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  UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
    DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS XIV
            COLEGIADO DE LETRAS




        MARIA DILMA CARNEIRO DE OLIVEIRA




AVALIAÇÃO QUE OS FALANTES URBANOS FAZEM DA
               VARIAÇÃO RURAL




                         ,
                 Conceição do Coité
                       2009
1



        MARIA DILMA CARNEIRO DE OLIVEIRA




AVALIAÇÃO QUE OS FALANTES URBANOS FAZEM DA
               VARIAÇÃO RURAL




                     Monografia apresentada ao Departamento de Educação,
                     da Uneb campus XIV Conceição do Coité, como requisito
                     parcial para obtenção do grau de Graduação em
                     Licenciatura em Letras Vernáculas.


                     Orientadora: Professora Doutora Lucia Maria de Jesus
                     Parcero.




                 Conceição do Coité
                        2009
2



                                AGRADECIMENTOS




                É maravilhoso, Senhor, ter uma família para amar, pais tão especiais
como os que me deste. A vocês pais queridos: Salvador e Dalva, agradeço a benção
da vida, a pessoa que sou e aos sonhos que pude realizar. A vocês irmãos: Sineide,
Nilma,Joilson,Ailton e Wilson,obrigada pela força e torcida.
                O professor é um profissional cuja bagagem existencial se estampa
naquilo que ele faz: ensinar e aprender, a descobrir, a inventar. A vocês professores:
Lúcia Parcero e Deijair meu muito obrigado pela parcela que me contribuiu.
                Gosto de pensar o afeto como a emoção que torna o outro especial.
Algo que é estruturante do sujeito e da relação, algo que desassossega em seu
dever, porque o outro não é mais o mesmo depois que é amado. Ao meu amado
Gilmar, obrigada por todo carinho, compreensão e ajuda.
                Na vida somos nutridores de sonhos porque “sem sonho, não há
vida possível”. E sem amigos, não há vida suportável. Aos amigos: Genilda,
Gildeone,Bella e Keilla, obrigada pela ajuda e pelo incentivo.
3




“Tudo é do pai toda honra e toda glória é dele a
              vitória alcançada em minha vida”


                           (Pe. Fábio de Melo).
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Língua portuguesa

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura.
A bruta mina entre os cascalhos vela.

Amo-te assim desconhecida e obscura
Tuba de alto clamgor , lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo das saudades e da ternura!

Amo teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouve:”meu filho!”,
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

                                   Olavo Bilac
5



                         TERMO DE APROVAÇÃO




                MARIA DILMA CARNEIRO DE OLIVEIRA



AVALIAÇÃO QUE OS FALANTES URBANOS FAZEM DA VARIAÇÃO
                       RURAL


Avaliação que os falantes urbanos fazem da variação rural. Monografia aprovada
como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciada em Letras Vernáculas,
Departamento de Educação (DEDC), campus XIV, Conceição do Coité,
Universidade do Estado da Bahia (UNEB), pela seguinte Banca Examinadora:




Orientadora: Lúcia Parcero______________________________________________
Professora da UNEB - campus XIV



Deijair Ferreira da Silva_________________________________________________
Professor da UNEB - campus XIV



Rosana_____________________________________________________________
Professor da UNEB – XIV




                    Conceição do Coité, 03 de abril de 2009.
6



                                     RESUMO




A monografia que ora se apresenta versa sobre a avaliação que os falantes urbanos
fazem da variação rural, por isso tem como objetivo identificar e analisar a avaliação
que os moradores da sede de Riachão do Jacuípe fazem da variante linguistica das
comunidades rurais. Para a análise do tema utilizou-se a linha metodológica da
Sociolingüística Qualitativa. O estudo foi desenvolvido mediante pesquisa
bibliográfica, questionário e de nove entrevistas, pelos quais, após a análise, pode-
se perceber que ainda persiste na língua a idéia de certo e errado, gerando assim o
preconceito entre falantes cultos e não cultos.


Palavras-chave: Língua; Sociedade; Variação Linguistica.
7



                                      ABSTRACT



This monography discusses about the opinion of urban speakers regarding rural
linguistics variation therefore, the work alms to identify and analyse the avaliation that
the residents of Riachão do Jacuípe city do about the linguistics variant found in the
rural communities. In order to analyse the theme was utilizated the methodologic
guide-line of Qualitive Sociolinguistics. The whole study was developed through
bibliographic research, interview questionnaire wich show, after analyse the datas,
that persist in the language the idea right and woron..So, it arises the limguistic
prejudice among cult and no cult speakers.



Key-word: Idiom;Association;Variation Linguistics.
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                                                    SUMÁRIO




INTRODUÇÃO ...................................................................................................   09


1 REVISÃO DA LITERATURA ..........................................................................               11
1.1 HISTÓRIA DA SOCIOLINGÜÍSTICA ..........................................................                      11
1.2 A SOCIOLINGUÍSTICA E SEU OBJETO DE ESTUDO ..............................                                     11
1.3 LÍNGUA E GRAMÁTICA ..............................................................................            12
1.4 LÍNGUA, CULTURA E SOCIEDADE ...........................................................                      14


2 METODOLOGIA .............................................................................................      18
2.1 FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS ........................................................                           18
2.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ....................................................                             19
2.2.1 Seleção e familiarização com o espaço da pesquisa ...............................                          19
2.2.2. Coleta de dados .......................................................................................   19


3 ANÁLISE DE DADOS ....................................................................................          22


4 CONCLUSÂO .................................................................................................    30


REFERÊNCIAS .................................................................................................    32
9



INTRODUÇÃO




               Esta pesquisa foi desenvolvida pelo fato de se entender que a
língua em qualquer tempo/espaço é dinâmica, viva e está sujeito a mudanças,
tendo em vista que é através do indivíduo que ela se concretiza. Dessa forma,
podemos afirmar que não há uma homogeneização da mesma, levando em
consideração que a língua possui variações que se dá através das diversas formas
de falar de um povo ou do nosso próprio falar em diversas situações.
               As   concepções        relacionadas       à    mudança       línguistica     são
danosas e reprimem convivência em sociedade, porque a sociedade em geral,
utiliza a norma culta para encontrar “erros” na fala de pessoas que usam variantes
próprias de sua região ou de seu grupo social, baseando-se em critérios
extralingüísticos tais como etnia, sexo, religião e localidade onde mora, como é o
caso das variantes da zona rural:


                     [...] não são bem aceitas por alguns membros da sociedade, uma minoria
                     pertencente a classes privilegiadas, a partir do momento em que essas
                     variedades passam a ser utilizadas por falantes oriundos da zona rural ou
                     dos subúrbios dos centros urbanos, [...] tentando impor uma unidade
                     lingüística existente apenas na imaginação, ou seja, apesar da enorme
                     diversidade e variabilidade apresentada pela língua, no uso cotidiano, falada
                     no Brasil, as pessoas tendem a transformar o idioleto do outro em "erro”
                     (PRETTI, 2000 p. 23).


               Toda língua exibe variantes, umas mais prestigiadas que outras.
Assim, com base nestas suposições, decorre a noção conturbadora de erro ao se
descrever o padrão culto como certo e as demais como erradas, gerando o
preconceito lingüístico. Os falantes não têm a consciência de que a língua muda
constantemente, apesar das mudanças ocorrerem de forma lenta, não atingem um
todo, mas sim parte da língua como afirma Faraco: Os falantes normalmente não
têm consciência de que sua língua está mudando. Parece que, como falantes,
construímos uma imagem da nossa língua que repousa antes na sensação de
permanência do que na sensação de mudança (FARACO, 1991, p. 9).
               Estes fatos justificam o interesse por esta pesquisa, cuja estrutura é
composta por três capítulos: O primeiro: revisão da literatura visa apresentar os
teóricos que darão suportes e fundamentação aos capítulos seguintes. O segundo
10



ostenta-se da metodologia que demonstra os procedimentos e fundamentos
metodológicos utilizados na realização desta pesquisa. O terceiro capítulo exibe a
análise dos dados coletados. Após o desenvolvimento dos capítulos expõe-se a
conclusão a qual apresenta os resultados obtidos.
               Neste trabalho nota-se que, a primeira reação dos falantes,
principalmente àqueles que possuem uma situação socioeconômica mais elevada e
normalmente não são os primeiros a participarem do processo de mudança da
língua, têm como negativas as formas inovadoras e tacham de “incorretas”, “feias”,
“impróprias” e em conseqüência seus falantes são avaliados mutuamente como
“burros”, “ignorantes”, desfiguradores da língua, principalmente quando se refere aos
falantes rurais Embora ,linguisticamente falando as formas alternativas sejam tão
boas quanto a padrão. Assim afirma Faraco: Os grupos implementadores de
mudanças têm geralmente baixos prestigio social e sua fala - inclusive aquilo que é
nela inovação - costuma ser marcada de forma negativa pelos grupos privilegiados
econômico-social e culturalmente (FARACO, 1991, p.16).
Isso acontece pelo fato dos grupos privilegiados não terem uma base lingüística e a
percepção que a língua está mudando, propagarem uma atitude negativa em
relação às mudanças, entendendo-as como uma natureza de decadência, ou seja,
é como se a mudança estivesse empobrecendo a língua, deturpando-a,
transformando-a para pior. Pensando assim, a variação linguistica do meio rural é
considerada um problema para os falantes da sociedade urbana do município de
Riachão do Jacuípe? Qual seria a causa e onde está o erro?
               Em função de tudo o que foi dito sobre a língua e sua
heterogeneidade é que se pretende realizar uma pesquisa, que tem como objetivo
identificar e analisar a avaliação que os falantes da sede do Município de Riachão
do Jacuípe fazem da variante lingüística das comunidades rurais do município.
11



1 REVISÃO DA LITERATURA




1.1 HISTÓRIA DA SOCIOLINGÜÍSTICA




                A Sociolinguistica surge na década de 1960 nos Estados Unidos a
mercê especialmente dos trabalhos de William Labov.Ela veio dar a conhecer que
qualquer língua transforma e sofre mudanças com o tempo e no espaço de acordo
com as vissitudes sociais do falante.
                Embora o aspecto social da língua tenha chamado a atenção desde
cedo, tendo relevância desde o trabalho do lingüista suíço Ferdinand de Saussure
no início do século XX , foi talvez somente nos anos 1950        que este aspecto
começou a ser investigado minuciosamente.
                Todavia como já foi dito a figura chave foi William Labov, que, nos
anos 1960, começou uma série de investigações sobre a variação lingüística que
revolucionaram a compreensão de como os falantes utilizam sua língua.




1.2 A SOCIOLINGÜÍSTICA E SEU OBJETO DE ESTUDO




                Entende-se Sociolingüística como uma subárea da Lingüística.
Seus estudos estão voltados para a língua e suas comunidades de fala. Por a
língua não ser homogênea, encontram-se formas diversas que tem valor igual no
estudo da significação das palavras do vocabulário, da sintaxe e da morfossintaxe
(MOLLICA, 2003, p.10).
                A Sociolingüística considera a variação como seu principal objeto
de estudo, julgando-a como regra geral e universal, sujeita à análise e descrita
cientificamente. Porém, são várias as áreas que interessa à Sociolingüística tais
como: variação e mudança, multilinguismo, contato entre as línguas. Ela considera
aspecto social da linguagem, tanto dos pequenos grupos sócio-culturais quanto das
comunidades maiores. Como afirma Fairciough:
12




                      È graças á Sociolinguística que a natureza socialmente constituída da
                      prática lingüística pode ser tomada como premissa geral do estudo crítico
                      da língua. Mas a Sociolingüística é pesadamente influenciada pelas
                      concepções “positivistas” da ciência social: a variação sociolingüística
                      numa determinada sociedade tende a ser vista em termos de conjuntos de
                      fatos a serem observados e descritos usando-se métodos análogos aos da
                      ciência natural (1989 apud Bagno, 2000, p.304).


                Cabe também a Sociolingüística pesquisar o grau de mutabilidade
ou estabilidade da variação, fazer o diagnóstico das variáveis e prever seu
comportamento regular e sistemático. Os sociolinguístas têm-se voltado para a
análise da sistematicidade, legitimidade e estigmatização. O preconceito linguístico,
tem sido um ponto relevante na área, pois ainda permanece nas práticas
pedagógicas a idéia de certo/errado, baseando-se no padrão culto da língua. Por
isso, os estudos sócio-linguisticos oferecem riquíssimas contribuições para a
desconstrução dos preconceitos lingüísticos e de distorcer essa idéia de erro. A
sociolingüística oferece diferentes moldes teórico-metodológicos para análise da
variação e mudança (MOLLICA, 2003, p.13).
                A Sociolingüística apresenta três importantes termos que são
geralmente confundidos: variedade, variante e variável. A variedade corresponde ao
dialeto, o termo variante é utilizado nos estudos de sociolingüística para designar o
item lingüístico que é alvo de mudança e a palavra variável é o traço, forma ou
construção lingüística cuja realização apresenta variantes observadas pelo
investigador.




