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Revista de Economia Política, vol. 23, nº 4 (92), outubro-dezembro/2003
Auge e Declínio da Hipótese
dos Mercados Eficientes
LUIZ ANTÔNIO DE OLIVEIRA LIMA*
“Height and Decay of the Hypotheses of Efficient Markets”. Eugene Fama defines
a market as efficient if it fully reflects the existing information about the fundamen-
tal values of a financial asset. According to this hypothesis this kind of market makes
available to the agents the optimal options for investing their money, leading in conse-
quence to an efficient allocation of capital. The aim of this article is to show that this
condition in fact does not exist in economic reality and as consequence to discuss how
the alternative forms of asset markets guide the process of investment. The alterna-
tive forms of allocation imply that economic agents do not follow the ideal model of
“full rationality”, but that they follow one “weak form” consistent with decisions
that must be taken in condition of uncertainty. This analysis will allow us to construct
more realistic models of financial markets considering not only their conditions of
normality as well as the circumstances that explain their instability and crises.
INTRODUÇÃO
O capitalismo, como um sistema econômico de decisões descentralizadas, ca-
racteriza-se por uma grande opacidade em relação à sua dinâmica futura, devendo
em função disto procurar alternativas capazes de reduzir o efeito de tal caracterís-
tica. Esta necessidade se mostra urgente, principalmente nos momentos em que são
tomadas as decisões de investimento, de modo a não se desperdiçar o capital inves-
tido em projetos improdutivos ou não inteiramente adequados aos desejos dos con-
sumidores. Segundo a chamada hipótese dos mercados eficientes, de agora em diante
HME, tal missão seria realizada pelo mercado acionário,1
o que lhe conferiria sua
* Este artigo é parte de pesquisa financiada pelo NPP — Núcleo de Pesquisas e Publicações da FGV-
EAESP. O autor é professor do Departamento de Economia da mesma instituição. E-mail: lalima@fgvsp.br.
1
A hipótese dos mercados eficientes, embora de uso mais freqüente no mercado acionário, pode ser uti-
lizada também para a análise dos preços de outros ativos financeiros (Cf. Henwood 1997: 185).
29
utilidade social. Seriam tais mercados considerados “como o ator coletivo que cen-
traliza as informações, as interpreta e produz uma estimativa pertinente dos valo-
res fundamentais. A teoria da eficiência vai mesmo mais longe ao dizer que, atra-
vés de tais mercados, são engendradas as melhores estimativas possíveis, dada a in-
formação disponível, em um mundo mercantil dominado pela incerteza; estas ati-
vidades de informação, previsão e cálculo tornariam essenciais esses mercados”
(Orlean, 1999: 21-2).
Tais estimativas seriam possíveis na medida em que os investidores consideras-
sem para suas decisões acionárias um conjunto de parâmetros envolvendo a organi-
zação produtiva, a gestão, a situação da concorrência, a evolução das técnicas e a
conjuntura macroeconômica, considerados os fundamentos dos quais dependeovalor
básico das ações. Ou seja, supõe-se que as antecipações dos agentes estão voltadas
fundamentalmente para a “economia real”. Assim, se o preço de um título é supe-
rior ao valor básico calculado pelo investidor, seu preço deve cair e vice-versa.
Tal estratégia, identificada como “fundamentalista”, se apóia sobre a visão
walrasiana convencional, identificada pela lei da oferta e procura:
“Ela nos faz ver os investidores agindo de forma isolada, calculando
da melhor forma possível, a partir de suas informações, os valores funda-
mentais e determinando a estrutura de seus portfólios em função dos pre-
ços atuais de mercado. Para estes agentes, o que conta são os dados fun-
damentais e não o comportamento dos demais agentes. Suas antecipações
são determinadas por uma realidade exterior ao mercado, ou seja, a ren-
tabilidade real de seus investimentos” (idem: 24).
Tendo em vista tais considerações, pretende-se discutir neste trabalho: a evo-
lução da HME; as contestações a tal hipótese; uma alternativa para a análise dos
mercados financeiros, especialmente o mercado acionário; como certas caracterís-
ticas de tais mercados podem estender-se para os demais mercados de ativos e suas
implicações; e finalmente, se chamará a atenção para que, dadas as características
intrínsecas dos mercados financeiros, eles dificilmente poderão constituir-se em um
guia eficiente no processo de alocação do capital produtivo.
A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE MERCADOS EFICIENTES
Eugene Fama (1970) distinguiu três tipos de eficiência: a fraca, a semiforte e a
forte. A fraca estabelece que a tendência dos preços passados não permite a anteci-
pação dos preços futuros. A semiforte estabelece que os preços dos títulos se ajus-
tam quase imediatamente às informações significativas (lucros das empresas, dis-
tribuição de dividendos etc.). E a forma forte assinala que não existe algo, como
um grupo especial de investidores, que goze de acesso privilegiado às informações
que não se reflitam imediatamente nos preços de mercado.
Conseqüência destas hipóteses é que o preço de mercado de uma ação ou de
um outro título deve corresponder ao seu “preço correto” ou teórico, de tal manei-
30
ra que a HME estabelece que o que determina tais preços é o seu risco. Assim, no
modelo CAPM desenvolvido por Sharpe, Lintner e Black, também conhecido por
SLB, o risco é definido pela volatilidade dos retornos esperados de um ativo, ou seja,
sua variância em torno de uma norma. Esta volatilidade é determinada pela com-
paração com algum padrão, normalmente um investimento usualmente “sem ris-
co” como um título do tesouro. O risco não deve ser considerado, como de hábito,
uma possibilidade de perda, mas como a probabilidade de um desvio de um certo
retorno esperado, ou seja, o risco característico de um título é identificado na lite-
ratura pelo seu ␤.
De acordo com o modelo CAPM, uma forma de se reduzir o risco incorrido
pelo investidor seria a diversificação de seu portfólio, de tal maneira a reduzir o risco
de perda decorrente de modificações no preço de uma ação específica. Tal diversi-
ficação, no entanto, não permite a eliminação do risco de uma ação que decorre de
oscilações do mercado acionário como um todo. A este tipo de risco não assegurável
é que se identifica ␤. Uma ação com ␤ = 1,0 tende a se mover em linha geral com o
mercado; porém uma ação com ␤ = 1,5 tende a se mover 1,5% para cima ou para
baixo para cada variação de 1,0% no mercado. Uma ação com ␤ = 0 não terá ris-
co. Disto decorre que a taxa de retorno de um investimento deveria ser composto
da remuneração de uma aplicação sem risco, mais o seu ␤. Quanto maior o ␤ maior
o retorno requerido.
Na sua formulação mais moderna, os teóricos dos mercados eficientes afirmam
que a tendência dos preços é identificada com um “random walk”, significando que
tais preços não podem ser previstos desde que sua variação média, isto é, sua osci-
lação em termos de um valor fundamental, não sugere um padrão diferente de va-
riações puramente aleatórias. Assim, se isto for verdade, isto é, “se a informação já
está capitalizada no preço de uma ação, conhecê-la não fará de você um melhor
investidor. Atirar dardos nas páginas financeiras do New York Times é uma estra-
tégia de investimentos tão boa, como tentar acumular todas as informações dispo-
níveis sobre qualquer ação, mesmo porque aquela não custa nada, enquanto a co-
leta de informações envolve um preço” (Thurow, 1984: 151).
Assim, dentro de cada classe de risco, existe uma loteria com uma distribuição
aleatória não normal “na qual os indivíduos apostam em investimentos individuais
com iguais valores esperados (com chance igual de ganhar), mas que apresentarão
diferentes retornos ex post. Como em qualquer loteria, existe um valor médio es-
perado para qualquer dólar investido, mas também, como em qualquer loteria,
alguém vencerá e alguém perderá. Além disso, os grandes vencedores não terão como
contrapartida grandes perdedores” (idem: 151).
Apesar de Fama ter mostrado que as condições de funcionamento dos merca-
dos financeiros, acima descritos, envolvem condições muitos restritivas — a) não haver
custo de transações no mercado de título; b) as informações devem ser disseminadas
igualmente entre todos os participantes; c) todos os participantes desenvolvem in-
terpretações similares de tais informações — nos anos 60, 70 e 80 praticamente não
houve contestações empíricas ao funcionamento desses mercados e mesmo algumas
anomalias já identificadas nos anos 60 não foram consideradas suficientes para fal-
31
sificar a hipótese dos mercados eficientes. Assim, a presença de correlação serial no
preço das ações, em períodos de tempo muito curtos, por exemplo, de um dia para
outro, foi considerada muito restrita para se transformar em lucros; profissionais que
negociam com pequenas comissões não poderiam extrair vantagens dessas peque-
nas tendências, “além disso, se mostrou que grandes variações de preços são prova-
velmente seguidas por outras grandes variações, embora não houvesse padrão ca-
paz de prever o sinal da variação; uma grande variação para uma ação em um dia
seria provavelmente seguida por uma grande mudança no dia seguinte, mas esta
mudança poderia ser positiva ou negativa. É desnecessário dizer-se que tal descober-
ta não seria muito útil para os especuladores” (Henwood, 1997: 165).
De outro lado, durante os anos 60, procurou-se observar o efeito de anúncios
de mudanças de dividendos no lançamento de novas ações para testar a hipótese
semiforte dos mercados efetivos. Verificou-se que esta hipótese não poderia ser tes-
tada devido ao fato de as compras e vendas de ações acontecerem antes de as infor-
mações tornarem-se públicas, o que significava que uma boa parte dos operadores
era presciente ou grandemente bem informada. Nos anos 70, a hipótese forte não
passou por outros testes: alguns estudos mostraram que “insiders”, executivos de
nível superior e membros de conselhos de corporações tinham condições de vender
e comprar no tempo hábil para obtenção de lucros elevados.
Apesar dessas constatações a HME não foi abandonada, com base no argu-
mento de que os agentes, por serem uma pequena classe de investidores, não teriam
condições de bater o mercado, apesar de obterem lucros pontuais.
Nos anos 90, a HME tornou-se mais flexível para se adaptar a novos testes
críticos. A idéia passa a ser a de se justificar tal hipótese, desde que as informações
contidas nos preços reflitam um certo consenso dos operadores, independente de o
preço que dele resulte corresponder ou não a uma informação realista. Por exem-
plo, os investidores superavaliaram as empresas americanas no fim da década de
70. Houve um consenso, mas o consenso estava errado; isto, porém, não invalida-
ria a hipótese, segundo seus defensores, pois na medida em que tal informação fos-
se do conhecimento de todos os operadores, as oscilações de preço se dariam em
torno de um preço médio estabelecendo-se uma “convenção de normalidade” tal
como definida por Keynes (1936).
