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Imaginai
Imaginai. Imaginai um país onde o desfasamento de poderes se transforma em total e
completa inversão. D. João V não é rei, muito menos casou com D. Maria Ana, arquiduquesa
de Áustria. Ao invés, o nosso estimado Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão, apelidado de
Voador, é o governante deste nobre país, que está em melhor condição do que a esperada.
Religioso por natureza, mas não fanático, governa com o ceptro numa mão e o crucifixo na
outra. Para não afrontar o Papa, que tão atenciosamente lhe chama Fidelíssimo, deixou que a
Inquisição entrasse no país, mas o seu poder era irreal, apena uma ilusão destinada a insuflar o
ego dos narcisistas da Santa Sé, com todo o poder divino existente a corroborá-los. D.
Bartolomeu, primeiro de seu nome, permitia algumas prisões esporádicas, mas nunca
execuções; a vida humana é sagrada, há que preservar a alma e também o éter,
essencialmente. O éter, elemento indeterminado que remonta aos tempos longínquos de
Aristóteles, cuja natureza não se conhece nem se finge conhecer, tem sido alvo de buscas
incessantes por enviados do rei já há perto de uma década. Há que se fazer notar que
Bartolomeu foi coroado há apenas seis anos e meio, o seu irmão, rei antes de si e um homem
muito paciente, tolerava a obsessão do irmão mais novo e ainda infante na altura, suportando
a sua indulgência por conhecimentos incertos e pouco cristãos. Foi intervenção sobrenatural
que o anterior rei ainda tão novo morresse de gangrena e assim obrigasse o irmão a tomar o
seu lugar, impedindo-o de enveredar por uma vida na Igreja Católica como padre. É uma coisa
horrível morrer de gangrena. A doença come-nos por dentro, devora os tecidos sem
discriminação…vá-se lá pensar que o antigo rei contraiu a infeção através de um pequeno
corte de um simples talher de prata impropriamente limpo. Apesar do grande melhoramento
do paradigma nacional, derivado da ausência do reinado de terror da Inquisição, a situação
social do país encontrava-se num estado quase deplorável. Havia fome, miséria e doença para
onde quer que se olhasse. O rei, ainda que sensato para os seus verdes anos, não esquecia a
sua obsessão com o voo das aves, com a sua Passarola, e, aproveitando-se do cargo de poder
que agora ocupava, utilizava os recursos dos cofres estatais para alimentar essa sua fixação. Já
uma grande porção do tesouro nacional tinha sido gasta nesta busca e mais ainda seria
delapidada nos anos a vir. O padre, ah perdão, o rei não se iria demover nesta sua obstinação.
Já anos passados e, com eles, várias desilusões e frustrações, o Alto Inquisidor do reino
apresentou-se a D. Bartolomeu com uma plebeia por uma mão e um favor a pedir pela outra.
