O documento discute as especificidades da avaliação em contextos de e-learning, destacando três pontos: 1) a avaliação deve considerar as concepções sobre ensino e aprendizagem e usar técnicas próximas da realidade dos alunos; 2) é preciso avaliar competências de forma variada, usando atividades colaborativas; 3) é necessário repensar a avaliação considerando os novos paradigmas educacionais e as tecnologias.
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
Avaliação pedagógica Digital em Contextos de Elearning
1. Avaliação Pedagógica em Contextos Elearning
Especificidades e grandes linhas de força dos textos analisados
Unidade Curricular: Avaliação em Contextos de Elearning
Professora: Doutora Lúcia Amante
Equipa: Andréa César, Elizabeth Batista e Leideana Bacurau
Abril de 2016
2. Apresentação
Na unidade curricular de Avaliação em Contextos de Elearning, fomos desafiados a
realizar, no âmbito da temática 2 - Avaliação pedagógica Digital em Contextos de Elearning,
o estudo de três artigos referentes à temática e a produzir um texto com as especificidades
da avaliação em contexto de Elearning, buscando remeter às grandes linhas de força que
deles emergiam.
Os artigos selecionados foram:
Mateo, J. Sangrá, A, (2007) Designing online learning assessment Throught
alternative approaches facing the concerns, in European Journal of Open,
Distance and Elearning.
Nunes, C.R. (2012). A Avaliação em Educação a Distância é inovadora? - Uma
reflexão, in Estudos em Avaliação Educacional, 23 (52), 274-299. São Paulo.
Pereira, A. Oliveira, I. & Tinoca, L. (2010). A Cultura da Avaliação: que dimensões?
In Actas da Conferência Internacional TICeduca2010, Instituto de Educação,
Universidade de Lisboa.
Procuramos, após análise dos artigos, elaborar um texto que contemplasse os seus
pontos convergentes e que sintetizasse os aspectos mais relevantes para a temática em
debate, que passamos a relatar na sequência.
Especificidades da avaliação em contextos de Elearning
Inicialmente, é importante resgatar Mateo (2007) quando nos chama a um
posicionamento crítico sobre a avaliação, deixando claro que cada modelo e prática
avaliativa refletem as concepções que temos sobre o processo de ensino e aprendizagem.
Para o autor, se faz necessário distinguir dentre as estratégias de avaliação e instrumentos a
serem utilizados, de forma que possamos compreender o que é relevante e nos permita
continuamente retroalimentar todo o processo de acordo com os objetivos da avaliação.
Mateo ainda ressalta que, é preciso avaliar em combinação com os contextos de aplicação e
que as estratégias de avaliação na educação a distância (EaD) são feitas para apoiar e
otimizar os recursos de aprendizagem do estudante adulto.
Refletindo acerca das dimensões da cultura da avaliação, Pereira, Oliveira & Tinoca
(2010), apresentam as mudanças que ocorreram neste cenário - historicamente baseado em
testes e na perspectiva psicométrica, chegando aos dias atuais com foco na avaliação,
fundamentada na edumetria, que objetiva medir a evolução do aprendente, tendo como
referencial seu próprio desempenho. Essa prática, apresenta-se mais adequada e justa ao
modelo atual baseado na construção de competências, tendo como marco o Processo de
Bolonha (2008), que desafiou o ensino superior europeu a quebrar o paradigma de uma
educação baseada em objetivos para um outro, centrado no desenvolvimento de
competências. A partir desse contexto, torna-se fundamental, conforme Baartman et al
(2007, como citado em Pereira, Oliveira & Tinoca, 2010, p.01), adotar o uso dos Programas
de Avaliação de Competências (PACs).
3. Os PACs combinam elementos das culturas de teste e de avaliação, baseados no fato
de que, no que se refere a avaliar competências, o uso de apenas um formato de avaliação é
insuficiente.
Em adotando este novo paradigma percebe-se que o uso de apenas um formato para
avaliação não é suficiente, considerando-se a complexidade do conceito de competência
adotado. Segundo os autores as competências “são desenvolvidas por meio da interação em
contextos formais e informais, educacionais e profissionais, e exigem ir para além da mera
reprodução dos conhecimentos adquiridos”. Assim sendo, ao tratar da avaliação em
contextos de elearning é preciso promover um espaço que seja composto de elementos
avaliativos variados e que promova uma participação ativa do aluno neste processo.
