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“O Rompimento”


Capítulo I

Depois que Esther soube por Danielle que não poderia também gerar um filho com seus
óvulos, Paulo fica ainda mais intrigado pela esposa continuar se encontrando com a
médica:
- Você estava com aquela doutora de novo? – Paulo pergunta quando vê Esther
chegando no escritório da Fio Carioca.
- Sim, fui tomar um café com ela, conversar... – Esther coloca sua bolsa na cadeira.
- Hum. – Paulo a olha com frieza e se vira, olhando alguns papéis sobre a mesa.
- O que foi, Paulo? Não é de hoje que você me trata desse jeito toda vez que toco no
nome da Danielle.
- Danielle? Nem doutora é mais? Vocês já estão melhores amigas...estão confabulando
o que agora? Tentando encontrar um homem e uma mulher pra fazer essa inseminação?
- Paulo! Não fala assim.
- Mas é... Eu cansei disso, Esther...Cansei. Não sei onde você quer chegar com tudo
isso...
- Você concordou em pesquisar sobre esse assunto comigo. Lembra? Por isso que eu
ainda continuo tendo esperanças. – Esther diz e se senta, chateada.
- Eu sei, eu sei que eu dei carta verde pra tudo isso...Mas Esther, você também não pode
ter filhos. Isso tudo é uma loucura.
- Mas Paulo...Eu estava justamente conversando com a Danielle sobre isso...Seria como
uma adoção se a gente... – Paulo a interrompe, nervoso:
- Chega! Chega Esther. Cansei desse assunto...Eu não posso te dar um filho, entendeu?
Não consigo entender, aceitar em fazer um procedimento desses....E essa doutora fica te
incentivando a isso? Eu te proíbo de ver essa mulher de novo.
- Como assim? Me proíbe? – Esther se levanta, desacreditada nas palavras do marido. –
Eu não estou te reconhecendo, Paulo.
- É, talvez seja isso. Depois de tantos anos de casados, nós fomos nos conhecer mesmo
só agora... Eu vou sair um pouco...Pra respirar.
Esther olha Paulo sair pela porta e se senta novamente, quase chorando.

Paulo sai do escritório e é abordado por Marcela – jornalista que conheceu há alguns
dias atrás quando foi sozinho na divulgação da nova coleção da Fio Carioca em São
Paulo:
- Paulo! Como vai?
- O...Oi, Marcela! Que surpresa boa! – Paulo diz, ainda atordoado com a conversa que
tivera com a esposa.
- E aí? Por que não tomamos um café juntos, está ocupado?
- Não, não! Estava mesmo precisando de um café, conversar...Aqueles dias em SP
foram tão bacanas, né?
- Pois é! Também adorei sua companhia!
- Então...Vamos?
Paulo e Marcela caminham conversando até um café próximo ao escritório.

- Mas me fala...Que rugas de preocupação são essas na sua testa? Pelo que sei a Fio
Carioca vai muito bem.
- Sim, está tudo ótimo com a Fio Carioca...
- Hum, então são outros problemas.
- É, ou eu sou muito transparente ou você me conhece muito bem há tão pouco tempo.
- Transparente você não é...Pelo contrário...Estou achando até curioso conseguir que
você se abra comigo, que tenha aceitado meu convite pro café.
- Eu sei que você não é como as outras...Sempre me abordou de um jeito muito
profissional, respeitador.
- Fazer o que! Eu sou assim! – Marcela começa a rir junto com Paulo.
- E o melhor de tudo é que você me faz rir... Ah, Marcela! Não queria te chatear com os
meus problemas conjugais.
- Ih, não se preocupa. Eu sou “exper” em assuntos desse tipo. Tenho meu próprio divã e
é de graça!
Paulo começa a rir e diz:
- Sério? Se é de graça, então vou me consultar.
- Fique à vontade!
- Na verdade eu não sei o que anda acontecendo, parece que está tudo
desmoronando...Eu sempre tive um relacionamento maravilhoso com a minha mulher.
Sabe aquelas histórias de filme, que só faltava a Torre Eiffel atrás e uma trilha sonora
hollywoodyana pra ficar perfeita?
- Sei! – Marcela sorri.
- Então... Agora parece que foi tudo uma mentira. – Paulo diz, triste.
- Por que? Você não sente mais nada por ela?
- Não, pelo contrário. A cada dia eu amo mais aquela mulher. Mas não dá mais, a gente
só se desentende ultimamente, e eu sinto que se não dermos um tempo agora, aí sim,
vamos perder todo esse amor que construímos por tantos anos.
- Eu já ouvi falar muito da estória de vocês, e admito que admiro muito vocês dois...É
uma surpresa escutar isso.
- É, tá sendo pra mim também. Uma surpresa desagradável.
- Se eu puder ajudar...
- Será que eu posso confiar em você? – Paulo brinca com Marcela.
- Não sei, o que você acha? – Marcela joga um olhar sedutor para Paulo e nesse
momento, Esther aparece no café.
- Olá!
- Esther! – Paulo diz, surpreso.
- Oi! – Marcela diz, sem graça.
- Essa é a Marcela, jornalista de São Paulo, fez uma entrevista comigo, lembra que
comentei com você? – Paulo a apresenta para Marcela.
- Lembro sim. Prazer, Marcela.
- Prazer!
- É... – Esther fica nervosa e pensativa ao falar. - Paulo, eu estava passando por aqui e te
vi...Seu celular está desligado. Só queria dizer que essa noite eu tenho um jantar com
alguns fornecedores...Nós tínhamos combinado de dividir as tarefas, lembra?

- Claro, claro.
- Eu já estou indo. Chego mais tarde em casa...- Esther diz, friamente.
- Tudo bem, até mais. – Paulo sorri, de leve.
- Até logo. – Esther se despede de Marcela.
- Até mais. – Marcela responde.
Paulo suspira e coloca as mãos sobre a cabeça, depois diz:
- Viu só? Há alguns tempos atrás nós nunca nos despediríamos dessa forma. Tão fria.
- É assim mesmo, querido. Todo casamento precisa de um desentendimento de vez em
quando. Senão ficaria muito chato.
- Não...Não com a gente. Você não tem ideia.
- É, acho que não. Mas tenho certeza que tudo vai se resolver.
- Tomara...
Paulo e Marcela conversam por mais algum tempo e ele se despede dela:
- Obrigado pela ótima companhia, Marcela! Eu estava precisando.
- Imagina! Vou ficar agora no RJ por alguns meses. Nos vemos depois em outros
encontros triviais.
- Com certeza!
- E ânimo! Se quiser desabafar, é só me ligar! – Marcela entrega seu cartão para ele. – E
se tiver uma pauta sobre moda, estou às ordens também!
- Combinado! – Paulo beija o rosto de Marcela e vai embora. Ela fica o olhando partir.

Capítulo II

Depois de um tempo, Paulo chega na casa de sua irmã Tereza Cristina:
- Paulo! Cadê a sua querida esposa?
- Ah, a Esther está em um jantar com fornecedores.
- E você não está junto com ela? Meu Deus! Vai chover canivete. Você ouviu isso
René?
- Ouvi...Deixa seu irmão, Tereza.
- Nós decidimos dividir algumas tarefas, só isso...
- Hum, sei. E essa sua cara de acabado? É por que?
- Tereza! – René a repreende.
- Deixa, René! Eu tô acostumado com a minha irmã! Essa minha cara é de cansaço, só
isso.
- Sei...Não é de hoje que eu venho notando uma distância entre você e a Esther. Tenho
certeza que aí tem coisa.
- Tereza...Por que a gente não toma alguma coisa, né? Você quer beber o que, Paulo?
- Eu aceito um vinho, por favor.
- Vou te acompanhar. – René vai buscar as bebidas e Tereza continua fixando seu olhar
no irmão.
- Não vai me contar mesmo?
- Não tem nada pra contar, Tereza. Quando tiver, você vai ser a primeira a saber, tudo
bem?
- Ai, grosso!
Paulo começa a rir e pega a taça de vinho que Renê traz para eles.
Renê e Paulo começam a conversar sobre negócios e Tereza fica entediada:
- Ai, que assunto chato hein. Nessas horas que eu sinto uma falta imensa da
Esther...Trata de se reconciliar com ela logo, meu querido. E nem venha com a notícia
que vocês dois se separaram e me traga uma outra mulherzinha aqui pra casa, que eu
acabo com você!
- Paulo, a Tereza hoje está impossível...Desculpa.
- Não se preocupa, Renê. E Tereza, isso não vai acontecer...
- Eu espero mesmo. Com licença, vou subir... Crô!!!!!!!!!!!Cadê você? – Tereza Cristina
sobe as escadas chamando o empregado.
Paulo e René começam a rir e continuam a conversa, até que depois de um tempo Renê
diz:
- Desculpa tocar nesse assunto, Paulo. Mas também percebi que você anda um pouco
preocupado...Aconteceu alguma coisa?
- Ah, nada, é só que...Infelizmente eu comecei a entender o que é passar por problemas
conjugais. Mas não comenta nada com a Tereza, por favor. Ela sempre aumenta as
coisas.
- Claro...Tudo bem.
Nesse instante, Tereza Cristina escuta a conversa atrás das cortinas sem que eles notem,
e diz em voz baixa:
- Eu sabia...
Esther chega cansada em casa depois do jantar e Paulo ainda não havia chegado. Ela
toma um banho e se deita para ler um livro. Depois de alguns minutos, Paulo finalmente
chega e vai até a cozinha, sem coragem de enfrentar uma conversa com Esther. Ele
pensa sozinho:
- Meu Deus, o que está acontecendo? Eu, me sentindo mal em encontrar minha esposa.
Com medo...
Ele bebe um copo de água e em seguida segue para o quarto, respirando fundo. Ao
entrar, ele olha para Esther já na cama, concentrada em seu livro:
- Oi, boa noite.
- Oi. Tudo bem?
- Sim. Estava na casa da Tereza.
- Hum.
- E o jantar?
- Foi tudo bem. Consegui fechar com os fornecedores, naquele valor que tínhamos
combinado.
- Que bom, que bom! – Paulo sorri e vai até o lado da cama onde estava Esther e a beija
no rosto. Ela o olha séria e depois sorri rapidamente, voltando à sua leitura.
- Eu vou tomar um banho...
- Tudo bem. – Esther diz e quando ele fecha a porta, ela coloca o livro ao lado e suspira,
dizendo consigo mesma:
- Isso não pode estar acontecendo...

Um tempo se passa e Paulo volta do banho. Ele se deita e os dois ficam um tempo
calados. Esther coloca seu livro novamente na mesa ao lado e fica pensativa, encostada
na cabeceira da cama. Paulo se vira para ela, se encosta também e diz:
- Acho que a gente precisa conversar, né...
- É...
- Nós nunca passamos por um tempo tão longo assim de desentendimento, tudo está tão
estranho... – Paulo diz, nervoso. – Eu não queria ficar assim com você... – Ele toca o
rosto de Esther carinhosamente e ela concorda:
- Eu também, meu amor. Está sendo tão difícil esses dias...Eu estou confusa, minha
cabeça está um turbilhão.
- Eu sei, eu sei...Eu cheguei a ser estúpido com você, autoritário, mas, eu não consigo
entender essa sua proximidade com aquela mulher. Não encontro motivos.
- Como não, Paulo? A gente conversou tanto sobre isso esses dias. Olha só, eu acho que
entendo esse seu medo, essa insegurança...Mas se por acaso der certo essa inseminação,
eu vou ter essa criança dentro de mim, como se fosse minha, como se fosse sua...

- Não é bem assim, Esther. Você confia mesmo nessa doutora?
- Sim, ela é tão competente, uma profissional renomada, conhecida.
- Sei...
- Eu acho que você precisa conhecê-la melhor, só isso.
- Não Esther, eu já tive muita boa vontade, eu queria estar do teu lado nessa decisão,
mas desde o momento que eu soube que você também não podia ter mais filhos...Isso
não fez mais sentido. Você quer adotar, então? Podemos adotar...
- Paulo, é diferente. Eu vou poder ter essa realização de realmente ser mãe, de sentir
essa criança dentro de mim...Você entende?
- Mas ela não vai ser sua! – Paulo aumenta o tom de voz e Esther fica paralisada
olhando para ele, por alguns instantes.
- Acho melhor a gente parar essa conversa por aqui. – Esther consegue dizer, chateada.
Paulo tenta contornar a situação, buscando as palavras certas, mas não consegue. A sua
vontade era de beijá-la, abraçá-la e pedir desculpas, mas o orgulho e a frustração por
não poder dar à ela o que ela queria, eram maiores.
Esther vira para o lado e se deita. Paulo faz o mesmo e os dois, depois de muito
pensarem, adormecem.

Já é de manhã e Esther levanta mais cedo. Ela toma um banho e depois toma café junto
com Paulo. Eles não trocam nenhuma palavra, porém o desejo de ambos é de passar por
cima de todos os problemas e se renderem um ao outro. Mas nenhum deles fazem nada.
Eles seguem de carro para o escritório e quando estão na entrada, Marcela aparece:
- Oi! Como vocês estão?
- Marcela! Tudo bem!
- Oi, tudo bem. – Esther responde, com um olhar desconfiado, se colocando mais ao
lado de Paulo, quase tocando a mão dele.


Capítulo III

- Eu vim trazer seu celular, Paulo. Você esqueceu ontem comigo no café.
- Ah, sim...Que cabeça a minha. Muito obrigado, Marcela.
- Por nada. A gente se fala...Um abraço. Tchau...
- Até mais. – Paulo se despede e os dois sobem de elevador.
Esther quebra o silêncio enquanto subiam de elevador e diz:
- Você e essa...Marcela...Se conheciam antes de SP?
- Como? – Paulo sorri, estranhando a pergunta. – Claro que não. Disse à você que nos
conhecemos naquela entrevista.
- Tudo bem...Foi só curiosidade.
- Por favor, Esther, não tente encontrar motivos pra...
- Paulo! Foi só uma pergunta...Não quero motivos para nada.
- Só acho que do mesmo jeito que você tem o direito de ter suas amigas, eu também
tenho.
- Pelo amor de deus, Paulo. Não vou discutir com você...- Esther diz, chateada, e sai do
elevador antes dele.
- Bom dia! – Ela diz para os funcionários, friamente, e todos percebem o clima entre o
casal.
- Bom dia...- Paulo diz logo em seguida e entra no escritório fechando a porta.
- Escuta, Esther. Não dá mais pra gente continuar assim. Tenho certeza que você
concorda comigo...
- Sim...Eu não sei o que está acontecendo, mas...tá tão difícil.
- Muito...muito difícil. – Paulo diz, quase sussurrando, chegando cada vez mais perto de
Esther. – Eu sinto tanta falta de você, meu amor. Tanta falta, de te beijar, de sentir tua
pele...De rir com você, de passar por cima de todos os problemas...Mas não está dando.
- Não...- Ela diz, olhando para ele com tristeza. Paulo se aproxima cada vez mais e eles
quase se rendem a um beijo quando o celular de Paulo toca. Ele retira sua mão, que
estava quase no rosto de Esther, se afasta e atende o celular:
- Alô. Oi, César. Tudo bem...Não, já estou indo até aí. Até mais... – Ele desliga e diz:
- Era o César, vamos fechar aquele contrato com uma nova loja na Zona Leste.
- Que bom...- Esther diz, mordendo os lábios.
- Eu...- Paulo continua a conversa e se aproxima um pouco dela...- Eu achei que o
melhor seria a gente dar...um tempo...pra nós dois. Pra não acabar com todo esse amor
que nós temos, que eu sei que ainda temos...
Esther apenas concorda com a cabeça e deixa escapar uma lágrima, que é rapidamente
retirada de seu rosto pelas suas mãos.
- Tudo bem. É o melhor...
- Por enquanto...- Paulo acrescenta. – E eu vou pra um flat, hoje ainda.
- Hoje? – Esther questiona, sem pensar.
- É, é o melhor...Mas nada disso pode e vai afetar nossa sociedade na Fio Carioca.
- Claro. Tantos anos nos dedicando a esse negócio...
- Eu não quis dizer que a Fio Carioca está em primeiro plano, mas...
- Não, eu entendi. – Esther o interrompe. – Acho melhor eu...ir...Preciso resolver
algumas coisas lá fora... – Ela diz, tropeçando nas palavras, e sai da sala.
Paulo espera Esther sair e esmurra o encosto da cadeira na sua frente, dizendo:
- Droga...Eu te amo tanto, Esther, tanto...


A tarde cai e Esther já está em casa. Ela havia chegado antes de Paulo, que estava numa
reunião com César, visitando pontos das lojas inaugurais na Zona Leste.
Esther resolve tomar um banho, temendo encontrar Paulo. Ela preferia não encontrá-lo
fazendo as malas e partindo. Seria ainda mais doloroso.

Enquanto isso, Paulo tenta se livrar rapidamente da reunião, para justamente não
encontrar a esposa em casa e não correr o risco de desistir da decisão que havia tomado.
Ele sai correndo de carro e chega em alguns minutos. Esther ainda estava no banho...

Paulo vai até o armário e coloca algumas roupas dentro da mala, sentindo um grande
aperto no peito. Depois que havia terminado de arrumar seus pertences, ele se aproxima
da porta do banheiro e a empurra de leve, movido por uma vontade imensa de ver
Esther... Ela estava no banho e era possível ver refletido na porta do box a sua silhueta.
Paulo se aproxima cada vez mais e não resiste, abrindo a porta:
- Paulo?! O que você...
- Não diz nada...- Ele diz, já tirando suas roupas e entrando rapidamente no box junto
dela. – Não fala nada, meu amor. Eu só preciso de você agora...do teu beijo. – Paulo não
fala mais nada e a puxa para perto dele, segurando com firmeza a nuca dela contra seu
rosto, alcançando os lábios de Esther e a beijando cheio de urgência.
Ela retribui o beijo e os dois sentem que aquele momento era uma despedida e o início
de uma nova fase em suas vidas.
Ainda no banho, Paulo se desprende dela depois do beijo e a encosta na parede,
beijando-a no pescoço. Esther fecha os olhos mas de repente o afasta:
- Não, não...Paulo, é melhor você ir de uma vez. Ou tudo vai voltar a ser como antes
e ...
- Tá, tá certo. – Paulo diz, eufórico, tentando se desprender dos braços da esposa. –
Você tem razão. Eu preciso ir embora, não é?
- Precisa.
Esther se afasta dele com dificuldade e alcança uma toalha, a envolvendo em seu corpo.
Paulo faz o mesmo, colocando a toalha amarrada em sua cintura. Ela tenta se desviar de
Paulo, que estava em sua frente, mas ele não deixa, a prendendo em seus braços:
- Esther, calma...Eu não vou conseguir, por favor, desiste dessa história toda de
inseminação, pode ser tudo uma enganação dessa médica...por favor.
- Paulo, o problema é que você não permite ouvir outras opiniões. Só o que você pensa
está certo. Essa é a nossa última oportunidade, você não vê? Eu não quero ter esse filho
sozinha, eu quero ter com você! Esse filho é nosso!
- Esse filho não existe, Esther! Entende isso...Desse jeito que você quer, não dá. Eu
estraguei tudo, eu sou estéril e obriguei você a esperar esse tempo todo, e agora é tarde.
Esther consegue se desfazer dos braços dele e vai até o quarto:
- Eu não vou desistir, Paulo. Eu não vou perder essa oportunidade, não agora...Com
tudo na mão.
- Isso quer dizer o que?
- Isso quer dizer que eu gostaria imensamente que você me apoiasse, mas...mas se isso é
impossível, eu sigo sozinha.

Capítulo IV

- Então o filho é só seu, agora?
- Paulo, eu não vou discutir mais...Por favor. Acho melhor você ir...- Esther diz,
olhando para baixo e abrindo a porta do quarto.
Paulo suspira como se tivesse perdido uma batalha e veste suas roupas, com os olhos
cheios de lágrimas.
Ele pega a mala, pára perto da porta onde estava Esther, ainda com os cabelos molhados
e envolvida pela toalha, e diz:
- Eu nunca vou deixar de te amar.
Esther apenas continua olhando para baixo e não contém as lágrimas. Paulo também se
emociona, pega a mala do chão, hesita mais um instante dando a impressão que voltaria
para trás, mas segue em frente sem olhar para Esther.

Esther solta a maçaneta da porta e vai deslizando lentamente até se sentar no chão. Ela
coloca a cabeça por entre as pernas, segurando os cabelos para trás e chora, com um
sentimento de perda, culpa e impotência.


O dia amanhece e Esther acorda com dor de cabeça. Ela se recorda da noite anterior e se
levanta com má vontade. Era o primeiro dia sem Paulo, sem acordar ao lado dele, sem
tomar o café da manhã observando ele ler o jornal e adoçar o café com 4 gotas de
adoçante. Ela percebe que nada mais havia sentido, a não ser sua vontade imensa, que
crescia a cada dia, de ter um filho:
- Mas esse filho sem o Paulo, não vai ter sentido... – Ela diz, colocando seus pensamos
em voz alta.
Esther se levanta e vai se arrumar, com medo do primeiro dia de trabalho ao lado de um
sócio que não era mais seu companheiro.
Chegando no escritório, Paulo demonstra claramente que não havia dormido bem. Ele
estava com olheiras e aparentemente cansado:
- Bom dia. – Ele diz, quase sem voz, para os funcionários da recepção.
Ao entrar na sua sala, ele se depara com Tereza Cristina sentada em sua cadeira:
- Bom dia, meu querido!
- Tereza? O que você faz aqui?
- Nada...Vim só dar um jeito nessa sua vida bagunçada. – Ela diz, se levantando.
- Do que você está falando?
- Meu bem, não tente esconde nada de mim. Eu sei o que está acontecendo entre você e
a Esther.
- Hum,o René te contou?
- Não, eu ouvi a conversa de vocês dois...Mesmo se não tivesse escutado, eu teria
descoberto sozinha.
- É, não duvido disso.
- Pois então, querido. Eu havia encontrado a Esther muitas vezes em companhia daquela
médica...Meio bizarra ela, não é? – Tereza diz, fazendo uma cara de espanto.
- E... – Paulo tenta desenrolar o assunto.
- E eu descobri que ela é especialista em fertilização in vitro.
Paulo fica apreensivo e começa a andar de um lado para o outro, sem dizer nada.
- Meu irmão..Vocês não podem ter filhos, né? Eu desconfiava disso...E essa briga de
vocês, é por isso.
- É, Tereza. Você descobriu, parabéns. – Paulo diz sorrindo, de forma irônica.
- Hum. Não precisa falar assim...Eu só quero ajudar.
- Não tem como ajudar. O melhor que se tem a fazer é não mexer nisso...Eu não quero
que você fale com a Esther, entendeu?
- Calma! Eu não vou falar...Mas eu acho interessante essa ideia...E vai ser um filho dela,
da mulher que você ama, não é?
- Não. Ela não pode ter filhos...
- Não? Então o filho seria de desconhecidos?
- Exatamente..
- Hum...Complexo isso, hein. Agora eu já não sei...- Tereza diz, pensativa.
Nesse instante, Esther entra na sala e os dois a olham, apreensivos. Esther percebe um
clima estranho e já imagina que Paulo tenha contado da briga dos dois para a irmã:
- Oi Tereza, como vai?
- Querida! Estou ótima...Vim só fazer uma pequena visitinha...Já que você não aparece
mais lá em casa.
- Ah, pois é, eu ando muito...- Esther olha para Paulo..- ocupada.
- Eu sei disso, meu amor. Vou deixar vocês dois sozinhos, acho que vocês precisam
conversar...Um beijo. – Tereza se despede de Esther e Paulo com um beijo, e sai da
sala.

