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[Carta Brasil-China] A relação comercial entre Brasil e China no Agronegócio nov/12
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[Carta Brasil-China] A relação comercial entre Brasil e China no Agronegócio nov/12

  1. EDIÇÃO 6_ NOVEMBRO 2012 Especial Agronegócio Brasil-China ANÁLISE CEBC PÁG 4 ENTREVISTAS COM A relação comercial Ministro Mendes Ribeiro Filho PÁG 10 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento entre Brasil e China Wilson Mello PÁG 12 no agronegócio Vice-Presidente da BRF BrasilFoods Adalgiso Telles PÁG 16 Diretor de Assuntos Corporativos da Bunge Marcos Molina PÁG 19 Presidente da Marfrig Alexandre Yambanis PÁG 22 Diretor da Unidade de Papel e Celulose da Suzano
  2. é uma publicação trimestral da Secretaria Executiva do Conselho Empresarial Brasil-China, que reúne análises e reflexões acerca dos principais tópicos da agenda bilateral. PRESIDENTE Embaixador Sergio Amaral DIRETORES Alexandre Yambanis (Suzano), Alfredo de Goeye (Sertrading), Fernando Alves (PwC), Jackson Schneider (Embraer), Mauri Seiji Ono (Algar), Pedro Freitas (Veirano Advogados), Rafael Benke (Vale), Roberto Milani (Comexport) e Wilson Mello (BRF - Brasil Foods). CONSULTOR Cláudio Frischtak SECRETÁRIA EXECUTIVA Julia Dias Leite ANÁLISE André Soares, Coordenador de Pesquisa e Análise PATROCINADOR OFICIAL DESTA PUBLICAÇÃO: Thaís Segall, estagiária Tulio Cariello, estagiário INSTITUCIONAL Luciana Gama Muniz, Coordenadora Institucional Giselle Vasconcellos, Analista Institucional O Banco Bradesco apresenta produtos e Karen Grimmer, Estagiária serviços para diferentes perfis de clientes e tam­ bém atua com a proposta de suprir as demandas AUTORES de empresas interessadas em estabelecer e es- Cláudio Frischtak treitar relações comerciais nos mercados brasi- André Soares leiro e chinês. Para isso, o segmento Corporate mantém uma gestão de relacionamento centrali- PROJETO GRÁFICO zada, oferecendo soluções estruturadas – Tailor Presto Design Made e de Mercado de Capitais – e gerentes es- pecializados em visões de risco, mercado e seto- COLABORADORES DESTA EDIÇÃO res econômicos. Os atendimentos são exclusivos Ministro Mendes Ribeiro Filho, Ministério da Agricultura, para que as empresas recebam soluções custo- Pecuária e Abastecimento mizadas de acordo com os negócios realizados. Wilson Mello, BRF - Brasil Foods Ao mesmo tempo, as Agên­ ias e Subsidiárias no c Adalgiso Telles, Bunge Exterior (Nova York, Londres, Grand Cayman, Lu- Marcos Molina, Marfrig xemburgo, Hong Kong, Buenos Aires e México) Alexandre Yambanis, Suzano têm como objetivo a obtenção de recursos no mercado internacional para repasses a clientes, principalmente por meio de financiamento a ope- Para fazer alguma crítica ou sugestão, entre rações de comércio exterior brasileiro. Para mais em contato com a Secretaria Executiva do CEBC: informações acesse o site bradesco.com.br cebc@cebc.org.br/ +55 21 3212-4350/ www.cebc.org.br
  3. EDITORIAL Caro Leitor, A corrente de comércio do agronegócio entre Brasil e China vem apresentando expressivo crescimento nos últimos tempos. Em apenas quatro anos, a China mais do que duplicou sua participação nas exportações brasileiras do agronegócio e deve- rá figurar como principal destino das exportações em 2013. A China, hoje, é o maior comprador de produtos brasileiros como: óleo de soja, óleo de amendoim, algodão, pasta de madeira e celulose. A grande demanda chinesa por alimentos é influenciada pelo crescimento da renda da população e pela migração interna do campo para a cidade, que reconfigura o estilo de vida, antes rural, para agora urbano e o padrão de consumo. Além disso, o 12º. Plano Quinquenal apresenta como objetivo do governo chinês ter o consumo interno como motor do crescimento da China, o que implicará numa redistribuição de renda e em um consequente aumento do poder aquisitivo da população. Esta relação comercial merece especial atenção e suscita alguns questiona- mentos analisados nesta edição da Carta Brasil-China. Qual a representatividade da China na pauta de exportação do agronegócio brasileiro e qual o peso dos produtos do agronegócio brasileiro na pauta de importa- ção chinesa? A elevada concentração das exportações de soja para um único mercado representa riscos? O Brasil possui capacidade de expandir sua produção para atender ao crescente mercado chinês? Quais fatores influenciam a demanda da China pelos produtos agrícolas? Como o governo brasileiro tem trabalhado para apoiar as empre- sas do país nas exportações para a China? Além da análise de dados da balança comercial relativa ao agronegócio, esta Carta apresenta entrevistas com autoridades do setor. Além do Ministro da Agricul- tura, Pecuária e Abastecimento, Mendes Ribeiro Filho, também o Presidente da Mar- frig, Marcos Molina, o Vice-Presidente da BRF - Brasil Foods, Wilson Mello, o Diretor da Unidade de Papel e Celulose, Alexandre Yambanis e o Diretor de Assuntos Corpo- rativos da Bunge, Adalgiso Telles, apontam para a importância do mercado chinês na estratégia destas empresas, e apresentam as barreiras e obstáculos enfrentados para atender a demanda chinesa. Desejamos a todos uma boa leitura. SERGIO AMARAL JULIA DIAS LEITE PRESIDENTE SECRETÁRIA EXECUTIVA CARTA BRASIL-CHINA 3
  4. ANÁLISE CEBC A RELAÇÃO COMERCIAL ENTRE BRASIL E CHINA NO AGRONEGÓCIO Este artigo busca iluminar a questão do agronegócio questões críticas para a demanda futura da China por pro- entre Brasil e China, que constitui um setor de importância dutos relativos ao agronegócio. ímpar na relação comercial entre ambos os países. Porém, deve-se alertar que o texto se limita a apresentar as carac- AS CARACTERÍSTICAS DA RELAÇÃO COMERCIAL ENTRE BRA- terísticas gerais do comércio de produtos relativos ao agro- SIL E CHINA NO AGRONEGÓCIO negócio entre Brasil e China, não se propondo a identificar entraves e oportunidades para o setor em questão nem A corrente de comércio do agronegócio entre Brasil tampouco tecer análises mais aprofundadas sobre possíveis e China vem apresentando expressivo crescimento nos últi- políticas e diretrizes que possam ser elaboradas para apri- mos anos. Enquanto o volume comercializado em 2008 foi morar este comércio entre os dois países. da ordem de US$ 9 bilhões, em 2011 o comércio bilateral rela- tivo ao agronegócio ultrapassou os US$ 18 bilhões, um cres- O trabalho está dividido em quatro seções. Na cimento de 107% em relação a 2008 (Tabela 1). A representa- primeira são apresentadas as características da relação tividade do agronegócio no comércio entre Brasil e China é comercial do agronegócio entre Brasil e China, a exem- crescente. Enquanto em 2008 perfazia 24% do volume total plo da balança comercial do agronegócio, e as pautas de comercializado entre os países, nos primeiros seis meses de exportação e importação relativas a 20 segmentos do 2012, o peso do agronegócio na corrente de comércio foi de agronegócio. A seguir, é feita uma análise sobre a repre- 31% do total (e 51% da pauta de exportações do Brasil para sentatividade da China na pauta de exportação do agro- a China). negócio brasileiro. Logo após, é apresentado o espelho desta análise, no caso, o quão representativos são os pro- Quanto à pauta de importação de produtos pro- dutos brasileiros na pauta de importação do agronegócio venientes do agronegócio chinês, esta é concentrada em da China. E, por fim, serão abordadas as perspectivas para couros e peles (20,3%), algodão e derivados (14,5%), peixes o comércio do agronegócio entre os países, sinalizando as (10,5%) e papel e derivados (9,2%) (Tabela 2). Tabela 1: Balança Comercial Agronegócio Brasil-China Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC); Elaboração: CEBC 4 CARTA BRASIL-CHINA
  5. ANÁLISE CEBC Tabela 2: Pauta de Importação Agronegócio Brasil ->China Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Elaboração: CEBC A pauta de exportação do Brasil para a China relativa de exportação, como soja e pasta de madeira e celulose, têm aos produtos do agronegócio é altamente concentrada nas apresentado elevações de 10% e 4% no preço médio negociado vendas de soja (66,7%), seguida de pasta de madeira e celulose em 2011, em comparação com 2008, respectivamente (Tabela (7,5%) e açúcares (7,3%). Os produtos negociados com a China 3). Quanto aos volumes, constata-se o crescimento acentuado que sofreram variações de preço de forma mais efetiva nos úl- de demanda em Ton (mil) por produtos como papel e derivados timos anos foram açúcares (93%), borrachas (90%) e algodão (92%), soja (87%) e pasta de madeira e celulose (80%) no perí- (80%). No entanto, aqueles mais significativos para a pauta odo de 2008-2011. Tabela 3: Pauta de Exportação do Agronegócio Brasil -> China Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) Elaboração: CEBC CARTA BRASIL-CHINA 5
