SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  13
Paulo Simões Nunes
Igreja de São Pedro de Rates
(Rates, Póvoa do Varzim)
um Caso Prático em sala de aula
MÓDULO 3
História da Cultura e das Artes | 10.º ano | Paulo Simões Nunes
Igreja de São Pedro de Rates
Executado ao longo dos séculos XII e XIII
Materiais: paredes, estrutura e decoração esculpida
em granito
cobertura em madeira com revestimento
a telha de cerâmica vermelha
Localização: Rates, Póvoa do Varzim
(distrito do Porto)
Classificado como Monumento Nacional
1. Classificação
2
Igreja de São Pedro de Rates
Rates, Póvoa do Varzim
História da Cultura e das Artes | 10.º ano | Paulo Simões Nunes
2. Contexto histórico-cultural:
São Pedro de Rates no seu tempo
3
 O bispo São Pedro de Rates foi um importante
evangelizador dos povos da península Ibérica durante a
ocupação romana.
 Segundo a tradição, São Pedro de Rates foi o primeiro
bispo de Braga, entre 45 e 60, tendo sido ordenado
pelo Apóstolo Santiago.
 Já no século IX, o seu corpo foi encontrado por São
Félix, o eremita, que o sepultou no santuário sobre o
qual foi erguida a Igreja de São Pedro de Rates.
 O corpo ali permaneceu sepultado até 1552, ano em
que foi transferido para a Sé de Braga, onde se
encontra atualmente.
 Foi martirizado e decapitado quando convertia as
populações pagãs à fé cristã, no norte de Portugal.
História da Cultura e das Artes | 10.º ano | Paulo Simões Nunes
2. Contexto histórico-cultural:
São Pedro de Rates no seu tempo
4
 Após o século IX vem a constituir um importante
centro de peregrinação às relíquias do Santo, ali
sepultado.
 Antes do século XI, há evidências da existência de um
mosteiro beneditino que viria a ser renovado pelo
conde D. Henrique já nos finais daquele século.
Esta foi a primeira igreja cluniacense a
estabelecer-se em Portugal.
 A Igreja de São Pedro de Rates foi construída sobre
um santuário paleocristão datado do século VI.
 Em 1100, os condes D. Henrique e D. Teresa, doaram-
-no à Ordem de Cluny, concretamente ao priorado de
La Charité-sur-Loire, em Auxerre.
História da Cultura e das Artes | 10.º ano | Paulo Simões Nunes
3. Contexto histórico-cultural:
São Pedro de Rates na Christianitas
5
 Foi construído em pleno século XII, um tempo marcado
pela Reconquista dos territórios ocupados pelos
Muçulmanos na península Ibérica.
 O Mosteiro de São Pedro de Rates foi a primeira
construção da Ordem de Cluny em Portugal.
 São Pedro de Rates está situado na bacia do rio Ave, em
pleno coração da região Entre Douro e Minho.
 E um tempo marcado, igualmente, por um contexto
histórico e cultural em que a Igreja Cristã pretendia
afirmar a presença e a doutrina de Deus, tendo alcançado
uma forte implantação junto das populações rurais.
 Esta era uma região com grande densidade de paróquias,
albergando um grande número de instituições monásticas
e de igrejas românicas.
História da Cultura e das Artes | 10.º ano | Paulo Simões Nunes
3. Contexto histórico-cultural:
São Pedro de Rates na Christianitas
6
 Esta era uma região que, devido ao seu relativo
desenvolvimento económico e comercial, albergava um
grande número de instituições monásticas e de igrejas
românicas.
 O povoado de Rates era um importante ponto de
passagem do interior para o exterior, e na direção
norte-sul, ganhando uma importante atividade
comercial que lhe garantiu uma certa centralidade na
região.
 Ao situar-se numa das rotas de peregrinação dos
“Caminhos de Santiago” – o Caminho Português de
Santiago – São Pedro de Rates veio a assumir um papel
muito relevante no apoio logístico e espiritual aos
peregrinos.
 Por outro lado, a própria Igreja de São Pedro de Rates
