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el ia na p orte ll a




Maria


       São Paulo, 2011
© 2011 de Eliana Portella

Título Original em Português: Maria

Coordenação Editorial: Simone Mateus
Assistente Editorial: Taciani Ody
Revisão: Sandra Garcia Cortés
Capa e projeto gráfico: Equipe Giz Editorial
Impressão: Prol Editora Gráfica




           Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
                    (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

       Portella, Eliana
            Maria / Eliana Portella. -- São Paulo : Giz Editorial, 2011.

       ISBN 978-85-7855-156-8

       1. Ficção brasileira I. Título.

11-08526                                                                   CDD-869.93

                           Índice para Catálogo Sistemático
                     1. Ficção : Literatura brasileira   869.93




                              É PROIBIDA A REPRODUÇÃO
Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida, copiada, transcrita ou mesmo
  transmitida por meios eletrônicos ou gravações, assim como traduzida, sem a
permissão, por escrito do autor. Os infratores serão punidos pela Lei nº 9.610/98
                            Impresso no Brasil / Printed in Brazil
Eu sei que vou te amar
           Por toda a minha vida eu vou te amar
               Em cada despedida eu vou te amar
        Desesperadamente, eu sei que vou te amar
                            E cada verso meu será
           Pra te dizer que eu sei que vou te amar
                              Por toda minha vida
                             Eu sei que vou chorar
               A cada ausência tua eu vou chorar
                 Mas cada volta tua há de apagar
              O que esta ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver
                     A espera de viver ao lado teu
                            Por toda a minha vida

                               (Tom & Vinícius)
Sumário

livro i. Eva ..................................................................................... 9
        capítulo i A primeira vista .................................................................... 11
        capítulo ii Enamorados ......................................................................... 19
        capítulo iii Comprometidos ................................................................. 31
        capítulo iv Prometidos .......................................................................... 41
        capítulo v Noivando .............................................................................. 51
        capítulo vi Sr. e Sra. Martin .................................................................. 59
        capítulo vii Família ................................................................................ 69
        capítulo viii Aflições .............................................................................. 75
        capítulo ix Esperança ............................................................................ 83
        capítulo x Luzes que se acendem ......................................................... 87
        capítulo xi Luz que se apaga ................................................................. 93
        capítulo xii Luto ................................................................................... 101


livro ii. Fernanda e Luiza .................................................... 109
        capítulo xiiiRenascença...................................................................... 111
        capítulo xiv Infância Perdida.............................................................. 121
        capítulo xv Debutantes ........................................................................ 133
        capítulo xvi O primeiro amor ............................................................ 145
        capítulo xvii Voo Solo ......................................................................... 157
        capítulo xviii Paixões de Luiza ........................................................... 167
        capítulo xix A Carta............................................................................. 185
        capítulo xx Triângulo .......................................................................... 191
        capítulo xxi Formatura ........................................................................ 205
capítulo xxiiRompimento .................................................................. 217
       capítulo xxiiiReencontros .................................................................. 227
       capítulo xxiv Despedidas .................................................................... 237


livro iii. Fernanda .................................................................. 263
       capítulo xxv Lágrimas solitárias......................................................... 265
       capítulo xxvi Matheus Filippo ............................................................ 271
       capítulo xxvii Amigos .......................................................................... 283
       capítulo xxviii Amantes....................................................................... 293
       capítulo xxix Diversão ......................................................................... 301
       capítulo xxx Luigi................................................................................. 319
       capítulo xxxi Amigos para sempre .................................................... 325
       capítulo xxxii Vida Nova ..................................................................... 343
       capítulo xxxiii Saudades ...................................................................... 367
       capítulo xxxiv “Nanda e Matheus... ................................................... 373
       capítulo xxxiv Por toda a minha vida ................................................ 379
livro i
Eva
capítulo i




