 milhão
Europa 2000 – 3,7 milhões
2006 – 6,9 milhões
Ásia 2000 – 0,05 milhão
2006 – 2,9 milhões
Oceania 2000 – 7,6 milhões
2006 – 11,8 milhões
TOTAL 2000 – 15,67 milhões
2006 – 30,5 milhões
8
Worthington, 1998.
IFOAM, 2007
Figura 5. Área Plantada com alimentos orgânicos ao redor do mundo.
30
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4. AGROECOLOGIA
O Brasil apresenta um número crescente de produtores orgânicos,
alguns motivados pelos preços atuais desses produtos, mas outros pela
necessidade crescente de atender a demanda da população por alimentos
mais saudáveis, produzidos de forma sustentável.
Dados oficiais sobre o mercado nacional de produtos orgânicos são
muito recentes. Considerando a área certificada9
, calcula-se que existam
mais de um milhão de hectares cultivados no sistema orgânico no Brasil,
ocupando a quinta posição mundial.
Os principais produtos orgânicos brasileiros são: soja, café, frutas,
cana-de-açúcar, cacau, palmito e hortaliças.
A agricultura biodinâmica é um sistema de manejo agrícola baseada nos
princípios da Antroposofia, sistema filosófico e prático de desenvolvimento
do ser humano desenvolvido por Ruldof Steiner no início do século XX.
A utilização de conhecimentos astronômicos nas atividades agrícolas e
criações animais, bem como a interação de forças espirituais (ou energias
sutis) com plantas, animais e o homem são características deste sistema.
A diversificação da produção,a integração entre as atividades e auto-sus-
tentabilidade da propriedade são princípios básicos desta forma de manejo.
4.2 Agricultura Biodinâmica
9
Ver Capítulo “Certificação”
FOTO: http://rudolfsteinerweb.com
Copyright 2005-2009. Daniel Hindes
A Agricultura Biodinâmica difere da Orgânica:
na utilização de conhecimentos astronômicos;
na utilização de preparos biodinâmicos.
A Agricultura Biodinâmica tem em comum com a Orgânica:
o uso sustentável dos recursos naturais;
a não utilização de agrotóxicos, transgênicos e outras subs-
tâncias nocivas ao solo, aos animais e à saúde humana.
31
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A agricultura natural surgiu no Japão, em 1935. Seu fundador foi Moki-
ti Okada, que propôs um sistema de produção agrícola que imitasse a na-
tureza:
“A harmonia e prosperidade entre os seres vivos é fruto da conserva-
ção do ambiente natural, a partir da obediência às leis da natureza”.
Com o objetivo de preservar a qualidade do solo e dos alimentos, a
diversidade e o equilíbrio biológico e contribuir para a elevação da qua-
lidade de vida humana, Mokiti Okada fundou e desenvolveu este método
agrícola sustentável. Alertou para as consequências das práticas agrícolas
inadequadas, sobretudo sobre o uso indiscriminado de agrotóxicos.
Na agricultura natural há pouca movimentação do solo. Esta é subs-
tituída por roçadas, cobertura verde, semeaduras consorciadas de cereais
com leguminosas ou coquetéis de hortaliças e ervas aromáticas, integradas
a cultivos de frutas perenes.
Outras práticas sustentáveis são utilizadas nesta e nas demais verten-
tes da agroecologia; mas, diferentemente dos outros sistemas, a agricul-
tura natural não emprega esterco animal e faz uso de compostos apenas
vegetais, que conservam o equilíbrio do solo e permitem a reciclagem dos
nutrientes para o desenvolvimento das plantas.
FOTO: http://www.cpmo.org.br/mokiti_okada.php
Copyright 2001 - 2011 - KORIN Agricultura Natural.Todos os direitos reservados
Já na década de 1930, Mokiti Okada aler-
tava para o uso indiscriminado de agrotó-
xicos e suas conseqüências para o meio
ambiente.
4.3 Agricultura Natural
AGRICULTURA SUSTENTÁVEL32
04717 - 35538001miolo.indd 3204717 - 35538001miolo.indd 32 23/5/2011 10:04:4823/5/2011 10:04:48
A permacultura, também chamada de agricultura permanente, foi
criada na segunda metade dos anos 70, por meio das idéias de Bill Molli-
son e David Holmgren, na Austrália. As espécies vegetais são dispostas da
forma mais próxima possível dos ecossistemas naturais e integradas com
animais e florestas, baseando-se em princípios agroecológicos. O Centro
Rural de Educação é considerado a primeira instituição oficial da perma-
cultura nos EUA e foi fundado em consequência da viagem feita por Bill
Mollinson e outros pioneiros daquele país.
Nesta corrente se procura praticar uma agricultura da forma
mais integrada possível com o ambiente natural, imitando a composição
espacial das plantas encontradas nas matas naturais. Envolve o cultivo de
plantas aliadas à produção de animais. Algumas vezes é referido como
um sistema “agrosilvopastoril”, que busca integrar lavouras, com espécies
florestais e pastagens e outros espaços para os animais, considerando os
aspectos paisagísticos e energéticos.
4.4 Permacultura
“O Ovo da Vida” - Bill Mollison
FONTE: http://arquitectura-de-costa-a-costa.blogspot.com/
O formato oval, do símbolo da
permacultura, representa o ovo da vida;
aquela quantidade de vida que não
pode ser criada ou destruída, mas que
é expressa e emana de todas as coisas
vivas. Dentro do ovo está enrolada a
serpente do arco-íris, a formadora da
terra dos povos aborígines. No centro
está a árvore da vida, a qual expressa
os padrões gerais das formas de vida.
Suas raízes estão na terra e sua copa
na chuva, na luz do sol e no vento. O
símbolo inteiro e o ciclo que representa,
é dedicado à complexidade da vida no planeta terra” (Fonte: Introdução a Per-
macultura, de Bill Mollison)
4. AGROECOLOGIA 33
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5
5. O solo e as
principais práticas
de manejo
agroecológico
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AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
5.1 O Solo
Osolo é a camada mais superficial da crosta terrestre. É uma mistu-
ra de diversos sais minerais e rochas em decomposição; matéria
orgânica, incluindo seres vivos; água e ar.
As características dos solos variam muito de acordo com o local. O
clima, o tipo de vegetação, o relevo e a rocha matriz são fatores que in-
fluenciam na formação de diferentes tipos de solo.
Embora possam variar em características e propriedades, os solos
apresentam camadas chamadas de horizontes, que são formadas durante
o processo de intemperização10
da rocha matriz.
Ainda que cada classe de solos apresente um perfil de horizontes ca-
racterístico, os seguintes horizontes são encontrados na maioria dos solos.
É rico em húmus e restos orgânicos;
É chamada de camada fértil. Possui cor mais escura, pois existe
mais matéria orgânica que são os restos animais e vegetais
decompostos;
Caracterizada pelo acúmulo de materias provenientes dos
horizontes superiores. Normalmente tem cor avermelhada ou
amarelada devido a presença de ferro, mas existem exceções.
Composto de material pouco alterado pelo processo de
formação dos solos. Caracteriza-se pela presença de diferentes
“pedaços” da rocha-mãe.
Rocha consolidada.
Figura 6. Representação de um perfil geral dos solos. As diferentes camadas
são formadas à partir da intemperização da rocha matriz, no subsolo.
10
Intemperização: é o processo de formação dos solos a partir do material da
rocha matriz, o que pode levar milhões de anos.
36
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5. O SOLO E AS PRINCIPAIS PRÁTICAS
DE MANEJO AGROECOLÓGICO
Enquanto a formação do solo pode levar milhões de anos, sua degra-
dação completa pode ocorrer em apenas algumas décadas.
A degradação do solo é um grande desafio a ser vencido para viabi-
lizar sistemas de produção de maior conservação ambiental e eficiência
energética.
A erosão do solo11
pode ser considerada um dos principais proble-
mas ambientais decorrentes da agricultura, não apenas pelos alarmantes
números de perdas de solo, mas também pelos desequilíbrios causados
nos ecossistemas, com impactos negativos em outros importantes recursos
naturais, como a água.
Solos erodidos consomem mais fertilizantes, que nem sempre conse-
guem suprir todas as necessidades nutricionais da planta. Plantas “mal
nutridas” são mais susceptíveis ao ataque de pragas e doenças e há maior
consumo de agrotóxicos12
.
O controle da erosão é fundamental quando se fala em agricultura sus-
tentável, devendo ser alcançado pela adoção de práticas conservacionistas
pelos agricultores.
Mas o solo não deve ser visto de forma isolada na produção sustentá-
vel. Outras práticas aplicáveis na produção, processamento e transporte de
alimentos, devem ser adotadas.
As chamadas “Boas Práticas Agrícolas” são um conjunto de princí-
pios, normas e recomendações técnicas, orientadas a assegurar a proteção
da higiene,da saúde humana e do meio ambiente,mediante métodos ecolo-
gicamente seguros, higienicamente aceitáveis e economicamente fatíveis13
.
O Brasil perde, anualmente, pelo menos 500 milhões de toneladas de terra através
da erosão, o que corresponde à retirada de uma camada de 15cm de espessura
numa área de 2.800.000.000 m2
de terra.
(Bertoni e Lombardi, 1999.)
11
A erosão é o processo de desprendimento e deslocamento das partículas do solo ou de rochas de
uma superfície, causado pela água e pelo vento, por processos naturais ou antrópicos. O processo
começa com a remoção da camada de cobertura do solo, expondo sua camada mais fértil. Com
o impacto da água sobre o solo exposto, ocorre primeiro o desprendimento e depois o arraste do
solo para os rios.
12
Ehlers, 1999.
13
FAO, 2007.
37
04717 - 35538001miolo.indd 3704717 - 35538001miolo.indd 37 23/5/2011 10:04:5123/5/2011 10:04:51
As práticas conservacionistas podem ser de caráter vegetativo, edá-
fico14
ou mecânico15
. A adoção dessas práticas, simultaneamente e não
isoladamente, pelos agricultores, interfere na qualidade do solo, sob o pon-
to de vista físico, químico ou biológico.
As práticas de caráter vegetativo são aquelas que utilizam a ve-
getação, de forma racional, para defender o solo contra a erosão. Alguns
exemplos: florestamento, reflorestamento, plantas de cobertura, cultura
em faixas, quebra-ventos.
As práticas de caráter edáfico são aquelas que, com modificações no
sistema de cultivo, além do controle de erosão, mantêm ou melhoram a
fertilidade do solo. Exemplos: controle do fogo, adubação verde, adubação
química, adubação orgânica e calagem.
As práticas de caráter mecânico são aquelas em que se recorre a
estruturas artificiais, mediante a disposição adequada de porções de ter-
ra, com a finalidade de quebrar a velocidade de escoamento da enxurra-
5.2 As Práticas de Manejo Agroecológico
5.2.1 Práticas Conservacionistas
Figura 7. Uso de quebra-ventos em produção orgânica de
hortaliças na Fazenda Nata da Serra - Serra Negra/SP.
Foto: Ricardo Schiavinato
14
Edáficos: Referentes aos solos.
15
Bertoni e Lombardi 1990.
AGRICULTURA SUSTENTÁVEL38
04717 - 35538001miolo.indd 3804717 - 35538001miolo.indd 38 23/5/2011 10:04:5223/5/2011 10:04:52
da e facilitar-lhe a infiltração no solo. Exemplos: distribuição racional dos
caminhos, terraceamento e plantio em nível, caixas de contenção, canais
escoadouros.
Ao adotar práticas de conservação do solo e água, o produtor agroeco-
lógico propicia a recuperação e manutenção da fertilidade do solo, o equilí-
brio dos ecossistemas agrícolas e diminui ou evita a ocorrência de erosão.
Figura 8a. Adubação verde com a espécie mucuna. Figura 8b. Composto orgâ-
nico. Sítio Catavento - Indaiatuba/SP. Proprietário: Fernando Ataliba.
Fotos: Moisés Esteves Santana.
Figura 9. Práticas mecânicas (terraços e plantio em nível)
e vegetativas (florestamento) integradas no
Sítio Duas cachoeiras, Amparo/SP.
Foto: Guaraci Diniz Junior
5. O SOLO E AS PRINCIPAIS PRÁTICAS
DE MANEJO AGROECOLÓGICO 39
04717 - 35538001miolo.indd 3904717 - 35538001miolo.indd 39 23/5/2011 10:04:5223/5/2011 10:04:52
AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
A Biodiversidade ou diversidade biológica é uma das propriedades
fundamentais da natureza, responsável pelo equilíbrio dos ecossistemas e
a base das atividades agrícolas, pecuárias e pesqueiras. É, também, fonte
de imenso potencial de uso econômico.
Quanto maior o índice de biodiversidade de uma região, maior a rique-
za e a complexidade de seus ecossistemas.
No sistema orgânico, as culturas e criações devem estar integradas
e adaptadas às condições ambientais, respeitando a aptidão agrícola do
solo, as áreas de preservação permanente e reserva legal e outras áreas
protegidas por legislação.
A alta diversidade de uso do solo é um dos pilares da agroecologia.
Quanto maior a biodiversidade dos ecossistemas agrícolas, menor a proba-
bilidade de infestações de pragas e doenças e maior o equilíbrio ambiental.
No sistema orgânico o solo é considerado como um organismo vivo
e não apenas como um suporte de plantas ou uma fonte de reserva de
nutrientes.Assim, o manejo adequado do solo deve ser prática prioritária.
A recuperação e manutenção da fertilidade do solo devem ser atin-
gidas mediante a reciclagem do material orgânico, cujos nutrientes são
gradualmente disponibilizados às plantas por meio da ação de micro-
organismos do solo.
5.2.2 Incremento da Biodiversidade
“Diversidade Biológica“ significa a variabilidade de organismos vivos de todas
as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos
e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte,
compreendendo ainda a diversidade dentro das espécies, entre espécies e de
ecossitemas.
Convenção sobre Diversidade Biológica
5.2.3 Recuperação e Manutenção da Fertilidade do solo
40
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5. O SOLO E AS PRINCIPAIS PRÁTICAS
DE MANEJO AGROECOLÓGICO
A adubação orgânica aliada a outras práticas conservacionistas deve
ser base do programa de manejo do solo e deve ser realizada de forma
equilibrada, sem provocar excesso de nutrientes no solo.
Existem vários tipos de adubos orgânicos de uso recomendável na
agroecologia. Em geral, deve-se atentar para a origem e qualidade. Não é
permitido, por exemplo, o uso de adubos oriundos de lixo urbano devido à
probabilidade da presença de contaminantes.
A utilização de composto orgânico, com mistura de estercos animais
e resíduos vegetais é uma prática desejável e incentivada na agricultura
orgânica, pois é uma forma de obtenção de um produto mais estabilizado,
com melhor aproveitamento pelas plantas, além da possibilidade de reci-
clagem dos resíduos em uma propriedade.
A cobertura do solo com restos vegetais (palhas, cascas), adubos ver-
des ou culturas proporciona efeito protetor contra erosão, além de favo-
Figura 10. Resíduo orgânico gerado pela produção ani-
mal para ser compostado e posteriormente utilizado
na agricultura. Sítio Duas Cachoeiras. Amparo/SP.
Foto: Guaraci Diniz.
5.2.4 Manutenção e Cobertura do solo
41
04717 - 35538001miolo.indd 4104717 - 35538001miolo.indd 41 23/5/2011 10:04:5523/5/2011 10:04:55
recer a infiltração de água no perfil do solo, evitar as altas temperaturas
provocadas pela incidência direta dos raios solares e contribuir para o con-
trole de plantas espontâneas.
AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Figura 11. Cultivo de uva orgânica com boa cobertura do solo.
Sítio Catavento-Indaiatuba/SP.
Foto: Moisés Esteves Santana.
Figura 12. Pomar orgânico (mamão), com adubação
verde (nabisco) Sítio Catavento-Indaiatuba/SP.
Foto: Moisés Esteves Santana.
42
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5. O SOLO E AS PRINCIPAIS PRÁTICAS
DE MANEJO AGROECOLÓGICO
A rotação de culturas é uma prática agrícola de fundamental impor-
tância nos programas de conservação do solo e no manejo ecológico de
pragas, doenças e plantas espontâneas (chamadas de “daninhas” na agri-
cultura convencional). Consiste em uma sucessão de cultivo, em que se
utilizam famílias de vegetais diferentes, com exigências nutricionais e sis-
temas radiculares distintos.
Esta prática contribui para o controle de determinados organismos
causadores de pragas e doenças, ajuda no controle de plantas espontâne-
as, melhora a reciclagem de nutrientes do solo e contribui para o controle
de erosão.
