2. CONTEXTO HISTÓRICO
A segunda metade do século XIX
na Europa foi uma época de
profundas transformações que
alteraram radicalmente todos
os aspectos da vida humana. Os
avanços científicos e
tecnológicos impulsionaram de
modo definitivo a indústria e o
comércio. A invenção da
máquina a vapor multiplicou a
capacidade produtiva das
sociedades, levando à chamada
Revolução Industrial. A
ferrovia, o automóvel e o avião
modificaram os meios de
transporte. A fotografia, o
cinema e o rádio anunciavam
uma nova era nas
comunicações. Ocorreram
também transformações sociais
e políticas, com as lutas pela
democracia e o surgimento de
ideias socialistas.
São Paulo início do século XX
3. ARTE LÁ DE FORA
Os movimentos ditos de
“vanguarda” que
ocorreram na Europa
demoraram anos para
repercutir aqui no
Brasil. Numa época
em que uma viagem à
Europa levava
semanas, o ritmo das
transformações era
lento.
4. ARTE DAQUI
No início do século XX, os
artistas brasileiros mais
informados, que haviam
vivido no exterior, ainda
eram influenciados pelo
Impressionismo.
Carrinho de Criança,
Eliseu Visconti, 1917
5. FIM DA ARTE ACADÊMICA
Os artistas já vinham desde meados do
século XIX se rebelando contra a
ideia de representação da realidade
ensinada nas academias de arte. Com
a invenção da fotografia, alguns
temas deixaram de interessar tanto
os pintores. Os retratos, por exemplo,
podiam ser feitos a partir de então
por uma câmara fotográfica. Em
busca de novos desafios, os artistas
não queriam mais usar efeitos de luz
e sombra ou perspectiva para dar
uma ilusão do real em suas pinturas.
Dia de Verão,
Georgina Albuquerque, 1904
6. INÍCIO DE UMA NOVA ARTE
Um clima de experimentação
tomava conta dos jovens
artistas plásticos, músicos,
escritores, atores e
bailarinos. Eles desejavam
que seus trabalhos
refletissem as últimas
realidades reveladas pela
ciência, as ideias a respeito
do funcionamento da mente
e as novas propostas
políticas. Mas queriam,
principalmente,
experimentar a liberdade
individual em suas criações.
Mulher em círculos, Belmiro de Almeida, 1921
(influência cubista e futurista)
8. SURGE UMA IDEIA
Pensando nisso, alguns
intelectuais, como Oswald de
Andrade, já tinham a
intenção de aproveitar as
comemorações do
Centenário da
Independência do Brasil, em
1922, para realizar um
evento que apresentasse aos
brasileiros as novas
propostas estéticas da arte
moderna. Então no final de
1921, durante uma exposição
de desenhos de Di
Cavalcanti, ficou clara a
necessidade de um
movimento de renovação do
cenário cultural brasileiro.
Grupo dos modernistas
liderados por Oswald de
Andrade, ao chão
9. OBJETIVO
A ideia era fazer um
festival com
duração de uma
semana com
manifestações
artísticas diversas.
Alugaram o Teatro
Municipal de São
Paulo e
convidaram
pessoas influentes
da sociedade para
participar do
evento, como o
escritor Graça
Aranha.
10. A SEMANA DE 22
Entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922, os modernistas
chocaram a burguesia conservadora com exposições e
noitadas literárias e musicais. Em comum, as obras
tinham apenas a rejeição ao espírito conservador. Todos
clamavam por liberdade de expressão e pelo fim das
regras acadêmicas das artes.
Programação,
catálogo e
cartaz do
evento feito por
Di Cavalcanti
11. DI CAVALCANTI (1897-1976)
Famoso por sua maneira sensual e plástica
de pintar, Di Cavalcanti começa sua
trajetória como desenhista e ilustrador e
dessa forma contribui muito para a
Semana. Mas no ano seguinte parte
para a França onde se torna amigo de
Pablo Picasso e se torna um artista
inquieto com os problemas sociais.
Quando retorna redescobre os encantos
da cultura nacional: a mulata, o samba,
o carnaval e as paisagens exóticas se
tornam os temas principais de sua
pintura. Sua pintura encarnava uma
concepção muito específica de
feminilidade e sexualidade
manifestadas pela mulher brasileira.
13. ANITA MALFATTI (1889-1964)
Além de Di Cavalcanti, Anita Malfatti
também expôs seus trabalhos na
Semana. Depois de estudar na
Alemanha e EUA realizou sua
primeira exposição em 1917 com
obras expressionistas que chocou a
classe dos acadêmicos, dentre eles
Monteiro Lobato. Mas toda a crítica
negativa do seu trabalho abriu portas
para uma arte cada vez mais original
e logo forma um grupo de artista que
pensavam como ela, o Grupo dos
Cinco. Depois da Semana voltou pra
Europa e fez algumas exposições e
então retornou para o Brasil e deu
aula de pintura por vários anos.
15. O LEGADO
A importância da semana não está tanto as obras
apresentadas, mas nos debates públicos que provocaram
reações negativas ou de apoio, e na riqueza de seus
desdobramentos.