constituiu um ponto de peregrinação, de romagem e de
devoção ao Santo.
História da Cultura e das Artes | 10.º ano | Paulo Simões Nunes
4. Análise formal
7
Portal ocidental
(portal principal)
Nave principal
Nave lateral norte
(nave do Evangelho)
Nave lateral sul
(nave da Epístola)
Cabeceira
Portal norte
Abside
(altar)
Absidíola
Cruzeiro
Sacristia
Transepto
(falso transepto)
Portal sul
História da Cultura e das Artes | 10.º ano | Paulo Simões Nunes
4. Análise formal
8
 A Igreja de São Pedro de Rates é um edifício de três
naves e quatro tramos, com um falso transepto.
 Devido às sucessivas obras que recebeu no século XIII
e às posteriores adaptações, ao gosto de cada época,
nos séculos XVII e XVIII, a sua estrutura apresenta
algumas “irregularidades”.
 Já nos anos 1940, em pleno Estado Novo, foi alvo de
operações de um duvidoso “restauro” que acabaram
por “limpar” elementos das anteriores intervenções.
 Das intervenções dos séculos XII e XIII persistem os
seguintes aspetos:
 A fachada é assimétrica.
 As naves laterais possuem larguras diferentes.
 Os tramos têm diferentes dimensões.
 Os pilares são diferentes e estão desalinhados.
 Os elementos decorativos – portais, capitéis e
modilhões – denotam influências diferenciadas.
A frontaria apresenta um pórtico bem dimensionado e
flanqueado por dois robustos contrafortes.
História da Cultura e das Artes | 10.º ano | Paulo Simões Nunes
5. Leitura de significados
9
 O portal românico é formado por
cinco arquivoltas ornamentadas nas
aduelas por uma série de Apóstolos
segurando os báculos, os símbolos
dos pastores do rebanho de Deus.
 Os arcos repousam em colunelos com
capiteis decorados com motivos
zoomórficos, antropomórficos e
naturalistas, surgindo também
representações do fantástico e do
bestiário medieval.
 O tímpano apresenta uma figuração
esquematizada de Cristo Pantocrator,
envolto na mandorla mística.
Portal ocidental (portal principal).
 Cristo está ladeado por dois profetas
(S. João Evangelista e S. Mateus) que
pisam simbolicamente Judas e o
herege Ario.
História da Cultura e das Artes | 10.º ano | Paulo Simões Nunes
5. Leitura de significados
10
Portal sul
 As colunas são suportadas na base
por duas feras aladas.
 O tímpano apresenta uma
representação do Agnus Dei (uma
figuração simbólica de Cristo
Imolado), ostentando a cruz com
escudetes, simbologia associada ao
rei D. Sancho I.
 O portal sul apresenta uma dupla
arcada, sendo a do fundo uma
arcada polilobada, assente em
colunas com capiteis ornamentados
com cenas historiadas.
História da Cultura e das Artes | 10.º ano | Paulo Simões Nunes
5. Leitura de significados
11
 Desenhada em hemiciclo, a abside é repartida por cinco arcos
com frestas, assentes em colunelos adossados às paredes.
 Uma cachorrada de modilhões figurados corre sob a cornija da
cabeceira, na abside e nas absidíolas.
 A cabeceira desenvolve uma dinâmica composição arquitetónica,
com um interessante escalonamento e jogo de volumes da abside
e das duas absidíolas.
O portal norte apresenta uma arcada polilobada, sem
tratamento do tímpano, e com uma decoração
estilizada de tradição local nos capiteis.
História da Cultura e das Artes | 10.º ano | Paulo Simões Nunes
5. Leitura de significados
12
 Os capiteis apresentam uma decoração
com motivos vegetalistas e figurativos, com
temas da imaginária fantástica medieval.
 Esta decoração esculpida
prolonga-se no arco
cruzeiro, nas arcadas
cegas da capela-mor e
noutros elementos
arquitetónicos da igreja.
 O interior está dividido em três naves, com
quatro tramos marcados por arcadas
assentes em colunas robustas de diferente
configuração.
Igreja Românica São Pedro Rates