Folha (Escarola) Raiz (Cenoura)
Flor (Brócolis) Fruto (Berinjela)
Figura 13. Exemplo de rotação de culturas com espécies vegetais utilizadas no
cultivo de hortaliças.
5.2.5 Rotação de Culturas
43
04717 - 35538001miolo.indd 4304717 - 35538001miolo.indd 43 23/5/2011 10:04:5823/5/2011 10:04:58
A alelopatia é a capacidade das plantas produzirem substâncias quími-
cas que, liberadas no ambiente de outras, influenciam de forma favorável
ou desfavorável o seu desenvolvimento. Na agroecologia são utilizados os
termos “plantas companheiras” e “plantas repelentes” ou “antagônicas.
As plantas companheiras referem-se às espécies ou famílias de plantas
que se ajudam e complementam mutuamente, seja na utilização de água,
luz e nutrientes ou mediante interações bioquímicas. Exemplo: tomate e
morango.
As plantas antagônicas são aquelas com capacidade de inibir o cres-
cimento e o desenvolvimento de outras, por meio da liberação de certas
substâncias no ambiente (solo, ar). Exemplo: tomate e batata.
AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
5.2.6 A Alelopatia no Manejo das Culturas
Figura 14. Tomate e morango orgânicos são
cultivados em ambiente protegidos. CPRA-Centro
Paranaense de Referência em Agroecologia.
Foto: Araci Kamiyama
44
04717 - 35538001miolo.indd 4404717 - 35538001miolo.indd 44 23/5/2011 10:04:5923/5/2011 10:04:59
5. O SOLO E AS PRINCIPAIS PRÁTICAS
DE MANEJO AGROECOLÓGICO
A utilização de plantas com efeitos alelopáticos ou barreira física (que-
bra-ventos) é uma prática preventiva de controle na produção agrícola,
fazendo parte do manejo de pragas e doenças das culturas e também de
plantas espontâneas.
Por meio da associação ou consórcio de plantas companheiras é pos-
sível obter efeitos positivos, com aumento da produtividade e manutenção
da qualidade do solo.
O produtor deve preferir as espécies e variedades de plantas mais
adaptadas às condições ecológicas locais, observando a melhor época para
o plantio. Quando estão fora de seus ambientes naturais e épocas de cul-
Figura 15. Área experimental – consórcio de plantas hortícolas. CPRA-Centro
Paranaense de Referência em Agroecologia.
Foto: Araci Kamiyama
5.2.7 A Escolha de Variedades e Culturas Mais Adaptadas
45
04717 - 35538001miolo.indd 4504717 - 35538001miolo.indd 45 23/5/2011 10:04:5923/5/2011 10:04:59
tivo, as plantas são mais susceptíveis às ações de pragas e doenças e aos
efeitos do clima.
O manejo de pragas, doenças e plantas espontâneas é o resultado de
todas as boas práticas adotadas, como a diversificação no uso da terra,
a conservação do solo e da água, a escolha adequada das variedades, o
manejo correto da cultura e a nutrição equilibrada, realizados de forma
integrada.
Quando se esgotam os meios preventivos, o produtor orgânico pode
fazer uso de medidas de controle. Para isso, utiliza produtos naturais ou
fórmulas especiais que não deixam resíduos tóxicos no alimento e no am-
biente, como os extratos de plantas, inseticidas biológicos, iscas, armadi-
lhas e caldas.
Tabela 3. Exemplos de medidas preventivas e de controle no manejo eco-
lógico de pragas, doenças e plantas espontâneas.
Medidas Preventivas Medidas de Controle
Diversificação do uso da terra
Plantio em épocas corretas
Uso de variedades adaptadas
Nutrição equilibrada das plantas com macro-
nutrientes e micronutrientes
Adubação orgânica: compostagem, biofertili-
zantes, adubos verdes
Rotação de culturas
Consorciação de culturas
Uso de variedades resistentes a pragas e do-
enças
Uso de quebra ventos
Extratos de plantas
Agentes de controle biológicos:
• Pequenas vespas como inimigo natural de
pragas
• Fungos que controlam pragas como ácaros,
lagartas e pulgões
• Fungos que controlam doenças fúngicas
Iscas não-residuais e armadilhas: iscas para
lesmas e armadilhas luminosas e com fero-
mônios
Caldas: bordalesa e sulfocálcica, com uso res-
trito
5.2.8. Manejo de Pragas, Doenças e da Vegetação espon-
tânea
AGRICULTURA SUSTENTÁVEL46
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6
6. Sistemas
Agroflorestais
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AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Sistemas agroflorestais (SAFs) ou agroflorestas são formas de uso
sustentável da terra, em que as espécies de usos agrícolas, flores-
tais e criações animais são manejadas em associação, de forma equilibra-
da.Tem como principais características:
√ A produção em harmonia com a natureza: no cultivo de espécies
agrícolas, preserva-se ou recupara-se os recursos naturais. Cada grupo de
espécies tem importância na promoção do equlíbrio ecológico;
√ Preservação da biodiversidade. Neste sistema há uma alta diver-
sidade biológica;
√ O resgate de práticas e conhecimentos utilizados por comunida-
des tradicionais;
√ O fortalecimento econômico dos agricultores familiares, pela va-
lorização de seus produtos e pelo atendimento das necessidades básicas
de consumo familiar e
√ A possibilidade de recuperação de áreas degradadas e áreas prio-
ritárias na preservação da biodiversidade, que são de maior fragilidade
ambiental e, na maioria das vezes, ocupadas por agricultores familiares. A
atividade agrícola convencional nessas áreas traz consequências desastro-
sas para a sustentabilidade agrícola .
Figura 16. Implantação de Sistema Agroflorestal no Sítio Catavento.
Na foto, destaque para os ítens alimentares: milho, taioba e banana.
Proprietário: Fernando Ataliba.
Foto: Ana Carolina Dalla Vecchia.
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6. SISTEMAS AGROFLORESTAIS
Atualmente, há poucas experiências com agroflorestas no Brasil. As
existentes, na maioria das vezes, referem-se a consórcios de espécies ar-
bóreas com culturas agrícolas, com baixo nível de diversidade. A falta de
pesquisas científicas sobre o assunto e experimentações de campo; e o
desconhecimento deste sistema pelo agricultor podem ser as causas da
baixa adoção.
O desenvolvimento de modelos tecnológicos de produção agroecoló-
gica adaptados a cada região do Brasil e a disponibilização dessas tecno-
logias aos pequenos agricultores são desafios que precisam ser vencidos
para aumentar a segurança alimentar de nosso país.
51
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7
7. Mudança do
Sistema
Convencional
para o Sistema
Orgânico
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AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Na implantação de um sistema orgânico, a adoção das tecnologias
para restabelecer o equilíbrio do ambiente e melhorar a fertilida-
de do solo requer um período intermediário em que todas as práticas sejam
adotadas. Esse processo de mudança de sistema de manejo é chamado de
período de conversão, que é variável de acordo com a utilização anterior
e a situação ecológica atual, podendo ser de 12 a 36 meses.
A transição do sistema convencional para o orgânico deve acontecer
de forma gradativa.
O primeiro passo é a adoção de práticas conservacionistas ou de “Boas
Práticas Agrícolas”, que visem melhorar a cobertura do solo, conter a ero-
são e promover a recuperação ou preservação ambiental.
Na segunda fase, devem ser implantadas as práticas de manejo das
culturas e deve ser feito um bom plano de adubação e correção do solo,
que considere as necessidades das culturas e a recuperação da fertilidade
natural. Nesta fase, deve ser programado o manejo ecológico de pragas e
doenças, já iniciado na primeira fase, com as práticas conservacionistas. O
produtor deve prever o uso de produtos naturais, que não contaminem os
alimentos, o trabalhador e o meio ambiente.
Na terceira fase, deve-se procurar a diversificação de atividades, in-
troduzindo novas atividades de baixo impacto; como, por exemplo, a in-
tegração com fruticultura, hortaliças, sistemas agroflorestais, apicultura,
produção de leite e ovos, dentre outros.
O agricultor, que tem a intenção de comercializar seus produtos no
mercado orgânico, em grande expansão no país, deve procurar obter infor-
mações de outros agricultores, técnicos e entidades que já trabalhem com
agricultura orgânica na região e elaborar um Plano de Conversão da sua
propriedade. Um bom plano deve conter informações como:
• Histórico da propriedade ou área de produção;
7.1. Dicas de Transição para o Sistema Orgânico
54
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7. MUDANÇA DO SISTEMA CONVENCIONAL
PARA O SISTEMA ORGÂNICO
• Atividades desenvolvidas: culturas e criações;
• Manejo utilizado em cada atividade:
- Adubos utilizados;
- Manejo de pragas e doenças;
- Manejo dos rebanhos: alimentação, manejo sanitário e instalações;
-Procedimentosparaprocessamento,armazenamento,transportee
comercialização dos produtos e
-Quaisospontoscríticoseaformaqueestesdevemsertrabalhados
durante o período de conversão.
Os selos verdes
A partir dos anos 90, emergem os processos de certificação ambiental
dos produtos agrícolas - como os selos verdes.
A certificação ambiental fundamenta-se no princípio da produção
com uso de técnicas e processos que não degradem o meio ambiente,
como o sistema orgânico de produção e o agroextrativismo sustentável.
A iniciativa de certificar esses processos partiu quase que exclusivamente
de organizações não governamentais, que estabeleceram os seus critérios
próprios de certificação.
O que é a Certificação da Produção Orgânica
Um produto alimentício, têxtil ou cosmético, para ser avaliado e certifi-
cado, deve ser produzido de acordo com normas publicadas.A certificação
orgânica é o processo pelo qual uma produção e o produto são avaliados
para verificar se atendem aos requisitos especificados em uma norma de
produção orgânica.
Quando um produtor sente-se apto a contratar a certificação, entra em
7.2. Certificação da Produção Orgânica
55
04717 - 35538001miolo.indd 5504717 - 35538001miolo.indd 55 23/5/2011 10:05:0623/5/2011 10:05:06
contato com a certificadora desejada (existem cerca de 20 certificadoras
atuando no Brasil), enviando documentação inicial e pagamento da taxa
de inscrição.
A inspeção ocorre logo em seguida e consiste em reunir dados, checar
documentos, operações de campo e o sistema de condução orgânica das
atividades na propriedade. Também são inspecionadas as instalações, sa-
carias e embalagens e a situação geral social e trabalhista.
Se todos os requisitos estão atendidos é emitido um certificado de
conformidade que atesta a qualidade dos produtos em relação à norma. Os
produtos passam a poder exibir o Selo de Qualidade Orgânica.
O Brasil, assim como na União Européia, adotou o selo único para
identificar os produtos orgânicos certificados no mercado interno. Este selo
passa a ser de uso obrigatório em dezembro de 2010.
AGRICULTURA SUSTENTÁVEL56
Selo nacional que identifica o produto
orgânico no Brasil
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8
8. Garantia da
Qualidade
Orgânica nos
Produtos
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AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Acomercialização de produtos orgânicos depende da relação de con-
fiança entre produtores e consumidores, no Brasil ou no mundo.
A garantia da qualidade orgânica é feita de três diferentes formas no país:
1. A Certificação, feita por empresas públicas ou privadas, com ou
sem fins lucrativos. Essas instituições são conhecidas como “Certificado-
ras” e fazem todo o processo de inspeção ou auditorias nos sistemas de
produção, processamento ou comercialização de produtos orgânicos.
2. Os Sistemas Participativos de Garantia, que se caracterizam pelo
controle social e pela responsabilidade solidária. É um processo de gera-
ção de credibilidade que pressupõe a participação solidária de todos os
segmentos interessados em assegurar a qualidade do produto final e do
processo de produção.
3. O Controle Social na Venda Direta sem Certificação, para o
agricultor familiar, cuja venda de produtos acontece diretamente ao consu-
midor, sem intermediários e que faça parte de uma organização ou “OCS
– Organização de Controle social” (grupo, associação, cooperativa ou con-
sórcio).
Todos esses mecanismos são regulamentados pelo Ministério da Agri-
cultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA e possuem regras e procedi-
mentos a serem seguidos pelas partes envolvidas.
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9
9. Comercialização
de Produtos
Orgânicos
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AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Até os anos 1990, a comercialização de produtos orgânicos era
basicamente por meio de feiras e lojas de produtos naturais. No
final dos anos 90, surgem novos canais de distribuição, alguns ligados a
associações e cooperativas, realizando novos processos de distribuição dos
produtos.
Nos últimos anos, as grandes redes de supermercados se mostram
como um dos principais canais de comercialização, demandando grandes
quantidades, apresentando-os como produtos de alta qualidade, seleciona-
dos, rotulados e embalados.
Em contrapartida, alguns movimentos ligados a agricultura familiar
têm se mostrado preocupados com esta tendência e com a possível elimi-
nação do agricultor familiar orgânico deste mercado.
Feiras de Produtor
A comercialização em Feiras Orgânicas possui várias vantagens tanto
para o agricultor quanto para o consumidor. O contato direto entre produ-
tor e consumidor aumenta a segurança de que só são vendidos produtos
oriundos da agricultura orgânica e consequentemente aumenta a credibili-
dade do consumidor na origem do produto.
As feiras são espaços de troca de experiências e funcionam como pon-
Figura 17. Comercialização de produtos orgânicos
em feiras especializadas
Foto: Araci Kamiyama
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9. COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS
ORGÂNICOS
to de encontro de pessoas ligadas a temas afins, como o meio ambiente, a
saúde e a responsabilidade social.
Tabela 4. Vantagens e desvantagens da comercialização de produtos or-
gânicos em Feiras do Produtor
Vantagens Desvantagens
Contato direto produtor/consumidor
Recebimento à vista.
Melhor remuneração (sem interme-
diário/melhor preço por unidade).
Controle sobre as sobras.
Controle sobre seu crescimento.
Estímulo à diversidade de produção.
Necessidade de produção diversifi-
cada.
Maior tempo gasto com comerciali-
zação.
Tendência a crescimento limitado.
Menor volume por unidade de pro-
dutos comercializados.
Figura 18. Banca dos irmãos Roncáglia.Feira Orgânica da AAO-Parque da Água
Branca.
Foto: Araci Kamiyama.
65
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Cestas (entregas em domicílios)
As entregas em domicílio, assim como as feiras orgânicas, são formas
de contato direto entre produtor e consumidor; pois, na maioria das vezes,
são realizadas pelo próprio produtor ou por empresas distribuidoras que
compram diretamente do produtor.
Tabela 5.Vantagens e desvantagens da comercialização de produtos orgâ-
nicos por meio de Entregas em Domicílio.
Vantagens Desvantagens
Contato direto entre produtor e con-
sumidor.
Boa remuneração.
Prazo de recebimento reduzido.
Altos custos de distribuição.
Necessidade de maior diversidade de
produtos.
Gastos com marketing e divulgação.
Grandes Redes de Supermercados
Tabela 6.Vantagens e desvantagens da comercialização de produtos orgâ-
nicos em Grandes Redes de Supermercados.
Vantagens Desvantagens
Maior volume de escoamento.
Para o consumidor: horário, segu-
rança,estacionamento,pagamen-
to facilitado, compra centralizada.
Para o produtor: tempo gasto
com comercialização reduzido.
Prazo de pagamento entre 40 a 60 dias.
Tendência de enrijecimento nas nego-
ciações.
Tendência de não-controle das sobras.
Investimentos elevados em logística,
distribuição e processamento mínimo.
Outras formas de comercialização
Compras públicas ou institucionais, como a merenda escolar
A Lei Federal nº 11.947/2009 determina a utilização de, no mínimo,
30% dos recursos nacionais destinados à alimentação escolar, na compra
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9. COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS
ORGÂNICOS
de produtos da agricultura familiar, produzidos, sempre que possível, no
mesmo município das escolas.
Além de ajudar os pequenos produtores locais, vários municípios lan-
çaram programas de compras de produtos orgânicos para a merenda es-
colar. Esta medida ajuda a promover a alimentação saudável dos alunos,
valoriza a agricultura familiar local e estimula a produção mais sustentável.
Comércio justo
O Comércio Justo ou Fair Trade, em inglês, é uma modalidade de co-
mércio que busca o estabelecimento de preços justos e padrões sociais e
ambientais sustentáveis, criando meios e oportunidades para melhorar as
condições de vida de pequenos agricultores.
A idéia é que o produtor receba uma remuneração justa por seu tra-
balho.Assim, consumidores preocupados com a sustentabilidade e que op-
tam por comprar produtos do comércio justo têm permitido aos pequenos
produtores optarem pela agricultura orgânica.
Mercados locais
Os pequenos negócios e as atividades do meio rural, muitas vezes de-
pendem das vendas nas próprias regiões, demonstrando a importância do
fortalecimento de mercados locais.