            A primeira vista


MARIA EVA DE ALBUQUERQUE RAMOS, A FILHA CAÇULA DE
UMA tradicional família portuguesa, foi a quinta gestação de Laura
após dar a luz cinco meninos. O nome, promessa e homenagem às
duas mulheres mais importantes da Bíblia, Maria e Eva; o ano, 1944.
      Laura sempre teve a cabeça à frente de seu tempo, e sonhou
para a única filha um futuro promissor, com uma carreira brilhante,
muitas viagens, domínio de outros idiomas, amizades interessantes...
E somente quando a maturidade chegasse, um amor verdadeiro, mas
que fosse escolhido por ela, e não um casamento arranjado.
      Mãe amorosa e determinada, Laura dedicava grande parte de
seu tempo lendo e tocando piano para a filha, dividindo com a meni-
na a paixão pela literatura e pela música.
      Mas, de tudo que Laura ambicionou, a única vontade atendi-
da pela filha foi escolher, ela mesma, aquele que seria o dono de seu
coração. Maria Eva conheceu e irremediavelmente se apaixonou por
Luiz Augusto. E não houve quem removesse de seus pensamentos a
ideia de se casar com a maior urgência possível, por acreditar que a
diferença de dez anos colocaria em risco a união ao exigir que ele a
esperasse cursar a universidade, como almejava sua querida mãe.



                                 11
Eliana Portella



       E com apenas dezessete anos caminhou para os braços de seu
grande amor, com as bênçãos do pai, Fernando de Almeida Ramos, e
dos irmãos, que acreditavam ser o matrimônio o melhor futuro que
a vida poderia reservar a uma mulher. Não havia, no entanto, para o
alívio do coração apertado de Laura, como contestar. Maria Eva foi
a noiva mais linda e feliz que a tranquila cidade do interior de São
Paulo já assistira. À Laura só restava rezar para que aquele amor arre-
batador fizesse feliz sua única menina.
       Luiz Augusto Herrera Martin, advogado formado com honras na
mais bem conceituada universidade do país, vinha de família tradicional,
recebeu excelente educação e frequentou as mais altas rodas da socieda-
de. Administrava com êxito as fazendas da família que o pai lhe delega-
ra de olhos fechados, confiando na competência e dedicação do filho.
       A primeira vez que seus olhos se encontraram fora num baile
de máscaras promovido por Maria Dolores Prado, uma rica comer-
ciante e amiga de ambas as famílias. Maria Eva trajava um vestido
vermelho de renda que realçava maravilhosamente a pele alva e os
cabelos ruivos, os olhos azuis percorriam ansiosamente todos os can-
tos do salão, o peito arfava, tamanha a emoção de estrear na famo-
sa e disputada noite paulistana... E de repente lá estava ele, elegante,
misterioso e lindo, trajando um fraque de corte fino, bem ajustado ao
tronco musculoso, curto na frente e com longas abas atrás, o que o
deixava ainda mais imponente.
       Os olhares enfeitiçados e atraídos pelo brilho entusiasmado que
refletiam suas almas enamoradas fixaram-se sem um mínimo de pu-
dor. Maria Eva sabia que deveria baixar os olhos em sinal de discri-
ção, mas hipnotizada elevou ainda mais o pescoço longilíneo mesmo
quando Luiz Augusto marchou em sua direção, encurtando apressa-
damente o espaço entre eles.
       E quando a alcançou, ela se aproximou o suficiente para que ele
lhe percebesse a respiração acelerada e o arfar do colo translúcido que
se movimentava ao rítmo do coração descompassado. Sem maiores
cerimônias tomou-lhe a mão esquerda e a levou aos lábios antes mes-
mo de se apresentar e convidá-la a dançar com ele no salão em frente
à orquestra.


                                   12
maria

       — Senhorita, permita apresentar-me, Luiz Augusto Herrera
Martin, encantado! Me daria o prazer desta dança?
       A formalidade um tanto quanto exagerada deixou-a ainda mais
desejosa.
       — Aceito! — respondeu sem ao menos apresentar-se.
       E seguiram de braços dados ao encontro dos outros casais que
giravam no espaço reservado ao baile.
       — Ainda não sei o nome da jovem.
       — Maria Eva... de Albuquerque Ramos.
       Ele a encarou por um breve instante, avaliando o rosto femini-
no e de traços perfeitos por trás da máscara vermelha enfeitada com
pequeninos paetês.
       — Hum... peculiar!
       — Não sei se agradeço, pois não me parece bem um elogio...
       — Um nome inesquecível, assim como seus olhos!
       — Ah! Agora sim... obrigada! — mas ainda havia reticências
em sua voz
       — O que foi? Minhas palavras não a agradaram?
       Eva baixou levemente os olhos, fingindo contrariedade antes de
contestar.
       — Talvez... mas refiro-me às palavras ainda não ditas...
       Essa atitude arrancou de Luiz Augusto, fervorosa gargalhada.
       — Vejo que a jovem é mimada, acostumada a elogios.
       Eva estancou diante de tamanha grosseria, livrando-se com ve-
emência dos braços que a envolviam.
       — Com quem pensa que está falando? Convida-me a dançar
para ofender-me? Saiba que não necessito de tão desagradável com-
panhia... Agora, com sua licença...
       Mas, antes que fugisse, Luiz Augusto tomou-a novamente nos
braços com firmeza para que não mais escapasse.
       — Perdoa-me, senhorita, por favor! Estava brincando...
       Ele aplicou a maior suavidade que pôde na voz e nos olhos, em con-
traste com as mãos e braços que enrijeciam ao redor da cintura fina de Eva.
       Com os olhos marejados, ela se recompôs e dedicou enorme
esforço ao oferecer-lhe um sorriso.