Contenu connexe

Tendances

O gótico em portugal
O gótico em portugalO gótico em portugal
O gótico em portugalAna Barreiros
 
Módulo 3 - Arte Islâmica e Moçárabe
Módulo 3 - Arte Islâmica e MoçárabeMódulo 3 - Arte Islâmica e Moçárabe
Módulo 3 - Arte Islâmica e MoçárabeCarla Freitas
 
4.romanicoem portugal
4.romanicoem portugal4.romanicoem portugal
4.romanicoem portugalAna Barreiros
 
Arquitetura românica
Arquitetura românicaArquitetura românica
Arquitetura românicaAna Barreiros
 
Cultura do Palácio - Renascimento e Maneirismo em Portugal
Cultura do Palácio - Renascimento e Maneirismo em PortugalCultura do Palácio - Renascimento e Maneirismo em Portugal
Cultura do Palácio - Renascimento e Maneirismo em PortugalCarlos Vieira
 
Módulo 3 - Caso Prático 3 Livro de Kells
Módulo 3 - Caso Prático 3 Livro de KellsMódulo 3 - Caso Prático 3 Livro de Kells
Módulo 3 - Caso Prático 3 Livro de KellsCarla Freitas
 
Módulo 3 - Portugal Românico e Moçárabe
Módulo 3 - Portugal Românico e MoçárabeMódulo 3 - Portugal Românico e Moçárabe
Módulo 3 - Portugal Românico e MoçárabeCarla Freitas
 
Módulo 3 - Arquitetura pré-românica
Módulo 3 - Arquitetura pré-românicaMódulo 3 - Arquitetura pré-românica
Módulo 3 - Arquitetura pré-românicaCarla Freitas
 
Módulo 4 - Pintura Gótica
Módulo 4 - Pintura GóticaMódulo 4 - Pintura Gótica
Módulo 4 - Pintura GóticaCarla Freitas
 
A cultura do palacio
A cultura do palacioA cultura do palacio
A cultura do palacioAna Barreiros
 
Módulo 3 - Arquitetura românica
Módulo 3 - Arquitetura românicaMódulo 3 - Arquitetura românica
Módulo 3 - Arquitetura românicaCarla Freitas
 
Cultura do mosteiro_2_arquitetura
Cultura do mosteiro_2_arquiteturaCultura do mosteiro_2_arquitetura
Cultura do mosteiro_2_arquiteturaVítor Santos
 
Cultura do Mosteiro - Arte Otoniana
Cultura do Mosteiro - Arte OtonianaCultura do Mosteiro - Arte Otoniana
Cultura do Mosteiro - Arte OtonianaCarlos Vieira
 

Tendances (20)

A escultura gótica
A escultura góticaA escultura gótica
A escultura gótica
 
O gótico em portugal
O gótico em portugalO gótico em portugal
O gótico em portugal
 
Módulo 3 - Arte Islâmica e Moçárabe
Módulo 3 - Arte Islâmica e MoçárabeMódulo 3 - Arte Islâmica e Moçárabe
Módulo 3 - Arte Islâmica e Moçárabe
 
Cultura do mosteiro
Cultura do mosteiroCultura do mosteiro
Cultura do mosteiro
 
Românico
RomânicoRomânico
Românico
 
4.romanicoem portugal
4.romanicoem portugal4.romanicoem portugal
4.romanicoem portugal
 
Arquitetura românica
Arquitetura românicaArquitetura românica
Arquitetura românica
 
Cultura do Palácio - Renascimento e Maneirismo em Portugal
Cultura do Palácio - Renascimento e Maneirismo em PortugalCultura do Palácio - Renascimento e Maneirismo em Portugal
Cultura do Palácio - Renascimento e Maneirismo em Portugal
 
