A contribuição da academia na eaeb 27 29 10 ii seaerj
Estudo piloto sobre metodologias em educação ambiental no Brasil
1. 1
Manuscrito não publicado, I World Environmental Education Congress, 2004,
Espinho, Portugal
Metodologias em Educação Ambiental na América Latina:
Problemas e Perspectivas. Estudo Piloto. I.Brasil. Esboço
Preliminar.
1
Alexandre de Gusmão Pedrini
2
Milta Fonseca Torgano
Introdução
A questão metodológica sempre foi assunto debatido em vários foros das disciplinas humanistas e
naturais. Há dezenas de livros publicados no Brasil, tratando do assunto (p. ex.,FAZENDA, 1991;MINAYO,
1992; ALVES-MAZZOTTI & GEWAND SZNAJDER, 1999; RICHARDSON, 1999; CHIZZOTTI, 2001; PEREIRA,
2001; RUDIO, 2002). Ao longo do tempo as “verdades passageiras” no campo metodológico foram se
modificando. Há, inclusive, uma célebre obra que mostra que não existe metodologia consistente e que a
ciência é anárquica (FEYERABEND, 1989). Por uma questão de referencial teórico -didático, metodologia,
neste trabalho, poderia ser vislumbrada como um conjunto de procedimentos com cientificidade com o fim de
munir uma pesquisa, atividade ou ação de meio para atingir a um fim. Apesar do campo de pesquisa em
metodologia ser pouco difundido na América latina, há institutos de pesquisa, nos países centrais, devotados
exclusivamente a desenvolver e aperfeiçoar novas metodologia científicas de aplicação ‘as ciê ncias como um
todo. Inclusive, DEMO (2000) afirma que a falta de preocupação metodológica é um indício de mediocridade
do trabalhador. Na Educação Ambiental (EA) há indícios de despreocupação metodológica. PEDRINI & DE -
PAULA (2002) mostraram, num estudo pr ospectivo, que uma conceituação equivocada de EA pode levar a
seleção de estratégias equivocadas em EA.
Há também uma lide bastante pungente e, ainda, de discursos oponentes intermináveis que é o
confronto entre a metodologia qualitativa e a metodologia quantitativa. Nas ciências humanas normalmente o
que se depara é com pesquisas com abordagem quase que exclusivamente e nas ciências naturais apenas a
abordagem quantitativa é aceita pela comunidade científica. Parece, então, haver uma cisão e uma oposição
entre a metodologia qualitativa e a quantitativa. Na seleção de que estratégias ou técnicas de coleta e análise
1
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Biologia Roberto Alcântara
Gomes(IBRAG), Departamento de Biologia Vegetal (DBV), Laboratório de Ficologia e Educação
Ambiental, Rua São Francisco Xavier, 524, Pavilhão Haroldo Lisboa da Cunha, sala 525/1, CEP
20550-013, Rio de Janeiro, RJ, Brasil; ( apedrini@cnen.gov.br)
2
Estagiária do Laboratório de Ficologia e Educação Ambiental, IBRAG, UERJ, Brasil;
(mpedrini@vetor.com.br)
2. 2
de dados devem ser adotadas num ou outro paradigma nem sempre é coerente. Assim, este estudo piloto se
propôs verificar se este fato ocorre no Brasil para depois se estruturar a uma pesquisa aprofundada.
Tencionou também ser fonte de estudo por interessados em metodologias em EA.
Metodologia
Face ao pouco tempo para planejar, realizar, avaliar e redigir este estudo em escala prospectiva ou
extensiva, foi pensado um estudo -piloto. Este estudo bastante preliminar e limitado, até o momento, seguiu os
trâmites coloquiais de uma pesquisa tradicional de enfoque qualitativo.