Esther olha Tereza sair da sala e olha para Paulo com um ar de insatisfação, colocando
sua bolsa na mesa:
- Aposto que ela veio comentar sobre nós dois, não foi? Vocês já conversaram sobre
isso?
- Eu não contei...Ela já tinha percebido.
Esther fica em silêncio e se senta, arrumando alguns papéis. Paulo fica a observando por
algum tempo e finalmente diz:
- Você...você está bem?
- Sim...E você?
- Também. Um pouco...cansado. Não dormi...
- Nem eu. – Esther diz, engolindo a seco.

Nesse momento, alguns colegas de trabalho aparecem na sala para uma reunião e os
dois terminam a conversa, passando a maior parte do tempo trocando olhares, cheios de
saudade.

Enquanto isso, Tereza Cristina vai até o restaurante de René:
- Descobri, meu amor! O motivo da briga do Paulo com a Esther.
- Descobriu como?
- Não foi por você, porque você não me conta nada... Descobri por ele.
- Hum, e ele está bem?
- Arrasado...E a Esther também, com uma cara péssima. Os dois cheio de olheiras...
- Complicado isso...Essa questão de não poder ter filhos, nem imagino como deve ser.
- Como assim? Então você sabia o motivo do desentendimento deles? E não me contou?
Pensei que você só sabia da briga, seu traidor.
- Meu amor, calma. Era um assunto particular do seu irmão, não sabia se podia contar...
- Ai essa cumplicidade entre homens...Mas então, ele te contou que era estéril?
- Sim. Há uns dias atrás.
- Quem sabe eles não adotam...Uma criança de meses de vida, eles criam como se
fossem deles.
- Não sei não. Acho que o Paulo, apesar de tudo, não quer ter filhos...
- Não? Ai, que estranho isso. Não me imagino sem meus filhotes.
- Pois é, mas cada um com suas escolhas.
- E a Esther? A Esther anda até vendo esses médicos de fertilização....Será que é por
isso a briga? Ele não quer, e ela quer?
- Certamente. Mas não devemos nos meter nisso, Tereza.
- Mas René...A gente tem que ajudar. Eu vou abrir a cabeça desse meu irmão...Apesar
que ter um filho que não é do nosso sangue, não é uma boa ideia. Vai que essa criança
vira um pivete?
- Tereza! Que maneira de dizer...Claro que não.
- Sei lá, né? Preciso pensar mais sobre isso. Vou indo, meu amor. Beijinho. – Tereza se
despede de René com um beijo e vai para casa.

Capítulo V

Quando a reunião termina, Esther sai para conversar com uma das suas secretárias e
Paulo caminha junto dela, até que a recepcionista diz, ao atender um telefonema:
- Pra você, Seu Paulo. É a Dona Marcela.
Esther lança rapidamente o olhar para ele, que percebe. Paulo atende o telefone, sem
graça:
- Oi, Marcela? Não, não. Tudo bem...Já estou descendo. – Ele desliga e se volta para as
secretárias e Esther. – Eu vou tomar um café, já volto.
Esther não diz nada e continua seu trabalho.

Chegando no café, Paulo se encontra com Marcela:
- Ai, desculpa ficar no seu pé assim. É que tenho uma surpresa. – Marcela mostra à ele o
resultado final da entrevista que ele fizera em São Paulo para um jornal muito
importante.
- Que maravilha! Vamos sentar, quero ler com calma.
Depois de ler a matéria feita por Marcela, Paulo diz:
- Está perfeita! Maravilhosa essa matéria.
- Ai, não fala assim que eu fico sem graça. E claro, o entrevistado ajudou muito pra isso.
- Ah, que nada! A Fio Carioca é o único motivo, e o seu talento!
- Obrigada! – Marcela diz e fica um tempo olhando para ele e Paulo tenta mudar o
clima:
- E então? Como anda tudo?
- Tudo ótimo...Só você que não parece tão bem assim...
- Ah, aposto que são minhas olheiras! – Ele brinca.
- É, também...O que foi que tirou seu sono, hein?
- Adivinha..
- Hum, esposa?
- Touché! Eu já não sei mais o que fazer...Resolvemos dar um tempo..
- Hum. Sinto muito...De verdade.
- Acho que vai ser melhor assim, por enquanto. Mas está sendo muito difícil ficar longe
dela.
- Mas qual é o real motivo pra esse desentendimento, se você a ama tanto?
Paulo fica em silêncio e Marcela se desculpa:
- Ai, desculpa. Estou sendo muito intrometida né? Não precisa responder.
- Não, tudo bem. Já não é mais segredo algum, mesmo. É que eu sou estéril, e a Esther
quer muito ter um filho, só que ao mesmo tempo descobrimos que agora é tarde demais
pra ela também ter filhos...Daí em meio a isso tudo surgiu uma tal médica especialista
em fertilização que fica colocando idéias na cabeça da Esther. Enfim...
- Entendi... É complicado, eu confesso que pensei que fosse mais simples.
- Pois é...
- Mas por que vocês não arriscam essa fertilização? Você não quer?
- Eu acho essa ideia muito maluca, não consigo entender que esse filho seria realmente
nosso, sabe? E além de tudo, eu não quero ter filhos...Seria um transtorno, um
incômodo, nesse momento.

Nisso, Tereza e Esther chegam e escutam o que Paulo havia falado. Paulo se assusta ao
ver irmã e esposa ao seu lado:
- Esther? O que vocês fazem aqui? – Ele diz assustado, temendo que Esther tenha
escutado.
- Eu a trouxe pra cá, pensei em sentarmos nós três ( Tereza enfatiza o “três”, com um
olhar fuzilador para Marcela) pra tomarmos um café, mas parece que não chegamos em
boa hora.
Quando Tereza termina de dizer, Esther vai embora apressadamente, em silêncio. Paulo
deixa Marcela e Tereza e corre atrás da mulher:
- Esther, Esther! Espera! – Paulo grita, tentando alcançar a esposa.
- Me deixa, Paulo.
- Calma, calma...A gente precisa conversar. – Paulo puxa Esther pelo braço.
- Me larga, Paulo. Eu não quero mais tocar nesse assunto.
- Entra aqui, por favor – Paulo abre a porta do seu carro, que estava estacionado logo à
frente, e pede para Esther entrar. Ela o obedece, sem vontade.
Quando Paulo entra no carro, Esther não diz nada, apenas fixa seu olhar para frente,
com os olhos marejados. Ele respira fundo e fala:
- Meu amor, eu...Eu sei que esse desejo seu de ter filhos é completamente
compreensível. Você é mulher, você é uma mulher maravilhosa, tem o direito de ter
quantos filhos quiser...E eu estraguei tudo...
- Não fala mais nada, Paulo, por favor... Você acabou de dizer para aquela mulher que
ter um filho comigo seria um incômodo.
- Não foi bem assim...
- Foi! Pelo amor de deus, eu escutei....você dizer aquilo, com todas as palavras.
- Eu sei, eu sei...Mas isso é coisa minha, eu admito, admito que eu não tenho esse desejo
agora, que pra mim o nosso casamento tava perfeito, tava maravilhoso...Mas eu te adoro
tanto, eu te amo tanto...Que eu cheguei sim a concordar com essa ideia de fertilização,
pra te ver feliz.
- Não, você não entende...Eu queria um filho nosso, e não só meu. Se você tivesse me
dito desde o começo, Paulo...Se você tivesse se aberto comigo. Mas você mentiu pra
mim, você ficou alimentando essa minha vontade, sugeriu que adotássemos, sendo que
você nunca, nunca quis ter um filho.
- Não, não é bem assim. Eu já pensei em ter filhos, há alguns anos. Mas já faz tanto
tempo que eu já tinha me acostumado com esse meu problema...que eu não tinha
cogitado mais em ter filhos, que eu pensei que estaria tudo bem, que continuaríamos nos
amando como sempre...Como sempre foi..Perfeito....Mas de uns tempos pra cá, desde
quando você começou a ter contato com essa Danielle, você mudou, fica distante, só
conversava com ela sobre seus problemas, esquecia de nós dois...
- Não fala isso. Eu nunca esqueci de nós dois. Eu nunca pensei um segundo sequer em
ter esse filho sozinha, você sabe disso...
- Eu sei... É que às vezes acho que estou te prendendo nesse casamento.
- Que isso? Eu nunca te culpei, Paulo. Nunca... Mas você só sabe fazer isso , todo o
tempo...Se culpar.
- Tudo bem...eu errei em não me abrir com você, não é?
- Sim...Você preferiu se abrir com ela...com aquela mulher....- Esther fica em silêncio
por alguns minutos e depois diz: - Eu preciso sair daqui, respirar.
- Calma, não vai. Por favor..Me perdoa, meu amor. Eu te amo tanto, Esther. Eu faria
tudo por você, pra te ver feliz...Mas tenta entender, seria tão complicado pra mim.
- Eu não consigo entender. Me desculpa, mas...não dá.
- Não, Esther, espera. Não sai assim... – Paulo segura o braço dela e se aproxima ,
tentando tocá-la no rosto, porém Esther se desfaz dos braços de Paulo:
- Por favor, me deixa... – Ela se solta e sai do carro.

Paulo abaixa a cabeça no volante do carro e depois empurra sua mão contra ele,
nervoso.

Capítulo VI

No dia seguinte, é o aniversário de René, e os preparativos da festa estão a todo vapor.
Tereza Cristina e Crô estavam cuidando de todos os detalhes, e fizeram questão que
René descansasse, sem nem mesmo opinar no cardápio do jantar.
Ele e Paulo saem para conversar no restaurante:
- Quero você lá em casa hoje à noite, hein.
- Sim... - Paulo diz, desanimado e pensativo.
- Essa preocupação toda é por conta da Esther, não é?
- Pois é..Não sei como seria um evento desses sem a Esther ou com ela do meu lado,
nessa situação.
- Imagino. Mas a Tereza já a convidou.
- Não, eu sei disso. É claro que vocês têm que convidá-la.
- Você acha que vai ser desconfortável? Se for, não tem problema vocês não irem.
- Que isso... Eu vou, com certeza. Afinal, não é sempre que a gente chega na terceira
idade! – Paulo ri para descontrair.
- Epa! Tá longe disso acontecer, hein! – René ri junto com Paulo.
- É!
- Mas, se anima aí. Vai dar tudo certo.
René bate nas costas de Paulo e eles se despedem.

Esther estava no escritório conversando com um dos funcionários e Paulo ainda não
havia chegado. Meia hora depois, ele aparece:
- Olá, olá!
Quando ele chega até Esther, ela continua concentrada em seu trabalho até ele
cumprimentá-la:
- Oi...Tudo bem?
- Oi. Sim...- Ela diz, transparecendo em seu olhar o amor, o desejo e a saudade que
sentia por ele, apesar de tudo. Paulo olha para os lados, pensando no que dizer e
finalmente fala:
- É...Eu estava no restaurante com o René. Hoje vai ser a festa de aniversário...
- Pois é. A Tereza me ligou mesmo.
- Você...vai?
- Eu preferia não ir...Mas a sua irmã insistiu e...se você não quiser que eu... vá...
- Imagina! Eu nunca pediria isso. Acho que nós temos que ir...
- É, tudo bem...
- Eu posso passar pra te pegar? Pra irmos juntos?
- Acho melhor não, Paulo...
- Tá...Tudo bem. – Paulo diz, triste. – Eu vou ali, ver como andam os banners pras
novas lojas.
- Certo.
Paulo a olha por mais alguns minutos e sai, ainda triste, e Esther tenta esconder o
sofrimento, voltando ao trabalho.

O casal passa a maior parte do tempo afastado no escritório da Fio Carioca, e nos
momentos que estão próximos sempre há mais alguém por perto, o que os deixa ainda
mais tensos e inconformados com a separação. Há pouco tempo, os dois estariam se
abraçando e se beijando diante de todos do escritório, em meio a risadas e declarações
apaixonadas. Mas tudo estava estranho.

Já é noite e Paulo encontra Esther arrumando suas coisas na mesa e pegando sua bolsa
para ir embora:
- Oi...Posso entrar? – Ele bate de leve na porta.
- Claro...Essa sala também é sua. – Ela diz, sorrindo, ainda olhando para suas coisas,
evitando o olhar de Paulo.
- Você já está indo?
- Sim, preciso me arrumar pra festa...
- É, eu também. Você quer que eu te leve, pra não se atrasar?
- Não...não precisa. Eu estou de carro hoje.
- Hum. Tudo bem, então...Vamos? Eu te acompanho até o estacionamento.
- Certo. – Esther sorri e Paulo toca os ombros dela, a acompanhando até o lado de fora.
Os dois caminham até o estacionamento e Paulo pára diante do carro dela, se
aproximando, e fazendo com que ela encostasse no carro. Ele apóia o braço no carro e
abaixa a cabeça, olhando para os pés e dizendo:
- Esther...Me desculpa por ontem. Eu falei coisas que não queria.
- Não..não vamos mais falar sobre isso. Você sabe que não dá certo.
- Eu sei, só queria me desculpar.
- Tá tudo bem. Melhor a gente ir, senão vamos nos atrasar...Do jeito que você demora
no banho. – Esther começa a rir e Paulo ri junto com ela.
- Pois é! Você é tão mais prática do que eu e faz tudo com tanta perfeição. – Ele a olha
fundo nos olhos enquanto diz e os dois ficam um tempo se olhando em silêncio. Paulo
endireita seu corpo e se aproxima mais ainda de Esther. Os dois trocam olhares,
desejando imensamente que acontecesse um beijo, mas pessoas começam a chegar no
local e eles se dispersam.
- Bom, eu...já vou...- Esther se desfaz do clima com dificuldade e entra no carro. Paulo
diz tchau e se afasta, a observando ir embora.


São 21 horas e todos já estão reunidos na casa de Tereza, inclusive Paulo, que havia
chegado antes de Esther. Todos estranham a ausência da esposa ao seu lado, porém
ninguém comenta a separação dos dois.
Em meio a conversas, Paulo tenta esconder seu desânimo, quando de repente a porta se
abre e Esther aparece com um vestido preto com detalhes discretos na cor vinho. O
modelo era padronizado, seguindo o seu gosto por decotes avantajados nas costas. Paulo
a olha maravilhado, aumentando ainda mais a saudade que estava sentindo.
Esther cumprimenta todos e Paulo logo se levanta:
- Oi! – Ele diz sorrindo.
- Oi! – Esther se aproxima dele e o beija rapidamente no rosto.
Todos percebem o clima e tentam descontrair, puxando conversa e oferecendo bebidas.
Esther entrega o presente à René e o abraça, desejando felicidades.

Capítulo VII

O jantar começa e Tereza havia separado uma cadeira para Paulo ao lado de Esther,
propositalmente. Os dois se sentam, um pouco sem jeito, e ficam o jantar todo sem se
falar e evitando olhares, porém era impossível que alguns olhares furtivos
acontecessem. Tereza então, em meio à outras conversas, engata uma provocação:
- Esther, meu bem, você não comeu quase nada. Não me diga que está de regime como
suas modelos?
- Não, meus tempos de regime já se foram. A comida está ótima, eu é que estou um
pouco sem fome.
- Aposto que isso é culpa do meu irmão.
- Tereza! – René a repreende.
- Mas é...Eu canso de aconselhar o Paulo, mas ele não me ouve.
Esther e Paulo se entreolham e ficam em silêncio. René logo muda de assunto e todos
descentralizam a atenção do casal, menos eles próprios.
No final da festa, acontece também a queima de fogos. Todos vão para o jardim e
Esther hesita, pois se lembra da última vez que estivera na mesma situação, porém,
junto de Paulo.
Eles seguem para o jardim e ficam de braços cruzados, um do lado do outro. Paulo não
resiste e se aproxima, dizendo:
- A noite está linda, não está?
Esther sorri levemente e concorda:
- Pois é. Linda...
- Não mais do que você...Você tá maravilhosa.
- Obrigada. – Esther agradece, sem jeito.
Paulo não tira os olhos dela, que tenta desviar seu olhar e prestar atenção nos fogos. Os
dois continuam um do lado do outro, em silêncio, sentindo apenas um frio na barriga,
como se fossem dois estranhos descobrindo o amor.

Terminado a queima de fogos, Paulo ainda continua observando Esther, quando eles são
interrompidos por Tereza:
- Queridos! Vamos entrar?
Paulo sorri e Esther vai logo na frente. Já na sala, todos se sentam e conversam mais um
pouco. Paulo se senta ao lado de Esther, porém, mantendo uma certa distância. Ela
participa da conversa dele com René:
- E a Fio Carioca? Está a todo vapor?
- Sim. Cada dia melhor. – Paulo diz.
- E quando vamos ter outro desfile daqueles? – Tereza pergunta. – Quero ficar em
êxtase de novo com novos modelitos.
- Pra esse ano fica difícil. Vamos ver o que acontece no primeiro semestre do ano que
vem. – Esther responde.
- Ah, vai demorar muito. E vê se não engravida ano que vem, pra adiar mais ainda...-
Tereza começa a rir.
- Tereza! – René a repreende, a puxando de lado.
- Ai, René. Eu só... – René a interrompe novamente:
- E então? Vocês querem mais alguma bebida?
- Não, eu na verdade já vou indo. Amanhã preciso acordar cedo. – Esther diz, séria.
Paulo a olha, desconcertado com a brincadeira da irmã e levanta junto com ela.
- Eu também vou indo, gente. Também trabalho.
- Ah, mas que pena. Estava tão bom. – Tereza diz.
- A festa estava ótima! Mais uma vez, parabéns René, tudo de bom! – Esther o
cumprimenta e em seguida se despede de Tereza Cristina, seguindo até a porta. Paulo se
despede rapidamente dos dois, a fim de alcançar Esther.

Quando a estilista já está dentro do carro, quase dando partida, Paulo entra rapidamente,
a assustando:
- Paulo?!
- Me deixa ir com você...Por favor. – Paulo pede.
Esther tenta dizer algo mas não consegue, apenas fica o olhando, sentindo tudo ao
mesmo tempo: a descoberta do imenso amor que sentia por aquele homem, a vontade de
abraçá-lo, a falta que ele fazia e a decepção que sentira há tão pouco tempo atrás.
Ela continua sem dizer nada e apenas liga o carro, indo para casa junto com Paulo.
Tereza os observa pela janela e diz para René, longe dos convidados:
- Esses dois nunca vão conseguir ficar separados. Não adianta... Mas se a Esther
continuar com essa ideia maluca, não sei não...
- Como assim? Achei que você estava apoiando a Esther.
- Ai, não sei. Pensei melhor sobre isso tudo de fertilização, é tão estranho. Essa criança
ter pais desconhecidos e a Esther ser hospedeira. Estranho demais.
- Ai, Tereza! Você é muito inconstante!
- Mas...Melhor ter um sobrinho bastardo do que o Paulo trazer outra mulher pra cá.
- Você não tem jeito, Tereza Cristina. Vamos pra lá, vai.
Os dois vão até a sala e continuam a conversa com os convidados.

Esther estaciona o carro na garagem do condomínio e eles sobem juntos, calados. Paulo
a observa todo o tempo.
Chegando em casa, Esther entra, deixando a chave do carro em cima da mesa e Paulo
fecha a porta.
Ela fica de frente para ele e os dois trocam olhares por alguns minutos, até que Paulo se
aproxima cada vez mais. Os dois fixam o olhar nos lábios um do outro, e tomados por
um silêncio ensurdecedor, eles entendem que naquele momento nenhuma palavra era
necessária. O desejo de estarem juntos era tão grande, que eles esquecem de tudo,
deixando que o amor que eles conservaram há tantos anos tomasse conta deles
novamente. Sem pensar em nada, Esther se aproxima mais ainda de Paulo e consegue
emitir a única frase que fazia sentido naquela hora:
- Te amo...

Capítulo VIII

Paulo não espera nem um segundo e puxa o corpo de Esther para junto do seu. Ele
percorre as costas dela com as mãos, sentindo a sua pele, a fazendo arrepiar. Esther
fecha os olhos e se deixa tomar pelo momento, como se fosse se entregar pela primeira
vez nos braços de Paulo.
O desejo é tanto que depois de sentirem a pele um do outro, apenas se tocando com o
rosto e com as mãos, eles se rendem a um beijo ardente, cheio de saudade. Enquanto se
beijavam, eles iam caminhando até o quarto, se esbarrando nos móveis da sala. Esther
sorri e olha para Paulo, que retribui. Ela puxa o colarinho do terno de Paulo o trazendo
para perto, em mais um beijo. Eles continuam se abraçando até chegarem no quarto.
Paulo abaixa as alças do vestido de Esther , beijando o pescoço dela,descendo até seus
ombros. Ele caminha, a deixando de costas para ele, e beija sua nuca. Esther sorri e
fecha os olhos, levando suas mãos para trás, tocando os cabelos de Paulo. Ele acaricia as
costas de Esther, a beijando por todas as partes, e aproveita para descer o restante do
vestido dela, que cai no chão. Ela se volta para ele e o ajuda a retirar suas roupas. O
casal caminha até a cama e finalmente se ama.

Depois de se amarem, eles ficam abraçados na cama envoltos pelo lençol, sem dizer
nada. Esther acaricia o peito de Paulo e ele beija os cabelos dela. Depois de um tempo
ela diz:
- O que aconteceu aqui?
- Hum...- Paulo diz, pensando. – Nós simplesmente nos amamos... de novo. E foi
maravilhoso.
- É...- Esther concorda e continua. – Me diz...Por que eu não consigo ficar longe de
você? – Ela pergunta e se desprende dos braços deles, o olhando.
- Porque você me ama, assim como eu te amo.
Esther sorri e toca o rosto de Paulo:
- O que a gente faz?
- Não sei...não sei. – Paulo diz, olhando para ela. – Eu só sei que eu não vou conseguir
me controlar toda vez que eu te ver, não dá mais pra ficar perto de você, ver esse teu
sorriso lindo – Paulo sorri junto com ela - ... sem te beijar, sem te tocar... Eu te amo,
Esther... muito! - Paulo diz e beija o pescoço de Esther por todas as partes, a abraçando.
Os dois riem e caem na cama, aos beijos.