ALGUMAS CONTESTAÇÕES À HME
Vinte anos após a publicação de seu artigo de 1970, Eugene Fama (1991) apre-
sentou uma nova avaliação da HME, definindo-a “pela simples afirmação de que
ela implica em uma situação em que os preços dos títulos revelam inteiramente to-
das as informações disponíveis” (p. 1.575)
Analisando as principais pesquisas empíricas desenvolvidas neste período, Fama
reconhece que “os novos trabalhos concluem que os retornos podem ser previstos
a partir de retornos passados dos dividendos e de variáveis monetárias, com dife-
rentes estruturas temporais. Os novos testes rejeitam a antiga visão dos retornos
32
constantes, implícita na visão dos mercados eficientes, que pareciam funcionar
adequadamente, nos trabalhos iniciais” (idem: 1.577)
No artigo de 1991, Fama deixa de lado a antiga visão de formas fracas, semifortes
e fortes da HME, para se basear apenas no problema da previsibilidade dos retor-
nos; assim, ao invés de considerar como variáveis preditivas somente os retornos
passados, passa a incluir nos testes de previsibilidade variáveis como rentabilidade
dos dividendos e taxas de juro. Desde que eficiência e preços de equilíbrio são inse-
paráveis, tais trabalhos incluem também testes de preços de ativos e de anomalias.
Nas páginas seguintes serão considerados alguns desses trabalhos, incluindo
basicamente os analisados por Fama, bem como os baseados em hipóteses alterna-
tivas de racionalidade como os de De Bondt e Thaler e os testes de volatilidade, como
os de Shiller e Le Roy e Porter.
Assim, Fama (1991) observa que Lo e Mckinlay (1988), trabalhando com in-
formações do Nyse e Amex, puderam estabelecer de maneira precisa a existência de
autocorrelação nos retornos diários e semanais. Estabeleceram “que o retorno em
portfólio das ações do Nyse, agrupadas de acordo com o tamanho (preços das ações
vezes o seu número), mostram confiável autocorrelação positiva” (Fama, 1991: 1.578).
Além disso, grande número de estudos realizados nos anos 70 e 80 concluiu que ações
com baixas relações preço/lucro (cheap stoks) tiveram uma melhor performance que
ações que eram consideradas “caras”. Pesquisa desenvolvida por Fama e French (1989)
mostrou que é vantajoso adquirir uma ação quando as taxas de juro de longo prazo
estão bem acima das de curto prazo, e quando o “gap” entre a taxa de juro e o retor-
no sobre as ações é grande. Daí observarem que “a persistência de condições difíceis
na economia pode assinalar queda na riqueza e maior risco no retorno dos títulos;
ambos os fatores podendo, no entanto, assinalar aumento nos retornos esperados.
Além disso, se se antecipa que os maus tempos são apenas temporários, os retornos
esperados podem ser elevados porque os consumidores procuram antecipar o con-
sumo do futuro para o presente” (Fama, 1991: 1.585).
Em 1992, em novo artigo, Fama e French submeteram o modelo ␤ de avalia-
ção a uma crítica rigorosa ao mostrar que o tamanho da firma e a razão entre o
valor de mercado e o valor contábil da empresa preveriam melhor o retorno de uma
ação que ␤. Neste contexto apresentou-se uma alternativa analítica ao modelo ␤
(Chen, Roll e Ross, 1986). De acordo com ela, melhores previsores do retorno fu-
turo são a taxa de crescimento da produção industrial (com retornos futuros eleva-
dos quando a produção industrial fosse elevada e vice-versa), e a diferença entre a
taxa de juro em títulos das empresas de avaliação baixa e a taxa de títulos gover-
namentais de longo prazo (com retornos futuros elevados quando o spread é gran-
de). Tais hipóteses justificam previsibilidade dos retornos futuros das ações, enfra-
quecendo assim a HME.
A literatura inicial apresentada por Fama (1970) não considerou autocorrelações
diárias e semanais no retorno das ações como sendo importantes evidências contra
a HME, apontando que mesmo quando as correlações entre retornos se desviam cla-
ramente de zero, estão próximas a zero e portanto são insignificantes. Tal conclu-
são, no entanto, foi criticada por Shiller (1984) e Summers (1986). Eles considera-
33
ram modelos em que os preços das ações podem apresentar grandes oscilações afas-
tando-se dos valores fundamentais (bolhas irracionais), mas que em um horizonte
de tempo reduzido apresentam autocorrelação reduzida. Em sua análise, Shiller e Sum-
mers mostram que os mercados são altamente ineficientes, mas de uma maneira que
não é identificada nos testes que consideram um horizonte de tempo reduzido.
Este ponto pode ser esclarecido: suponha que o valor fundamental de uma ação
é constante e “que a média não condicionada do seu preço é seu valor fundamen-
tal. Suponha que os seus preços diários são uma regressão de primeira ordem com
inclinação próxima a 1. Todas as variações de preços resultam de longas oscilações
em relação ao seu valor fundamental. No curto prazo, uma auto-regressão de pri-
meira ordem com inclinação próxima a 1 significa que os preços pareçam um ran-
dom walk e os retornos tenham uma baixa correlação. Assim, nos testes de curtos
períodos de tempo, todo os preços parecem ser permanentes quando o valor fun-
damental é constante, e que todos os desvios dos preços dos fundamentos são tem-
porários”(Fama, 1991: 1.580).2
Além dos testes de previsão do retorno, a avaliação crítica da HME se estendeu
ao problema da volatilidade. Shiller (1981), baseando-se na hipótese de que se um
mercado é eficiente, a variação do preço de um ativo deve estar limitada por um
valor teórico que não depende senão da variabilidade dos determinantes fundamen-
tais do preço, comparou graficamente o valor dos preços das ações com seu “ver-
dadeiro” valor, ou seja, o valor que um mercado perfeitamente racional teria esta-
belecido para essas ações, no período de 1871 a 1979. A linha obtida para os divi-
dendos é perfeitamente estável, mesmo durante a Grande Depressão, mas a linha
representando o preço das ações “ziguezagueia” de tal maneira que permanece em
pontos extremos de sub ou supervalorização por anos, e mesmo ao longo de décadas.
Ainda Le Roy e Porter (1981) desenvolveram um teste de volatilidade que se-
gundo eles teria uma grande vantagem em relação aos testes de retorno apresenta-
dos até então. Os testes de Le Roy e Porter (1981) exploraram a demonstração de
Samuelson (1965) de que no contexto do mercado de ações, a relação de valor pre-
sente é equivalente (sujeito a uma suposição de convergência) à hipótese nula tes-
tada nos testes de retorno. Tal relação estabelece que o preço presente da ação é o
melhor previsor do valor futuro descontado e dos dividendos, vistos como o preço
racional ex post. De maneira mais precisa, “o valor presente da relação estabelece
que o preço corrente atual corresponde à esperança matemática dos preços racio-
nais ex post, dada toda informação disponível para os investidores” (Le Roy e
Steigerwald, 1995: 411-2). Ou seja,
Pt
= E (Pt
* / Iti
)
sendo
Pt
* = ⌺␣
i=t
(i + r
)
2
É verdade que Fama e French (1988) procuram enfraquecer tal conclusão, porém reconheceram que este
é um problema que aparece nas séries de tempo de eficiência de mercado, sem solução clara, isto é, não se
podem distinguir (ex ante) bolhas irracionais de retornos esperados variando no tempo (idem: 1581).
1 dt+i
34
sendo Pt
* a previsão perfeita do valor descontado dos dividendos futuros [d], sen-
do dada uma taxa de desconto r, e os preços correntes das ações Pt
.
De acordo com a visão convencional Pt
* tem uma variância que corresponde a
uma variância dos dividendos. Esta variância no entanto deveria ser maior que a variân-
cia de Pt
, pois esta é uma previsão que é feita a partir de Pt
*, ou seja, em princípio
V (Pt
) ഛ V (Pt
*)
De acordo com a teoria, a variância do valor esperado condicional de uma va-
riável aleatória VPt
é menor que a variância da variável aleatória VPt
*. Ora, Le Roy
e Porter e Shiller estabeleceram em seus testes empíricos que tal condição era violada.
Os preços das ações são muito voláteis para serem explicados por mudanças nos di-
videndos, argumentando que seu testes teriam um poder maior que os testes de re-
torno. (Para uma discussão detalhada deste argumento, ver Sheffrin, 1986: 143-6.)
As constatações dessa volatilidade excessiva, quando comparada com a varia-
ção dos dividendos, deram lugar a várias interpretações, sendo a dominante a de
Shiller (1981), de que preços das ações são grandemente influenciados pela moda
e/ou ondas de otimismo e pessimismo, tal como descrito pela psicologia convencional
dos mercados (p. 297).
Estas hipóteses levaram ao desenvolvimento de explicações baseadas em tipos
específicos de comportamento dos agentes que povoam os mercados financeiros e
que fogem radicalmente da HME. De maneira mais precisa, os agentes tendem a
superestimar novas informações antes que ponderá-las em um contexto temporal.
Nesta linha, De Bondt e Thaler (1985) utilizaram tal hipótese para prever os
preços das ações: um portfólio composto de um grande número de “ações perde-
doras”, isto é, batidas pelo mercado, teve um comportamento melhor que a média
das ações nos três anos seguintes. Ou seja, as perdas iniciais foram o resultado de
reações exageradas (overreactions), que se corrigiram, porém somente após a pas-
sagem de um razoável período de tempo. Para explicar tal comportamento fez-se a
hipótese da existência dos chamados “noisy traders”, ou seja, agentes quase-racio-
nais. De Long, Shleiffer, Summers e Waldman mostraram que, em algumas circuns-
tâncias, os “noisy traders” podem ganhar mais que os agentes racionais; “uma vez
que assumem não intencionalmente mais riscos, os “noisy traders” têm uma me-
nor utilidade esperada, mas uma maior riqueza” (De Bondt e Thaler, 1995: 387).
A existência de tais agentes explica também o processo chamado de “reversão
da média”: quando no curto prazo os preços alcançam valores muito maiores do
que seria de se esperar racionalmente, a bolha se desfaz e os preços retornam para
um valor fundamental. Fama e French (1988) identificaram este fenômeno num
período de três anos para cada cinco. Analisando o comportamento das ações em
um período de 60 anos (1926 a 1985) constataram que a reversão da média expli-
ca cerca de 35% do comportamento dos preços das ações. Embora a tendência para
que isto aconteça seja maior para as ações de firmas menores, aconteceu também
com ações mais importantes, em 17 grupos industriais.
Essas constatações reduziram bastante o ardor dos defensores da HME. Isto
se pode verificar pela mudança da posição de Eugene Fama — que em 1970 consi-
35
derava os mercados eficientes como realidades — para sua observação recente, ao
considerar a HME apenas como “uma hipótese útil que permite superar os com-
plexos problemas de decidir o que é razoável considerar-se como informações e custos
de transação (...) cada leitor tem condições de julgar os cenários onde a eficiência
de mercado é uma boa aproximação (...) (isto é, aqueles em que os desvios da ver-
são extrema da hipótese da eficiência podem ser incluídos nas informações e custos
de transação) daqueles (cenários) onde outro modelo constitui-se em uma melhor
visão do mundo” (idem: 1.575).