Na agricultura orgânica, o desenvolvimento do mercado local é a prin-
cipal estratégia utilizada por várias organizações para a vinculação dos
agricultores com o mercado, buscando democratizar e popularizar o consu-
mo de produtos orgânicos, aproximando produtores e consumidores.
As redes solidárias de produção e consumo, as cooperativas de consu-
midores, as feiras livres locais, as pequenas lojas, as festas e eventos nos
municípios, o sistema “colhe e pague” e o turismo rural são alguns exem-
plos de iniciativas para o desenvolvimento do mercado local.
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10
10. Recomendações
de Órgãos
Internacionais
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AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Estudo da FAO
A ONU/FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e a Ali-
mentação) divulgou, em 2007, um documento indicando que a agricultura
orgânica pode ser o caminho para se alcançar a segurança alimentar e
nutricional. 16
O documento indica os avanços e limites da agricultura or-
gânica e propõe políticas e ações de pesquisa para o desenvolvimento da
agricultura orgânica nos níveis nacional, internacional e institucional.
O documento também indica que a agricultura orgânica tem condições
de produzir alimentos suficientes para alimentar toda população mundial e
com a vantagem de ser um sistema com reduzido impacto ambiental. Esta
afirmação contesta o paradigma de que só a agricultura convencional é
capaz de assegurar o abastecimento global de alimentos.
Declaração de Vignola
Este documento foi elaborado por entidades dos movimentos orgâ-
nico e ambiental, resultante do encontro entre a Federação Internacional
dos Movimentos da Agricultura Orgânica - IFOAM e a União Mundial pela
Natureza - IUCN, no dia 23 de maio de 1999, em Vignola, na Itália, para
unir ações de interesses comuns. O documento destaca, entre outros, que
a agricultura orgânica é fundamental para o desenvolvimento rural susten-
tável e crucial para a segurança alimentar global, devendo trabalhar mais
próxima da conservação da natureza. Conclui que a agricultura orgânica é
essencial para a preservação da biodiversidade
Estudo da IAASTD
Em 2008, a IAASTD (Avaliação Internacional sobre Ciência e Tecnolo-
gia Agrícola para o Desenvolvimento) publicou um relatório enfatizando a
necessidade de se ampliar as pesquisas agrícolas para a proteção do solo,
16
Scialabba, 2007.
70
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10. RECOMENDAÇÕES DE ÓRGÃOS
INTERNACIONAIS
da água e da biodiversidade, bem como a necessidade de se aproveitar o
conhecimento tradicional de milhões de pequenos agricultores. O docu-
mento foi produzido ao longo de três anos por mais de 400 cientistas de
todo o mundo, contando com a contribuição de governos de países desen-
volvidos e em desenvolvimento, além do setor privado e da sociedade civil.
Relatório da UNCTAD
A UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desen-
volvimento) publicou o documento chamado Trade and Environment Re-
view 2009/2010, que aponta para as necessidades de mudanças urgentes
no direcionamento de recursos para que o crescimento econômico seja
sustentável sob o ponto de vista econômico, ambiental e social. Segundo o
documento, as mudanças devem vir das seguintes áreas: eficiência energé-
tica, agricultura sustentável e energias renováveis.
Para a agricultura sustentável, a UNCTAD recomenda que os governos
encorajem o uso do sistema orgânico e outros que tenham como base a
baixa dependência de insumos externos e o manejo integrado de pragas.
Segundo o relatório, a adoção de políticas nacionais e internacionais
voltadas à adoção de métodos de produção mais sustentáveis poderia re-
duzir custos, desenvolver novos mercados e melhorar a renda e a seguran-
ça alimentar.
O Trade and Environment Review 2009/2010, documento da
UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio
e Desenvolvimento) alerta para as necessidades de mudan-
ças nas áreas energética e agrícola. Recomenda a agricultura
orgânica e outros sistemas que minimizem o uso de insumos
externos, incluindo agrotóxicos e fertilizantes e utilize o mane-
jo mais sustentável de pragas e doenças.
Fonte: www.unctad.org
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AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
ABREU, I. Agricultura sustentável. Cadernos de Direito UNIMEP, Pi-
racicaba, v.1, p. 85-94, 2001.
AGRONÔMICO, O. Boletim técnico do Instituto Agronômico do
Estado de São Paulo. Campinas, v. 54, n. 2, 2002.
ALTIERI, M. Agroecologia: bases científicas para uma agricultura
sustentável. 2.ed. Rio de Janeiro: PTA-FASE, 2002. 592 p.
ALVARENGA, M.I.N.; SIQUEIRA, J.O. & DAVIDE,A.C. Teor de carbono,
biomassa microbiana, agregação e micorriza em solos de Cerrado
com diferentes usos. Ciências Agrotecnológicas, 23:617-625. 1999.
ASSOCIAÇÃO DE AGRICULTURA ORGÂNICA. Normas de Produção
Orgânica, 2000.
BELLON, S.; ABREU, L.S. Formas sociais de desenvolvimento da
horticultura orgânica em áreas de cinturão verde do território de
Ibiúna, Estado de São Paulo. Cadernos de Ciência & Tecnologia. v. 22,
n.2, p.381-398, 2005.
BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. Conservação do solo. 4. ed., Ícone,
São Paulo. 1999. 355p.
BRASIL. Decreto Legislativo n°2, de 3 de fevereiro de 1994. Senado
Federal. Aprova o texto da Convenção sobre a Diversidade Biológica,
assinada durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Am-
biente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, no período
de 5 a 14 de junho de 1992. Diário Oficial da União, Brasília.
BRASIL. Lei nº 10.831, 23 de dezembro de 2003. Ministério da Agricul-
tura e Agropecuária. Dispõe sobre a agricultura orgânica e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, p.8, 24 dez. 2003. Seção 1.
CAPORAL, F.R. La extensión agraria del sector público ante los
desafíos del desarrollo sostenible: el caso de Rio Grande do Sul, Bra-
sil. 1998. 517p.Tese (Doutorado). Programa de Doctorado enAgroecología,
Campesinado e Historia, ISEC-ETSIAN, Universidad de Córdoba, España.
Referências Bibliográficas
72
04717 - 35538001miolo.indd 7204717 - 35538001miolo.indd 72 23/5/2011 10:05:1623/5/2011 10:05:16
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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VOLVIMENTO. Nosso futuro comum - Relatório Brundtland. Rio de Ja-
neiro: Fundação Getúlio Vargas, 1988.
COSTA, E.A.; GOEDERT,W.J.; SOUSA, D.M.G. Qualidade de solo sub-
metido a sistemas de cultivo com preparo convencional e plantio
direto. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.41, n.7,p.1185-1191, 2006.
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na, 2002. IAPAR, 250 p.
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novo paradigma. 2.ed. São Paulo: Livraria e Editora Agropecuária, 1999.
157 p.
GLIESSMAN, S. R. Processos ecológicos em agricultura sustentá-
vel. 2.ed. Rio Grande do Sul: Editora da Universidade, 2001. 653 p.
HOWARD, S. A. Um testamento agrícola. São Paulo: Expressão Po-
pular, 2007. 360 p.
IAASTD. Agriculture at a Crossroads: Global Report. Island Press,
Washington D.C. 2008.606 p.
IFOAM, 2007. The world of organic agriculture. International Fe-
deration of Organic Agriculture Movements, Bonn, Germany.
IZQUIERDO, J.; FAZZONE, M.R.; DURAN, M. Manual “Boas Práticas
Agrícolas para Agricultura Familiar”. FAO, Santiago, Chile. 2007. 60p.
KIEHL, J.E. Fertilizantes orgânicos. Piracicaba: Agronômica Ceres,
1985. 492 p.
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E ABASTECIMENTO. Lei 10.831, de 23
de dezembro de 2003, que dispõe sobre a agricultura orgânica.
NCR (National Research Council). Alternative agriculture. Washing-
ton, DC.: National Academy Press, 1989.
PASCHOAL,A. Pragas, praguicidas e crise ambiental: problemas e
soluções. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1979. 102 p.
PASCHOAL, A. Produção orgânica de alimentos: agricultura sus-
tentável para os séculos XX e XXI. Guia técnico e normativo para
73
04717 - 35538001miolo.indd 7304717 - 35538001miolo.indd 73 23/5/2011 10:05:1623/5/2011 10:05:16
o produtor, o comerciante e o industrial de alimentos orgânicos e
insumos naturais. 1994. 279p.Tese (Doutorado). Escola Superior de Agri-
cultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba.
PIMENTEL, D.; HEPPERLY. P.; HANSON J.; DOUDS D.; SEIDEL R. Environ-
mental, energetic, and economic comparisons of organic and con-
ventional farming systems. BioScience. v. 55, p.573-582, 2005.
RODRIGUES, G. S.; CAMPANHOLA, C. Sistema integrado de avalia-
ção de impacto ambiental aplicado a atividades do Novo Rural. Pes-
quisa Agropecuária Brasileira, v. 38, n. 4, p. 445-451, 2003.
SCIALABBA, N.E. Organic agriculture and food security - FAO,
Roma, Italy. International Conference on Organic Agriculture and
Food Security. Disponível em: http://www.fao.org/organicag/en/. Último
acesso em: 10 dezembro 2008.
SOUZA, J.L.; RESENDE, P. Manual de Horticultura Orgânica.Aprenda
Fácil, 2003. 560p.
UNCTAD. Trade and Environment Review 2009/2010. United Na-
tions, Nova Iorque. 2010. 230p.
WORTHINGTON, V. Effect of Agricultural Methods on Nutritional
Quality:A Comparison of Organic with Conventional Crops.Alterna-
tive Therapies, v. 4, p.58-69, 1998.
74
04717 - 35538001miolo.indd 7404717 - 35538001miolo.indd 74 23/5/2011 10:05:1723/5/2011 10:05:17
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Cadernos de Educação Ambiental
Coordenação Geral
Caderno Agricultura Sustentável
Autoria
Araci Kamiyama
Colaboração Técnica
Carolina Roberta Alves de Matos
Luis Ricardo Viegas de Carvalho
Ondalva Serrano – Associação de Agricultura Orgânica
Julio Veiga e Silva – Centro Paranaense de Referência em Agroecologia - CPRA
Revisão de Texto
Denise Scabin Pereira
Figuras
Araci Kamiyama
Ana Carolina Dalla Vecchia
Fotos cedidas por: Centro de Pesquisa Mokiti Okada,Associação de Agricul-
tura Orgânica, Moisés Esteves,Agropecuária Nata da Serra, Sítio Catavento,
Sítio Duas Cachoeiras, Centro Paranaense de Referência em Agroecologia,
Luis Costa, Sítio Olaria,Araci Kamiyama, Eduardo Profeta
Projeto Gráfico
Vera Severo
Arte de Capa e Diagramação
Eduardo Profeta
CTP, Impressão e Acabamento
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
Ficha Técnica
Secretaria de Estado do Meio Ambiente
Av. Prof. Frederico Hermann Jr., 345
São Paulo – SP – 05459-900 - Tel.: 11 3133-3000
www.ambiente.sp.gov.br
Disque Ambiente
0800 113560
04717 - 35538001miolo.indd 7604717 - 35538001miolo.indd 76 23/5/2011 10:05:1723/5/2011 10:05:17
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  • 1. CADERNOSDEEDUCAÇÃOAMBIENTALAGRICULTURASUSTENTÁVEL 13 AGRICULTURA SUSTENTÁVEL CadernosdeEducaçãoAmbiental GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE COORDENADORIA DE BIODIVERSIDADE E RECURSOS NATURAIS 13 Capa Caderno de Agricultura Sustentavel 2011-12.indd 1 20/05/2011 09:53:07
  • 2. GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE COORDENADORIA DE BIODIVERSIDADE E RECURSOS NATURAIS SÃO PAULO - 2012 Autora: Araci Kamiyama Agricultura CadernosdeEducaçãoAmbiental Sustentável 13 04717 - 35538001miolo.indd 104717 - 35538001miolo.indd 1 23/5/2011 10:04:2923/5/2011 10:04:29
  • 3. S24a São Paulo (Estado) . Secretaria do Meio Ambiente / Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais.Agricultura sustentável. Kamiyama,Araci. - - São Paulo: SMA, 2011. 7 p., x 2 , cm (Cadernos de Educação Ambiental, 13) Bibliografia. ISBN – 978-85-86624-84-1 1.Agricultura sustentável 2.Agroecologia 3. Produtos orgânicos 4. Sistemas agroflorestais I.Título. II. Série. Catalogação na fonte: Lucia Marins - CRB 4908 Ficha Catalográfica – preparada pela: Biblioteca – Centro de Referências de Educação Ambiental CDU – 349.6 04717 - 35538001miolo.indd 204717 - 35538001miolo.indd 2 23/5/2011 10:04:3023/5/2011 10:04:30 6 15,5 2 3 1 Reimpressão 2012a
  • 4. GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO Governador SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE Secretário COORDENADORIA DE BIODIVERSIDADE E RECURSOS NATURAIS Geraldo Alckmin Bruno Covas Helena Carrascosa von Glehn 04717 - 35538001miolo.indd 304717 - 35538001miolo.indd 3 23/5/2011 10:04:3023/5/2011 10:04:30
  • 5. SOBRE A SÉRIE CADERNOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL ASOCIEDADE BRASILEIRA, CRESCENTEMENTE PREOCUPADA COM AS QUESTÕES ECOLÓGICAS, MERECE SER MAIS BEM INFORMADA SOBRE A AGENDA AMBIENTAL. AFINAL, O DIREITO À INFORMAÇÃO PERTENCE AO NÚCLEO DA DEMOCRACIA. CONHECIMENTO É PODER. CRESCE, ASSIM, A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL.A CONSTRUÇÃO DO AMANHÃ EXIGE NOVAS ATITUDES DA CIDADANIA, EMBASADAS NOS ENSINAMENTOS DA ECOLOGIA E DO DESENVOLVI- MENTO SUSTENTÁVEL. COM CERTEZA, A MELHOR PEDAGOGIA SE APLICA ÀS CRIANÇAS, CONSTRUTORAS DO FUTURO. A SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO, PREOCUPADA EM TRANSMITIR, DE FORMA ADEQUADA, OS CONHECIMENTOS ADQUIRIDOS NA LABUTA SOBRE A AGENDA AMBIENTAL, CRIA ESSA INOVADORA SÉRIE DE PUBLICAÇÕES INTITULADA CADERNOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL. A LINGUAGEM ESCOLHIDA, BEM COMO O FORMATO APRESENTADO, VISA ATINGIR UM PÚBLICO FORMADO PRINCIPALMENTE POR PROFESSORES DE ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO, OU SEJA, EDUCADORES DE CRIANÇAS E JOVENS. OS CADERNOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL, FACE À SUA PROPOSTA PEDAGÓGICA, CERTAMENTE VÃO INTERESSAR AO PÚBLICO MAIS AMPLO, FORMADO POR TÉCNICOS, MILITANTES AMBIENTALISTAS, COMUNICADORES E DIVULGADORES, INTERESSADOS NA TEMÁTICA DO MEIO AMBIENTE. SEUS TÍTULOS PRETENDEM SER REFERÊNCIAS DE INFORMAÇÃO, SEMPRE PRECISAS E DIDÁTICAS. OS PRODUTORES DE CONTEÚDO SÃO TÉCNICOS, ESPECIALISTAS, PESQUISADORES E GERENTES DOS ÓRGÃOS VINCULADOS À SECRETARIA ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE. OS CADERNOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL REPRESENTAM UMA PROPOSTA EDUCADORA, UMA FERRAMENTA FACILITADORA, NESSA DI- FÍCIL CAMINHADA RUMO À SOCIEDADE SUSTENTÁVEL. 04717 - 35538001miolo.indd 404717 - 35538001miolo.indd 4 23/5/2011 10:04:3023/5/2011 10:04:30
  • 6. CADERNOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL - AGRICULTURA SUSTENTÁVEL AAGRICULTURA É UMA DAS ATIVIDADES PRODUTIVAS MAIS IMPORTANTES DE QUALQUER NA- ÇÃO, MAS SUA PRÁTICA REQUER CUIDADOS ESPECIAIS, POIS A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS ESTÁ DIRETAMENTE LIGADA À QUALIDADE AMBIENTAL. SEGUINDO OS PRECEITOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, O SETOR AGRÍCOLA, COMO UM DOS PRINCIPAIS MOTORES ECONÔMICOS DO BRASIL, FICOU MAIS ATENTO ÀS QUESTÕES AMBIENTAIS NAS ÚLTIMAS DÉCADAS. PARALELAMENTE A ISSO, O CONSUMIDOR PASSOU A PRIORIZAR UMA DIETA MAIS SAUDÁVEL, BASEADA EM ALIMENTOS QUE NÃO AGRIDEM O MEIO AMBIENTE. O CONCEITO DE AGRICULTURA SUSTENTÁVEL SURGIU NA DÉCADA DE 1980, EM RESPOSTA ÀS TÉCNICAS E MÉTODOS EMPREGADOS NA AGRICULTURA CONVENCIONAL, QUE AO LONGO DOS ÚLTIMOS ANOS PERMITIU AUMENTAR A PRODUÇÃO MUNDIAL DE ALIMENTOS E DIMINUIU CUSTOS DE PLANTIO, TRANSPORTE E COMERCIALIZAÇÃO. NO ENTANTO, ESTE TIPO DE AGRICULTURA TAMBÉM PROVOCOU A DEGRADAÇÃO DO SOLO E A PERDA DA BIODIVERSIDADE, COM A PRÁTICA DA MONOCULTURA E O USO INDISCRIMINADO DE FERTILIZANTES E AGROTÓXICOS. SEGUNDO A FAO (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA AGRICULTURA E ALIMENTA- ÇÃO), AGRICULTURA SUSTENTÁVEL CONSISTE, ENTRE OUTROS FATORES, “NA CONSERVAÇÃO DO SOLO, DA ÁGUA E DOS RECURSOS GENÉTICOS ANIMAIS E VEGETAIS, ALÉM DE NÃO DEGRADAR O AMBIENTE, SER TECNICAMENTE APROPRIADA, ECONOMICAMENTE VIÁVEL E SOCIALMENTE ACEITÁVEL”. ESTE CONCEITO TEM SIDO CADA VEZ MAIS APLICADO NAS LAVOURAS BRASILEIRAS, INCLUSIVE POR UMA DEMANDA DA PRÓPRIA SOCIEDADE. NÃO SE TRATA, PORÉM, DE VOLTAR AOS MÉTODOS E TÉCNICAS PRATICADOS ANTES DO SÉCULO XVIII E DAS REVOLUÇÕES AGRÍCOLAS, MAS SIM DE DESVINCULAR A IDEIA DE QUE AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE NÃO PODEM CAMINHAR JUNTOS. ESTE É UM DOS OBJETIVOS DO CADERNO - AGRICULTURA SUSTENTÁVEL. A PUBLICAÇÃO ABORDA, TAMBÉM, OS SISTEMAS AGROFLORESTAIS, A MUDANÇA DO SISTEMA CONVENCIONAL PARA O ORGÂNICO, A GARANTIA DE QUALIDADE E A COMERCIALIZAÇÃO DE ALIMENTOS PRODUZIDOS EM HARMONIA COM O MEIO AMBIENTE. BRUNO COVAS SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO 04717 - 35538001miolo.indd 504717 - 35538001miolo.indd 5 23/5/2011 10:04:3023/5/2011 10:04:30