1.3 LÍNGUA E GRAMÁTICA




                A gramática é o estudo sistemático dos elementos constitutivos de
uma língua: formas, palavras, sons, construções e recursos expressivos. É o
arrolamento das normas, que dirigem determinada língua, normas estas que dizem
respeito à ortografia, à fonética, à morfologia, à sintaxe e à semântica.
                Pelo próprio conceito de gramática fica claro que ela só pode existir
quando a língua em questão referir-se á uma cultura erudita , ou seja, a uma
sociedade que utiliza a escrita e a faça uma das formas de informação entre seus
13



membros ao lado da oralidade .Não dizendo que em uma comunidade que não
utiliza a escrita, ou tenha importância menor, não exista uma gramática no sentido
amplo do termo.Existe necessariamente, pois o fato de existir normas básicas
mínimas é a própria razão do fator chamado língua.
                   Nesse meio tempo, a gramática no sentido restrito subentende a
escrita, uma estrutura de poder quase definida na qual as normas do escrever/falar
tenham direção coagida.s gramáticas surgem quando as sociedades atingem
relevância de poder nas mãos de grupos que hipoteticamente, fala a “linguagem
correta” e sobrepõe aos outros.Portanto, não executa a diferenciação entre
gramática normativa e descritiva.Esta diferenciação é argumento aparentemente
válido, porém, na verdade, não conclusivo, formulado para induzir em erro de que
um indivíduo tem a liberdade de falar/escrever como deseja.
                   Expor ou impor a normas que guiam uma língua são atos que não
se diferem.Afinal a língua não é somente um fenômeno lingüístico, que pode sofrer
mudanças Poe leis próprias.A língua é também imprecindivelmente um fenômeno
político social.
                   Tendo em vista a noção de língua como um meio de comunicação
verbal, pode se afirmar que para uma boa comunicação verbal não faz necessária a
memorização de regras de linguagem, nem a disciplina que faz uso de tais regras e
que normalmente, nas escolas, ocupam o espaço do que deveriam ser as aulas de
português: estudos de variados textos agradáveis, análises e interpretação, leitura e
produção de bons textos, finalmente, vivência de forma lúdica e criativa com a
língua.
                   O dom do bem falar/escrever tem relação com gramática.Porém,
com a gramática natural, internalizada de cada falante e essa internalizarão se dá
quando o falante ouve e fala o sistema de regras.No contato individual dessa regra
é que revelará o dom maior ou menor de cada um.Importante é comunicar e para
que isso ocorra é necessário dominar esse sistema de regras do meio de
comunicação.Isso não tem a ver com a gramática normativa, isto é, listas de regras
impostas aos alunos, em um método que censura variante lingüística.Uma
gramática internalizada, aprendida pela prática, pela exibição a atos de escrita e
fala e vivência continua com boa língua.
14



1.4 LÍNGUA, CULTURA E SOCIEDADE.




               É por meio da língua que o ser humano expressa seus
pensamentos e idéias sejam elas do seu tempo, da sociedade ou da comunidade a
que pertence. Cada falante é usuário e transformador da língua, pois contribui para
sua transformação e renovação.Por isso, pode se dizer que, através da língua, se
projeta a cultura de um povo. Entendendo língua como:


                     Sistema lingüístico de que se utiliza uma comunidade falante e que se
                     caracteriza por ser grandemente diferenciado, por possuir alto grau de
                     nivelação por ser veiculo de importante tradição liberal e, às vezes por ter-
                     se imposto a sistemas lingüísticos de sua própria origem (AVAR apud
                     BRANDÃO, 1991, p. 12-3.).


               Cultura como sendo práticas e ações sociais que seguem um
padrão determinado no espaço/tempo.Referem-se a crenças, comportamentos,
valores, instituições, regras morais que permeiam e “preenchem” a sociedade.
Explica e dá sentido a cosmologia social. É a identidade própria de um grupo
humano em um território e num determinado período.
               Dessa forma, de acordo com Câmera Junior (1975) a língua é uma
parte da cultura, porém essa parte se sobressai do todo, com ele se combina e o
resultado dessa cultura é o meio para a língua manifestar, é a condição para ela
continuar a existir. Tendo em vista que ela em qualquer tempo/espaço é dinâmica,
inovadora e transformadora por isso é heterogênea.
               Por entender-se língua como um conjunto das diversas formas de
falar, a língua portuguesa, nomeadamente como o português brasileiro, como
qualquer outra língua, é um fenômeno dinâmico, está sempre em processo de
evolução, portanto é heterogênea, ou seja, não há uma forma única e correta de
falar e sim variedades linguísticas. Por esse fato é que acontece o preconceito da
língua, principalmente á aqueles que não possuem um grau de escolarização
elevado, a exemplo dos falantes das comunidades rurais por falarem de forma
diferente da sociedade urbana. Isso acontece, pois muitas pessoas não sabem que
do ponto de vista, lingüístico, cientifico toda forma de falar tem sua razão de ser,
tem suas normas a serem obedecidas, segue a uma gramática e por mais bem
organizada que seja uma variante lingüística ela vai sempre ser considerada
15



errada, porque não corresponde ao que as forças detentoras de poder na
sociedade consideram certo.
               É perceptível que a classe dominadora discrimina a classe
dominada, que tem seu “falar socialmente desprestigiado”, apesar de se acreditar
que somos todos iguais perante a lei; Como poderia haver “igualdade lingüística” se
não há igualdade social?


                      Os cidadãos apesar de ser declarados perante a lei iguais são na
                      realidade descriminados, já na mesma base do mesmo em que a lei é
                      redigida. A maioria dos cidadãos não tem acesso ao código, às vezes,
                      tem uma possibilidade reduzida de acaso constituída pela escola e pela
                      “norma pedagógica” ali ensinada. Apesar de fazer parte da experiência de
                      cada um o fato de as pessoas serem discriminadas pela maneira como
                      falam [...] (GNERRE, 1985 apud BAGNO 2000, p 55).


               É isso que acontece com a variante urbana em relação à
variante rural por não utilizar a variante lingüística que a sociedade urbana - força
detentora de poder - acredita ser correta, qualquer manifestação lingüística que
escape do falante rural é considerado, pelos preconceituosos linguísticos, “feias”,
“absurdas”, “erradas” e assim estigmatizam-na de “estropiadores da língua”, isso
por que:


                      Fundamenta-se o discurso normativo na suposição de que existiria um
                      padrão lingüístico uniforme e mais elaborado, o qual permitiria aos
                      sujeitos, comunicação mais eficiente e raciocínio mais organizado. A fala
                      popular, expressão de incultura seria uma corrupção da língua culta,
                      devendo ser corrigida por meio do ensino regular e do preceptismo.
                      (BRITO; D’AGELIS, 1998, apud BAGNO, 2000, p. 60).


               É notável que muitas pessoas confundem erro ortográfico com erro
de português, na verdade se diferem bastante , pois o “erro de português que tanto
amedronta, estigmatiza, intimida e humilha os falantes existe, porém ninguém o
comete, pois todo e qualquer falante nativo domina sua língua.Há,no entanto
diferentes gramáticas para diferentes variedades do português.Todas são
perfeitamente válidas em seu contexto e merecem respeito.Todavia o erro
ortográfico existe, porém na escrita e não no ato da fala.Pelo fato dos indivíduos
não possuírem o conhecimento entre um e outro acabam confundindo uma coisa e
outra, gerando conflitos.
16



                Desta forma entenderíamos variedade lingüística como um conjunto
de coisas parecidas, porém com algumas diferenças fazendo relação a um conjunto
de fatores que vão desde a localização dos falantes até a identidade e a
organização sociocultural da comunidade de fala.
                É clara a influência que a língua, um fator social, tem na vida dos
seres humanos. A fala está presente em nosso cotidiano, a todo o momento
fazemos uso da mesma para nos comunicar. Eis a importância da mesma, pois
sem ela não haveria comunicação.
                Na verdade, não é nenhuma novidade se dizer que língua e
sociedade se relacionam entre si, que seria impossível uma existir sem a presença
da outra, já que a finalidade da língua é a de servir como meio de comunicação
entre falantes de uma sociedade e por isso ela costuma ser interpretada como
forma de expressão da cultura de um povo que dela faz uso dentro da sociedade a
que pertence.
                E é por causa da expressão da fala que surgem os preconceitos, por
um individuo se expressar de modo diferente do outro, ou seja, utilizar-se de formas
diferentes,para manifestar uma mesma idéia. É o caso das variantes distintas de
um falante rural comparada ao do falante urbano, o qual este preconceitua aquele
por não fazer uso do mesmo dialeto, isto é, variações faladas por comunidades
geograficamente distintas, sem considerar que não existe um falar certo, existem
alternâncias de variações e que no ato da fala o importante é o entendimento entre
os interlocutores. Portanto:Não devemos, porém, cometer o erro de condicionar
diretamente a língua aos fatores culturais ou raciais, embora se reconheça que
pode haver uma ligação entre eles, em especial no que se refere ao vocabulário de
uma língua (PRETTI, 1994, p.15).
                É   através do    uso    da    língua   que constantemente surgem            as
variedades que não são "erros”, pois qualquer variedade da língua do ponto de
vista estrutural é perfeita e completa. O uso da variação dialetal não constitui um
erro e sim uma diferença pelo uso de outro dialeto. Salienta Meilet afirmando que:


                      Os dialetos, do ponto de vista diacrônico são evoluções independentes de
                      uma mesma língua. Portanto entre língua e dialeto não há uma
                      inferioridade entre este e aquela, mas pertencem a uma mesma grandeza.
                      O que os diferencia é a função sócio-historica que estão investidos (1918,
                      apud ELIA 1989, p.79).
17



               O que os falantes da norma padrão constituem como erro, tem
explicação lógica: na língua falada não há erro, há variações, diferenças
gramaticais em relação à língua culta, pois:


                      O estudo e o ensino de uma língua não podem [...] deixar de considerar -
                      como se fossem não pertinentes - as diferentes instâncias sociais, pois os
                      processos interlocutivos se dão no interior das múltiplas e complexas
                      instituições de uma dada formação social. A língua, enquanto produto
                      desta historia e enquanto condição da produção da historia presente vem
                      marcada pelos seus usos pelos espaços sociais destes usos. Neste
                      sentido a língua nunca pode ser estudada ou ensinada como produto
                      acabado, pronto, fechado em si mesmo. (GERALDI, 1926 apud BAGNO,
                      2000, p. 305).


                Portanto, o uso da variação dialetal não constitui um "erro”, pois,na
língua há variações por isso nenhuma é falada do mesmo jeito em todos os lugares,
assim como nenhum individuo fala a própria língua igual a outro, mesmo
convivendo em uma mesma sociedade.
18



2 METODOLOGIA




2.1 FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS




                Para se fazer uma pesquisa se faz necessário a escolha de uma
abordagem. Nesta pesquisa, os estudos foram desenvolvidos a partir dos
pressupostos metodológicos da Sociolingüística qualitativa, pois nesta pesquisa
busca-se explicar e descrever o uso da língua em um contexto social e cultural.
                Ela pode ser caracterizada como uma tentativa de compreensão
minuciosa dos significados e das características situacionais mostradas pelos
entrevistados, em lugar da produção de medidas quantitativas de características ou
comportamentos (RICHARDSON, 1999, p. 91).
                Uma abordagem qualitativa dá ênfase ao estudo de pequenas
quantidades de falantes, pois o grande número de dados é considerado menos
relevante. Ela dá prioridade à observação, entrevistas, gravação e transcrição da
fala, e análise textual. A observação, nesta abordagem, é considerada relevante
para esclarecer os fatores políticos e sociais que firmam o uso lingüístico.
                A descrição não se baseia em imaginações, desejos nem em
trabalhos que se realizam na estrutura dos objetivos do pesquisador. Descreve-se e
se determina com exatidão definida. O pesquisador torna-se um repórter imparcial
que permite aos entrevistados expressarem a própria definição da situação. Sobre
esta abordagem:


                      A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como na fonte direta de
                      dados e o pesquisador como seu principal instrumento. A pesquisa
                      qualitativa supõe o contato direto e prolongado do pesquisador com o
                      ambiente e a situação que está sendo investigada, via de regra através do
                      trabalho intensivo de campo. (BOGDAN e BIKLON apud LUDKE, 1986, p
                      11).


                É cada vez mais perceptível o interesse por parte de pesquisadores
darem sustentação às suas pesquisas na abordagem qualitativa, isso porque os
problemas são analisados em um ambiente em que eles acontecem de forma
natural, sem nenhuma dominação intencional do pesquisador. Os dados reunidos
19



são de predominância descritiva. Há uma preocupação maior com o processo do
que com o produto. O pesquisador nesta abordagem focaliza de maneira especial o
significado que as pessoas dão às coisas e á sua vida, além da analise dos dados
seguirem um processo indutivo, ou seja, o pesquisador não se preocupa em buscar
verdades incontestes que provem hipóteses definidas antes do começo dos
estudos Essas são as vantagens para a utilização da abordagem qualitativa.




2.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS




2.2.1 Seleção e familiarização com o espaço da pesquisa




                A escolha de um local adequado de pesquisa e a familiaridade do
pesquisador com os membros do grupo a serem entrevistados são aspectos
fundamentais da pesquisa qualitativa. O trabalho em questão está sendo
desenvolvido na zona rural da cidade de Riachão do Jacuípe, especificamente nos
bairros: Jatobá, Barra, Bela Vista, Barra do Vento e Alto do Cruzeiro. Após ter sido
decidido o local das entrevistas, entrou-se em contato com os possíveis
entrevistados, sendo que alguns do sexo masculino rejeitaram a possibilidade de
serem entrevistados.
                No processo de entrevistas, evitou-se influenciar os entrevistados
de forma que pudesse distorcer suas idéias e concepções, pois como sanciona:
FIELDING (1993 apud RICHARDSON 1999, p 96) “o pesquisador participa para
obter informações detalhadas não para ser mais um membro do grupo.O
pesquisador deve manter certo distanciamento para poder obter certas informações
e interpretá-las”. O relacionamento entrevistador/entrevistado é um fator importante,
porém tem que haver bastante cautela, para que o entrevistador não se envolva
demais ou de menos, evitando assim alterações nos dados a serem recolhidos.