UMA ANÁLISE ALTERNATIVA DOS MERCADOS FINANCEIROS
Uma das razões mais convincentes para a rejeição da HME são as freqüentes
inovações no sistema financeiro. Quando uma inovação aparece é necessário um
tempo razoável para identificar seu efeito nos preços dos ativos. Durante este período
de transição, na medida em que mais agentes adotam a inovação, agentes que es-
tão mais familiarizados com ela terão vantagem sobre os retardatários, obtendo
lucros pela arbitragem entres os produtos novos e os antigos. Segundo as pesquisas
de Fama e French (1988), até o período de um ano há uma autocorrelação positiva
entre os lucros, ao passo que para períodos mais longos a autocorrelação torna-se
negativa.
A interpretação dinâmica dessa constatação seria que os rendimentos iniciais
elevados atraem novos adotantes para o processo de inovação, até que a competi-
ção faça desaparecer a vantagem informacional dos primeiros investidores. Tais
condições incitam o lançamento de outras inovações tendo em vista a obtenção de
novas vantagens informacionais, ou seja:
“Em períodos nem muito curtos nem muito longos, este processo en-
volve o fato de que um rendimento mais elevado que os rendimentos mé-
dios... terá uma probabilidade importante de ser seguido por um rendimento
em baixa, pela dominação das forças concorrenciais. Em contrapartida, a
pressão concorrencial aumenta a probabilidade de inovações que criam novos
mercados, nos quais os rendimentos mais elevados podem ser, de novo, rea-
lizados. Suscitando aprendizagem, as inovações dão uma memória aos mer-
cados, o que viola o postulado da eficiência” (Aglietta, 1995: 27).
Mesmo mercados que não exibam rendimentos correlacionados podem exibir
volatilidades variáveis, de modo a criar essa memória; assim o conhecimento de uma
volatilidade forte ou fraca no passado recente pode levar à antecipação de resulta-
dos diferentes a partir de um certo nível de volatilidade atual. A autocorrelação dessa
volatilidade pode, portanto, informar a respeito das oscilações globais do merca-
do. Se a volatilidade é grande, o mercado tende a oscilar de maneira mais freqüen-
te que no caso em que as variações de preços sejam independentes no tempo. Dian-
te disto, se coloca a necessidade de analisar as condições reais que estão por trás
desses fenômenos, como se fará a seguir.
36
A primeira grande simplificação da HME é de que os operadores são homogê-
neos, isto é, todos se baseiam em princípios comuns de racionalidade. Este pressu-
posto, no entanto, está bastante longe de ser realista, pois como observam Summers
e Shleiffer (1990):
“Nossa abordagem se baseia em duas hipóteses. Em primeiro lugar,
certos investidores não são totalmente racionais e sua demanda por ativos
de risco é afetada por suas crenças ou sentimentos que não são inteiramente
justificados por informações a respeito dos fundamentos. Em segundo lugar,
a arbitragem definida como as decisões tomadas por investidores inteira-
mente racionais, não sujeitos a tais sentimentos, envolve risco e é, portan-
to, limitada. As duas hipóteses, em conjunto, implicam que mudanças nos
sentimentos do investidor não são integralmente contrabalançadas pelos
arbitradores e assim afetam os retornos dos títulos” (pp. 19-20).
A idéia da arbitragem é a de que há certos investidores, os arbitradores, que se
movimentam rapidamente, toda vez que os títulos estejam sobre ou subvalorizados,
de tal maneira a fazer com que os seus valores voltem a seus níveis “racionais”,
vendendo ou comprando esses títulos. Tais movimentos são efetivos se o agente está
trabalhando com dois ativos similares e, portanto, substitutos. Por exemplo, se o
ouro estiver sendo vendido a US$ 350 a onça em Nova York e a US$ 355 em Lon-
dres, o especulador imediatamente compraria ouro em Nova York e venderia em
Londres. Tal arbitragem, no entanto, não seria possível, sem risco, se para um arbi-
trador todo o estoque de ações americanas está sobrevalorizado. Neste caso o que
ele deve comprar e vender, para trazer os preços ao seu nível “normal”? E sobre o
perigo de que as ações sobrevalorizadas possam se valorizar ainda mais antes de
voltarem para o seu valor racional? Como se pode determinar qual o seu preço
racional? E se os lucros estão para decolar, de tal maneira que o aparente valor ir-
racional não é tão absurdo? E o que dizer se o “short seller”3
tem de garantir os
dividendos para as ações vendidas “short”?
Assim, mesmo que o mercado esteja composto por arbitradores, há situações
em que sua ação é limitada, como exemplificado acima. Porém, o mercado não está
composto apenas por “espíritos racionais”, mas está povoado por espíritos “não
tão racionais”, na concepção convencional, que são movidos por pseudos-informa-
ções (noise) e constituem os chamados “noisy traders”. Ora, se estes operadores
tomassem suas decisões baseadas nos seus próprios planos ou sentimentos, suas
decisões seriam independentes e poderiam cancelar-se; mas em vez disso “o viés dos
julgamentos que aflige os investidores ao processar as informações tende a ser o
mesmo. Sujeitos de experimentações psicológicas tendem a cometer os mesmos er-
ros, eles não cometem erros aleatórios; muitos destes erros persistentes são relevantes
para os mercados financeiros. Por exemplo, sujeitos de experimentos tendem a ser
superconfiantes, o que os faz assumirem maiores riscos. Os sujeitos de experimen-
3
“Short seller” é alguém que vende um título que não possui para entregar futuramente.
37
tos tendem a extrapolar séries temporais, o que os leva a perseguirem tendências
passadas. Finalmente, ao realizarem inferências experimentais, tendem a desprezar
evidências presentes e dar muito peso às novas informações” (Summers e Shleiffer:
23-4).
A evidência trazida por tais experimentos tem sido comprovada por questioná-
rios e outras enquetes no mercado financeiro. Shiller (1990) mostrou que a extra-
polação é uma característica dos chamados “modelos populares”. Ele constatou que
os compradores de residências, bem como os investidores no crash de 1987, extrapo-
laram tendências de preços passados. A observação dos mercados tem apresentado
suficientes evidências de que rumores (noises) determinam boa parte das decisões.
Estas também tendem a acompanhar “gurus” como Joe Granville e previsões forne-
cidas pela Wall Street Week. Geralmente, os “gurus”, que atraem grande número de
seguidores, nunca admitem que obtêm “inside informations” mas, sim, que seguem
modelos confiáveis de previsão. A chamada “análise técnica”, que se enquadra nes-
te último tópico, tipicamente recomenda comprar mais ações quando o preço destas
está se elevando (atravessam um teto) e vendê-las quando estão abaixo de um piso.
Summers e Shleiffer (1990) observam que os economistas convencionais tendem
a desprezar o efeito desses comportamentos, pois admitem que os “noisy traders”
tendem a perder dinheiro em favor dos “arbitradores”, fazendo com isso que se re-
duza o seu efeito na demanda. Aqueles autores argumentam que isto não é evidente.
Primeiro porque na média os “noisy traders” são mais agressivos que os arbitra-
dores, ou porque são superotimistas ou superconfiantes e assim assumem maiores
riscos. “Se o risco é remunerado no mercado, os ‘noisy traders’ podem obter retor-
nos esperados mais elevados, a despeito de terem comprado na alta e vendido na
baixa na média. A remuneração do risco no mercado não precisa ser mesmo fun-
damental; pode ser o preço do risco de revenda decorrente da imprevisibilidade das
opiniões futuras dos ‘noisy traders’” (Summers e Shleiffer: 24-5).
A conseqüência disto é que os efeitos de mudanças da demanda nos preços são
maiores do que seriam se a maioria dos investidores seguisse os livros-texto de fi-
nanças e mantivessem passivamente o “portfólio de mercado”, ou quando a capa-
cidade de assumir riscos dos arbitradores fosse reduzida.
A importância dos investidores que tendem a extrapolar ou “caçar a tendên-
cia” também dever ser ressaltada. Alguns especuladores acreditam que se acompa-
nharem a onda (band-wagon) serão capazes de bater os “noisy traders”. Esta foi e
tem sido a estratégia de George Soros. Assim, “as transações entre os investidores
racionais dão lugar a padrões de preços do tipo bolha. A estratégia de ‘feed back’ é
reforçada pela adesão à onda dos investidores racionais, o que leva a uma autocor-
relação positiva dos retornos a curto prazo” (idem: 29).
Finalmente, deve-se acrescentar um terceiro grupo de operadores, que são os
“seguradores de portfólio”. São investidores institucionais que administram grandes
fundos de poupança contratual, diversificando riscos pela aquisição de contratos
de índices representativos do conjunto dos mercados. Procuram assegurar-se de que
o valor de seu portfólio não caia abaixo de um mínimo predeterminado. Podem
comprar opções de vendas sobre o portfólio (put options) para cobrir os contratos
38
sobre índices, até o seu vencimento. Podem assim construir opções sintéticas combi-
nando contratos sobre índices e títulos de dívida sem risco.
A análise acima chama atenção para a multiplicidade de comportamentos pos-
síveis em situações em que há condições de incerteza não passíveis de serem subme-
tidas a uma análise atuarial. Outra limitação da HME é não considerar surgimen-
to de crenças que se auto-realizam, não necessariamente por estarem mais próxi-
mas dos fatos, mas, muitas vezes, porque se apresentam com maior antecedência,
contagiam grande número de agentes, como sugerido pelo modelo de “path depen-
dence”, ou mesmo por ser uma estratégia dominante na visão de Schelling. A partir
destas constatações se tentará a seguir construir a lógica das condições que podem
levar à instabilidade financeira, cujo caso extremo seria um “crash” de mercado.
Consideremos inicialmente o comportamento dos “noisy traders” e dos “se-
guradores de portfólio”, diante de certas tendências de preço. Tais agentes têm uma
função de demanda de títulos que é crescente em relação aos preços. Os primeiros
procuram identificar regimes dinâmicos a partir das tendências dos mercados. Quan-
do identificam uma tendência altista ou baixista, acreditam que essa tendência per-
sistirá e que geralmente, no momento em que as identificam, elas estão longe de
reverter. Assim, é natural que comprem na alta e vendam quando identificam uma
reversão. Para os segundos, sua posição em relação aos títulos, especificamente às
ações, depende do ∆ da opção, que é a sensibilidade da variação do preço da op-
ção, em relação ao preço da ação correspondente. Ora, o ∆ varia de uma maneira
contínua e não linear com o preço da ação, de tal modo que a posição deve ser ajus-
tada continuamente ao longo do tempo. Quando o preço das ações se eleva, o ∆
diminui, de tal maneira que se torna necessário reduzir as posições “curtas”4
, de-
mandando-se imediatamente mais ações. Quando os preços das ações baixam, o ∆
aumenta, de tal forma que é necessário aumentar as posições “curtas”. Fica claro,
assim, por que a demanda líquida dos seguradores de “portfólio” é uma função
crescente e não linear dos preços das ações; quando o preço destas se eleva, por
qualquer razão, essa tendência é ampliada pela demanda adicional dos “segurado-
res de portfólio”; quando o preço destas cai, a tendência de queda é ampliada pe-
las ofertas adicionais destes (cf. pp. 29 e 30).