                                    13
Eliana Portella



       Luiz Augusto notou de imediato o quanto a havia magoado por
tão pouco, os lábios trêmulos e as maçãs do rosto ruborizadas revela-
vam a sensibilidade que habitava a jovem que o fascinara em curtíssi-
mo espaço de tempo e convivência.
       Ele a conduziou novamente a acompanhar o ritmo da melodia e,
abraçando-a um pouco mais, ofereceu-lhe o peito, onde ela gentilmente
repousou o rosto, para não mais vislumbrar a tristeza daqueles olhos que
minutos antes ofuscavam tudo ao seu redor brilhando mais que estrelas.
       Esperou que ela se acalmasse e então com a ponta dos dedos
elevou com delicadeza o queixo pequenino para que pudesse admi-
rar-lhe o belo rosto.
       — Posso me desculpar novamente?
       — Gentileza nunca é demais.
       — Então me permita dizer que, após viajar pelos mais distantes
lugares do Brasil e do mundo, sinto que finalmente encontrei aquela
que me roubou todos os olhares e atenção.
       — Acredita em amor à primeira vista? — perguntou desconfiada.
       — E por que não? Não seria o coração um ser independente
com alma própria?
       Ela sorria novamente e ele dispendeu esforço sobre-humano
para não roubar-lhe um beijo. Parecia enfeitiçado.
       Ainda o contemplava sem dizer uma única sílaba. E no olhar
trazia a desconfiança.
       — Se veio acompanhada por seus pais, gostaria de conhecê-los.
Verás que não estou exagerando.
       — E por que acha que não estou acreditando na veracidade de
suas confissões?
       — Por que sorri zombeteira.
       — Interpreta mal, muito mal os gestos de uma mulher.
       — E o que me diz, então?
       — Digo que vou apresentá-lo com a maior urgência.
       — Urgência? — questionou já desconfiando da resposta.
       — Sim... afinal, quanto antes conhecerem meu pretendente...
       Ouvi-la pronunciar o título a que o elegia fez com que perdesse
a compostura e a puxasse imeditamente ao encontro de seus lábios.


                                   14
maria

Eva, apesar de insegura, retribuiu o beijo com paixão. Aquela sem
dúvida era uma noite de estreias, e ela não deixaria escapar nenhuma
que fizesse tão bem ao seu coração.
      — Se sou seu pretendente, tenho direito de beijá-la. — afirmou
orgulhoso.
      Depois, oferecendo-lhe o braço, pediu que o conduzisse ao lo-
cal onde conheceria os futuros sogros.
      Percebeu que ela tremia enquanto caminhavam com os braços
entrelaçados e parou para tentar acalmá-la. Nesse momento percebeu
que ainda usavam as máscaras sobre os olhos.
      — Espere... precisamos tirar nossas máscaras.
      Eva suspirou antes de responder:
      — Mas por quê? Estou adorando usar a minha, e todos estão
usando máscaras...
      — Qual o problema? Teme que eu veja seu lindo rosto?
      — Talvez...
      — Preste atenção, eu não posso ser apresentado aos seus pais
sem mostrar totalmente o rosto. Acabamos de nos conhecer e princi-
palmente seu pai precisa saber das minhas intenções.
      — Está bem — ela concordou a contragosto e ainda insegura
elevou sua máscara até o ponto mais alto da testa na altura da raiz dos
cabelos.
      A expressão que se formou no rosto de Luiz Augusto aliviou
instantaneamente o coração de Maria Eva. Ele desmonstrou estar ma-
ravilhado com a descoberta. E de fato estava. Os olhos azuis eram
moldados por longos e espessos cílios e as sobrancelhas perfeitamen-
te bem delineadas contornavam em total harmonia o semblante an-
gelical da menina.
      — Linda!
      Ela, que minutos antes exigia elogios, agora baixava os olhos
ruborizada.
      — Agora é a sua vez... — falou com timidez.
      Luiz Augusto, deliciando-se com a nova atitude da linda jovem,
suspendeu sem cerimônia e com total segurança a máscara negra que
escondia parte de seu rosto.