  • 7. CADERNOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL “AGRICULTURA SUSTENTÁVEL” APREOCUPAÇÃO COM A QUALIDADE DOS ALIMENTOS E AS QUESTÕES AMBIENTAIS GLOBAIS, LI- GADAS ÀS PERSPECTIVAS DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS, COMO A DESTRUIÇÃO DAS FLORESTAS, CHUVAS ÁCIDAS E EFEITO ESTUFA, NO FINAL DOS ANOS 80, EXTRAPOLA O AMBIENTE ACADÊMICO E DAS INSTITUIÇÕES. O CONCEITO DE QUE O CRESCIMENTO ECONÔMICO DEVE CONCILIAR COM CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS JÁ ERA CONSENSO PARA A SOCIEDADE. ASSIM, OS CONSUMIDORES MAIS CONSCIENTES E PREOCUPADOS COM A QUALIDADE DE VIDA, PASSAM A INTERFERIR NO SISTEMA DE PRO- DUÇÃO AGRÍCOLA, DEMANDANDO PRODUTOS COMPROVADAMENTE MAIS SUSTENTÁVEIS E SAUDÁVEIS. NESTE CONTEXTO, SURGEM DIVERSOS MOVIMENTOS EM PROL DA AGRICULTURA SUSTENTÁVEL, FAZENDO SURGIR DIVERSAS DEFINIÇÕES SOBRE O TEMA. MAS, O QUE É AGRICULTURA SUSTENTÁVEL? DE UM MODO GERAL, AO ANALISAR AS DEFINIÇÕES, TODAS EXPRESSAM A NECESSIDADE DE SE ESTABELECER UM NOVO PADRÃO PRODUTIVO, QUE UTILIZE, DE FORMA MAIS RACIONAL, OS RECURSOS NATURAIS E MANTENHA A CAPACIDADE PRODUTIVA NO LONGO PRAZO. SABE-SE QUE A ATIVIDADE AGRÍCOLA PRATICADA COM TÉCNICAS AGROECOLÓGICAS (ORGÂNICA, BIODINÂMICA, NATURAL, ECOLÓGICA) É UMA ALTERNATIVA VIÁVEL, SUSTENTÁVEL E AUMENTA A COM- PETITIVIDADE DO AGRICULTOR, SOBRETUDO O AGRICULTOR FAMILIAR. O CADERNO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL “AGRICULTURA SUSTENTÁVEL” APRESENTA, DE FORMA CLARA E OBJETIVA, ALGUMAS DEFINIÇÕES SOBRE O TEMA, AS DIFERENTES VERTENTES DA AGRICULTU- RA SUSTENTÁVEL E AS PRINCIPAIS PRÁTICAS DE PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO AGROECOLÓGICAS. COM AS RECOMENDAÇÕES DE DIVERSOS ÓRGÃOS INTERNACIONAIS, FICA EVIDENTE QUE AS POLÍTICAS VOLTADAS À ADOÇÃO DE MÉTODOS DE PRODUÇÃO MAIS SUSTENTÁVEIS PODEM DESENVOLVER NOVOS MERCADOS, MELHORAR A RENDA E GARANTIR A SEGURANÇA ALIMENTAR DA POPULAÇÃO. HELENA CARRASCOSA VON GLEHN COORDENADORA DE BIODIVERSIDADE E RECURSOS NATURAIS 04717 - 35538001miolo.indd 604717 - 35538001miolo.indd 6 26/5/2011 14:49:1526/5/2011 14:49:15
  • 8. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO...............................................................................................9 2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL............................................................15 3. A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL..................................................................19 4. AGROECOLOGIA.........................................................................................25 5. O SOLO E AS PRINCIPAIS PRÁTICAS DE MANEJO AGROECOLÓGICO..........35 6. SISTEMAS AGROFLORESTAIS.......................................................................49 7. MUDANÇA DO SISTEMA CONVENCIONAL PARA O SISTEMA ORGÂNICO...53 8. GARANTIA DA QUALIDADE ORGÂNICA NOS PRODUTOS............................59 9. COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS ORGÂNICOS........................................63 10. RECOMENDAÇÕES DE ÓRGÃOS INTERNACIONAIS......................................69 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................72 04717 - 35538001miolo.indd 704717 - 35538001miolo.indd 7 23/5/2011 10:04:3023/5/2011 10:04:30
  • 9. 04717 - 35538001miolo.indd 804717 - 35538001miolo.indd 8 23/5/2011 10:04:3023/5/2011 10:04:30
  • 10. 1. Introdução 104717 - 35538001miolo.indd 904717 - 35538001miolo.indd 9 23/5/2011 10:04:3223/5/2011 10:04:32
  • 11. 1. Introdução AGRICULTURA SUSTENTÁVEL10 As primeiras formas de agricultura surgiram em torno de 10 mil anos atrás, no período da pré-história denominado NEOLÍTICO. Nesse período, ocorreram as primeiras formas de domesticação de espécies de vegetais e animais e o clima foi se tornando mais ameno e adequado ao cultivo de alimentos. O uso de técnicas, mesmo que inicialmente rudi- mentares, passou a fazer parte do cotidiano dos primeiros aglomerados humanos. Destaca-se o uso do fogo e de algumas ferramentas, assim como do esterco animal. Entre os anos de 8 mil e 6 mil a.C., a agricultura foi se desenvolvendo de forma diferente e independente nas diversas partes do mundo, prova- velmente nos vales fluviais habitados por antigas civilizações. O ser huma- no não necessitava mais coletar seu alimento na natureza (frutos, raízes e folhas). No Oriente Médio e na Europa desenvolveu-se, principalmente, o trigo e a cevada; no continente americano, o milho, o feijão e a batata; na Ásia, o arroz. As principais características deste período são: √ A domesticação de espécies animais (criações) e vegetais (culti- vos) e o aumento da produção de alimentos; √ O aparecimento das primeiras comunidades, pois com o desen- volvimento da agricultura, o homem deixa de ser nômade para morar em aldeias, vilas ou cidades; √ As primeiras comunidades localizam-se nas proximidades dos rios e lagos. A água, além de atender as necessidades humanas e dos animais domesticados, assume a função de irrigar o solo para o cultivo de alimentos. √ O desenvolvimento da cerâmica, que ocorreu associado à neces- sidade de armazenamento dos alimentos. √ O início das trocas de produtos entre as comunidades, devido à produção excedente. 04717 - 35538001miolo.indd 1004717 - 35538001miolo.indd 10 23/5/2011 10:04:3223/5/2011 10:04:32
  • 12. Foi somente no século 18, com o advento da agricultura moderna, que a produção em maior escala começou, caracterizando a Primeira Revolu- ção Agrícola, que ainda mantinha as seguintes características: √ A integração da produção agrícola e pecuária; √ O domínio sobre as técnicas de produção em maior escala e √ Aintensificaçãodousoderotaçãodeculturascomplantasforrageiras. Em meados do século 19, até o início do século XX, a Segunda Revolução Agrí- cola marcou uma série de descobertas científicas e avanços tecnológicos. Suas principais características são: √ O melhoramento genético das plantas e o uso de fertilizantes químicos; √ O distanciamento da produção vegetal, da produção animal e √ A prática da monocultura. Aliadas a outras práticas agrícolas, como o uso de variedades melho- radas, irrigação, uso intensivo de insumos industriais, sobretudo os fertili- zantes químicos e os agrotóxicos, e uso intensivo de máquinas agrícolas no preparo do solo caracterizaram a chamada “Revolução Verde”. Este mo- delo produtivo que vem sendo praticado nas últimas décadas é, também, chamado de agricultura convencional. 111. INTRODUÇÃO Figura 1. Quadro de Jean Millet mostrando a agricultura no século 18 Figura 2b. Cultivo convencional de cenoura (2006). Foto: Sebastião Wilson Tivelli Figura 2a. Cultivo convencional de batata, utilizando pulverização com mangueira (2006). Foto: Sebastião Wilson Tivelli 04717 - 35538001miolo.indd 1104717 - 35538001miolo.indd 11 23/5/2011 10:04:3223/5/2011 10:04:32
  • 13. A Revolução Verde teve seus méritos: aumentou a produção mundial de alimentos e diminuiu os custos de produção (benefícios repassados aos consumidores). Contudo, os resultados ambientais e sociais não foram os melhores: √ Degradação dos solos pela ocorrência de erosão, acidificação, sa- linização e compactação; √ Desmatamentos ilegais; √ Erosão genética e perda da biodiversidade pela especialização da produção; √ Contaminação da água, solos e dos alimentos pelo uso inadequa- do de adubos químicos e agrotóxicos; √ Intoxicação de agricultores, trabalhadores rurais e consumidores pelo uso indevido de agrotóxicos; √ Aparecimento de novas pragas e surgimento de pragas resisten- tes; √ Concentração de renda e exclusão social. Figura 3. Perigosa vala de erosão em estrada rural municipal, em Campinas, SP. Foto: Paulo Espíndola Trani, 2005 (Instituto Agronômico, SP) Figura 4. Voçoroca em áreas inicial- mente cobertas com pastagem no Pontal do Paranapanema, SP. Foto: P. Espíndola Trani, 1995 AGRICULTURA SUSTENTÁVEL12 04717 - 35538001miolo.indd 1204717 - 35538001miolo.indd 12 23/5/2011 10:04:3423/5/2011 10:04:34
  • 14. Em resposta a esses impactos, surgiram diversos movimentos em prol de uma agricultura mais sustentável, ambiental e socialmente. Os diversos movimentos, cada um com suas especificidades, se voltaram para práticas agrícolas que respeitavam os recursos naturais e o conhecimento tradi- cional. Podemos destacar os movimentos orgânico, biodinâmico, natural, regenerativo, permacultura, dentre outros. As discussões sobre os impactos ambientais e sociais da agricultura convencional, em meados dos anos 80, juntaram-se às questões ambien- tais globais (destruição de florestas, chuvas ácidas, acidentes ambientais, efeito estufa), saindo do ambiente agronômico e das instituições e atin- gindo os consumidores. Preocupados com a qualidade dos produtos que estão ingerindo e os danos ambientais causados pelo modelo convencional agrícola, os consumidores passaram a interferir no sistema de produção, por meio da demanda por produtos saudáveis, que fossem produzidos res- peitando o meio ambiente e a saúde dos trabalhadores. Surgiu, então, o termo “agricultura sustentável”. Neste contexto, o Relatório de Brundtland foi fundamental para que o conceito de susten- tabilidade, antes restrito a outros ramos da economia, fosse estendido para a agricultura. Também intitulado “Nosso Futuro Comum”, foi elaborado em 1987 pela CMMAD - Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e De- senvolvimento e aponta para a incompatibilidade entre desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo vigentes. O Relatório de Brundtland é um documento intitulado “Nosso Futuro Comum” e foi elaborado em 1987. Aponta para a incompatibilidade entre o desenvolvimento susten- tável e os padrões de produção e consumo vigentes. 1. INTRODUÇÃO 13 04717 - 35538001miolo.indd 1304717 - 35538001miolo.indd 13 23/5/2011 10:04:3523/5/2011 10:04:35
  • 15. 04717 - 35538001miolo.indd 1404717 - 35538001miolo.indd 14 23/5/2011 10:04:3623/5/2011 10:04:36
  • 16. 2 2. Desenvolvimento Sustentável 04717 - 35538001miolo.indd 1504717 - 35538001miolo.indd 15 23/5/2011 10:04:3723/5/2011 10:04:37
  • 17. Apalavra sustentável é originada do latim: sus-tenere e significa “sustentar, suportar ou manter”. É utilizada, na Língua Inglesa, desde o século 13, mas somente a partir dos anos 80 o termo “sustentá- vel” começou a ser empregado com maior frequência1 . O Desenvolvimento Sustentável possui basicamente duas vertentes: √ Uma que privilegia o aspecto econômico e as relações que as ati- vidades econômicas têm com o consumo crescente de energia e recursos naturais e √ Outra que considera os aspectos econômicos, sociais e ambien- tais, estabelecendo desafios importantes para muitas áreas do conheci- mento, implicando em mudanças nos padrões de consumo e do nível de conscientização. De acordo com o “Alternative Treaty on Sustainable Agriculture”2 : “O desenvolvimento sustentável é um modelo social e econômico de organização baseado na visão equitativa e participativa do desenvolvimen- to e dos recursos naturais,como fundamentos para a atividade econômica”. As críticas ao modelo de produção convencional já haviam surgido, como a publicação, em 1962, do livro Primavera Silenciosa, da pesquisado- ra Rachel Carson, nos EUA. A publicação mostrou como se dava a contaminação da cadeia ali- mentar pelo inseticida DDT (sigla de Dicloro-Difenil-Tricloroetano). Ao ser utilizado como inseticida, o DDT mostrou a vulnerabilidade do ambiente à ação humana, pois este se acumulava nos tecidos gordurosos do homem e dos animais, com sérios riscos à saúde e ao meio ambiente. O livro também questionava a confiança cega da humanidade no progresso tecnológico, tornando-se uma das maiores referências para o movimento ambientalista e aumentando a conscientização da população sobre o perigo no uso dos pesticidas. AGRICULTURA SUSTENTÁVEL 1 Ehlers, 1999. 2 Global Action, 1993. 16 04717 - 35538001miolo.indd 1604717 - 35538001miolo.indd 16 23/5/2011 10:04:3823/5/2011 10:04:38
  • 18. A preocupação com os problemas ambientais gerou uma série de en- contros internacionais a partir do final da década de 1960.A evolução dos conceitos de desenvolvimento sustentável e os principias eventos ambien- tais internacionais são apresentados na Tabela 1. Tabela 1. Principais eventos ambientais internacionais (anos 1960 - 1990) EVENTO OBSERVAÇÕES (1968) Clube de Roma A impossibilidade do crescimento infinito com recursos finitos. A conclusão do encontro foi que se as atuais tendências de crescimento da população mundial, industrialização, poluição, produção de alimen- tos e diminuição de recursos naturais continuarem imutáveis, os limites de crescimento neste planeta serão alcançados dentro dos próximos cem anos. (1972) Conferência de Estocolmo Ampliação do conceito de degradação ambiental, antes entendida ape- nas como poluição industrial. Tornaram-se evidentes a divergências entre os países industrializados e os países não industrializados. No Brasil, a oposição ao padrão produtivo da agrícola convencional concentrou-se em um movimento que ficou conhecido como “agricul- tura alternativa”. (1987) Relatório Brundtland, da Comissão Mundial de Meio Ambiente e do Desenvolvimento CMMAD Definição oficial do conceito de Desenvolvimento Sustentável. Primeira discussão do método para encarar a crise ecológica. Foi um documento importante para estender os conceitos de desenvol- vimento sustentável dos diversos setores para, também, a agricultura. No Brasil, surgem diversas ONGs que exerceram papel fundamental no desenvolvimento da agricultura sustentável no país (1992) Conferência do Rio Conferência sobre Meio Ambiente e Desen- volvimento Princípio de que os países desenvolvidos têm maior parcela de respon- sabilidade pela degradação ambiental. Foi importante para o reconhecimento das conseqüências das mudan- ças climáticas sobre o meio ambiente. Evidencia a vontade das nações de conciliar o desenvolvimento eco- nômico e o meio ambiente, integrando a problemática ambiental ao campo da economia. 2. DESENVOLVIMENTO SUTENTÁVEL Em 1962, a pesquisadora Rachel Carson lançou o livro “Primavera Silenciosa”. A publicação mostrou que o DDT e outros pesticidas penetravam na cadeia alimentar, contaminando o homem e o meio ambiente. FONTE: http://amazon.com 17 04717 - 35538001miolo.indd 1704717 - 35538001miolo.indd 17 23/5/2011 10:04:3823/5/2011 10:04:38