O primeiro autor entrou em contato com alguns colegas latinoamericanos para p oder cobrir
geograficamente a América Latina (AL). No entanto, não conseguiu, ainda, apoio. Deste modo, o primeiro
autor começou o trabalho de planejamento sozinho enquanto procurava parceiros. Em contato posterior com o
terceiro autor conseguiu seu intere sse em cuidar da América Central e uma indicação para um sub -
coordenador para o Caribe, restando ao primeiro autor a América do Sul. Mas, a colega que ficaria com o
caribe não respondeu aceitando ou não o convite até janeiro de 2003, inviabilizando a colet a de dados nesta
região, já que o período para respostas foi de cerca de 40 dias, abrangendo o mês de novembro de 2002. Em
janeiro/fevereiro de 2003 foram organizados, analisados e escritos os dados e informações deste trabalho -
piloto. Assim, decidiu-se estudar apenas o Brasil, face ao não envio da totalidade dos questionários obtidos de
outros países latino-americanos.
A esperança é de que a análise apaixonada e séria, por parte dos participantes do Workshop sobre
Tendências e problemas Metodológicos em Ed ucação Ambiental na AL no I Congresso Mundial de Educação
Ambiental, de 20-24 de maio de 2003, aperfeiçoará muito as já deficiências apontadas neste estudo e que por
isto mesmo foi adotado para exercício e não deixa de ser um exemplo, embora limitado aos s eus
respondentes, do que se pode fazer no Brasil.
De posse de um questionário semi -fechado ele foi enviado para alguns colegas para que se fizesse
um pré-teste de sua adequacia. No entanto, os poucos colegas que deram retorno o acharam adequado e já
devolveram o questionário preenchido definitivamente. Foi um equívoco aceitar as poucas respostas, pois
durante a organização dos dados verificou -se algumas incoerências na estruturação das perguntas.Aí,
verificou-se que este trabalho seria um excelente exemplo para um debate numa reunião de metodólogos
para podermos discutir a fundo as posturas corporativas de educadores ambientais.
O questionário (vide anexo) foi então distribuído por Correio Eletrônico (CE) a colegas cujos
endereços os autores possuíam no seu programa de CE. Foi também solicitado a estes colegas que adotasse
a estratégia de coleta de dados denominada de
“bola de neve”, em que, cada respondente repassaria o questionário para os colegas de sua lista de
endereços que fossem da AL, criando uma mul tiplicação incontável de pessoas. As principais listas de
discussão de Meio Ambiente e EA (com expressão nacional e internacional) a que o questionário foi enviado,
foram:
a) Educação Ambiental na América Latina (EALatina)
b) Educação Ambiental e Ecoturismo (Ea ecoturismo)
c) Grupo de Educação Ambiental na Internet (GEAI)
d) Rede Brasileira de Educação Ambiental (REBEA)
3. 3
e) Rede de Educação Ambiental do Estado do Rio de Janeiro (REA -RJ)
Como algumas listas de discussão não aceitavam anexos o texto do questionário foi feit o em Word
for Windows e transferido para o texto da mensagem do Programa “Outloook” e daí enviado para os
endereços selecionados. Em alguns casos as respostas chegaram com as frases agarradas umas às outras,
dificultando muito sua leitura. Neste caso, um c uidadoso rearranjo das frases teve que ser feito.
À medida que foi feita a organização dos dados verificou -se que algumas respostas podiam ter
sentido variado o que dificultou a coleta de dados.
Resultados
Foi feita uma caracterização geral dos responde ntes e suas vinculações profissionais, tentando -se ter
uma idéia de quais eram os educadores ambientais que participaram da pesquisa -piloto. O número de
respondentes do Brasil foram 25 exclusivamente das regiões sudeste, sul e centro -oeste. Algumas
características foram dimensionadas e algumas delas são apresentadas nos gráficos a seguir.
A Fig. 1 mostra a expressão numérica dos respondentes quanto ao sexo.
35%
Masculino
Feminino
65%
Figura 1: Gráfico mostrando os respondentes quanto ao sexo.
A Fig. 2 mostra as classes de anos de nascimento dos respondentes, dando uma idéia da idade dos
respondentes.