                                  15
Eliana Portella



       Então foi a vez de Maria Eva confirmar a beleza e os encantos
do homem à sua frente, a pele morena clara, os olhos de um verde
profundo, os cílios e as sobrancelhas cheias na mesma cor castanha
escura quase preta, os cabelos lisos e brilhantes, o queixo quadrado
e as covinhas que surgiam davam-lhe a masculidade na dose certa.
Encarou-o com os lábios entreabertos e ele novamente pensou em
beijá-la, mas poupou-a da exposição temendo que possíveis conheci-
dos interpretassem mal a postura daquela que tomou a posse de seu
coração de conquistador.
       Novamente estendeu-lhe o braço e seguiram ansiosos ao local
onde os Ramos conversavam animadamente com a anfitriã.
       Laura foi a primeira a identificar o casal e imediatamente perce-
beu o clima que os envolvia. Em princípio aprovou a escolha da filha:
“Que belo rapaz Eva escolhera para ser seu par em seu primeiro bai-
le!”, mas seus pensamentos logo se encheram de preocupação quando
se deu conta de que eles vinham ter com a família.
       Maria Eva tomou a frente e limpou a garganta antes de se dirigir
ao pai:
       — Papai, preciso lhe apresentar meu novo... conhecido.
       E com total confiança Luiz Augusto estendeu a mão:
       — Muito prazer senhor Ramos, Luiz Augusto Herrera Martin.
       — O prazer é todo nosso, senhor... Herrera Martin! — respon-
deu Fernando enquanto buscava na memória a lembrança do sobre-
nome.
       — Agora quero que conheça minha mãe, a Sra. Laura de Albu-
querque Almeida e os meus irmãos e cunhadas.
       Luiz Augusto assustou-se com a família tão numerosa, mas
procurou dissimular:
       — Encantado Dona Laura, que bela família a senhora possui!
       — Muito obrigada, senhor Luiz Augusto! Mas responda-me...
está só, ou seus pais também estão presentes?
       — Infelizmente não poderei apresentá-los hoje, pois estão na
Europa visitando parentes. Mas não faltará oportunidade, prometo.
       Nesse momento Maria Dolores entrou no assunto:
       — Meus caros, deixem-me informá-los, Augusto é uma joia


                                   16
maria

rara, formado com êxito na melhor faculdade de direito, também es-
tudou na Europa, onde aprendeu o francês e o inglês, além da exten-
são de seu curso superior.
       — Por favor Dona Dolores, assim me constrange.
       Ao que a senhora anfitriã deu de ombros e continuou:
       — Que nada! O que é sucesso deve ser comemorado. Os pais de
Augusto têm motivos de sobra para orgulhar-se de seu primogênito.
O menino é prodígio, esperamos que o irmão Luiz Gustavo tenha
herdado a mesma aptidão para os estudos e negócios.
       — Dona Dolores, por favor!
       — Está bem, está bem...
       A expressão antes desconfiada de Fernando agora assumira um
tom de simpatia explícita.
       — E como se chamam seus pais? — perguntou com real inte-
resse.
       — Diego e Carmem.
       — Diego Herrera Martin... sabia que havia reconhecido o so-
brenome.
       — Apresente ao seu conhecido o restante da família como se
deve, minha filha — interrompeu a mãe
       Maria Eva, que acompanhava tudo em silêncio, procurando
aprovação em todos os rostos, virou-se para os irmãos começando
pelo mais velho e sua esposa:
       — Vamos começar pelo mais velho; Pedro e Aurora, Paulo e
Ana, Thiago e Tânia, Felipe e Fernandinho. São todos meus irmãos.
Sou a única menina.
       — Então eu estava certo quando afirmei que era mimada... a
única menina — brincou Luiz Augusto enquanto lhe tocava levemen-
te a ponta arrebitada do delicado nariz com a ponta do indicador.
       Todos perceberam naquele momento que eles seriam, em bre-
ve, mais que simples conhecidos. Era transparente como o cristal a
paixão que os arrebatara.