Módulo 3 - Caso Prático 3 Livro de Kells
Módulo 3 - Caso Prático 3 Livro de KellsMódulo 3 - Caso Prático 3 Livro de Kells
Módulo 3 - Caso Prático 3 Livro de Kells
 
Módulo 3 - Portugal Românico e Moçárabe
Módulo 3 - Portugal Românico e MoçárabeMódulo 3 - Portugal Românico e Moçárabe
Módulo 3 - Portugal Românico e Moçárabe
 
Módulo 3 - Arquitetura pré-românica
Módulo 3 - Arquitetura pré-românicaMódulo 3 - Arquitetura pré-românica
Módulo 3 - Arquitetura pré-românica
 
Módulo 4 - Pintura Gótica
Módulo 4 - Pintura GóticaMódulo 4 - Pintura Gótica
Módulo 4 - Pintura Gótica
 
O Manuelino
O ManuelinoO Manuelino
O Manuelino
 
A cultura do palacio
A cultura do palacioA cultura do palacio
A cultura do palacio
 
Cultura da catedral
Cultura da catedralCultura da catedral
Cultura da catedral
 
Módulo 3 - Arquitetura românica
Módulo 3 - Arquitetura românicaMódulo 3 - Arquitetura românica
Módulo 3 - Arquitetura românica
 
Arte Gótica
Arte GóticaArte Gótica
Arte Gótica
 
Cultura do mosteiro_2_arquitetura
Cultura do mosteiro_2_arquiteturaCultura do mosteiro_2_arquitetura
Cultura do mosteiro_2_arquitetura
 
Cultura do Mosteiro - Arte Otoniana
Cultura do Mosteiro - Arte OtonianaCultura do Mosteiro - Arte Otoniana
Cultura do Mosteiro - Arte Otoniana
 
Arte românica
Arte românicaArte românica
Arte românica
 

Similaire à Igreja Românica São Pedro Rates

Santuário do Bom Jesus do Monte - Património Cultural - Artur Filipe dos Sant...
Santuário do Bom Jesus do Monte - Património Cultural - Artur Filipe dos Sant...Santuário do Bom Jesus do Monte - Património Cultural - Artur Filipe dos Sant...
Santuário do Bom Jesus do Monte - Património Cultural - Artur Filipe dos Sant...Artur Filipe dos Santos
 
RomâNico
RomâNicoRomâNico
RomâNicoHist8
 
Mosteirodos Jeronimos
Mosteirodos JeronimosMosteirodos Jeronimos
Mosteirodos Jeronimoslanapaiva
 
Rota de turismo religioso enriqueceu viagem medieval
Rota de turismo religioso enriqueceu viagem medievalRota de turismo religioso enriqueceu viagem medieval
Rota de turismo religioso enriqueceu viagem medievalRTP - Antena 1
 
Eubiose 25 mai-2012 simbologia e fundacao de sao paulo
Eubiose 25 mai-2012 simbologia e fundacao de sao pauloEubiose 25 mai-2012 simbologia e fundacao de sao paulo
Eubiose 25 mai-2012 simbologia e fundacao de sao pauloNumeric Contadores
 
A Arte EuropéIa No Brasil
A Arte EuropéIa No BrasilA Arte EuropéIa No Brasil
A Arte EuropéIa No BrasilClaudiomar Cunha
 
A Arte EuropéIa No Brasil
A Arte EuropéIa No BrasilA Arte EuropéIa No Brasil
A Arte EuropéIa No BrasilAuriene
 
Artur filipe dos santos igreja de santa clara - história do porto
Artur filipe dos santos   igreja de santa clara - história do portoArtur filipe dos santos   igreja de santa clara - história do porto
Artur filipe dos santos igreja de santa clara - história do portoArtur Filipe dos Santos
 
Idade média igreja e cultura
Idade média   igreja e culturaIdade média   igreja e cultura
Idade média igreja e culturaFatima Freitas
 