A rapariga, alta, magra e cabelos de cor clara, não sei se louros ou de um castanho muito claro,
tinha olhos hipnotizantes. A sua alteza real não se resolvia quanto à sua cor; ora eram verdes,
ora azuis, nunca permanecendo os mesmos. O rei forçou-se a desviar a sua atenção da
rapariga recém conhecida e a concentrar-se na cara daquele homem com quem já lidava há
largo tempo, sempre a colmatar as suas ilusões de grandeza e importância. Que necessitais,
meu senhor Inquisidor, perguntou o rei, numa voz impávida e que nada revelava, Venho
solicitar-vos autorização para executar esta rapariga, Vossa Graça. O homem olhou agora de
relance para a rapariga, como uma corça olha de soslaio para uma sombra dançante que
posteriormente se revela o seu predador letal, Esta herege, completou, voltando a olhar o seu
soberano. E qual é o pecado da rapariga, meu nobre senhor, Bartolomeu indagou, intrigado
com o pedido do Alto Inquisidor. Não é todos os dias que a entidade mais alta, tal o achavam
os dessa laia, da Igreja portuguesa em termos de justiça se apresentasse pessoalmente ao rei
para procurar permissão para a execução de uma simples plebeia. Esta rapariga, como vós lhe
chamais, possui uma arte negra sobre humana, é culpada de bruxaria e heresia contra Deus e
os seus desígnios para nós, comuns mortais, o inquisidor apresentava um discurso cortês nas
suas referências a D. Bartolomeu, mas assertivo não obstante. A sua determinação no seu
propósito era palpável, todavia também havia medo patente na sua voz.- A curiosidade do
Voador em relação ao misterioso dom da rapariga, a que este homenzinho impertinente
chamara arte negra, crescia a cada momento. Ele queria desvendar esse enigma. Elucidai-me
sobre esta arte de que falais e que a rapariga possui, o rei proferiu e o que o rei profere
cumprido será certamente. A resposta do Inquisidor chegou segundos depois, em virtude do
seu desejo de permanecer nas boas graças de Sua Graça. Ela vê por dentro das pessoas
quando está ainda em jejum, meu real senhor, é assombroso e não natural, explicou o justo
senhor Inquisidor, que tinha mais pecados na alma do que metade de Portugal, O que
significais com isso, homem, ide directo ao assunto, a sua majestade real estava a perder a
paciência, certamente que tinha outros afazeres mais merecedores do que este que o
homenzinho hipócrita, como já determinámos, lhe havia trazido, esmerando-se tanto para o
prolongar e, por conseguinte, açambarcar o tempo do Homem que tinha por tarefa governar
um reino na sua completa integridade territorial. Muito honestamente, o rei começava a
enfadar-se com o assunto, era sempre o mesmo, aquele indivíduo vivia e respirava execuções
de hereges e os espetáculos dos autos de fé. A rapariga vê por dentro das pessoas, mas por
dentro realmente, chegou-me aos ouvidos que ela disse já há uns meses que um intendente
da Santa Sé tinha uma úlcera no estômago e esse mesmo intendente morreu na passada
semana exatamente de uma úlcera perfurada localizada no estômago do pobre homem, foi
esta a explicação que o inquisidor ofereceu. Pareceu ao rei que uma acusação baseada num
mexerico era mais do que infundada e escusada e foram estes mesmos pensamentos que
transmitiu ao seu interlocutor. Não é só isto, meu senhor, continuou o inquisidor, defendendo-
se do ataque à sua argumentação, A rapariga há uma lua atrás disse a uma donzela grávida
que frequenta a igreja onde situo o meu escritório que iria ter um rapaz e que esse mesmo
rapaz levava duas voltas do cordão umbilical ao pescoço e na passada noite a rapariga deu à
luz um rapaz, tal como previsto, o rei decidiu interrompê-lo antes que o homem, aos seus
olhos, se embaraçasse ainda mais, Tendes noção de que havia igual possibilidade de ser um
rapaz ou uma rapariga e que esta rapariga aqui diante de mim apenas teve sorte na sua
previsão, senhor Inquisidor, Mas, Vossa Alteza, o rapaz levava realmente duas voltas do cordão
ao pescoço e por pouco não nasceu morto. Esta última revelação apanhou o rei de surpresa,
deixando-o sem palavras. Discretamente requerendo alguns momentos para organizar as suas
opiniões sobre este assunto à luz das novas informações, o rei tornou a dirigir-se ao outro
interlocutor, Deixai-a em paz, Inquisidor, a rapariga não pratica bruxaria nem outra qualquer
arte negra, ela vê o que é deste mundo e que Deus quis que ela visse. Bartolomeu levantou-se
então e dirigiu-se aos presentes, Libertai-a à minha custódia e não voltareis a pensar nela nem
a ireis mencionar a quem quer que seja, o inquisidor apercebendo-se de que não tinha
recebido uma mera sugestão, mas sim uma ordem apressou-se a largar a rapariga e a retirar-
se. O seu orgulho fora ferido, isto para não falarmos da sua dignidade, passariam ainda várias
luas antes que o Alto Inquisidor se atrevesse a apresentar-se ao rei com um pedido de
execução novamente.