  • 19. 04717 - 35538001miolo.indd 1804717 - 35538001miolo.indd 18 23/5/2011 10:04:3923/5/2011 10:04:39
  • 20. 3 3.A Agricultura Sustentável 04717 - 35538001miolo.indd 1904717 - 35538001miolo.indd 19 23/5/2011 10:04:4023/5/2011 10:04:40
  • 21. AGRICULTURA SUSTENTÁVEL Oconceito de sustentabilidade na agricultura, a partir dos anos 70, ganha interesse de profissionais, pesquisadores e produtores, fa- zendo surgir uma infinidade de definições sobre o tema. De um modo geral, ao analisar as inúmeras definições de Agricultura Sustentável, as elaboradas pela FAO (Organização das Nações Unidas para aAgricultura eAlimentação) e NCR (National Research Council) se comple- mentam e, apesar de ainda não haver um consenso, dado a complexidade do assunto, são as mais aceitas internacionalmente: “A agricultura sustentável não constitui algum conjunto de práticas especiais, mas sim um objetivo: alcançar um sistema produtivo de alimento e fibras que: aumente a produtividade dos recursos naturais e dos sistemas agrícolas, permitindo que os produtores respondam aos níveis de deman- da engendrados pelo crescimento populacional e pelo desenvolvimento econômico; produza alimentos sadios, integrais e nutritivos que permitam o bem-estar humano; garanta uma renda líquida suficiente para que os ag- ricultores tenham um nível de vida aceitável e possam investir no aumento da produtividade do solo, da água e de outros recursos; e corresponda às normas e expectativas da comunidade.”3 “Agricultura sustentável é o manejo e a conservação da base de re- cursos naturais e a orientação tecnológica e institucional, de maneira a assegurar a obtenção e a satisfação contínua das necessidades humanas para as gerações presentes e futuras.Tal desenvolvimento sustentável (ag- ricultura, exploração florestal e pesca) resulta na conservação do solo, da água e dos recursos genéticos animais e vegetais, além de não degradar o ambiente, ser tecnicamente apropriado, economicamente viável e social- mente aceitável.”4 Pode-se dizer que praticamente todas as definições expressam a ne- cessidade de se estabelecer outro padrão produtivo que utilize, de forma 3 NCR (National Research Council), 1989. 4 FAO, citado por Ehlers, 1999. 20 04717 - 35538001miolo.indd 2004717 - 35538001miolo.indd 20 23/5/2011 10:04:4123/5/2011 10:04:41
  • 22. 3. A AGRICULTURA SUTENTÁVEL mais racional, os recursos naturais e mantenha a capacidade produtiva no longo prazo. Atualmente a palavra “sustentabilidade” é mundialmente conhecida e cada vez mais utilizada em todos os setores da economia. No entanto, não há um consenso quanto ao seu real conceito. O significado é distinto para diferentes pessoas e revela valores e percepções muitas vezes conflitantes sobre a utilização dos recursos naturais e o desenvolvimento econômico e social. Portanto, uma definição única e de consenso global, sobre os termos “sustentabilidade”, “desenvolvimento sustentável” ou “agricultura sus- tentável” é inadequada. No Brasil, alguns pesquisadores deixaram grandes contribuições ao desenvolvimento da agricultura sustentável, uma vez que contestaram o modelo vigente e apresentaram propostas de um novo padrão produtivo. Destacam-se os trabalhos de Adilson Paschoal,Ana Maria Primavesi e José Lutzemberger. Em 1976, José Lutzemberger lançou o Manifesto ecológico brasileiro: fim do futuro? Como tinha grandes conhecimentos no setor de agrotó- xicos, pois havia trabalhado durante 15 anos na área, o pesquisador fez severas críticas à agricultura convencional e propôs uma agricultura mais ecológica. Em 1979, Adilson Paschoal publicou Pragas, praguicidas e crise am- biental, que recebeu o Prêmio Ipês de Ecologia, concedido pela Funda- ção GetúlioVargas, para trabalhos sobre ecologia no Brasil. O livro mostrou que o aumento do consumo de agrotóxicos vinha provocando o aumento do número de pragas nas lavouras, por eliminar também grande parte dos inimigos naturais e por proliferar pragas resistentes às aplicações. Nos anos 1980, Ana Maria Primavesi lançou o livro Manejo Ecológi- A Agricultura Sustentável no Brasil 21 04717 - 35538001miolo.indd 2104717 - 35538001miolo.indd 21 23/5/2011 10:04:4123/5/2011 10:04:41
  • 23. co do Solo, destacando a importância do manejo adequado dos recursos naturais na agricultura tropical. Mas, a importância de Primavesi extrapola a área técnica. Considerada a mãe da agricultura sustentável, deu grande contribuição para a base científica da Agricultura Sustentável e para o mo- vimento agroecológico brasileiro. O livro Manejo Ecológico do Solo é considerado uma referência técnica para a agricultura sustentável no Brasil. FONTE: http://fnac.com.br “O futuro do Brasil está ligado à sua terra. O mane- jo adequado de seus solos é a chave mágica para a prosperidade e bem estar geral. A natureza em seus caprichos e mistérios condensa em pequenas coisas, o poder de dirigir as grandes; nas sutís, a potência de dominar as mais grosseiras; nas coisas simples, a capacidade de reger as complexas.” Ana Maria Primavesi j p c o d c Na segunda metade dos anos 1970, formou-se, na AEASP - Associação de Engenheiros Agrônomos do Estado de São Paulo, um grupo de “agri- cultura alternativa”, termo usado nesse período para designar as várias experiências de contestação à agricultura convencional. O grupo discutia os problemas sociais, ecológicos e econômicos da agricultura convencional e propunha alternativas mais sustentáveis. Durante a década de 1980, o movimento da agricultura sustentável ganhou força com a realização de três Encontros Brasileiros de Agricultura Alternativa (EBAAs). De início. as discussões eram mais focadas em as- pectos tecnológicos e na degradação ambiental provocada pela Revolução Verde. No terceiro EBAA, o foco voltou-se às questões sociais da produção, AGRICULTURA SUSTENTÁVEL22 04717 - 35538001miolo.indd 2204717 - 35538001miolo.indd 22 23/5/2011 10:04:4223/5/2011 10:04:42
  • 24. sobrepondo-as às questões ecológicas e técnicas. A partir deste encontro, foram realizados diversos Encontros Regionais de Agricultura Alternativa (ERAAs), nos quais foram incorporados, de modo permanente, os aspectos socioeconômicos aos ecológicos e técnicos5 . No Brasil, as organizações não governamentais – ONGs, como re- presentantes dos anseios da sociedade, exerceram papel fundamental no desenvolvimento da agricultura sustentável em suas diferentes vertentes, sendo responsáveis pela pressão para que haja políticas públicas no setor. Ainda na década de 80, surgiram várias ONGs voltadas para a “agri- cultura alternativa”, termo que foi substituído numa fase seguinte por “agricultura ecológica”. Atualmente, o termo “agricultura orgânica” é comumente utilizado de forma abrangente, para designar as diferentes vertentes. Esses trabalhos e eventos despertaram, de um lado, o interesse da opinião pública para as questões ambientais, e de outro, o interesse de agricultores para a adoção de tecnologias mais sustentáveis, fortalecendo o movimento agroecológico no país. A adesão de pesquisadores ao movimento alternativo teve desdobra- mentos importantes para a ciência e tecnologia, sobretudo na busca por fundamentação científica para as propostas técnicas do sistema agroeco- lógico. 5 Ehlers, 1999. 3. A AGRICULTURA SUTENTÁVEL 23 04717 - 35538001miolo.indd 2304717 - 35538001miolo.indd 23 23/5/2011 10:04:4223/5/2011 10:04:42
  • 25. 04717 - 35538001miolo.indd 2404717 - 35538001miolo.indd 24 23/5/2011 10:04:4323/5/2011 10:04:43
  • 26. 4 4.Agroecologia 04717 - 35538001miolo.indd 2504717 - 35538001miolo.indd 25 23/5/2011 10:04:4423/5/2011 10:04:44
  • 27. AGRICULTURA SUSTENTÁVEL Otermo “agroecologia” é geralmente empregado para designar a incorporação de idéias ambientais e sociais aos sistemas de produção. No Brasil, o termo “agroecológico” ou “agricultura agroecológica” é algumas vezes empregado para designar um segmento da agricultura sustentável, que tem foco nos aspectos sociais da produção, como se fos- sem um grupo à parte do movimento orgânico crescente no país. Mas, o seu significado é mais amplo, constituindo-se em uma nova abordagem da agricultura, que integra as diversas descobertas e estudos da natureza e suas inter-relações aos aspectos econômicos, sociais e ambientais da pro- dução de alimentos. De forma resumida, podemos dizer que a Agroecologia é a base, o alicerce, onde foram construídas as principais vertentes ou “correntes” de uma agricultura sustentável, como: Agricultura Orgânica ou Biológica; Agricultura Biodinâmica; Agricultura Natural e Permacultura. 4.1 Agricultura Orgânica A agricultura orgânica é a linha mais difundida da agroecologia. A IFOAM (Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica) e o Governo Federal têm como princípio e prática a agregação de todas as demais vertentes à agricultura orgânica, respeitando as especificidades de cada uma. Sua base técnica está na manutenção da fertilidade do solo e da saúde das plantas por meio da adoção de boas práticas agrícolas, como a diver- sificação e rotação de culturas, adubação orgânica, manejo ecológico de pragas e doenças e a preservação ambiental. De acordo com a Lei Federal nº 10.831, de 23 de dezembro 20036 : 6 Brasil, 2003. 26 04717 - 35538001miolo.indd 2604717 - 35538001miolo.indd 26 23/5/2011 10:04:4523/5/2011 10:04:45
  • 28. 4. AGROECOLOGIA “Considera-se sistema orgânico de produção agropecuária todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade eco- nômica e ecológica; a maximização dos benefícios sociais; a minimização da dependência de energia não-renovável, empregando, sempre que possí- vel, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos; e a eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de pro- dução, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente”. Considerado o pai da agricultura orgânica, Sir Albert Howard, re- alizou diversos estudos sobre compostagem e adubação orgânica, como resultado de sua vivência, durante quase 30 anos com agricultores tradi- cionais indianos. Os estudos realizados na Índia resultaram na publicação do livro Um Testamento Agrícola, de 1940, que é considerado um marco para a agricultura orgânica. No entanto, coube à Lady Balfour a respon- sabilidade pela divulgação e aceitação desses conceitos na comunidade européia. A pesquisadora publicou The Living Soil (O solo vivo), em 1943, que deu origem àThe SoilAssociation (Associação do Solo), principal órgão representativo do setor orgânico da Grã-Bretanha. Sistema orgânico x convencional A agricultura orgânica é um sistema de produção que se contrapõe ao sistema convencional. A Tabela 2 destaca as principais diferenças entre os dois sistemas de produção. 27 04717 - 35538001miolo.indd 2704717 - 35538001miolo.indd 27 23/5/2011 10:04:4523/5/2011 10:04:45
  • 29. Tabela 2. Principais diferenças entre sistema convencional e orgânico. INDICADORES CONVENCIONAL ORGÂNICO Manejo do Solo Degradação ambiental por práticas inadequadas: • Monocultura • Uso intensivo de máquinas e implementos agrícolas • Baixa cobertura do solo Preservação ambiental por uso de boas práticas agríco- las: • Maior diversidade de uso do solo • Uso racional de máquinas e implementos Boa cobertura do solo Pragas e Doenças Medidas de controle: Uso intensivo de agrotóxicos Favorecimento de novas es- pécies de pragas e doenças Eliminação dos inimigos na- turais das pragas pelo uso inadequado de agrotóxicos. Uso de medidas preventivas Manejo ecológico de pragas e doenças. Quando necessário, utilização de produtos não contaminan- tes. Adubação Uso intensivo de adubos quí- micos Uso de adubos orgânicos (composto, esterco, adubo verde). Número de Espécies ou Varie- dades (plantas e animais) Plantas e animais seleciona- dos para altos rendimentos Uso de variedades e espécies mais resistentes e adaptadas ao ambiente da produção Sustentabilidade Alta dependência externa de insumos e de energia não re- novável Busca a autosustentabilidade dos sistemas de produção Riscos de Contaminação Contaminação de trabalhado- res rurais e consumidores por usos indevidos de agrotóxicos. Contaminação ambiental Produção de alimentos livres de contaminação por agrotó- xicos. Preservação ambiental Impacto sobre recursos hídri- cos Maior impacto Menor impacto Vários estudos confirmam o melhor desempenho ambiental e quali- dade dos produtos orgânicos, quando comparados com os convencionais. Merecem destaque os resultados de uma pesquisa científica realizada AGRICULTURA SUSTENTÁVEL28 04717 - 35538001miolo.indd 2804717 - 35538001miolo.indd 28 23/5/2011 10:04:4623/5/2011 10:04:46
  • 30. 4. AGROECOLOGIA durante 22 anos por David Pimentel, da Universidade Cornell, Estados Uni- dos, comparando o cultivo orgânico de soja e milho com o convencional. Nesse estudo, foram avaliados seus custos e benefícios ambientais, ener- géticos e econômicos, concluindo-se que: 1. O cultivo orgânico utiliza uma média de 30 por cento menos energia fóssil; conserva mais água no solo; induz menos erosão; mantém a qua- lidade do solo e conserva mais recursos biológicos do que a agricultura convencional. 2. Ao longo do tempo os sistemas orgânicos produziram mais; espe- cialmente sob condições de seca. 3. A erosão degradou o solo na fazenda convencional, enquanto que o solo das fazendas orgânicas melhorou continuamente em termos de matéria orgânica, umidade, atividade microbiana e outros indicadores de qualidade7 . Quanto à qualidade dos alimentos, destacamos o trabalho realiza- do pela Universidade Johns Hopkins, Baltimore, EUA, por meio da revisão dos resultados da pesquisa disponíveis, comparando alimentos orgânicos Ao longo do tempo, os sistemas orgâ- nicos produziram mais, especialmente sob circustâncias de seca. O cultivo orgânico utiliza 30% menos energia fóssil, conserva mais água no solo, induz me- nos erosão, mantéma a qualidade do solo e conserva mais recursos biológicos. A erosão degradou o solo na fazenda convencional, enquanto os solos das fazendas orgânicas melho- rou continuamente em termos de matéria orgânica, umidade, atividade microbiana e outros indicadores de qualidade. 7 Conclusões do trabalho de Pimentel et al. 2005. 29 04717 - 35538001miolo.indd 2904717 - 35538001miolo.indd 29 23/5/2011 10:04:4623/5/2011 10:04:46
  • 31. AGRICULTURA SUSTENTÁVEL e convencionais8 . Esta revisão foi feita em 41 estudos com 1.240 compara- ções de 35 vitaminas e minerais. Os principais resultados foram: √ Os produtos orgânicos apresentaram maiores teores de magnésio (29%), de vitamina C (27%) e de ferro (21%). √ Os produtos orgânicos sempre apresentaram menor nível de ni- tratos (em média 15 % menor) e menos metais pesados do que os produ- tos cultivados convencionalmente. √ Quanto aos efeitos dos alimentos orgânicos na saúde, estes foram positivos sobre a saúde dos animais usados nos testes. Os efeitos foram mais acentuados nos animais recém-nascidos ou enfraquecidos por doenças. O Mercado de produtos orgânicos De acordo com a IFOAM, a área mundial supera os 30 milhões de hec- tares, sendo praticada em todos os continentes (Figura 5). ÁREA PLANTADA EM HECTARES América do Norte 2000 – 1 milhão 2006 – 2,2 milhões América Latina 2000 – 3,3 milhões 2006 – 5,8 milhões África 2000 – 0,02 milhão 2006 – 0,9 milhão Europa 2000 – 3,7 milhões 2006 – 6,9 milhões Ásia 2000 – 0,05 milhão 2006 – 2,9 milhões Oceania 2000 – 7,6 milhões 2006 – 11,8 milhões TOTAL 2000 – 15,67 milhões 2006 – 30,5 milhões 8 Worthington, 1998. IFOAM, 2007 Figura 5. Área Plantada com alimentos orgânicos ao redor do mundo. 30 04717 - 35538001miolo.indd 3004717 - 35538001miolo.indd 30 23/5/2011 10:04:4723/5/2011 10:04:47