  6. ANÁLISE CEBC REPRESENTATIVIDADE DA CHINA NA PAUTA DE EXPORTA- ÇÃO DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO PARA O MUNDO A Europa e a China figuram como os maiores destinos A China é o principal destino de produtos como: óleo das exportações brasileiras de produtos relativos ao agro- de soja, óleo de amendoim, algodão, pasta de madeira e ce- negócio (Tabela 4). Entre os US$ 43,9 bilhões exportados lulose. No entanto, deve-se salientar que as vendas de soja do Brasil para o mundo nos seis primeiros meses de 2012, para a China já superaram as vendas de soja para o resto do 24,6% do total foram destinados à Europa e 24,3% do total mundo. Enquanto, em 2008, 48,6% do total da soja exporta- foram para a China, seguidos da América Latina, Oriente Mé- da pelo Brasil foi para a China, em 2011, a participação chine- dio e EUA. Em apenas 4 anos, a China mais do que duplicou sa nas vendas de soja cresceu para 67,1% (Tabela 5). Pode-se sua participação nas exportações brasileiras do agronegó- evidentemente questionar a elevada concentração das ex- cio e deverá figurar como principal destino das exportações, portações de soja para um único mercado, porém, é provável senão em 2012, certamente a partir do a partir de 2013. que este padrão se acentue nos próximos anos, na medida em que se eleva o nível de vida e a demanda de alimentos da população chinesa. Tabela 4: Principais mercados do agronegócio brasileiro Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) Elaboração: CEBC Tabela 5: Participação da China na pauta de exportação do agronegócio do Brasil para o mundo Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) Elaboração: CEBC 6 CARTA BRASIL-CHINA
  7. ANÁLISE CEBC REPRESENTATIVIDADE DO BRASIL NA PAUTA DE IMPORTAÇÃO DO AGRONEGÓCIO DA CHINA Além de apresentar o quanto a China é represen- Dois pontos devem ser sublinhados. Primeiro, a parti- tativa na pauta de exportação dos produtos do agrone- cipação do Brasil no mercado de soja chinês. Apesar de figurar gócio brasileiro para o mundo, vale também indicar o como segundo principal fornecedor, a participação brasilei- peso dos produtos do agronegócio brasileiro na pauta ra vem crescendo nos últimos três anos, partindo de 24,4% de importação da China. do total em 2008, para 36,9% em 2011. Além disso, os EUA já possuem sua capacidade de expansão de produção soja quase A pauta de importação da China de produtos relati- esgotada, precisando optar por utilizar sua terra para a pro- vos ao agronegócio cresceu 99% no período de 2008-2011, dução de soja ou de milho. Já o Brasil, ainda possui capacidade atingindo o patamar de US$ 220 bilhões em 2011. Nesse para expandir a sua produção, tanto de soja quanto de milho, período, o peso do agronegócio na pauta de importação e de forma sustentável. Isso significa que a relação de comér- da China passou de 10,3% para 13,3% do total. Já a fatia cio de soja, hoje, caracterizada pela suposta dependência das do Brasil nas importações chinesas de produtos do agro- exportações brasileiras para a China (correspondentes a 67%), negócio é relativamente pequena, e representa 12,7% do tenda a migrar, nos próximos anos, para uma relação de de- total importado, inferior à Ásia (27,7%) e EUA, com 23,3% pendência mútua, na qual o comércio deste produto entre os do total (Tabela 6). países será superior ao comércio destes com o mundo. Tabela 6: Importações da China de produtos do agronegóciopara o mundo Fonte: ITC Trademap, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) Elaboração: CEBC Com relação à participação dos produtos brasilei- Segundo, haveria, em princípio, oportunidades signi- ros do agronegócio na pauta de importação da China, é ficativas em mercados em que o Brasil representa menos de importante destacar que, entre os 20 segmentos anali- 1% das importações da China e o país importa mais de US$ sados, o Brasil é líder de mercado em quatro deles: óleo 1 bilhão por ano, a exemplo de madeira e derivados (US$ 15 de soja (58,3%), açúcares (57,1%), carne de aves (48,5%) bilhões; 0,4%), peixes (US$ 5 bilhões; 0,1%), frutas (US$ 3 e tabaco (33,4%). Além disso, o Brasil figura como o se- bilhões; 0,0%), leite e derivados (US$ 2,6 bilhões; 0,0%) e gundo principal fornecedor de soja (36,9%), liderado vinhos (US$ 1,4 bilhão; 0,0%). pelos EUA (42,0%) (Tabela 7) 1. 1 Vale ressaltar que, em função das secas nos EUA, em julho de 2012, o Brasil se tornou, momentaneamente, o maior fornecedor de soja para a China. CARTA BRASIL-CHINA 7
  8. Tabela 7 - Participação do Brasil na pauta de importação do agronegócio da China Fonte: ITC Trademap, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) Elaboração: CEBC PERSPECTIVAS PARA A RELAÇÃO COMERCIAL DO AGRONE- GÓCIO ENTRE BRASIL E CHINA As perspectivas para a relação comercial de produ- Office of Population Research, a população da China, hoje tos relativos ao agronegócio entre Brasil e China devem ser de 1,34 bilhão de habitantes, deverá reduzir-se para 1,29 referidas aos fatores que impulsionam suas trocas comer- bilhão em 2050. Dessa forma, o crescimento populacio- ciais: por um lado, a oferta brasileira por esses produtos no nal não deve ser visto em si como um fator determinante médio e longo prazo, e por outro, a demanda da China pelos no crescimento da demanda chinesa por alimentos. mesmos produtos. Sem entrar em detalhes, é possível des- tacar alguns fatores que influenciam a demanda da China Por outro lado, o fenômeno de migração inter- por tais produtos. na constitui grande impulsionador desta demanda. Em 2012, a China se tornou um país mais urbano que rural. O primeiro é o crescimento da população que im- Nos últimos dez anos, mais de 200 milhões de chineses pulsionaria a demanda por alimentos. Sob este aspecto, passaram a viver em zonas urbanas. Este processo terá deve-se notar que a taxa de crescimento da população como consequência direta o aumento da renda per capi- chinesa vem caindo nas últimas décadas, direcionada ta dos chineses, possibilitando que eles consumam mais por políticas ativas do governo central, como a política alimentos que seu estilo de vida rural podia propiciar. do filho único. A taxa que era da ordem de 1,5% a.a na dé- Além disso, de acordo com pesquisadores do Center for cada de 1990, em 2010, encontrava-se em 0,5% a.a, com Chinese Agricultural Policy da Chinese Academy of Scien- tendência a zerar nos próximos 20 anos. Isso significa ces, o processo de urbanização também influencia o tipo que, de acordo com perspectivas da Princeton University de alimentos que os chineses consomem. Enquanto o re- 8 CARTA BRASIL-CHINA
  9. sidente em zona rural consome mais grãos, o que vive em de alimentos para a sua população. Antes de 2000, o go- zona urbana se alimenta mais de produtos intensivos em verno chinês possuía políticas de autossuficiência para mão de obra e capital, como carnes, açúcares, leites e de- grãos, tubérculos e feijões. A partir daquele ano, esta rivados e óleos. Isso significa que, com a progressiva urba- política foi alterada para manter a autossuficiência ape- nização da China, a demanda por esses produtos também nas para a produção de grãos. Com relação à demanda tende a aumentar. chinesa por produtos alimentícios nos próximos anos, pode-se perceber, com base na pesquisa realizada pela Outro fator de ordem macroeconômica que promove- Chinese Academy of Agricultural Sciences, que a China rá o consumo de alimentos nos próximos anos consiste na não será autossuficiente na produção de soja (mais de decisão do governo central chinês, apresentada no 12º Plano 80% deverá ser importado) e açúcares (25% deverá ser Quinquenal, de ter o consumo interno como novo agente do importado) (Tabela 8). desenvolvimento da China. Esta diretiva implica numa me- lhor distribuição de renda, o que possibilitará um maior con- Em conclusão, o Conselho Empresarial Brasil sumo de alimentos por parte da sua população. China ressalta que para o futuro da relação econô- mico comercial Brasil-China, o setor do agronegócio Por fim, para a orientação estratégica das empre- cada vez mais ganhará prioridade na agenda de pla- sas do setor do agronegócio, é preciso levar em conta se nejamento estratégico de empresas e da formula- a China alcançará (ou não) a autossuficiência na oferta ção de políticas por parte do governo. Tabela 8: Demanda da China por produtos alimentícios em 2020 Fonte: Zhou et al, Chinese Academy of Agricultural Sciences 2 2 Zhou, Z.; Tian, W.; Wang, J.; Liu, H.; Cao, L. Chinese Academy of Afri- cultural Sciences (2012) Prospects for Food Demand in China. Apresentação realizada na universidade James Cook University. CARTA BRASIL-CHINA 9