Como te chamas, minha filha, Bartolomeu perguntou, dirigindo-se à rapariga que
agora o olhava com uma expressão assustada, Blimunda de Jesus, meu senhor, respondeu a
moça numa voz afogada, dirigindo agora o seu olhar para o chão, Nada temas criança, aqui
estás segura, o rei gesticulou gentilmente em direcção a cadeiras dispostas em frente a uma
mesa, mesa essa onde repousavam pratos com os mais variados alimentos e jarros de água e
vinho, Vamos conversar, penso que nos iremos tornar bons amigos. Realmente, D. Bartolomeu
via no seu futuro um grande proveito advir da amizade que viria a formar com Blimunda, esta
rapariga que via por dentro das pessoas e talvez também dos materiais e das coisas, coisas
como, digamos, uma máquina de voar.
Agora, três primaveras depois dos eventos daquele dia profético de entravamento de
novas amizades, Blimunda é uma conselheira íntima do rei e a inspetora oficial das obras de
construção da máquina visionada por Bartolomeu e desenhada por um qualquer arquiteto
contratado pela Coroa. A edificação da Passarola vai de vento em popa, exceto no que toca ao
elemento essencial que a fará voar, o éter, cujo mistério ainda não foi resolvido. Certo dia, um
criado de libré irrompeu a correr pelo estaleiro de construção onde o rei se encontrava
tranquilamente conversando com Blimunda sobre alguns materiais que deviam ser empregues
na construção da máquina, certamente uma conversa deveras importante. Era evidente que o
criado trazia notícias urgentes, Meu senhor, disse o rapaz sem fôlego, chamando pelo seu rei,
Está no salão de audiências um senhor maneta, Vossa Alteza, diz que de lá não arreda pé
enquanto não lhe for concedida uma audiência com o rei. Ora, que notícias mais intrigantes,
pensou D. Bartolomeu. Sabeis o que ele me quer, rapaz, perguntou o rei, esperando ainda que
o moço recuperasse o fôlego, Não sei, Vossa Graça, nem ele disse a ninguém o que deseja,
Obrigado, meu filho. Bartolomeu encaminhou-se para o salão de audiências, não sem antes
depositar uma moeda de prata na mão do jovem criado à saída do estaleiro.
Ao chegar ao seu salão de audiências, Bartolomeu foi confrontado com a visão de um
homem barbudo, maneta e mal-encarado encostado a um dos pilares que suportavam o salão.
Já me tendes aqui, agora dizei-me quem sois e o que quereis de mim, exigiu o rei, ostentando
na sua postura todo o poder da sua posição, Pois bem, o meu nome é Baltasar Mateus e eu
apenas pretendo justiça de vós, Que significais com isso, Significo exatamente o que disse,
pretendo justiça para mim e para todos na minha condição. Isto suscitou a curiosidade do rei,
Que condição é essa, perguntou, esperando pela resposta de Baltasar, Como podeis ver, sou
maneta à esquerda e já várias vezes solicitei a pensão a que tenho direito por ter perdido a
minha mão na guerra, mas ainda nada me foi atribuído, o homem explicou, Dizei-me, Baltasar,
vós que possuís uma determinação rara, tendes alguma habilidade de construção, Algumas,
senhor, o meu pai ensinou-me umas quantas coisas antes de eu ter sido recrutado para lutar,
Gostarias, então, de uma função de construtor no meu estaleiro, Não vim aqui para lhe
requisitar emprego, nem vejo como um maneta como eu poderia ser útil como um construtor,
ao ouvir isto, o rei sorriu, Maneta é Deus e fez o Universo, deu uma leve gargalhada, Se Deus é
maneta e fez o Universo, então este homem que tenho perante mim pode atar a vela e o
arame que hão-de voar. Baltasar pareceu alegrar-se com as palavras de Bartolomeu, O que é
que há-de voar, Vossa Graça, perguntou ele, A minha máquina, Baltasar, a minha Passarola,
vinde comigo vê-la. Assim, foram juntos, lado a lado, de volta para o estaleiro para que
Baltasar pudesse ver a mais grandiosa máquina alguma vez construída, a máquina voadora do
Voador.