Os “arbitradores” de outro lado seguem a racionalidade estrita em suas deci-
sões, isto é, compram na baixa e vendem na alta, acreditando que existe um preço
de atração ou um preço médio em torno do qual ocorre uma oscilação para cima e
para baixo. Assim, se tais operadores fossem os únicos no mercado, e se houvesse
realmente um preço normal, haveria sempre equilíbrio de mercado. Acontece, no
entanto, que uma função de excesso de demanda líquida de mercado, ao se agregar
os diferentes comportamentos em diferentes proporções, não será monótona em
relação aos preços nem estável no tempo, pois combina componentes crescentes e
decrescentes, lineares e não lineares em relação ao preço.
4
Alguém que tem uma posição curta ou “short” de ações, por exemplo, é alguém que se dispõe a entre-
gar a um certo preço uma ação, por exemplo, não possuída por ele, na esperança de que na data da
entrega o preço dessa ação tenha caído em relação ao presente.
39
Gráfico I
Equilíbrios múltiplos nos mercados de ações
Consideremos no gráfico 1, acima, o modelo do mercado de ações desenvolvi-
do por Genotte e Lelland (1990) e utilizado por Agglietta (1995), em que se baseia
a análise seguinte. No gráfico acima há três equilíbrios, A e C estáveis e B instável.
A instabilidade de B está ligada à volatilidade excessiva dos preços em relação ao
preço que seria natural no mercado, e que é explicada pelos movimentos deses-
tabilizadores tanto dos “noisy traders” como dos “seguradores de portfólio”, que
tendem a reforçar, como acima discutido, o movimento dos preços em um sentido
ou outro. Sendo os mercados financeiros sempre mercados de liquidez, as deman-
das imprevistas de liquidez afetam as ofertas de ativos, além dos imprevistos que
afetam as variáveis determinantes dos valores fundamentais das ações. Estas con-
dições podem levar a um crash e a um regime dinâmico posterior. Tal situação pode
ocorrer em função de um deslocamento de curva de excesso de demanda, que faz
desaparecer o regime centrado em um equilíbrio inicial (A), estabelecendo a passa-
gem do ponto A para o ponto C’ (crash). O retorno da curva de excesso de deman-
da para a situação anterior não recupera o equilíbrio inicial. O preço evoluirá de
C’ para C, o qual é um equilíbrio estável.
Observa-se, aí, um processo endógeno que envolve instabilidade, que não pode
ser explicada por fatores aleatórios exógenos. Tal processo é a imitação ou contá-
gio. A possibilidade de imitar significa que o tamanho relativo dos grupos de agen-
tes heterogêneos não é algo imutável. Certos operadores, que têm normalmente um
tipo de comportamento, podem adotar o comportamento de outro grupo de ope-
radores. Eles podem adotar estratégias mistas; um “arbitrador” pode achar conve-
niente ter em um certo momento o comportamento de um “noisy trader”, por exem-
plo. Tais revisões de crenças são todavia racionais. Cada operador pode se preo-
cupar em incorporar em suas decisões o julgamento dos outros para melhorar a ade-
quação de suas antecipações.
No caso acima mencionado, um especulador racional adotando o comporta-
mento dos “noisy trader” pode levar a uma descontinuidade no mercado ao refor-
Preço das ações
(equilíbrio inicial)
(equilíbrio final)
A
B
C
C’
crash
40
çar os efeitos das decisões destes. Foi o que ocorreu com o “crash” do mercado de
ações americano em outubro de 1987. Por razões que não serão consideradas ago-
ra, houve uma onda de ordens de vendas de tal maneira que caíram os preços das
ações. Em tal circunstância, como se observou anteriormente, os “seguradores de
portfólio” passaram a oferecer mais ações, procurando aumentar suas “posições
curtas” (na expectativa que os preços caíssem ainda mais). Ora, este processo con-
firma o pessimismo daqueles que iniciaram o movimento de vendas das ações (boa
parte deles “noisy traders”). De outro lado, os especuladores profissionais (arbitra-
dores) ficam limitados em sua ação de compras das ações em baixa, devido à forte
restrição de liquidez amplificada pelas vendas dos “seguradores de portfólio”. A
partir desse momento a baixa especulativa torna-se auto-realizadora, só podendo
ser controlada por algo fora do mercado, por exemplo, um processo de salvamen-
to mediante grande injeção de liquidez no mercado promovido pelo banco central.
INSTABILIDADE FINANCEIRA E OS DEMAIS MERCADOS DE ATIVOS
De acordo com a análise acima, pode-se verificar que a instabilidade financeira
não é algo esporádico, mas faz parte da própria lógica dos sistemas financeiros. Ainda,
no tópico anterior, considerou-se, principalmente, a instabilidade enquanto locali-
zada em bolsa, porém ela é mais geral, estendendo-se para os mercados de terrenos
urbanos e imobiliários, onde é amplificada por fatores como a diminuição rápida de
liquidez dos mercados secundários, imprevisibilidades das políticas governamentais
etc. Além disso, o comportamento de tais mercados interfere grandemente na atividade
produtiva da economia, tornando-se necessário considerar essas implicações.
A hipótese convencional é de que a otimização dos rendimentos financeiros
articula-se de maneira harmoniosa com a atividade produtiva, em um modelo geral
de mercados completos. Ocorre, no entanto, que os diferentes tipos de eficiência dos
mercados financeiros — eficiência informacional, eficiência na avaliação dos valo-
res fundamentais, eficiência na diversificação do risco e eficiência alocativa — não
se compatibilizam necessariamente. Quando uma inovação financeira aumenta a efi-
cácia informacional, não se pode inferir que a alocação do capital tenha melhorado.
Isto é, quando novos mercados são criados, não se pode deduzir que os mercados
tenham ficado mais completos (p.ex. a criação de um mercado futuro para um pro-
duto financeiro), pois os novos mercados podem criar novos riscos e desenvolver novas
conexões entre os riscos já existentes, dando-lhes um caráter sistêmico.
De acordo com a visão convencional, para os mercados acionários guiarem de
maneira adequada as decisões de investimento, seria necessário permitir aos acio-
nistas exercer seu controle sobre as decisões dos executivos das empresas, o que iria
requerer que aqueles obtivessem informações sobre o valor das empresas, isto é, o
valor dos fundamentais, e sobre a capacidade de a empresa produzir lucros no futuro.
A existência do mercado acionário, no entanto, dá aos acionistas a possibilidade
de negociar a todo momento seus títulos nos mercados secundários, o que desliga
os acionistas da análise dos fundamentais das empresas. Na realidade, os acionistas
não têm nem a motivação nem os meios de realizar avaliações próprias da rentabi-
41
lidade interna dos investimentos escolhidos pelos dirigentes. Eles se remetem intei-
ramente às bolsas. Desta forma, se submetem às opiniões coletivas da comunidade
financeira que influenciam o total dos preços das ações, mesmo quando as varia-
ções destas nada têm a ver com a empresa em questão e não têm, portanto, condi-
ções de estabelecer informações adequadas e eficazes para as tomadas de decisão.
Aliás, esta constatação já havia sido expressa por Keynes (1936) ao observar que
“as bolsas de valores reavaliam todos os dias seus investimentos e estas reavaliações
proporcionam oportunidades freqüentes a cada indivíduo, embora isto não ocorra
para a comunidade como um todo, de rever suas aplicações. É como se um agricul-
tor, tendo examinado seu barômetro após o café da manhã, pudesse retirar seu ca-
pital da atividade agrícola entre dez e onze da manhã para reconsiderar se deveria
investi-lo mais tarde... Assim, certas categorias de investimento são reguladas pelas
expectativas médias dos que negociam nas bolsas, tal como se manifestam nos pre-
ços das ações, em vez das expectativas genuínas do empresário profissional” (p. 126).
De outro lado, a liberalização financeira recente afetou de maneira clara a for-
ma de financiamento externo adequado das empresas, ao permitir o surgimento de
inovações como títulos de crédito negociáveis, títulos de alto risco (como os junk-
bonds) e títulos híbridos compostos de créditos e fundos próprios (ações preferen-
ciais e obrigações conversíveis), ou ainda títulos garantidos sobre ativos patrimoniais
(asset-based financing). Criou novas possibilidades de financiamento externo, si-
multaneamente com uma redução do custo da intermediação financeira. Estes fa-
tos, juntamente com o aumento da importância da poupança institucional, contri-
buíram, ainda mais, para que formas de decisões desligadas dos fundamentos pre-
valecessem nos mercados contemporâneos.
CONCLUSÃO
As tendências discutidas ao longo deste artigo mostram a precariedade da hi-
pótese mencionada inicialmente sobre as funções dos mercados financeiros como
um mecanismo adequado de orientação para o processo de alocação do investimento
produtivo. Keynes já havia observado “que os investimentos baseados nas previ-
sões autênticas de longo prazo são hoje tão difíceis que mal podem ser postos em
prática. Os que tentarem fazê-lo poderão estar certos de passar dias de trabalho muito
intenso e correr riscos muito maiores que os que tentam adivinhar as reações do
público melhor que o próprio público, e, dada igual inteligência, podem cometer
erros muito mais desastrosos” (1936: 130).
Se o investidor que insiste em decidir considerando os “valores fundamentais”
dos títulos, mesmo que isto contrarie as tendências presentes do mercado, “obtiver
êxito isto apenas confirmará a crença geral na sua temeridade; se, no final das con-
tas, sofre reveses momentâneos, poucos serão os que dele se compadecerão. A sabe-
doria universal indica ser melhor para a reputação fracassar junto com o mercado
do que vencer contra ele” (idem: 30).
Nestas condições as inovações financeiras se desenvolverão sempre para aten-
der cada vez mais a demanda por liquidez e menor risco, originadas cada vez mais
42
dos gestores de fundos públicos, dando lugar a uma dinâmica de preços que afasta
cada vez mais os preços de mercado de seus fundamentos, gerando uma volatilidade
de preços que tem pouco a ver com as oscilações próprias de um mercado hipoteti-
camente racional. A partir destas considerações, não é de se espantar que se cons-
tituam “novas formas de racionalidade” cada vez mais distantes da concepção clás-
sica ou convencional de racionalidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁGICAS
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Auge e declínio da hipótese dos mercados eficientes

  • 1. 28 Revista de Economia Política, vol. 23, nº 4 (92), outubro-dezembro/2003 Auge e Declínio da Hipótese dos Mercados Eficientes LUIZ ANTÔNIO DE OLIVEIRA LIMA* “Height and Decay of the Hypotheses of Efficient Markets”. Eugene Fama defines a market as efficient if it fully reflects the existing information about the fundamen- tal values of a financial asset. According to this hypothesis this kind of market makes available to the agents the optimal options for investing their money, leading in conse- quence to an efficient allocation of capital. The aim of this article is to show that this condition in fact does not exist in economic reality and as consequence to discuss how the alternative forms of asset markets guide the process of investment. The alterna- tive forms of allocation imply that economic agents do not follow the ideal model of “full rationality”, but that they follow one “weak form” consistent with decisions that must be taken in condition of uncertainty. This analysis will allow us to construct more realistic models of financial markets considering not only their conditions of normality as well as the circumstances that explain their instability and crises. INTRODUÇÃO O capitalismo, como um sistema econômico de decisões descentralizadas, ca- racteriza-se por uma grande opacidade em relação à sua dinâmica futura, devendo em função disto procurar alternativas capazes de reduzir o efeito de tal caracterís- tica. Esta necessidade se mostra urgente, principalmente nos momentos em que são tomadas as decisões de investimento, de modo a não se desperdiçar o capital inves- tido em projetos improdutivos ou não inteiramente adequados aos desejos dos con- sumidores. Segundo a chamada hipótese dos mercados eficientes, de agora em diante HME, tal missão seria realizada pelo mercado acionário,1 o que lhe conferiria sua * Este artigo é parte de pesquisa financiada pelo NPP — Núcleo de Pesquisas e Publicações da FGV- EAESP. O autor é professor do Departamento de Economia da mesma instituição. E-mail: lalima@fgvsp.br. 1 A hipótese dos mercados eficientes, embora de uso mais freqüente no mercado acionário, pode ser uti- lizada também para a análise dos preços de outros ativos financeiros (Cf. Henwood 1997: 185).