  10. ENTREVISTA ENTREVISTA COM Ministro Sob seu ponto de vista, o Sr. poderia, em breves palavras, co- mentar a relação Brasil-China nestes últimos anos? A relação entre os dois países, no campo agrícola, mudou Mendes muito nos últimos anos. O avanço do comércio é mais evidente: a China se tornou o país que mais importa produtos agrícolas do Brasil e, de janeiro a agosto deste ano, praticamente igualou o valor importado pela União Européia (27 países). Ocorreu tam- Ribeiro bém uma importante aproximação institucional entre os Minis- térios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil e o Ministério da Agricultura e a Administração Geral de Supervisão de Qualidade, Inspeção e Quarentena da China, o que tem permi- Filho tido agilizar o tratamento de temas importantes para o comércio agrícola bilateral. Quais são as iniciativas do MAPA com o objetivo de estreitar os laços comerciais entre os dois países? MINISTÉRIO DA No ano de 2010, o MAPA estabeleceu uma adidância agrícola junto à Embaixada do Brasil em Pequim. Esta medida AGRICULTURA, PECUÁRIA constitui-se em providência de significativa importância para o estreitamento das relações entre os dois países na área agríco- E ABASTECIMENTO la. Representa, portanto, um salto qualitativo com vistas a uma 10 CARTA BRASIL-CHINA
  11. ação governamental brasileira mais efi- Pharm.Co.Ltd e o Consórcio Cooperativo As possibilidades criadas pela ciente na China. Agropecuário Brasileiro (CCAB), consór- expansão do agronegócio brasileiro não cio que reúne mais de 16 cooperativas de estão apenas no campo. Um dos grandes No âmbito da promoção comer- produtores de grãos localizadas em diver- desafios trazidos com o aumento da ex- cial, temos realizado diversas missões à sos Estados brasileiros. Outro exemplo portação de commodities é a logística do China, apoiando o empresariado brasileiro de aproximação entre os dois países, e aí, escoamento da produção. Os sistemas de em ações de benchmarking, prospecção de respondo à sua segunda pergunta, refere- transporte brasileiros são especialmente mercado, e participação nas principais fei- -se ao interesse manifestado pela empresa precários nas novas regiões produtoras, ras de alimentos e bebidas daquele país. CHINATEX, uma das maiores esmagadores região Centro-Oeste e área do Matopiba Nessas feiras, o MAPA promove chinesas de grãos, que procurou o Minis- (Mato Grosso, Tocantins, Piauí e Bahia), e organiza o pavilhão nacional oficial do tério em busca de parcerias com empre- que estão a grande distância dos portos Brasil, sendo que na Feira SIAL China 2012, sas brasileiras. O Ministério por meio da marítimos. As longas distâncias e a alta to- o Brasil foi o país homenageado e a expec- sua Secretaria de Relações Internacionais nelagem da carga favorecem a utilização tativa de geração de negócios resultantes tem atendido a pedidos como esse e o que de sistemas de transportes ferroviários e da participação brasileira apenas neste se percebe é, claramente, o aumento do hidroviários. Há grandes oportunidades de evento ultrapassa a cifra de US$ 40 mi- interesse de empresas chinesas no agro- investimento na criação e operação dessas lhões. negócio brasileiro, o que tende a gerar redes de transportes nos novos pólos do complementaridades estratégicas, pois agronegócio. A China é um mercado muito regulamen- somos grandes produtores e eles grandes tado para alguns produtos do agrone- As economias brasileira e chinesa consumidores. gócio, como carnes e derivados. Como o são complementares. A grande deman- Ministério tem trabalhado em conjunto Um ponto crítico apresentado pelas em- da por produtos da nossa agricultura por com as empresas brasileiras para apoiar presas chinesas que entram em contato parte do nosso parceiro asiático é parte suas exportações para a China? com o Conselho é a questão da compra de uma integração econômica que está de terras por estrangeiros. Recentemen- apenas em seus estágios iniciais. O Minis- O Ministério trabalha em conjunto te, a Advocacia-Geral da União (“AGU”) tério da Agricultura participa da busca de com as empresas brasileiras para apoiar editou o Parecer n.º LA-01 a respeito de sinergias para que a parceria se fortaleça suas exportações para a China por meio condições e limites para a aquisição de cada vez mais. do Sub-Comitê de Agricultura, no âmbito imóvel rural por estrangeiros e equipara- do Comitê de Cooperação e Coordenação A compra de terras deve ser regu- dos. Este foi aprovado em 23 de agosto Sino-Brasileiro de Alto Nível, do Sub-Comi- lada nos próximos meses e o Ministério de 2010 pelo então Presidente da Repú- tê de Supervisão da Qualidade, Inspeção e da Agricultura trabalha para garantir uma blica Luís Inácio Lula da Silva e publicado Quarentena no âmbito da Comissão Sino- legislação equilibrada, que defenda os in- na Imprensa Oficial, tornando-se vincu- -Brasileira de Alto Nível (Cosban) e o Comi- teresses do país sem comprometer a capa- lante para toda a Administração Pública tê Consultivo Agrícola (CCA). Esses fóruns cidade do agronegócio brasileiro de atrair Federal. Muito ainda se discute sobre governamentais permitem a revisão da os investimentos que tanto necessita. esse tema. O Ministro poderia esclarecer agenda bilateral do agronegócio, tratan- para as empresas chinesas interessadas do de áreas específicas, como acesso ao em investir no agronegócio brasileiro o Por fim, é sabido que a China, nas mercado Chinês, acordos de exportação, que é possível ser feito? E o que seria in- próximas décadas, vai intensificar a pesquisa agrícola, cooperação técnica, teressante para futuras parcerias entre sua demanda por alimentos e perder elaboração de protocolos para exportação empresas dos dois países? a autossuficiência de produção em de produtos. diferentes setores (ex. soja, açúca- A questão da compra de terras no Muito se fala sobre os investimentos chi- res, carnes e derivados). E que o Bra- Brasil por empresas estrangeiras tem sido neses no Brasil na área do agronegócio. sil consiste em um grande provedor amplamente discutida nos últimos anos. O que o Ministério tem observado sobre desses produtos para o mundo. Como Recentemente, foi aprovado na Comissão isso? Por acaso, as empresas chinesas o Sr. analisa esta relação no médio e de Agricultura, Pecuária, Abastecimento costumam entrar em contato com o Mi- longo prazo? e Desenvolvimento Rural da Câmara dos nistério manifestando interesse em in- Deputados o substitutivo do deputado O Brasil tem se posicionado como gressar no Brasil? Homero Pereira ao Projeto de Lei 2289/07, grande exportador de produtos agrícolas Considerando-se que o mundo do deputado Beto Faro, que regulamenta e um fornecedor confiável para o merca- hospedará 9 bilhões de pessoas em 2050 a compra de terras brasileiras por pessoas do internacional. Essa é a nossa voca- e que o maior contingente da nova classe e empresas estrangeiras. ção. Nesse contexto, destaca-se a China, média mundial, cerca de 3 bilhões de pes- como já comentado, nosso maior impor- O debate, entretanto, não está soas, segundo dados do Banco Mundial, tador de produtos agrícolas. A pauta com encerrado e novas discussões devem abor- está na China, observamos um interesse a China, porém, tem sido muito concen- dar, particularmente, o tratamento dado crescente deste país em realizar parce- trada em soja. Neste ano, por exemplo, a empresas brasileiras de capital estran- rias com o Brasil no setor do agronegócio a soja em grãos respondeu praticamente geiro. Alguns defendem que elas sejam como forma de garantir sua segurança por 80 % das exportações de produtos consideradas empresas nacionais, outros, alimentar, assim como outros países do do agronegócio brasileiro para o país. empresas estrangeiras. sudeste asiático. Nesse sentido, temos al- Temos feito um esforço para ampliar a guns exemplos de parcerias que estão se É importante notar-se que os im- participação de outros produtos nesse desenvolvendo entre China e Brasil como passes em relação à possibilidade de aqui- comércio. Temos expectativa, também, a carta de intenções assinada recente- sição de terras no país não são impeditivos de recebermos mais investimentos chi- mente entre o governo do Mato Grosso para o estabelecimento de parcerias entre neses no agronegócio brasileiro, o que e o Banco de Desenvolvimento da China empresas chinesas e setores do agronegó- pode nos ajudar a equacionar algumas para o financiamento de ferrovia que li- cio brasileiro. A agroindústria brasileira limitações à expansão da produção no gará o Mato Grosso à Santarém, além de oferece diversas oportunidades de investi- Brasil, em especial no provimento de in- joint-venture firmada entre a empresa de mento aos capitais chineses, que são mui- fra-estrutura nas regiões de expansão da defensivos chinesa Chongqing Huapont to bem-vindos no Brasil. produção. CARTA BRASIL-CHINA 11
  12. ENTREVISTA ENTREVISTA ENTREVISTA COM Gostaríamos de saber o que motivou e como tem sido o ingres- Wilson so da BRF na China. Que tipo de obstáculos vocês enfrentaram e como os superaram? A BRF tinha uma operação comercial e de distribuição que, agora, vocês estão transformando em uma operação industrial, correto? Mello Nós estamos entrando em um momento de preparação para transformar essa operação em uma operação industrial. Mas gostaria de começar dizendo que a história da BRF na VICE-PRESIDENTE DA BRF China é um marco na expansão e transformação da empresa como multinacional. A BRF é a fusão da Perdigão e Sadia, essas empre- BRASILFOODS sas que deram origem à BRF possuíam uma história internacional muito longa e de muita tradição. O movimento que a BRF está fa- 12 CARTA BRASIL-CHINA