  • 32. 4. AGROECOLOGIA O Brasil apresenta um número crescente de produtores orgânicos, alguns motivados pelos preços atuais desses produtos, mas outros pela necessidade crescente de atender a demanda da população por alimentos mais saudáveis, produzidos de forma sustentável. Dados oficiais sobre o mercado nacional de produtos orgânicos são muito recentes. Considerando a área certificada9 , calcula-se que existam mais de um milhão de hectares cultivados no sistema orgânico no Brasil, ocupando a quinta posição mundial. Os principais produtos orgânicos brasileiros são: soja, café, frutas, cana-de-açúcar, cacau, palmito e hortaliças. A agricultura biodinâmica é um sistema de manejo agrícola baseada nos princípios da Antroposofia, sistema filosófico e prático de desenvolvimento do ser humano desenvolvido por Ruldof Steiner no início do século XX. A utilização de conhecimentos astronômicos nas atividades agrícolas e criações animais, bem como a interação de forças espirituais (ou energias sutis) com plantas, animais e o homem são características deste sistema. A diversificação da produção,a integração entre as atividades e auto-sus- tentabilidade da propriedade são princípios básicos desta forma de manejo. 4.2 Agricultura Biodinâmica 9 Ver Capítulo “Certificação” FOTO: http://rudolfsteinerweb.com Copyright 2005-2009. Daniel Hindes A Agricultura Biodinâmica difere da Orgânica: na utilização de conhecimentos astronômicos; na utilização de preparos biodinâmicos. A Agricultura Biodinâmica tem em comum com a Orgânica: o uso sustentável dos recursos naturais; a não utilização de agrotóxicos, transgênicos e outras subs- tâncias nocivas ao solo, aos animais e à saúde humana. 31 04717 - 35538001miolo.indd 3104717 - 35538001miolo.indd 31 23/5/2011 10:04:4723/5/2011 10:04:47
  • 33. A agricultura natural surgiu no Japão, em 1935. Seu fundador foi Moki- ti Okada, que propôs um sistema de produção agrícola que imitasse a na- tureza: “A harmonia e prosperidade entre os seres vivos é fruto da conserva- ção do ambiente natural, a partir da obediência às leis da natureza”. Com o objetivo de preservar a qualidade do solo e dos alimentos, a diversidade e o equilíbrio biológico e contribuir para a elevação da qua- lidade de vida humana, Mokiti Okada fundou e desenvolveu este método agrícola sustentável. Alertou para as consequências das práticas agrícolas inadequadas, sobretudo sobre o uso indiscriminado de agrotóxicos. Na agricultura natural há pouca movimentação do solo. Esta é subs- tituída por roçadas, cobertura verde, semeaduras consorciadas de cereais com leguminosas ou coquetéis de hortaliças e ervas aromáticas, integradas a cultivos de frutas perenes. Outras práticas sustentáveis são utilizadas nesta e nas demais verten- tes da agroecologia; mas, diferentemente dos outros sistemas, a agricul- tura natural não emprega esterco animal e faz uso de compostos apenas vegetais, que conservam o equilíbrio do solo e permitem a reciclagem dos nutrientes para o desenvolvimento das plantas. FOTO: http://www.cpmo.org.br/mokiti_okada.php Copyright 2001 - 2011 - KORIN Agricultura Natural.Todos os direitos reservados Já na década de 1930, Mokiti Okada aler- tava para o uso indiscriminado de agrotó- xicos e suas conseqüências para o meio ambiente. 4.3 Agricultura Natural AGRICULTURA SUSTENTÁVEL32 04717 - 35538001miolo.indd 3204717 - 35538001miolo.indd 32 23/5/2011 10:04:4823/5/2011 10:04:48
  • 34. A permacultura, também chamada de agricultura permanente, foi criada na segunda metade dos anos 70, por meio das idéias de Bill Molli- son e David Holmgren, na Austrália. As espécies vegetais são dispostas da forma mais próxima possível dos ecossistemas naturais e integradas com animais e florestas, baseando-se em princípios agroecológicos. O Centro Rural de Educação é considerado a primeira instituição oficial da perma- cultura nos EUA e foi fundado em consequência da viagem feita por Bill Mollinson e outros pioneiros daquele país. Nesta corrente se procura praticar uma agricultura da forma mais integrada possível com o ambiente natural, imitando a composição espacial das plantas encontradas nas matas naturais. Envolve o cultivo de plantas aliadas à produção de animais. Algumas vezes é referido como um sistema “agrosilvopastoril”, que busca integrar lavouras, com espécies florestais e pastagens e outros espaços para os animais, considerando os aspectos paisagísticos e energéticos. 4.4 Permacultura “O Ovo da Vida” - Bill Mollison FONTE: http://arquitectura-de-costa-a-costa.blogspot.com/ O formato oval, do símbolo da permacultura, representa o ovo da vida; aquela quantidade de vida que não pode ser criada ou destruída, mas que é expressa e emana de todas as coisas vivas. Dentro do ovo está enrolada a serpente do arco-íris, a formadora da terra dos povos aborígines. No centro está a árvore da vida, a qual expressa os padrões gerais das formas de vida. Suas raízes estão na terra e sua copa na chuva, na luz do sol e no vento. O símbolo inteiro e o ciclo que representa, é dedicado à complexidade da vida no planeta terra” (Fonte: Introdução a Per- macultura, de Bill Mollison) 4. AGROECOLOGIA 33 04717 - 35538001miolo.indd 3304717 - 35538001miolo.indd 33 23/5/2011 10:04:4823/5/2011 10:04:48
  • 35. 04717 - 35538001miolo.indd 3404717 - 35538001miolo.indd 34 23/5/2011 10:04:4923/5/2011 10:04:49
  • 36. 5 5. O solo e as principais práticas de manejo agroecológico 04717 - 35538001miolo.indd 3504717 - 35538001miolo.indd 35 23/5/2011 10:04:5023/5/2011 10:04:50
  • 37. AGRICULTURA SUSTENTÁVEL 5.1 O Solo Osolo é a camada mais superficial da crosta terrestre. É uma mistu- ra de diversos sais minerais e rochas em decomposição; matéria orgânica, incluindo seres vivos; água e ar. As características dos solos variam muito de acordo com o local. O clima, o tipo de vegetação, o relevo e a rocha matriz são fatores que in- fluenciam na formação de diferentes tipos de solo. Embora possam variar em características e propriedades, os solos apresentam camadas chamadas de horizontes, que são formadas durante o processo de intemperização10 da rocha matriz. Ainda que cada classe de solos apresente um perfil de horizontes ca- racterístico, os seguintes horizontes são encontrados na maioria dos solos. É rico em húmus e restos orgânicos; É chamada de camada fértil. Possui cor mais escura, pois existe mais matéria orgânica que são os restos animais e vegetais decompostos; Caracterizada pelo acúmulo de materias provenientes dos horizontes superiores. Normalmente tem cor avermelhada ou amarelada devido a presença de ferro, mas existem exceções. Composto de material pouco alterado pelo processo de formação dos solos. Caracteriza-se pela presença de diferentes “pedaços” da rocha-mãe. Rocha consolidada. Figura 6. Representação de um perfil geral dos solos. As diferentes camadas são formadas à partir da intemperização da rocha matriz, no subsolo. 10 Intemperização: é o processo de formação dos solos a partir do material da rocha matriz, o que pode levar milhões de anos. 36 04717 - 35538001miolo.indd 3604717 - 35538001miolo.indd 36 23/5/2011 10:04:5123/5/2011 10:04:51
  • 38. 5. O SOLO E AS PRINCIPAIS PRÁTICAS DE MANEJO AGROECOLÓGICO Enquanto a formação do solo pode levar milhões de anos, sua degra- dação completa pode ocorrer em apenas algumas décadas. A degradação do solo é um grande desafio a ser vencido para viabi- lizar sistemas de produção de maior conservação ambiental e eficiência energética. A erosão do solo11 pode ser considerada um dos principais proble- mas ambientais decorrentes da agricultura, não apenas pelos alarmantes números de perdas de solo, mas também pelos desequilíbrios causados nos ecossistemas, com impactos negativos em outros importantes recursos naturais, como a água. Solos erodidos consomem mais fertilizantes, que nem sempre conse- guem suprir todas as necessidades nutricionais da planta. Plantas “mal nutridas” são mais susceptíveis ao ataque de pragas e doenças e há maior consumo de agrotóxicos12 . O controle da erosão é fundamental quando se fala em agricultura sus- tentável, devendo ser alcançado pela adoção de práticas conservacionistas pelos agricultores. Mas o solo não deve ser visto de forma isolada na produção sustentá- vel. Outras práticas aplicáveis na produção, processamento e transporte de alimentos, devem ser adotadas. As chamadas “Boas Práticas Agrícolas” são um conjunto de princí- pios, normas e recomendações técnicas, orientadas a assegurar a proteção da higiene,da saúde humana e do meio ambiente,mediante métodos ecolo- gicamente seguros, higienicamente aceitáveis e economicamente fatíveis13 . O Brasil perde, anualmente, pelo menos 500 milhões de toneladas de terra através da erosão, o que corresponde à retirada de uma camada de 15cm de espessura numa área de 2.800.000.000 m2 de terra. (Bertoni e Lombardi, 1999.) 11 A erosão é o processo de desprendimento e deslocamento das partículas do solo ou de rochas de uma superfície, causado pela água e pelo vento, por processos naturais ou antrópicos. O processo começa com a remoção da camada de cobertura do solo, expondo sua camada mais fértil. Com o impacto da água sobre o solo exposto, ocorre primeiro o desprendimento e depois o arraste do solo para os rios. 12 Ehlers, 1999. 13 FAO, 2007. 37 04717 - 35538001miolo.indd 3704717 - 35538001miolo.indd 37 23/5/2011 10:04:5123/5/2011 10:04:51
  • 39. As práticas conservacionistas podem ser de caráter vegetativo, edá- fico14 ou mecânico15 . A adoção dessas práticas, simultaneamente e não isoladamente, pelos agricultores, interfere na qualidade do solo, sob o pon- to de vista físico, químico ou biológico. As práticas de caráter vegetativo são aquelas que utilizam a ve- getação, de forma racional, para defender o solo contra a erosão. Alguns exemplos: florestamento, reflorestamento, plantas de cobertura, cultura em faixas, quebra-ventos. As práticas de caráter edáfico são aquelas que, com modificações no sistema de cultivo, além do controle de erosão, mantêm ou melhoram a fertilidade do solo. Exemplos: controle do fogo, adubação verde, adubação química, adubação orgânica e calagem. As práticas de caráter mecânico são aquelas em que se recorre a estruturas artificiais, mediante a disposição adequada de porções de ter- ra, com a finalidade de quebrar a velocidade de escoamento da enxurra- 5.2 As Práticas de Manejo Agroecológico 5.2.1 Práticas Conservacionistas Figura 7. Uso de quebra-ventos em produção orgânica de hortaliças na Fazenda Nata da Serra - Serra Negra/SP. Foto: Ricardo Schiavinato 14 Edáficos: Referentes aos solos. 15 Bertoni e Lombardi 1990. AGRICULTURA SUSTENTÁVEL38 04717 - 35538001miolo.indd 3804717 - 35538001miolo.indd 38 23/5/2011 10:04:5223/5/2011 10:04:52
  • 40. da e facilitar-lhe a infiltração no solo. Exemplos: distribuição racional dos caminhos, terraceamento e plantio em nível, caixas de contenção, canais escoadouros. Ao adotar práticas de conservação do solo e água, o produtor agroeco- lógico propicia a recuperação e manutenção da fertilidade do solo, o equilí- brio dos ecossistemas agrícolas e diminui ou evita a ocorrência de erosão. Figura 8a. Adubação verde com a espécie mucuna. Figura 8b. Composto orgâ- nico. Sítio Catavento - Indaiatuba/SP. Proprietário: Fernando Ataliba. Fotos: Moisés Esteves Santana. Figura 9. Práticas mecânicas (terraços e plantio em nível) e vegetativas (florestamento) integradas no Sítio Duas cachoeiras, Amparo/SP. Foto: Guaraci Diniz Junior 5. O SOLO E AS PRINCIPAIS PRÁTICAS DE MANEJO AGROECOLÓGICO 39 04717 - 35538001miolo.indd 3904717 - 35538001miolo.indd 39 23/5/2011 10:04:5223/5/2011 10:04:52
  • 41. AGRICULTURA SUSTENTÁVEL A Biodiversidade ou diversidade biológica é uma das propriedades fundamentais da natureza, responsável pelo equilíbrio dos ecossistemas e a base das atividades agrícolas, pecuárias e pesqueiras. É, também, fonte de imenso potencial de uso econômico. Quanto maior o índice de biodiversidade de uma região, maior a rique- za e a complexidade de seus ecossistemas. No sistema orgânico, as culturas e criações devem estar integradas e adaptadas às condições ambientais, respeitando a aptidão agrícola do solo, as áreas de preservação permanente e reserva legal e outras áreas protegidas por legislação. A alta diversidade de uso do solo é um dos pilares da agroecologia. Quanto maior a biodiversidade dos ecossistemas agrícolas, menor a proba- bilidade de infestações de pragas e doenças e maior o equilíbrio ambiental. No sistema orgânico o solo é considerado como um organismo vivo e não apenas como um suporte de plantas ou uma fonte de reserva de nutrientes.Assim, o manejo adequado do solo deve ser prática prioritária. A recuperação e manutenção da fertilidade do solo devem ser atin- gidas mediante a reciclagem do material orgânico, cujos nutrientes são gradualmente disponibilizados às plantas por meio da ação de micro- organismos do solo. 5.2.2 Incremento da Biodiversidade “Diversidade Biológica“ significa a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte, compreendendo ainda a diversidade dentro das espécies, entre espécies e de ecossitemas. Convenção sobre Diversidade Biológica 5.2.3 Recuperação e Manutenção da Fertilidade do solo 40 04717 - 35538001miolo.indd 4004717 - 35538001miolo.indd 40 23/5/2011 10:04:5523/5/2011 10:04:55
  • 42. 5. O SOLO E AS PRINCIPAIS PRÁTICAS DE MANEJO AGROECOLÓGICO A adubação orgânica aliada a outras práticas conservacionistas deve ser base do programa de manejo do solo e deve ser realizada de forma equilibrada, sem provocar excesso de nutrientes no solo. Existem vários tipos de adubos orgânicos de uso recomendável na agroecologia. Em geral, deve-se atentar para a origem e qualidade. Não é permitido, por exemplo, o uso de adubos oriundos de lixo urbano devido à probabilidade da presença de contaminantes. A utilização de composto orgânico, com mistura de estercos animais e resíduos vegetais é uma prática desejável e incentivada na agricultura orgânica, pois é uma forma de obtenção de um produto mais estabilizado, com melhor aproveitamento pelas plantas, além da possibilidade de reci- clagem dos resíduos em uma propriedade. A cobertura do solo com restos vegetais (palhas, cascas), adubos ver- des ou culturas proporciona efeito protetor contra erosão, além de favo- Figura 10. Resíduo orgânico gerado pela produção ani- mal para ser compostado e posteriormente utilizado na agricultura. Sítio Duas Cachoeiras. Amparo/SP. Foto: Guaraci Diniz. 5.2.4 Manutenção e Cobertura do solo 41 04717 - 35538001miolo.indd 4104717 - 35538001miolo.indd 41 23/5/2011 10:04:5523/5/2011 10:04:55