O dia amanhece e Esther está dormindo. Ela rola seu corpo para o lado, tentando
alcançar o corpo de Paulo, mas ele não estava lá. Esther abre os olhos e pensa ter sido
tudo um sonho, mas não era...Foi real e o cheiro de Paulo ainda estava nos lençóis. Ela
levanta, ainda com sono e esfregando os olhos, colocando os sapatos e caminhando até
a sala. Paulo estava lá, sentado, olhando para o vazio. Quando ele percebe a presença de
Esther, diante da porta, ele se levanta e a olha. Os dois ficam um bom tempo trocando
olhares, lamentando que o dia tenha amanhecido e a noite que parecia eterna e perfeita,
tinha terminado.
Paulo diz, sorrindo levemente:
- Bom dia. Não quis te acordar...Você estava dormindo tão bem...
Esther apenas sorri e se aproxima dele, receosa em tocá-lo. Paulo percebe o clima
estranho e diz:
- Eu estava pensando... Como vai ser daqui pra frente.
- Eu também...- Esther diz, olhando para baixo e Paulo alcança o rosto dela, a tocando
com carinho, fazendo com que ela o olhasse:
- A gente se ama tanto Esther...Por que isso tudo foi acontecer?
- Ai Paulo..- Esther desabafa, quase chorando...- Eu sofri tanto quando soube que não
poderia ter um filho realmente meu... e seu...Que todas as minhas esperanças tinham ido
por água abaixo. Depois eu pensei que seria a mesma experiência, a mesma realização,
se eu tivesse esse filho... Que mesmo sendo geneticamente de outra pessoa, essa criança
ia ser nossa, não é?
- Esther...Eu... - Paulo tenta encontrar as palavras certas - ... você sabe...- Esther o
interrompe:
- Eu sei, eu sei que você pensa diferente. Mas eu sinto que se eu não fizer isso, eu vou
me arrepender pro resto da vida. Eu iria criar essa criança, e a partir do momento que
ela estivesse dentro de mim, ela já seria minha...nossa...se você quisesse. Agora tudo
desmoronou, você mentiu pra mim, Paulo...Por que você me apoiou se não era uma
coisa que você queria?
- Porque eu te amo. Porque eu queria ver você feliz...Mas eu vi que eu não conseguia,
que eu não consigo pensar como você, desejar o mesmo...
Esther apenas assente com a cabeça e caminha pela sala, entrelaçando os dedos entre os
cabelos, se sentindo sem chão:
- Desculpa Paulo, eu preciso tentar...com ou sem o seu apoio. Você entende?
- Então você prefere abandonar tudo o que a gente construiu? Essa noite não significou
nada?
- Paulo, por favor...
- Eu preciso pensar, Esther. Eu não sei como seria minha vida agora com uma criança, e
ainda mais nessa situação...Você sabe que eu também não confio nessa doutora
Danielle.
- Eu sei, mas eu confio.
- Você a conheceu há tão pouco tempo.
- Ela nunca demonstrou nenhum motivo que eu pudesse desconfiar...Ela é tão íntegra,
profissional...
- Tudo bem, Esther. Eu não quero discutir com você, eu fico péssimo, cansado. O que
eu quero é lembrar dessa noite, pra sempre. Foi tão especial, como se fosse nossa
primeira vez juntos.
- Eu também me senti assim. Só que eu não vou suportar passar por isso novamente. O
melhor é ficarmos separados, realmente darmos um tempo...
- Certo... E você vai continuar encontrando aquela médica, vai fazer o procedimento?
- Não sei, não sei...- Esther diz, triste.
- Eu vou indo..então.
- Tá..
Paulo olha para Esther por mais algum tempo, que estava com a cabeça baixa e apoiada
no encosto do sofá, e finalmente diz:
- Mesmo indo embora, mesmo não tendo o mesmo desejo que o seu, eu não canso de
dizer...que eu vou continuar te amando incondicionalmente... pro resto da minha vida.
(Música – “Problemas”)


Capítulo IX

Esther olha para ele, chorando. Paulo também se emociona e não se contém, indo até ela
e segurando seu rosto com as duas mãos. Ele não diz nada, apenas a olha por mais um
tempo e a beija intensamente. Ele a beija várias vezes, indo até o pescoço e a abraçando.
Os dois ficam um bom tempo envolvidos no abraço, de olhos fechados, até que Paulo se
afasta, demorando para soltar das mãos dela.
Por fim, ele lança um último olhar, retribuído por Esther, e vai embora, fechando a
porta.
Esther desaba, sentindo que agora tinha realmente perdido o apoio de seu marido. Ela ia
começar uma vida sozinha, ou melhor, uma vida nova, quem sabe em companhia do seu
filho e do seu amor por Paulo – que nunca ia acabar.

Paulo resolve ir até o restaurante de René, para conversarem:
- E aí, cara? O que foi que aconteceu?
- Por que? Está tão óbvio assim que estou acabado?
- Ih, já vi tudo. Esther?
Paulo não responde, apenas suspira e pede:
- Vamos sentar? Ou você está muito ocupado? Posso voltar outra hora...
- Nada disso! O movimento ainda está tranqüilo...Vem, vamos sentar aqui...
René aponta a mesa logo à frente e eles se sentam:
- E então? O que aconteceu depois da festa de ontem? Vi vocês indo embora juntos...
- Pois é. O que aconteceu foi que, tivemos uma recaída, mesmo ainda estando casados.
– Paulo começa a rir. – Acho que nunca ouvi falar de uma história assim...Um casal que
se ama, fazendo o possível pra resistir um ao outro.
- É...Eu também não. – René ri e concorda. – Mas vocês passaram a noite juntos e...
- E...Não adiantou de nada...Resolvemos manter o “trato” de continuarmos separados,
mas eu sinto que vai ser mais difícil daqui pra frente. Parece que hoje foi uma
despedida.
- Ei, não diz isso. Vocês dois se amam tanto. Será que não tem uma solução pra tudo
isso?
- Não conseguimos encontrar nenhuma, por enquanto...
- Que pena. Eu torço muito pra que tudo volte a ser como antes.
- E eu...Eu penso nisso todos os dias.
René se levanta e dá um abraço no cunhado, nisso, o telefone de Paulo toca:
- Licença... – Paulo pede à René e atende:
- Oi, Marcela! Como vai? Que bom...É...Tudo bem, pode ser. Nos vemos lá, então. Um
beijo. - Paulo desliga.
- Hum. Marcela? – René pergunta, desconfiado.
- É...Uma jornalista que conheci em São Paulo. Estamos bem próximos...
- Paulo, Paulo...Isso não é perigoso, não?
- Imagina, por que seria? É só uma amiga...
- Tudo bem, então. Afinal de contas, você só tem olhos pra sua mulher, não é?
- Claro. Eu não me imagino com outra mulher...Nem estando separado dela, eu não vejo
minha vida sem a Esther.
- Eu sei disso. Mas...Toma cuidado que às vezes nem a nossa certeza escapa de
certos...imprevistos.
- Imagina! - Paulo diz, sorrindo e convicto.
René olha para ele ainda preocupado com o telefonema da tal amiga misteriosa e os dois
se despedem.

Paulo já estava na Fio Carioca e olhava todo o tempo para o relógio. Esther nunca havia
se atrasado tanto, sem deixar recado. Ele fica preocupado, mas tenta se distrair, dando
ordens aos funcionários e fazendo alguns telefonemas. Enquanto isso, Esther procura
Danielle no novo consultório que ela havia montado no Rio de Janeiro:
- Por favor, a doutora Danielle está? Não marquei hora... – Esther diz à secretária.
- Quem gostaria?
- Diz que é a Esther.
Depois de alguns poucos minutos, a secretária retorna da sala de Danielle:
- Pode me acompanhar, ela vai atendê-la agora mesmo.
- Obrigada! Com licença...
Chegando no consultório, Danielle logo se levanta cumprimenta Esther com dois beijos
no rosto, pegando em sua mão:
- Querida! Como você está? Suas mãos estão geladas, aconteceu alguma coisa?
Esther a olha sem dizer nada, transparecendo nervosismo e preocupação, e diz:
- Posso me sentar?
- Claro que sim...Por favor.
- Desculpa vir sem avisar, sei que você é muito ocupada.
- Imagina...Você sabe que pode vir a qualquer hora.
Esther sorri levemente mas logo fica séria, dizendo:
- Eu e o Paulo...Nós nos desentendemos de novo...E parece que agora é definitivo.
- Eu...sinto muito, Esther. Mas você então...Vai desistir?
- Não sei...Eu estou confusa, porque sem o Paulo essa fertilização não vai fazer sentido,
mas ao mesmo tempo eu penso que se eu não fizer, vou me arrepender pro resto da vida.
- Posso dar minha opinião, independente de ser médica, de ser “a” médica responsável
por esse procedimento?
- Claro, por favor...Qualquer opinião agora vai ser mais lúcida do que a minha própria.
- Eu acho, querida, que você deve tentar. Afinal, o que você perderia tendo um filho
com o qual você sempre sonhou? E eu acredito que o Paulo irá voltar atrás quando te
ver grávida, quando a criança nascer. – Danielle sorri.
- É, eu pensei nisso. Acho que talvez ele esteja com medo, mas depois que ele perceber
que está tudo bem, que essa gravidez pode ser maravilhosa para nós dois...Talvez ele
entenda.
- Claro! Eu acredito que sim! – Danielle concorda.
- Então... podemos começar?
Danielle sorri ainda mais, com um brilho nos olhos jamais visto por Esther:
- Com certeza! Você fez uma sábia escolha, e eu vou fazer de tudo para dar certo...E
pode ter certeza que vai!
- Que bom! – Esther diz, ainda insegura.
- Eu já tenho doadores, com os genes perfeitos para você.
As duas conversam um longo tempo sobre a fertlização e Esther não percebe o tempo
passar. Depois de algumas horas, a secretária pede licença e as interrompe:
- Doutora, a paciente das 15 horas já chegou.
- Nossa! Já são 3 horas? Nem vi o tempo passar...Preciso ir! - Esther diz.
- A conversa estava tão boa, que também não reparei. – Danielle sorri.
- Bom, obrigada Danielle...por tudo. – Esther aperta a mão de Danielle, que se levanta e
vai até ela, segurando em suas mãos e dizendo:
- Vai dar tudo certo, viu?
Esther sorri, ainda confusa com sua decisão e retribui o sorriso:
- Tomara!
Danielle a olha e lhe dá um abraço. Esther retribui, um pouco acanhada e se despede:
- Vou indo...Obrigada de novo, até mais. Te ligo depois...
- Combinado, fico esperando ansiosa.

Esther vai embora e Danielle se senta, sorrindo e pensativa.

Capítulo X

O trânsito faz com que Esther se atrase ainda mais para chegar na Fio Carioca, e Paulo
fica cada vez mais aflito, esquecendo do seu encontro com Marcela. Ele a deixa
esperando no café, até que ela liga para ele:
- Ah! Deve ser a Esther...- Paulo diz, antes de ver o número no celular. Quando ele vê
que é Marcela, se lembra do encontro:
- Ih, nossa. Que droga... – E atende:
- Alô, oi Marcela...Me desculpa. Eu acabei tendo uns problemas aqui no
escritório...Estou descendo, tudo bem? Ok, desculpa de novo...Um beijo.
Paulo olha para o relógio novamente, sem tirar Esther da cabeça, e segue para seu
encontro com Marcela.

Esther está passando de carro e vê Paulo entrar no café em frente ao escritório. Ela
estaciona por perto e o vê junto com Marcela. Nesse momento, Esther sente que estava
deixando o caminho livre para Paulo, e se sente sem chão, pensando se a decisão que
tomou era a correta. Ela liga o carro e entra no estacionamento, tentando ignorar o que
estava lhe machucando.

Enquanto isso, Paulo conversa com Marcela:
- E aí? Fiquei preocupada com você...E com sua esposa. Vocês já estão bem?
- Eu cheguei a pensar uma hora que estava tudo bem, que tudo tinha voltado ao
normal...Mas não...Acho que dessa vez estamos mesmo separados.
- Poxa, que pena, Paulo. Você não merece sofrer.
- A Esther não merece... - Ele a corrige.
Marcela fica em silêncio e depois diz:
- Bom, eu não quero que você me leve a mal, mas separei uns convites pro SP Fashion
Week pra você. Ganhei ontem e pensei em te dar...Achei que ia gostar.
- Sério? Muito obrigado, Marcela. Mas eu acho que não estou com cabeça...e na
verdade eu também tenho alguns convites... - Paulo diz, desconcertado.
- Ai, que cabeça a minha, é claro que você tem convites! O dono da Fio Carioca!
- É, mas eu não vou..Não posso deixar o trabalho agora, com a nova coleção a todo
vapor.
- Eu imagino...Mas, fica aqui o meu convite ainda...
- Claro! – Paulo sorri. – Obrigado, mesmo assim.
- Tudo bem! Vamos fazer o seguinte? Amanhã eu posso te ligar pra confrmar que você
realmente não vai nesse desfile?
- Hum...
- Pode ser sincero. Se você pedir que eu não ligue nunca mais, que eu estou sendo chata
e inconveniente eu juro que vou levar numa boa!
Paulo começa a rir:
- Ai, Marcela! Só por conta dessa descontração eu deixo você me ligar, ok?
- Ótimo!
Paulo sorri e de repente fica quieto. Marcela pergunta:
- O que foi?
- Nada...É que pensei...que faz tanto tempo que não converso assim com a Esther, que
não rimos juntos...
- Sei...- Marcela diz, sem saber como continuar.
- Desculpa, eu não consigo mudar de assunto...Eu não tiro ela da minha cabeça.
- Imagina, eu entendo. De verdade... O que você precisar, é só me chamar! – Marcela
diz e se levanta, já indo embora.
- Obrigado!
- Até amanhã! – Marcela sorri e dá um beijo rápido no rosto de Paulo. Ele ri levemente
e volta a pensar em Esther, apreensivo.

Enquanto isso, Esther está na Fio Carioca, sem conseguir tirar de sua cabeça, a imagem
de Paulo e Marcela juntos. Ela senta e começa a esboçar alguns desenhos, quando Paulo
aparece, batendo na porta:
- Oi...Posso? – Ele pergunta antes de entrar.
- Claro... – Ela diz, sentindo seu coração disparar.
- Está tudo bem? Você demorou...
- Tá...tá tudo bem. Eu acabei pegando um trânsito quando estava vindo da clínica...
- Hum. Então você foi...Já pra fazer...- Esther o interrompe:
- Não...Ainda não fiz nada.
Paulo fica em silêncio, tentando dizer algo para ela. Os dois ficam se olhando até que
Esther se levanta e entrega para Paulo:
- Você esqueceu seu radio em casa. – Esther devolve o aparelho para ele, e os dois se
tocam, sentindo um desejo enorme de quebrarem o trato.
Esther logo se solta dele, voltando para sua mesa e ele diz:
- Obrigado. Eu nem tinha percebido.
Esther sorri levemente e o telefone de sua mesa toca. Ela liga o viva-voz:
- Oi, já estou indo Celeste. – Ela diz para uma das funcionárias que a chamava para
verificar os biquínis no corpo das modelos.
Ela desliga o telefone e diz:
- Bom, vou até lá, ver a prova das peças...
- Tudo bem. – Paulo responde e a olha sair da sala, passando as mãos nos lábios,
suspirando:
- Ai, Esther, Esther...
A noite chega e Esther se encontra com Paulo nos corredores:
- Já vai? – Paulo pergunta à ela.
- Sim.
- Eu acho que amanhã vou até São Paulo, ver o desfile da Fashion Week. Você vai?
- Hum...Não. Tenho algumas coisas pra fazer por aqui.
- Você vai precisar de mim aqui? Posso cancelar...
- Não, não precisa...Apesar da correria, amanhã acho que vai estar tudo tranqüilo.
- Tudo bem, então...E...Boa noite. – Paulo se despede, ainda achando estranho a
distância entre eles.
- Boa noite. – Esther diz, olhando fixamente para os lábios dele.
Paulo espera Esther ir na frente e vai logo atrás. Ele fica de longe a olhando sair com o
carro do estacionamento.

Quando os dois chegam em casa, eles vão para o banho e depois se sentam no sofá –ela,
da sua casa e Paulo, do flat - os dois estavam sem fome, sem vontade alguma para outra
coisa a não ser pensarem na besteira que estavam fazendo, continuando separados.
Paulo pega uma foto de Esther e diz, sozinho:
- Meu amor...Quanta falta você me faz...Que saudade do teu beijo, do teu sorriso. – Ele
toca a foto, desejando a mulher em seus braços novamente.


Já é dia, e Paulo arruma suas coisas para pegar o vôo até São Paulo, onde Marcela já se
encontrava, e Esther segue para o trabalho.
Paulo manda uma mensagem de celular para a esposa, que vê assim que chega no
escritório:
“Estou no aeroporto rumo à São Paulo, para o desfile. Se quiser, ainda dá tempo de
pegar o vôo comigo. Vamos?”

Esther fica tentada em aceitar, mas prefere não ir, pois sabia que teriam outra recaída e
consequentemente um novo desentendimento. Afinal, Esther não havia desistido de seu
sonho.
Ela responde a mensagem:
“Obrigada pelo convite. Mas terei que ficar por aqui, muito trabalho pela frente.
Aproveite por mim. Beijos.”
Em seguida, sem demora, Paulo finaliza:
“Uma pena. Qualquer problema por aí, me avise. Beijos e saudades.”

Esther lê a mensagem e diz sozinha:
- Paulo...Por que isso? – Ela senta e abaixa sua cabeça na mesa, já cansada com a
situação.

Paulo chega em São Paulo e vai direto para o desfile da Fashion Week, onde encontra
Marcela à sua espera. Os dois sentam juntos e decidem sair após o evento.
Depois de muita conversa e risadas, Marcela o convida para um drink em um
restaurante conhecido:
- Acho melhor não, Marcela. Eu preciso voltar ainda hoje pro Rio.
- Vai fazer mesmo essa desfeita?
Paulo fica pensativo e diz:
- Tá bom, vai...Mas só um pouquinho.
De repente, uma voz de mulher chama por Marcela. Paulo logo a reconhece:
- Tia Íris?

Capítulo XI

- Paulo, Marcela! Que surpresa boa, meus queridos! – Tia Íris chega, cumprimentando
os dois com um beijo no rosto.
- Você conhece a Marcela? – Paulo se surpreende.
- Claro! Marcelinha é minha amiga. Nos conhecemos em New York, não é, querida?
- Pois é! Que saudades, Íris! Eu que não sabia que vocês se conheciam. Você a chamou
de “tia” Íris? – Marcela se volta para Paulo.
- Sim! Essa é minha tia querida! – Paulo a abraça.
- Nossa! Que coincidência! – Marcela diz, sorrindo para Íris.- Nós estamos indo beber
alguma coisa, vamos? – Marcela a convida.
- Não, não posso. Vim somente para o desfile, porque o Paulo bem sabe que eu adoro
isso tudo....E estou indo direto para o Rio.
- Eu também vou, tia. Que horas é seu vôo?
- Agorinha mesmo! Não se prendam por mim, eu vou ter que voar para o aeroporto. A
Tereza Cristina deve estar me esperando.
- Ah, então deu tudo certo pra você se hospedar na casa da minha irmã?
- Bom, para mim está tudo certo! A Tereza implica comigo, mas no fundo nós nos
entendemos bem!
- Eu espero que sim! – Paulo diz, desconfiado.
- Bom, foi um prazer te rever, minha linda! Tchau! Vejo você no Rio hein, querido? –
Ela diz para Paulo e no meio do caminho ela se volta para eles novamente: - Ah,aliás,
vocês dois ficam ótimos juntos! Com todo respeito à Esther! Um beijo. – Íris se
despede.
- Ai, essa Íris, não tem jeito! – Marcela sorri, sem graça.
- Pois é...Eu que o diga!
- Fiquei surpresa em saber que minha grande amiga Íris é nada mais, nada menos, que
sua tia!
- Viu só? Além da simpatia, temos uma conhecida em comum! – Paulo brinca.
- É! Vamos, então? – Marcela diz, se dirigindo até um táxi.
- Vamos!
Os dois entram juntos e seguem para o restaurante.

Marcela e Paulo conversam bastante sobre suas vidas. Ele conta o dia que conheceu
Esther:
- Ela estava deslumbrante...Eu me lembro como se fosse ontem. Ela continua a mesma,
maravilhosa, perfeita...
- Que sorte a dela, ter um homem assim, como você...
- Sorte a minha, com certeza é toda minha...- Paulo fica pensativo e depois inquieto:
- Eu, eu acho que já vou indo, Marcela. Bebi um pouco demais, preciso pegar o vôo.
- Calma, falta muito ainda pro seu vôo. Queria tanto que você conhecesse meu
apartamento. Tenho matérias ótimas sobre moda pra te mostrar.
- Será? Não estou muito bem, Marcela.
- Por que? Está se sentindo mal?
- Não, é o mesmo de sempre. Eu preciso ficar sozinho, entende?
- Mas se você ficar sozinho, é pior, querido. Vem, vamos nos distrair. – Marcela paga a
conta para os dois e vai com Paulo até seu apartamento.
Chegando lá...
- Nossa, que mulher contemporânea você, hein! Paga a conta, me trás de carro, paga o
táxi.
- Viu só? Da próxima vez é você, espertinho! – Marcela e Paulo começam a rir, e ele se
apóia no encosto do sofá, tendo uma tontura por conta do excesso de bebida.
- Ei, senta aí. Você vai acabar caindo. –Marcela diz e Paulo começa a rir, sem saber o
motivo.
- O que foi? – Marcela pergunta e ri junto com ele.
- Nada...Você me embebedou, hein.
- Que nada, isso é só o começo. – Marcela dá um copo de whisky para ele, que sem
pensar, aceita.
- Sabe, Marcela. Eu queria tanto, tanto, que a Esther voltasse pra mim...Mas sem filho
nenhum, sabe? Porque eu amo demais aquela mulher, eu faria tudo por ela, mas um
filho agora...
- Eu sei...- Marcela diz, se aproximando cada vez mais de Paulo.
- Eu...eu..- Paulo tenta dizer, sentindo a proximidade de Marcela, e ficando nervoso.
- ...eu queria a Esther pra sempre, mas eu sinto que estou a perdendo, cada vez mais.
- Não fica assim. Você merece ser feliz...- Marcela toca o rosto de Paulo e ele se
esquiva:
- Não, eu preciso ir embora...- Paulo se levanta, mas logo cai no sofá, não suportando o
peso do seu corpo por causa da bebida.
- Ei, mocinho. Senta aí...- Marcela ri e o ajuda.
- Tá...Eu acho que bebi demais. – Paulo abaixa a cabeça e quando levanta, Marcela está
na frente dele, pronta para lhe roubar um beijo. Paulo não consegue enxergar mais nada
e acaba se rendendo às carícias de Marcela, pensando ser Esther. Os dois se beijam e
Marcela cai sobre o corpo de Paulo, tirando a sua roupa. Ele é dominado pelo momento
e ao segurar o rosto de Marcela, ele vê Esther e sorri:
- Meu amor, eu te amo tanto, Esther...
Marcela finge não escutar o nome de outra, e continua a beijá-lo. Os dois passam a noite
juntos e Paulo perde o vôo para o Rio de Janeiro.