  13. zendo é no sentido de expandir-se de uma ciente. Em contrapartida, há uma enorme Do início ao fim, o processo deve ter cultura internacional para uma estrutura população para ser alimentada. Por isso, demorado uns três ou quatro anos. Duran- multinacional em que a sede da companhia a China não é uma ameaça à indústria de te a visita da presidente Dilma, em abril de é no Brasil. alimentos brasileira, diferentemente do 2011, o governo chinês oficialmente abriu que ocorre com outras indústrias, como o país para o mercado brasileiro de suínos. Então, queremos replicar o mesmo têxtil, sapatos e automóvel. Todo mundo A partir deste momento, teve início o pro- modelo de sucesso que a companhia tem deve se preocupar com a China e pensar: cesso de habilitação das empresas para, no Brasil, que se baseia em três pontos: como eu vou competir com esse gigante? depois, também termos que habilitar as produção da proteína animal competitiva, No caso da BRF é: como eu vou atender a plantas no Brasil. Hoje, nem todas as plan- distribuição muito eficiente e capilarizada, esse gigante? tas industriais da BRF são habilitadas para e marca com a qual se agrega valor. a China porque, para tal, é necessária a Justamente para atender a esse merca- visita de uma missão veterinária da China Agregar valor é importante por- do, a BRF precisou ingressar na China. ao Brasil, e isso leva tempo. Eles precisam que a vocação da BRF é a oferta de pro- Como funcionou esta entrada? Quais as combinar com a missão veterinária brasilei- dutos com o máximo de valor agregado. barreiras enfrentadas? ra quais standards serão apreciados, antes Por exemplo, o automóvel resulta de uma dos chineses chegarem aqui. Após esta vi- linha de montagem, na qual diferentes A primeira grande barreira que a sita é feito um relatório, indicando se esta partes e componentes formam um carro. BRF encontra para ingressar em um país, planta está habilitada a vender para a Chi- Já o negócio da BRF é uma linha de des- e na China não foi diferente, é saber se po- na. Há também todo um processo de certi- montagem, que começa com um animal demos ou não ter relação comercial com ficação no qual, quando o produto sai do inteiro e, durante o processo, esse animal ele. A indústria alimentícia tem uma buro- porto, o Ministério da Agricultura verifica se é transformado em vários produtos com o cracia diferente das enfrentadas por ou- a origem do produto refere-se a uma planta máximo de valor agregado. Quando isso tras indústrias. Em algumas delas, é preci- habilitada ou não. já não é mais possível, comercializamos so fazer um requerimento, um pedido, um a commodity. Um exemplo é o pé da ga- teste. Às vezes, é um produto conhecido Existe essa burocracia, e a empre- linha que mandamos para a China – em- ou, então, trata-se de uma peça ou equi- sa pode interferir muito pouco. Toda essa bora seja um produto disseminado cultu- pamento. No caso do alimento, o proces- negociação se dá entre países, é uma ne- ralmente e que os chineses adoram, tem so de habilitar determinado produto para gociação de governos. Por isso precisamos baixo valor agregado. outro país tem uma burocracia que pode sempre do apoio do governo brasileiro, do levar anos, talvez décadas. O Brasil, por Ministério da Agricultura e do Itamaraty Voltando ao ponto da produção exemplo, não pode exportar suínos para que, juntos, são os agentes que fazem esse de proteína animal competitiva, apesar o Japão até hoje. É um processo que está trabalho. Até por isso, hoje, muitas embai- de toda a dificuldade , o Brasil continua há, pelo menos, oito anos entre idas e vin- xadas fora do Brasil têm um adido agrícola. extremamente competitivo na produção das, e acredito que estejamos chegando da proteína animal por uma série de fato- ao fim dele. E o que ocorreu após a abertura do merca- res como: grão, água, sol, terra e mão de do chinês? obra. Por isso, o Brasil é estrategicamente Mas o primeiro grande obstáculo muito importante para a BRF. Outros lu- é obter a autorização para vender o pro- Isso ocorreu em abril de 2011. Apenas gares também são bastante competitivos duto, independente de ter cliente e mer- em outubro de 2011 conseguimos habilitar a na produção de proteína animal, como cado – e nós passamos por isso na China. primeira planta e, em dezembro de 2011, EUA, Argentina e, no médio prazo, alguns Conseguimos, primeiramente, a liberação quando saiu a autorização para exportar, países da América Latina, assim que resol- para vender frangos, depois para carne fizemos o primeiro embarque. Foram seis verem problemas fitossanitários. Nós fi- suína e, hoje, a China é um país onde nos- meses para um processo que engloba a vin- zemos um movimento, ano passado, para sos produtos podem ser vendidos. da de uma delegação chinesa para visitar as produzir proteína animal pela primeira plantas, a certificação e a habilitação. É ne- vez fora do Brasil, na Argentina. Estamos Quanto tempo demorou para que vocês cessário ser paciente, mas isto faz parte da abatendo hoje 200 mil cabeças de frango/ pudessem vender suínos? dinâmica do processo. dia, enquanto, no Brasil, abatemos 7 mi- lhões de cabeças de frango por dia. E como é a competição por essa indús- tria na China? No que se refere à China, eu não a considero um competidor para o Brasil na indústria de alimentos porque não tem competitividade na produção da proteína animal. A China não conta com terra, nem água e nem sol de maneira efi- CARTA BRASIL-CHINA 13
  14. ENTREVISTA Esta autorização para exportar se refe- duto. Este é o momento de abrir espaço to local, distribuição forte e marca. ria à matéria-prima? para a empresa. Como foi a identificação desse parceiro Sim, matéria-prima e alguns cor- Claro, pois caso contrário sua capacidade chinês? Vocês já estavam lá há alguns tes, tentando se diferenciar da commodi- produtiva não poderia ser aproveitada. anos. Na China, em vários setores, como ty. Porém, no Oriente Médio, onde, hoje, por exemplo, o automobilístico, é necessá- o negócio da BRF é muito bom, também Portanto, a estratégia macro da rio ter um parceiro chinês com mais de 51% começamos assim. Aos poucos vamos BRF – do ponto de vista desta busca por do negócio. Isso se aplicou ao seu setor? abrindo espaço e apresentando nosso novos mercados – é produzir a proteína produto. Vale lembrar que as barreiras animal no lugar onde ela é competitiva – O que aconteceu no caso da China sanitárias de um país são mais ou menos ou seja, no Brasil – e, então, agregar valor é algo que acontece com a BRF normal- rigorosas a partir da sua necessidade. A nos mercados onde temos atuação. Isso mente. Primeiro encontramos clientes China se abriu para os suínos brasileiros significa que a BRF manda a matéria pri- ou parceiros comerciais compradores de porque, pela primeira vez na história mi- ma para a China, o Oriente Médio e todos matéria-prima e, depois de conhecer vá- lenar da China, ela teve um déficit entre a os mercados, e a processa localmente, rios, escolhemos aquele com quem temos produção e o consumo local. Esse consu- com os ingredientes e temperos específi- mais afinidade e que dispõe de melhor es- mo aumentou para 54 milhões e 500 mil cos para, acima de tudo, atender ao gosto trutura. Além disso, outro critério é a go- toneladas de suíno por ano, e o país pro- local. Após este processamento, a BRF vernança. Nós somos uma empresa aber- duziu 54 milhões. Isso abriu um spread de conta com uma distribuição e uma mar- ta e com controle difuso, de modo que o 500 mil toneladas de necessidade; é um ca localmente fortes. Este processo está parceiro precisa ser transparente. mercado enorme. Este déficit de produ- mais avançado no Oriente Médio, para ção é muito próximo do total que o Brasil onde as vendas feitas a partir do Brasil Nosso plano é chegar ao estágio exportou ano passado – 540 mil! atingem aproximadamente 2,5 bilhões de de ter uma fábrica e esse plano inclui o dólares. parceiro local. Hoje a joint venture tem o E isso é apenas 1% do consumo deles, de foco na distribuição. Como o plano de ne- 54 milhões. Já com relação à China, tínhamos gócios com eles é de 5 anos, durante esse uma plataforma basicamente comercial, período, pretende-se que haja a realiza- Exato: 1% do consumo deles. Este um escritório comercial de vendas que ção de uma fábrica. consumo deve crescer, e os chineses não buscava oportunidades. Os planos da BRF vão conseguir atendê-lo. são para, primeiramente, ampliar esse Na China não houve essa obriga- trabalho, que é comercial puro, para um ção legal de um parceiro majoritário, mas Então, há uma situação favorável para a processo também de distribuição. Para funciona como uma obrigação comercial, BRF neste mercado. tal, fizemos uma joint venture com um uma vez que é muito mais fácil acessar grande player no ambiente de negócios esse mercado quando se tem