2.2.2. Coleta de dados
20



                O pesquisador qualitativo tem diversos dispositivos para a
realização da técnica de coleta de dados, entre eles estão: a observação
participante e não participante grupo de discussão e entrevista.
                Os procedimentos adotados nesta pesquisa foram compostos pelo
“corpus” de análise constituída a partir de um questionário previamente elaborado
reunindo seis perguntas que incluíam algumas expressões de um informante rural
não identificado. Foram realizadas nove entrevistas com informantes da sede do
município de Riachão do Jacuípe, sendo estes quatro do sexo feminino (duas
informantes de escolaridade de ensino médio e duas de nível superior) e cinco de
sexo masculino (três informantes de escolaridade de nível médio e dois de nível
superior), da faixa etária de 20 a 40 anos, previamente selecionados, em que foram
observados os seguintes aspectos: faixa etária, sexo, além de ser adicionado ao
questionamento; nome, grau de escolaridade e religião. Logo após essa seleção,
procedeu-se a gravação das entrevistas, que foram realizadas nos domicílios dos
informantes, com exceção de duas terem sido realizadas no laboratório de
informática do Departamento de Educação-Campus XIV.
                As entrevistas foram padronizadas, ou seja, as perguntas foram
apresentadas a todos os informantes com as mesmas palavras, na mesma ordem,
com exceção de um, que foi acrescentada, a seguinte questão: -“E você acha que
essa forma de falar é considerada errada ou você acha certo falar assim?”, para
induzir a mesma a falar um pouco mais sobre o assunto As entrevistas foram semi-
estruturadas, portanto, assistemáticas, de modo a permitir respostas instantâneas
dos entrevistados. Em seguida foram transcritas grafematicamnete e digitadas.
                As entrevistas tiveram a duração total de 1 h 43 m, assim postas por
ordem:
                1ª entrevista 9 m 23 s
                2ª entrevista 11 m 35 s
                3ª entrevista 15 m 12 s
                4ª entrevista 10 m 10 s
                5ª entrevista 12 m 05 s
                6ª entrevista 8 m 25 s
                7ª entrevista 10 m 52 s
                8ª entrevista 11 m 08 s
                9ª enytrevista 15 m 03 s
21



               Os informantes selecionados serão aqui apresentados a partir das
iniciais de seus nomes e suas respectivas idades, assim distribuídos:
               I.S - 24
               M.S.M.A - 22
               N.C - 40
               D.M.S - 32
               V.S.S - 26
               J.A - 33
               J.R.C.J - 27
               E.L.S.M - 33
               A.-28
22



3 ANÁLISE DE DADOS




                Considerado o que foi visto nos capítulos anteriores e estabelecido
na revisão da literatura de que é por intermédio da linguagem que se dá a
comunicação entre falantes com crenças em comum, um grande numero de
informações parecidas e que pertencem a meios culturais semelhantes dentro de
uma comunidade de fala. A linguagem também permite o reconhecimento e o
entendimento do mundo que os rodeiam. Dentre os meios que o ser humano utiliza
para se comunicar está a fala, sendo esta considerada como um “caráter
emblemático” que permite reconhecer, inserir e classificar o falante em diversos
grupos: social, econômico, gênero, faixa etária, grau de escolaridade, nacionalidade
e naturalidade geralmente utilizadas para estigmatizar e discriminar o individuo na
sociedade onde vive. Apesar de que do ponto de vista estritamente lingüístico não
se justificam julgamentos de valores de uma forma de falar ser melhor ou pior que
outra, uma vez que a linguagem é congênita e usual a todo ser humano. As
diferenças existentes entre um falar e outro são maneiras de “atualizações distintas”,
não isentam de culpa a avaliação estigmatizada e preconceituosa entre falantes de
uma mesma língua pelo fato de se servir das diferentes variantes em uso:


                      É de se esperar dessa forma que na extensão do território brasileiro haja
                      um a unidade lingüística, a língua portuguesa, mas também diversidade, os
                      falares brasileiros. O falante do país não te, a menor dificuldade em
                      entender o falante do sul, embora ocorram diferenças na fonética, na
                      sintaxe e no léxico (LEITE, CALLOU, 2005, p. 8).


                É o que sucede entre os falares urbanos e rurais. Os falantes
urbanos têm idéia clara do falar rural, ainda que haja diferenças. A exemplo das
palavras consideradas erradas e os falantes das mesmas “estropiadores da língua”,
pela informante I.S: “derradeiro para ultimo, decumento para documento, sumana
para semana, na bera para perto.”Isto são opções lexicais e fonéticas próprios de
cada região ou comunidade de fala que não intervém no entendimento, não
compromete a comunicação entre um falante e outro, pois a informante soube
conhecer as idéias de cada enunciado.
                As diferenças existentes - no que diz respeito à variação linguística -
entre as diversas regiões do país e os distintos falares se deram a partir da
23



colonização do Brasil, tendo em vista que a nação brasileira foi formada por um
vasto pluralismo cultural e étnico como afirma a informante D.M.S:


                     “a gente vem de uma colonização de portugueses que se misturou com
                     indígena aí chegaram por trás os ciganos então o Brasil num. num tem
                     padrão único não tem uma língua e sim umas línguas que se falam e há
                     variantes [...] então nosso linguaja é... é... sofre influencia de todas essas
                     etnias Du indígena, do negro, português [...].


               É notável que a história da colonização do país reflete na
diversidade linguística, a qual pouco a pouco veio a ser reconhecida.por outro lado a
sublimação de um país com língua padrão, de uma gramática inalterável ainda
persiste.
               O preconceito lingüístico é um fator intrincado de ser resolvido, já se
encontra alicerçado na sociedade, além de ser alimentado pelos meios de
comunicação de massa que atuam a seu favor, em programas de rádio, televisão,
colunas de jornais, revistas, além de livros que seduzem ensinar o que é “certo” e o
que é “errado”, separando à margem os falantes da norma não culta. Muitas vezes
esses falantes não têm o usufruto de diversos serviços, pelo fato de não saberem
tirar conclusões da linguagem aplicada pelos órgãos públicos.
               O preconceito da língua se dá em torno de que só existe uma língua
portuguesa única-aquela aprendida na escola, imposta pela gramática normativa e
aplicada nos dicionários, qualquer desvio desta tríade escola-gramática-dicionario, é
determinada como erro sob o ponto de vista do preconceito lingüístico. Podemos
observar isto na fala da informante I.S quando diz: ”que eles reduzem muito as
palavras, ou seja, engole muitas letras e acabam falando errado”. Não é certo dizer
que um indivíduo comete erro por falar diferente, em grande equívoco, pois:


                     Ninguém comete erros ao falar sua própria língua materna, assim como
                     ninguém comete ao andar ou ao respirar. Só se erra naquilo que é
                     aprendido, naquilo que constitui um saber secundário, obtido por meio de
                     treinamento e memorização: erra-se ao dar um comando no computador,
                     erra-se ao falar/escrever uma língua estrangeira (BAGNO, 1999, p. 124).


               A língua materna é aprendida e dominada pelos falantes nativos
desde quando começa a falar as primeiras palavras “nosso conhecimento da língua
é ao mesmo tempo altamente complexo, incrivelmente exato e extremamente
seguro” (PERINI, apud Bagno 1999, p124). Portanto não existe um modo de falar
24



errado como afirmou a informante I.S: ”há uma necessidade de leitura, para que eles
possa pelo menos melhorar esse jeito errado de falar”.É certo que há erro de
português, todavia nenhum falante nativo da língua os comete.Existe uma enorme
confusão entre erro de ortografia e erro de português, a exemplo da informante
M.S.M.A quando afirma que os indivíduos ao falarem “diferente querem tentar
modificar de qualquer jeito a NGB”. A informante comete um grande equivoco ao
pronunciar essa frase, pois a língua falada é a verdadeira língua natural, língua que
cada individuo aprende com a família, pais, irmãos, seus grupos sociais. Ela é a
língua que muda, que transforma Poe sua heterogeneidade, portanto não se deve
confundir língua falada com língua escrita, ela que tem um papel fundamental na
história do ser humano.
                O mesmo fato acontece com a informante N.C, quando diz: “[...] ele
realmente está falando errado né? Pra... pra língua portuguesa ta falando errado,
dentro da ortografia né? [...] eu considero um modo de falar errado [...]”. A
informante confunde erro de ortografia com erro de português, sem notar que não
existe erro ortográfico no ato da fala. É necessário compreender que tudo o que é
considerado erro pela gramática normativa tem uma explicação coerente, lógica e:


                       A primeira providência para limpar esse terreno é ter em mente que a
                       ortografia de uma língua , o modo de escrever, não faz parte da gramática
                       da língua [...] milhões de pessoas passam a vida inteira no total
                       desconhecimento das formas escritas de sua língua, apesar de falarem ela
                       perfeitamente empregando sem dificuldades as regras gramaticais dela
                       (BAGNO, 2004, p. 28).


                Outra distorção é a concepção errônea de atribuir grau de
superioridade à linguagem da cidade em comparação ao falar rural ou como se
costuma chamar “o falar da roça’, pelo fato do falante não utilizar a norma culta no
ato da fala. Por este fator é atribuída a culpa à família, como menciona o informante
J.R.C. J:” são fatores que geralmente a própria família que não tem como...por não
ter o coencimento de ensinar a criança , aí a criança continua falando errado [...]”
.Na verdade , o que está acontecendo são distorções devidas a pensamentos da
elite, classe dominadora, detentora do poder, característico de uma sociedade
burguesa, subdesenvolvida, em que uma minoria por obsequio dessa classe se
edifica em juiz de falar o português “correto’.
25



        .       Portanto, podemos reafirmar que há erro de português, porém
ninguém o comete. E esses supostos “erros” são sistemáticos, ou seja, ordenado,
organizado, seguem uma lógica e consiste em regras gramaticais.È isso que
acontece com falantes brasileiros rurais, eles não “erram” por serem “burros”,
“estropiadores da língua”, mas por obedecerem a regras gramaticais próprias da
variedade linguística deles, aprendidas em seu meio, falada por sua família, isto é:


                      ”[...] os próprios filhos no dia-a-dia fica observando os pais falarem então
                      eles não têm como culpar ninguém, só por essa questão das famílias não
                      tem como corrigirem seus filhos, então as crianças vão ficar sempre
                      falando errado e os próprios pais também não tem como corrigir porque
                      não tem esse coencimento, então geralmente o modo de falar não é que a
                      criança quis falar dessa forma é porque eles aprenderam dessa forma
                      então sempre vai ta falando errado (INFORMANTE J.R.C.J).


                Assim os falantes rurais fazem uso das regras gramaticais do seu
próprio meio e quando eles pronunciam:


                      “[...] palavras que tem um” l “e que sonorizam com um” u “e geralmente
                      elas trocam isso por um” r “então” alto “elas costumam falar” arto “é... é...
                      é... enfim todas as palavras em que elas sentem que parece que puxam
                      um pouco pelo” u’ pelo “l” elas preferem trocar por um “r”. (INFORMANTE
                      J. A).


                Eles realizam essa pronuncias de forma sistemática e sempre que
tiverem de pronunciar estas palavras elas pronunciarão com “r” em vez de “l”, pois
isto já está internalizada em seu vocabulário. Na gramática deles não existe o
encontro consonantal com “l”.
                Toda língua apresenta variedades mais prestigiadas que outras.Os
estudos sociolingüísticos oferecem importantes subsídios no intuito de exterminar os
preconceitos da língua e relativar o conceito de erro, ao tentar descrever o que é
considerado pela escola desqualificado e excluindo como manifestação lingüística
genuína.De fato o uso de enunciados do tipo “nós foi”, “nos cheguemo” (Informante
rural não identificado), com primeira pessoa do plural co-sucedendo com o sujeito de
terceira pessoa singular, não é comum entre as classes elitistas do Brasil, no
entanto o falante que utiliza desta forma não está cometendo erro de concordância
como afirma o informante J.R.C.J: “esse informante fala errado, principalmente na
questão onde ele precisa usar o plural quando ele fala” nós “em vez dele falar”
chegamos “ele bota o singular” nós chegou “. Desta forma asseverar que a forma”
26



nós chegou” é um erro, significa para alguns falantes que eles estão proibidos de
fazer a diferenciação intuitiva e inconsciente entre os tempos presente e passado.
               A língua materna entendida como língua primeira , como se sabe é
aprendida sem a necessidade do ensino escolar, é adquirida com o convívio na
sociedade. Assim é que os falantes rurais aprendem a sua língua materna, por
intermédio da família, do convívio em seu meio dentro de sua comunidade de fala,
passam a falar da maneira que ouvem, pois o meio os influenciam:


                     ”[...] o meio que ele vive, na verdade, ele por estar num. num convívio com
                     pessoas que não tiveram escolarização, eles tendem a si acostumar, a ser
                     influenciado por essa linguagem desse meio que ele está inserido, então eu
                     acho que esse é o fator principal que os influencia a falar dessa forma
                     (INFORMANTE V.S.S).