Nesse dia, Blimunda e Baltasar travaram conhecimento e a antipatia mútua era
palpável na atmosfera entre os dois. À medida que os anos passavam, a aversão que nutriam
um pelo outro apenas crescia, chegando até ao ponto em que eles quase não conseguiam
estar na mesma divisão juntos por mais de cinco minutos, ao ponto de o próprio rei ter de
moderar todo o contacto entre eles, visto que tinham de trocar informações referentes à
construção da Passarola. Algures durante este tempo, um dos enviados de Bartolomeu
finalmente conseguiu descobrir o que era, afinal, o éter. Ao contrário daquilo que D.
Bartolomeu teorizara, o éter não era a alma dos homens, mas sim a sua vontade. O seu
enviado retornou também com a informação do aspeto que o éter teria, uma nuvem cinzenta
fechada. O rei agradeceu aos céus a sua amizade já duradoura com Blimunda, pois ela seria o
seu instrumento de recolha do éter. Acontecia apenas que Bartolomeu decidira que Blimunda
não poderia possivelmente, por tudo o que há de mais sagrado neste mundo, ir sozinha na
missão de recolher as vontades de dois mil homens. Não lhe parecia humanamente possível
nem queria sujeitar a sua querida amiga a tal coisa, pelo que designou que Baltasar
acompanhasse Blimunda na recolha do éter para a Passarola. Ambos repudiaram o seu
desígnio, até que o rei lhes clarificou calmamente a sua linha de raciocínio e também os
relembrou, com hábil discrição, de que ele, Bartolomeu Lourenço de Gusmão, era o rei
daquele país e o soberano dos seus habitantes, incluindo Baltasar e Blimunda. O casal
heterodoxo não teve outra opção senão acatar a ordem do rei e partir na sua busca pelas
vontades dos homens, dando início à última fase da construção da máquina voadora, a fase
que lhe permitiria, por fim, voar.
Estava D. Bartolomeu a contemplar a sua criação enquanto esperava o retorno de
Baltasar e Blimunda com o elemento final para a sua grande obra-prima da engenharia
moderna quando todo o mundo começou a tremer. Será um terramoto, pensou o padre, Não,
um terramoto não causa este tipo de oscilação, concluiu o padre em pensamento. Que seria
então esta vibração toda, que coisa mais estranha. Tudo no seu campo de visão começou a
desvanecer até se transformar num mero negrume. Foi com grande pesar que o rei, ou, na
alvorada, padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão viu a sua Passarola, a sua mais bela criação,
a sua razão de viver já há tantos anos, desaparecer e tornar-se nada.
O padre Bartolomeu acordou e contemplou o rosto de Blimunda que lhe sorria. Acorde
padre, dizia ela, que precisamos da sua opinião. Claro, filha, vou já, respondeu o padre,
olhando Blimunda enquanto esta regressava ao lado de Baltasar, que lhe passou o braço pelas
costas, deixando a sua mão repousar na cintura da rapariga. O amor deles era único e de uma
beleza singular. No seu sonho, a construção da passarola fora muito mais simples e acessível,
era apenas necessário um aceno de cabeça dele para que todas as suas visões para a máquina
se realizassem, tinha todo o tipo de recursos à sua disposição, mas Baltasar e Blimunda nunca
se apaixonaram. Será que uma maior facilidade de construção se traduziria irremediavelmente
em antipatia entre aqueles dois apaixonados, será que o custo valia o benefício, será que os
meios justificavam os fins, pensou o padre Voador. Chegou à conclusão de que não sabia.