  • 2. 29 utilidade social. Seriam tais mercados considerados “como o ator coletivo que cen- traliza as informações, as interpreta e produz uma estimativa pertinente dos valo- res fundamentais. A teoria da eficiência vai mesmo mais longe ao dizer que, atra- vés de tais mercados, são engendradas as melhores estimativas possíveis, dada a in- formação disponível, em um mundo mercantil dominado pela incerteza; estas ati- vidades de informação, previsão e cálculo tornariam essenciais esses mercados” (Orlean, 1999: 21-2). Tais estimativas seriam possíveis na medida em que os investidores consideras- sem para suas decisões acionárias um conjunto de parâmetros envolvendo a organi- zação produtiva, a gestão, a situação da concorrência, a evolução das técnicas e a conjuntura macroeconômica, considerados os fundamentos dos quais dependeovalor básico das ações. Ou seja, supõe-se que as antecipações dos agentes estão voltadas fundamentalmente para a “economia real”. Assim, se o preço de um título é supe- rior ao valor básico calculado pelo investidor, seu preço deve cair e vice-versa. Tal estratégia, identificada como “fundamentalista”, se apóia sobre a visão walrasiana convencional, identificada pela lei da oferta e procura: “Ela nos faz ver os investidores agindo de forma isolada, calculando da melhor forma possível, a partir de suas informações, os valores funda- mentais e determinando a estrutura de seus portfólios em função dos pre- ços atuais de mercado. Para estes agentes, o que conta são os dados fun- damentais e não o comportamento dos demais agentes. Suas antecipações são determinadas por uma realidade exterior ao mercado, ou seja, a ren- tabilidade real de seus investimentos” (idem: 24). Tendo em vista tais considerações, pretende-se discutir neste trabalho: a evo- lução da HME; as contestações a tal hipótese; uma alternativa para a análise dos mercados financeiros, especialmente o mercado acionário; como certas caracterís- ticas de tais mercados podem estender-se para os demais mercados de ativos e suas implicações; e finalmente, se chamará a atenção para que, dadas as características intrínsecas dos mercados financeiros, eles dificilmente poderão constituir-se em um guia eficiente no processo de alocação do capital produtivo. A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE MERCADOS EFICIENTES Eugene Fama (1970) distinguiu três tipos de eficiência: a fraca, a semiforte e a forte. A fraca estabelece que a tendência dos preços passados não permite a anteci- pação dos preços futuros. A semiforte estabelece que os preços dos títulos se ajus- tam quase imediatamente às informações significativas (lucros das empresas, dis- tribuição de dividendos etc.). E a forma forte assinala que não existe algo, como um grupo especial de investidores, que goze de acesso privilegiado às informações que não se reflitam imediatamente nos preços de mercado. Conseqüência destas hipóteses é que o preço de mercado de uma ação ou de um outro título deve corresponder ao seu “preço correto” ou teórico, de tal manei-
  • 3. 30 ra que a HME estabelece que o que determina tais preços é o seu risco. Assim, no modelo CAPM desenvolvido por Sharpe, Lintner e Black, também conhecido por SLB, o risco é definido pela volatilidade dos retornos esperados de um ativo, ou seja, sua variância em torno de uma norma. Esta volatilidade é determinada pela com- paração com algum padrão, normalmente um investimento usualmente “sem ris- co” como um título do tesouro. O risco não deve ser considerado, como de hábito, uma possibilidade de perda, mas como a probabilidade de um desvio de um certo retorno esperado, ou seja, o risco característico de um título é identificado na lite- ratura pelo seu ␤. De acordo com o modelo CAPM, uma forma de se reduzir o risco incorrido pelo investidor seria a diversificação de seu portfólio, de tal maneira a reduzir o risco de perda decorrente de modificações no preço de uma ação específica. Tal diversi- ficação, no entanto, não permite a eliminação do risco de uma ação que decorre de oscilações do mercado acionário como um todo. A este tipo de risco não assegurável é que se identifica ␤. Uma ação com ␤ = 1,0 tende a se mover em linha geral com o mercado; porém uma ação com ␤ = 1,5 tende a se mover 1,5% para cima ou para baixo para cada variação de 1,0% no mercado. Uma ação com ␤ = 0 não terá ris- co. Disto decorre que a taxa de retorno de um investimento deveria ser composto da remuneração de uma aplicação sem risco, mais o seu ␤. Quanto maior o ␤ maior o retorno requerido. Na sua formulação mais moderna, os teóricos dos mercados eficientes afirmam que a tendência dos preços é identificada com um “random walk”, significando que tais preços não podem ser previstos desde que sua variação média, isto é, sua osci- lação em termos de um valor fundamental, não sugere um padrão diferente de va- riações puramente aleatórias. Assim, se isto for verdade, isto é, “se a informação já está capitalizada no preço de uma ação, conhecê-la não fará de você um melhor investidor. Atirar dardos nas páginas financeiras do New York Times é uma estra- tégia de investimentos tão boa, como tentar acumular todas as informações dispo- níveis sobre qualquer ação, mesmo porque aquela não custa nada, enquanto a co- leta de informações envolve um preço” (Thurow, 1984: 151). Assim, dentro de cada classe de risco, existe uma loteria com uma distribuição aleatória não normal “na qual os indivíduos apostam em investimentos individuais com iguais valores esperados (com chance igual de ganhar), mas que apresentarão diferentes retornos ex post. Como em qualquer loteria, existe um valor médio es- perado para qualquer dólar investido, mas também, como em qualquer loteria, alguém vencerá e alguém perderá. Além disso, os grandes vencedores não terão como contrapartida grandes perdedores” (idem: 151). Apesar de Fama ter mostrado que as condições de funcionamento dos merca- dos financeiros, acima descritos, envolvem condições muitos restritivas — a) não haver custo de transações no mercado de título; b) as informações devem ser disseminadas igualmente entre todos os participantes; c) todos os participantes desenvolvem in- terpretações similares de tais informações — nos anos 60, 70 e 80 praticamente não houve contestações empíricas ao funcionamento desses mercados e mesmo algumas anomalias já identificadas nos anos 60 não foram consideradas suficientes para fal-
  • 4. 31 sificar a hipótese dos mercados eficientes. Assim, a presença de correlação serial no preço das ações, em períodos de tempo muito curtos, por exemplo, de um dia para outro, foi considerada muito restrita para se transformar em lucros; profissionais que negociam com pequenas comissões não poderiam extrair vantagens dessas peque- nas tendências, “além disso, se mostrou que grandes variações de preços são prova- velmente seguidas por outras grandes variações, embora não houvesse padrão ca- paz de prever o sinal da variação; uma grande variação para uma ação em um dia seria provavelmente seguida por uma grande mudança no dia seguinte, mas esta mudança poderia ser positiva ou negativa. É desnecessário dizer-se que tal descober- ta não seria muito útil para os especuladores” (Henwood, 1997: 165). De outro lado, durante os anos 60, procurou-se observar o efeito de anúncios de mudanças de dividendos no lançamento de novas ações para testar a hipótese semiforte dos mercados efetivos. Verificou-se que esta hipótese não poderia ser tes- tada devido ao fato de as compras e vendas de ações acontecerem antes de as infor- mações tornarem-se públicas, o que significava que uma boa parte dos operadores era presciente ou grandemente bem informada. Nos anos 70, a hipótese forte não passou por outros testes: alguns estudos mostraram que “insiders”, executivos de nível superior e membros de conselhos de corporações tinham condições de vender e comprar no tempo hábil para obtenção de lucros elevados. Apesar dessas constatações a HME não foi abandonada, com base no argu- mento de que os agentes, por serem uma pequena classe de investidores, não teriam condições de bater o mercado, apesar de obterem lucros pontuais. Nos anos 90, a HME tornou-se mais flexível para se adaptar a novos testes críticos. A idéia passa a ser a de se justificar tal hipótese, desde que as informações contidas nos preços reflitam um certo consenso dos operadores, independente de o preço que dele resulte corresponder ou não a uma informação realista. Por exem- plo, os investidores superavaliaram as empresas americanas no fim da década de 70. Houve um consenso, mas o consenso estava errado; isto, porém, não invalida- ria a hipótese, segundo seus defensores, pois na medida em que tal informação fos- se do conhecimento de todos os operadores, as oscilações de preço se dariam em torno de um preço médio estabelecendo-se uma “convenção de normalidade” tal como definida por Keynes (1936). ALGUMAS CONTESTAÇÕES À HME Vinte anos após a publicação de seu artigo de 1970, Eugene Fama (1991) apre- sentou uma nova avaliação da HME, definindo-a “pela simples afirmação de que ela implica em uma situação em que os preços dos títulos revelam inteiramente to- das as informações disponíveis” (p. 1.575) Analisando as principais pesquisas empíricas desenvolvidas neste período, Fama reconhece que “os novos trabalhos concluem que os retornos podem ser previstos a partir de retornos passados dos dividendos e de variáveis monetárias, com dife- rentes estruturas temporais. Os novos testes rejeitam a antiga visão dos retornos