um parceiro Sim, é favorável, mas é importante da China. Esta é uma empresa que tem que já o conhece do que começar do zero. estar lá com alguém que já conheça o mer- uma governança coorporativa, ou seja, Acredito que não tenha havido necessida- cado chinês. Por isso, a BRF optou por in- é uma empresa listada na bolsa de Hong de de um parceiro comercial majoritário gressar através de uma joint-venture com Kong. Independente do fato do seu capi- para este setor devido à demanda por ali- a empresa Dah Chon Hong. Por exemplo, tal majoritário ser do governo, ela tem um mentos que eles têm. muitos dos clientes que queremos con- histórico, com bom nível de governança, quistar já são atendidos por esse nosso conforme identificamos. O senhor trouxe um fator interessante: sócio com outros produtos, de modo que a necessidade como motivador. Eles essa parceria facilita nossa inserção e con- A Dah Chon Hong não é uma em- precisam alimentar o povo e a tendência tato com os clientes. presa só de alimentos. Tem um setor de atual é de redução das áreas rurais e agrí- transporte e possui também outros negó- colas; e as cidades estão se expandindo. O senhor estava nos contando que a BRF cios. Somos parceiros e sócios no processo Em outubro do ano passado, pela primei- encontra-se em uma fase de transição de distribuição. Vamos mandar o produto ra vez, a população chinesa se tornou de uma venda da commodity para a es- para lá e começar a atender ao cliente final. mais urbana do que rural, ainda sendo truturação de uma rede de distribuição Assim, também descobriremos como aces- 51% urbana e 49% rural. efetiva na qual a BRF vai ter o controle sar o varejo e o atacado local. Uma vez com compartilhado com uma empresa chine- esse conhecimento do mercado, deixare- Essa necessidade de espaço rural sa, uma fase prévia à efetiva transforma- mos de exportar commodity e passaremos têm levado os chineses à África, em busca ção, correto? a exportar o produto dentro da caixa com de alternativas de terras fora da China. Mas marca e com maior valor agregado. Quan- creio que o grande desafio deles é descobrir Exatamente. Essa é uma transição do estivermos no estágio da marca como uma forma de reter o homem no campo. necessária e muito importante, pois não uma das mais difundidas do país, a nossa adiantaria a BRF ter uma produção local intenção é investir em uma fábrica na Chi- Nesse ponto, a BRF no Brasil tem sem o conhecimento do mercado e sem na e desenvolver este modelo, em que se um papel fundamental. Somos o grande ponto de venda disponível para seu pro- tem matéria-prima no Brasil, processamen- exemplo de como manter o homem no 14 CARTA BRASIL-CHINA
  15. ENTREVISTA campo. Temos 60 fábricas no Brasil, to- a pessoa não pode comprar um imóvel na um alto nível de sofisticação como pre- das no interior. Apenas uma delas situa- cidade; ela pode no máximo ser um tra- ciso no Brasil, por que ainda há espaço -se em uma cidade considerada grande, balhador migrante, que vai para lá, fica para produtos básicos, como a salsicha e Uberlândia. As outras 59 fábricas estão na fábrica e volta. a mortadela, entre outros. em cidades pequenas, de 50 mil/100 mil habitantes. Quando a BRF ingressa na ci- Os chineses possuem uma carac- É totalmente diferente do que a dade, leva consigo o fornecedor de grãos, terística importante: eles percebem o que BRF faz no Brasil, onde, por exemplo, 98% como a Bunge ou a Cargill, e também as precisa ser feito e têm muita disciplina dos lares brasileiros têm acesso à salsicha. cooperativas, o supermercado e o hotel para colocar em prática. Essa característi- Neste contexto, não é possível vender para o funcionário ficar. Em suma, leva o ca é fundamental para superar o desafio mais salsicha, de modo que, para aumen- desenvolvimento. pelo qual o governo chinês tem passado, tar as vendas, é preciso inventar novos que se refere à dificuldade enfrentada produtos. No Brasil, o objetivo é inovação. Por exemplo, em 2009, a última pelo governante ao ver que existe ainda Enquanto que, na China, os produtos bási- grande fábrica da BRF foi construída na uma boa parte da população sem acesso cos ainda possuem espaço para crescer. cidade de Lucas do Rio Verde. Com nossa a bens que ele teria condições de dar. Mas chegada, uma cidade que tinha 35 mil ha- se ele acelerar este processo criará um A BRF já chegou a mapear o que o con- bitantes hoje tem 60 mil e vive uma situa- problema maior. sumidor chinês está buscando? Quais as ção de explosão habitacional e comercial, características do consumo deles? sendo uma das cidades com maior renda Por isso, o governante chinês tem per capta do estado. Também fizemos que conviver com situações que, do pon- Essa inteligência é o que estamos um trabalho de comparar o IDH da cidade to de vista financeiro, não seriam neces- buscando hoje. Atualmente, o nosso escri- onde estamos com o de cidades do mes- sárias. Ele poderia levar mais água, mais tório comercial pesquisa quais produtos mo porte e na mesma região. O IDH sem- acesso e mais comida para determinadas poderiam ser ofertados e como acessar pre é maior na cidade onde a empresa está regiões, porém, ele geraria um consu- possíveis clientes. Para isso, é fundamen- porque gera essa movimentação. Então, o mo que não conseguiria suprir. Então, o tal estar lá, convivendo. grande desafio é encontrar alternativas governo chinês faz escolhas, como qual para manter o homem no interior. parte do país deve ser prestigiada agora Um exemplo dessa mudança e so- e para onde levar o desenvolvimento, em fisticação, no caso do Brasil, é o aumento No caso da China, o processo de detrimento de outra região que permane- do consumo de pratos prontos congelados urbanização é muito rápido. Nos últimos cerá como está. Apenas quando uma re- que elevou a penetração da BRF nos lares anos, mais de 200 milhões de chineses se gião está organizada e controlada passa- brasileiros de 5% para 45%. Isso tem muito mudaram para zonas urbanas. -se para a próxima. É uma escolha e eles a ver com o acesso de mais pessoas a micro- são muito disciplinados para isso. -ondas. Sair do freezer e ir para o forno con- Na verdade, esse êxodo acontece vencional não funciona. Este padrão de porque a chance de ascensão é maior Parece que essa maneira progressiva de consumo muda conforme o consumidor ad- na cidade que no campo. Deste modo, o executar reformas começa com experi- quire maior renda. Outros fatores também chinês que tem ambição vai para a cidade mentos que, quando bem sucedidos, são influenciam os hábitos de consumo, como e isso aconteceu no Brasil, também, na ampliados. Quais seriam as perspectivas as famílias modernas, as famílias sem fi- década 1960/70. da BRF para a China? lhos, o jovem solteiro que sai de casa, a mu- lher que trabalha fora. Na China não será A única diferença é que a migração na A BRF tem a perspectiva da China diferente. A BRF vai passar por um processo China é controlada. Existe o sistema de como um país que cresce e cuja população de aprendizado, desenvolvimento, e cresce- Hukou – quem é do interior não pode vi- gigantesca não tem acesso aos nossos rá junto com o mercado e com o consumi- ver na cidade. Se o registro é do interior, produtos. Nesse cenário, não preciso de dor chinês. CARTA BRASIL-CHINA 15
  16. ENTREVISTA ENTREVISTA COM Adalgiso O senhor poderia falar um pouco sobre a história da Bunge no Brasil e seu relacionamento com a China? Telles O Brasil apresenta uma tradição relevante em ope- rações de commodities agrícolas, e a Bunge é uma empresa de agronegócio e alimentos que tem um viés principalmente exportador. Estamos no Brasil desde 1905, onde a empresa cresceu consideravelmente em diversos segmentos, sobre- DIRETOR DE ASSUNTOS tudo no que chamamos de agronegócio expandido, cabendo ressaltar que contamos com uma plataforma processadora CORPORATIVOS DA BUNGE no mercado doméstico muito forte. 16 CARTA BRASIL-CHINA