"A "Semana constituiu primeiro movimento coletivo no sentido da emancipação das artes e da
inteligência brasileiras (...) e tudo se passou entre vaias, protestos, discussões e turbulências,
nas noites quietas da então pacata cidade". (Crítico Paulo Mendes de Almeida)
“Nunca pude definir precisamente o que foi a Semana e como ela atua dentro de mim mesmo.
Só sei senti-la que é diferente. Sinto-a como motivo categórico de afirmação na minha
personalidade.” (Di Cavalcanti)
"Foi alguma coisa de inesquecível, que sacudiu os meios artísticos de todo o país. E mais do
que justo, porque era realmente impossível tolerar-se o academismo, a inércia, o mau-gosto
da época. Alguma coisa tinha de ser feita.” (Anita Malfatti)
16. MOVIMENTO PAU-BRASIL
Poucos meses depois da Semana de
Arte Moderna, chegava a São
Paulo Tarsila do Amaral. A artista
que estava na França desde 1920
era muito amiga de Anita Malfatti,
que participou na Semana, e assim
que chegou se uniu ao grupo dos
modernistas que na época se
empenhavam em editar a revista
Klaxon: Anita, Menotti del
Picchia, Mário de Andrade e o
escritor Oswald de Andrade, com
quem Tarsila viria a se casar.
Tarsila do Amaral e Anita Malfatti
17. PONTO DE PARTIDA
Uma viagem às cidades históricas de
Minas Gerais despertou no casal um
interesse pela cultura popular
brasileira e logo que chegaram
Oswald escreveu o Manifesto Pau-
Brasil, falando da importância de
nossas raízes culturais e de uma
antiga reivindicação de Mário de
Andrade: a necessidade de unificar a
língua falada pelo povo brasileiro e a
língua escrita, que até então era
ainda muito ligada às formas
portuguesas. O casal “Tarsiwald”
18. TARSILA DO AMARAL (1886-1973)
Nas pinturas dessa fase, que
foi chamada de Pau-Brasil,
Tarsila realizou a fusão
entre lições do Cubismo e a
atmosfera brasileira.
Representou personagens e
paisagens tropicais
inspirados nas lembranças
de sua infância na fazenda.
“Encontrei em Minas as coisas que adorava em criança. Ensinaram-me depois
que eram feias e caipiras. Segui o ramerrão do gosto apurado...Mas depois
vinguei-me da opressão, passando-as para minhas telas: azul puríssimo, rosa
violáceo, amarelo vivo, verde cantante...” (Tarsila do Amaral)
O mamoeiro, 1925
19. Presentes nas cantigas
de ninar e parceira do
bicho-papão como terror
das crianças, a Cuca é
uma figura mitológica
um tanto indefinida.
Para Tarsila, é um
animal estranho, mítico
mas nada perverso, Cria
um ambiente mágico e
colorido onde as formas
desproporcionais
acentuam a fantasia.
A Cuca, 1924
20. Morro da Favela, 1924
Nessa pintura Tarsila
constrói a base de sua
composição com
elementos geométricos
de modo bastante
sintético, de acordo com
os conceitos do
Cubismo. Usa figuras
muito simples: círculos,
retângulos e triângulos.
Não apresenta
perspectiva (dimensão) e
sim um plano
bidimensional . O
elementos brasileiros
estão presentes na roupa
pendurada, na mulher à
porta, no cacto, nas
palmeiras, no cachorro,
no pássaro e nas
crianças.
21. O vendedor de frutas, 1925
Nessa fase Pau-Brasil
Tarsila valoriza o clima
tropical, as frutas, os
animais e os costumes e
hábitos do nosso país.
Nessa obra esses
elementos estão todos
presentes nas cores na
bandeira do Brasil (azul,
verde e amarelo).
Destaca-se ao fundo
uma igreja em estilo
barroco com duas torres
típica das cidades do
interior de Minas, por
onde a artista viajou
junto com seu marido
Oswald.
22. MOVIMENTO ANTROPOFÁGICO
Em janeiro de 1928 Tarsila
ofereceu a Oswald como
presente de aniversário uma de
suas recentes pinturas. Ao
contemplar aquela estranha
figura selvagem, de pés enormes,
cabeça pequena, cercada por um
céu azul, num ambiente seco e
quente, Oswald a chamou de
“Abaporu”, que em tupi-guarani
significa antropófago -homem
que come carne humana
23. “Tupi, or not tupi that is the question.”
Essa pintura inspirou Oswald de Andrade a escrever
outro manifesto que se tornou a base teórica do
Movimento Artístico Antropofágico:
o Manifesto Antropófago.
O manifesto apresentava uma metáfora do processo de
formação da cultura brasileira: se, para o europeu
civilizado o homem americano era selvagem porque
praticava canibalismo, na proposta inovadora de Oswald
nossa índole canibal nos levava a deglutir as ideias e os
modelos culturais importados. Porém, a partir desse
banquete, éramos capazes de produzir algo
genuinamente brasileiro.
24. Urutu, 1928
Urutu foi uma das obras
expostas em 1928 na
Galerie Percier, em
Paris, com referências ao
Movimento Surrealismo.