Então, quem saberá? Imaginai.
Asha

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A história de Blimunda e a máquina voadora do rei Bartolomeu

  • 1. Imaginai Imaginai. Imaginai um país onde o desfasamento de poderes se transforma em total e completa inversão. D. João V não é rei, muito menos casou com D. Maria Ana, arquiduquesa de Áustria. Ao invés, o nosso estimado Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão, apelidado de Voador, é o governante deste nobre país, que está em melhor condição do que a esperada. Religioso por natureza, mas não fanático, governa com o ceptro numa mão e o crucifixo na outra. Para não afrontar o Papa, que tão atenciosamente lhe chama Fidelíssimo, deixou que a Inquisição entrasse no país, mas o seu poder era irreal, apena uma ilusão destinada a insuflar o ego dos narcisistas da Santa Sé, com todo o poder divino existente a corroborá-los. D. Bartolomeu, primeiro de seu nome, permitia algumas prisões esporádicas, mas nunca execuções; a vida humana é sagrada, há que preservar a alma e também o éter, essencialmente. O éter, elemento indeterminado que remonta aos tempos longínquos de Aristóteles, cuja natureza não se conhece nem se finge conhecer, tem sido alvo de buscas incessantes por enviados do rei já há perto de uma década. Há que se fazer notar que Bartolomeu foi coroado há apenas seis anos e meio, o seu irmão, rei antes de si e um homem muito paciente, tolerava a obsessão do irmão mais novo e ainda infante na altura, suportando a sua indulgência por conhecimentos incertos e pouco cristãos. Foi intervenção sobrenatural que o anterior rei ainda tão novo morresse de gangrena e assim obrigasse o irmão a tomar o seu lugar, impedindo-o de enveredar por uma vida na Igreja Católica como padre. É uma coisa horrível morrer de gangrena. A doença come-nos por dentro, devora os tecidos sem discriminação…vá-se lá pensar que o antigo rei contraiu a infeção através de um pequeno corte de um simples talher de prata impropriamente limpo. Apesar do grande melhoramento do paradigma nacional, derivado da ausência do reinado de terror da Inquisição, a situação social do país encontrava-se num estado quase deplorável. Havia fome, miséria e doença para onde quer que se olhasse. O rei, ainda que sensato para os seus verdes anos, não esquecia a sua obsessão com o voo das aves, com a sua Passarola, e, aproveitando-se do cargo de poder que agora ocupava, utilizava os recursos dos cofres estatais para alimentar essa sua fixação. Já uma grande porção do tesouro nacional tinha sido gasta nesta busca e mais ainda seria delapidada nos anos a vir. O padre, ah perdão, o rei não se iria demover nesta sua obstinação. Já anos passados e, com eles, várias desilusões e frustrações, o Alto Inquisidor do reino apresentou-se a D. Bartolomeu com uma plebeia por uma mão e um favor a pedir pela outra. A rapariga, alta, magra e cabelos de cor clara, não sei se louros ou de um castanho muito claro, tinha olhos hipnotizantes. A sua alteza real não se resolvia quanto à sua cor; ora eram verdes, ora azuis, nunca permanecendo os mesmos. O rei forçou-se a desviar a sua atenção da rapariga recém conhecida e a concentrar-se na cara daquele homem com quem já lidava há largo tempo, sempre a colmatar as suas ilusões de grandeza e importância. Que necessitais, meu senhor Inquisidor, perguntou o rei, numa voz impávida e que nada revelava, Venho solicitar-vos autorização para executar esta rapariga, Vossa Graça. O homem olhou agora de relance para a rapariga, como uma corça olha de soslaio para uma sombra dançante que posteriormente se revela o seu predador letal, Esta herege, completou, voltando a olhar o seu soberano. E qual é o pecado da rapariga, meu nobre senhor, Bartolomeu indagou, intrigado com o pedido do Alto Inquisidor. Não é todos os dias que a entidade mais alta, tal o achavam os dessa laia, da Igreja portuguesa em termos de justiça se apresentasse pessoalmente ao rei para procurar permissão para a execução de uma simples plebeia. Esta rapariga, como vós lhe chamais, possui uma arte negra sobre humana, é culpada de bruxaria e heresia contra Deus e