  17. No entanto, o principal resulta- enquanto a parte de processamento sileiro, por meio do Ministério do Meio do da empresa advém das exportações. seria feita preferencialmente na China, Ambiente, da Embrapa e do próprio Mi- No período entre 2009 e 2010, por exem- por gerar emprego e renda para o país. nistério da Agricultura. plo, a Bunge teve um faturamento na or- Desta forma, os chineses trazem de fora dem de 15 bilhões de dólares no Brasil, uma matéria-prima importante e pouco Dessa forma, a Bunge Brasil sendo que metade desse valor vem das cultivada internamente, para transfor- conta com projetos de sustentabilida- exportações, especialmente da soja e má-la em derivados, como óleos e ali- de, como no caso da moratória da soja seus derivados, como farelo e óleo. mentos. do Rio Amazonas, no qual criamos um Se a comercialização do milho fosse processo de governança de desenvolvi- Fazendo uma retrospectiva dos puramente uma decisão comercial, por mento sustentável para a região. Além últimos 10 anos, o grande cliente era o questões de preço, o processamento disso, a Bunge está envolvida em outros bloco europeu, mas, recentemente, a seria feito no Brasil? projetos de sustentabilidade, como na China tem apresentado uma alta taxa produção sustentável de alimentos na de crescimento, ganhando um peso Fazendo um retrospecto de cur- região do cerrado. cada vez maior no que diz respeito às to prazo, vemos que a Bunge tem hoje exportações. relações com mais de trinta países. Essa questão da sustentabili- A empresa visa utilizar seu processo dade é um elemento realmente muito Por ser uma trading global, a produtivo nos lugares onde possa en- importante, uma vez que já se estima Bunge apresenta uma relação direta contrar os menores custos, seja para que, entre hoje e 2050, a população com a China, que se dá normalmente via processamento, transportes ou outras mundial passe de 7 bilhões para 9,2 operações internacionais da empresa, etapas da produção. Então, como nes- bilhões de habitantes, conforme o que por sua vez são sediadas no escritó- tes quase duzentos anos a empresa já último estudo feito pela FAO. E é im- rio central em Genebra, onde é criado o possui uma série de operações esta- portante perceber que existe uma casamento ideal entre processamento belecidas, seria mais interessante, do mudança de perfil muito significativa e consumo. Por exemplo, é possível ex- ponto de vista econômico, originar em porque se olharmos há 100 anos, havia portar para a China por meio do Brasil, países como Brasil, Argentina e Esta- 2,5 bilhões de habitantes, e aproxima- dos EUA ou da Argentina, transitando dos Unidos. damente 70% da população era rural. pelos portos que apresentem as melho- E as projeções para 2050 indicam que res condições na relação custo/benefí- O senhor comentou que cerca da me- 70% da população será urbana. Isso cio para chegar ao cliente final. tade da produção da Bunge no Brasil muda não só a questão de poder aqui- é exportada. Levando em conta que sitivo, mas também o perfil de con- Poderíamos dizer, então, que a Bunge os chineses preferem importar maté- sumo e de processo produtivo, sendo apresenta um processo de otimização ria prima para o processamento inter- que a China representa uma parcela contínua? no, pode-se dizer que a Bunge China considerável no surgimento desse fe- acaba sendo o principal cliente da nômeno. Exatamente. A Bunge acaba sen- Bunge Brasil? do um grande operador logístico. No Então com essa mudança de Brasil, a produção da empresa não é di- Individualmente, sim. O prin- perfil, é possível perceber que a pro- retamente dedicada para a China e, sim, cipal destino exportador tem sido a dução nos próximos 40 anos deverá visa atender aos mercados com melho- China. equivaler ao mesmo volume que foi res condições de custo e benefício. Por consumido pela humanidade nos úl- exemplo, em um dado momento, pode De que forma a Bunge vê a entrada dos ser mais interessante enviá-la para a chineses no mercado de soja no Brasil Europa em função do custo de frete, e principalmente, da Chongqing Grain disponibilidade e preço. E assim, pode- Group no nordeste? mos acabar por enviar produtos para a FAZENDO UMA RETROSPEC- China pelo Pacífico, via costa oeste dos Não vemos como problema. A TIVA DOS ÚLTIMOS 10 ANOS, Estados Unidos. Contudo, de forma ob- nossa preocupação é que o mercado jetiva, a China, hoje, é o principal cliente esteja aberto a todos para privilegiar a O GRANDE CLIENTE ERA O individual da Bunge do Brasil. questão da competitividade. Outro pon- BLOCO EUROPEU, MAS, RE- to que a Bunge olha com atenção espe- Como se dá exatamente a comercializa- cial, não somente como uma política da CENTEMENTE, A CHINA TEM ção de milho com a China? empresa, mas também como uma estra- APRESENTADO UMA ALTA tégia de negócio competitivo, é a ques- TAXA DE CRESCIMENTO, GA- Nós enviamos o milho e o pro- tão da promoção do desenvolvimento cessamos na China. Costumamos rece- sustentável. Esse é um ponto muito NHANDO UM PESO CADA ber representantes do governo chinês, relevante, no qual firmamos uma série VEZ MAIOR NO QUE DIZ RES- que percebem o Brasil principalmente de compromissos e pactos, tanto com como um parceiro exportador de grãos, a sociedade quanto com o governo bra- PEITO ÀS EXPORTAÇÕES. CARTA BRASIL-CHINA 17
  18. ENTREVISTA timos 10.000 anos, o que representa um mo sul, como no caso da Austrália, que lação à carga tributária, o que faz com impacto brutal, mostrando a necessida- apresenta uma vasta região desértica, que o Brasil frequentemente beneficie de de um cuidado especial com a produ- e a África, que apesar de ter terras mag- importações em detrimento de expor- ção de alimentos. Considerando a tecno- níficas, tem problemas geopolíticos tações. logia atualmente disponível no mundo, permanentes, sendo sempre um inves- existem capacidades limitantes. timento de risco por não possibilitar a Quais são as perspectivas futuras da formação de uma estabilidade significa- Bunge na relação Brasil-China, ou em Por exemplo, para se produzir tiva no curto e médio prazo. relação à China, nos próximos 5 -10 alimentos em escala da forma conven- anos? cional, é necessário o uso de fertilizan- Uma exceção seria o Brasil, que tes, como o famoso complexo NPK de apresenta grandes volumes de água As perspectivas são as melho- nitrogênio, fósforo e potássio. Todos doce, além de ter um clima magnífico e res possíveis. A China é um país que esses elementos vêm de processos de uma terra muito interessante, que pro- tem crescido a uma taxa absoluta- mineração e de extração. O nitrogênio picia três ou mais safras por ano. mente atípica com relação ao resto do vem principalmente da amônia e de de- mundo. Antes da crise, o crescimento rivados de petróleo, que vêm do solo; o E como o senhor avalia a logística para girava acima de 20% ao ano e mesmo fósforo e o potássio vêm basicamente o escoamento dos grãos do Brasil para com a crise internacional continuou de minas, e muitas delas de profundi- a China? relativamente alto, cerca de 8%, o que dade superior a mil metros, sendo que é excepcional para um mundo em re- o potássio representa outro problema Em muitos pontos relevantes cessão. Além disso, é um país que con- para o Brasil, devido à escassez do ele- a essas atividades o Brasil ainda apre- ta com uma população que está au- mento no país. sente gargalos sérios, como no caso da mentando seu poder aquisitivo e seus logística, que afeta profundamente a padrões de consumo; uma economia E como o Brasil se posiciona em ter- questão agrícola brasileira, justamente que tem mostrado um vigor contínuo, mos de competitividade por terra no por contar com uma matriz invertida. e que não teme os altos e baixos de mundo? Nos EUA, por exemplo, a produção é lar- outras economias. É um país que tem gamente escoada pelo meio aquaviário, sua política econômica sob controle, Esse tema é hoje uma questão como no caso do Mississipi, enquanto muito bem organizada e estruturada, de prioridade. No caso dos EUA, toda a no Brasil ainda é utilizado majoritaria- o que faz com que a China tenha um área agrícola já está ocupada, e só have- mente o sistema rodoviário. Este, além grande potencial de crescimento. Por ria uma solução: reduzir o plantio de um de ser poluente e de baixa capacidade, outro lado, o Brasil apresenta um po- tipo de grão em detrimento de outro. utiliza uma estrutura logística muito tencial de produção de alimentos ex- deficiente, o que comumente leva a des- cepcional, o que possibilita aos dois Com relação à Europa, ocorre perdícios da produção agrícola, na faixa países uma parceria proveniente da o mesmo. No velho continente, quase dos 3% a 8% nas estradas, representan- existência de demandas complemen- não sobrou nada. Há alguns pontos de do um número absurdo para um país tares. vegetação nativa que são conservados, com quase 150 milhões de toneladas de mas praticamente toda a área agrícola produção por ano. disponível já está ocupada. Levando em conta uma média Em relação à Ásia, como no caso de 5% de desperdício, haveria algo em da antiga União Soviética e do norte torno de 4 bilhões de dólares por ano só da China, é importante atentar para o de perdas de produtos agrícolas. Existe problema do frio, que perdura por lon- também outro problema na parte de gos períodos e prejudica a atividade infraestrutura logística, representa- agrícola. Na China, por exemplo, existe do pelos portos brasileiros, sendo que a questão da disponibilidade de água essa ineficiência já trouxe despesas na como outro grande problema. No norte ordem de 1 bilhão de dólares ao agrone- do país, por exemplo, além da questão gócio brasileiro. das baixas temperaturas, os lençóis fre- áticos são muito baixos, e tendem cada Esses gargalos dependem intei- vez mais a diminuir. Há também outro ramente do Brasil, uma vez que o país agravante, relacionado à má distribui- deve melhorar com urgência sua infra- ção de nutrientes no solo, que represen- estrutura para conseguir exportar mais, ta outro desafio. ou seja, é uma questão interna. Além disso, existem outros gargalos, como Então, juntando isso com outras a insegurança jurídica, especialmente partes do globo, observamos o extre- do ponto de vista das mudanças em re- 18 CARTA BRASIL-CHINA