Já é de manhã e Esther estranha que Paulo não tenha mandado nenhuma mensagem ou
ligado. Ao menos para dizer a que horas estaria na Fio Carioca. Ela pensa que poderia
ter acontecido alguma coisa e liga para o celular dele. O celular toca insistentemente na
sala do apartamento de Marcela, onde ela e Paulo ainda dormiam.

Chegando na Fio Carioca, Esther se depara com Íris em sua sala:
- Tia Íris? – Esther se surpreende.
- Oi, meu amor! – Íris se aproxima e lhe dá um abraço.
- Nossa! Que surpresa..Não esperava sua visita.
- Eu sei, eu gosto de chegar nos lugares sem avisar...Me desculpa a indiscrição.
- Imagina! Mas como você está? Tá tudo bem? – Esther pergunta, colocando sua bolsa
na mesa e pedindo para que Íris se sentasse. Ela se senta e diz:
- Estou ótima. Acabo de sair da casa da sua cunhada...Ela me recebeu tão bem!
- Jura? Que ótimo! – Esther sorri, achando estranho a suposta receptividade de Tereza
Cristina com a tia.
- Bom, mas e o meu sobrinho predileto? Onde está?
- O Paulo? Deve estar se arrumando e vindo pra cá...
- Hum, eu o vi ontem à noite em São Paulo, será que ele perdeu o vôo?
- Sério? Você o viu aonde?
- Saindo do desfile da Fashion Week...Ah, ele está tão bonito, alegre, risonho...Como
sempre!
- É! – Esther se incomoda.
- Ele estava com uma grande amiga minha, que conheci nos bons tempos em Nova
York...A Marcela! Que coincidência, não é?



Capítulo XII

Quando Esther escuta o nome de Marcela, ela sente um nó na garganta e uma dor de
cabeça repentina. Tia Íris continua a dizer:
- Eles estavam indo para um restaurante, mas não pude aceitar o convite para ir com
eles, ou ia perder o vôo...Achei estranho não te encontrar por lá, afinal de contas, vocês
não se desgrudam! Com todo respeito, claro.
- Eu...eu e o Paulo estamos dando um tempo...- Esther tenta dizer.
- Meu Deus, não sabia! Me desculpa, querida. Sinto muito...
- Tudo bem...Sem problemas.
- Ai, mas a Marcela é uma profissional ótima...Eles estavam com certeza trocando
figurinhas sobre moda...Ela adora moda! É uma jornalista maravilhosa.
- É, eu estou sabendo sim, Íris. Bom, eu tenho que me desculpar, mas não vou poder dar
tanta atenção...Estou numa correria com a nova coleção...- Esther diz, se levantando.
- Claro! Que cabeça a minha, fico aqui te atrapalhando...Vim só te dar um beijo e um
abraço. Estava com saudades!
- Eu também! – Esther sorri levemente e abraça tia Íris, que se despede e sai da sala,
sorrindo.

Esther fica pálida e estática, pensando no que poderia ter acontecido com Paulo e
Marcela em São Paulo.

Paulo acorda com uma dor de cabeça infinita, ele olha para os lados, não identificando o
lugar onde estava:
- Que lugar é esse?
- Bom dia! – Marcela aparece com uma bandeja nas mãos de café da manhã, vestindo
um hobby preto.
- Marcela? O que...o que eu tô fazendo aqui, com você?
Marcela coloca a bandeja na mesa do quarto e diz:
- Desculpa, eu não devia me comportar como se nada tivesse acontecido, mas pensei
que talvez você fosse se lembrar...
- Lembrar, de que? Nós dois...? - Paulo faz um gesto tentando explicar o que não queria
dizer, e Marcela concorda:
- Sim, nós dormimos juntos.
- Eu não lembro...de nada.
- É, acho que exageramos na bebida. Foi culpa minha, né?
- Não...Não sei o que te dizer, Marcela. Eu preciso ir embora. – Paulo diz, se levantando
rapidamente e colocando suas roupas. – Eu não queria ser grosso com você, mas isso
não devia ter acontecido de jeito algum. Por favor, esquece tudo isso.
- Hum...claro...não se preocupa. – Marcela diz, ironicamente, mas Paulo não percebe.
Ele só sabia pensar em Esther e no que havia feito.
- Eu vou indo...- Paulo fica sem graça e não sabe como se despedir. Ele não diz mais
nada e sai correndo.
Marcela dá um leve sorriso.

Já é tarde e Esther continua preocupada com o sumiço de Paulo. Ele não dava notícias e
nem atendia o celular. Quando ela tenta ligar novamente para Paulo, ele aparece em sua
sala:
- Olá.
- Paulo! Meu Deus, você demorou tanto, onde você estava?
- Eu acabei perdendo o vôo...
- Que susto, pensei que tinha acontecido alguma coisa. Você poderia ao menos ter dado
alguma notícia...
- Eu sei, me desculpa...Quando vi suas chamadas, eu já estava aqui dentro.
Esther não responde nada e se senta. Paulo se aproxima da mesa e ainda de pé ele diz,
apreensivo:
- Eu...preciso te falar uma coisa.
- O que? – Esther já estava preparada para ouvir o que não queria, mas ao mesmo tempo
lutava contra isso, tentando esquecer as palavras de tia Íris.
- Esther eu...eu perdi o vôo porque acabei bebendo demais e... não sei como te falar... –
Esther o interrompe:
- Foi ela, não foi? A jornalista...?
Paulo abaixa a cabeça se apoiando no encosto da cadeira, e fala, ainda de cabeça baixa,
evitando o olhar da esposa:
- Eu não queria, eu não queria! – Ele diz nervoso. -...eu acordei e não me lembrava de
nada. – Ele levanta a cabeça e vê Esther estática, olhando para ele, com os olhos
marejados.
- Não precisa dizer mais nada. – Esther se levanta e fica de costas para ele.
- Esther, eu juro que eu não me lembro, quando eu acordei eu estava lá, com ela...Mas
eu precisava te contar, entende? Você tinha que saber por mim.
Esther se volta para ele:
- Muito obrigada por me contar. – Ela diz, ironicamente. - Mas não diz mais nada,
nada...Eu não quero ouvir mais, Paulo.
- Me perdoa, meu amor. Por favor...- Paulo se desespera e vai até ela. Esther se esquiva,
tentando se desviar de Paulo, mas ele a segura:
- Diz que me perdoa?
- Paulo, me larga. Eu não estou conseguindo pensar em nada agora, eu preciso e quero
ficar sozinha. Me deixa! – Esther altera o tom de voz e se desprende dele, pegando sua
bolsa e saindo da sala apressadamente. Paulo a segue e chama pelo seu nome,
assustando os funcionários:
- Esther, volta aqui.

Na saída para o estacionamento, Paulo alcança a mulher e a pega pelo braço:
- Eu sei que você precisa de um tempo, mas me escuta...Eu amo você, nada disso fez
sentido algum. Acredita em mim.
Esther balança a cabeça negativamente e chora:
- Me larga! – Ela se solta de Paulo e entra no carro. Paulo vai atrás e fixa suas mãos no
vidro. Esther dá a partida e ele é obrigado a se afastar do carro, a olhando partir, aos
prantos:
- Esther! Eu te amo! – Ele grita e vai abaixando o volume de sua voz, repetindo para si
mesmo:
- Eu te amo...Me perdoa, me perdoa...

Capítulo XIII

Esther entra no apartamento e pára por um instante, se encostando na porta. Ela deixa a
sua bolsa cair no chão e chora, abaixando a cabeça e colocando suas mãos no rosto.
Depois de um tempo ela se recompõe, enxugando as lágrimas, e faz uma ligação:
- Oi...Desculpa te ligar sem avisar, eu preciso muito conversar. Sei, sei...Estou indo praí.
Obrigada, um beijo.
Ela pega suas coisas e sai novamente de casa.

Paulo entra no flat se sentindo completamente sozinho e acabado. A dor era tanta que
ele não tinha fome e nem cansaço. Sua vontade era sair pela porta e correr atrás de
Esther, aceitando o filho que ele não queria ter.

Enquanto isso, tia Íris chega de um passeio e chama por Tereza:
- Tereza! Onde está você?
- A rainha do Nilo está dormindo. – Crô diz.
- Então vá chamá-la, agora! O assunto é seríssimo.
- Não precisa. Estou aqui...O que você quer, querida tia Íris? – Tereza diz, ironicamente.
- Ótimo! Precisamos conversar, meu bem!
- Vamos até o escritório, para certos serviçais não ficarem nos atrapalhando. – Tereza
implica com Crô e as duas seguem até o escritório.

- O que você quer? Dinheiro? – Tereza é direta.
- Calma! Que imagem você faz de mim, hein?
Tereza Cristina começa a rir:
- Pois é, você é uma vítima não é, tia Íris?
- Sou, vítima do seu desprezo...você é tão ingrata...
- Desembucha, o que você quer?
- É simples...Sabe aquele nosso segredinho?
- Não repita isso aqui, entendeu?! – Tereza se desespera e grita com a tia.
- Não, não preciso falar em voz alta, porque você sabe muito bem do que se trata...E
sabe, eu sou tão compreensiva, gosto tanto dos meus sobrinhos, eu só quero o bem de
vocês. Por isso, quero que você dê uma ajudinha pro seu irmão.
- Que ajuda? Como assim?
- Então, é o seguinte...Tenho uma amiga adorável, que conheci em Nova York. O nome
dela é Marcela...
- E eu com isso? – Tereza não entende.
- Bom, soube que o Paulo e a Esther estão separados, não é?
- Hum. É...
- Então... Vou ser sincera com você, minha querida. Nunca fui com a cara da Esther...
Ela e o Paulo nesse casamento perfeito.. Ah! Quanta bobagem! Prova disso é que estão
separados...De que serve fazer bonito na frente dos outros, se na realidade o buraco é
bem mais embaixo.
Tereza continua sem entender:
- Aonde você quer chegar com isso?
- Terminando... Eu soube por fontes seguras que o Paulinho e a Marcela estão se
entendendo, se conhecendo melhor.
- Ah! Duvido! – Tereza diz, sorrindo.
- Mas pra eu ter certeza que isso é verdade, pra ter certeza que o Paulo vai partir pra
outra, pra um relacionamento que ele realmente merece...Eu preciso de um
reforço...Familiar...Se é que você me entende.
- Você quer que...
- Exatamente! Você pesca as coisas tão fácil! Eu quero que você dê uma ajudinha pro
seu irmão sair desse casamento já acabado e dar uma chance pras novas oportunidades!
Não sou boazinha com vocês?
- De jeito algum! A Esther pode não ser minha melhor amiga, aliás, ela nunca fez
questão de se fazer presente aqui nessa casa, mas eu nunca aceitaria colocar qualquer
uma dentro da minha família.
- Quem disse que a Marcela é qualquer uma?
- Ora! Pra ser sua amiga... - Tereza diz com desdém.
- Bom...Se você não quer ajuda, o que eu posso fazer, né? Vou ter que pensar em como
contar tudo aquilo pro René...Ai que canseira.
- Escuta aqui!! – Tereza segura o braço de Íris, que reclama de dor. – Você não vai abrir
essa boca, entendeu?
- Me larga! – Íris se solta de Tereza. – Eu não vou abrir minha boca não, minha
sobrinha querida. Mas só se você colaborar com a titia.
- Ahhhh! – Tereza grita e dá uma volta em torno de si mesma. – Não sei aonde você
quer chegar com isso. Pra que tanto interesse em se ver livre da Esther?
- O caso não é a Esther, já expliquei...
- O que é então?
- Ah meu bem, eu não sou ingênua como você. Não deixo escapar meus segredinhos!
- Víbora!!! – Tereza grita.
- Não quero elogios, Tereza! Quero saber se você vai colaborar...E então? Conto com
você?
Tereza fica séria e pensativa, e depois de andar pelo escritório, ela diz, gritando:
- Tá bom, tá bom! Mas eu nem conheço essa tal de Marcela, como vou incentivar isso?
- Deixa que eu cuido de tudo...Você precisa fazer só a parte mais fácil. Depois que eu
apresentar você à Marcela, chama o seu irmão pra uma conversa, ressalta os defeitos da
Esther, porque ela deve ter, né? E pronto!
- Tá...Anda logo então com tudo isso, porque eu não vou ficar esperando suas vontades.
- Ah, vai sim! Eu sei que você é obediente! Agora vou subir, estou cansadíssima do
passeio. Tchauzinho! – Íris dá um beijo no rosto de Tereza, que o limpa
desesperadamente com as mãos.


Algumas horas se passam e Esther já havia subido a serra de carro. Ela chega na clínica
de Danielle, que já estava fechada.
- Oi, por favor, pode entrar. – A secretária de Danielle a recepciona.
- Desculpe chegar tão tarde. A doutora Danielle está...- Danielle aparece e a interrompe:
- Oi, querida. Estava aqui te esperando.
- Oi! Desculpa vir tão tarde.
- Imagina. Vem, vamos entrar.
- Doutora, eu já posso ir? – a secretária de Danielle pergunta.
- Claro, pode ir. Muito obrigada.
Esther entra na sala e Danielle oferece a cadeira. Elas se sentam e Danielle diz:
- Fiquei preocupada...Você parecia tão nervosa pelo telefone.
- Sim, na verdade eu ainda estou. Eu não sei mais o que fazer, Danielle.
- O que foi que aconteceu? – Danielle se preocupa.
- O Paulo...Agora eu tenho certeza que não tem mais volta.
- Por que?
- Ele passou a noite com outra mulher...Ele mesmo me contou hoje, quando chegou de
São Paulo...
- Sinto muito, Esther...
- Eu vim até aqui decidida a fazer essa inseminação. Mais do que nunca eu preciso
desse filho...Mas agora, sem um pai...Eu não sei se seria correto, se eu posso...



Capítulo XIV

- Você diz “correto” com relação a que? Por ser mãe solteira, se isso teria problemas
judicialmente?
- Isso mesmo.
- Bom, apesar disso envolver questões éticas e algumas burocracias como a
comprovação de que ambas as partes - dos doadores e do receptor – estão de comum
acordo perante as decisões também da justiça, de que essa criança que vai ser gerada
poderá ser criada somente por você, podemos começar já com os exames médicos.
- Ótimo. Eu quero começar os exames o mais breve possível.
- Você não está fazendo isso de cabeça quente? Não quer pensar mais um pouco?
- Não, eu já esperei uma vida toda...Eu não vou adiar mais isso por conta do Paulo.
- Você ainda o ama, não é?
Esther fica pensativa e tenta segurar as lágrimas – em vão:
- Amo...Mais do que nunca...Mas não dá mais pra aceitar isso calada, não dá...
- Calma. – Danielle alcança as mãos de Esther sobre a mesa. – Não fica assim...Tenho
certeza que esse filho vai te fazer muito feliz.
- Tomara...

Esther se despede de Danielle e resolve passar a noite em Itaipava.

Chegando na casa de Itaipava, Esther se senta no sofá, tirando os sapatos e em seguida
se deitando. Ao apoiar a cabeça sobre os braços cruzados, ela pensa nas palavras de
Paulo, buscando alguma resposta do que fazer nos próximos dias.
Nisso, Paulo pega sua chave do carro e sai do flat. Ele segue para a sua casa, atrás de
Esther.

Quando ele abre a porta, encontra todos os cômodos com a luz apagada e já imagina que
Esther esteja dormindo. Ele entra devagar no quarto e não vê ninguém:
- Esther? – Ele a chama e fica pensativo ao perceber que não havia ninguém em casa.
Pouco tempo depois, ele sai apressado do apartamento e sobe a serra de carro.

Enquanto isso, Esther entra no banheiro e só pensa nas palavras do marido, durante o
banho:

“Esther, eu juro que eu não me lembro, quando eu acordei eu estava lá, com ela...Mas
eu precisava te contar, entende? Você tinha que saber por mim.”
Ela não consegue conter as lágrimas, que se confundem com a água que cai em seu
rosto.
Após o banho, Esther caminha até o closet e coloca uma camisola. Ela vai até a cozinha,
prepara uma xícara de chá e segue para a sala.
Chegando lá, ela senta de pernas cruzadas no sofá e bebe o chá aos poucos, pensando
ainda em Paulo. (música: Problemas).

Algum tempo se passa e Paulo chega na casa de Itaipava. Ele abre a porta devagar e se
depara com Esther dormindo no sofá.
Ela estava tão cansada que pegou num sono pesado rapidamente. Paulo aproveita e se
aproxima, se ajoelhando ao lado dela. Ele a observa dormir e tenta tocá-la, tentando não
acordá-la.
Quando Paulo acaricia os cabelos e o rosto de Esther, ela desperta do sono e olha para
ele, ainda sem raciocinar:
- Paulo? – Ela diz, com a voz sonolenta e tenta se levantar.
- Desculpa, não queria te acordar. – Paulo diz e Esther se senta no sofá sem dizer nada.
Ele se aproxima e se ajoelha diante dela, segurando em seus joelhos:
- Eu fui até o apartamento e você não estava...Imaginei que estaria aqui.
- É...eu precisava ficar sozinha.
- Sei que você deve estar chateada ainda, que não é a melhor hora pra gente conversar,
mas eu não consigo, Esther...Não consigo ficar parado sem fazer nada...deixando a vida
te levar de mim.
Esther olha para ele, sem saber o que dizer. O seu amor por Paulo era tão grande que
quando eles ficavam juntos, ela perdia toda sua razão, tudo que havia decidido:
- Por que isso está acontecendo, Paulo? Eu pensava que a gente ia passar o resto das
nossas vidas juntos, sem pensar em ter outra pessoa...
- Não fala assim...Eu nunca, nunca pensei em ter outra pessoa. Tudo que aconteceu foi
um mal entendido, eu sei que é difícil de entender, mas eu nunca desejei outra
mulher...Eu amo você, Esther. – Paulo se levanta e sobe suas mãos até as pernas de
Esther e a pressiona contra o sofá. Ela não consegue dizer mais nada, se deixando
render às carícias do marido:
- Eu te desejo tanto, cada dia mais. Eu não imagino minha vida sem você, sem o nosso
dia a dia... – Ele diz e segura mais firme o rosto de Esther e a beija várias vezes nos
lábios e no pescoço, enquanto falava. – Meu corpo não suporta ficar longe do teu. Deixa
eu te amar....Fica comigo, meu amor.
Paulo termina de dizer e Esther apenas o puxa contra seu corpo, o beijando
intensamente. Os dois caem sobre o sofá e vão tirando suas roupas, num desespero
cheio de paixão e desejo.
Depois de se amarem no sofá, eles se vestem e vão até o quarto, e se abraçam. Paulo
segura a nuca de Esther e a olha por algum tempo, depois diz:
- Você é tão linda...- Ele sorri levemente e ela retribui.
- Ai, Paulo. Eu não sei mais o que fazer...com nós dois. Eu não consigo levar adiante
minhas decisões. Só que não adianta, toda vez a gente voltar no mesmo ponto.
- Eu sei...Mas agora eu só quero saber se você me perdoa...
- Eu ainda estou muito chateada, não é fácil...Eu não vou esquecer tão rápido o que
aconteceu, porque eu te amo...Porque eu não gosto de imaginar a nossa vida sendo
refeita, você com outra mulher, entende?
- Claro..E eu não estou com ninguém, acredita em mim. Foi um momento de total
fraqueza...Mesmo sabendo que não justifica, que eu poderia ter evitado, eu fiz tudo sem
pensar, sem querer.
Esther se desvia de Paulo e caminha pelo quarto, ficando de costas para ele:
- Acho que a gente tem que dar um ponto final nisso tudo. O melhor a fazer é realmente
dar esse tempo...- Ela diz e se volta para ele: - ...Pra entender o que está acontecendo
conosco... Mas de uma coisa eu tenho certeza, Paulo...Eu vou ter esse filho.
Paulo a olha com tristeza, e abaixa a cabeça, dizendo:
- Você está mesmo decidida a isso, não é?
- Sim.
- Certo...Então mais uma vez...Vamos dar esse tempo.
Os dois ficam um bom tempo se olhando, com vontade de passar por cima de tudo o
que foi dito e se entregarem a mais um beijo, porém a racionalidade naquele momento
era maior.
- Eu acho melhor ir embora, então. – Paulo diz.
- É...é o melhor.
Paulo se vira, caminhando para fora do quarto e Esther continua estática, o observando,
até que ele volta para Esther rapidamente, sem dizer nada, e a olha eufórico por alguns
minutos. Sem resistir, ele segura o rosto dela e a beija com fervor. Esther não consegue
nem segurá-lo, permanecendo com as mãos suspensas, rendida à um longo beijo.
Após o beijo, o casal se abraça, tentando eternizar aquele momento, sentindo segurança
e ao mesmo tempo medo do que estava por vir. Paulo se desprende dela e acaricia o seu
rosto novamente:
- Te amo...eu te amo.
Esther apenas abre sua boca, tentando emitir alguma palavra, mas nada sai. Paulo já
havia se soltado de seus braços e ido embora.

Capítulo XV

O final de semana chega ao fim, e Esther volta para o Rio de Janeiro pela manhã. Ela
troca de roupa no apartamento e vai direto para a "Fio Carioca".
No caminho, o seu celular toca:
- Oi, Tereza Cristina!
- Querida, estava tentando falar com você desde ontem, e nada!
- Pois é, eu estava em Itaipava e lá é difícil pegar o celular.
- Hum. Bom, eu estou ligando para te convidar pra um almoço hoje, no Le Velmont,
que tal?
- Algum assunto em especial?
- Nada! É só um almoço, informal! Não se preocupa.
- Tudo bem. Eu preciso colocar algumas coisas em dia no escritório, acho que desocupo
lá pelas 14 horas, pode ser?
- Perfeito, querida! Te espero lá, hein! Beijinho.
- Beijo. Tchau...
Esther desliga, achando estranho o convite de Tereza para o almoço. Depois ela sobe
correndo para sua sala.
Chegando lá, ela se depara com Paulo conversando com alguns funcionários, que logo
pára a conversa para observá-la:
- Bom dia! – Ele diz à ela.
- Bom dia, bom dia....- Esther cumprimenta todos e vai até sua sala. – Com licença.
Paulo a segue:
- Oi...Eu já comecei a instruir os novos funcionários, está dando tudo certo lá na área de
produção.
- Hum, que bom...- Esther sorri levemente, arrumando suas coisas na mesa.
- E você? Está tudo bem?
- Sim...Tudo bem.
- Bom, eu vou indo então, terminar de conversar com o pessoal, qualquer coisa...só me
chamar.
- Certo. – Esther sorri e volta a arrumar suas coisas.Quando Paulo sai da sala, ela senta e
suspira.