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1º capitulo de Maria

  • 1.
  • 2. Todos os direitos reservados à editora. Publicado por Giz Editorial e Livraria Ltda. Rua Machado Pedrosa, 22 – Sala 5 – Jd. São Paulo São Paulo – SP – CEP: 02045-010 Website: www.gizeditorial.com.br E-mail: giz@gizeditorial.com.br Tel/Fax: (11) 2925-4129
  • 3. el ia na p orte ll a Maria São Paulo, 2011
  • 4. © 2011 de Eliana Portella Título Original em Português: Maria Coordenação Editorial: Simone Mateus Assistente Editorial: Taciani Ody Revisão: Sandra Garcia Cortés Capa e projeto gráfico: Equipe Giz Editorial Impressão: Prol Editora Gráfica Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Portella, Eliana Maria / Eliana Portella. -- São Paulo : Giz Editorial, 2011. ISBN 978-85-7855-156-8 1. Ficção brasileira I. Título. 11-08526 CDD-869.93 Índice para Catálogo Sistemático 1. Ficção : Literatura brasileira 869.93 É PROIBIDA A REPRODUÇÃO Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida, copiada, transcrita ou mesmo transmitida por meios eletrônicos ou gravações, assim como traduzida, sem a permissão, por escrito do autor. Os infratores serão punidos pela Lei nº 9.610/98 Impresso no Brasil / Printed in Brazil
  • 5. Eu sei que vou te amar Por toda a minha vida eu vou te amar Em cada despedida eu vou te amar Desesperadamente, eu sei que vou te amar E cada verso meu será Pra te dizer que eu sei que vou te amar Por toda minha vida Eu sei que vou chorar A cada ausência tua eu vou chorar Mas cada volta tua há de apagar O que esta ausência tua me causou Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver A espera de viver ao lado teu Por toda a minha vida (Tom & Vinícius)
  • 6.
  • 7. Sumário livro i. Eva ..................................................................................... 9 capítulo i A primeira vista .................................................................... 11 capítulo ii Enamorados ......................................................................... 19 capítulo iii Comprometidos ................................................................. 31 capítulo iv Prometidos .......................................................................... 41 capítulo v Noivando .............................................................................. 51 capítulo vi Sr. e Sra. Martin .................................................................. 59 capítulo vii Família ................................................................................ 69 capítulo viii Aflições .............................................................................. 75 capítulo ix Esperança ............................................................................ 83 capítulo x Luzes que se acendem ......................................................... 87 capítulo xi Luz que se apaga ................................................................. 93 capítulo xii Luto ................................................................................... 101 livro ii. Fernanda e Luiza .................................................... 109 capítulo xiiiRenascença...................................................................... 111 capítulo xiv Infância Perdida.............................................................. 121 capítulo xv Debutantes ........................................................................ 133 capítulo xvi O primeiro amor ............................................................ 145 capítulo xvii Voo Solo ......................................................................... 157 capítulo xviii Paixões de Luiza ........................................................... 167 capítulo xix A Carta............................................................................. 185 capítulo xx Triângulo .......................................................................... 191 capítulo xxi Formatura ........................................................................ 205