4. 4
Classes de anos de Nascimento
1970-1979 6
1960-1969 8
dos educadores
1950-1959 8
1940-1949 2
1930-1939 1
0 2 4 6 8 10
Núm ero de educadores
Figura 2: Classes de anos de nascimento dos educadores.
Os educadores respondentes se distribuíram, segundo o ano da c onclusão de seus cursos entre
1966-2002. Isto sugere que foram educadores de diferentes gerações, porém a maioria absoluta é de
educadores, em tese, maduros e experientes, face as suas idades entre 30 e 40 anos.
A Fig. 3 mostra se houve preferência dos edu cadores entre escolas públicas ou privadas para
fazerem sua graduação, em que região brasileira isto ocorreu e em que cursos obtiveram sua graduações.
35%
Particular
Públicas
65%
Figura 3: Preferência de universidades, segundo a gratuidade.
A Fig. 4 mostra a distribuição dos cursos dos educadores por estados brasileiros onde alcançaram
suas graduações.
5. 5
8 8
7
7
Números de educadores
6
5
4 3 3
3 2
2 1 1
1
0
Goiás Paraná SP RJ RS SC Não
Ident.
Estados brasileiros
Figura 4: Estados onde os educadores ambientais se graduaram .
A Fig. 4 mostra que os educadores se graduaram apenas nas regiões sudeste, sul e centro -oeste,
sendo a maioria absoluta no eixo Rio de Janeiro e São Paulo.
A Fig.5 apresenta o perfil temático representado pelas graduações que os respondentes preferiram
se formar, sendo que dois deles fizeram mais de uma.
15
16
14
Número de educadores
12
10
8
6 3
2 2
4 1 1 1 1 1 1
2
0
Com.Soc. Quimica Eng. Flor. Pedagogia C.Agríc.
Graduação universitária
Figura 5: Perfil temático dos educadores quanto a graduação universitária que se formaram.
A Fig. 5 mostra que a maioria absoluta dos educadores são biólogos(ciências naturais) e minoria
absoluta das ciências sociais.
A Fig. 6 mostra o grau de qualificação pós -graduada dos respondentes.
6. 6
18
16
Número de educadores 14
12
10
8
6
4
2
0
Esp.Br Esp.Ext. Ms. Br. Ms. Ext. Dr. Br. Dr. Ext. Pós Dr.Br Pós
Dr.Ext.
Qualificação pós-graduada
Figura 6: Gráfico mostrando o grau de qualificação dos educadores respondentes.
A Fig. 7 apresenta o tipo de educação ambiental praticada pelos respondentes.
48% EAF
52% EANF
Figura 7: Representação numérica dos tipos de educação ambiental praticadas pelos educadores
ambientais; EAF: Educação Ambiental Formal e EANF: Educação Ambiental Não Formal.
A Fig. 8 mostra em que níveis de ensino, dentre os 52 % de Educação Ambiental Formal, os educadores
ambientais atuam.
7. 7
12
10
educadores
Número de 8
6
4
2
0
Ed.Infantil Secundário Graduação Especializ. Mestrado Doutorado
Figura 8: Níveis do ensino formal em que os educadores ambientais atuam.
A Figura 8 mostra que os educadores atuam em vários níveis do ensino superior ao mesmo tempo.
Os que têm doutorado atuam da graduação ao doutorado, em geral. Os que atuam na educação infantil e
secundário não atuam no ensino superior.
A Fig.9 expõe as preferências metodológicas no nível de paradigma adotadas pelos respondentes.
Quatro respondentes praticam as duas abordagens , ou seja, a qualitativa e a quantitativa, sendo que três
deles sem misturar as estratégias de coleta e análise dos dados.
19%
3%
Qualitativa
Quantit.
QualQuat
78%
Figura 9: Paradigmas metodológicos adotados pelos educadores.