  • 5. 32 constantes, implícita na visão dos mercados eficientes, que pareciam funcionar adequadamente, nos trabalhos iniciais” (idem: 1.577) No artigo de 1991, Fama deixa de lado a antiga visão de formas fracas, semifortes e fortes da HME, para se basear apenas no problema da previsibilidade dos retor- nos; assim, ao invés de considerar como variáveis preditivas somente os retornos passados, passa a incluir nos testes de previsibilidade variáveis como rentabilidade dos dividendos e taxas de juro. Desde que eficiência e preços de equilíbrio são inse- paráveis, tais trabalhos incluem também testes de preços de ativos e de anomalias. Nas páginas seguintes serão considerados alguns desses trabalhos, incluindo basicamente os analisados por Fama, bem como os baseados em hipóteses alterna- tivas de racionalidade como os de De Bondt e Thaler e os testes de volatilidade, como os de Shiller e Le Roy e Porter. Assim, Fama (1991) observa que Lo e Mckinlay (1988), trabalhando com in- formações do Nyse e Amex, puderam estabelecer de maneira precisa a existência de autocorrelação nos retornos diários e semanais. Estabeleceram “que o retorno em portfólio das ações do Nyse, agrupadas de acordo com o tamanho (preços das ações vezes o seu número), mostram confiável autocorrelação positiva” (Fama, 1991: 1.578). Além disso, grande número de estudos realizados nos anos 70 e 80 concluiu que ações com baixas relações preço/lucro (cheap stoks) tiveram uma melhor performance que ações que eram consideradas “caras”. Pesquisa desenvolvida por Fama e French (1989) mostrou que é vantajoso adquirir uma ação quando as taxas de juro de longo prazo estão bem acima das de curto prazo, e quando o “gap” entre a taxa de juro e o retor- no sobre as ações é grande. Daí observarem que “a persistência de condições difíceis na economia pode assinalar queda na riqueza e maior risco no retorno dos títulos; ambos os fatores podendo, no entanto, assinalar aumento nos retornos esperados. Além disso, se se antecipa que os maus tempos são apenas temporários, os retornos esperados podem ser elevados porque os consumidores procuram antecipar o con- sumo do futuro para o presente” (Fama, 1991: 1.585). Em 1992, em novo artigo, Fama e French submeteram o modelo ␤ de avalia- ção a uma crítica rigorosa ao mostrar que o tamanho da firma e a razão entre o valor de mercado e o valor contábil da empresa preveriam melhor o retorno de uma ação que ␤. Neste contexto apresentou-se uma alternativa analítica ao modelo ␤ (Chen, Roll e Ross, 1986). De acordo com ela, melhores previsores do retorno fu- turo são a taxa de crescimento da produção industrial (com retornos futuros eleva- dos quando a produção industrial fosse elevada e vice-versa), e a diferença entre a taxa de juro em títulos das empresas de avaliação baixa e a taxa de títulos gover- namentais de longo prazo (com retornos futuros elevados quando o spread é gran- de). Tais hipóteses justificam previsibilidade dos retornos futuros das ações, enfra- quecendo assim a HME. A literatura inicial apresentada por Fama (1970) não considerou autocorrelações diárias e semanais no retorno das ações como sendo importantes evidências contra a HME, apontando que mesmo quando as correlações entre retornos se desviam cla- ramente de zero, estão próximas a zero e portanto são insignificantes. Tal conclu- são, no entanto, foi criticada por Shiller (1984) e Summers (1986). Eles considera-
  • 6. 33 ram modelos em que os preços das ações podem apresentar grandes oscilações afas- tando-se dos valores fundamentais (bolhas irracionais), mas que em um horizonte de tempo reduzido apresentam autocorrelação reduzida. Em sua análise, Shiller e Sum- mers mostram que os mercados são altamente ineficientes, mas de uma maneira que não é identificada nos testes que consideram um horizonte de tempo reduzido. Este ponto pode ser esclarecido: suponha que o valor fundamental de uma ação é constante e “que a média não condicionada do seu preço é seu valor fundamen- tal. Suponha que os seus preços diários são uma regressão de primeira ordem com inclinação próxima a 1. Todas as variações de preços resultam de longas oscilações em relação ao seu valor fundamental. No curto prazo, uma auto-regressão de pri- meira ordem com inclinação próxima a 1 significa que os preços pareçam um ran- dom walk e os retornos tenham uma baixa correlação. Assim, nos testes de curtos períodos de tempo, todo os preços parecem ser permanentes quando o valor fun- damental é constante, e que todos os desvios dos preços dos fundamentos são tem- porários”(Fama, 1991: 1.580).2 Além dos testes de previsão do retorno, a avaliação crítica da HME se estendeu ao problema da volatilidade. Shiller (1981), baseando-se na hipótese de que se um mercado é eficiente, a variação do preço de um ativo deve estar limitada por um valor teórico que não depende senão da variabilidade dos determinantes fundamen- tais do preço, comparou graficamente o valor dos preços das ações com seu “ver- dadeiro” valor, ou seja, o valor que um mercado perfeitamente racional teria esta- belecido para essas ações, no período de 1871 a 1979. A linha obtida para os divi- dendos é perfeitamente estável, mesmo durante a Grande Depressão, mas a linha representando o preço das ações “ziguezagueia” de tal maneira que permanece em pontos extremos de sub ou supervalorização por anos, e mesmo ao longo de décadas. Ainda Le Roy e Porter (1981) desenvolveram um teste de volatilidade que se- gundo eles teria uma grande vantagem em relação aos testes de retorno apresenta- dos até então. Os testes de Le Roy e Porter (1981) exploraram a demonstração de Samuelson (1965) de que no contexto do mercado de ações, a relação de valor pre- sente é equivalente (sujeito a uma suposição de convergência) à hipótese nula tes- tada nos testes de retorno. Tal relação estabelece que o preço presente da ação é o melhor previsor do valor futuro descontado e dos dividendos, vistos como o preço racional ex post. De maneira mais precisa, “o valor presente da relação estabelece que o preço corrente atual corresponde à esperança matemática dos preços racio- nais ex post, dada toda informação disponível para os investidores” (Le Roy e Steigerwald, 1995: 411-2). Ou seja, Pt = E (Pt * / Iti ) sendo Pt * = ⌺␣ i=t (i + r ) 2 É verdade que Fama e French (1988) procuram enfraquecer tal conclusão, porém reconheceram que este é um problema que aparece nas séries de tempo de eficiência de mercado, sem solução clara, isto é, não se podem distinguir (ex ante) bolhas irracionais de retornos esperados variando no tempo (idem: 1581). 1 dt+i
  • 7. 34 sendo Pt * a previsão perfeita do valor descontado dos dividendos futuros [d], sen- do dada uma taxa de desconto r, e os preços correntes das ações Pt . De acordo com a visão convencional Pt * tem uma variância que corresponde a uma variância dos dividendos. Esta variância no entanto deveria ser maior que a variân- cia de Pt , pois esta é uma previsão que é feita a partir de Pt *, ou seja, em princípio V (Pt ) ഛ V (Pt *) De acordo com a teoria, a variância do valor esperado condicional de uma va- riável aleatória VPt é menor que a variância da variável aleatória VPt *. Ora, Le Roy e Porter e Shiller estabeleceram em seus testes empíricos que tal condição era violada. Os preços das ações são muito voláteis para serem explicados por mudanças nos di- videndos, argumentando que seu testes teriam um poder maior que os testes de re- torno. (Para uma discussão detalhada deste argumento, ver Sheffrin, 1986: 143-6.) As constatações dessa volatilidade excessiva, quando comparada com a varia- ção dos dividendos, deram lugar a várias interpretações, sendo a dominante a de Shiller (1981), de que preços das ações são grandemente influenciados pela moda e/ou ondas de otimismo e pessimismo, tal como descrito pela psicologia convencional dos mercados (p. 297). Estas hipóteses levaram ao desenvolvimento de explicações baseadas em tipos específicos de comportamento dos agentes que povoam os mercados financeiros e que fogem radicalmente da HME. De maneira mais precisa, os agentes tendem a superestimar novas informações antes que ponderá-las em um contexto temporal. Nesta linha, De Bondt e Thaler (1985) utilizaram tal hipótese para prever os preços das ações: um portfólio composto de um grande número de “ações perde- doras”, isto é, batidas pelo mercado, teve um comportamento melhor que a média das ações nos três anos seguintes. Ou seja, as perdas iniciais foram o resultado de reações exageradas (overreactions), que se corrigiram, porém somente após a pas- sagem de um razoável período de tempo. Para explicar tal comportamento fez-se a hipótese da existência dos chamados “noisy traders”, ou seja, agentes quase-racio- nais. De Long, Shleiffer, Summers e Waldman mostraram que, em algumas circuns- tâncias, os “noisy traders” podem ganhar mais que os agentes racionais; “uma vez que assumem não intencionalmente mais riscos, os “noisy traders” têm uma me- nor utilidade esperada, mas uma maior riqueza” (De Bondt e Thaler, 1995: 387). A existência de tais agentes explica também o processo chamado de “reversão da média”: quando no curto prazo os preços alcançam valores muito maiores do que seria de se esperar racionalmente, a bolha se desfaz e os preços retornam para um valor fundamental. Fama e French (1988) identificaram este fenômeno num período de três anos para cada cinco. Analisando o comportamento das ações em um período de 60 anos (1926 a 1985) constataram que a reversão da média expli- ca cerca de 35% do comportamento dos preços das ações. Embora a tendência para que isto aconteça seja maior para as ações de firmas menores, aconteceu também com ações mais importantes, em 17 grupos industriais. Essas constatações reduziram bastante o ardor dos defensores da HME. Isto se pode verificar pela mudança da posição de Eugene Fama — que em 1970 consi-
  • 8. 35 derava os mercados eficientes como realidades — para sua observação recente, ao considerar a HME apenas como “uma hipótese útil que permite superar os com- plexos problemas de decidir o que é razoável considerar-se como informações e custos de transação (...) cada leitor tem condições de julgar os cenários onde a eficiência de mercado é uma boa aproximação (...) (isto é, aqueles em que os desvios da ver- são extrema da hipótese da eficiência podem ser incluídos nas informações e custos de transação) daqueles (cenários) onde outro modelo constitui-se em uma melhor visão do mundo” (idem: 1.575). UMA ANÁLISE ALTERNATIVA DOS MERCADOS FINANCEIROS Uma das razões mais convincentes para a rejeição da HME são as freqüentes inovações no sistema financeiro. Quando uma inovação aparece é necessário um tempo razoável para identificar seu efeito nos preços dos ativos. Durante este período de transição, na medida em que mais agentes adotam a inovação, agentes que es- tão mais familiarizados com ela terão vantagem sobre os retardatários, obtendo lucros pela arbitragem entres os produtos novos e os antigos. Segundo as pesquisas de Fama e French (1988), até o período de um ano há uma autocorrelação positiva entre os lucros, ao passo que para períodos mais longos a autocorrelação torna-se negativa. A interpretação dinâmica dessa constatação seria que os rendimentos iniciais elevados atraem novos adotantes para o processo de inovação, até que a competi- ção faça desaparecer a vantagem informacional dos primeiros investidores. Tais condições incitam o lançamento de outras inovações tendo em vista a obtenção de novas vantagens informacionais, ou seja: “Em períodos nem muito curtos nem muito longos, este processo en- volve o fato de que um rendimento mais elevado que os rendimentos mé- dios... terá uma probabilidade importante de ser seguido por um rendimento em baixa, pela dominação das forças concorrenciais. Em contrapartida, a pressão concorrencial aumenta a probabilidade de inovações que criam novos mercados, nos quais os rendimentos mais elevados podem ser, de novo, rea- lizados. Suscitando aprendizagem, as inovações dão uma memória aos mer- cados, o que viola o postulado da eficiência” (Aglietta, 1995: 27). Mesmo mercados que não exibam rendimentos correlacionados podem exibir volatilidades variáveis, de modo a criar essa memória; assim o conhecimento de uma volatilidade forte ou fraca no passado recente pode levar à antecipação de resulta- dos diferentes a partir de um certo nível de volatilidade atual. A autocorrelação dessa volatilidade pode, portanto, informar a respeito das oscilações globais do merca- do. Se a volatilidade é grande, o mercado tende a oscilar de maneira mais freqüen- te que no caso em que as variações de preços sejam independentes no tempo. Dian- te disto, se coloca a necessidade de analisar as condições reais que estão por trás desses fenômenos, como se fará a seguir.