  19. ENTREVISTA ENTREVISTA COM Marcos Quais as principais razões que levaram a Marfrig a esta- belecer operações na China? Molina A China está hoje entre os quatro países de maior consumo de carnes no mundo, configurando-se em um grande mercado de proteínas animais cuja demanda au- mentará exponencialmente nos próximos anos. É também o maior mercado consumidor de carnes suínas do mundo PRESIDENTE DA MARFRIG e o segundo maior produtor de carnes de frango. Segun- CARTA BRASIL-CHINA 19
  20. do o Departamento de Agricultura dos mou duas joint-ventures na China no guintes benefícios: previsibilidade EUA (USDA), em 2012 os chineses de- ano passado com o objetivo de desen- de custos, garantia de fornecimen- verão consumir 52,60 kg per capita de volver oportunidades de fornecimento to, segurança alimentar e produção carnes, a maior parte (73%) de carnes e de distribuição de alimentos no mer- com responsabilidade social. suínas, seguida de frangos (19%) e de cado chinês. bovinos (8%). Atualmente, a planta produz cerca A COFCO Keystone Foods Su- de 220 mil aves/dia e será capaz de Além disso, o varejo chinês vem mu- pply Chain Investment Company foi fornecer 50% das necessidades de dando rapidamente e conta hoje criada para explorar oportunidades de matéria-prima da unidade de pro- com as principais cadeias de hiper- negócio em serviços de logística e dis- cessamento da Keystone na China. mercados do mundo, que convivem tribuição de alimentos na China. O em- Essa unidade já atende a mais de competitivamente com as pequenas preendimento combina o conhecimento 2,6 mil restaurantes na China, Hong vendas de bairro. do mercado local da COFCO com a expe- Kong e Japão. riência da Marfrig e da Keystone Foods Dessa forma, acreditamos que o em distribuição de alimentos e desen- Além disso, foi iniciado o traba- mercado chinês reúne hoje as condições volvimento de clientes internacionais, lho de posicionamento da Seara, marca necessárias para figurar no topo da es- criando uma empresa de destaque em global do Grupo Marfrig, nas maiores tratégia da nossa empresa, uma vez que logística multi-temperatura na China. redes de supermercados das principais combina oportunidades de crescimento e canais comerciais estabelecidos e em constante evolução. Qual foi a estratégia adotada para iniciar as operações na Chi- na (joint-venture, licenciamento, aquisição, escritório comercial?) Quais as razões para a adoção des- ta estratégia? A Keystone Foods, subsidiária da Marfrig focada no segmento de food service (alimentação fora do lar) está presente na China há mais de 20 anos oferecendo produtos às princi- pais cadeias de restaurantes e fast food do país. Com a aquisição da Keystone O projeto prevê a construção de cidades chinesas, evidenciando a estra- Foods em 2010, o Grupo Marfrig apro- centros de distribuição, frota de trans- tégia de construção da marca no País. veitou a experiência e conhecimento de portes e plataforma de tecnologia de sua subsidiária no país e decidiu focar informação de suporte, com previsão Vale dizer que além da produção no mercado chinês. A divisão Seara Foo- para entrada em operação em 2014 em local, o Grupo Marfrig também exporta, ds passou então a comercializar produ- cidades estratégicas da China, incluin- por meio da Seara, carnes de aves para tos in natura e industrializados na Chi- do a capital Pequim e Shenzhen (onde a China das suas unidades no Brasil lo- na e foi a primeira empresa brasileira a fica a planta de produtos processados calizadas nos municípios de Lapa (PR), exportar carne suína para este mercado. da Keystone Foods China) e nas cida- Caxias (RS), Itapiranga (SC), Nuporanga des de Chengdu, Xangai, Shenyang e (SP) e Sindrolândia (MS). Em novembro A estratégia do Grupo Marfrig Wuhan. do ano passado, através de sua unidade na China é baseada na experiência Itapiranga (SC), a Seara foi pioneira ao e conhecimento da empresa nos di- Já a Keystone-Chinwhiz Poul- atender todos os requisitos de exporta- versos mercados de proteína em que try Vertical Integration foi criada ção e a realizar o 1º embarque de carnes atua (carne bovina, suína, aves) e seu com o objetivo de verticalizar a ope- suínas brasileiras para a China. conhecimento em integração vertical ração de aves na China e atender de aves para com o objetivo de formar às necessidades dos clientes com Dessa forma, a Marfrig está po- um empreendimento de integração de produtos industrializados de alta sicionada estrategicamente para aten- proteínas no País. qualidade e custos competitivos. der à crescente demanda por alimen- O empreendimento é uma solução tos no mercado chinês, atuando desde Dessa forma, o Grupo Marfrig, completa de integração vertical e o processamento até a distribuição por intermédio da Keystone Foods, for- cadeia de fornecimento e traz os se- aos seus clientes. 20 CARTA BRASIL-CHINA
  21. ENTREVISTA Quais as principais dificuldades nos pri- vimento na cidade de Shenzhen respon- utilizando as operações na China como meiros meses de operações na China? sável pelo desenvolvimento de novos base de exportações e ampliando os ca- conceitos para os principais clientes na nais de distribuição, além de investir no Por se tratar de um mercado em China. desenvolvimento de produtos e ações constante evolução, a China exige mui- de marketing. ta agilidade e flexibilidade na tomada Com base nestes estudos sobre de decisões. Além disso, foi necessário a dinâmica do mercado local em cons- Entre as principais estratégias realizar extensas e detalhadas pesqui- tante evolução e no comportamento da companhia na China está a consoli- sas de maneira a entender a cultura de do consumidor, a empresa desenvolve e dação da marca Seara no varejo chinês, negócios local assim como o compor- comercializa produtos exclusivos para a tornando a marca cada vez mais conhe- tamento do consumidor chinês, que é China dado que o chinês valoriza cortes cida entre os consumidores locais não muito diferente dos países ocidentais. e miúdos de aves e suínos que são pou- só por ser “a marca do sol vermelho”, co demandados em outros países, tais mas pela elevada qualidade e seguran- No entanto, as diferenças cul- como pés de frango, asas, bicos de aves, ça de seus produtos. turais não foram vistas pela empresa patas de suínos etc. como apenas dificuldades, mas como Sem contar, é claro, que como mar- oportunidades. Uma pesquisa enco- Como foi a relação com o governo chi- ca patrocinadora da Copa do Mundo da mendada pela empresa apontou que a nês durante este processo de interna- FIFA de 2014, esperamos um crescimen- logomarca Seara é muito bem percebida cionalização? A empresa teve dificulda- to de escala do consumo dos produtos pela cultura chinesa. Criada há 50 anos des em estabelecer suas operações? Se da Seara no varejo chinês até o Mundial e atualizada no decorrer do tempo, a lo- sim, como a empresa ultrapassou estas no Brasil. gomarca da Seara tem o vermelho como dificuldades? cor predominante, o que na percepção local é interpretada como um símbolo Encontramos algumas dificulda- de felicidade, saúde e sorte. des no início das operações. No entan- to, através de um trabalho de colabora- Os chineses espontaneamente ção com as autoridades e da experiência passaram a se referir a ela como “a marca de nossa equipe de diretores locais, con- do sol vermelho” e, em decorrência disto, seguimos ultrapassar os obstáculos. a empresa decidiu inserir no Logo o texto em mandarim “Hong Tai Yang”, que signi- Quais os principais concorrentes na fica “Sol Vermelho” [ver abaixo]. China? Eles são estrangeiros ou empre- sas chinesas? Os principais concorrentes na China são empresas estrangeiras. Como você compara as operações da empresa com os concorrentes chine- ses? Eles estão menos avançados em termos de tecnologia? Quais as práticas/gestões de negó- cios adotadas pela Marfrig para en- Em termos de tecnologia de pro- frentar as dificuldades na China? cessamento, estamos à frente de nos- sos concorrentes. A principal estratégia adota- da foi promover o engajamento e o Quais são as perspectivas da empresa empoderamento (empowerment) no mercado chinês? da equipe de diretores locais por meio da adoção de uma estratégia Como dito anteriormente, a global da companhia com foco na China é um mercado com um potencial execução local. imenso de crescimento no consumo de proteínas animais. Dessa forma, o A Marfrig possui um centro de P&D na país ocupa um lugar de destaque na China? A empresa desenvolve novos estratégia do Grupo Marfrig. produtos para o mercado chinês? Esperamos crescer de maneira O Grupo Marfrig possui um time sólida tanto no mercado de food service de especialistas de pesquisa e desenvol- local como nos demais países asiáticos, CARTA BRASIL-CHINA 21