Algum tempo se passa e Esther e Paulo trocam olhares durante toda a manhã,
conversando apenas junto de outras pessoas, evitando palavras direcionadas.
Em um momento, os dois se separam e Esther não o encontra:
- Luiza, onde está o Paulo? Precisava acertar com eles os horários dos novos
funcionários.
- Ele acabou de sair pra almoçar, Dona Esther.
- Ai, meu deus. Que horas são? Tava esquecendo do almoço! – Esther olha no relógio e
já era quase a hora do seu almoço com Tereza Cristina. Ela corre para pegar sua bolsa e
sai apressada da “Fio Carioca”.
Alguns minutos se passam e Esther chega no Le Velmont. Tereza já estava a esperando:
- Oi, Tereza. Desculpa, me atrasei...- Esther diz, ainda eufórica e cumprimenta Tereza
com dois beijos no rosto.
- Vamos sentar ali, querida. Já estão todos te esperando.
Esther olha confusa para Tereza e depois a segue. Chegando perto da mesa, Esther vê
Paulo, tia Íris e...Marcela.
- Olá! Esther, que bom te ver! – Íris se levanta e a cumprimenta. Esther fica sem jeito:
- Eu...eu não sabia que estariam todos aqui, a Tereza não disse...
- Surpresinha, querida! - Tereza ri.
- Essa aqui é a Marcela...Acho que já comentei dela com você, não é? – Íris diz,
cinicamente.
- Ah, sim..Já nos conhecemos... – Esther tenta ao máximo não perder a paciência e logo
se volta para Paulo, tentando entender a situação em que estava. Ele a olha, sério, e
balança a cabeça negativamente, dando a entender que também não sabia do almoço.
- Tudo bem, Esther? – Marcela a cumprimenta ainda sentada, com naturalidade.
- Tudo. – Esther diz friamente e se senta, sem olhar para ela.
- Vou chamar o René! René, querido, vem até aqui, vamos almoçar! – Tereza grita.
- Oi, Tereza. Oi, Esther, como vai? Desculpe, mas não vou poder almoçar com
vocês...Preciso dar as ordens na cozinha senão vocês não almoçam hoje!
- Tudo bem, querido, não se preocupe. – Íris diz.
Esther estava sentada de frente para Paulo, ao lado dele estava Íris e Marcela. A estilista
tentava entender porque Tereza havia convidado ela para o almoço, quando Íris começa
a conversa:
- Eu queria agradecer a Tereza Cristina, minha sobrinha querida, por ter aceitado meu
convite e por ter chamado todos vocês. Não foi uma grande ideia? Um almoço entre
amigos no começo da semana?
- É...- Paulo diz, ainda sem jeito.
- Vamos fazer um brinde? – Íris levanta a taça de vinho e todos brindam.
Algum tempo se passa, e Esther não consegue falar uma palavra durante todo o almoço.
As principais conversas eram sobre as aventuras de Íris e Marcela em Nova York.
Tereza participava da conversa e Paulo fixava seu olhar todo o tempo em Esther,
temendo que o clima entre eles piorasse.
- Esther, meu bem! Você não disse nada e nem tocou na comida. Está tudo bem? - Íris
pergunta.
- Sim...sim. É que eu preciso voltar logo pro escritório. Já está na minha hora.
Esther se levanta e Paulo logo se levanta também, mas tia Íris o segura:
- Ai Paulinho, quero conversar com você um instante.
- Eu preciso ir também, tia.
- Ah, mas a Esther já está indo pro escritório, ela segura as pontas por lá, não é,
querida?
- Claro. Pode ficar tranqüilo, Paulo. Aproveita o almoço. – Esther sorri ironicamente e
se despede sem cumprimentar ninguém com beijos.
Paulo fica atônito, sem saber o que fazer, ainda de pé.
- Senta, Paulo. – Íris pede.
Ele senta e suspira insatisfeito, dizendo:
- O que você quer conversar, tia?
- Calma, querido. Na verdade é a Marcela quem quer. Vamos, Tereza?
- O que? – Tereza pergunta, sem entender.
- Vamos sair...- Íris puxa Tereza pelo braço para deixar os dois sozinhos.
Paulo fica nervoso e diz:
- Foi você quem armou tudo isso, então?
- Não...Claro que não. Eu nem sabia desse almoço com todos vocês...Pra mim era um
almoço só com a Íris.
- Eu não sei o que está acontecendo aqui. Sinceramente, quando junta a Tereza e a
minha tia, aí tem coisa...
- O que você acha que é? – Marcela pergunta, fingindo não saber de nada.
- Sei lá. A Esther ficou chateada...
- A Esther sabe...?
- Sim. Eu tive que contar...Eu queria mesmo conversar com você também, Marcela...O
que aconteceu...- Marcela o interrompe:
- Eu sei. Eu pedi pra Íris te segurar por aqui, porque queria me desculpar. Foi um erro,
nada disso deveria ter acontecido. Você ama a sua mulher, e eu, por mais que tenha um
carinho por você, não sou desse tipo de mulher que vai pra cama com um homem que
nem conhece direito. Nós dois estávamos frágeis, sozinhos...E bebemos. Vamos
esquecer.
- Sim...É isso...Vamos esquecer...Mas, você contou pra minha tia?
- Não, claro que não. Inventei agora que queria fazer uma outra entrevista com você.
- Hum. Tudo bem...Mas é isso, então. Vamos esquecer. - Paulo diz, nervoso.
- Ótimo. Mas eu não queria que você ficasse bravo comigo. Que perdêssemos a nossa
amizade.
- Não, imagina. A culpa não foi sua. Claro que continuamos amigos.
- Que bom! Você é muito especial. - Marcela se insinua para ele.
Paulo apenas sorri e fica quieto, depois diz:
- Bom, eu preciso ir. – Ele se levanta e Marcela faz o mesmo.
- Tudo bem. Desculpa alguma coisa...
- Tá tudo certo! – Paulo a beija no rosto rapidamente e vai até René, Tereza e Íris, se
despedindo de todos.

Marcela olha discretamente para Íris e sorri. Tereza Cristina percebe e fica desconfiada.

No escritório da "Fio Carioca", o casal passa a tarde toda sem se falar, ocupados com
assuntos distintos. Quando já é noite, todos vão embora e Esther está na sua sala,
arrumando suas coisas para sair. Paulo a observa pelo vidro e resolve entrar.
Esther se assusta e pára diante dele, tentando ir embora:
- Paulo...- Ela diz, tentando se esquivar.
- Esther, me escuta.
- Não...Eu vou embora, me deixa passar?
- Por favor. A gente precisa conversar.

Capítulo XVI

- Eu não tenho nada pra falar com você, Paulo. Depois daquela situação lamentável no
restaurante. Eu não acredito até agora....Você ter participado disso, ter ficado quieto
enquanto eu passava por tudo aquilo.
- Mas eu não sabia também. Eu juro...Eu fiquei tão surpreso quanto você! Imagina a
minha situação naquele momento, com você e ela, juntas. Eu sei lá, isso deve ter sido
alguma coincidência desagradável...A tia Íris chamar todo mundo, depois de tudo o que
aconteceu...Porque ninguém mais sabe que...enfim. – Paulo não continua.
- Coincidência? – Esther questiona e suspira impaciente, e tenta se soltar quando Paulo
toca no braço dela:
- Me deixa ir, por favor...
- Esther, acredita em mim.
- Eu acredito em você, Paulo. Só não estou acreditando nas boas intenções da sua tia e
daquela amiga de vocês.
- A Marcela também não sabia.
- Ah, tá. Olha só, Paulo, eu não estou querendo brigar, discutir...Eu quero ir embora pra
casa, estou cansada.
- Eu não quero discutir também. Eu fiquei tão aflito, nervoso, de pensar que a nossa
situação poderia ficar ainda pior depois desse almoço.
- Então vamos deixar isso pra lá...Não quero mais falar sobre isso.
Esther tenta sair mas Paulo encosta na porta e a tranca.
- O que você está fazendo?
- Trancando a porta...- Paulo diz e fixa seu olhar nos lábios de Esther. Ele tira a bolsa
das mãos da esposa, a colocando no sofá, ainda sem tirar os olhos dela:
- Eu não quero brigar com você, eu não estou suportando mais isso tudo. – Ele diz,
sussurrando e se aproximando cada vez mais dela.
Esther olha para ele, quase chorando:
- Eu não aguento mais...Tá sendo tão difícil...Eu não vou suportar passar por isso de
novo.
- Você não vai...Não vai. – Paulo afirma e segura o rosto dela. – Eu nunca vou cansar de
dizer que eu te amo, mais do que tudo nessa vida.
- Pára, por favor....- Esther pede, perdendo a respiração com a proximidade de Paulo, e
termina: - A gente não pode ficar desse jeito... Nossos desejos, nossas vontades já não
são mais as mesmas.
- O mais importante é igual pra nós dois, Esther. Eu te amo e você também me ama.
- Mas parece que isso não está bastando. Não está evitando que a gente se machuque. –
Ela diz, triste.

Paulo não diz nada e a beija, desesperadamente. Eles vão caminhando e se chocam
contra a parede. Paulo fixa os braços dela para trás e beija o pescoço de Esther,
descendo até seu colo e subindo novamente, alcançado os lábios. Os dois se abraçam,
ainda aos beijos, e Paulo a conduz até a mesa, empurrando os papéis e os objetos. Ele a
coloca em cima da mesa e sobe também, se debruçando sobre o corpo dela. De repente,
Tereza Cristina bate no vidro e eles se assustam, saindo da mesa rapidamente.
- Meu deus. – Esther se recompõe e fica de pé. Paulo reclama e vai até a porta:
- Tereza, o que foi?
- Ai, queridos. Me desculpa...Não queria atrapalhar, viu? Eu vim até aqui porque
preciso urgente que você me empreste o seu carro.
- Por que?
- O imbecil do Baltazar estragou o nosso, ainda bem que quebrou aqui perto. Eu estava
saindo do restaurante, indo pra casa, e não quero esperar o resgaste...Posso pegar? Você
vai embora com a Esther.
- Tudo bem, aqui a chave.
Tereza sorri e agradece com um beijo no rosto:
- Ai, que maravilha! Obrigada, meu bem! Tchau, Estherzinha!
Esther sorri sem vontade e diz tchau, e depois de alguns segundos, Tereza retorna e diz:
- Ah, esqueci de dizer uma coisa pra você, meu irmão...Vem aqui...- Tereza puxa Paulo
e diz no ouvido dele:
- Você e a Esther depois que se separaram ficaram ainda pior nesse agarramento, hein.
Cuidado pros funcionários não flagrarem isso. – Tereza começa a rir e sai.
Esther faz uma cara de interrogação para Paulo e ele apenas balança a cabeça
negativamente:
- A Tereza é maluca.
Os dois ficam algum tempo se olhando, até que Esther termina de limpar seus lábios
com as mãos e pega a sua bolsa:
- Vamos? Eu te deixo...no flat.
- Tá...- Paulo diz a observando sair e indo embora atrás dela.

Capítulo XVII

Os dois entram no carro calados e ficam assim até chegarem no flat. Esther estaciona o
carro e Paulo tira o cinto de segurança, se aproximando:
- Por que a gente não conversa lá em cima? Você não quer...- Esther não o espera
terminar:
- Não. Paulo, desse jeito não tem como a gente continuar...Aquele beijo, não devia ter
acontecido.
- Claro que devia...Você queria tanto quanto eu...Nós ainda nos desejamos, e muito.
- Mas isso não basta. E se eu subir no seu flat agora, amanhã as coisas mudam? Amanhã
eu vou fazer os exames médicos, já começo o tratamento. Você vai comigo?
- Ah, Esther...- Paulo reclama.
- Mas é sobre isso que estamos falando, não é? Em vivermos bem, em termos essas
recaídas mas ainda casados, Paulo. Eu não quero viver uma mentira, viver com alguém
que não quer compartilhar o mesmo desejo que eu.
- Eu sei, eu sei...O problema é que eu quero te apoiar, Esther, mas é uma coisa que me
deixa incomodado, eu sei que posso estar sendo egoísta, só que eu não me vejo com
uma criança agora... eu não consigo.
Esther olha para baixo, lamentando escutar as palavras de Paulo:
- Eu sinto muito por isso, Paulo. De verdade. Nossas vidas tomaram rumos
completamente diferentes, nos machucamos demais, e eu ainda estou tentando esquecer
tudo que aconteceu entre você e aquela mulher...
Paulo a olha e sente um medo enorme de perdê-la:
- Eu faria qualquer coisa pra voltar no tempo, pra apagar esse incidente...
- Mas já está feito, não é? – Esther lamenta.
- Acho melhor eu subir.
- Certo...
Paulo se vira, dando a entender que abriria a porta, mas não resiste e segura o rosto de
Esther, a beijando mais uma vez. Esther retribui o beijo, entrelaçando os dedos entre os
cabelos de Paulo, aproximando ainda mais seu corpo do dele. O beijo vai ficando cada
vez mais intenso e cheio de paixão. Esther se afasta dele, e ele diz ainda olhando para os
lábios dela:
- Eu te amo, te desejo...- Ele a beija novamente. – Eu preciso tanto do teu corpo perto do
meu, do teu sorriso...dos nossos dias um ao lado do outro.
Esther toca as mãos dele, que estavam no seu rosto, e diz, eufórica:
- Eu também...Mas você escolheu assim, Paulo. Podia ser diferente... - Ela pára um
instante e termina: - É melhor você ir...
Paulo tira suas mãos do rosto de Esther e não diz nada, apenas sai do carro, a olhando
partir.


No dia seguinte, Esther e Paulo continuam no mesmo clima, trocando apenas as
palavras necessárias no ambiente de trabalho, entre olhares furtivos, desejando romper a
qualquer hora aquela barreira entre eles.
Esther sai no meio da tarde e vai até a clínica de Danielle fazer os exames, já que a
médica estava no Rio de Janeiro somente por este motivo.
Os exames ficam prontos no mesmo dia, e Esther recebe a notícia de que já pode fazer a
fertilização:
- Isso mesmo, querida! Podemos começar agora mesmo. Já posso dar início na escolha
do material...é só o tempo de trazê-los aqui pro Rio. - Danielle diz.
- Ai, meu deus. Nem acredito! Parecia tudo tão distante desde ontem, e agora parece que
recebi a notícia de que já estou grávida! – Esther começa a rir.
- Pois é! É praticamente isso! Podemos já começar a escolher o material?
- Claro! Podemos...
Esther e Danielle discutem sobre as características da criança, analisando um catálogo
médico de doadores. O tempo passa rapidamente e Esther não volta ao trabalho,
deixando uma mensagem para Paulo no celular:
“Paulo, ainda estou clínica, qualquer emergência, é só me avisar. Beijos, E.”

Paulo fica longos minutos olhando para a mensagem, sem saber o que pensar. O
sentimento era de perda...Ele estava perdendo Esther, cada dia mais.
Nisso, o celular toca e ele se assusta, atendendo:
- Alô? Oi, oi Tereza...Não, não estou ocupado, pode falar... sei, mas agora? Tá, estou
indo. Beijo...