Seu tema é a lenda
amazônica da Cobra
Grande que narra a
história de um homem
que foi transformado em
cobra. Ele só voltaria a
sua forma normal se a
cobra fosse ferida na
cabeça e morta.
A pintura foi base para o
poema “Cobra Norato”
de Raul Bopp de 1931
que fala sobre uma
“floresta chocando um
ovo”.
25. Floresta, 1929
Realizada após Abaporu,
a obra mergulha em um
universo mais denso da
cultura brasileira e da
subjetividade da artista.
Em cores mais intensas
e de contrastes
profundos, Tarsila
resgata aspectos de um
mundo mágico com
raízes em nossa cultura
popular.
A vegetação imaginária,
os troncos gigantes, os
ovos rosados de animais
misteriosos e os
fragmentos monolíticos
cravados no solo
reforçam a influência
surrealista.
26. Antropofagia, 1929
Aqui Tarsila reuniu A
Negra e Abaporu numa
assimilação perfeita
entre as formas
humanas que se fundem
harmoniosamente
criando uma composição
bastante equilibrada.
Embora seu momento
antropofágico tivesse
como metas buscar
raízes profundas,
observa-se aqui que,
para isso, ele retomou
os princípios do Pau-
brasil: elaborar a
imagem a partir da
síntese, pelo equilíbrio
geométrico e pelo
acabamento.
27. L A S A R S E G A L L
V I C T O R B R E C H E R E T
C A N D I D O P O R T I N A R I
Outros artistas modernistas
28. LASAR SEGALL (1889-1957)
Nascido na Lituânia, tem contato
com a arte impressionista e
expressionista que acaba
influenciando seu trabalho. Faz
exposições no Brasil e na Europa
evidenciando o gosto pelas cores
e pela cultura brasileira. De
origem judia, também gostava
de retratar as emoções
humanas, a guerra, o
sofrimento, enfim, os problemas
sociais em geral.
30. VICTOR BRECHERET (1894-1955)
Imigrante Italiano de origem humilde, Victor
Brecheret é descoberto pelos modernistas
por causa de suas esculturas alongadas,
tensas e expressivas.
Cristo de Trancinhas, adquirida por Mario
de Andrade, é o elemento desencadeador
dos seus primeiros versos modernistas de
“Paulicéia Desvairada”, que se tornou um
símbolo do modernismo. Sua obra mais
importante é o Monumento às Bandeiras,
escultura de 50 metros de comprimento
concluída em 1954. Trata-se de uma
homenagem aos bandeirantes que
desbravaram o país – portugueses,
negros, mamelucos e índios.
32. CÂNDIDO PORTINARI (1903-62)
Na época da Semana os trabalhos de
Portinari ainda eram muito
acadêmicos. Depois de ter contato
com os modernistas seu trabalho
começa a abordar temas mais
brasileiros como aspectos da vida
alma humana e da vida social, da
miséria, da desgraça aos anseios da
bem aventurança terrestre, a ponto de
ser considerado mais tarde “um
intérprete das misérias do Terceiro
Mundo”. Mas seu trabalho também
fala das alegrias do povo brasileiro e
sua luta cotidiana sem perder a
esperança em dias melhores.
34. 1 . M o d e r n i s m o n o B ra s i l : p a n o ra m a d a s a r te s v i s u a i s / B e á M e i ra . S ã o
Pa u l o : Át i c a , 2 0 0 6
2 . A r te M o d e r n a e c o nte m p o râ n e a : f i g u ra ç ã o, a bst ra ç ã o e n o vo s m e i o s –
s é c u l o s 2 0 e 2 2 / Pe rc i va l T i ra p e l l i – S ã o Pa u l o : C o m p a n h i a Ed i to ra
N a c i o n a l , 2 0 0 6
A n á l i s e d a s o b ra s :
1 . A n i ta M a l fa tt i / L u z i a Po r t i n a r i G re g g i o – 1 e d . – S ã o Pa u l o : Fo l h a d e
S . Pa u l o : I n st i t u to I ta ú C u l t u ra l , 2 0 1 3
2 . D i C ava l c a nt i / Lyg i a E l u f. – 1 e d . – S ã o Pa u l o : Fo l h a d e S . Pa u l o :
I n st i t u to I ta ú C u l t u ra l , 2 0 1 3
3 . Ta rs i l a d o A m a ra l / M a r i a I za b e l B ra n c o R i b e i ro – 1 e d . – S ã o Pa u l o :
Fo l h a d e S . Pa u l o : I n st i t u to I ta ú C u l t u ra l , 2 0 1 3
4 . L a s a r S e ga l l / Ve rô n i c a S t i g ge r – 1 e d . – S ã o Pa u l o : Fo l h a d e S . Pa u l o :
I n st i t u to I ta ú C u l t u ra l , 2 0 1 3
5 . C a n d i d o Po r t i n a r i / P r i s c i l a Ro s s i n ett i R u f i n o n i , I s ra e l Pe d ro s a – 1 e d .
– S ã o Pa u l o : Fo l h a d e S . Pa u l o : I n st i t u to I ta ú C u l t u ra l , 2 0 1 3
Bibliografia