               Então quando um indivíduo diz que um falante nativo não sabe falar
sua própria língua ele confunde língua materna com gramática normativa. A língua
materna de uma comunidade é sua maior herança, possuindo ou não prestígio deve
ser respeitada como menciona a informante M.S.M. A: ”Apesar de na o achar certo,
mas respeito, o importante também é o que eles estão tentando... a mensagem que
eles estão tentando nos passar”. Pois além de ser perfeita do ponto de vista
lingüístico, ela é marca identitária dos falantes de uma comunidade de fala, porém
esta razão não é motivo de juízos antecipados, pois:


                     O respeito pela língua materna de um povo nada tem a ver com o fato de
                     se ensinar ou não se ensinar gramática normativa. O respeito pela língua
                     materna de um povo, ou melhor, pelas línguas maternas de todos os povos
                     indicam o nosso crescimento como seres humanos. Indica nossa
                     capacidade de conviver com as diferenças (BAGNO, 2002, p. 242).


               Isto é o que está faltando nas sociedades urbanas “capacidade de
conviver com as diferenças” do falar das comunidades rurais. Tomar consciência de
que a língua existe em função do coletivo, mas é comum a todos. O seu uso, em
qualquer ato de comunicação será diferente todas as vezes que se realizar a fala.
Dessa forma ao utilizar a língua, um falante fará de forma diferente de outros
indivíduos pertencentes a uma mesma comunidade, todas as vezes que se
comunicar. Observa-se pois, a existência de um numero significativo de variedade
de forma de expressão, seja qual for a língua utilizada para diversos propósitos para
um grande numero de falantes. O único problema da variação remete aos juízos de
27



valores do que é certo ou errado, de que é estranho a maneira de falar diferente do
outro, julgamentos relacionados e que dependem da noção de norma que se tem:


                      [...] muitas vezes soa estranho [...] esses sujeitos devem ta conscientizado
                      [...] por exemplo ele vai ter que seguir um padrão normativo, então eles tem
                      que aprender as duas formas , ele tem que ser respeitado, sim, mas ele
                      tem que se conscientizar que eles tem que aprender uma forma diferente
                      que é aceitada [...]. (INFORMANTE V.S.S)


                Como salienta Sapir, a língua é o processo comunicativo por
excelência em toda sociedade e é muito importante observar que “quaisquer que
sejam as deficiências de uma sociedade primitiva, julgada do ponto de vista da
civilização, sua linguagem inevitavelmente aparece como um aparato de simbolismo
referencial tão seguro, completo e potencialmente criativo como da linguagem mais
sofisticada que conheçamos (SAPIR apud TRAVAGLIA 1986, p.23). Dessa forma é
a variação rural, por mais deficiente que seja, julgada pelo ponto de vista da
sociedade urbana, é tão “completo”,” seguro”, e “criativo”, quanto o falar dos
indivíduos urbanos, em ambos ocorre a comunicação, é bem entendido tanto pelos
falantes da mesma comunidade quanto de comunidades distintas como afirma:


                     “dá claramente para entender o que... Que essa pessoa tá falando, não é...
                     Não é uma... Uma... Um termo... Não há termos desconhecidos, digamos
                     assim, na verdade, dá para se entender, está diferente do padrão
                     normativo, mas da para se entender” (INFORMANTE V.S. S).


                Portanto as palavras que são substituídas pelos falantes rurais: ”até
por inté”, “nóis vai”, “muié ao invés de mulher”, ”barrer ao invés de varrer”
(INFORMANTE V.S. S) são palavras previstas pelas regras da gramática natural, ou
seja, internalizada do falante que as pronunciam, pois o saber lingüístico
internalizado de cada falante é sempre completo, por mais analfabeto que seja um
individuo ele conhece o sistema de todas as regras necessárias para se comunicar.
                É óbvio que há variantes de gramática natural, de acordo a idade,
sexo, origem, nível de cultura e escolaridade, porém todas elas sem exceção
possuem elementos necessários para formular frases e comunicar-se. Naturalmente,
o nível de linguagem pode inserir e classificar indivíduos em determinados grupos
sociais, como aconteceu com o informante rural não identificado que pela forma de
falar foi reconhecido, classificado, como um falante de: [...] baixa escolaridade, que
é... Reproduz a fala provavelmente de pais e avós [...]. (INFORMANTE J.A). E ainda
28



que: “se trata... Inicialmente de uma pessoa idosa, que não passou por nenhuma...
Por nenhuma escolarização, não tem um grau de ascensão social [...].”
(INFORMANTE V. S. S).
                    A gramática natural é flexível e varia. Não existe língua viva; parada
língua parada, é língua morta: ”não pode (a língua) ser imutável: ao contrário, tem de
viver em perpetua evolução, paralela à do organismo social que a criou [...] A
petrificação linguiistica é a morte do idioma [...]” (CUNHA apud LUFT, 2002, p.40). A
diversidade das regras deriva das variedades lingüísticas de localização geográfica,
de tempo, das disposições das camadas sociais, de manifestação individual, porém
a idéia tradicional só aceita a variedade culta, formal, a linguagem padrão, policiada,
mesureira, tendo as variações como erradas. Por esse conceito, ou melhor,
expressando, preconceito, as pessoas consideradas cultas acabam por excluir os
indivíduos não cultos:


                          “[...]. até o seu termo [...] ou culta ou padrão já é um termo que já exclui
                          muita gente, como a gente vive num ambiente que a gente prega a
                          inclusão e não a exclusão, se eu avalio se isso ta certo, se ta errado, só
                          em... em querer avaliar aí eu já vou ta excluindo” (INFORMANTE D.M.S).


                    Pois todas as variedades da língua são importantes, não será
excluído-as, perseguindo-as, negando-as, que as usam que se mudarão alguma
coisa.O falante rural usa a língua como sabe, como aprendeu em seu meio sem se
preocupar com a maneira que se expressa.Filhos de famílias cultas internalizam e
usam a variedade culta, assim como filhos de falantes incultos internalizam e usam a
variedade considerada inculta, embora não sejam do ponto de vista lingüístico
inferior a outra.


                          [...] as pessoas da zona rural não; expressam o seu jeito de ser á sua
                          maneira através da simplicidade da sua fala aquilo que ela costuma
                          expressar no seu dia-a-dia, ela costuma expressar também na cidade com
                          ou quando conversa com qualquer pessoa, seja ela doutor ou não, seja
                          uma pessoa escolada ou não. (INFORMANTE A.)


                    Diante de tudo o que foi observado, é notável a carência de um
ensino menos repressivo da língua materna que desenvolva o espírito crítico do
aluno, imprescindível para discernir as diferenças entre língua falada e língua
escrita, dando primazia a clareza do pensamento e as relações entre língua e
sociedade. Assim, pode-se amenizar as tensões ligadas entre língua falada e língua
29



escrita, entre o que é certo e errado. Ensinar a norma culta deve implicar no mínimo
à inclusão de formas variáveis sejam elas estigmatizadas ou não, de prestígio ou
não, isto é, fazer um exercício progressivo e permanente da democracia lingüística.
No ensino da norma culta para falantes nativos deve ser levado em consideração
como realmente funciona a língua no sentido da comunicação. Para o ensino da
norma culta –papel da escola- devem-se focalizar os estudos semânticos e
pragmáticos das formas variantes para tomarem consciência das diferenças
discursivas existentes , em vez fazerem avaliações errôneas do que é certo e errado
pois:
                Não basta assentar-se que “certo e errado são conceitos relativos,
embora se coloquem como absoluto” (SCHERRE, 1999 apud NEVES 2006, p. 156).
Mais que isso, certo e errado são conceitos impossíveis de estabelecer, a não ser
em campos legislados, como a ortografia, ou em questões que tocam a própria
gramaticalidade, isto é, em referencia as seqüências que escapam à gramática da
língua, seqüências nunca ocorrentes em produções lingüísticas se falante nativo, por
menos letrado que ele seja (NEVES 2006, p. 156).
                Portanto o campo da lingüística e o da disciplina gramatical escolar
não podem se separar, nenhum campo precisa necessariamente substituir o outro,
mas caminhar lado a lado, pois um é base do outro.Então faz-se necessário que se
institua um tratamento escolar ligado ao ensino das atividades ligadas a gramática
da língua materna, não perdendo de vista o natural e eficiente convívio com as
variantes no uso lingüístico, incluindo aí a norma considerada padrão.Dessa forma
haverá uma conscientização para que o aluno saia da escola como um individuo que
respeita e saiba conviver na sociedade com as diferenças sabendo respeitar a
língua materna de um povo, sem preconceitos, sem estigmas, sem desrespeito á
língua e a cultura do outro.
30



4 CONCLUSÃO




                Baseado em todo estudo feito e no que já foi dito anteriormente
sabe-se que a língua por sua heterogeneidade está sujeita a constante mudança,
ela não evolui, não decai, não se torna complexa, ela apenas muda. Essa mudança
se dá pelo fato de que a sociedade também muda, portanto língua e sociedade é
uma realidade que se interrelacionam, ou seja, uma não pode existir sem a outra, já
que a função da língua é a de servir como meio de comunicação entre falantes de
uma sociedade e de expressar a cultura de um povo a qual faz uso dessa língua e
pertence a essa sociedade.
                Dessa forma não podemos afirmar que há uma homogeneização da
língua, tendo em vista que língua é um conjunto de variedades heterogêneas e
essas variedades se dão através das diversas formas de falar de um povo ou do
nosso próprio falar de diversas formas em diversas situações. Percebe-se que a
língua está relacionada á cultura e que esta é um conhecimento adquirido e não
imposto, além de não ser restrita a um determinado grupo social, racial e étnico. Na
verdade as concepções que se tem de língua é danosa e reprime a uma convivência
em sociedade, pois aqueles que utilizam da norma culta achando que é a forma
“correta” de si falar acabam estigmatizando , conceituando como erro o modo de
falar daqueles que utilizam de variações lingüísticas e falam diferente.
                De acordo com a pesquisa desenvolvida chega-se a conclusão que
as pessoas que mais condena a variação rural fazendo avaliação errônea foram
informantes de nível de escolaridade do ensino médio, maioria do sexo feminino
sendo que os informantes de nível superior, a maioria possui uma concepção de
língua a partir do conceito da Sociolingüística, considerando a variação rural como
forma diferente de falar, não como errada ou imprópria. Apenas uma informante de
nível superior, tem noção de língua com a mesma concepção da gramática
normativa, até chega a confundir-se entre as duas.Deixa-se claro que esta
informante encontra-se no primeiro semestre do curso de Letras Vernáculas.
                Dar-se a perceber que a escola não tem trabalhado a inclusão de
formas sucessivas entre gramática normativa e gramática natural, isto é, a gramática
internalizada de cada falante. É perceptível que a escola exclui as formas não-
padrão. De acordo com a pesquisa desenrolada, percebe-se que mesmo os
31



informantes que não são graduados do Curso de Letras Vernáculas, entendem que
a língua é um fator social, ativo, passivo de mudanças e variações. A escola ainda
tem essa deficiência; não trabalhar os alunos de forma que eles possam reconhecer
e aceitar as diversidades linguísticas de uma sociedade, eliminando aos poucos a
confusão que há entre gramática normativa e língua nativa de um povo.
                Para que essa mudança aconteça é necessário considerar o ensino
da língua como um fator social, como parte de um imenso esforço. No Brasil isso
significa aceitar como o ensino de uma segunda língua ou de uma segunda
variedade as variedades de prestígios e da gramática normativa, a ser utilizada
como instrumento de ascensão social. Porém, esse seguimento deve ser levado em
consideração a estrutura línguística tanto das variedades padrão quanto das
variedades populares.Fazendo isso se deve evitar a perda expressiva de
alternativas que dispõe o falante.
                Desse modo pode-se mudar de alguma forma, a concepção errônea
da língua, alterando a avaliação que se faz da variação rural, taxadas de incorretas,
estropiadas, sendo que são apenas mudanças que se dão pelo fato da língua ser
heterogênea e estar em constantes mudanças. Portanto o que é errado hoje pode
ser considerado certo depois. Faz-se necessário eliminar a noção de certo/errado,
pois na língua falada não existe erro nem acerto, há variações, e são tão boas
quanto a variante padrão.
32



                                 REFERÊNCIAS




BAGNO, Marcos. Português ou brasileiro?: um convite à pesquisa. 4 ed, São
Paulo: Parábola Editorial, 2004.


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1991.


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historia das línguas. São Paulo: Ática; 1991.


FAZENDA, Ivani [et. al]. Metodologia Qualitativa na Sociologia. Petrópolis: Vozes,
2003.
33



HAGUETTE, Tereza Maria Frota. Metodologias Qualitativas na Sociologia.
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variação. São Paulo: Contexto, 2003.


MONTEIRO, José Lemos. Para compreender Labov. Petrópolis-RJ: Vozes, 2000.


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Atlas, 1999.


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Lingüística aplicada ao português: sintaxe. 11.ed. São Paulo: Cortez, 2002.


STRASK, R. L. Dicionário de linguagem e lingüística. Trad. Rodolfo Ilari; Revisão
técnica Ingedore Vilaça Koch, Thaís Cristofaro Silva. São Paulo: Contexto, 2004.