Pereira, Oliveira & Tinoca (2010) afirmam que, participação em fóruns, trabalhos
online em grupo, blogs e e-portfólios, devem ser pensados e desenhados em função do
desenvolvimento de competências, elencando as metacompetências que devem ser
consideradas para o êxito de um PAC:
Ilustração 1: Metacompetências para um PAC (Pereira, Oliveira & Tinoca, 2010)
Para Mateo (2007), a avaliação baseada em competências está centrada na busca de
cenários semelhantes à vida real de trabalho e deve escolher técnicas de avaliação que
remetam à realização de projetos, de estudos de caso ou de observação de campo, por
serem mais próximas da realidade dos alunos.
No entanto, na prática avaliativa de cursos online, observa-se que ainda predomina o
uso de instrumentos de avaliação tradicionalmente adotados na educação presencial, como
provas e testes de múltipla escolha. Uma pesquisa realizada com profissionais que atuam na
EaD no Brasil, relatada por Nunes (2012), demonstra que em relação aos instrumentos
adotados na avaliação online, ainda há uma preponderância de instrumentos característicos
da educação presencial, como provas e lista de exercícios. Mas também revela a presença
de instrumentos típicos do ensino a distância como o fórum de discussão e o chat. Mais
timidamente revela a adoção de outros instrumentos como mapas conceituais, Wikis,
avaliação por pares, autoavaliação e e-portfólios.
Badia (2002, como citado em Mateo, 2007), referindo-se às tendências emergentes
da EaD, salienta que ao usar as novas tecnologias da informação e comunicação na
educação poderíamos fazer uma significativa mudança no cenário educacional. As novas
TICs, em especial, a Internet, permitem apresentar melhorias importantes na aprendizagem
e na avaliação pela possibilidade de relacionamento entre os alunos, e por constituírem
ambientes virtuais de aprendizagem que possibilitam, de forma cada vez mais ampla, o
4. desenvolvimento de comunidades de aprendizagem real no ciberespaço, promovendo uma
avaliação com um caráter formativo.
Para definição das estratégias avaliativas é necessário estar atento ao projeto
pedagógico do curso. Em um contexto de novo paradigma para o projeto de avaliação e
aprendizagem online Mateo (2007), ao estudar as contribuições de vários autores, destaca
algumas considerações sobre projeto de curso. Para ele, a aprendizagem online é mais
eficiente quando o currículo se constitui a partir da execução de atividades. Tais atividades
devem:
ser autênticas, funcionando como desafios cognitivos para a construção de
estruturas mentais;
fazer parte de um macrouniverso, portanto, estando articuladas em uma
situação de aprendizagem em linha com uma situação de aplicação (Sangra &
Guardia, 2006, como citado em Mateo, 2007);
ser relevantes, motivadoras e contemplarem conhecimento, capacidades e
competências;
favorecer a autonomia do aluno e o papel docente como suporte;
produzir aprendizagens individuais e coletivas;
implicar em algum tipo de negociação social e intervenção;
criar situações de aprendizagem que facilitem a autorregulação dos alunos.
Além disso, o projeto de avaliação deve caracterizar-se por elevado nível de
flexibilidade para atender as especificidades do estudante dos dias atuais.
Nunes (2012), realça a importância de o projeto pedagógico para EaD, identificar se
haverá ou não tutoria, se existirá ou não momentos presenciais, quais são as tecnologias
disponíveis e as características do ambiente de aprendizagem adotado. Além disso, é
preciso considerar as particularidades de interação entre professor e aluno em cursos
online, visto que o feedback não é dado muitas vezes em interações síncronas. É importante
observar a proposta de interação entre os alunos, de modo a definir a adoção ou não de
atividades colaborativas e a implementação da heteroavaliação. Nesse ponto, Nunes,
reforça a necessidade de “buscar novas formas de avaliação que envolvam as tecnologias de
informação e comunicação para que seja possível alcançar um equilíbrio entre a
credibilidade do curso e a comodidade para os estudantes”. Russell (1999, como citado em
Mateo, 2007), também afirma que há a necessidade de desenvolver soluções para
aumentar não só a qualidade da aprendizagem online, mas também a sua percepção social.
Para este intento, é relevante zelar pela construção da credibilidade e do reconhecimento
da EaD online e primar pelo desenvolvimento de todas as atividades de aprendizagem
planejadas.
Uma característica da educação a distância remete ao papel de protagonista
exercido pelos alunos, exigindo que eles se impliquem cada vez mais em seu processo de
aprendizagem e, consequentemente, participem mais ativamente do processo avaliativo.
No tocante aos professores é exigido um papel de mediador e negociador neste processo.