  • 2. os seus desígnios para nós, comuns mortais, o inquisidor apresentava um discurso cortês nas suas referências a D. Bartolomeu, mas assertivo não obstante. A sua determinação no seu propósito era palpável, todavia também havia medo patente na sua voz.- A curiosidade do Voador em relação ao misterioso dom da rapariga, a que este homenzinho impertinente chamara arte negra, crescia a cada momento. Ele queria desvendar esse enigma. Elucidai-me sobre esta arte de que falais e que a rapariga possui, o rei proferiu e o que o rei profere cumprido será certamente. A resposta do Inquisidor chegou segundos depois, em virtude do seu desejo de permanecer nas boas graças de Sua Graça. Ela vê por dentro das pessoas quando está ainda em jejum, meu real senhor, é assombroso e não natural, explicou o justo senhor Inquisidor, que tinha mais pecados na alma do que metade de Portugal, O que significais com isso, homem, ide directo ao assunto, a sua majestade real estava a perder a paciência, certamente que tinha outros afazeres mais merecedores do que este que o homenzinho hipócrita, como já determinámos, lhe havia trazido, esmerando-se tanto para o prolongar e, por conseguinte, açambarcar o tempo do Homem que tinha por tarefa governar um reino na sua completa integridade territorial. Muito honestamente, o rei começava a enfadar-se com o assunto, era sempre o mesmo, aquele indivíduo vivia e respirava execuções de hereges e os espetáculos dos autos de fé. A rapariga vê por dentro das pessoas, mas por dentro realmente, chegou-me aos ouvidos que ela disse já há uns meses que um intendente da Santa Sé tinha uma úlcera no estômago e esse mesmo intendente morreu na passada semana exatamente de uma úlcera perfurada localizada no estômago do pobre homem, foi esta a explicação que o inquisidor ofereceu. Pareceu ao rei que uma acusação baseada num mexerico era mais do que infundada e escusada e foram estes mesmos pensamentos que transmitiu ao seu interlocutor. Não é só isto, meu senhor, continuou o inquisidor, defendendo- se do ataque à sua argumentação, A rapariga há uma lua atrás disse a uma donzela grávida que frequenta a igreja onde situo o meu escritório que iria ter um rapaz e que esse mesmo rapaz levava duas voltas do cordão umbilical ao pescoço e na passada noite a rapariga deu à luz um rapaz, tal como previsto, o rei decidiu interrompê-lo antes que o homem, aos seus olhos, se embaraçasse ainda mais, Tendes noção de que havia igual possibilidade de ser um rapaz ou uma rapariga e que esta rapariga aqui diante de mim apenas teve sorte na sua previsão, senhor Inquisidor, Mas, Vossa Alteza, o rapaz levava realmente duas voltas do cordão ao pescoço e por pouco não nasceu morto. Esta última revelação apanhou o rei de surpresa, deixando-o sem palavras. Discretamente requerendo alguns momentos para organizar as suas opiniões sobre este assunto à luz das novas informações, o rei tornou a dirigir-se ao outro interlocutor, Deixai-a em paz, Inquisidor, a rapariga não pratica bruxaria nem outra qualquer arte negra, ela vê o que é deste mundo e que Deus quis que ela visse. Bartolomeu levantou-se então e dirigiu-se aos presentes, Libertai-a à minha custódia e não voltareis a pensar nela nem a ireis mencionar a quem quer que seja, o inquisidor apercebendo-se de que não tinha recebido uma mera sugestão, mas sim uma