TARALLO, Fernando. A Pesquisa Sociolingüística. São Paulo: Ática, 2002.


TRAVAGLIA, Luiz Carlos [et.al]. Metodologia e prática de ensino da língua
portuguesa. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986.

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Avaliação da variação rural

  • 1. 0 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS XIV COLEGIADO DE LETRAS MARIA DILMA CARNEIRO DE OLIVEIRA AVALIAÇÃO QUE OS FALANTES URBANOS FAZEM DA VARIAÇÃO RURAL , Conceição do Coité 2009
  • 2. 1 MARIA DILMA CARNEIRO DE OLIVEIRA AVALIAÇÃO QUE OS FALANTES URBANOS FAZEM DA VARIAÇÃO RURAL Monografia apresentada ao Departamento de Educação, da Uneb campus XIV Conceição do Coité, como requisito parcial para obtenção do grau de Graduação em Licenciatura em Letras Vernáculas. Orientadora: Professora Doutora Lucia Maria de Jesus Parcero. Conceição do Coité 2009
  • 3. 2 AGRADECIMENTOS É maravilhoso, Senhor, ter uma família para amar, pais tão especiais como os que me deste. A vocês pais queridos: Salvador e Dalva, agradeço a benção da vida, a pessoa que sou e aos sonhos que pude realizar. A vocês irmãos: Sineide, Nilma,Joilson,Ailton e Wilson,obrigada pela força e torcida. O professor é um profissional cuja bagagem existencial se estampa naquilo que ele faz: ensinar e aprender, a descobrir, a inventar. A vocês professores: Lúcia Parcero e Deijair meu muito obrigado pela parcela que me contribuiu. Gosto de pensar o afeto como a emoção que torna o outro especial. Algo que é estruturante do sujeito e da relação, algo que desassossega em seu dever, porque o outro não é mais o mesmo depois que é amado. Ao meu amado Gilmar, obrigada por todo carinho, compreensão e ajuda. Na vida somos nutridores de sonhos porque “sem sonho, não há vida possível”. E sem amigos, não há vida suportável. Aos amigos: Genilda, Gildeone,Bella e Keilla, obrigada pela ajuda e pelo incentivo.
  • 4. 3 “Tudo é do pai toda honra e toda glória é dele a vitória alcançada em minha vida” (Pe. Fábio de Melo).
  • 5. 4 Língua portuguesa Última flor do Lácio, inculta e bela, És, a um tempo, esplendor e sepultura: Ouro nativo, que na ganga impura. A bruta mina entre os cascalhos vela. Amo-te assim desconhecida e obscura Tuba de alto clamgor , lira singela, Que tens o trom e o silvo da procela, E o arrolo das saudades e da ternura! Amo teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo! Amo-te, ó rude e doloroso idioma, Em que da voz materna ouve:”meu filho!”, E em que Camões chorou, no exílio amargo, O gênio sem ventura e o amor sem brilho! Olavo Bilac
  • 6. 5 TERMO DE APROVAÇÃO MARIA DILMA CARNEIRO DE OLIVEIRA AVALIAÇÃO QUE OS FALANTES URBANOS FAZEM DA VARIAÇÃO RURAL Avaliação que os falantes urbanos fazem da variação rural. Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciada em Letras Vernáculas, Departamento de Educação (DEDC), campus XIV, Conceição do Coité, Universidade do Estado da Bahia (UNEB), pela seguinte Banca Examinadora: Orientadora: Lúcia Parcero______________________________________________ Professora da UNEB - campus XIV Deijair Ferreira da Silva_________________________________________________ Professor da UNEB - campus XIV Rosana_____________________________________________________________ Professor da UNEB – XIV Conceição do Coité, 03 de abril de 2009.
  • 7. 6 RESUMO A monografia que ora se apresenta versa sobre a avaliação que os falantes urbanos fazem da variação rural, por isso tem como objetivo identificar e analisar a avaliação que os moradores da sede de Riachão do Jacuípe fazem da variante linguistica das comunidades rurais. Para a análise do tema utilizou-se a linha metodológica da Sociolingüística Qualitativa. O estudo foi desenvolvido mediante pesquisa bibliográfica, questionário e de nove entrevistas, pelos quais, após a análise, pode- se perceber que ainda persiste na língua a idéia de certo e errado, gerando assim o preconceito entre falantes cultos e não cultos. Palavras-chave: Língua; Sociedade; Variação Linguistica.
  • 8. 7 ABSTRACT This monography discusses about the opinion of urban speakers regarding rural linguistics variation therefore, the work alms to identify and analyse the avaliation that the residents of Riachão do Jacuípe city do about the linguistics variant found in the rural communities. In order to analyse the theme was utilizated the methodologic guide-line of Qualitive Sociolinguistics. The whole study was developed through bibliographic research, interview questionnaire wich show, after analyse the datas, that persist in the language the idea right and woron..So, it arises the limguistic prejudice among cult and no cult speakers. Key-word: Idiom;Association;Variation Linguistics.
  • 9. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................... 09 1 REVISÃO DA LITERATURA .......................................................................... 11 1.1 HISTÓRIA DA SOCIOLINGÜÍSTICA .......................................................... 11 1.2 A SOCIOLINGUÍSTICA E SEU OBJETO DE ESTUDO .............................. 11 1.3 LÍNGUA E GRAMÁTICA .............................................................................. 12 1.4 LÍNGUA, CULTURA E SOCIEDADE ........................................................... 14 2 METODOLOGIA ............................................................................................. 18 2.1 FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS ........................................................ 18 2.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................... 19 2.2.1 Seleção e familiarização com o espaço da pesquisa ............................... 19 2.2.2. Coleta de dados ....................................................................................... 19 3 ANÁLISE DE DADOS .................................................................................... 22 4 CONCLUSÂO ................................................................................................. 30 REFERÊNCIAS ................................................................................................. 32
  • 10. 9 INTRODUÇÃO Esta pesquisa foi desenvolvida pelo fato de se entender que a língua em qualquer tempo/espaço é dinâmica, viva e está sujeito a mudanças, tendo em vista que é através do indivíduo que ela se concretiza. Dessa forma, podemos afirmar que não há uma homogeneização da mesma, levando em consideração que a língua possui variações que se dá através das diversas formas de falar de um povo ou do nosso próprio falar em diversas situações. As concepções relacionadas à mudança línguistica são danosas e reprimem convivência em sociedade, porque a sociedade em geral, utiliza a norma culta para encontrar “erros” na fala de pessoas que usam variantes próprias de sua região ou de seu grupo social, baseando-se em critérios extralingüísticos tais como etnia, sexo, religião e localidade onde mora, como é o caso das variantes da zona rural: [...] não são bem aceitas por alguns membros da sociedade, uma minoria pertencente a classes privilegiadas, a partir do momento em que essas variedades passam a ser utilizadas por falantes oriundos da zona rural ou dos subúrbios dos centros urbanos, [...] tentando impor uma unidade lingüística existente apenas na imaginação, ou seja, apesar da enorme diversidade e variabilidade apresentada pela língua, no uso cotidiano, falada no Brasil, as pessoas tendem a transformar o idioleto do outro em "erro” (PRETTI, 2000 p. 23). Toda língua exibe variantes, umas mais prestigiadas que outras. Assim, com base nestas suposições, decorre a noção conturbadora de erro ao se descrever o padrão culto como certo e as demais como erradas, gerando o preconceito lingüístico. Os falantes não têm a consciência de que a língua muda constantemente, apesar das mudanças ocorrerem de forma lenta, não atingem um todo, mas sim parte da língua como afirma Faraco: Os falantes normalmente não têm consciência de que sua língua está mudando. Parece que, como falantes, construímos uma imagem da nossa língua que repousa antes na sensação de permanência do que na sensação de mudança (FARACO, 1991, p. 9). Estes fatos justificam o interesse por esta pesquisa, cuja estrutura é composta por três capítulos: O primeiro: revisão da literatura visa apresentar os teóricos que darão suportes e fundamentação aos capítulos seguintes. O segundo
  • 11. 10 ostenta-se da metodologia que demonstra os procedimentos e fundamentos metodológicos utilizados na realização desta pesquisa. O terceiro capítulo exibe a análise dos dados coletados. Após o desenvolvimento dos capítulos expõe-se a conclusão a qual apresenta os resultados obtidos. Neste trabalho nota-se que, a primeira reação dos falantes, principalmente àqueles que possuem uma situação socioeconômica mais elevada e normalmente não são os primeiros a participarem do processo de mudança da língua, têm como negativas as formas inovadoras e tacham de “incorretas”, “feias”, “impróprias” e em conseqüência seus falantes são avaliados mutuamente como “burros”, “ignorantes”, desfiguradores da língua, principalmente quando se refere aos falantes rurais Embora ,linguisticamente falando as formas alternativas sejam tão boas quanto a padrão. Assim afirma Faraco: Os grupos implementadores de mudanças têm geralmente baixos prestigio social e sua fala - inclusive aquilo que é nela inovação - costuma ser marcada de forma negativa pelos grupos privilegiados econômico-social e culturalmente (FARACO, 1991, p.16). Isso acontece pelo fato dos grupos privilegiados não terem uma base lingüística e a percepção que a língua está mudando, propagarem uma atitude negativa em relação às mudanças, entendendo-as como uma natureza de decadência, ou seja, é como se a mudança estivesse empobrecendo a língua, deturpando-a, transformando-a para pior. Pensando assim, a variação linguistica do meio rural é considerada um problema para os falantes da sociedade urbana do município de Riachão do Jacuípe? Qual seria a causa e onde está o erro? Em função de tudo o que foi dito sobre a língua e sua heterogeneidade é que se pretende realizar uma pesquisa, que tem como objetivo identificar e analisar a avaliação que os falantes da sede do Município de Riachão do Jacuípe fazem da variante lingüística das comunidades rurais do município.
  • 12. 11 1 REVISÃO DA LITERATURA 1.1 HISTÓRIA DA SOCIOLINGÜÍSTICA A Sociolinguistica surge na década de 1960 nos Estados Unidos a mercê especialmente dos trabalhos de William Labov.Ela veio dar a conhecer que qualquer língua transforma e sofre mudanças com o tempo e no espaço de acordo com as vissitudes sociais do falante. Embora o aspecto social da língua tenha chamado a atenção desde cedo, tendo relevância desde o trabalho do lingüista suíço Ferdinand de Saussure no início do século XX , foi talvez somente nos anos 1950 que este aspecto começou a ser investigado minuciosamente. Todavia como já foi dito a figura chave foi William Labov, que, nos anos 1960, começou uma série de investigações sobre a variação lingüística que revolucionaram a compreensão de como os falantes utilizam sua língua. 1.2 A SOCIOLINGÜÍSTICA E SEU OBJETO DE ESTUDO Entende-se Sociolingüística como uma subárea da Lingüística. Seus estudos estão voltados para a língua e suas comunidades de fala. Por a língua não ser homogênea, encontram-se formas diversas que tem valor igual no estudo da significação das palavras do vocabulário, da sintaxe e da morfossintaxe (MOLLICA, 2003, p.10). A Sociolingüística considera a variação como seu principal objeto de estudo, julgando-a como regra geral e universal, sujeita à análise e descrita cientificamente. Porém, são várias as áreas que interessa à Sociolingüística tais como: variação e mudança, multilinguismo, contato entre as línguas. Ela considera aspecto social da linguagem, tanto dos pequenos grupos sócio-culturais quanto das comunidades maiores. Como afirma Fairciough:
  • 13. 12 È graças á Sociolinguística que a natureza socialmente constituída da prática lingüística pode ser tomada como premissa geral do estudo crítico da língua. Mas a Sociolingüística é pesadamente influenciada pelas concepções “positivistas” da ciência social: a variação sociolingüística numa determinada sociedade tende a ser vista em termos de conjuntos de fatos a serem observados e descritos usando-se métodos análogos aos da ciência natural (1989 apud Bagno, 2000, p.304). Cabe também a Sociolingüística pesquisar o grau de mutabilidade ou estabilidade da variação, fazer o diagnóstico das variáveis e prever seu comportamento regular e sistemático. Os sociolinguístas têm-se voltado para a análise da sistematicidade, legitimidade e estigmatização. O preconceito linguístico, tem sido um ponto relevante na área, pois ainda permanece nas práticas pedagógicas a idéia de certo/errado, baseando-se no padrão culto da língua. Por isso, os estudos sócio-linguisticos oferecem riquíssimas contribuições para a desconstrução dos preconceitos lingüísticos e de distorcer essa idéia de erro. A sociolingüística oferece diferentes moldes teórico-metodológicos para análise da variação e mudança (MOLLICA, 2003, p.13). A Sociolingüística apresenta três importantes termos que são geralmente confundidos: variedade, variante e variável. A variedade corresponde ao dialeto, o termo variante é utilizado nos estudos de sociolingüística para designar o item lingüístico que é alvo de mudança e a palavra variável é o traço, forma ou construção lingüística cuja realização apresenta variantes observadas pelo investigador. 1.3 LÍNGUA E GRAMÁTICA A gramática é o estudo sistemático dos elementos constitutivos de uma língua: formas, palavras, sons, construções e recursos expressivos. É o arrolamento das normas, que dirigem determinada língua, normas estas que dizem respeito à ortografia, à fonética, à morfologia, à sintaxe e à semântica. Pelo próprio conceito de gramática fica claro que ela só pode existir quando a língua em questão referir-se á uma cultura erudita , ou seja, a uma sociedade que utiliza a escrita e a faça uma das formas de informação entre seus