Santuário de Nossa Senhora dos Remédios de Lamego - Artur Filipe dos Santos
Santuário de Nossa Senhora dos Remédios de Lamego - Artur Filipe dos SantosSantuário de Nossa Senhora dos Remédios de Lamego - Artur Filipe dos Santos
Santuário de Nossa Senhora dos Remédios de Lamego - Artur Filipe dos SantosArtur Filipe dos Santos
 
21 - Cultura, Religião e Arte Medievais
21 -  Cultura, Religião e Arte Medievais21 -  Cultura, Religião e Arte Medievais
21 - Cultura, Religião e Arte MedievaisCarla Freitas
 

Similaire à Igreja Românica São Pedro Rates (20)

Santuário do Bom Jesus do Monte - Património Cultural - Artur Filipe dos Sant...
Santuário do Bom Jesus do Monte - Património Cultural - Artur Filipe dos Sant...Santuário do Bom Jesus do Monte - Património Cultural - Artur Filipe dos Sant...
Santuário do Bom Jesus do Monte - Património Cultural - Artur Filipe dos Sant...
 
J arte românica
J arte românicaJ arte românica
J arte românica
 
Arquitetura gotica.pptx
Arquitetura gotica.pptxArquitetura gotica.pptx
Arquitetura gotica.pptx
 
RomâNico
RomâNicoRomâNico
RomâNico
 
O Barroco no Brasil
O Barroco no BrasilO Barroco no Brasil
O Barroco no Brasil
 
Mosteirodos Jeronimos
Mosteirodos JeronimosMosteirodos Jeronimos
Mosteirodos Jeronimos
 
Rota de turismo religioso enriqueceu viagem medieval
Rota de turismo religioso enriqueceu viagem medievalRota de turismo religioso enriqueceu viagem medieval
Rota de turismo religioso enriqueceu viagem medieval
 
As viagens na idade média
As viagens na idade médiaAs viagens na idade média
As viagens na idade média
 
Eubiose 25 mai-2012 simbologia e fundacao de sao paulo
Eubiose 25 mai-2012 simbologia e fundacao de sao pauloEubiose 25 mai-2012 simbologia e fundacao de sao paulo
Eubiose 25 mai-2012 simbologia e fundacao de sao paulo
 
A Arte EuropéIa No Brasil
A Arte EuropéIa No BrasilA Arte EuropéIa No Brasil
A Arte EuropéIa No Brasil
 
A Arte EuropéIa No Brasil
A Arte EuropéIa No BrasilA Arte EuropéIa No Brasil
A Arte EuropéIa No Brasil
 
Arquitectura quinhentista
Arquitectura quinhentistaArquitectura quinhentista
Arquitectura quinhentista
 
Romanico final 2
Romanico final 2Romanico final 2
Romanico final 2
 
Artur filipe dos santos igreja de santa clara - história do porto
Artur filipe dos santos   igreja de santa clara - história do portoArtur filipe dos santos   igreja de santa clara - história do porto
Artur filipe dos santos igreja de santa clara - história do porto
 
Idade média igreja e cultura
Idade média   igreja e culturaIdade média   igreja e cultura
Idade média igreja e cultura
 
Santuário de Nossa Senhora dos Remédios de Lamego - Artur Filipe dos Santos
Santuário de Nossa Senhora dos Remédios de Lamego - Artur Filipe dos SantosSantuário de Nossa Senhora dos Remédios de Lamego - Artur Filipe dos Santos
Santuário de Nossa Senhora dos Remédios de Lamego - Artur Filipe dos Santos
 
A cultura do mosteiro 10º ano
A cultura do mosteiro 10º anoA cultura do mosteiro 10º ano
A cultura do mosteiro 10º ano
 
Igrejas e capelas do porto
Igrejas e capelas do portoIgrejas e capelas do porto
Igrejas e capelas do porto
 
21 - Cultura, Religião e Arte Medievais
21 -  Cultura, Religião e Arte Medievais21 -  Cultura, Religião e Arte Medievais
21 - Cultura, Religião e Arte Medievais
 