  • 9. 36 A primeira grande simplificação da HME é de que os operadores são homogê- neos, isto é, todos se baseiam em princípios comuns de racionalidade. Este pressu- posto, no entanto, está bastante longe de ser realista, pois como observam Summers e Shleiffer (1990): “Nossa abordagem se baseia em duas hipóteses. Em primeiro lugar, certos investidores não são totalmente racionais e sua demanda por ativos de risco é afetada por suas crenças ou sentimentos que não são inteiramente justificados por informações a respeito dos fundamentos. Em segundo lugar, a arbitragem definida como as decisões tomadas por investidores inteira- mente racionais, não sujeitos a tais sentimentos, envolve risco e é, portan- to, limitada. As duas hipóteses, em conjunto, implicam que mudanças nos sentimentos do investidor não são integralmente contrabalançadas pelos arbitradores e assim afetam os retornos dos títulos” (pp. 19-20). A idéia da arbitragem é a de que há certos investidores, os arbitradores, que se movimentam rapidamente, toda vez que os títulos estejam sobre ou subvalorizados, de tal maneira a fazer com que os seus valores voltem a seus níveis “racionais”, vendendo ou comprando esses títulos. Tais movimentos são efetivos se o agente está trabalhando com dois ativos similares e, portanto, substitutos. Por exemplo, se o ouro estiver sendo vendido a US$ 350 a onça em Nova York e a US$ 355 em Lon- dres, o especulador imediatamente compraria ouro em Nova York e venderia em Londres. Tal arbitragem, no entanto, não seria possível, sem risco, se para um arbi- trador todo o estoque de ações americanas está sobrevalorizado. Neste caso o que ele deve comprar e vender, para trazer os preços ao seu nível “normal”? E sobre o perigo de que as ações sobrevalorizadas possam se valorizar ainda mais antes de voltarem para o seu valor racional? Como se pode determinar qual o seu preço racional? E se os lucros estão para decolar, de tal maneira que o aparente valor ir- racional não é tão absurdo? E o que dizer se o “short seller”3 tem de garantir os dividendos para as ações vendidas “short”? Assim, mesmo que o mercado esteja composto por arbitradores, há situações em que sua ação é limitada, como exemplificado acima. Porém, o mercado não está composto apenas por “espíritos racionais”, mas está povoado por espíritos “não tão racionais”, na concepção convencional, que são movidos por pseudos-informa- ções (noise) e constituem os chamados “noisy traders”. Ora, se estes operadores tomassem suas decisões baseadas nos seus próprios planos ou sentimentos, suas decisões seriam independentes e poderiam cancelar-se; mas em vez disso “o viés dos julgamentos que aflige os investidores ao processar as informações tende a ser o mesmo. Sujeitos de experimentações psicológicas tendem a cometer os mesmos er- ros, eles não cometem erros aleatórios; muitos destes erros persistentes são relevantes para os mercados financeiros. Por exemplo, sujeitos de experimentos tendem a ser superconfiantes, o que os faz assumirem maiores riscos. Os sujeitos de experimen- 3 “Short seller” é alguém que vende um título que não possui para entregar futuramente.
  • 10. 37 tos tendem a extrapolar séries temporais, o que os leva a perseguirem tendências passadas. Finalmente, ao realizarem inferências experimentais, tendem a desprezar evidências presentes e dar muito peso às novas informações” (Summers e Shleiffer: 23-4). A evidência trazida por tais experimentos tem sido comprovada por questioná- rios e outras enquetes no mercado financeiro. Shiller (1990) mostrou que a extra- polação é uma característica dos chamados “modelos populares”. Ele constatou que os compradores de residências, bem como os investidores no crash de 1987, extrapo- laram tendências de preços passados. A observação dos mercados tem apresentado suficientes evidências de que rumores (noises) determinam boa parte das decisões. Estas também tendem a acompanhar “gurus” como Joe Granville e previsões forne- cidas pela Wall Street Week. Geralmente, os “gurus”, que atraem grande número de seguidores, nunca admitem que obtêm “inside informations” mas, sim, que seguem modelos confiáveis de previsão. A chamada “análise técnica”, que se enquadra nes- te último tópico, tipicamente recomenda comprar mais ações quando o preço destas está se elevando (atravessam um teto) e vendê-las quando estão abaixo de um piso. Summers e Shleiffer (1990) observam que os economistas convencionais tendem a desprezar o efeito desses comportamentos, pois admitem que os “noisy traders” tendem a perder dinheiro em favor dos “arbitradores”, fazendo com isso que se re- duza o seu efeito na demanda. Aqueles autores argumentam que isto não é evidente. Primeiro porque na média os “noisy traders” são mais agressivos que os arbitra- dores, ou porque são superotimistas ou superconfiantes e assim assumem maiores riscos. “Se o risco é remunerado no mercado, os ‘noisy traders’ podem obter retor- nos esperados mais elevados, a despeito de terem comprado na alta e vendido na baixa na média. A remuneração do risco no mercado não precisa ser mesmo fun- damental; pode ser o preço do risco de revenda decorrente da imprevisibilidade das opiniões futuras dos ‘noisy traders’” (Summers e Shleiffer: 24-5). A conseqüência disto é que os efeitos de mudanças da demanda nos preços são maiores do que seriam se a maioria dos investidores seguisse os livros-texto de fi- nanças e mantivessem passivamente o “portfólio de mercado”, ou quando a capa- cidade de assumir riscos dos arbitradores fosse reduzida. A importância dos investidores que tendem a extrapolar ou “caçar a tendên- cia” também dever ser ressaltada. Alguns especuladores acreditam que se acompa- nharem a onda (band-wagon) serão capazes de bater os “noisy traders”. Esta foi e tem sido a estratégia de George Soros. Assim, “as transações entre os investidores racionais dão lugar a padrões de preços do tipo bolha. A estratégia de ‘feed back’ é reforçada pela adesão à onda dos investidores racionais, o que leva a uma autocor- relação positiva dos retornos a curto prazo” (idem: 29). Finalmente, deve-se acrescentar um terceiro grupo de operadores, que são os “seguradores de portfólio”. São investidores institucionais que administram grandes fundos de poupança contratual, diversificando riscos pela aquisição de contratos de índices representativos do conjunto dos mercados. Procuram assegurar-se de que o valor de seu portfólio não caia abaixo de um mínimo predeterminado. Podem comprar opções de vendas sobre o portfólio (put options) para cobrir os contratos
  • 11. 38 sobre índices, até o seu vencimento. Podem assim construir opções sintéticas combi- nando contratos sobre índices e títulos de dívida sem risco. A análise acima chama atenção para a multiplicidade de comportamentos pos- síveis em situações em que há condições de incerteza não passíveis de serem subme- tidas a uma análise atuarial. Outra limitação da HME é não considerar surgimen- to de crenças que se auto-realizam, não necessariamente por estarem mais próxi- mas dos fatos, mas, muitas vezes, porque se apresentam com maior antecedência, contagiam grande número de agentes, como sugerido pelo modelo de “path depen- dence”, ou mesmo por ser uma estratégia dominante na visão de Schelling. A partir destas constatações se tentará a seguir construir a lógica das condições que podem levar à instabilidade financeira, cujo caso extremo seria um “crash” de mercado. Consideremos inicialmente o comportamento dos “noisy traders” e dos “se- guradores de portfólio”, diante de certas tendências de preço. Tais agentes têm uma função de demanda de títulos que é crescente em relação aos preços. Os primeiros procuram identificar regimes dinâmicos a partir das tendências dos mercados. Quan- do identificam uma tendência altista ou baixista, acreditam que essa tendência per- sistirá e que geralmente, no momento em que as identificam, elas estão longe de reverter. Assim, é natural que comprem na alta e vendam quando identificam uma reversão. Para os segundos, sua posição em relação aos títulos, especificamente às ações, depende do ∆ da opção, que é a sensibilidade da variação do preço da op- ção, em relação ao preço da ação correspondente. Ora, o ∆ varia de uma maneira contínua e não linear com o preço da ação, de tal modo que a posição deve ser ajus- tada continuamente ao longo do tempo. Quando o preço das ações se eleva, o ∆ diminui, de tal maneira que se torna necessário reduzir as posições “curtas”4 , de- mandando-se imediatamente mais ações. Quando os preços das ações baixam, o ∆ aumenta, de tal forma que é necessário aumentar as posições “curtas”. Fica claro, assim, por que a demanda líquida dos seguradores de “portfólio” é uma função crescente e não linear dos preços das ações; quando o preço destas se eleva, por qualquer razão, essa tendência é ampliada pela demanda adicional dos “segurado- res de portfólio”; quando o preço destas cai, a tendência de queda é ampliada pe- las ofertas adicionais destes (cf. pp. 29 e 30). Os “arbitradores” de outro lado seguem a racionalidade estrita em suas deci- sões, isto é, compram na baixa e vendem na alta, acreditando que existe um preço de atração ou um preço médio em torno do qual ocorre uma oscilação para cima e para baixo. Assim, se tais operadores fossem os únicos no mercado, e se houvesse realmente um preço normal, haveria sempre equilíbrio de mercado. Acontece, no entanto, que uma função de excesso de demanda líquida de mercado, ao se agregar os diferentes comportamentos em diferentes proporções, não será monótona em relação aos preços nem estável no tempo, pois combina componentes crescentes e decrescentes, lineares e não lineares em relação ao preço. 4 Alguém que tem uma posição curta ou “short” de ações, por exemplo, é alguém que se dispõe a entre- gar a um certo preço uma ação, por exemplo, não possuída por ele, na esperança de que na data da entrega o preço dessa ação tenha caído em relação ao presente.