  22. ENTREVISTA ENTREVISTA COM Alexandre Gostaríamos de começar a entrevista abordando a decisão da Suzano em se instalar na China. O que motivou o ingresso? Quais foram os principais marcos em sua trajetória no mercado chinês? Yambanis O nosso caso é bem simples. O mercado chinês para celulose é o primeiro mercado do mundo e nós temos como política comercial não vender através de tradings. Então, assim como temos presenças diretas na Europa e nos EUA, optamos por abrir um escritório na China. Nós temos repre- sentações comerciais no mundo inteiro e atendemos aos DIRETOR DA UNIDADE nossos clientes de maneira direta. Vale destacar que ter um canal direto na China é de importância primordial, pois lá as DE PAPEL E CELULOSE relações tendem a ser muito personalizadas. Contrariamen- te ao que muitos pensam, o mercado chinês não possui ca- 22 CARTA BRASIL-CHINA
  23. ENTREVISTA racterísticas de um mercado atacado, onde se compra sem conhecer o cliente, mesmo no caso de commodities. Deve- mos ter um cuidado muito especial com nossa relação com os clientes chineses. A Suzano possui um escritório de representação na China, com aproxima- damente 11 pessoas, e que tende a cres- cer. Lá não fazemos somente a venda de celulose, mas também realizamos o sour- cing de matérias-primas. Temos uma ope- ração de pesquisa, independente desse escritório - uma companhia que a Suzano comprou em 2010, chamada FuturaGene, que está montando um laboratório bas- Não, pois não vendemos através pectiva dos vários Ministérios e das pes- tante completo. de tradings chinesas. soas envolvidas era de 20 anos à frente. Eles têm uma visão de que é ne- Porque decidiram implantar um labora- E o Governo Chinês, de alguma forma cessário desenvolver o mercado interno. tório lá? tentou influenciar no sentido de indicar Sabem que seu único risco real é o risco A empresa já possui uma tradição parcerias com tradings chinesas? político e, por isso, correm contra o tem- de pesquisa na China, em várias áreas do po para alcançar um desenvolvimento Não, absolutamente não. Nosso agronegócio chinês. Então é uma conti- harmônico em todo o país e não só na negócio é direto, somos os produtores nuidade desta atividade. área costeira ou no eixo Xangai-Pequim. e vendemos exclusivamente o produto. É impressionante como a infraestrutura Voltando a falar de celulose, a Assim, não houve interferência de ne- que foi construída, que, inclusive, é ocio- tendência na China é de crescimento. O nhuma forma. sa por enquanto, foi feita para os próxi- país, um de nossos mercados alvo, é o Nós temos uma imagem de mar- mos 20 anos. que mais investe em produção de papel ca bastante forte na China e investimos e tem projetos de crescimento bastante nela. A esmagadora maioria das nossas ambiciosos – serão aproximadamente 5 Do ponto de vista da política externa, vendas é feita através de contratos de milhões de toneladas de papel produzi- você teria alguma recomendação espe- longo prazo, nos quais prezamos muito das nos próximos 20 meses. cífica ou comentário sob a perspectiva o relacionamento com os nossos clien- estratégica de construção da relação? Em nosso escritório na China, tes na China. Este é um fator muito im- trabalhamos com profissionais chineses, portante para nós. Vou à China três ou Acho que os acordos bilaterais se- pois acreditamos que o executivo local quatro vezes por ano, ou até mais se for toriais deveriam ser reforçados. Somos fluente em mandarim é de grande impor- necessário, para supervisionar a equipe, um produtor importante de matérias- tância na interlocução com os clientes. visitar os principais clientes ou imple- -primas e queremos continuar a suprir o Realizamos, ainda, intercâmbios exe- mentar nossa política comercial. mercado chinês, visando colaborar com cutivos entre a China e o Brasil, trazen- o processo de industrialização do país. do executivos chineses para treinar em Os chineses são importadores de papel No entanto, não queremos exportar só nosso país e levando os brasileiros para também ou basicamente celulose? matéria-prima e nos tornar importadores serem capacitados na China. Buscamos, de produtos chineses acabados, de alta com isso, um aprofundamento de nossas Basicamente celulose. Os chine- tecnologia. relações comerciais e um entendimento ses são exportadores de papel. maior do mercado chinês. Acho que os acordos bilaterais Estamos muito satisfeitos com setoriais seriam indicados para buscar o Até o presente momento, não te- a nossa operação, pretendemos crescer equilíbrio entre as duas economias. Con- mos sentido significativas dificuldades significativamente e não se exclui a pos- tinuaremos exportando soja, minério de em nosso negócio com a China. Pelo con- sibilidade de, no futuro, realizar uma ferro e celulose, mas, queremos também trário, sentimos uma grande facilidade joint venture na China, apesar de não exportar mais aviões e produtos intensi- para fazer negócios com eles. termos planos no momento. Acredita- vos em tecnologia. mos muito no aspecto cultural da cons- trução da relação nossa com as empresas Nessa operação da FuturaGene, eles es- chinesas. Falando sobre papel e celulose, se pensás- tão atuando em rede com universidades semos em um acordo bilateral nesse se- ou institutos de pesquisa chineses? É primordial tentar entender um pouco a cultura chinesa. São 5 mil anos de tor, haveria algo mais especifico para am- Sim, bem lembrado. Esse é um cultura, que fazem com que os chineses pliar o leque de exportações brasileiras? ponto que vale ser destacado. Atua- tenham uma forte tendência a pensar no Os chineses já estão exportando mos junto à universidades e, inclusive, longo prazo, diferente de nós brasileiros papel para o Brasil e têm um custo bastan- na área de celulose, temos um acordo e ocidentais de um modo geral que temos assinado com a South China Universi- te baixo, o que obviamente nos incomoda uma visão mais imediatista - geralmente enquanto produtores de papel. Temos, no ty of Technology para um intercâmbio conflitante com a filosofia chinesa de ne- de pesquisa e desenvolvimento visan- entanto, que agir com muito cuidado em gócios. Por exemplo, o conceito do lucro função de nosso interesse na manutenção do ao aumento do uso da celulose do para eles é muito mais elástico no sentido eucalipto nos papéis chineses. Repre- da venda de celulose. Precisamos de mais temporal – os chineses tendem a pensar no rodadas de negociação com os chineses sentantes da universidade já visitaram investimento dos próximos cinco ou dez nossas fábricas no Brasil e nós já visita- com o intuito de equilibrar esse jogo. Um anos em sua empresa. mos a universidade também. possível encaminhamento seria seguirmos Tive uma experiência na China, com a venda da celulose - que os chineses quando estava no Banco Mundial mui- usariam mais para o consumo interno, e Teve alguma tentativa de tradings chi- tos anos atrás, e foi isso o que percebi abriríamos para eles outro mercado no Bra- nesas tentarem de alguma forma in- também. Nós estávamos financiando um sil, que não fosse tão competitivo quanto fluenciar o seu negócio? projeto relativamente grande e a pers- o de papel. CARTA BRASIL-CHINA 23
  24. QUEM SOMOS Agradecemos o patrocínio das seguintes empresas para a 4ª Conferência Internacional do CEBC: O Conselho Empresarial Brasil-China é formado por duas seções independentes, uma no Brasil, outra na China. Dedica-se à promoção do intercâmbio econômico Brasil-China e, sobretudo, a fomentar o diálogo entre empresas dos dois países. O CEBC propõe-se a contribuir para um bom ambiente de comércio e investimentos, assim como a entender e divulgar as novas tendências observadas no dinâmico relacionamento Brasil-China. Atualmente, o CEBC é composto por cerca de setenta das mais importantes empresas e instituições brasileiras e chinesas com investimentos e negócios nos dois países. ASSOCIADOS SEÇÃO BRASILEIRA Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) / Algar / Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC) / Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE) / Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (ABDIB) / Banco do Brasil / Banco Itaú BBA / Bank of Montreal (BMO) / BNDES / Bradesco / Brazil Energy S.A. / BRF - Brasil Foods / Bunge / CEBRI / China Invest / Columbia Trading / Comexport / Construtora Odebrecht / Deloitte / Duarte Garcia, Caselli Guimarães e Terra Advogados / Embraer / Ernst & Young / Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso (FIEMT) / Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) / Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN) / Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC) / Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) / Felsberg e Associados / Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) / GDK / Huawei Brazil / Instituto Aço Brasil- IABr / Mattel do Brasil Ltda / McLarty Associates / Petrobras / PwC / Sertrading / Suzano Papel e Celulose / TozziniFreire Advogados / Vale / Veirano Advogados / Weg / WDS - Woodbrook Drive Systems Acion / XCMG Brasil
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