  • 43. recer a infiltração de água no perfil do solo, evitar as altas temperaturas provocadas pela incidência direta dos raios solares e contribuir para o con- trole de plantas espontâneas. AGRICULTURA SUSTENTÁVEL Figura 11. Cultivo de uva orgânica com boa cobertura do solo. Sítio Catavento-Indaiatuba/SP. Foto: Moisés Esteves Santana. Figura 12. Pomar orgânico (mamão), com adubação verde (nabisco) Sítio Catavento-Indaiatuba/SP. Foto: Moisés Esteves Santana. 42 04717 - 35538001miolo.indd 4204717 - 35538001miolo.indd 42 23/5/2011 10:04:5623/5/2011 10:04:56
  • 44. 5. O SOLO E AS PRINCIPAIS PRÁTICAS DE MANEJO AGROECOLÓGICO A rotação de culturas é uma prática agrícola de fundamental impor- tância nos programas de conservação do solo e no manejo ecológico de pragas, doenças e plantas espontâneas (chamadas de “daninhas” na agri- cultura convencional). Consiste em uma sucessão de cultivo, em que se utilizam famílias de vegetais diferentes, com exigências nutricionais e sis- temas radiculares distintos. Esta prática contribui para o controle de determinados organismos causadores de pragas e doenças, ajuda no controle de plantas espontâne- as, melhora a reciclagem de nutrientes do solo e contribui para o controle de erosão. Folha (Escarola) Raiz (Cenoura) Flor (Brócolis) Fruto (Berinjela) Figura 13. Exemplo de rotação de culturas com espécies vegetais utilizadas no cultivo de hortaliças. 5.2.5 Rotação de Culturas 43 04717 - 35538001miolo.indd 4304717 - 35538001miolo.indd 43 23/5/2011 10:04:5823/5/2011 10:04:58
  • 45. A alelopatia é a capacidade das plantas produzirem substâncias quími- cas que, liberadas no ambiente de outras, influenciam de forma favorável ou desfavorável o seu desenvolvimento. Na agroecologia são utilizados os termos “plantas companheiras” e “plantas repelentes” ou “antagônicas. As plantas companheiras referem-se às espécies ou famílias de plantas que se ajudam e complementam mutuamente, seja na utilização de água, luz e nutrientes ou mediante interações bioquímicas. Exemplo: tomate e morango. As plantas antagônicas são aquelas com capacidade de inibir o cres- cimento e o desenvolvimento de outras, por meio da liberação de certas substâncias no ambiente (solo, ar). Exemplo: tomate e batata. AGRICULTURA SUSTENTÁVEL 5.2.6 A Alelopatia no Manejo das Culturas Figura 14. Tomate e morango orgânicos são cultivados em ambiente protegidos. CPRA-Centro Paranaense de Referência em Agroecologia. Foto: Araci Kamiyama 44 04717 - 35538001miolo.indd 4404717 - 35538001miolo.indd 44 23/5/2011 10:04:5923/5/2011 10:04:59
  • 46. 5. O SOLO E AS PRINCIPAIS PRÁTICAS DE MANEJO AGROECOLÓGICO A utilização de plantas com efeitos alelopáticos ou barreira física (que- bra-ventos) é uma prática preventiva de controle na produção agrícola, fazendo parte do manejo de pragas e doenças das culturas e também de plantas espontâneas. Por meio da associação ou consórcio de plantas companheiras é pos- sível obter efeitos positivos, com aumento da produtividade e manutenção da qualidade do solo. O produtor deve preferir as espécies e variedades de plantas mais adaptadas às condições ecológicas locais, observando a melhor época para o plantio. Quando estão fora de seus ambientes naturais e épocas de cul- Figura 15. Área experimental – consórcio de plantas hortícolas. CPRA-Centro Paranaense de Referência em Agroecologia. Foto: Araci Kamiyama 5.2.7 A Escolha de Variedades e Culturas Mais Adaptadas 45 04717 - 35538001miolo.indd 4504717 - 35538001miolo.indd 45 23/5/2011 10:04:5923/5/2011 10:04:59
  • 47. tivo, as plantas são mais susceptíveis às ações de pragas e doenças e aos efeitos do clima. O manejo de pragas, doenças e plantas espontâneas é o resultado de todas as boas práticas adotadas, como a diversificação no uso da terra, a conservação do solo e da água, a escolha adequada das variedades, o manejo correto da cultura e a nutrição equilibrada, realizados de forma integrada. Quando se esgotam os meios preventivos, o produtor orgânico pode fazer uso de medidas de controle. Para isso, utiliza produtos naturais ou fórmulas especiais que não deixam resíduos tóxicos no alimento e no am- biente, como os extratos de plantas, inseticidas biológicos, iscas, armadi- lhas e caldas. Tabela 3. Exemplos de medidas preventivas e de controle no manejo eco- lógico de pragas, doenças e plantas espontâneas. Medidas Preventivas Medidas de Controle Diversificação do uso da terra Plantio em épocas corretas Uso de variedades adaptadas Nutrição equilibrada das plantas com macro- nutrientes e micronutrientes Adubação orgânica: compostagem, biofertili- zantes, adubos verdes Rotação de culturas Consorciação de culturas Uso de variedades resistentes a pragas e do- enças Uso de quebra ventos Extratos de plantas Agentes de controle biológicos: • Pequenas vespas como inimigo natural de pragas • Fungos que controlam pragas como ácaros, lagartas e pulgões • Fungos que controlam doenças fúngicas Iscas não-residuais e armadilhas: iscas para lesmas e armadilhas luminosas e com fero- mônios Caldas: bordalesa e sulfocálcica, com uso res- trito 5.2.8. Manejo de Pragas, Doenças e da Vegetação espon- tânea AGRICULTURA SUSTENTÁVEL46 04717 - 35538001miolo.indd 4604717 - 35538001miolo.indd 46 23/5/2011 10:05:0023/5/2011 10:05:00
  • 48. 04717 - 35538001miolo.indd 4704717 - 35538001miolo.indd 47 23/5/2011 10:05:0023/5/2011 10:05:00
  • 49. 04717 - 35538001miolo.indd 4804717 - 35538001miolo.indd 48 23/5/2011 10:05:0023/5/2011 10:05:00
  • 50. 6 6. Sistemas Agroflorestais 04717 - 35538001miolo.indd 4904717 - 35538001miolo.indd 49 23/5/2011 10:05:0223/5/2011 10:05:02
  • 51. AGRICULTURA SUSTENTÁVEL Sistemas agroflorestais (SAFs) ou agroflorestas são formas de uso sustentável da terra, em que as espécies de usos agrícolas, flores- tais e criações animais são manejadas em associação, de forma equilibra- da.Tem como principais características: √ A produção em harmonia com a natureza: no cultivo de espécies agrícolas, preserva-se ou recupara-se os recursos naturais. Cada grupo de espécies tem importância na promoção do equlíbrio ecológico; √ Preservação da biodiversidade. Neste sistema há uma alta diver- sidade biológica; √ O resgate de práticas e conhecimentos utilizados por comunida- des tradicionais; √ O fortalecimento econômico dos agricultores familiares, pela va- lorização de seus produtos e pelo atendimento das necessidades básicas de consumo familiar e √ A possibilidade de recuperação de áreas degradadas e áreas prio- ritárias na preservação da biodiversidade, que são de maior fragilidade ambiental e, na maioria das vezes, ocupadas por agricultores familiares. A atividade agrícola convencional nessas áreas traz consequências desastro- sas para a sustentabilidade agrícola . Figura 16. Implantação de Sistema Agroflorestal no Sítio Catavento. Na foto, destaque para os ítens alimentares: milho, taioba e banana. Proprietário: Fernando Ataliba. Foto: Ana Carolina Dalla Vecchia. 50 04717 - 35538001miolo.indd 5004717 - 35538001miolo.indd 50 23/5/2011 10:05:0223/5/2011 10:05:02
  • 52. 6. SISTEMAS AGROFLORESTAIS Atualmente, há poucas experiências com agroflorestas no Brasil. As existentes, na maioria das vezes, referem-se a consórcios de espécies ar- bóreas com culturas agrícolas, com baixo nível de diversidade. A falta de pesquisas científicas sobre o assunto e experimentações de campo; e o desconhecimento deste sistema pelo agricultor podem ser as causas da baixa adoção. O desenvolvimento de modelos tecnológicos de produção agroecoló- gica adaptados a cada região do Brasil e a disponibilização dessas tecno- logias aos pequenos agricultores são desafios que precisam ser vencidos para aumentar a segurança alimentar de nosso país. 51 04717 - 35538001miolo.indd 5104717 - 35538001miolo.indd 51 23/5/2011 10:05:0323/5/2011 10:05:03
  • 53. 04717 - 35538001miolo.indd 5204717 - 35538001miolo.indd 52 23/5/2011 10:05:0423/5/2011 10:05:04
  • 54. 7 7. Mudança do Sistema Convencional para o Sistema Orgânico 04717 - 35538001miolo.indd 5304717 - 35538001miolo.indd 53 23/5/2011 10:05:0523/5/2011 10:05:05
  • 55. AGRICULTURA SUSTENTÁVEL Na implantação de um sistema orgânico, a adoção das tecnologias para restabelecer o equilíbrio do ambiente e melhorar a fertilida- de do solo requer um período intermediário em que todas as práticas sejam adotadas. Esse processo de mudança de sistema de manejo é chamado de período de conversão, que é variável de acordo com a utilização anterior e a situação ecológica atual, podendo ser de 12 a 36 meses. A transição do sistema convencional para o orgânico deve acontecer de forma gradativa. O primeiro passo é a adoção de práticas conservacionistas ou de “Boas Práticas Agrícolas”, que visem melhorar a cobertura do solo, conter a ero- são e promover a recuperação ou preservação ambiental. Na segunda fase, devem ser implantadas as práticas de manejo das culturas e deve ser feito um bom plano de adubação e correção do solo, que considere as necessidades das culturas e a recuperação da fertilidade natural. Nesta fase, deve ser programado o manejo ecológico de pragas e doenças, já iniciado na primeira fase, com as práticas conservacionistas. O produtor deve prever o uso de produtos naturais, que não contaminem os alimentos, o trabalhador e o meio ambiente. Na terceira fase, deve-se procurar a diversificação de atividades, in- troduzindo novas atividades de baixo impacto; como, por exemplo, a in- tegração com fruticultura, hortaliças, sistemas agroflorestais, apicultura, produção de leite e ovos, dentre outros. O agricultor, que tem a intenção de comercializar seus produtos no mercado orgânico, em grande expansão no país, deve procurar obter infor- mações de outros agricultores, técnicos e entidades que já trabalhem com agricultura orgânica na região e elaborar um Plano de Conversão da sua propriedade. Um bom plano deve conter informações como: • Histórico da propriedade ou área de produção; 7.1. Dicas de Transição para o Sistema Orgânico 54 04717 - 35538001miolo.indd 5404717 - 35538001miolo.indd 54 23/5/2011 10:05:0623/5/2011 10:05:06
  • 56. 7. MUDANÇA DO SISTEMA CONVENCIONAL PARA O SISTEMA ORGÂNICO • Atividades desenvolvidas: culturas e criações; • Manejo utilizado em cada atividade: - Adubos utilizados; - Manejo de pragas e doenças; - Manejo dos rebanhos: alimentação, manejo sanitário e instalações; -Procedimentosparaprocessamento,armazenamento,transportee comercialização dos produtos e -Quaisospontoscríticoseaformaqueestesdevemsertrabalhados durante o período de conversão. Os selos verdes A partir dos anos 90, emergem os processos de certificação ambiental dos produtos agrícolas - como os selos verdes. A certificação ambiental fundamenta-se no princípio da produção com uso de técnicas e processos que não degradem o meio ambiente, como o sistema orgânico de produção e o agroextrativismo sustentável. A iniciativa de certificar esses processos partiu quase que exclusivamente de organizações não governamentais, que estabeleceram os seus critérios próprios de certificação. O que é a Certificação da Produção Orgânica Um produto alimentício, têxtil ou cosmético, para ser avaliado e certifi- cado, deve ser produzido de acordo com normas publicadas.A certificação orgânica é o processo pelo qual uma produção e o produto são avaliados para verificar se atendem aos requisitos especificados em uma norma de produção orgânica. Quando um produtor sente-se apto a contratar a certificação, entra em 7.2. Certificação da Produção Orgânica 55 04717 - 35538001miolo.indd 5504717 - 35538001miolo.indd 55 23/5/2011 10:05:0623/5/2011 10:05:06
  • 57. contato com a certificadora desejada (existem cerca de 20 certificadoras atuando no Brasil), enviando documentação inicial e pagamento da taxa de inscrição. A inspeção ocorre logo em seguida e consiste em reunir dados, checar documentos, operações de campo e o sistema de condução orgânica das atividades na propriedade. Também são inspecionadas as instalações, sa- carias e embalagens e a situação geral social e trabalhista. Se todos os requisitos estão atendidos é emitido um certificado de conformidade que atesta a qualidade dos produtos em relação à norma. Os produtos passam a poder exibir o Selo de Qualidade Orgânica. O Brasil, assim como na União Européia, adotou o selo único para identificar os produtos orgânicos certificados no mercado interno. Este selo passa a ser de uso obrigatório em dezembro de 2010. AGRICULTURA SUSTENTÁVEL56 Selo nacional que identifica o produto orgânico no Brasil 04717 - 35538001miolo.indd 5604717 - 35538001miolo.indd 56 23/5/2011 10:05:0723/5/2011 10:05:07
  • 58. 04717 - 35538001miolo.indd 5704717 - 35538001miolo.indd 57 23/5/2011 10:05:0723/5/2011 10:05:07
  • 59. 04717 - 35538001miolo.indd 5804717 - 35538001miolo.indd 58 23/5/2011 10:05:0723/5/2011 10:05:07
  • 60. 8 8. Garantia da Qualidade Orgânica nos Produtos 04717 - 35538001miolo.indd 5904717 - 35538001miolo.indd 59 23/5/2011 10:05:0823/5/2011 10:05:08
  • 61. AGRICULTURA SUSTENTÁVEL Acomercialização de produtos orgânicos depende da relação de con- fiança entre produtores e consumidores, no Brasil ou no mundo. A garantia da qualidade orgânica é feita de três diferentes formas no país: 1. A Certificação, feita por empresas públicas ou privadas, com ou sem fins lucrativos. Essas instituições são conhecidas como “Certificado- ras” e fazem todo o processo de inspeção ou auditorias nos sistemas de produção, processamento ou comercialização de produtos orgânicos. 2. Os Sistemas Participativos de Garantia, que se caracterizam pelo controle social e pela responsabilidade solidária. É um processo de gera- ção de credibilidade que pressupõe a participação solidária de todos os segmentos interessados em assegurar a qualidade do produto final e do processo de produção. 3. O Controle Social na Venda Direta sem Certificação, para o agricultor familiar, cuja venda de produtos acontece diretamente ao consu- midor, sem intermediários e que faça parte de uma organização ou “OCS – Organização de Controle social” (grupo, associação, cooperativa ou con- sórcio). Todos esses mecanismos são regulamentados pelo Ministério da Agri- cultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA e possuem regras e procedi- mentos a serem seguidos pelas partes envolvidas. 60 04717 - 35538001miolo.indd 6004717 - 35538001miolo.indd 60 23/5/2011 10:05:0923/5/2011 10:05:09
  • 62. 04717 - 35538001miolo.indd 6104717 - 35538001miolo.indd 61 23/5/2011 10:05:0923/5/2011 10:05:09
  • 63. 04717 - 35538001miolo.indd 6204717 - 35538001miolo.indd 62 23/5/2011 10:05:0923/5/2011 10:05:09
  • 64. 9 9. Comercialização de Produtos Orgânicos 04717 - 35538001miolo.indd 6304717 - 35538001miolo.indd 63 23/5/2011 10:05:1023/5/2011 10:05:10