ordem apressou-se a largar a rapariga e a retirar- se. O seu orgulho fora ferido, isto para não falarmos da sua dignidade, passariam ainda várias luas antes que o Alto Inquisidor se atrevesse a apresentar-se ao rei com um pedido de execução novamente. Como te chamas, minha filha, Bartolomeu perguntou, dirigindo-se à rapariga que agora o olhava com uma expressão assustada, Blimunda de Jesus, meu senhor, respondeu a moça numa voz afogada, dirigindo agora o seu olhar para o chão, Nada temas criança, aqui estás segura, o rei gesticulou gentilmente em direcção a cadeiras dispostas em frente a uma mesa, mesa essa onde repousavam pratos com os mais variados alimentos e jarros de água e vinho, Vamos conversar, penso que nos iremos tornar bons amigos. Realmente, D. Bartolomeu
  • 3. via no seu futuro um grande proveito advir da amizade que viria a formar com Blimunda, esta rapariga que via por dentro das pessoas e talvez também dos materiais e das coisas, coisas como, digamos, uma máquina de voar. Agora, três primaveras depois dos eventos daquele dia profético de entravamento de novas amizades, Blimunda é uma conselheira íntima do rei e a inspetora oficial das obras de construção da máquina visionada por Bartolomeu e desenhada por um qualquer arquiteto contratado pela Coroa. A edificação da Passarola vai de vento em popa, exceto no que toca ao elemento essencial que a fará voar, o éter, cujo mistério ainda não foi resolvido. Certo dia, um criado de libré irrompeu a correr pelo estaleiro de construção onde o rei se encontrava tranquilamente conversando com Blimunda sobre alguns materiais que deviam ser empregues na construção da máquina, certamente uma conversa deveras importante. Era evidente que o criado trazia notícias urgentes, Meu senhor, disse o rapaz sem fôlego, chamando pelo seu rei, Está no salão de audiências um senhor maneta, Vossa Alteza, diz que de lá não arreda pé enquanto não lhe for concedida uma audiência com o rei. Ora, que notícias mais intrigantes, pensou D. Bartolomeu. Sabeis o que ele me quer, rapaz, perguntou o rei, esperando ainda que o moço recuperasse o fôlego, Não sei, Vossa Graça, nem ele disse a ninguém o que deseja, Obrigado, meu filho. Bartolomeu encaminhou-se para o salão de audiências, não sem antes depositar uma moeda de prata na mão do jovem criado à saída do estaleiro. Ao chegar ao seu salão de audiências, Bartolomeu foi confrontado com a visão de um homem barbudo, maneta e mal-encarado encostado a um dos pilares que suportavam o salão. Já me tendes aqui, agora dizei-me quem sois e o que quereis de mim, exigiu o rei, ostentando na sua postura todo o poder da sua posição, Pois bem, o meu nome é Baltasar Mateus e eu apenas pretendo justiça de vós, Que significais com isso, Significo exatamente o que disse, pretendo justiça para mim e para todos na minha condição. Isto suscitou a curiosidade do rei, Que condição é essa, perguntou, esperando pela resposta de Baltasar, Como podeis ver, sou maneta à esquerda e já várias vezes solicitei a pensão a que tenho direito por ter perdido a minha mão na guerra, mas ainda nada me foi atribuído, o homem explicou, Dizei-me, Baltasar, vós que possuís uma determinação rara, tendes alguma habilidade de construção, Algumas, senhor, o meu pai ensinou-me umas quantas coisas antes de eu ter sido recrutado para lutar, Gostarias, então, de uma função de construtor no meu estaleiro, Não vim aqui para lhe requisitar emprego, nem vejo como um maneta como eu poderia ser útil como um construtor, ao ouvir isto, o rei sorriu, Maneta é Deus e fez o Universo, deu uma leve gargalhada, Se Deus é maneta e fez o Universo, então este homem que tenho perante mim pode atar a vela e o arame que hão-de voar. Baltasar pareceu alegrar-se