  • 8. capítulo xxiiRompimento .................................................................. 217 capítulo xxiiiReencontros .................................................................. 227 capítulo xxiv Despedidas .................................................................... 237 livro iii. Fernanda .................................................................. 263 capítulo xxv Lágrimas solitárias......................................................... 265 capítulo xxvi Matheus Filippo ............................................................ 271 capítulo xxvii Amigos .......................................................................... 283 capítulo xxviii Amantes....................................................................... 293 capítulo xxix Diversão ......................................................................... 301 capítulo xxx Luigi................................................................................. 319 capítulo xxxi Amigos para sempre .................................................... 325 capítulo xxxii Vida Nova ..................................................................... 343 capítulo xxxiii Saudades ...................................................................... 367 capítulo xxxiv “Nanda e Matheus... ................................................... 373 capítulo xxxiv Por toda a minha vida ................................................ 379
  • 10.
  • 11. capítulo i A primeira vista MARIA EVA DE ALBUQUERQUE RAMOS, A FILHA CAÇULA DE UMA tradicional família portuguesa, foi a quinta gestação de Laura após dar a luz cinco meninos. O nome, promessa e homenagem às duas mulheres mais importantes da Bíblia, Maria e Eva; o ano, 1944. Laura sempre teve a cabeça à frente de seu tempo, e sonhou para a única filha um futuro promissor, com uma carreira brilhante, muitas viagens, domínio de outros idiomas, amizades interessantes... E somente quando a maturidade chegasse, um amor verdadeiro, mas que fosse escolhido por ela, e não um casamento arranjado. Mãe amorosa e determinada, Laura dedicava grande parte de seu tempo lendo e tocando piano para a filha, dividindo com a meni- na a paixão pela literatura e pela música. Mas, de tudo que Laura ambicionou, a única vontade atendi- da pela filha foi escolher, ela mesma, aquele que seria o dono de seu coração. Maria Eva conheceu e irremediavelmente se apaixonou por Luiz Augusto. E não houve quem removesse de seus pensamentos a ideia de se casar com a maior urgência possível, por acreditar que a diferença de dez anos colocaria em risco a união ao exigir que ele a esperasse cursar a universidade, como almejava sua querida mãe. 11
  • 12. Eliana Portella E com apenas dezessete anos caminhou para os braços de seu grande amor, com as bênçãos do pai, Fernando de Almeida Ramos, e dos irmãos, que acreditavam ser o matrimônio o melhor futuro que a vida poderia reservar a uma mulher. Não havia, no entanto, para o alívio do coração apertado de Laura, como contestar. Maria Eva foi a noiva mais linda e feliz que a tranquila cidade do interior de São Paulo já assistira. À Laura só restava rezar para que aquele amor arre- batador fizesse feliz sua única menina. Luiz Augusto Herrera Martin, advogado formado com honras na mais bem conceituada universidade do país, vinha de família tradicional, recebeu excelente educação e frequentou as mais altas rodas da socieda- de. Administrava com êxito as fazendas da família que o pai lhe delega- ra de olhos fechados, confiando na competência e dedicação do filho. A primeira vez que seus olhos se encontraram fora num baile de máscaras promovido por Maria Dolores Prado, uma rica comer- ciante e amiga de ambas as famílias. Maria Eva trajava um vestido vermelho de renda que realçava maravilhosamente a pele alva e os cabelos ruivos, os olhos azuis percorriam ansiosamente todos os can- tos do salão, o peito arfava, tamanha a emoção de estrear na famo- sa e disputada noite paulistana... E de repente lá estava ele, elegante, misterioso e lindo, trajando um fraque de corte fino, bem ajustado ao tronco musculoso, curto na frente e com longas abas atrás, o que o deixava ainda mais imponente. Os olhares enfeitiçados e atraídos pelo brilho entusiasmado que refletiam suas almas enamoradas fixaram-se sem um mínimo de pu- dor. Maria Eva sabia que deveria baixar os olhos em sinal de discri- ção, mas hipnotizada elevou ainda mais o pescoço longilíneo mesmo quando Luiz Augusto marchou em sua direção, encurtando apressa- damente o espaço entre eles. E quando a alcançou, ela se aproximou o suficiente para que ele lhe percebesse a respiração acelerada e o arfar do colo translúcido que se movimentava ao rítmo do coração descompassado. Sem maiores cerimônias tomou-lhe a mão esquerda e a levou aos lábios antes mes- mo de se apresentar e convidá-la a dançar com ele no salão em frente à orquestra. 12