  • 14. 13 membros ao lado da oralidade .Não dizendo que em uma comunidade que não utiliza a escrita, ou tenha importância menor, não exista uma gramática no sentido amplo do termo.Existe necessariamente, pois o fato de existir normas básicas mínimas é a própria razão do fator chamado língua. Nesse meio tempo, a gramática no sentido restrito subentende a escrita, uma estrutura de poder quase definida na qual as normas do escrever/falar tenham direção coagida.s gramáticas surgem quando as sociedades atingem relevância de poder nas mãos de grupos que hipoteticamente, fala a “linguagem correta” e sobrepõe aos outros.Portanto, não executa a diferenciação entre gramática normativa e descritiva.Esta diferenciação é argumento aparentemente válido, porém, na verdade, não conclusivo, formulado para induzir em erro de que um indivíduo tem a liberdade de falar/escrever como deseja. Expor ou impor a normas que guiam uma língua são atos que não se diferem.Afinal a língua não é somente um fenômeno lingüístico, que pode sofrer mudanças Poe leis próprias.A língua é também imprecindivelmente um fenômeno político social. Tendo em vista a noção de língua como um meio de comunicação verbal, pode se afirmar que para uma boa comunicação verbal não faz necessária a memorização de regras de linguagem, nem a disciplina que faz uso de tais regras e que normalmente, nas escolas, ocupam o espaço do que deveriam ser as aulas de português: estudos de variados textos agradáveis, análises e interpretação, leitura e produção de bons textos, finalmente, vivência de forma lúdica e criativa com a língua. O dom do bem falar/escrever tem relação com gramática.Porém, com a gramática natural, internalizada de cada falante e essa internalizarão se dá quando o falante ouve e fala o sistema de regras.No contato individual dessa regra é que revelará o dom maior ou menor de cada um.Importante é comunicar e para que isso ocorra é necessário dominar esse sistema de regras do meio de comunicação.Isso não tem a ver com a gramática normativa, isto é, listas de regras impostas aos alunos, em um método que censura variante lingüística.Uma gramática internalizada, aprendida pela prática, pela exibição a atos de escrita e fala e vivência continua com boa língua.
  • 15. 14 1.4 LÍNGUA, CULTURA E SOCIEDADE. É por meio da língua que o ser humano expressa seus pensamentos e idéias sejam elas do seu tempo, da sociedade ou da comunidade a que pertence. Cada falante é usuário e transformador da língua, pois contribui para sua transformação e renovação.Por isso, pode se dizer que, através da língua, se projeta a cultura de um povo. Entendendo língua como: Sistema lingüístico de que se utiliza uma comunidade falante e que se caracteriza por ser grandemente diferenciado, por possuir alto grau de nivelação por ser veiculo de importante tradição liberal e, às vezes por ter- se imposto a sistemas lingüísticos de sua própria origem (AVAR apud BRANDÃO, 1991, p. 12-3.). Cultura como sendo práticas e ações sociais que seguem um padrão determinado no espaço/tempo.Referem-se a crenças, comportamentos, valores, instituições, regras morais que permeiam e “preenchem” a sociedade. Explica e dá sentido a cosmologia social. É a identidade própria de um grupo humano em um território e num determinado período. Dessa forma, de acordo com Câmera Junior (1975) a língua é uma parte da cultura, porém essa parte se sobressai do todo, com ele se combina e o resultado dessa cultura é o meio para a língua manifestar, é a condição para ela continuar a existir. Tendo em vista que ela em qualquer tempo/espaço é dinâmica, inovadora e transformadora por isso é heterogênea. Por entender-se língua como um conjunto das diversas formas de falar, a língua portuguesa, nomeadamente como o português brasileiro, como qualquer outra língua, é um fenômeno dinâmico, está sempre em processo de evolução, portanto é heterogênea, ou seja, não há uma forma única e correta de falar e sim variedades linguísticas. Por esse fato é que acontece o preconceito da língua, principalmente á aqueles que não possuem um grau de escolarização elevado, a exemplo dos falantes das comunidades rurais por falarem de forma diferente da sociedade urbana. Isso acontece, pois muitas pessoas não sabem que do ponto de vista, lingüístico, cientifico toda forma de falar tem sua razão de ser, tem suas normas a serem obedecidas, segue a uma gramática e por mais bem organizada que seja uma variante lingüística ela vai sempre ser considerada
  • 16. 15 errada, porque não corresponde ao que as forças detentoras de poder na sociedade consideram certo. É perceptível que a classe dominadora discrimina a classe dominada, que tem seu “falar socialmente desprestigiado”, apesar de se acreditar que somos todos iguais perante a lei; Como poderia haver “igualdade lingüística” se não há igualdade social? Os cidadãos apesar de ser declarados perante a lei iguais são na realidade descriminados, já na mesma base do mesmo em que a lei é redigida. A maioria dos cidadãos não tem acesso ao código, às vezes, tem uma possibilidade reduzida de acaso constituída pela escola e pela “norma pedagógica” ali ensinada. Apesar de fazer parte da experiência de cada um o fato de as pessoas serem discriminadas pela maneira como falam [...] (GNERRE, 1985 apud BAGNO 2000, p 55). É isso que acontece com a variante urbana em relação à variante rural por não utilizar a variante lingüística que a sociedade urbana - força detentora de poder - acredita ser correta, qualquer manifestação lingüística que escape do falante rural é considerado, pelos preconceituosos linguísticos, “feias”, “absurdas”, “erradas” e assim estigmatizam-na de “estropiadores da língua”, isso por que: Fundamenta-se o discurso normativo na suposição de que existiria um padrão lingüístico uniforme e mais elaborado, o qual permitiria aos sujeitos, comunicação mais eficiente e raciocínio mais organizado. A fala popular, expressão de incultura seria uma corrupção da língua culta, devendo ser corrigida por meio do ensino regular e do preceptismo. (BRITO; D’AGELIS, 1998, apud BAGNO, 2000, p. 60). É notável que muitas pessoas confundem erro ortográfico com erro de português, na verdade se diferem bastante , pois o “erro de português que tanto amedronta, estigmatiza, intimida e humilha os falantes existe, porém ninguém o comete, pois todo e qualquer falante nativo domina sua língua.Há,no entanto diferentes gramáticas para diferentes variedades do português.Todas são perfeitamente válidas em seu contexto e merecem respeito.Todavia o erro ortográfico existe, porém na escrita e não no ato da fala.Pelo fato dos indivíduos não possuírem o conhecimento entre um e outro acabam confundindo uma coisa e outra, gerando conflitos.
  • 17. 16 Desta forma entenderíamos variedade lingüística como um conjunto de coisas parecidas, porém com algumas diferenças fazendo relação a um conjunto de fatores que vão desde a localização dos falantes até a identidade e a organização sociocultural da comunidade de fala. É clara a influência que a língua, um fator social, tem na vida dos seres humanos. A fala está presente em nosso cotidiano, a todo o momento fazemos uso da mesma para nos comunicar. Eis a importância da mesma, pois sem ela não haveria comunicação. Na verdade, não é nenhuma novidade se dizer que língua e sociedade se relacionam entre si, que seria impossível uma existir sem a presença da outra, já que a finalidade da língua é a de servir como meio de comunicação entre falantes de uma sociedade e por isso ela costuma ser interpretada como forma de expressão da cultura de um povo que dela faz uso dentro da sociedade a que pertence. E é por causa da expressão da fala que surgem os preconceitos, por um individuo se expressar de modo diferente do outro, ou seja, utilizar-se de formas diferentes,para manifestar uma mesma idéia. É o caso das variantes distintas de um falante rural comparada ao do falante urbano, o qual este preconceitua aquele por não fazer uso do mesmo dialeto, isto é, variações faladas por comunidades geograficamente distintas, sem considerar que não existe um falar certo, existem alternâncias de variações e que no ato da fala o importante é o entendimento entre os interlocutores. Portanto:Não devemos, porém, cometer o erro de condicionar diretamente a língua aos fatores culturais ou raciais, embora se reconheça que pode haver uma ligação entre eles, em especial no que se refere ao vocabulário de uma língua (PRETTI, 1994, p.15). É através do uso da língua que constantemente surgem as variedades que não são "erros”, pois qualquer variedade da língua do ponto de vista estrutural é perfeita e completa. O uso da variação dialetal não constitui um erro e sim uma diferença pelo uso de outro dialeto. Salienta Meilet afirmando que: Os dialetos, do ponto de vista diacrônico são evoluções independentes de uma mesma língua. Portanto entre língua e dialeto não há uma inferioridade entre este e aquela, mas pertencem a uma mesma grandeza. O que os diferencia é a função sócio-historica que estão investidos (1918, apud ELIA 1989, p.79).
  • 18. 17 O que os falantes da norma padrão constituem como erro, tem explicação lógica: na língua falada não há erro, há variações, diferenças gramaticais em relação à língua culta, pois: O estudo e o ensino de uma língua não podem [...] deixar de considerar - como se fossem não pertinentes - as diferentes instâncias sociais, pois os processos interlocutivos se dão no interior das múltiplas e complexas instituições de uma dada formação social. A língua, enquanto produto desta historia e enquanto condição da produção da historia presente vem marcada pelos seus usos pelos espaços sociais destes usos. Neste sentido a língua nunca pode ser estudada ou ensinada como produto acabado, pronto, fechado em si mesmo. (GERALDI, 1926 apud BAGNO, 2000, p. 305). Portanto, o uso da variação dialetal não constitui um "erro”, pois,na língua há variações por isso nenhuma é falada do mesmo jeito em todos os lugares, assim como nenhum individuo fala a própria língua igual a outro, mesmo convivendo em uma mesma sociedade.
  • 19. 18 2 METODOLOGIA 2.1 FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS Para se fazer uma pesquisa se faz necessário a escolha de uma abordagem. Nesta pesquisa, os estudos foram desenvolvidos a partir dos pressupostos metodológicos da Sociolingüística qualitativa, pois nesta pesquisa busca-se explicar e descrever o uso da língua em um contexto social e cultural. Ela pode ser caracterizada como uma tentativa de compreensão minuciosa dos significados e das características situacionais mostradas pelos entrevistados, em lugar da produção de medidas quantitativas de características ou comportamentos (RICHARDSON, 1999, p. 91). Uma abordagem qualitativa dá ênfase ao estudo de pequenas quantidades de falantes, pois o grande número de dados é considerado menos relevante. Ela dá prioridade à observação, entrevistas, gravação e transcrição da fala, e análise textual. A observação, nesta abordagem, é considerada relevante para esclarecer os fatores políticos e sociais que firmam o uso lingüístico. A descrição não se baseia em imaginações, desejos nem em trabalhos que se realizam na estrutura dos objetivos do pesquisador. Descreve-se e se determina com exatidão definida. O pesquisador torna-se um repórter imparcial que permite aos entrevistados expressarem a própria definição da situação. Sobre esta abordagem: A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como na fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento. A pesquisa qualitativa supõe o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada, via de regra através do trabalho intensivo de campo. (BOGDAN e BIKLON apud LUDKE, 1986, p 11). É cada vez mais perceptível o interesse por parte de pesquisadores darem sustentação às suas pesquisas na abordagem qualitativa, isso porque os problemas são analisados em um ambiente em que eles acontecem de forma natural, sem nenhuma dominação intencional do pesquisador. Os dados reunidos
  • 20. 19 são de predominância descritiva. Há uma preocupação maior com o processo do que com o produto. O pesquisador nesta abordagem focaliza de maneira especial o significado que as pessoas dão às coisas e á sua vida, além da analise dos dados seguirem um processo indutivo, ou seja, o pesquisador não se preocupa em buscar verdades incontestes que provem hipóteses definidas antes do começo dos estudos Essas são as vantagens para a utilização da abordagem qualitativa. 2.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 2.2.1 Seleção e familiarização com o espaço da pesquisa A escolha de um local adequado de pesquisa e a familiaridade do pesquisador com os membros do grupo a serem entrevistados são aspectos fundamentais da pesquisa qualitativa. O trabalho em questão está sendo desenvolvido na zona rural da cidade de Riachão do Jacuípe, especificamente nos bairros: Jatobá, Barra, Bela Vista, Barra do Vento e Alto do Cruzeiro. Após ter sido decidido o local das entrevistas, entrou-se em contato com os possíveis entrevistados, sendo que alguns do sexo masculino rejeitaram a possibilidade de serem entrevistados. No processo de entrevistas, evitou-se influenciar os entrevistados de forma que pudesse distorcer suas idéias e concepções, pois como sanciona: FIELDING (1993 apud RICHARDSON 1999, p 96) “o pesquisador participa para obter informações detalhadas não para ser mais um membro do grupo.O pesquisador deve manter certo distanciamento para poder obter certas informações e interpretá-las”. O relacionamento entrevistador/entrevistado é um fator importante, porém tem que haver bastante cautela, para que o entrevistador não se envolva demais ou de menos, evitando assim alterações nos dados a serem recolhidos. 2.2.2. Coleta de dados