Na saída da Fio Carioca, Paulo encontra Tereza na porta, diante do seu carro:
- Vim trazer seu carrinho, querido! O Baltazar vem me buscar depois. Vamos tomar um
café?
- Vamos...
Tereza e Paulo seguem até o café, em frente ao escritório.
- Querido, eu vim também pra conversar muito sério com você.
- O que aconteceu?
- Eu que pergunto...Você e a Esther estão ou não estão separados?
- Ai não, Tereza Cristina. Eu não vou falar mais sobre isso com você.
- Credo! Pra que essa grosseria?
- Porque eu cansei de ficar explicando tudo isso...Chega!
O Desmoronamento do Amor
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  • 1. “O Rompimento” Capítulo I Depois que Esther soube por Danielle que não poderia também gerar um filho com seus óvulos, Paulo fica ainda mais intrigado pela esposa continuar se encontrando com a médica: - Você estava com aquela doutora de novo? – Paulo pergunta quando vê Esther chegando no escritório da Fio Carioca. - Sim, fui tomar um café com ela, conversar... – Esther coloca sua bolsa na cadeira. - Hum. – Paulo a olha com frieza e se vira, olhando alguns papéis sobre a mesa. - O que foi, Paulo? Não é de hoje que você me trata desse jeito toda vez que toco no nome da Danielle. - Danielle? Nem doutora é mais? Vocês já estão melhores amigas...estão confabulando o que agora? Tentando encontrar um homem e uma mulher pra fazer essa inseminação? - Paulo! Não fala assim. - Mas é... Eu cansei disso, Esther...Cansei. Não sei onde você quer chegar com tudo isso... - Você concordou em pesquisar sobre esse assunto comigo. Lembra? Por isso que eu ainda continuo tendo esperanças. – Esther diz e se senta, chateada. - Eu sei, eu sei que eu dei carta verde pra tudo isso...Mas Esther, você também não pode ter filhos. Isso tudo é uma loucura. - Mas Paulo...Eu estava justamente conversando com a Danielle sobre isso...Seria como uma adoção se a gente... – Paulo a interrompe, nervoso: - Chega! Chega Esther. Cansei desse assunto...Eu não posso te dar um filho, entendeu? Não consigo entender, aceitar em fazer um procedimento desses....E essa doutora fica te incentivando a isso? Eu te proíbo de ver essa mulher de novo. - Como assim? Me proíbe? – Esther se levanta, desacreditada nas palavras do marido. – Eu não estou te reconhecendo, Paulo. - É, talvez seja isso. Depois de tantos anos de casados, nós fomos nos conhecer mesmo só agora... Eu vou sair um pouco...Pra respirar. Esther olha Paulo sair pela porta e se senta novamente, quase chorando. Paulo sai do escritório e é abordado por Marcela – jornalista que conheceu há alguns dias atrás quando foi sozinho na divulgação da nova coleção da Fio Carioca em São Paulo: - Paulo! Como vai? - O...Oi, Marcela! Que surpresa boa! – Paulo diz, ainda atordoado com a conversa que tivera com a esposa. - E aí? Por que não tomamos um café juntos, está ocupado? - Não, não! Estava mesmo precisando de um café, conversar...Aqueles dias em SP foram tão bacanas, né? - Pois é! Também adorei sua companhia! - Então...Vamos? Paulo e Marcela caminham conversando até um café próximo ao escritório. - Mas me fala...Que rugas de preocupação são essas na sua testa? Pelo que sei a Fio Carioca vai muito bem.
  • 2. - Sim, está tudo ótimo com a Fio Carioca... - Hum, então são outros problemas. - É, ou eu sou muito transparente ou você me conhece muito bem há tão pouco tempo. - Transparente você não é...Pelo contrário...Estou achando até curioso conseguir que você se abra comigo, que tenha aceitado meu convite pro café. - Eu sei que você não é como as outras...Sempre me abordou de um jeito muito profissional, respeitador. - Fazer o que! Eu sou assim! – Marcela começa a rir junto com Paulo. - E o melhor de tudo é que você me faz rir... Ah, Marcela! Não queria te chatear com os meus problemas conjugais. - Ih, não se preocupa. Eu sou “exper” em assuntos desse tipo. Tenho meu próprio divã e é de graça! Paulo começa a rir e diz: - Sério? Se é de graça, então vou me consultar. - Fique à vontade! - Na verdade eu não sei o que anda acontecendo, parece que está tudo desmoronando...Eu sempre tive um relacionamento maravilhoso com a minha mulher. Sabe aquelas histórias de filme, que só faltava a Torre Eiffel atrás e uma trilha sonora hollywoodyana pra ficar perfeita? - Sei! – Marcela sorri. - Então... Agora parece que foi tudo uma mentira. – Paulo diz, triste. - Por que? Você não sente mais nada por ela? - Não, pelo contrário. A cada dia eu amo mais aquela mulher. Mas não dá mais, a gente só se desentende ultimamente, e eu sinto que se não dermos um tempo agora, aí sim, vamos perder todo esse amor que construímos por tantos anos. - Eu já ouvi falar muito da estória de vocês, e admito que admiro muito vocês dois...É uma surpresa escutar isso. - É, tá sendo pra mim também. Uma surpresa desagradável. - Se eu puder ajudar... - Será que eu posso confiar em você? – Paulo brinca com Marcela. - Não sei, o que você acha? – Marcela joga um olhar sedutor para Paulo e nesse momento, Esther aparece no café. - Olá! - Esther! – Paulo diz, surpreso. - Oi! – Marcela diz, sem graça. - Essa é a Marcela, jornalista de São Paulo, fez uma entrevista comigo, lembra que comentei com você? – Paulo a apresenta para Marcela. - Lembro sim. Prazer, Marcela. - Prazer! - É... – Esther fica nervosa e pensativa ao falar. - Paulo, eu estava passando por aqui e te vi...Seu celular está desligado. Só queria dizer que essa noite eu tenho um jantar com alguns fornecedores...Nós tínhamos combinado de dividir as tarefas, lembra? - Claro, claro. - Eu já estou indo. Chego mais tarde em casa...- Esther diz, friamente. - Tudo bem, até mais. – Paulo sorri, de leve. - Até logo. – Esther se despede de Marcela. - Até mais. – Marcela responde. Paulo suspira e coloca as mãos sobre a cabeça, depois diz: - Viu só? Há alguns tempos atrás nós nunca nos despediríamos dessa forma. Tão fria.
  • 3. - É assim mesmo, querido. Todo casamento precisa de um desentendimento de vez em quando. Senão ficaria muito chato. - Não...Não com a gente. Você não tem ideia. - É, acho que não. Mas tenho certeza que tudo vai se resolver. - Tomara... Paulo e Marcela conversam por mais algum tempo e ele se despede dela: - Obrigado pela ótima companhia, Marcela! Eu estava precisando. - Imagina! Vou ficar agora no RJ por alguns meses. Nos vemos depois em outros encontros triviais. - Com certeza! - E ânimo! Se quiser desabafar, é só me ligar! – Marcela entrega seu cartão para ele. – E se tiver uma pauta sobre moda, estou às ordens também! - Combinado! – Paulo beija o rosto de Marcela e vai embora. Ela fica o olhando partir. Capítulo II Depois de um tempo, Paulo chega na casa de sua irmã Tereza Cristina: - Paulo! Cadê a sua querida esposa? - Ah, a Esther está em um jantar com fornecedores. - E você não está junto com ela? Meu Deus! Vai chover canivete. Você ouviu isso René? - Ouvi...Deixa seu irmão, Tereza. - Nós decidimos dividir algumas tarefas, só isso... - Hum, sei. E essa sua cara de acabado? É por que? - Tereza! – René a repreende. - Deixa, René! Eu tô acostumado com a minha irmã! Essa minha cara é de cansaço, só isso. - Sei...Não é de hoje que eu venho notando uma distância entre você e a Esther. Tenho certeza que aí tem coisa. - Tereza...Por que a gente não toma alguma coisa, né? Você quer beber o que, Paulo? - Eu aceito um vinho, por favor. - Vou te acompanhar. – René vai buscar as bebidas e Tereza continua fixando seu olhar no irmão. - Não vai me contar mesmo? - Não tem nada pra contar, Tereza. Quando tiver, você vai ser a primeira a saber, tudo bem? - Ai, grosso! Paulo começa a rir e pega a taça de vinho que Renê traz para eles. Renê e Paulo começam a conversar sobre negócios e Tereza fica entediada: - Ai, que assunto chato hein. Nessas horas que eu sinto uma falta imensa da Esther...Trata de se reconciliar com ela logo, meu querido. E nem venha com a notícia que vocês dois se separaram e me traga uma outra mulherzinha aqui pra casa, que eu acabo com você! - Paulo, a Tereza hoje está impossível...Desculpa. - Não se preocupa, Renê. E Tereza, isso não vai acontecer... - Eu espero mesmo. Com licença, vou subir... Crô!!!!!!!!!!!Cadê você? – Tereza Cristina sobe as escadas chamando o empregado. Paulo e René começam a rir e continuam a conversa, até que depois de um tempo Renê diz:
  • 4. - Desculpa tocar nesse assunto, Paulo. Mas também percebi que você anda um pouco preocupado...Aconteceu alguma coisa? - Ah, nada, é só que...Infelizmente eu comecei a entender o que é passar por problemas conjugais. Mas não comenta nada com a Tereza, por favor. Ela sempre aumenta as coisas. - Claro...Tudo bem. Nesse instante, Tereza Cristina escuta a conversa atrás das cortinas sem que eles notem, e diz em voz baixa: - Eu sabia... Esther chega cansada em casa depois do jantar e Paulo ainda não havia chegado. Ela toma um banho e se deita para ler um livro. Depois de alguns minutos, Paulo finalmente chega e vai até a cozinha, sem coragem de enfrentar uma conversa com Esther. Ele pensa sozinho: - Meu Deus, o que está acontecendo? Eu, me sentindo mal em encontrar minha esposa. Com medo... Ele bebe um copo de água e em seguida segue para o quarto, respirando fundo. Ao entrar, ele olha para Esther já na cama, concentrada em seu livro: - Oi, boa noite. - Oi. Tudo bem? - Sim. Estava na casa da Tereza. - Hum. - E o jantar? - Foi tudo bem. Consegui fechar com os fornecedores, naquele valor que tínhamos combinado. - Que bom, que bom! – Paulo sorri e vai até o lado da cama onde estava Esther e a beija no rosto. Ela o olha séria e depois sorri rapidamente, voltando à sua leitura. - Eu vou tomar um banho... - Tudo bem. – Esther diz e quando ele fecha a porta, ela coloca o livro ao lado e suspira, dizendo consigo mesma: - Isso não pode estar acontecendo... Um tempo se passa e Paulo volta do banho. Ele se deita e os dois ficam um tempo calados. Esther coloca seu livro novamente na mesa ao lado e fica pensativa, encostada na cabeceira da cama. Paulo se vira para ela, se encosta também e diz: - Acho que a gente precisa conversar, né... - É... - Nós nunca passamos por um tempo tão longo assim de desentendimento, tudo está tão estranho... – Paulo diz, nervoso. – Eu não queria ficar assim com você... – Ele toca o rosto de Esther carinhosamente e ela concorda: - Eu também, meu amor. Está sendo tão difícil esses dias...Eu estou confusa, minha cabeça está um turbilhão. - Eu sei, eu sei...Eu cheguei a ser estúpido com você, autoritário, mas, eu não consigo entender essa sua proximidade com aquela mulher. Não encontro motivos. - Como não, Paulo? A gente conversou tanto sobre isso esses dias. Olha só, eu acho que entendo esse seu medo, essa insegurança...Mas se por acaso der certo essa inseminação, eu vou ter essa criança dentro de mim, como se fosse minha, como se fosse sua... - Não é bem assim, Esther. Você confia mesmo nessa doutora? - Sim, ela é tão competente, uma profissional renomada, conhecida. - Sei...
  • 5. - Eu acho que você precisa conhecê-la melhor, só isso. - Não Esther, eu já tive muita boa vontade, eu queria estar do teu lado nessa decisão, mas desde o momento que eu soube que você também não podia ter mais filhos...Isso não fez mais sentido. Você quer adotar, então? Podemos adotar... - Paulo, é diferente. Eu vou poder ter essa realização de realmente ser mãe, de sentir essa criança dentro de mim...Você entende? - Mas ela não vai ser sua! – Paulo aumenta o tom de voz e Esther fica paralisada olhando para ele, por alguns instantes. - Acho melhor a gente parar essa conversa por aqui. – Esther consegue dizer, chateada. Paulo tenta contornar a situação, buscando as palavras certas, mas não consegue. A sua vontade era de beijá-la, abraçá-la e pedir desculpas, mas o orgulho e a frustração por não poder dar à ela o que ela queria, eram maiores. Esther vira para o lado e se deita. Paulo faz o mesmo e os dois, depois de muito pensarem, adormecem. Já é de manhã e Esther levanta mais cedo. Ela toma um banho e depois toma café junto com Paulo. Eles não trocam nenhuma palavra, porém o desejo de ambos é de passar por cima de todos os problemas e se renderem um ao outro. Mas nenhum deles fazem nada. Eles seguem de carro para o escritório e quando estão na entrada, Marcela aparece: - Oi! Como vocês estão? - Marcela! Tudo bem! - Oi, tudo bem. – Esther responde, com um olhar desconfiado, se colocando mais ao lado de Paulo, quase tocando a mão dele. Capítulo III - Eu vim trazer seu celular, Paulo. Você esqueceu ontem comigo no café. - Ah, sim...Que cabeça a minha. Muito obrigado, Marcela. - Por nada. A gente se fala...Um abraço. Tchau... - Até mais. – Paulo se despede e os dois sobem de elevador. Esther quebra o silêncio enquanto subiam de elevador e diz: - Você e essa...Marcela...Se conheciam antes de SP? - Como? – Paulo sorri, estranhando a pergunta. – Claro que não. Disse à você que nos conhecemos naquela entrevista. - Tudo bem...Foi só curiosidade. - Por favor, Esther, não tente encontrar motivos pra... - Paulo! Foi só uma pergunta...Não quero motivos para nada. - Só acho que do mesmo jeito que você tem o direito de ter suas amigas, eu também tenho. - Pelo amor de deus, Paulo. Não vou discutir com você...- Esther diz, chateada, e sai do elevador antes dele. - Bom dia! – Ela diz para os funcionários, friamente, e todos percebem o clima entre o casal. - Bom dia...- Paulo diz logo em seguida e entra no escritório fechando a porta. - Escuta, Esther. Não dá mais pra gente continuar assim. Tenho certeza que você concorda comigo... - Sim...Eu não sei o que está acontecendo, mas...tá tão difícil.
  • 6. - Muito...muito difícil. – Paulo diz, quase sussurrando, chegando cada vez mais perto de Esther. – Eu sinto tanta falta de você, meu amor. Tanta falta, de te beijar, de sentir tua pele...De rir com você, de passar por cima de todos os problemas...Mas não está dando. - Não...- Ela diz, olhando para ele com tristeza. Paulo se aproxima cada vez mais e eles quase se rendem a um beijo quando o celular de Paulo toca. Ele retira sua mão, que estava quase no rosto de Esther, se afasta e atende o celular: - Alô. Oi, César. Tudo bem...Não, já estou indo até aí. Até mais... – Ele desliga e diz: - Era o César, vamos fechar aquele contrato com uma nova loja na Zona Leste. - Que bom...- Esther diz, mordendo os lábios. - Eu...- Paulo continua a conversa e se aproxima um pouco dela...- Eu achei que o melhor seria a gente dar...um tempo...pra nós dois. Pra não acabar com todo esse amor que nós temos, que eu sei que ainda temos... Esther apenas concorda com a cabeça e deixa escapar uma lágrima, que é rapidamente retirada de seu rosto pelas suas mãos. - Tudo bem. É o melhor... - Por enquanto...- Paulo acrescenta. – E eu vou pra um flat, hoje ainda. - Hoje? – Esther questiona, sem pensar. - É, é o melhor...Mas nada disso pode e vai afetar nossa sociedade na Fio Carioca. - Claro. Tantos anos nos dedicando a esse negócio... - Eu não quis dizer que a Fio Carioca está em primeiro plano, mas... - Não, eu entendi. – Esther o interrompe. – Acho melhor eu...ir...Preciso resolver algumas coisas lá fora... – Ela diz, tropeçando nas palavras, e sai da sala. Paulo espera Esther sair e esmurra o encosto da cadeira na sua frente, dizendo: - Droga...Eu te amo tanto, Esther, tanto... A tarde cai e Esther já está em casa. Ela havia chegado antes de Paulo, que estava numa reunião com César, visitando pontos das lojas inaugurais na Zona Leste. Esther resolve tomar um banho, temendo encontrar Paulo. Ela preferia não encontrá-lo fazendo as malas e partindo. Seria ainda mais doloroso. Enquanto isso, Paulo tenta se livrar rapidamente da reunião, para justamente não encontrar a esposa em casa e não correr o risco de desistir da decisão que havia tomado. Ele sai correndo de carro e chega em alguns minutos. Esther ainda estava no banho... Paulo vai até o armário e coloca algumas roupas dentro da mala, sentindo um grande aperto no peito. Depois que havia terminado de arrumar seus pertences, ele se aproxima da porta do banheiro e a empurra de leve, movido por uma vontade imensa de ver Esther... Ela estava no banho e era possível ver refletido na porta do box a sua silhueta. Paulo se aproxima cada vez mais e não resiste, abrindo a porta: - Paulo?! O que você... - Não diz nada...- Ele diz, já tirando suas roupas e entrando rapidamente no box junto dela. – Não fala nada, meu amor. Eu só preciso de você agora...do teu beijo. – Paulo não fala mais nada e a puxa para perto dele, segurando com firmeza a nuca dela contra seu rosto, alcançando os lábios de Esther e a beijando cheio de urgência. Ela retribui o beijo e os dois sentem que aquele momento era uma despedida e o início de uma nova fase em suas vidas. Ainda no banho, Paulo se desprende dela depois do beijo e a encosta na parede, beijando-a no pescoço. Esther fecha os olhos mas de repente o afasta:
  • 7. - Não, não...Paulo, é melhor você ir de uma vez. Ou tudo vai voltar a ser como antes e ... - Tá, tá certo. – Paulo diz, eufórico, tentando se desprender dos braços da esposa. – Você tem razão. Eu preciso ir embora, não é? - Precisa. Esther se afasta dele com dificuldade e alcança uma toalha, a envolvendo em seu corpo. Paulo faz o mesmo, colocando a toalha amarrada em sua cintura. Ela tenta se desviar de Paulo, que estava em sua frente, mas ele não deixa, a prendendo em seus braços: - Esther, calma...Eu não vou conseguir, por favor, desiste dessa história toda de inseminação, pode ser tudo uma enganação dessa médica...por favor. - Paulo, o problema é que você não permite ouvir outras opiniões. Só o que você pensa está certo. Essa é a nossa última oportunidade, você não vê? Eu não quero ter esse filho sozinha, eu quero ter com você! Esse filho é nosso! - Esse filho não existe, Esther! Entende isso...Desse jeito que você quer, não dá. Eu estraguei tudo, eu sou estéril e obriguei você a esperar esse tempo todo, e agora é tarde. Esther consegue se desfazer dos braços dele e vai até o quarto: - Eu não vou desistir, Paulo. Eu não vou perder essa oportunidade, não agora...Com tudo na mão. - Isso quer dizer o que? - Isso quer dizer que eu gostaria imensamente que você me apoiasse, mas...mas se isso é impossível, eu sigo sozinha. Capítulo IV - Então o filho é só seu, agora? - Paulo, eu não vou discutir mais...Por favor. Acho melhor você ir...- Esther diz, olhando para baixo e abrindo a porta do quarto. Paulo suspira como se tivesse perdido uma batalha e veste suas roupas, com os olhos cheios de lágrimas. Ele pega a mala, pára perto da porta onde estava Esther, ainda com os cabelos molhados e envolvida pela toalha, e diz: - Eu nunca vou deixar de te amar. Esther apenas continua olhando para baixo e não contém as lágrimas. Paulo também se emociona, pega a mala do chão, hesita mais um instante dando a impressão que voltaria para trás, mas segue em frente sem olhar para Esther. Esther solta a maçaneta da porta e vai deslizando lentamente até se sentar no chão. Ela coloca a cabeça por entre as pernas, segurando os cabelos para trás e chora, com um sentimento de perda, culpa e impotência. O dia amanhece e Esther acorda com dor de cabeça. Ela se recorda da noite anterior e se levanta com má vontade. Era o primeiro dia sem Paulo, sem acordar ao lado dele, sem tomar o café da manhã observando ele ler o jornal e adoçar o café com 4 gotas de adoçante. Ela percebe que nada mais havia sentido, a não ser sua vontade imensa, que crescia a cada dia, de ter um filho: - Mas esse filho sem o Paulo, não vai ter sentido... – Ela diz, colocando seus pensamos em voz alta. Esther se levanta e vai se arrumar, com medo do primeiro dia de trabalho ao lado de um sócio que não era mais seu companheiro.
  • 8. Chegando no escritório, Paulo demonstra claramente que não havia dormido bem. Ele estava com olheiras e aparentemente cansado: - Bom dia. – Ele diz, quase sem voz, para os funcionários da recepção. Ao entrar na sua sala, ele se depara com Tereza Cristina sentada em sua cadeira: - Bom dia, meu querido! - Tereza? O que você faz aqui? - Nada...Vim só dar um jeito nessa sua vida bagunçada. – Ela diz, se levantando. - Do que você está falando? - Meu bem, não tente esconde nada de mim. Eu sei o que está acontecendo entre você e a Esther. - Hum,o René te contou? - Não, eu ouvi a conversa de vocês dois...Mesmo se não tivesse escutado, eu teria descoberto sozinha. - É, não duvido disso. - Pois então, querido. Eu havia encontrado a Esther muitas vezes em companhia daquela médica...Meio bizarra ela, não é? – Tereza diz, fazendo uma cara de espanto. - E... – Paulo tenta desenrolar o assunto. - E eu descobri que ela é especialista em fertilização in vitro. Paulo fica apreensivo e começa a andar de um lado para o outro, sem dizer nada. - Meu irmão..Vocês não podem ter filhos, né? Eu desconfiava disso...E essa briga de vocês, é por isso. - É, Tereza. Você descobriu, parabéns. – Paulo diz sorrindo, de forma irônica. - Hum. Não precisa falar assim...Eu só quero ajudar. - Não tem como ajudar. O melhor que se tem a fazer é não mexer nisso...Eu não quero que você fale com a Esther, entendeu? - Calma! Eu não vou falar...Mas eu acho interessante essa ideia...E vai ser um filho dela, da mulher que você ama, não é? - Não. Ela não pode ter filhos... - Não? Então o filho seria de desconhecidos? - Exatamente.. - Hum...Complexo isso, hein. Agora eu já não sei...- Tereza diz, pensativa. Nesse instante, Esther entra na sala e os dois a olham, apreensivos. Esther percebe um clima estranho e já imagina que Paulo tenha contado da briga dos dois para a irmã: - Oi Tereza, como vai? - Querida! Estou ótima...Vim só fazer uma pequena visitinha...Já que você não aparece mais lá em casa. - Ah, pois é, eu ando muito...- Esther olha para Paulo..- ocupada. - Eu sei disso, meu amor. Vou deixar vocês dois sozinhos, acho que vocês precisam conversar...Um beijo. – Tereza se despede de Esther e Paulo com um beijo, e sai da sala. Esther olha Tereza sair da sala e olha para Paulo com um ar de insatisfação, colocando sua bolsa na mesa: - Aposto que ela veio comentar sobre nós dois, não foi? Vocês já conversaram sobre isso? - Eu não contei...Ela já tinha percebido. Esther fica em silêncio e se senta, arrumando alguns papéis. Paulo fica a observando por algum tempo e finalmente diz:
  • 9. - Você...você está bem? - Sim...E você? - Também. Um pouco...cansado. Não dormi... - Nem eu. – Esther diz, engolindo a seco. Nesse momento, alguns colegas de trabalho aparecem na sala para uma reunião e os dois terminam a conversa, passando a maior parte do tempo trocando olhares, cheios de saudade. Enquanto isso, Tereza Cristina vai até o restaurante de René: - Descobri, meu amor! O motivo da briga do Paulo com a Esther. - Descobriu como? - Não foi por você, porque você não me conta nada... Descobri por ele. - Hum, e ele está bem? - Arrasado...E a Esther também, com uma cara péssima. Os dois cheio de olheiras... - Complicado isso...Essa questão de não poder ter filhos, nem imagino como deve ser. - Como assim? Então você sabia o motivo do desentendimento deles? E não me contou? Pensei que você só sabia da briga, seu traidor. - Meu amor, calma. Era um assunto particular do seu irmão, não sabia se podia contar... - Ai essa cumplicidade entre homens...Mas então, ele te contou que era estéril? - Sim. Há uns dias atrás. - Quem sabe eles não adotam...Uma criança de meses de vida, eles criam como se fossem deles. - Não sei não. Acho que o Paulo, apesar de tudo, não quer ter filhos... - Não? Ai, que estranho isso. Não me imagino sem meus filhotes. - Pois é, mas cada um com suas escolhas. - E a Esther? A Esther anda até vendo esses médicos de fertilização....Será que é por isso a briga? Ele não quer, e ela quer? - Certamente. Mas não devemos nos meter nisso, Tereza. - Mas René...A gente tem que ajudar. Eu vou abrir a cabeça desse meu irmão...Apesar que ter um filho que não é do nosso sangue, não é uma boa ideia. Vai que essa criança vira um pivete? - Tereza! Que maneira de dizer...Claro que não. - Sei lá, né? Preciso pensar mais sobre isso. Vou indo, meu amor. Beijinho. – Tereza se despede de René com um beijo e vai para casa. Capítulo V Quando a reunião termina, Esther sai para conversar com uma das suas secretárias e Paulo caminha junto dela, até que a recepcionista diz, ao atender um telefonema: - Pra você, Seu Paulo. É a Dona Marcela. Esther lança rapidamente o olhar para ele, que percebe. Paulo atende o telefone, sem graça: - Oi, Marcela? Não, não. Tudo bem...Já estou descendo. – Ele desliga e se volta para as secretárias e Esther. – Eu vou tomar um café, já volto. Esther não diz nada e continua seu trabalho. Chegando no café, Paulo se encontra com Marcela:
  • 10. - Ai, desculpa ficar no seu pé assim. É que tenho uma surpresa. – Marcela mostra à ele o resultado final da entrevista que ele fizera em São Paulo para um jornal muito importante. - Que maravilha! Vamos sentar, quero ler com calma. Depois de ler a matéria feita por Marcela, Paulo diz: - Está perfeita! Maravilhosa essa matéria. - Ai, não fala assim que eu fico sem graça. E claro, o entrevistado ajudou muito pra isso. - Ah, que nada! A Fio Carioca é o único motivo, e o seu talento! - Obrigada! – Marcela diz e fica um tempo olhando para ele e Paulo tenta mudar o clima: - E então? Como anda tudo? - Tudo ótimo...Só você que não parece tão bem assim... - Ah, aposto que são minhas olheiras! – Ele brinca. - É, também...O que foi que tirou seu sono, hein? - Adivinha.. - Hum, esposa? - Touché! Eu já não sei mais o que fazer...Resolvemos dar um tempo.. - Hum. Sinto muito...De verdade. - Acho que vai ser melhor assim, por enquanto. Mas está sendo muito difícil ficar longe dela. - Mas qual é o real motivo pra esse desentendimento, se você a ama tanto? Paulo fica em silêncio e Marcela se desculpa: - Ai, desculpa. Estou sendo muito intrometida né? Não precisa responder. - Não, tudo bem. Já não é mais segredo algum, mesmo. É que eu sou estéril, e a Esther quer muito ter um filho, só que ao mesmo tempo descobrimos que agora é tarde demais pra ela também ter filhos...Daí em meio a isso tudo surgiu uma tal médica especialista em fertilização que fica colocando idéias na cabeça da Esther. Enfim... - Entendi... É complicado, eu confesso que pensei que fosse mais simples. - Pois é... - Mas por que vocês não arriscam essa fertilização? Você não quer? - Eu acho essa ideia muito maluca, não consigo entender que esse filho seria realmente nosso, sabe? E além de tudo, eu não quero ter filhos...Seria um transtorno, um incômodo, nesse momento. Nisso, Tereza e Esther chegam e escutam o que Paulo havia falado. Paulo se assusta ao ver irmã e esposa ao seu lado: - Esther? O que vocês fazem aqui? – Ele diz assustado, temendo que Esther tenha escutado. - Eu a trouxe pra cá, pensei em sentarmos nós três ( Tereza enfatiza o “três”, com um olhar fuzilador para Marcela) pra tomarmos um café, mas parece que não chegamos em boa hora. Quando Tereza termina de dizer, Esther vai embora apressadamente, em silêncio. Paulo deixa Marcela e Tereza e corre atrás da mulher: - Esther, Esther! Espera! – Paulo grita, tentando alcançar a esposa. - Me deixa, Paulo. - Calma, calma...A gente precisa conversar. – Paulo puxa Esther pelo braço. - Me larga, Paulo. Eu não quero mais tocar nesse assunto. - Entra aqui, por favor – Paulo abre a porta do seu carro, que estava estacionado logo à frente, e pede para Esther entrar. Ela o obedece, sem vontade.
  • 11. Quando Paulo entra no carro, Esther não diz nada, apenas fixa seu olhar para frente, com os olhos marejados. Ele respira fundo e fala: - Meu amor, eu...Eu sei que esse desejo seu de ter filhos é completamente compreensível. Você é mulher, você é uma mulher maravilhosa, tem o direito de ter quantos filhos quiser...E eu estraguei tudo... - Não fala mais nada, Paulo, por favor... Você acabou de dizer para aquela mulher que ter um filho comigo seria um incômodo. - Não foi bem assim... - Foi! Pelo amor de deus, eu escutei....você dizer aquilo, com todas as palavras. - Eu sei, eu sei...Mas isso é coisa minha, eu admito, admito que eu não tenho esse desejo agora, que pra mim o nosso casamento tava perfeito, tava maravilhoso...Mas eu te adoro tanto, eu te amo tanto...Que eu cheguei sim a concordar com essa ideia de fertilização, pra te ver feliz. - Não, você não entende...Eu queria um filho nosso, e não só meu. Se você tivesse me dito desde o começo, Paulo...Se você tivesse se aberto comigo. Mas você mentiu pra mim, você ficou alimentando essa minha vontade, sugeriu que adotássemos, sendo que você nunca, nunca quis ter um filho. - Não, não é bem assim. Eu já pensei em ter filhos, há alguns anos. Mas já faz tanto tempo que eu já tinha me acostumado com esse meu problema...que eu não tinha cogitado mais em ter filhos, que eu pensei que estaria tudo bem, que continuaríamos nos amando como sempre...Como sempre foi..Perfeito....Mas de uns tempos pra cá, desde quando você começou a ter contato com essa Danielle, você mudou, fica distante, só conversava com ela sobre seus problemas, esquecia de nós dois... - Não fala isso. Eu nunca esqueci de nós dois. Eu nunca pensei um segundo sequer em ter esse filho sozinha, você sabe disso... - Eu sei... É que às vezes acho que estou te prendendo nesse casamento. - Que isso? Eu nunca te culpei, Paulo. Nunca... Mas você só sabe fazer isso , todo o tempo...Se culpar. - Tudo bem...eu errei em não me abrir com você, não é? - Sim...Você preferiu se abrir com ela...com aquela mulher....- Esther fica em silêncio por alguns minutos e depois diz: - Eu preciso sair daqui, respirar. - Calma, não vai. Por favor..Me perdoa, meu amor. Eu te amo tanto, Esther. Eu faria tudo por você, pra te ver feliz...Mas tenta entender, seria tão complicado pra mim. - Eu não consigo entender. Me desculpa, mas...não dá. - Não, Esther, espera. Não sai assim... – Paulo segura o braço dela e se aproxima , tentando tocá-la no rosto, porém Esther se desfaz dos braços de Paulo: - Por favor, me deixa... – Ela se solta e sai do carro. Paulo abaixa a cabeça no volante do carro e depois empurra sua mão contra ele, nervoso. Capítulo VI No dia seguinte, é o aniversário de René, e os preparativos da festa estão a todo vapor. Tereza Cristina e Crô estavam cuidando de todos os detalhes, e fizeram questão que René descansasse, sem nem mesmo opinar no cardápio do jantar. Ele e Paulo saem para conversar no restaurante: - Quero você lá em casa hoje à noite, hein. - Sim... - Paulo diz, desanimado e pensativo. - Essa preocupação toda é por conta da Esther, não é?
  • 12. - Pois é..Não sei como seria um evento desses sem a Esther ou com ela do meu lado, nessa situação. - Imagino. Mas a Tereza já a convidou. - Não, eu sei disso. É claro que vocês têm que convidá-la. - Você acha que vai ser desconfortável? Se for, não tem problema vocês não irem. - Que isso... Eu vou, com certeza. Afinal, não é sempre que a gente chega na terceira idade! – Paulo ri para descontrair. - Epa! Tá longe disso acontecer, hein! – René ri junto com Paulo. - É! - Mas, se anima aí. Vai dar tudo certo. René bate nas costas de Paulo e eles se despedem. Esther estava no escritório conversando com um dos funcionários e Paulo ainda não havia chegado. Meia hora depois, ele aparece: - Olá, olá! Quando ele chega até Esther, ela continua concentrada em seu trabalho até ele cumprimentá-la: - Oi...Tudo bem? - Oi. Sim...- Ela diz, transparecendo em seu olhar o amor, o desejo e a saudade que sentia por ele, apesar de tudo. Paulo olha para os lados, pensando no que dizer e finalmente fala: - É...Eu estava no restaurante com o René. Hoje vai ser a festa de aniversário... - Pois é. A Tereza me ligou mesmo. - Você...vai? - Eu preferia não ir...Mas a sua irmã insistiu e...se você não quiser que eu... vá... - Imagina! Eu nunca pediria isso. Acho que nós temos que ir... - É, tudo bem... - Eu posso passar pra te pegar? Pra irmos juntos? - Acho melhor não, Paulo... - Tá...Tudo bem. – Paulo diz, triste. – Eu vou ali, ver como andam os banners pras novas lojas. - Certo. Paulo a olha por mais alguns minutos e sai, ainda triste, e Esther tenta esconder o sofrimento, voltando ao trabalho. O casal passa a maior parte do tempo afastado no escritório da Fio Carioca, e nos momentos que estão próximos sempre há mais alguém por perto, o que os deixa ainda mais tensos e inconformados com a separação. Há pouco tempo, os dois estariam se abraçando e se beijando diante de todos do escritório, em meio a risadas e declarações apaixonadas. Mas tudo estava estranho. Já é noite e Paulo encontra Esther arrumando suas coisas na mesa e pegando sua bolsa para ir embora: - Oi...Posso entrar? – Ele bate de leve na porta. - Claro...Essa sala também é sua. – Ela diz, sorrindo, ainda olhando para suas coisas, evitando o olhar de Paulo. - Você já está indo? - Sim, preciso me arrumar pra festa... - É, eu também. Você quer que eu te leve, pra não se atrasar? - Não...não precisa. Eu estou de carro hoje.
  • 13. - Hum. Tudo bem, então...Vamos? Eu te acompanho até o estacionamento. - Certo. – Esther sorri e Paulo toca os ombros dela, a acompanhando até o lado de fora. Os dois caminham até o estacionamento e Paulo pára diante do carro dela, se aproximando, e fazendo com que ela encostasse no carro. Ele apóia o braço no carro e abaixa a cabeça, olhando para os pés e dizendo: - Esther...Me desculpa por ontem. Eu falei coisas que não queria. - Não..não vamos mais falar sobre isso. Você sabe que não dá certo. - Eu sei, só queria me desculpar. - Tá tudo bem. Melhor a gente ir, senão vamos nos atrasar...Do jeito que você demora no banho. – Esther começa a rir e Paulo ri junto com ela. - Pois é! Você é tão mais prática do que eu e faz tudo com tanta perfeição. – Ele a olha fundo nos olhos enquanto diz e os dois ficam um tempo se olhando em silêncio. Paulo endireita seu corpo e se aproxima mais ainda de Esther. Os dois trocam olhares, desejando imensamente que acontecesse um beijo, mas pessoas começam a chegar no local e eles se dispersam. - Bom, eu...já vou...- Esther se desfaz do clima com dificuldade e entra no carro. Paulo diz tchau e se afasta, a observando ir embora. São 21 horas e todos já estão reunidos na casa de Tereza, inclusive Paulo, que havia chegado antes de Esther. Todos estranham a ausência da esposa ao seu lado, porém ninguém comenta a separação dos dois. Em meio a conversas, Paulo tenta esconder seu desânimo, quando de repente a porta se abre e Esther aparece com um vestido preto com detalhes discretos na cor vinho. O modelo era padronizado, seguindo o seu gosto por decotes avantajados nas costas. Paulo a olha maravilhado, aumentando ainda mais a saudade que estava sentindo. Esther cumprimenta todos e Paulo logo se levanta: - Oi! – Ele diz sorrindo. - Oi! – Esther se aproxima dele e o beija rapidamente no rosto. Todos percebem o clima e tentam descontrair, puxando conversa e oferecendo bebidas. Esther entrega o presente à René e o abraça, desejando felicidades. Capítulo VII O jantar começa e Tereza havia separado uma cadeira para Paulo ao lado de Esther, propositalmente. Os dois se sentam, um pouco sem jeito, e ficam o jantar todo sem se falar e evitando olhares, porém era impossível que alguns olhares furtivos acontecessem. Tereza então, em meio à outras conversas, engata uma provocação: - Esther, meu bem, você não comeu quase nada. Não me diga que está de regime como suas modelos? - Não, meus tempos de regime já se foram. A comida está ótima, eu é que estou um pouco sem fome. - Aposto que isso é culpa do meu irmão. - Tereza! – René a repreende. - Mas é...Eu canso de aconselhar o Paulo, mas ele não me ouve. Esther e Paulo se entreolham e ficam em silêncio. René logo muda de assunto e todos descentralizam a atenção do casal, menos eles próprios.
  • 14. No final da festa, acontece também a queima de fogos. Todos vão para o jardim e Esther hesita, pois se lembra da última vez que estivera na mesma situação, porém, junto de Paulo. Eles seguem para o jardim e ficam de braços cruzados, um do lado do outro. Paulo não resiste e se aproxima, dizendo: - A noite está linda, não está? Esther sorri levemente e concorda: - Pois é. Linda... - Não mais do que você...Você tá maravilhosa. - Obrigada. – Esther agradece, sem jeito. Paulo não tira os olhos dela, que tenta desviar seu olhar e prestar atenção nos fogos. Os dois continuam um do lado do outro, em silêncio, sentindo apenas um frio na barriga, como se fossem dois estranhos descobrindo o amor. Terminado a queima de fogos, Paulo ainda continua observando Esther, quando eles são interrompidos por Tereza: - Queridos! Vamos entrar? Paulo sorri e Esther vai logo na frente. Já na sala, todos se sentam e conversam mais um pouco. Paulo se senta ao lado de Esther, porém, mantendo uma certa distância. Ela participa da conversa dele com René: - E a Fio Carioca? Está a todo vapor? - Sim. Cada dia melhor. – Paulo diz. - E quando vamos ter outro desfile daqueles? – Tereza pergunta. – Quero ficar em êxtase de novo com novos modelitos. - Pra esse ano fica difícil. Vamos ver o que acontece no primeiro semestre do ano que vem. – Esther responde. - Ah, vai demorar muito. E vê se não engravida ano que vem, pra adiar mais ainda...- Tereza começa a rir. - Tereza! – René a repreende, a puxando de lado. - Ai, René. Eu só... – René a interrompe novamente: - E então? Vocês querem mais alguma bebida? - Não, eu na verdade já vou indo. Amanhã preciso acordar cedo. – Esther diz, séria. Paulo a olha, desconcertado com a brincadeira da irmã e levanta junto com ela. - Eu também vou indo, gente. Também trabalho. - Ah, mas que pena. Estava tão bom. – Tereza diz. - A festa estava ótima! Mais uma vez, parabéns René, tudo de bom! – Esther o cumprimenta e em seguida se despede de Tereza Cristina, seguindo até a porta. Paulo se despede rapidamente dos dois, a fim de alcançar Esther. Quando a estilista já está dentro do carro, quase dando partida, Paulo entra rapidamente, a assustando: - Paulo?! - Me deixa ir com você...Por favor. – Paulo pede. Esther tenta dizer algo mas não consegue, apenas fica o olhando, sentindo tudo ao mesmo tempo: a descoberta do imenso amor que sentia por aquele homem, a vontade de abraçá-lo, a falta que ele fazia e a decepção que sentira há tão pouco tempo atrás. Ela continua sem dizer nada e apenas liga o carro, indo para casa junto com Paulo. Tereza os observa pela janela e diz para René, longe dos convidados: - Esses dois nunca vão conseguir ficar separados. Não adianta... Mas se a Esther continuar com essa ideia maluca, não sei não...
  • 15. - Como assim? Achei que você estava apoiando a Esther. - Ai, não sei. Pensei melhor sobre isso tudo de fertilização, é tão estranho. Essa criança ter pais desconhecidos e a Esther ser hospedeira. Estranho demais. - Ai, Tereza! Você é muito inconstante! - Mas...Melhor ter um sobrinho bastardo do que o Paulo trazer outra mulher pra cá. - Você não tem jeito, Tereza Cristina. Vamos pra lá, vai. Os dois vão até a sala e continuam a conversa com os convidados. Esther estaciona o carro na garagem do condomínio e eles sobem juntos, calados. Paulo a observa todo o tempo. Chegando em casa, Esther entra, deixando a chave do carro em cima da mesa e Paulo fecha a porta. Ela fica de frente para ele e os dois trocam olhares por alguns minutos, até que Paulo se aproxima cada vez mais. Os dois fixam o olhar nos lábios um do outro, e tomados por um silêncio ensurdecedor, eles entendem que naquele momento nenhuma palavra era necessária. O desejo de estarem juntos era tão grande, que eles esquecem de tudo, deixando que o amor que eles conservaram há tantos anos tomasse conta deles novamente. Sem pensar em nada, Esther se aproxima mais ainda de Paulo e consegue emitir a única frase que fazia sentido naquela hora: - Te amo... Capítulo VIII Paulo não espera nem um segundo e puxa o corpo de Esther para junto do seu. Ele percorre as costas dela com as mãos, sentindo a sua pele, a fazendo arrepiar. Esther fecha os olhos e se deixa tomar pelo momento, como se fosse se entregar pela primeira vez nos braços de Paulo. O desejo é tanto que depois de sentirem a pele um do outro, apenas se tocando com o rosto e com as mãos, eles se rendem a um beijo ardente, cheio de saudade. Enquanto se beijavam, eles iam caminhando até o quarto, se esbarrando nos móveis da sala. Esther sorri e olha para Paulo, que retribui. Ela puxa o colarinho do terno de Paulo o trazendo para perto, em mais um beijo. Eles continuam se abraçando até chegarem no quarto. Paulo abaixa as alças do vestido de Esther , beijando o pescoço dela,descendo até seus ombros. Ele caminha, a deixando de costas para ele, e beija sua nuca. Esther sorri e fecha os olhos, levando suas mãos para trás, tocando os cabelos de Paulo. Ele acaricia as costas de Esther, a beijando por todas as partes, e aproveita para descer o restante do vestido dela, que cai no chão. Ela se volta para ele e o ajuda a retirar suas roupas. O casal caminha até a cama e finalmente se ama. Depois de se amarem, eles ficam abraçados na cama envoltos pelo lençol, sem dizer nada. Esther acaricia o peito de Paulo e ele beija os cabelos dela. Depois de um tempo ela diz: - O que aconteceu aqui? - Hum...- Paulo diz, pensando. – Nós simplesmente nos amamos... de novo. E foi maravilhoso. - É...- Esther concorda e continua. – Me diz...Por que eu não consigo ficar longe de você? – Ela pergunta e se desprende dos braços deles, o olhando. - Porque você me ama, assim como eu te amo. Esther sorri e toca o rosto de Paulo: - O que a gente faz?
  • 16. - Não sei...não sei. – Paulo diz, olhando para ela. – Eu só sei que eu não vou conseguir me controlar toda vez que eu te ver, não dá mais pra ficar perto de você, ver esse teu sorriso lindo – Paulo sorri junto com ela - ... sem te beijar, sem te tocar... Eu te amo, Esther... muito! - Paulo diz e beija o pescoço de Esther por todas as partes, a abraçando. Os dois riem e caem na cama, aos beijos. O dia amanhece e Esther está dormindo. Ela rola seu corpo para o lado, tentando alcançar o corpo de Paulo, mas ele não estava lá. Esther abre os olhos e pensa ter sido tudo um sonho, mas não era...Foi real e o cheiro de Paulo ainda estava nos lençóis. Ela levanta, ainda com sono e esfregando os olhos, colocando os sapatos e caminhando até a sala. Paulo estava lá, sentado, olhando para o vazio. Quando ele percebe a presença de Esther, diante da porta, ele se levanta e a olha. Os dois ficam um bom tempo trocando olhares, lamentando que o dia tenha amanhecido e a noite que parecia eterna e perfeita, tinha terminado. Paulo diz, sorrindo levemente: - Bom dia. Não quis te acordar...Você estava dormindo tão bem... Esther apenas sorri e se aproxima dele, receosa em tocá-lo. Paulo percebe o clima estranho e diz: - Eu estava pensando... Como vai ser daqui pra frente. - Eu também...- Esther diz, olhando para baixo e Paulo alcança o rosto dela, a tocando com carinho, fazendo com que ela o olhasse: - A gente se ama tanto Esther...Por que isso tudo foi acontecer? - Ai Paulo..- Esther desabafa, quase chorando...- Eu sofri tanto quando soube que não poderia ter um filho realmente meu... e seu...Que todas as minhas esperanças tinham ido por água abaixo. Depois eu pensei que seria a mesma experiência, a mesma realização, se eu tivesse esse filho... Que mesmo sendo geneticamente de outra pessoa, essa criança ia ser nossa, não é? - Esther...Eu... - Paulo tenta encontrar as palavras certas - ... você sabe...- Esther o interrompe: - Eu sei, eu sei que você pensa diferente. Mas eu sinto que se eu não fizer isso, eu vou me arrepender pro resto da vida. Eu iria criar essa criança, e a partir do momento que ela estivesse dentro de mim, ela já seria minha...nossa...se você quisesse. Agora tudo desmoronou, você mentiu pra mim, Paulo...Por que você me apoiou se não era uma coisa que você queria? - Porque eu te amo. Porque eu queria ver você feliz...Mas eu vi que eu não conseguia, que eu não consigo pensar como você, desejar o mesmo... Esther apenas assente com a cabeça e caminha pela sala, entrelaçando os dedos entre os cabelos, se sentindo sem chão: - Desculpa Paulo, eu preciso tentar...com ou sem o seu apoio. Você entende? - Então você prefere abandonar tudo o que a gente construiu? Essa noite não significou nada? - Paulo, por favor... - Eu preciso pensar, Esther. Eu não sei como seria minha vida agora com uma criança, e ainda mais nessa situação...Você sabe que eu também não confio nessa doutora Danielle. - Eu sei, mas eu confio. - Você a conheceu há tão pouco tempo. - Ela nunca demonstrou nenhum motivo que eu pudesse desconfiar...Ela é tão íntegra, profissional...
  • 17. - Tudo bem, Esther. Eu não quero discutir com você, eu fico péssimo, cansado. O que eu quero é lembrar dessa noite, pra sempre. Foi tão especial, como se fosse nossa primeira vez juntos. - Eu também me senti assim. Só que eu não vou suportar passar por isso novamente. O melhor é ficarmos separados, realmente darmos um tempo... - Certo... E você vai continuar encontrando aquela médica, vai fazer o procedimento? - Não sei, não sei...- Esther diz, triste. - Eu vou indo..então. - Tá.. Paulo olha para Esther por mais algum tempo, que estava com a cabeça baixa e apoiada no encosto do sofá, e finalmente diz: - Mesmo indo embora, mesmo não tendo o mesmo desejo que o seu, eu não canso de dizer...que eu vou continuar te amando incondicionalmente... pro resto da minha vida. (Música – “Problemas”) Capítulo IX Esther olha para ele, chorando. Paulo também se emociona e não se contém, indo até ela e segurando seu rosto com as duas mãos. Ele não diz nada, apenas a olha por mais um tempo e a beija intensamente. Ele a beija várias vezes, indo até o pescoço e a abraçando. Os dois ficam um bom tempo envolvidos no abraço, de olhos fechados, até que Paulo se afasta, demorando para soltar das mãos dela. Por fim, ele lança um último olhar, retribuído por Esther, e vai embora, fechando a porta. Esther desaba, sentindo que agora tinha realmente perdido o apoio de seu marido. Ela ia começar uma vida sozinha, ou melhor, uma vida nova, quem sabe em companhia do seu filho e do seu amor por Paulo – que nunca ia acabar. Paulo resolve ir até o restaurante de René, para conversarem: - E aí, cara? O que foi que aconteceu? - Por que? Está tão óbvio assim que estou acabado? - Ih, já vi tudo. Esther? Paulo não responde, apenas suspira e pede: - Vamos sentar? Ou você está muito ocupado? Posso voltar outra hora... - Nada disso! O movimento ainda está tranqüilo...Vem, vamos sentar aqui... René aponta a mesa logo à frente e eles se sentam: - E então? O que aconteceu depois da festa de ontem? Vi vocês indo embora juntos... - Pois é. O que aconteceu foi que, tivemos uma recaída, mesmo ainda estando casados. – Paulo começa a rir. – Acho que nunca ouvi falar de uma história assim...Um casal que se ama, fazendo o possível pra resistir um ao outro. - É...Eu também não. – René ri e concorda. – Mas vocês passaram a noite juntos e... - E...Não adiantou de nada...Resolvemos manter o “trato” de continuarmos separados, mas eu sinto que vai ser mais difícil daqui pra frente. Parece que hoje foi uma despedida. - Ei, não diz isso. Vocês dois se amam tanto. Será que não tem uma solução pra tudo isso? - Não conseguimos encontrar nenhuma, por enquanto... - Que pena. Eu torço muito pra que tudo volte a ser como antes. - E eu...Eu penso nisso todos os dias.