  • 65. AGRICULTURA SUSTENTÁVEL Até os anos 1990, a comercialização de produtos orgânicos era basicamente por meio de feiras e lojas de produtos naturais. No final dos anos 90, surgem novos canais de distribuição, alguns ligados a associações e cooperativas, realizando novos processos de distribuição dos produtos. Nos últimos anos, as grandes redes de supermercados se mostram como um dos principais canais de comercialização, demandando grandes quantidades, apresentando-os como produtos de alta qualidade, seleciona- dos, rotulados e embalados. Em contrapartida, alguns movimentos ligados a agricultura familiar têm se mostrado preocupados com esta tendência e com a possível elimi- nação do agricultor familiar orgânico deste mercado. Feiras de Produtor A comercialização em Feiras Orgânicas possui várias vantagens tanto para o agricultor quanto para o consumidor. O contato direto entre produ- tor e consumidor aumenta a segurança de que só são vendidos produtos oriundos da agricultura orgânica e consequentemente aumenta a credibili- dade do consumidor na origem do produto. As feiras são espaços de troca de experiências e funcionam como pon- Figura 17. Comercialização de produtos orgânicos em feiras especializadas Foto: Araci Kamiyama 64 04717 - 35538001miolo.indd 6404717 - 35538001miolo.indd 64 23/5/2011 10:05:1123/5/2011 10:05:11
  • 66. 9. COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS ORGÂNICOS to de encontro de pessoas ligadas a temas afins, como o meio ambiente, a saúde e a responsabilidade social. Tabela 4. Vantagens e desvantagens da comercialização de produtos or- gânicos em Feiras do Produtor Vantagens Desvantagens Contato direto produtor/consumidor Recebimento à vista. Melhor remuneração (sem interme- diário/melhor preço por unidade). Controle sobre as sobras. Controle sobre seu crescimento. Estímulo à diversidade de produção. Necessidade de produção diversifi- cada. Maior tempo gasto com comerciali- zação. Tendência a crescimento limitado. Menor volume por unidade de pro- dutos comercializados. Figura 18. Banca dos irmãos Roncáglia.Feira Orgânica da AAO-Parque da Água Branca. Foto: Araci Kamiyama. 65 04717 - 35538001miolo.indd 6504717 - 35538001miolo.indd 65 23/5/2011 10:05:1123/5/2011 10:05:11
  • 67. Cestas (entregas em domicílios) As entregas em domicílio, assim como as feiras orgânicas, são formas de contato direto entre produtor e consumidor; pois, na maioria das vezes, são realizadas pelo próprio produtor ou por empresas distribuidoras que compram diretamente do produtor. Tabela 5.Vantagens e desvantagens da comercialização de produtos orgâ- nicos por meio de Entregas em Domicílio. Vantagens Desvantagens Contato direto entre produtor e con- sumidor. Boa remuneração. Prazo de recebimento reduzido. Altos custos de distribuição. Necessidade de maior diversidade de produtos. Gastos com marketing e divulgação. Grandes Redes de Supermercados Tabela 6.Vantagens e desvantagens da comercialização de produtos orgâ- nicos em Grandes Redes de Supermercados. Vantagens Desvantagens Maior volume de escoamento. Para o consumidor: horário, segu- rança,estacionamento,pagamen- to facilitado, compra centralizada. Para o produtor: tempo gasto com comercialização reduzido. Prazo de pagamento entre 40 a 60 dias. Tendência de enrijecimento nas nego- ciações. Tendência de não-controle das sobras. Investimentos elevados em logística, distribuição e processamento mínimo. Outras formas de comercialização Compras públicas ou institucionais, como a merenda escolar A Lei Federal nº 11.947/2009 determina a utilização de, no mínimo, 30% dos recursos nacionais destinados à alimentação escolar, na compra AGRICULTURA SUSTENTÁVEL66 04717 - 35538001miolo.indd 6604717 - 35538001miolo.indd 66 23/5/2011 10:05:1323/5/2011 10:05:13
  • 68. 9. COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS ORGÂNICOS de produtos da agricultura familiar, produzidos, sempre que possível, no mesmo município das escolas. Além de ajudar os pequenos produtores locais, vários municípios lan- çaram programas de compras de produtos orgânicos para a merenda es- colar. Esta medida ajuda a promover a alimentação saudável dos alunos, valoriza a agricultura familiar local e estimula a produção mais sustentável. Comércio justo O Comércio Justo ou Fair Trade, em inglês, é uma modalidade de co- mércio que busca o estabelecimento de preços justos e padrões sociais e ambientais sustentáveis, criando meios e oportunidades para melhorar as condições de vida de pequenos agricultores. A idéia é que o produtor receba uma remuneração justa por seu tra- balho.Assim, consumidores preocupados com a sustentabilidade e que op- tam por comprar produtos do comércio justo têm permitido aos pequenos produtores optarem pela agricultura orgânica. Mercados locais Os pequenos negócios e as atividades do meio rural, muitas vezes de- pendem das vendas nas próprias regiões, demonstrando a importância do fortalecimento de mercados locais. Na agricultura orgânica, o desenvolvimento do mercado local é a prin- cipal estratégia utilizada por várias organizações para a vinculação dos agricultores com o mercado, buscando democratizar e popularizar o consu- mo de produtos orgânicos, aproximando produtores e consumidores. As redes solidárias de produção e consumo, as cooperativas de consu- midores, as feiras livres locais, as pequenas lojas, as festas e eventos nos municípios, o sistema “colhe e pague” e o turismo rural são alguns exem- plos de iniciativas para o desenvolvimento do mercado local. 67 04717 - 35538001miolo.indd 6704717 - 35538001miolo.indd 67 23/5/2011 10:05:1323/5/2011 10:05:13
  • 69. 04717 - 35538001miolo.indd 6804717 - 35538001miolo.indd 68 23/5/2011 10:05:1323/5/2011 10:05:13
  • 70. 10 10. Recomendações de Órgãos Internacionais 04717 - 35538001miolo.indd 6904717 - 35538001miolo.indd 69 23/5/2011 10:05:1523/5/2011 10:05:15
  • 71. AGRICULTURA SUSTENTÁVEL Estudo da FAO A ONU/FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e a Ali- mentação) divulgou, em 2007, um documento indicando que a agricultura orgânica pode ser o caminho para se alcançar a segurança alimentar e nutricional. 16 O documento indica os avanços e limites da agricultura or- gânica e propõe políticas e ações de pesquisa para o desenvolvimento da agricultura orgânica nos níveis nacional, internacional e institucional. O documento também indica que a agricultura orgânica tem condições de produzir alimentos suficientes para alimentar toda população mundial e com a vantagem de ser um sistema com reduzido impacto ambiental. Esta afirmação contesta o paradigma de que só a agricultura convencional é capaz de assegurar o abastecimento global de alimentos. Declaração de Vignola Este documento foi elaborado por entidades dos movimentos orgâ- nico e ambiental, resultante do encontro entre a Federação Internacional dos Movimentos da Agricultura Orgânica - IFOAM e a União Mundial pela Natureza - IUCN, no dia 23 de maio de 1999, em Vignola, na Itália, para unir ações de interesses comuns. O documento destaca, entre outros, que a agricultura orgânica é fundamental para o desenvolvimento rural susten- tável e crucial para a segurança alimentar global, devendo trabalhar mais próxima da conservação da natureza. Conclui que a agricultura orgânica é essencial para a preservação da biodiversidade Estudo da IAASTD Em 2008, a IAASTD (Avaliação Internacional sobre Ciência e Tecnolo- gia Agrícola para o Desenvolvimento) publicou um relatório enfatizando a necessidade de se ampliar as pesquisas agrícolas para a proteção do solo, 16 Scialabba, 2007. 70 04717 - 35538001miolo.indd 7004717 - 35538001miolo.indd 70 23/5/2011 10:05:1523/5/2011 10:05:15
  • 72. 10. RECOMENDAÇÕES DE ÓRGÃOS INTERNACIONAIS da água e da biodiversidade, bem como a necessidade de se aproveitar o conhecimento tradicional de milhões de pequenos agricultores. O docu- mento foi produzido ao longo de três anos por mais de 400 cientistas de todo o mundo, contando com a contribuição de governos de países desen- volvidos e em desenvolvimento, além do setor privado e da sociedade civil. Relatório da UNCTAD A UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desen- volvimento) publicou o documento chamado Trade and Environment Re- view 2009/2010, que aponta para as necessidades de mudanças urgentes no direcionamento de recursos para que o crescimento econômico seja sustentável sob o ponto de vista econômico, ambiental e social. Segundo o documento, as mudanças devem vir das seguintes áreas: eficiência energé- tica, agricultura sustentável e energias renováveis. Para a agricultura sustentável, a UNCTAD recomenda que os governos encorajem o uso do sistema orgânico e outros que tenham como base a baixa dependência de insumos externos e o manejo integrado de pragas. Segundo o relatório, a adoção de políticas nacionais e internacionais voltadas à adoção de métodos de produção mais sustentáveis poderia re- duzir custos, desenvolver novos mercados e melhorar a renda e a seguran- ça alimentar. O Trade and Environment Review 2009/2010, documento da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento) alerta para as necessidades de mudan- ças nas áreas energética e agrícola. Recomenda a agricultura orgânica e outros sistemas que minimizem o uso de insumos externos, incluindo agrotóxicos e fertilizantes e utilize o mane- jo mais sustentável de pragas e doenças. Fonte: www.unctad.org 71 04717 - 35538001miolo.indd 7104717 - 35538001miolo.indd 71 23/5/2011 10:05:1523/5/2011 10:05:15
  • 73. AGRICULTURA SUSTENTÁVEL ABREU, I. Agricultura sustentável. Cadernos de Direito UNIMEP, Pi- racicaba, v.1, p. 85-94, 2001. AGRONÔMICO, O. Boletim técnico do Instituto Agronômico do Estado de São Paulo. Campinas, v. 54, n. 2, 2002. ALTIERI, M. Agroecologia: bases científicas para uma agricultura sustentável. 2.ed. Rio de Janeiro: PTA-FASE, 2002. 592 p. ALVARENGA, M.I.N.; SIQUEIRA, J.O. & DAVIDE,A.C. Teor de carbono, biomassa microbiana, agregação e micorriza em solos de Cerrado com diferentes usos. Ciências Agrotecnológicas, 23:617-625. 1999. ASSOCIAÇÃO DE AGRICULTURA ORGÂNICA. Normas de Produção Orgânica, 2000. BELLON, S.; ABREU, L.S. Formas sociais de desenvolvimento da horticultura orgânica em áreas de cinturão verde do território de Ibiúna, Estado de São Paulo. Cadernos de Ciência & Tecnologia. v. 22, n.2, p.381-398, 2005. BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. Conservação do solo. 4. ed., Ícone, São Paulo. 1999. 355p. BRASIL. Decreto Legislativo n°2, de 3 de fevereiro de 1994. Senado Federal. Aprova o texto da Convenção sobre a Diversidade Biológica, assinada durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Am- biente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, no período de 5 a 14 de junho de 1992. Diário Oficial da União, Brasília. BRASIL. Lei nº 10.831, 23 de dezembro de 2003. Ministério da Agricul- tura e Agropecuária. Dispõe sobre a agricultura orgânica e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, p.8, 24 dez. 2003. Seção 1. CAPORAL, F.R. La extensión agraria del sector público ante los desafíos del desarrollo sostenible: el caso de Rio Grande do Sul, Bra- sil. 1998. 517p.Tese (Doutorado). Programa de Doctorado enAgroecología, Campesinado e Historia, ISEC-ETSIAN, Universidad de Córdoba, España. Referências Bibliográficas 72 04717 - 35538001miolo.indd 7204717 - 35538001miolo.indd 72 23/5/2011 10:05:1623/5/2011 10:05:16
  • 74. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS CMMAD – COMISSÃO MUNDIAL SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESEN- VOLVIMENTO. Nosso futuro comum - Relatório Brundtland. Rio de Ja- neiro: Fundação Getúlio Vargas, 1988. COSTA, E.A.; GOEDERT,W.J.; SOUSA, D.M.G. Qualidade de solo sub- metido a sistemas de cultivo com preparo convencional e plantio direto. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.41, n.7,p.1185-1191, 2006. DAROLT, M. R. Agricultura Orgânica: Inventando O Futuro. Londri- na, 2002. IAPAR, 250 p. EHLERS, E. Agricultura Sustentável: origens e perspectivas de um novo paradigma. 2.ed. São Paulo: Livraria e Editora Agropecuária, 1999. 157 p. GLIESSMAN, S. R. Processos ecológicos em agricultura sustentá- vel. 2.ed. Rio Grande do Sul: Editora da Universidade, 2001. 653 p. HOWARD, S. A. Um testamento agrícola. São Paulo: Expressão Po- pular, 2007. 360 p. IAASTD. Agriculture at a Crossroads: Global Report. Island Press, Washington D.C. 2008.606 p. IFOAM, 2007. The world of organic agriculture. International Fe- deration of Organic Agriculture Movements, Bonn, Germany. IZQUIERDO, J.; FAZZONE, M.R.; DURAN, M. Manual “Boas Práticas Agrícolas para Agricultura Familiar”. FAO, Santiago, Chile. 2007. 60p. KIEHL, J.E. Fertilizantes orgânicos. Piracicaba: Agronômica Ceres, 1985. 492 p. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E ABASTECIMENTO. Lei 10.831, de 23 de dezembro de 2003, que dispõe sobre a agricultura orgânica. NCR (National Research Council). Alternative agriculture. Washing- ton, DC.: National Academy Press, 1989. PASCHOAL,A. Pragas, praguicidas e crise ambiental: problemas e soluções. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1979. 102 p. PASCHOAL, A. Produção orgânica de alimentos: agricultura sus- tentável para os séculos XX e XXI. Guia técnico e normativo para 73 04717 - 35538001miolo.indd 7304717 - 35538001miolo.indd 73 23/5/2011 10:05:1623/5/2011 10:05:16
  • 75. o produtor, o comerciante e o industrial de alimentos orgânicos e insumos naturais. 1994. 279p.Tese (Doutorado). Escola Superior de Agri- cultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba. PIMENTEL, D.; HEPPERLY. P.; HANSON J.; DOUDS D.; SEIDEL R. Environ- mental, energetic, and economic comparisons of organic and con- ventional farming systems. BioScience. v. 55, p.573-582, 2005. RODRIGUES, G. S.; CAMPANHOLA, C. Sistema integrado de avalia- ção de impacto ambiental aplicado a atividades do Novo Rural. Pes- quisa Agropecuária Brasileira, v. 38, n. 4, p. 445-451, 2003. SCIALABBA, N.E. Organic agriculture and food security - FAO, Roma, Italy. International Conference on Organic Agriculture and Food Security. Disponível em: http://www.fao.org/organicag/en/. Último acesso em: 10 dezembro 2008. SOUZA, J.L.; RESENDE, P. Manual de Horticultura Orgânica.Aprenda Fácil, 2003. 560p. UNCTAD. Trade and Environment Review 2009/2010. United Na- tions, Nova Iorque. 2010. 230p. WORTHINGTON, V. Effect of Agricultural Methods on Nutritional Quality:A Comparison of Organic with Conventional Crops.Alterna- tive Therapies, v. 4, p.58-69, 1998. 74 04717 - 35538001miolo.indd 7404717 - 35538001miolo.indd 74 23/5/2011 10:05:1723/5/2011 10:05:17
  • 76. 04717 - 35538001miolo.indd 7504717 - 35538001miolo.indd 75 23/5/2011 10:05:1723/5/2011 10:05:17
  • 77. Cadernos de Educação Ambiental Coordenação Geral Caderno Agricultura Sustentável Autoria Araci Kamiyama Colaboração Técnica Carolina Roberta Alves de Matos Luis Ricardo Viegas de Carvalho Ondalva Serrano – Associação de Agricultura Orgânica Julio Veiga e Silva – Centro Paranaense de Referência em Agroecologia - CPRA Revisão de Texto Denise Scabin Pereira Figuras Araci Kamiyama Ana Carolina Dalla Vecchia Fotos cedidas por: Centro de Pesquisa Mokiti Okada,Associação de Agricul- tura Orgânica, Moisés Esteves,Agropecuária Nata da Serra, Sítio Catavento, Sítio Duas Cachoeiras, Centro Paranaense de Referência em Agroecologia, Luis Costa, Sítio Olaria,Araci Kamiyama, Eduardo Profeta Projeto Gráfico Vera Severo Arte de Capa e Diagramação Eduardo Profeta CTP, Impressão e Acabamento Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Ficha Técnica Secretaria de Estado do Meio Ambiente Av. Prof. Frederico Hermann Jr., 345 São Paulo – SP – 05459-900 - Tel.: 11 3133-3000 www.ambiente.sp.gov.br Disque Ambiente 0800 113560 04717 - 35538001miolo.indd 7604717 - 35538001miolo.indd 76 23/5/2011 10:05:1723/5/2011 10:05:17 Silvana Augusto