  • 12. 39 Gráfico I Equilíbrios múltiplos nos mercados de ações Consideremos no gráfico 1, acima, o modelo do mercado de ações desenvolvi- do por Genotte e Lelland (1990) e utilizado por Agglietta (1995), em que se baseia a análise seguinte. No gráfico acima há três equilíbrios, A e C estáveis e B instável. A instabilidade de B está ligada à volatilidade excessiva dos preços em relação ao preço que seria natural no mercado, e que é explicada pelos movimentos deses- tabilizadores tanto dos “noisy traders” como dos “seguradores de portfólio”, que tendem a reforçar, como acima discutido, o movimento dos preços em um sentido ou outro. Sendo os mercados financeiros sempre mercados de liquidez, as deman- das imprevistas de liquidez afetam as ofertas de ativos, além dos imprevistos que afetam as variáveis determinantes dos valores fundamentais das ações. Estas con- dições podem levar a um crash e a um regime dinâmico posterior. Tal situação pode ocorrer em função de um deslocamento de curva de excesso de demanda, que faz desaparecer o regime centrado em um equilíbrio inicial (A), estabelecendo a passa- gem do ponto A para o ponto C’ (crash). O retorno da curva de excesso de deman- da para a situação anterior não recupera o equilíbrio inicial. O preço evoluirá de C’ para C, o qual é um equilíbrio estável. Observa-se, aí, um processo endógeno que envolve instabilidade, que não pode ser explicada por fatores aleatórios exógenos. Tal processo é a imitação ou contá- gio. A possibilidade de imitar significa que o tamanho relativo dos grupos de agen- tes heterogêneos não é algo imutável. Certos operadores, que têm normalmente um tipo de comportamento, podem adotar o comportamento de outro grupo de ope- radores. Eles podem adotar estratégias mistas; um “arbitrador” pode achar conve- niente ter em um certo momento o comportamento de um “noisy trader”, por exem- plo. Tais revisões de crenças são todavia racionais. Cada operador pode se preo- cupar em incorporar em suas decisões o julgamento dos outros para melhorar a ade- quação de suas antecipações. No caso acima mencionado, um especulador racional adotando o comporta- mento dos “noisy trader” pode levar a uma descontinuidade no mercado ao refor- Preço das ações (equilíbrio inicial) (equilíbrio final) A B C C’ crash
  • 13. 40 çar os efeitos das decisões destes. Foi o que ocorreu com o “crash” do mercado de ações americano em outubro de 1987. Por razões que não serão consideradas ago- ra, houve uma onda de ordens de vendas de tal maneira que caíram os preços das ações. Em tal circunstância, como se observou anteriormente, os “seguradores de portfólio” passaram a oferecer mais ações, procurando aumentar suas “posições curtas” (na expectativa que os preços caíssem ainda mais). Ora, este processo con- firma o pessimismo daqueles que iniciaram o movimento de vendas das ações (boa parte deles “noisy traders”). De outro lado, os especuladores profissionais (arbitra- dores) ficam limitados em sua ação de compras das ações em baixa, devido à forte restrição de liquidez amplificada pelas vendas dos “seguradores de portfólio”. A partir desse momento a baixa especulativa torna-se auto-realizadora, só podendo ser controlada por algo fora do mercado, por exemplo, um processo de salvamen- to mediante grande injeção de liquidez no mercado promovido pelo banco central. INSTABILIDADE FINANCEIRA E OS DEMAIS MERCADOS DE ATIVOS De acordo com a análise acima, pode-se verificar que a instabilidade financeira não é algo esporádico, mas faz parte da própria lógica dos sistemas financeiros. Ainda, no tópico anterior, considerou-se, principalmente, a instabilidade enquanto locali- zada em bolsa, porém ela é mais geral, estendendo-se para os mercados de terrenos urbanos e imobiliários, onde é amplificada por fatores como a diminuição rápida de liquidez dos mercados secundários, imprevisibilidades das políticas governamentais etc. Além disso, o comportamento de tais mercados interfere grandemente na atividade produtiva da economia, tornando-se necessário considerar essas implicações. A hipótese convencional é de que a otimização dos rendimentos financeiros articula-se de maneira harmoniosa com a atividade produtiva, em um modelo geral de mercados completos. Ocorre, no entanto, que os diferentes tipos de eficiência dos mercados financeiros — eficiência informacional, eficiência na avaliação dos valo- res fundamentais, eficiência na diversificação do risco e eficiência alocativa — não se compatibilizam necessariamente. Quando uma inovação financeira aumenta a efi- cácia informacional, não se pode inferir que a alocação do capital tenha melhorado. Isto é, quando novos mercados são criados, não se pode deduzir que os mercados tenham ficado mais completos (p.ex. a criação de um mercado futuro para um pro- duto financeiro), pois os novos mercados podem criar novos riscos e desenvolver novas conexões entre os riscos já existentes, dando-lhes um caráter sistêmico. De acordo com a visão convencional, para os mercados acionários guiarem de maneira adequada as decisões de investimento, seria necessário permitir aos acio- nistas exercer seu controle sobre as decisões dos executivos das empresas, o que iria requerer que aqueles obtivessem informações sobre o valor das empresas, isto é, o valor dos fundamentais, e sobre a capacidade de a empresa produzir lucros no futuro. A existência do mercado acionário, no entanto, dá aos acionistas a possibilidade de negociar a todo momento seus títulos nos mercados secundários, o que desliga os acionistas da análise dos fundamentais das empresas. Na realidade, os acionistas não têm nem a motivação nem os meios de realizar avaliações próprias da rentabi-
  • 14. 41 lidade interna dos investimentos escolhidos pelos dirigentes. Eles se remetem intei- ramente às bolsas. Desta forma, se submetem às opiniões coletivas da comunidade financeira que influenciam o total dos preços das ações, mesmo quando as varia- ções destas nada têm a ver com a empresa em questão e não têm, portanto, condi- ções de estabelecer informações adequadas e eficazes para as tomadas de decisão. Aliás, esta constatação já havia sido expressa por Keynes (1936) ao observar que “as bolsas de valores reavaliam todos os dias seus investimentos e estas reavaliações proporcionam oportunidades freqüentes a cada indivíduo, embora isto não ocorra para a comunidade como um todo, de rever suas aplicações. É como se um agricul- tor, tendo examinado seu barômetro após o café da manhã, pudesse retirar seu ca- pital da atividade agrícola entre dez e onze da manhã para reconsiderar se deveria investi-lo mais tarde... Assim, certas categorias de investimento são reguladas pelas expectativas médias dos que negociam nas bolsas, tal como se manifestam nos pre- ços das ações, em vez das expectativas genuínas do empresário profissional” (p. 126). De outro lado, a liberalização financeira recente afetou de maneira clara a for- ma de financiamento externo adequado das empresas, ao permitir o surgimento de inovações como títulos de crédito negociáveis, títulos de alto risco (como os junk- bonds) e títulos híbridos compostos de créditos e fundos próprios (ações preferen- ciais e obrigações conversíveis), ou ainda títulos garantidos sobre ativos patrimoniais (asset-based financing). Criou novas possibilidades de financiamento externo, si- multaneamente com uma redução do custo da intermediação financeira. Estes fa- tos, juntamente com o aumento da importância da poupança institucional, contri- buíram, ainda mais, para que formas de decisões desligadas dos fundamentos pre- valecessem nos mercados contemporâneos. CONCLUSÃO As tendências discutidas ao longo deste artigo mostram a precariedade da hi- pótese mencionada inicialmente sobre as funções dos mercados financeiros como um mecanismo adequado de orientação para o processo de alocação do investimento produtivo. Keynes já havia observado “que os investimentos baseados nas previ- sões autênticas de longo prazo são hoje tão difíceis que mal podem ser postos em prática. Os que tentarem fazê-lo poderão estar certos de passar dias de trabalho muito intenso e correr riscos muito maiores que os que tentam adivinhar as reações do público melhor que o próprio público, e, dada igual inteligência, podem cometer erros muito mais desastrosos” (1936: 130). Se o investidor que insiste em decidir considerando os “valores fundamentais” dos títulos, mesmo que isto contrarie as tendências presentes do mercado, “obtiver êxito isto apenas confirmará a crença geral na sua temeridade; se, no final das con- tas, sofre reveses momentâneos, poucos serão os que dele se compadecerão. A sabe- doria universal indica ser melhor para a reputação fracassar junto com o mercado do que vencer contra ele” (idem: 30). Nestas condições as inovações financeiras se desenvolverão sempre para aten- der cada vez mais a demanda por liquidez e menor risco, originadas cada vez mais
  • 15. 42 dos gestores de fundos públicos, dando lugar a uma dinâmica de preços que afasta cada vez mais os preços de mercado de seus fundamentos, gerando uma volatilidade de preços que tem pouco a ver com as oscilações próprias de um mercado hipoteti- camente racional. A partir destas considerações, não é de se espantar que se cons- tituam “novas formas de racionalidade” cada vez mais distantes da concepção clás- sica ou convencional de racionalidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁGICAS AGLIETTA, M. (1995) Macroeconomie Financière, Paris Editions La Decouverte. CHEN, N., R. ROLL e S. ROSS (1986) “Economic Forces and Stock Market”, Journal of Business, 59: 383-403. DE BONDT, W. e R. THALER (1985) “Does the Stock Markets Overreact”, Journal of Finance, 40: 793-805. DE BONDT, W. e R. THALER (1995) “Financial Decision Making in Markets and Firms: A Behaviour Perspective”, em R. Jarrow et al. (eds.), Handbook in OR e MS, Elsevier, Amsterdam. FAMA, E. (1970) “Efficient Capital Markets: A Review of Theory and Empirical Work”, Journal of Finance, vol. 25, nº 2: 383-417 FAMA, E. (1991) “Efficient Capital Markets II”, Journal of Finance, 46: 1.575-1.617. FAMA, E. e FRENCH, K. (1988) “Permanent and Temporary Components of Stock Prices”, Journal of Political Economy, 96: 301-325. FAMA, E e K. FRENCH (1989) “Business Conditions and Expected Returns on Stocks and Bonds”, Journal of Financial Economics, 25: 23-49 FLOOD, R. P. e HODRICK,R.J. (1990) “On Testing for Speculative Bubbles”, Journal of Economic Perspectives, vol. 4, nº 2, Spring: 85-101. GENOTTE G. e LELLAND, H. (1990) “Market Liquidity, hedging and crashes”, American Economic Review, dezembro. KEYNES, J. M. (1936) A Teoria Geral do Emprego, do Juro e do Dinheiro. Tradução Mario R. da Cruz. São Paulo, Atlas. KEYNES, J. M. (1936) The general theory of employment, interest and money, London, The McMillan Press. LE ROY, F. e D. STEIGERWALD (1995) “Volatility”, em R. Jarrow et al. (eds.), Handbook in OR e MS, Elsevier, Amsterdam. LE ROY, S. F. e R. PORTER (1981) “The Present Value Relation: Teste Implied Variance Bounds”, Econo- metrica, 49: 555-574. LO, Andrew e A. Croig MCKINLAY (1988) “Stock Market Prices do Not Follow Random Wolks: Evidence From A Simple Specification Test”, Review of Financial Studies, 1: 41-66. ORLEAN, A. (1999) Le Pouvoir de la Finance, Paris, Editions Odile Jacob. SAMUELSON, P. A. (1965) e “Proof that properly anticipated prices fluctuate randomly”, Manage Rev., 6: 41-49. SHEFFRIN, S. M. (1986) Rational Expectations, Cambridge, Cambridge University Press. SHILLER, R. J. (1981) “Do Stock prices move too much to be justified by subsequent changes in divi- dends”, American Economic Review, vol. 71, nº 3, junho. SHILLER, R. J. (1984) “Stock Prices and Scoail Dynamics”, Brooking Pappers on Economic Activity, 2: 457-510. SHILLER, R. J. (1990) “Speculative Prices and Popular Models”, Journal of Economic Perspectives, vol. 4, nº 2, Spring: 55-65. SUMMERS, L. H. (1986) “Does Stock Markets Rationally Reflect Fundamental Values”, Journal of Finance, 41: 591-600. SUMMERS, L. H. e SHLEIFFER, A.(1990), “The Noisy Trade Approach to Finance”, Journal of Eco- nomic Perspectives, vol. 4, nº 2, Spring: 19-33. THUROW, L. (1984) Dangerous Currents: The State of Economics, New York, Vintage Books.