Todavia, observa-se uma dificuldade de ambos em assumir estes papéis, trazidos no bojo
deste novo paradigma reforçado pela EaD, o que resulta, muitas vezes, em uma práxis
bastante tradicional e já questionada até mesmo no âmbito da educação presencial, na qual
o aluno assume uma posição de assimilação e passividade e o professor uma postura
5. avaliativa classificatória, que hierarquiza os alunos. É bastante indicada para a educação
online a estratégia de avaliação que promove a submissão das produções dos alunos à
apreciação dos demais colegas, de modo que possam, a partir das observações dos demais,
repensarem seus posicionamentos e aprimorarem suas produções.
No processo avaliativo, segundo Mateo (2007) e Nunes (2012) há um aspecto que,
notadamente, se discute na educação a distância, trata-se da segurança, considerando a
necessidade de garantir que o próprio aluno é quem está realizando as atividades avaliativas
propostas. Nunes destaca, que no Brasil se prioriza os momentos presenciais para a
realização de atividades avaliativas, sendo estes momentos uma exigência legal na maioria
dos tipos de cursos. Vale ressaltar, que mesmo nos momentos a distância é importante
haver um acompanhamento contínuo da participação do aluno, de modo que se possa
rapidamente perceber e intervir junto às dificuldades e ausências de alunos nas atividades
propostas.
Uma característica do processo avaliativo em cursos a distância, identificada na
pesquisa realizada por Nunes, refere-se à atividade de concepção das estratégias avaliativas.
Parte significativa dos respondentes, afirmaram que há o envolvimento de mais de uma
pessoa na definição das atividades avaliativas a serem adotadas, o que reforça o caráter
colaborativo deste fazer. A autora condiciona ainda o sucesso destas atividades à existência
de uma equipe multidisciplinar nesta etapa de definição das estratégias.
A pesquisa de Nunes revela ainda que, na concepção dos profissionais de EaD, não
há uma diferença significativa dos instrumentos que podem ser adotados na avaliação
online, daqueles instrumentos adotados na educação presencial. Neste sentido, cita
Dereshiwsky (2001), quando afirma não haver diferença significativa entre os instrumentos
da avaliação realizada em contexto online ou presencial, o que as difere são as experiências
dos alunos e a maneira como eles desenvolvem os currículos, pois as tecnologias também
podem ser utilizadas em cursos presenciais. Nunes conclui, reafirmando a importância de se
repensar o processo avaliativo a partir do uso das tecnologias e reforça as características
especiais da avaliação em cursos online, dada às especificidades de interação nesta
modalidade de ensino.
De forma convergente com o exposto por Nunes (2012), observa-se que Mateo
(2007), em suas reflexões finais, salienta que as abordagens alternativas para a avaliação
online devem ser vistas como forma de transformar o paradigma educacional a partir de
uma tendência mais construtivista. O autor destaca que tais transformações são mais
difíceis de implementar no contexto da educação face a face, daí a situação privilegiada de
vir a acontecer na EaD de forma pioneira, fazendo-a ocupar um papel central no sistema
socioeducativo e superando sua função de modelo complementar.
Pereira, Oliveira & Tinoca (2010), referindo-se a uma avaliação que atenda ao
paradigma da avaliação por competência, propõem uma abordagem centrada em quatro
dimensões que contribuem para a cultura de avaliação, sendo baseadas na necessidade de
repensar outras formas de avaliar em ambientes de aprendizagem em elearning, a saber:
autenticidade, consistência, transparência e praticabilidade. Essas dimensões devem ser
consideradas para a construção de um PAC. A ilustração a seguir, apresenta sinteticamente
cada uma dessas dimensões:
6. Ilustração 2 – Dimensões da cultura de avaliação de competência (Pereira, Oliveira & Tinoca, 2010)
As ideias debatidas nos textos estudados convergem para a necessidade de
ajustarmos os processos de avaliação aos novos cenários e paradigmas educacionais. Nesse
novo contexto, no qual se valoriza a construção de competências, é requerido que a prática
avaliativa se reposicione, observando as especificidades dos processos de ensino e de
aprendizagem conectados e com uso intenso das TICs.
Enquanto profissionais de elearning, esta realidade modificada nos faz refletir sobre
o fato de que precisamos construir as competências necessárias para participar de forma
satisfatória dos processos avaliativos nos quais estejamos inseridos. Há uma demanda por
uma atuação pedagógica que compreenda o estudante como protagonista e o professor
como o mediador e provocador de novas aprendizagens, que possibilite ao aluno
desenvolver autonomia de forma colaborativa, em experiências de partilhas para além do
professor, realizadas em interação com seus colegas.