  • 13. maria — Senhorita, permita apresentar-me, Luiz Augusto Herrera Martin, encantado! Me daria o prazer desta dança? A formalidade um tanto quanto exagerada deixou-a ainda mais desejosa. — Aceito! — respondeu sem ao menos apresentar-se. E seguiram de braços dados ao encontro dos outros casais que giravam no espaço reservado ao baile. — Ainda não sei o nome da jovem. — Maria Eva... de Albuquerque Ramos. Ele a encarou por um breve instante, avaliando o rosto femini- no e de traços perfeitos por trás da máscara vermelha enfeitada com pequeninos paetês. — Hum... peculiar! — Não sei se agradeço, pois não me parece bem um elogio... — Um nome inesquecível, assim como seus olhos! — Ah! Agora sim... obrigada! — mas ainda havia reticências em sua voz — O que foi? Minhas palavras não a agradaram? Eva baixou levemente os olhos, fingindo contrariedade antes de contestar. — Talvez... mas refiro-me às palavras ainda não ditas... Essa atitude arrancou de Luiz Augusto, fervorosa gargalhada. — Vejo que a jovem é mimada, acostumada a elogios. Eva estancou diante de tamanha grosseria, livrando-se com ve- emência dos braços que a envolviam. — Com quem pensa que está falando? Convida-me a dançar para ofender-me? Saiba que não necessito de tão desagradável com- panhia... Agora, com sua licença... Mas, antes que fugisse, Luiz Augusto tomou-a novamente nos braços com firmeza para que não mais escapasse. — Perdoa-me, senhorita, por favor! Estava brincando... Ele aplicou a maior suavidade que pôde na voz e nos olhos, em con- traste com as mãos e braços que enrijeciam ao redor da cintura fina de Eva. Com os olhos marejados, ela se recompôs e dedicou enorme esforço ao oferecer-lhe um sorriso. 13
  • 14. Eliana Portella Luiz Augusto notou de imediato o quanto a havia magoado por tão pouco, os lábios trêmulos e as maçãs do rosto ruborizadas revela- vam a sensibilidade que habitava a jovem que o fascinara em curtíssi- mo espaço de tempo e convivência. Ele a conduziou novamente a acompanhar o ritmo da melodia e, abraçando-a um pouco mais, ofereceu-lhe o peito, onde ela gentilmente repousou o rosto, para não mais vislumbrar a tristeza daqueles olhos que minutos antes ofuscavam tudo ao seu redor brilhando mais que estrelas. Esperou que ela se acalmasse e então com a ponta dos dedos elevou com delicadeza o queixo pequenino para que pudesse admi- rar-lhe o belo rosto. — Posso me desculpar novamente? — Gentileza nunca é demais. — Então me permita dizer que, após viajar pelos mais distantes lugares do Brasil e do mundo, sinto que finalmente encontrei aquela que me roubou todos os olhares e atenção. — Acredita em amor à primeira vista? — perguntou desconfiada. — E por que não? Não seria o coração um ser independente com alma própria? Ela sorria novamente e ele dispendeu esforço sobre-humano para não roubar-lhe um beijo. Parecia enfeitiçado. Ainda o contemplava sem dizer uma única sílaba. E no olhar trazia a desconfiança. — Se veio acompanhada por seus pais, gostaria de conhecê-los. Verás que não estou exagerando. — E por que acha que não estou acreditando na veracidade de suas confissões? — Por que sorri zombeteira. — Interpreta mal, muito mal os gestos de uma mulher. — E o que me diz, então? — Digo que vou apresentá-lo com a maior urgência. — Urgência? — questionou já desconfiando da resposta. — Sim... afinal, quanto antes conhecerem meu pretendente... Ouvi-la pronunciar o título a que o elegia fez com que perdesse a compostura e a puxasse imeditamente ao encontro de seus lábios. 14
  • 15. maria Eva, apesar de insegura, retribuiu o beijo com paixão. Aquela sem dúvida era uma noite de estreias, e ela não deixaria escapar nenhuma que fizesse tão bem ao seu coração. — Se sou seu pretendente, tenho direito de beijá-la. — afirmou orgulhoso. Depois, oferecendo-lhe o braço, pediu que o conduzisse ao lo- cal onde conheceria os futuros sogros. Percebeu que ela tremia enquanto caminhavam com os braços entrelaçados e parou para tentar acalmá-la. Nesse momento percebeu que ainda usavam as máscaras sobre os olhos. — Espere... precisamos tirar nossas máscaras. Eva suspirou antes de responder: — Mas por quê? Estou adorando usar a minha, e todos estão usando máscaras... — Qual o problema? Teme que eu veja seu lindo rosto? — Talvez... — Preste atenção, eu não posso ser