  • 21. 20 O pesquisador qualitativo tem diversos dispositivos para a realização da técnica de coleta de dados, entre eles estão: a observação participante e não participante grupo de discussão e entrevista. Os procedimentos adotados nesta pesquisa foram compostos pelo “corpus” de análise constituída a partir de um questionário previamente elaborado reunindo seis perguntas que incluíam algumas expressões de um informante rural não identificado. Foram realizadas nove entrevistas com informantes da sede do município de Riachão do Jacuípe, sendo estes quatro do sexo feminino (duas informantes de escolaridade de ensino médio e duas de nível superior) e cinco de sexo masculino (três informantes de escolaridade de nível médio e dois de nível superior), da faixa etária de 20 a 40 anos, previamente selecionados, em que foram observados os seguintes aspectos: faixa etária, sexo, além de ser adicionado ao questionamento; nome, grau de escolaridade e religião. Logo após essa seleção, procedeu-se a gravação das entrevistas, que foram realizadas nos domicílios dos informantes, com exceção de duas terem sido realizadas no laboratório de informática do Departamento de Educação-Campus XIV. As entrevistas foram padronizadas, ou seja, as perguntas foram apresentadas a todos os informantes com as mesmas palavras, na mesma ordem, com exceção de um, que foi acrescentada, a seguinte questão: -“E você acha que essa forma de falar é considerada errada ou você acha certo falar assim?”, para induzir a mesma a falar um pouco mais sobre o assunto As entrevistas foram semi- estruturadas, portanto, assistemáticas, de modo a permitir respostas instantâneas dos entrevistados. Em seguida foram transcritas grafematicamnete e digitadas. As entrevistas tiveram a duração total de 1 h 43 m, assim postas por ordem: 1ª entrevista 9 m 23 s 2ª entrevista 11 m 35 s 3ª entrevista 15 m 12 s 4ª entrevista 10 m 10 s 5ª entrevista 12 m 05 s 6ª entrevista 8 m 25 s 7ª entrevista 10 m 52 s 8ª entrevista 11 m 08 s 9ª enytrevista 15 m 03 s
  • 22. 21 Os informantes selecionados serão aqui apresentados a partir das iniciais de seus nomes e suas respectivas idades, assim distribuídos: I.S - 24 M.S.M.A - 22 N.C - 40 D.M.S - 32 V.S.S - 26 J.A - 33 J.R.C.J - 27 E.L.S.M - 33 A.-28
  • 23. 22 3 ANÁLISE DE DADOS Considerado o que foi visto nos capítulos anteriores e estabelecido na revisão da literatura de que é por intermédio da linguagem que se dá a comunicação entre falantes com crenças em comum, um grande numero de informações parecidas e que pertencem a meios culturais semelhantes dentro de uma comunidade de fala. A linguagem também permite o reconhecimento e o entendimento do mundo que os rodeiam. Dentre os meios que o ser humano utiliza para se comunicar está a fala, sendo esta considerada como um “caráter emblemático” que permite reconhecer, inserir e classificar o falante em diversos grupos: social, econômico, gênero, faixa etária, grau de escolaridade, nacionalidade e naturalidade geralmente utilizadas para estigmatizar e discriminar o individuo na sociedade onde vive. Apesar de que do ponto de vista estritamente lingüístico não se justificam julgamentos de valores de uma forma de falar ser melhor ou pior que outra, uma vez que a linguagem é congênita e usual a todo ser humano. As diferenças existentes entre um falar e outro são maneiras de “atualizações distintas”, não isentam de culpa a avaliação estigmatizada e preconceituosa entre falantes de uma mesma língua pelo fato de se servir das diferentes variantes em uso: É de se esperar dessa forma que na extensão do território brasileiro haja um a unidade lingüística, a língua portuguesa, mas também diversidade, os falares brasileiros. O falante do país não te, a menor dificuldade em entender o falante do sul, embora ocorram diferenças na fonética, na sintaxe e no léxico (LEITE, CALLOU, 2005, p. 8). É o que sucede entre os falares urbanos e rurais. Os falantes urbanos têm idéia clara do falar rural, ainda que haja diferenças. A exemplo das palavras consideradas erradas e os falantes das mesmas “estropiadores da língua”, pela informante I.S: “derradeiro para ultimo, decumento para documento, sumana para semana, na bera para perto.”Isto são opções lexicais e fonéticas próprios de cada região ou comunidade de fala que não intervém no entendimento, não compromete a comunicação entre um falante e outro, pois a informante soube conhecer as idéias de cada enunciado. As diferenças existentes - no que diz respeito à variação linguística - entre as diversas regiões do país e os distintos falares se deram a partir da
  • 24. 23 colonização do Brasil, tendo em vista que a nação brasileira foi formada por um vasto pluralismo cultural e étnico como afirma a informante D.M.S: “a gente vem de uma colonização de portugueses que se misturou com indígena aí chegaram por trás os ciganos então o Brasil num. num tem padrão único não tem uma língua e sim umas línguas que se falam e há variantes [...] então nosso linguaja é... é... sofre influencia de todas essas etnias Du indígena, do negro, português [...]. É notável que a história da colonização do país reflete na diversidade linguística, a qual pouco a pouco veio a ser reconhecida.por outro lado a sublimação de um país com língua padrão, de uma gramática inalterável ainda persiste. O preconceito lingüístico é um fator intrincado de ser resolvido, já se encontra alicerçado na sociedade, além de ser alimentado pelos meios de comunicação de massa que atuam a seu favor, em programas de rádio, televisão, colunas de jornais, revistas, além de livros que seduzem ensinar o que é “certo” e o que é “errado”, separando à margem os falantes da norma não culta. Muitas vezes esses falantes não têm o usufruto de diversos serviços, pelo fato de não saberem tirar conclusões da linguagem aplicada pelos órgãos públicos. O preconceito da língua se dá em torno de que só existe uma língua portuguesa única-aquela aprendida na escola, imposta pela gramática normativa e aplicada nos dicionários, qualquer desvio desta tríade escola-gramática-dicionario, é determinada como erro sob o ponto de vista do preconceito lingüístico. Podemos observar isto na fala da informante I.S quando diz: ”que eles reduzem muito as palavras, ou seja, engole muitas letras e acabam falando errado”. Não é certo dizer que um indivíduo comete erro por falar diferente, em grande equívoco, pois: Ninguém comete erros ao falar sua própria língua materna, assim como ninguém comete ao andar ou ao respirar. Só se erra naquilo que é aprendido, naquilo que constitui um saber secundário, obtido por meio de treinamento e memorização: erra-se ao dar um comando no computador, erra-se ao falar/escrever uma língua estrangeira (BAGNO, 1999, p. 124). A língua materna é aprendida e dominada pelos falantes nativos desde quando começa a falar as primeiras palavras “nosso conhecimento da língua é ao mesmo tempo altamente complexo, incrivelmente exato e extremamente seguro” (PERINI, apud Bagno 1999, p124). Portanto não existe um modo de falar
  • 25. 24 errado como afirmou a informante I.S: ”há uma necessidade de leitura, para que eles possa pelo menos melhorar esse jeito errado de falar”.É certo que há erro de português, todavia nenhum falante nativo da língua os comete.Existe uma enorme confusão entre erro de ortografia e erro de português, a exemplo da informante M.S.M.A quando afirma que os indivíduos ao falarem “diferente querem tentar modificar de qualquer jeito a NGB”. A informante comete um grande equivoco ao pronunciar essa frase, pois a língua falada é a verdadeira língua natural, língua que cada individuo aprende com a família, pais, irmãos, seus grupos sociais. Ela é a língua que muda, que transforma Poe sua heterogeneidade, portanto não se deve confundir língua falada com língua escrita, ela que tem um papel fundamental na história do ser humano. O mesmo fato acontece com a informante N.C, quando diz: “[...] ele realmente está falando errado né? Pra... pra língua portuguesa ta falando errado, dentro da ortografia né? [...] eu considero um modo de falar errado [...]”. A informante confunde erro de ortografia com erro de português, sem notar que não existe erro ortográfico no ato da fala. É necessário compreender que tudo o que é considerado erro pela gramática normativa tem uma explicação coerente, lógica e: A primeira providência para limpar esse terreno é ter em mente que a ortografia de uma língua , o modo de escrever, não faz parte da gramática da língua [...] milhões de pessoas passam a vida inteira no total desconhecimento das formas escritas de sua língua, apesar de falarem ela perfeitamente empregando sem dificuldades as regras gramaticais dela (BAGNO, 2004, p. 28). Outra distorção é a concepção errônea de atribuir grau de superioridade à linguagem da cidade em comparação ao falar rural ou como se costuma chamar “o falar da roça’, pelo fato do falante não utilizar a norma culta no ato da fala. Por este fator é atribuída a culpa à família, como menciona o informante J.R.C. J:” são fatores que geralmente a própria família que não tem como...por não ter o coencimento de ensinar a criança , aí a criança continua falando errado [...]” .Na verdade , o que está acontecendo são distorções devidas a pensamentos da elite, classe dominadora, detentora do poder, característico de uma sociedade burguesa, subdesenvolvida, em que uma minoria por obsequio dessa classe se edifica em juiz de falar o português “correto’.
  • 26. 25 . Portanto, podemos reafirmar que há erro de português, porém ninguém o comete. E esses supostos “erros” são sistemáticos, ou seja, ordenado, organizado, seguem uma lógica e consiste em regras gramaticais.È isso que acontece com falantes brasileiros rurais, eles não “erram” por serem “burros”, “estropiadores da língua”, mas por obedecerem a regras gramaticais próprias da variedade linguística deles, aprendidas em seu meio, falada por sua família, isto é: ”[...] os próprios filhos no dia-a-dia fica observando os pais falarem então eles não têm como culpar ninguém, só por essa questão das famílias não tem como corrigirem seus filhos, então as crianças vão ficar sempre falando errado e os próprios pais também não tem como corrigir porque não tem esse coencimento, então geralmente o modo de falar não é que a criança quis falar dessa forma é porque eles aprenderam dessa forma então sempre vai ta falando errado (INFORMANTE J.R.C.J). Assim os falantes rurais fazem uso das regras gramaticais do seu próprio meio e quando eles pronunciam: “[...] palavras que tem um” l “e que sonorizam com um” u “e geralmente elas trocam isso por um” r “então” alto “elas costumam falar” arto “é... é... é... enfim todas as palavras em que elas sentem que parece que puxam um pouco pelo” u’ pelo “l” elas preferem trocar por um “r”. (INFORMANTE J. A). Eles realizam essa pronuncias de forma sistemática e sempre que tiverem de pronunciar estas palavras elas pronunciarão com “r” em vez de “l”, pois isto já está internalizada em seu vocabulário. Na gramática deles não existe o encontro consonantal com “l”. Toda língua apresenta variedades mais prestigiadas que outras.Os estudos sociolingüísticos oferecem importantes subsídios no intuito de exterminar os preconceitos da língua e relativar o conceito de erro, ao tentar descrever o que é considerado pela escola desqualificado e excluindo como manifestação lingüística genuína.De fato o uso de enunciados do tipo “nós foi”, “nos cheguemo” (Informante rural não identificado), com primeira pessoa do plural co-sucedendo com o sujeito de terceira pessoa singular, não é comum entre as classes elitistas do Brasil, no entanto o falante que utiliza desta forma não está cometendo erro de concordância como afirma o informante J.R.C.J: “esse informante fala errado, principalmente na questão onde ele precisa usar o plural quando ele fala” nós “em vez dele falar” chegamos “ele bota o singular” nós chegou “. Desta forma asseverar que a forma”
  • 27. 26 nós chegou” é um erro, significa para alguns falantes que eles estão proibidos de fazer a diferenciação intuitiva e inconsciente entre os tempos presente e passado. A língua materna entendida como língua primeira , como se sabe é aprendida sem a necessidade do ensino escolar, é adquirida com o convívio na sociedade. Assim é que os falantes rurais aprendem a sua língua materna, por intermédio da família, do convívio em seu meio dentro de sua comunidade de fala, passam a falar da maneira que ouvem, pois o meio os influenciam: ”[...] o meio que ele vive, na verdade, ele por estar num. num convívio com pessoas que não tiveram escolarização, eles tendem a si acostumar, a ser influenciado por essa linguagem desse meio que ele está inserido, então eu acho que esse é o fator principal que os influencia a falar dessa forma (INFORMANTE V.S.S). Então quando um indivíduo diz que um falante nativo não sabe falar sua própria língua ele confunde língua materna com gramática normativa. A língua materna de uma comunidade é sua maior herança, possuindo ou não prestígio deve ser respeitada como menciona a informante M.S.M. A: ”Apesar de na o achar certo, mas respeito, o importante também é o que eles estão tentando... a mensagem que eles estão tentando nos passar”. Pois além de ser perfeita do ponto de vista lingüístico, ela é marca identitária dos falantes de uma comunidade de fala, porém esta razão não é motivo de juízos antecipados, pois: O respeito pela língua materna de um povo nada tem a ver com o fato de se ensinar ou não se ensinar gramática normativa. O respeito pela língua materna de um povo, ou melhor, pelas línguas maternas de todos os povos indicam o nosso crescimento como seres humanos. Indica nossa capacidade de conviver com as diferenças (BAGNO, 2002, p. 242). Isto é o que está faltando nas sociedades urbanas “capacidade de conviver com as diferenças” do falar das comunidades rurais. Tomar consciência de que a língua existe em função do coletivo, mas é comum a todos. O seu uso, em qualquer ato de comunicação será diferente todas as vezes que se realizar a fala. Dessa forma ao utilizar a língua, um falante fará de forma diferente de outros indivíduos pertencentes a uma mesma comunidade, todas as vezes que se comunicar. Observa-se pois, a existência de um numero significativo de variedade de forma de expressão, seja qual for a língua utilizada para diversos propósitos para um grande numero de falantes. O único problema da variação remete aos juízos de