Historia 2014 tipo_a
Historia 2014 tipo_aHistoria 2014 tipo_a
Historia 2014 tipo_a
 

Igreja Românica São Pedro Rates

  • 1. Paulo Simões Nunes Igreja de São Pedro de Rates (Rates, Póvoa do Varzim) um Caso Prático em sala de aula MÓDULO 3
  • 2. História da Cultura e das Artes | 10.º ano | Paulo Simões Nunes Igreja de São Pedro de Rates Executado ao longo dos séculos XII e XIII Materiais: paredes, estrutura e decoração esculpida em granito cobertura em madeira com revestimento a telha de cerâmica vermelha Localização: Rates, Póvoa do Varzim (distrito do Porto) Classificado como Monumento Nacional 1. Classificação 2 Igreja de São Pedro de Rates Rates, Póvoa do Varzim
  • 3. História da Cultura e das Artes | 10.º ano | Paulo Simões Nunes 2. Contexto histórico-cultural: São Pedro de Rates no seu tempo 3  O bispo São Pedro de Rates foi um importante evangelizador dos povos da península Ibérica durante a ocupação romana.  Segundo a tradição, São Pedro de Rates foi o primeiro bispo de Braga, entre 45 e 60, tendo sido ordenado pelo Apóstolo Santiago.  Já no século IX, o seu corpo foi encontrado por São Félix, o eremita, que o sepultou no santuário sobre o qual foi erguida a Igreja de São Pedro de Rates.  O corpo ali permaneceu sepultado até 1552, ano em que foi transferido para a Sé de Braga, onde se encontra atualmente.  Foi martirizado e decapitado quando convertia as populações pagãs à fé cristã, no norte de Portugal.
  • 4. História da Cultura e das Artes | 10.º ano | Paulo Simões Nunes 2. Contexto histórico-cultural: São Pedro de Rates no seu tempo 4  Após o século IX vem a constituir um importante centro de peregrinação às relíquias do Santo, ali sepultado.  Antes do século XI, há evidências da existência de um mosteiro beneditino que viria a ser renovado pelo conde D. Henrique já nos finais daquele século. Esta foi a primeira igreja cluniacense a estabelecer-se em Portugal.  A Igreja de São Pedro de Rates foi construída sobre um santuário paleocristão datado do século VI.  Em 1100, os condes D. Henrique e D. Teresa, doaram- -no à Ordem de Cluny, concretamente ao priorado de La Charité-sur-Loire, em Auxerre.
  • 5. História da Cultura e das Artes | 10.º ano | Paulo Simões Nunes 3. Contexto histórico-cultural: São Pedro de Rates na Christianitas 5  Foi construído em pleno século XII, um tempo marcado pela Reconquista dos territórios ocupados pelos Muçulmanos na península Ibérica.  O Mosteiro de São Pedro de Rates foi a primeira construção da Ordem de Cluny em Portugal.  São Pedro de Rates está situado na bacia do rio Ave, em pleno coração da região Entre Douro e Minho.  E um tempo marcado, igualmente, por um contexto histórico e cultural em que a Igreja Cristã pretendia afirmar a presença e a doutrina de Deus, tendo alcançado uma forte implantação junto das populações rurais.  Esta era uma região com grande densidade de paróquias, albergando um grande número de instituições monásticas e de igrejas românicas.
  • 6. História da Cultura e das Artes | 10.º ano | Paulo Simões Nunes 3. Contexto histórico-cultural: São Pedro de Rates na Christianitas 6  Esta era uma região que, devido ao seu relativo desenvolvimento económico e comercial, albergava um grande número de instituições monásticas e de igrejas românicas.  O povoado de Rates era um importante ponto de passagem do interior para o exterior, e na direção norte-sul, ganhando uma importante atividade comercial que lhe garantiu uma certa centralidade na região.  Ao situar-se numa das rotas de peregrinação dos “Caminhos de Santiago” – o Caminho Português de Santiago – São Pedro de Rates veio a assumir um papel muito relevante no apoio logístico e espiritual aos peregrinos.  Por outro lado, a própria Igreja de São Pedro de Rates constituiu um ponto de peregrinação, de romagem e de devoção ao Santo.