apresentado aos seus pais sem mostrar totalmente o rosto. Acabamos de nos conhecer e princi- palmente seu pai precisa saber das minhas intenções. — Está bem — ela concordou a contragosto e ainda insegura elevou sua máscara até o ponto mais alto da testa na altura da raiz dos cabelos. A expressão que se formou no rosto de Luiz Augusto aliviou instantaneamente o coração de Maria Eva. Ele desmonstrou estar ma- ravilhado com a descoberta. E de fato estava. Os olhos azuis eram moldados por longos e espessos cílios e as sobrancelhas perfeitamen- te bem delineadas contornavam em total harmonia o semblante an- gelical da menina. — Linda! Ela, que minutos antes exigia elogios, agora baixava os olhos ruborizada. — Agora é a sua vez... — falou com timidez. Luiz Augusto, deliciando-se com a nova atitude da linda jovem, suspendeu sem cerimônia e com total segurança a máscara negra que escondia parte de seu rosto. 15
  • 16. Eliana Portella Então foi a vez de Maria Eva confirmar a beleza e os encantos do homem à sua frente, a pele morena clara, os olhos de um verde profundo, os cílios e as sobrancelhas cheias na mesma cor castanha escura quase preta, os cabelos lisos e brilhantes, o queixo quadrado e as covinhas que surgiam davam-lhe a masculidade na dose certa. Encarou-o com os lábios entreabertos e ele novamente pensou em beijá-la, mas poupou-a da exposição temendo que possíveis conheci- dos interpretassem mal a postura daquela que tomou a posse de seu coração de conquistador. Novamente estendeu-lhe o braço e seguiram ansiosos ao local onde os Ramos conversavam animadamente com a anfitriã. Laura foi a primeira a identificar o casal e imediatamente perce- beu o clima que os envolvia. Em princípio aprovou a escolha da filha: “Que belo rapaz Eva escolhera para ser seu par em seu primeiro bai- le!”, mas seus pensamentos logo se encheram de preocupação quando se deu conta de que eles vinham ter com a família. Maria Eva tomou a frente e limpou a garganta antes de se dirigir ao pai: — Papai, preciso lhe apresentar meu novo... conhecido. E com total confiança Luiz Augusto estendeu a mão: — Muito prazer senhor Ramos, Luiz Augusto Herrera Martin. — O prazer é todo nosso, senhor... Herrera Martin! — respon- deu Fernando enquanto buscava na memória a lembrança do sobre- nome. — Agora quero que conheça minha mãe, a Sra. Laura de Albu- querque Almeida e os meus irmãos e cunhadas. Luiz Augusto assustou-se com a família tão numerosa, mas procurou dissimular: — Encantado Dona Laura, que bela família a senhora possui! — Muito obrigada, senhor Luiz Augusto! Mas responda-me... está só, ou seus pais também estão presentes? — Infelizmente não poderei apresentá-los hoje, pois estão na Europa visitando parentes. Mas não faltará oportunidade, prometo. Nesse momento Maria Dolores entrou no assunto: — Meus caros, deixem-me informá-los, Augusto é uma joia 16
  • 17. maria rara, formado com êxito na melhor faculdade de direito, também es- tudou na Europa, onde aprendeu o francês e o inglês, além da exten- são de seu curso superior. — Por favor Dona Dolores, assim me constrange. Ao que a senhora anfitriã deu de ombros e continuou: — Que nada! O que é sucesso deve ser comemorado. Os pais de Augusto têm motivos de sobra para orgulhar-se de seu primogênito. O menino é prodígio, esperamos que o irmão Luiz Gustavo tenha herdado a mesma aptidão para os estudos e negócios. — Dona Dolores, por favor! — Está bem, está bem... A expressão antes desconfiada de Fernando agora assumira um tom de simpatia explícita. — E como se chamam seus pais? — perguntou com real inte- resse. — Diego e Carmem. — Diego Herrera Martin... sabia que havia reconhecido o so- brenome. — Apresente ao seu conhecido o restante da família como se deve, minha filha — interrompeu a mãe Maria Eva, que acompanhava tudo em silêncio, procurando aprovação em todos os rostos, virou-se para os irmãos começando pelo mais velho e sua esposa: — Vamos começar pelo mais velho; Pedro e Aurora, Paulo e Ana, Thiago e Tânia, Felipe e Fernandinho. São todos meus irmãos. Sou a única menina. — Então eu estava certo quando afirmei que era mimada... a única menina — brincou Luiz Augusto enquanto lhe tocava levemen- te a ponta arrebitada do delicado nariz com a ponta do indicador. Todos perceberam naquele momento que eles seriam, em bre- ve, mais que simples conhecidos. Era transparente como o cristal a paixão que os arrebatara. 17