  • 28. 27 valores do que é certo ou errado, de que é estranho a maneira de falar diferente do outro, julgamentos relacionados e que dependem da noção de norma que se tem: [...] muitas vezes soa estranho [...] esses sujeitos devem ta conscientizado [...] por exemplo ele vai ter que seguir um padrão normativo, então eles tem que aprender as duas formas , ele tem que ser respeitado, sim, mas ele tem que se conscientizar que eles tem que aprender uma forma diferente que é aceitada [...]. (INFORMANTE V.S.S) Como salienta Sapir, a língua é o processo comunicativo por excelência em toda sociedade e é muito importante observar que “quaisquer que sejam as deficiências de uma sociedade primitiva, julgada do ponto de vista da civilização, sua linguagem inevitavelmente aparece como um aparato de simbolismo referencial tão seguro, completo e potencialmente criativo como da linguagem mais sofisticada que conheçamos (SAPIR apud TRAVAGLIA 1986, p.23). Dessa forma é a variação rural, por mais deficiente que seja, julgada pelo ponto de vista da sociedade urbana, é tão “completo”,” seguro”, e “criativo”, quanto o falar dos indivíduos urbanos, em ambos ocorre a comunicação, é bem entendido tanto pelos falantes da mesma comunidade quanto de comunidades distintas como afirma: “dá claramente para entender o que... Que essa pessoa tá falando, não é... Não é uma... Uma... Um termo... Não há termos desconhecidos, digamos assim, na verdade, dá para se entender, está diferente do padrão normativo, mas da para se entender” (INFORMANTE V.S. S). Portanto as palavras que são substituídas pelos falantes rurais: ”até por inté”, “nóis vai”, “muié ao invés de mulher”, ”barrer ao invés de varrer” (INFORMANTE V.S. S) são palavras previstas pelas regras da gramática natural, ou seja, internalizada do falante que as pronunciam, pois o saber lingüístico internalizado de cada falante é sempre completo, por mais analfabeto que seja um individuo ele conhece o sistema de todas as regras necessárias para se comunicar. É óbvio que há variantes de gramática natural, de acordo a idade, sexo, origem, nível de cultura e escolaridade, porém todas elas sem exceção possuem elementos necessários para formular frases e comunicar-se. Naturalmente, o nível de linguagem pode inserir e classificar indivíduos em determinados grupos sociais, como aconteceu com o informante rural não identificado que pela forma de falar foi reconhecido, classificado, como um falante de: [...] baixa escolaridade, que é... Reproduz a fala provavelmente de pais e avós [...]. (INFORMANTE J.A). E ainda
  • 29. 28 que: “se trata... Inicialmente de uma pessoa idosa, que não passou por nenhuma... Por nenhuma escolarização, não tem um grau de ascensão social [...].” (INFORMANTE V. S. S). A gramática natural é flexível e varia. Não existe língua viva; parada língua parada, é língua morta: ”não pode (a língua) ser imutável: ao contrário, tem de viver em perpetua evolução, paralela à do organismo social que a criou [...] A petrificação linguiistica é a morte do idioma [...]” (CUNHA apud LUFT, 2002, p.40). A diversidade das regras deriva das variedades lingüísticas de localização geográfica, de tempo, das disposições das camadas sociais, de manifestação individual, porém a idéia tradicional só aceita a variedade culta, formal, a linguagem padrão, policiada, mesureira, tendo as variações como erradas. Por esse conceito, ou melhor, expressando, preconceito, as pessoas consideradas cultas acabam por excluir os indivíduos não cultos: “[...]. até o seu termo [...] ou culta ou padrão já é um termo que já exclui muita gente, como a gente vive num ambiente que a gente prega a inclusão e não a exclusão, se eu avalio se isso ta certo, se ta errado, só em... em querer avaliar aí eu já vou ta excluindo” (INFORMANTE D.M.S). Pois todas as variedades da língua são importantes, não será excluído-as, perseguindo-as, negando-as, que as usam que se mudarão alguma coisa.O falante rural usa a língua como sabe, como aprendeu em seu meio sem se preocupar com a maneira que se expressa.Filhos de famílias cultas internalizam e usam a variedade culta, assim como filhos de falantes incultos internalizam e usam a variedade considerada inculta, embora não sejam do ponto de vista lingüístico inferior a outra. [...] as pessoas da zona rural não; expressam o seu jeito de ser á sua maneira através da simplicidade da sua fala aquilo que ela costuma expressar no seu dia-a-dia, ela costuma expressar também na cidade com ou quando conversa com qualquer pessoa, seja ela doutor ou não, seja uma pessoa escolada ou não. (INFORMANTE A.) Diante de tudo o que foi observado, é notável a carência de um ensino menos repressivo da língua materna que desenvolva o espírito crítico do aluno, imprescindível para discernir as diferenças entre língua falada e língua escrita, dando primazia a clareza do pensamento e as relações entre língua e sociedade. Assim, pode-se amenizar as tensões ligadas entre língua falada e língua
  • 30. 29 escrita, entre o que é certo e errado. Ensinar a norma culta deve implicar no mínimo à inclusão de formas variáveis sejam elas estigmatizadas ou não, de prestígio ou não, isto é, fazer um exercício progressivo e permanente da democracia lingüística. No ensino da norma culta para falantes nativos deve ser levado em consideração como realmente funciona a língua no sentido da comunicação. Para o ensino da norma culta –papel da escola- devem-se focalizar os estudos semânticos e pragmáticos das formas variantes para tomarem consciência das diferenças discursivas existentes , em vez fazerem avaliações errôneas do que é certo e errado pois: Não basta assentar-se que “certo e errado são conceitos relativos, embora se coloquem como absoluto” (SCHERRE, 1999 apud NEVES 2006, p. 156). Mais que isso, certo e errado são conceitos impossíveis de estabelecer, a não ser em campos legislados, como a ortografia, ou em questões que tocam a própria gramaticalidade, isto é, em referencia as seqüências que escapam à gramática da língua, seqüências nunca ocorrentes em produções lingüísticas se falante nativo, por menos letrado que ele seja (NEVES 2006, p. 156). Portanto o campo da lingüística e o da disciplina gramatical escolar não podem se separar, nenhum campo precisa necessariamente substituir o outro, mas caminhar lado a lado, pois um é base do outro.Então faz-se necessário que se institua um tratamento escolar ligado ao ensino das atividades ligadas a gramática da língua materna, não perdendo de vista o natural e eficiente convívio com as variantes no uso lingüístico, incluindo aí a norma considerada padrão.Dessa forma haverá uma conscientização para que o aluno saia da escola como um individuo que respeita e saiba conviver na sociedade com as diferenças sabendo respeitar a língua materna de um povo, sem preconceitos, sem estigmas, sem desrespeito á língua e a cultura do outro.
  • 31. 30 4 CONCLUSÃO Baseado em todo estudo feito e no que já foi dito anteriormente sabe-se que a língua por sua heterogeneidade está sujeita a constante mudança, ela não evolui, não decai, não se torna complexa, ela apenas muda. Essa mudança se dá pelo fato de que a sociedade também muda, portanto língua e sociedade é uma realidade que se interrelacionam, ou seja, uma não pode existir sem a outra, já que a função da língua é a de servir como meio de comunicação entre falantes de uma sociedade e de expressar a cultura de um povo a qual faz uso dessa língua e pertence a essa sociedade. Dessa forma não podemos afirmar que há uma homogeneização da língua, tendo em vista que língua é um conjunto de variedades heterogêneas e essas variedades se dão através das diversas formas de falar de um povo ou do nosso próprio falar de diversas formas em diversas situações. Percebe-se que a língua está relacionada á cultura e que esta é um conhecimento adquirido e não imposto, além de não ser restrita a um determinado grupo social, racial e étnico. Na verdade as concepções que se tem de língua é danosa e reprime a uma convivência em sociedade, pois aqueles que utilizam da norma culta achando que é a forma “correta” de si falar acabam estigmatizando , conceituando como erro o modo de falar daqueles que utilizam de variações lingüísticas e falam diferente. De acordo com a pesquisa desenvolvida chega-se a conclusão que as pessoas que mais condena a variação rural fazendo avaliação errônea foram informantes de nível de escolaridade do ensino médio, maioria do sexo feminino sendo que os informantes de nível superior, a maioria possui uma concepção de língua a partir do conceito da Sociolingüística, considerando a variação rural como forma diferente de falar, não como errada ou imprópria. Apenas uma informante de nível superior, tem noção de língua com a mesma concepção da gramática normativa, até chega a confundir-se entre as duas.Deixa-se claro que esta informante encontra-se no primeiro semestre do curso de Letras Vernáculas. Dar-se a perceber que a escola não tem trabalhado a inclusão de formas sucessivas entre gramática normativa e gramática natural, isto é, a gramática internalizada de cada falante. É perceptível que a escola exclui as formas não- padrão. De acordo com a pesquisa desenrolada, percebe-se que mesmo os
  • 32. 31 informantes que não são graduados do Curso de Letras Vernáculas, entendem que a língua é um fator social, ativo, passivo de mudanças e variações. A escola ainda tem essa deficiência; não trabalhar os alunos de forma que eles possam reconhecer e aceitar as diversidades linguísticas de uma sociedade, eliminando aos poucos a confusão que há entre gramática normativa e língua nativa de um povo. Para que essa mudança aconteça é necessário considerar o ensino da língua como um fator social, como parte de um imenso esforço. No Brasil isso significa aceitar como o ensino de uma segunda língua ou de uma segunda variedade as variedades de prestígios e da gramática normativa, a ser utilizada como instrumento de ascensão social. Porém, esse seguimento deve ser levado em consideração a estrutura línguística tanto das variedades padrão quanto das variedades populares.Fazendo isso se deve evitar a perda expressiva de alternativas que dispõe o falante. Desse modo pode-se mudar de alguma forma, a concepção errônea da língua, alterando a avaliação que se faz da variação rural, taxadas de incorretas, estropiadas, sendo que são apenas mudanças que se dão pelo fato da língua ser heterogênea e estar em constantes mudanças. Portanto o que é errado hoje pode ser considerado certo depois. Faz-se necessário eliminar a noção de certo/errado, pois na língua falada não existe erro nem acerto, há variações, e são tão boas quanto a variante padrão.
  • 33. 32 REFERÊNCIAS BAGNO, Marcos. Português ou brasileiro?: um convite à pesquisa. 4 ed, São Paulo: Parábola Editorial, 2004. ______. A norma oculta: língua & poder na sociedade brasileira. São Paulo: Parábola, 2003. ______. Preconceito Lingüístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999. ______. Língua Materna: letramento, variação e ensino. São Paulo: Parábola, 2002. ______. Lingüística da Norma. São Paulo: Loyola, 2002. ______. Dramática da língua portuguesa: tradição gramatical mídia e exclusão social. São Paulo: Loyola, São Paulo, 2000. BRANDÃO, Silvia Figueiredo. A Geografia Política no Brasil. São Paulo: Ática, 1991. CAGLIARI, Luis Carlos. Alfabetização e Lingüística. São Paulo: Scipione, 1991. CAMARA JR, Matoso. Língua e Cultura. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1975. DACANAL, José Hidelbrando. Linguagem, Poder e ensino da Língua. 2.ed, Porto Alegre: Mercado Aberto, 1987. ELIA, Silvio. A língua portuguesa no Brasil. São Paulo: Ática, 1989. FARACO, Carlos Alberto. Lingüística Histórica uma introdução ao estudo da historia das línguas. São Paulo: Ática; 1991. FAZENDA, Ivani [et. al]. Metodologia Qualitativa na Sociologia. Petrópolis: Vozes, 2003.
  • 34. 33 HAGUETTE, Tereza Maria Frota. Metodologias Qualitativas na Sociologia. Petrópolis: Vozes. 2003. LEITE, Yonne; CALLOU, Dinah. Como falam os brasileiros. 3. ed, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. LUDKE, M. André, Marli E.D. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. LUFT, Celso Pedro. Língua e liberdade. São Paulo: Editora Afiliada ABDR, 2002. MOLICA, M. C. & BRAGA, M. L. Introdução à sociolingüística: o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2003. MONTEIRO, José Lemos. Para compreender Labov. Petrópolis-RJ: Vozes, 2000. NEVES, Maria Helena de Moura. Que gramática estudar na escola?. 3.ed, São Paulo: Contexto, 2006. PRETTI, Dino. Sociolingüística: os níveis da fala. São Paulo: Edusp, 1994. RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999. SOUZA e SILVA, Maria Cecília Pérez de; KOCH, Ingedore; GRUNFELD, Villaça. Lingüística aplicada ao português: sintaxe. 11.ed. São Paulo: Cortez, 2002. STRASK, R. L. Dicionário de linguagem e lingüística. Trad. Rodolfo Ilari; Revisão técnica Ingedore Vilaça Koch, Thaís Cristofaro Silva. São Paulo: Contexto, 2004. TARALLO, Fernando. A Pesquisa Sociolingüística. São Paulo: Ática, 2002. TRAVAGLIA, Luiz Carlos [et.al]. Metodologia e prática de ensino da língua portuguesa. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986.