  • 7. História da Cultura e das Artes | 10.º ano | Paulo Simões Nunes 4. Análise formal 7 Portal ocidental (portal principal) Nave principal Nave lateral norte (nave do Evangelho) Nave lateral sul (nave da Epístola) Cabeceira Portal norte Abside (altar) Absidíola Cruzeiro Sacristia Transepto (falso transepto) Portal sul
  • 8. História da Cultura e das Artes | 10.º ano | Paulo Simões Nunes 4. Análise formal 8  A Igreja de São Pedro de Rates é um edifício de três naves e quatro tramos, com um falso transepto.  Devido às sucessivas obras que recebeu no século XIII e às posteriores adaptações, ao gosto de cada época, nos séculos XVII e XVIII, a sua estrutura apresenta algumas “irregularidades”.  Já nos anos 1940, em pleno Estado Novo, foi alvo de operações de um duvidoso “restauro” que acabaram por “limpar” elementos das anteriores intervenções.  Das intervenções dos séculos XII e XIII persistem os seguintes aspetos:  A fachada é assimétrica.  As naves laterais possuem larguras diferentes.  Os tramos têm diferentes dimensões.  Os pilares são diferentes e estão desalinhados.  Os elementos decorativos – portais, capitéis e modilhões – denotam influências diferenciadas. A frontaria apresenta um pórtico bem dimensionado e flanqueado por dois robustos contrafortes.
  • 9. História da Cultura e das Artes | 10.º ano | Paulo Simões Nunes 5. Leitura de significados 9  O portal românico é formado por cinco arquivoltas ornamentadas nas aduelas por uma série de Apóstolos segurando os báculos, os símbolos dos pastores do rebanho de Deus.  Os arcos repousam em colunelos com capiteis decorados com motivos zoomórficos, antropomórficos e naturalistas, surgindo também representações do fantástico e do bestiário medieval.  O tímpano apresenta uma figuração esquematizada de Cristo Pantocrator, envolto na mandorla mística. Portal ocidental (portal principal).  Cristo está ladeado por dois profetas (S. João Evangelista e S. Mateus) que pisam simbolicamente Judas e o herege Ario.
  • 10. História da Cultura e das Artes | 10.º ano | Paulo Simões Nunes 5. Leitura de significados 10 Portal sul  As colunas são suportadas na base por duas feras aladas.  O tímpano apresenta uma representação do Agnus Dei (uma figuração simbólica de Cristo Imolado), ostentando a cruz com escudetes, simbologia associada ao rei D. Sancho I.  O portal sul apresenta uma dupla arcada, sendo a do fundo uma arcada polilobada, assente em colunas com capiteis ornamentados com cenas historiadas.
  • 11. História da Cultura e das Artes | 10.º ano | Paulo Simões Nunes 5. Leitura de significados 11  Desenhada em hemiciclo, a abside é repartida por cinco arcos com frestas, assentes em colunelos adossados às paredes.  Uma cachorrada de modilhões figurados corre sob a cornija da cabeceira, na abside e nas absidíolas.  A cabeceira desenvolve uma dinâmica composição arquitetónica, com um interessante escalonamento e jogo de volumes da abside e das duas absidíolas. O portal norte apresenta uma arcada polilobada, sem tratamento do tímpano, e com uma decoração estilizada de tradição local nos capiteis.
  • 12. História da Cultura e das Artes | 10.º ano | Paulo Simões Nunes 5. Leitura de significados 12  Os capiteis apresentam uma decoração com motivos vegetalistas e figurativos, com temas da imaginária fantástica medieval.  Esta decoração esculpida prolonga-se no arco cruzeiro, nas arcadas cegas da capela-mor e noutros elementos arquitetónicos da igreja.  O interior está dividido em três naves, com quatro tramos marcados por arcadas assentes em colunas robustas de diferente configuração.