A predominância absoluta da escolha da abordagem qualitativa para os trabalhos dos educadores
ambientais sugere que o uso de estatística e sua derivações em que cada indivíduo responde exatamente
igual ao outro não procede. Além disto, a possibilidade de aprofundamento com número menor de educandos
se mostra mais verdadeiro. Mostra uma escolha em que a educação ambiental se processa dependente do
contexto em que ela é praticada. Porém, há também a aplicação mesmo que quase inexistente do s dois
paradigmas concomitantemente. Na análise dos dados já codificados foi verificada a adoção de estatística
não-paramétrica para um estudo de abordagem qualitativa. Este fato, nos parece, um equívoco metodológico.
A Fig. 10 apresenta as estratégias d e coleta de dados.
8. 8
15
14
16 13 13
14 11
12
Números de educadores
10
8
4
6
4 1
2
0 Entrevista A.Conteúdo Pesq.Ação Obs.Part. Pesq.Part. Hist.Oral Hist.Vida
Estratégias de coleta de dados
Figura 10:
Expressão das estratégias de coleta de dados na abordagem qualitativa
adotados pelos educadores.
A Fig. 11 mostra as técnicas de coleta de dados adotadas pelos educadores, seg undo a abordagem
quantitativa.
14%
43% Question.
Amost.Prob.
Não Ident.
43%
Figura 11: Expressão numérica das técnicas de coleta de dados
na abordagem quantitativa pelos educadores.
A Fig.12 apresenta a expressão numérica das técnicas de análise de dados na abo rdagem
quantitativa.
14%
Est.Param.
29%
Est.NParam.
57% Anal.Multiva.
Figura 12: Representação numérica das técnicas de análise
9. 9
do paradigma quantitativo adotadas pelos
educadores ambientais.
Considerações Finais
Este estudo piloto possibilitou mostrar a preferência dos educadores pela abordagem qualitativa e
exemplificar algumas incongruências metodológicas, quando tenta -se compor o paradigma qualitativo com o
quantitativo.
Possibilitou também ao analisar os questionários (estra tégia de coleta de dados)verificar algumas
distorções de estrutura, porém, apenas, nas perguntas de caracterização dos respondentes.
O baixo número de respostas (considerando que devam haver milhares de educadores ambientais
no Brasil, em diferentes estág ios de experiência), não impediu que se caracterizasse e identificasse,
preliminarmente, no Brasil, as estratégias e métodos consagrados internacionalmente na prática dos
educadores ambientais.
Literatura Citada
ALVES-MAZZOTTI, A. J. & GEWANDSZNAJDER, F . O Método nas Ciências Naturais e Sociais; Pesquisa
Quantitativa e Qualitativa. São Paulo, Pioneira, 1999, 2 ed., 203 p.
CHIZZOTTI, A Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. São Paulo, Cortez, 5 ed., 2001, 164 p.
DEMO, P. Metodologia do Conhecimento Cie ntífico. São Paulo, Atlas, 2000, 206 p.
FAZENDA, I. (Org.) Metodologia da Pesquisa Educacional . São Paulo, Cortez, 1991, 2 ed., 174 p.
FEYERABEND, P. Contra o Método. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 3 ed., 1989, 488 p.
MINAYO, M. C. De S. O Desafio do Conhecimento; pesquisa qualitativa em saúde . São Paulo, HUCITEC-
ABRASCO, 1992, 269 p.
PEDRINI, A G. & DE-PAULA, J. C. de. Educação Ambiental: Críticas e Propostas. In: PEDRINI, A G. (Org.)
Educação Ambiental; Reflexões e Práticas Contemporâneas . Petrópolis, Vozes, 5 ed., 2002, p.
PEREIRA, J. C. R. Análise de dados qualitativos; Estratégias Metodológicas para as Ciências da Saúde,
Humanas e Sociais. São Paulo, EDUSP/FAPESP, 3 ed., 2001, 157 p.
RICHARDSON, R. J. (Org.) Pesquisa Social; Métodos e Técnicas . São Paulo, Atlas, 3 ed., 1999, 334 p.
RUDIO, F. V. Introdução ao projeto de pesquisa científica . Petrópolis, Vozes, 30 ed., 144 p.