com as palavras de Bartolomeu, O que é que há-de voar, Vossa Graça, perguntou ele, A minha máquina, Baltasar, a minha Passarola, vinde comigo vê-la. Assim, foram juntos, lado a lado, de volta para o estaleiro para que Baltasar pudesse ver a mais grandiosa máquina alguma vez construída, a máquina voadora do Voador. Nesse dia, Blimunda e Baltasar travaram conhecimento e a antipatia mútua era palpável na atmosfera entre os dois. À medida que os anos passavam, a aversão que nutriam um pelo outro apenas crescia, chegando até ao ponto em que eles quase não conseguiam estar na mesma divisão juntos por mais de cinco minutos, ao ponto de o próprio rei ter de moderar todo o contacto entre eles, visto que tinham de trocar informações referentes à construção da Passarola. Algures durante este tempo, um dos enviados de Bartolomeu finalmente conseguiu descobrir o que era, afinal, o éter. Ao contrário daquilo que D. Bartolomeu teorizara, o éter não era a alma dos homens, mas sim a sua vontade. O seu
  • 4. enviado retornou também com a informação do aspeto que o éter teria, uma nuvem cinzenta fechada. O rei agradeceu aos céus a sua amizade já duradoura com Blimunda, pois ela seria o seu instrumento de recolha do éter. Acontecia apenas que Bartolomeu decidira que Blimunda não poderia possivelmente, por tudo o que há de mais sagrado neste mundo, ir sozinha na missão de recolher as vontades de dois mil homens. Não lhe parecia humanamente possível nem queria sujeitar a sua querida amiga a tal coisa, pelo que designou que Baltasar acompanhasse Blimunda na recolha do éter para a Passarola. Ambos repudiaram o seu desígnio, até que o rei lhes clarificou calmamente a sua linha de raciocínio e também os relembrou, com hábil discrição, de que ele, Bartolomeu Lourenço de Gusmão, era o rei daquele país e o soberano dos seus habitantes, incluindo Baltasar e Blimunda. O casal heterodoxo não teve outra opção senão acatar a ordem do rei e partir na sua busca pelas vontades dos homens, dando início à última fase da construção da máquina voadora, a fase que lhe permitiria, por fim, voar. Estava D. Bartolomeu a contemplar a sua criação enquanto esperava o retorno de Baltasar e Blimunda com o elemento final para a sua grande obra-prima da engenharia moderna quando todo o mundo começou a tremer. Será um terramoto, pensou o padre, Não, um terramoto não causa este tipo de oscilação, concluiu o padre em pensamento. Que seria então esta vibração toda, que coisa mais estranha. Tudo no seu campo de visão começou a desvanecer até se transformar num mero negrume. Foi com grande pesar que o rei, ou, na alvorada, padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão viu a sua Passarola, a sua mais bela criação, a sua razão de viver já há tantos anos, desaparecer e tornar-se nada. O padre Bartolomeu acordou e contemplou o rosto de Blimunda que lhe sorria. Acorde padre, dizia ela, que precisamos da sua opinião. Claro, filha, vou já, respondeu o padre, olhando Blimunda enquanto esta regressava ao lado de Baltasar, que lhe passou o braço pelas costas, deixando a sua mão repousar na cintura da rapariga. O amor deles era único e de uma beleza singular. No seu sonho, a construção da passarola fora muito mais simples e acessível, era apenas necessário um aceno de cabeça dele para que todas as suas visões para a máquina se realizassem, tinha todo o tipo de recursos à sua disposição, mas Baltasar e Blimunda nunca se apaixonaram. Será que uma maior facilidade de construção se traduziria irremediavelmente em antipatia entre aqueles dois apaixonados, será que o custo valia o benefício, será que os meios justificavam os fins, pensou o padre Voador. Chegou à conclusão de que não sabia. Então, quem saberá? Imaginai. Asha