  • 18. René se levanta e dá um abraço no cunhado, nisso, o telefone de Paulo toca: - Licença... – Paulo pede à René e atende: - Oi, Marcela! Como vai? Que bom...É...Tudo bem, pode ser. Nos vemos lá, então. Um beijo. - Paulo desliga. - Hum. Marcela? – René pergunta, desconfiado. - É...Uma jornalista que conheci em São Paulo. Estamos bem próximos... - Paulo, Paulo...Isso não é perigoso, não? - Imagina, por que seria? É só uma amiga... - Tudo bem, então. Afinal de contas, você só tem olhos pra sua mulher, não é? - Claro. Eu não me imagino com outra mulher...Nem estando separado dela, eu não vejo minha vida sem a Esther. - Eu sei disso. Mas...Toma cuidado que às vezes nem a nossa certeza escapa de certos...imprevistos. - Imagina! - Paulo diz, sorrindo e convicto. René olha para ele ainda preocupado com o telefonema da tal amiga misteriosa e os dois se despedem. Paulo já estava na Fio Carioca e olhava todo o tempo para o relógio. Esther nunca havia se atrasado tanto, sem deixar recado. Ele fica preocupado, mas tenta se distrair, dando ordens aos funcionários e fazendo alguns telefonemas. Enquanto isso, Esther procura Danielle no novo consultório que ela havia montado no Rio de Janeiro: - Por favor, a doutora Danielle está? Não marquei hora... – Esther diz à secretária. - Quem gostaria? - Diz que é a Esther. Depois de alguns poucos minutos, a secretária retorna da sala de Danielle: - Pode me acompanhar, ela vai atendê-la agora mesmo. - Obrigada! Com licença... Chegando no consultório, Danielle logo se levanta cumprimenta Esther com dois beijos no rosto, pegando em sua mão: - Querida! Como você está? Suas mãos estão geladas, aconteceu alguma coisa? Esther a olha sem dizer nada, transparecendo nervosismo e preocupação, e diz: - Posso me sentar? - Claro que sim...Por favor. - Desculpa vir sem avisar, sei que você é muito ocupada. - Imagina...Você sabe que pode vir a qualquer hora. Esther sorri levemente mas logo fica séria, dizendo: - Eu e o Paulo...Nós nos desentendemos de novo...E parece que agora é definitivo. - Eu...sinto muito, Esther. Mas você então...Vai desistir? - Não sei...Eu estou confusa, porque sem o Paulo essa fertilização não vai fazer sentido, mas ao mesmo tempo eu penso que se eu não fizer, vou me arrepender pro resto da vida. - Posso dar minha opinião, independente de ser médica, de ser “a” médica responsável por esse procedimento? - Claro, por favor...Qualquer opinião agora vai ser mais lúcida do que a minha própria. - Eu acho, querida, que você deve tentar. Afinal, o que você perderia tendo um filho com o qual você sempre sonhou? E eu acredito que o Paulo irá voltar atrás quando te ver grávida, quando a criança nascer. – Danielle sorri. - É, eu pensei nisso. Acho que talvez ele esteja com medo, mas depois que ele perceber que está tudo bem, que essa gravidez pode ser maravilhosa para nós dois...Talvez ele entenda. - Claro! Eu acredito que sim! – Danielle concorda.
  • 19. - Então... podemos começar? Danielle sorri ainda mais, com um brilho nos olhos jamais visto por Esther: - Com certeza! Você fez uma sábia escolha, e eu vou fazer de tudo para dar certo...E pode ter certeza que vai! - Que bom! – Esther diz, ainda insegura. - Eu já tenho doadores, com os genes perfeitos para você. As duas conversam um longo tempo sobre a fertlização e Esther não percebe o tempo passar. Depois de algumas horas, a secretária pede licença e as interrompe: - Doutora, a paciente das 15 horas já chegou. - Nossa! Já são 3 horas? Nem vi o tempo passar...Preciso ir! - Esther diz. - A conversa estava tão boa, que também não reparei. – Danielle sorri. - Bom, obrigada Danielle...por tudo. – Esther aperta a mão de Danielle, que se levanta e vai até ela, segurando em suas mãos e dizendo: - Vai dar tudo certo, viu? Esther sorri, ainda confusa com sua decisão e retribui o sorriso: - Tomara! Danielle a olha e lhe dá um abraço. Esther retribui, um pouco acanhada e se despede: - Vou indo...Obrigada de novo, até mais. Te ligo depois... - Combinado, fico esperando ansiosa. Esther vai embora e Danielle se senta, sorrindo e pensativa. Capítulo X O trânsito faz com que Esther se atrase ainda mais para chegar na Fio Carioca, e Paulo fica cada vez mais aflito, esquecendo do seu encontro com Marcela. Ele a deixa esperando no café, até que ela liga para ele: - Ah! Deve ser a Esther...- Paulo diz, antes de ver o número no celular. Quando ele vê que é Marcela, se lembra do encontro: - Ih, nossa. Que droga... – E atende: - Alô, oi Marcela...Me desculpa. Eu acabei tendo uns problemas aqui no escritório...Estou descendo, tudo bem? Ok, desculpa de novo...Um beijo. Paulo olha para o relógio novamente, sem tirar Esther da cabeça, e segue para seu encontro com Marcela. Esther está passando de carro e vê Paulo entrar no café em frente ao escritório. Ela estaciona por perto e o vê junto com Marcela. Nesse momento, Esther sente que estava deixando o caminho livre para Paulo, e se sente sem chão, pensando se a decisão que tomou era a correta. Ela liga o carro e entra no estacionamento, tentando ignorar o que estava lhe machucando. Enquanto isso, Paulo conversa com Marcela: - E aí? Fiquei preocupada com você...E com sua esposa. Vocês já estão bem? - Eu cheguei a pensar uma hora que estava tudo bem, que tudo tinha voltado ao normal...Mas não...Acho que dessa vez estamos mesmo separados. - Poxa, que pena, Paulo. Você não merece sofrer. - A Esther não merece... - Ele a corrige. Marcela fica em silêncio e depois diz: - Bom, eu não quero que você me leve a mal, mas separei uns convites pro SP Fashion Week pra você. Ganhei ontem e pensei em te dar...Achei que ia gostar.
  • 20. - Sério? Muito obrigado, Marcela. Mas eu acho que não estou com cabeça...e na verdade eu também tenho alguns convites... - Paulo diz, desconcertado. - Ai, que cabeça a minha, é claro que você tem convites! O dono da Fio Carioca! - É, mas eu não vou..Não posso deixar o trabalho agora, com a nova coleção a todo vapor. - Eu imagino...Mas, fica aqui o meu convite ainda... - Claro! – Paulo sorri. – Obrigado, mesmo assim. - Tudo bem! Vamos fazer o seguinte? Amanhã eu posso te ligar pra confrmar que você realmente não vai nesse desfile? - Hum... - Pode ser sincero. Se você pedir que eu não ligue nunca mais, que eu estou sendo chata e inconveniente eu juro que vou levar numa boa! Paulo começa a rir: - Ai, Marcela! Só por conta dessa descontração eu deixo você me ligar, ok? - Ótimo! Paulo sorri e de repente fica quieto. Marcela pergunta: - O que foi? - Nada...É que pensei...que faz tanto tempo que não converso assim com a Esther, que não rimos juntos... - Sei...- Marcela diz, sem saber como continuar. - Desculpa, eu não consigo mudar de assunto...Eu não tiro ela da minha cabeça. - Imagina, eu entendo. De verdade... O que você precisar, é só me chamar! – Marcela diz e se levanta, já indo embora. - Obrigado! - Até amanhã! – Marcela sorri e dá um beijo rápido no rosto de Paulo. Ele ri levemente e volta a pensar em Esther, apreensivo. Enquanto isso, Esther está na Fio Carioca, sem conseguir tirar de sua cabeça, a imagem de Paulo e Marcela juntos. Ela senta e começa a esboçar alguns desenhos, quando Paulo aparece, batendo na porta: - Oi...Posso? – Ele pergunta antes de entrar. - Claro... – Ela diz, sentindo seu coração disparar. - Está tudo bem? Você demorou... - Tá...tá tudo bem. Eu acabei pegando um trânsito quando estava vindo da clínica... - Hum. Então você foi...Já pra fazer...- Esther o interrompe: - Não...Ainda não fiz nada. Paulo fica em silêncio, tentando dizer algo para ela. Os dois ficam se olhando até que Esther se levanta e entrega para Paulo: - Você esqueceu seu radio em casa. – Esther devolve o aparelho para ele, e os dois se tocam, sentindo um desejo enorme de quebrarem o trato. Esther logo se solta dele, voltando para sua mesa e ele diz: - Obrigado. Eu nem tinha percebido. Esther sorri levemente e o telefone de sua mesa toca. Ela liga o viva-voz: - Oi, já estou indo Celeste. – Ela diz para uma das funcionárias que a chamava para verificar os biquínis no corpo das modelos. Ela desliga o telefone e diz: - Bom, vou até lá, ver a prova das peças... - Tudo bem. – Paulo responde e a olha sair da sala, passando as mãos nos lábios, suspirando: - Ai, Esther, Esther...
  • 21. A noite chega e Esther se encontra com Paulo nos corredores: - Já vai? – Paulo pergunta à ela. - Sim. - Eu acho que amanhã vou até São Paulo, ver o desfile da Fashion Week. Você vai? - Hum...Não. Tenho algumas coisas pra fazer por aqui. - Você vai precisar de mim aqui? Posso cancelar... - Não, não precisa...Apesar da correria, amanhã acho que vai estar tudo tranqüilo. - Tudo bem, então...E...Boa noite. – Paulo se despede, ainda achando estranho a distância entre eles. - Boa noite. – Esther diz, olhando fixamente para os lábios dele. Paulo espera Esther ir na frente e vai logo atrás. Ele fica de longe a olhando sair com o carro do estacionamento. Quando os dois chegam em casa, eles vão para o banho e depois se sentam no sofá –ela, da sua casa e Paulo, do flat - os dois estavam sem fome, sem vontade alguma para outra coisa a não ser pensarem na besteira que estavam fazendo, continuando separados. Paulo pega uma foto de Esther e diz, sozinho: - Meu amor...Quanta falta você me faz...Que saudade do teu beijo, do teu sorriso. – Ele toca a foto, desejando a mulher em seus braços novamente. Já é dia, e Paulo arruma suas coisas para pegar o vôo até São Paulo, onde Marcela já se encontrava, e Esther segue para o trabalho. Paulo manda uma mensagem de celular para a esposa, que vê assim que chega no escritório: “Estou no aeroporto rumo à São Paulo, para o desfile. Se quiser, ainda dá tempo de pegar o vôo comigo. Vamos?” Esther fica tentada em aceitar, mas prefere não ir, pois sabia que teriam outra recaída e consequentemente um novo desentendimento. Afinal, Esther não havia desistido de seu sonho. Ela responde a mensagem: “Obrigada pelo convite. Mas terei que ficar por aqui, muito trabalho pela frente. Aproveite por mim. Beijos.” Em seguida, sem demora, Paulo finaliza: “Uma pena. Qualquer problema por aí, me avise. Beijos e saudades.” Esther lê a mensagem e diz sozinha: - Paulo...Por que isso? – Ela senta e abaixa sua cabeça na mesa, já cansada com a situação. Paulo chega em São Paulo e vai direto para o desfile da Fashion Week, onde encontra Marcela à sua espera. Os dois sentam juntos e decidem sair após o evento. Depois de muita conversa e risadas, Marcela o convida para um drink em um restaurante conhecido: - Acho melhor não, Marcela. Eu preciso voltar ainda hoje pro Rio. - Vai fazer mesmo essa desfeita? Paulo fica pensativo e diz: - Tá bom, vai...Mas só um pouquinho.
  • 22. De repente, uma voz de mulher chama por Marcela. Paulo logo a reconhece: - Tia Íris? Capítulo XI - Paulo, Marcela! Que surpresa boa, meus queridos! – Tia Íris chega, cumprimentando os dois com um beijo no rosto. - Você conhece a Marcela? – Paulo se surpreende. - Claro! Marcelinha é minha amiga. Nos conhecemos em New York, não é, querida? - Pois é! Que saudades, Íris! Eu que não sabia que vocês se conheciam. Você a chamou de “tia” Íris? – Marcela se volta para Paulo. - Sim! Essa é minha tia querida! – Paulo a abraça. - Nossa! Que coincidência! – Marcela diz, sorrindo para Íris.- Nós estamos indo beber alguma coisa, vamos? – Marcela a convida. - Não, não posso. Vim somente para o desfile, porque o Paulo bem sabe que eu adoro isso tudo....E estou indo direto para o Rio. - Eu também vou, tia. Que horas é seu vôo? - Agorinha mesmo! Não se prendam por mim, eu vou ter que voar para o aeroporto. A Tereza Cristina deve estar me esperando. - Ah, então deu tudo certo pra você se hospedar na casa da minha irmã? - Bom, para mim está tudo certo! A Tereza implica comigo, mas no fundo nós nos entendemos bem! - Eu espero que sim! – Paulo diz, desconfiado. - Bom, foi um prazer te rever, minha linda! Tchau! Vejo você no Rio hein, querido? – Ela diz para Paulo e no meio do caminho ela se volta para eles novamente: - Ah,aliás, vocês dois ficam ótimos juntos! Com todo respeito à Esther! Um beijo. – Íris se despede. - Ai, essa Íris, não tem jeito! – Marcela sorri, sem graça. - Pois é...Eu que o diga! - Fiquei surpresa em saber que minha grande amiga Íris é nada mais, nada menos, que sua tia! - Viu só? Além da simpatia, temos uma conhecida em comum! – Paulo brinca. - É! Vamos, então? – Marcela diz, se dirigindo até um táxi. - Vamos! Os dois entram juntos e seguem para o restaurante. Marcela e Paulo conversam bastante sobre suas vidas. Ele conta o dia que conheceu Esther: - Ela estava deslumbrante...Eu me lembro como se fosse ontem. Ela continua a mesma, maravilhosa, perfeita... - Que sorte a dela, ter um homem assim, como você... - Sorte a minha, com certeza é toda minha...- Paulo fica pensativo e depois inquieto: - Eu, eu acho que já vou indo, Marcela. Bebi um pouco demais, preciso pegar o vôo. - Calma, falta muito ainda pro seu vôo. Queria tanto que você conhecesse meu apartamento. Tenho matérias ótimas sobre moda pra te mostrar. - Será? Não estou muito bem, Marcela. - Por que? Está se sentindo mal? - Não, é o mesmo de sempre. Eu preciso ficar sozinho, entende? - Mas se você ficar sozinho, é pior, querido. Vem, vamos nos distrair. – Marcela paga a conta para os dois e vai com Paulo até seu apartamento.
  • 23. Chegando lá... - Nossa, que mulher contemporânea você, hein! Paga a conta, me trás de carro, paga o táxi. - Viu só? Da próxima vez é você, espertinho! – Marcela e Paulo começam a rir, e ele se apóia no encosto do sofá, tendo uma tontura por conta do excesso de bebida. - Ei, senta aí. Você vai acabar caindo. –Marcela diz e Paulo começa a rir, sem saber o motivo. - O que foi? – Marcela pergunta e ri junto com ele. - Nada...Você me embebedou, hein. - Que nada, isso é só o começo. – Marcela dá um copo de whisky para ele, que sem pensar, aceita. - Sabe, Marcela. Eu queria tanto, tanto, que a Esther voltasse pra mim...Mas sem filho nenhum, sabe? Porque eu amo demais aquela mulher, eu faria tudo por ela, mas um filho agora... - Eu sei...- Marcela diz, se aproximando cada vez mais de Paulo. - Eu...eu..- Paulo tenta dizer, sentindo a proximidade de Marcela, e ficando nervoso. - ...eu queria a Esther pra sempre, mas eu sinto que estou a perdendo, cada vez mais. - Não fica assim. Você merece ser feliz...- Marcela toca o rosto de Paulo e ele se esquiva: - Não, eu preciso ir embora...- Paulo se levanta, mas logo cai no sofá, não suportando o peso do seu corpo por causa da bebida. - Ei, mocinho. Senta aí...- Marcela ri e o ajuda. - Tá...Eu acho que bebi demais. – Paulo abaixa a cabeça e quando levanta, Marcela está na frente dele, pronta para lhe roubar um beijo. Paulo não consegue enxergar mais nada e acaba se rendendo às carícias de Marcela, pensando ser Esther. Os dois se beijam e Marcela cai sobre o corpo de Paulo, tirando a sua roupa. Ele é dominado pelo momento e ao segurar o rosto de Marcela, ele vê Esther e sorri: - Meu amor, eu te amo tanto, Esther... Marcela finge não escutar o nome de outra, e continua a beijá-lo. Os dois passam a noite juntos e Paulo perde o vôo para o Rio de Janeiro. Já é de manhã e Esther estranha que Paulo não tenha mandado nenhuma mensagem ou ligado. Ao menos para dizer a que horas estaria na Fio Carioca. Ela pensa que poderia ter acontecido alguma coisa e liga para o celular dele. O celular toca insistentemente na sala do apartamento de Marcela, onde ela e Paulo ainda dormiam. Chegando na Fio Carioca, Esther se depara com Íris em sua sala: - Tia Íris? – Esther se surpreende. - Oi, meu amor! – Íris se aproxima e lhe dá um abraço. - Nossa! Que surpresa..Não esperava sua visita. - Eu sei, eu gosto de chegar nos lugares sem avisar...Me desculpa a indiscrição. - Imagina! Mas como você está? Tá tudo bem? – Esther pergunta, colocando sua bolsa na mesa e pedindo para que Íris se sentasse. Ela se senta e diz: - Estou ótima. Acabo de sair da casa da sua cunhada...Ela me recebeu tão bem! - Jura? Que ótimo! – Esther sorri, achando estranho a suposta receptividade de Tereza Cristina com a tia. - Bom, mas e o meu sobrinho predileto? Onde está? - O Paulo? Deve estar se arrumando e vindo pra cá... - Hum, eu o vi ontem à noite em São Paulo, será que ele perdeu o vôo?
  • 24. - Sério? Você o viu aonde? - Saindo do desfile da Fashion Week...Ah, ele está tão bonito, alegre, risonho...Como sempre! - É! – Esther se incomoda. - Ele estava com uma grande amiga minha, que conheci nos bons tempos em Nova York...A Marcela! Que coincidência, não é? Capítulo XII Quando Esther escuta o nome de Marcela, ela sente um nó na garganta e uma dor de cabeça repentina. Tia Íris continua a dizer: - Eles estavam indo para um restaurante, mas não pude aceitar o convite para ir com eles, ou ia perder o vôo...Achei estranho não te encontrar por lá, afinal de contas, vocês não se desgrudam! Com todo respeito, claro. - Eu...eu e o Paulo estamos dando um tempo...- Esther tenta dizer. - Meu Deus, não sabia! Me desculpa, querida. Sinto muito... - Tudo bem...Sem problemas. - Ai, mas a Marcela é uma profissional ótima...Eles estavam com certeza trocando figurinhas sobre moda...Ela adora moda! É uma jornalista maravilhosa. - É, eu estou sabendo sim, Íris. Bom, eu tenho que me desculpar, mas não vou poder dar tanta atenção...Estou numa correria com a nova coleção...- Esther diz, se levantando. - Claro! Que cabeça a minha, fico aqui te atrapalhando...Vim só te dar um beijo e um abraço. Estava com saudades! - Eu também! – Esther sorri levemente e abraça tia Íris, que se despede e sai da sala, sorrindo. Esther fica pálida e estática, pensando no que poderia ter acontecido com Paulo e Marcela em São Paulo. Paulo acorda com uma dor de cabeça infinita, ele olha para os lados, não identificando o lugar onde estava: - Que lugar é esse? - Bom dia! – Marcela aparece com uma bandeja nas mãos de café da manhã, vestindo um hobby preto. - Marcela? O que...o que eu tô fazendo aqui, com você? Marcela coloca a bandeja na mesa do quarto e diz: - Desculpa, eu não devia me comportar como se nada tivesse acontecido, mas pensei que talvez você fosse se lembrar... - Lembrar, de que? Nós dois...? - Paulo faz um gesto tentando explicar o que não queria dizer, e Marcela concorda: - Sim, nós dormimos juntos. - Eu não lembro...de nada. - É, acho que exageramos na bebida. Foi culpa minha, né? - Não...Não sei o que te dizer, Marcela. Eu preciso ir embora. – Paulo diz, se levantando rapidamente e colocando suas roupas. – Eu não queria ser grosso com você, mas isso não devia ter acontecido de jeito algum. Por favor, esquece tudo isso. - Hum...claro...não se preocupa. – Marcela diz, ironicamente, mas Paulo não percebe. Ele só sabia pensar em Esther e no que havia feito.
  • 25. - Eu vou indo...- Paulo fica sem graça e não sabe como se despedir. Ele não diz mais nada e sai correndo. Marcela dá um leve sorriso. Já é tarde e Esther continua preocupada com o sumiço de Paulo. Ele não dava notícias e nem atendia o celular. Quando ela tenta ligar novamente para Paulo, ele aparece em sua sala: - Olá. - Paulo! Meu Deus, você demorou tanto, onde você estava? - Eu acabei perdendo o vôo... - Que susto, pensei que tinha acontecido alguma coisa. Você poderia ao menos ter dado alguma notícia... - Eu sei, me desculpa...Quando vi suas chamadas, eu já estava aqui dentro. Esther não responde nada e se senta. Paulo se aproxima da mesa e ainda de pé ele diz, apreensivo: - Eu...preciso te falar uma coisa. - O que? – Esther já estava preparada para ouvir o que não queria, mas ao mesmo tempo lutava contra isso, tentando esquecer as palavras de tia Íris. - Esther eu...eu perdi o vôo porque acabei bebendo demais e... não sei como te falar... – Esther o interrompe: - Foi ela, não foi? A jornalista...? Paulo abaixa a cabeça se apoiando no encosto da cadeira, e fala, ainda de cabeça baixa, evitando o olhar da esposa: - Eu não queria, eu não queria! – Ele diz nervoso. -...eu acordei e não me lembrava de nada. – Ele levanta a cabeça e vê Esther estática, olhando para ele, com os olhos marejados. - Não precisa dizer mais nada. – Esther se levanta e fica de costas para ele. - Esther, eu juro que eu não me lembro, quando eu acordei eu estava lá, com ela...Mas eu precisava te contar, entende? Você tinha que saber por mim. Esther se volta para ele: - Muito obrigada por me contar. – Ela diz, ironicamente. - Mas não diz mais nada, nada...Eu não quero ouvir mais, Paulo. - Me perdoa, meu amor. Por favor...- Paulo se desespera e vai até ela. Esther se esquiva, tentando se desviar de Paulo, mas ele a segura: - Diz que me perdoa? - Paulo, me larga. Eu não estou conseguindo pensar em nada agora, eu preciso e quero ficar sozinha. Me deixa! – Esther altera o tom de voz e se desprende dele, pegando sua bolsa e saindo da sala apressadamente. Paulo a segue e chama pelo seu nome, assustando os funcionários: - Esther, volta aqui. Na saída para o estacionamento, Paulo alcança a mulher e a pega pelo braço: - Eu sei que você precisa de um tempo, mas me escuta...Eu amo você, nada disso fez sentido algum. Acredita em mim. Esther balança a cabeça negativamente e chora: - Me larga! – Ela se solta de Paulo e entra no carro. Paulo vai atrás e fixa suas mãos no vidro. Esther dá a partida e ele é obrigado a se afastar do carro, a olhando partir, aos prantos: - Esther! Eu te amo! – Ele grita e vai abaixando o volume de sua voz, repetindo para si mesmo:
  • 26. - Eu te amo...Me perdoa, me perdoa... Capítulo XIII Esther entra no apartamento e pára por um instante, se encostando na porta. Ela deixa a sua bolsa cair no chão e chora, abaixando a cabeça e colocando suas mãos no rosto. Depois de um tempo ela se recompõe, enxugando as lágrimas, e faz uma ligação: - Oi...Desculpa te ligar sem avisar, eu preciso muito conversar. Sei, sei...Estou indo praí. Obrigada, um beijo. Ela pega suas coisas e sai novamente de casa. Paulo entra no flat se sentindo completamente sozinho e acabado. A dor era tanta que ele não tinha fome e nem cansaço. Sua vontade era sair pela porta e correr atrás de Esther, aceitando o filho que ele não queria ter. Enquanto isso, tia Íris chega de um passeio e chama por Tereza: - Tereza! Onde está você? - A rainha do Nilo está dormindo. – Crô diz. - Então vá chamá-la, agora! O assunto é seríssimo. - Não precisa. Estou aqui...O que você quer, querida tia Íris? – Tereza diz, ironicamente. - Ótimo! Precisamos conversar, meu bem! - Vamos até o escritório, para certos serviçais não ficarem nos atrapalhando. – Tereza implica com Crô e as duas seguem até o escritório. - O que você quer? Dinheiro? – Tereza é direta. - Calma! Que imagem você faz de mim, hein? Tereza Cristina começa a rir: - Pois é, você é uma vítima não é, tia Íris? - Sou, vítima do seu desprezo...você é tão ingrata... - Desembucha, o que você quer? - É simples...Sabe aquele nosso segredinho? - Não repita isso aqui, entendeu?! – Tereza se desespera e grita com a tia. - Não, não preciso falar em voz alta, porque você sabe muito bem do que se trata...E sabe, eu sou tão compreensiva, gosto tanto dos meus sobrinhos, eu só quero o bem de vocês. Por isso, quero que você dê uma ajudinha pro seu irmão. - Que ajuda? Como assim? - Então, é o seguinte...Tenho uma amiga adorável, que conheci em Nova York. O nome dela é Marcela... - E eu com isso? – Tereza não entende. - Bom, soube que o Paulo e a Esther estão separados, não é? - Hum. É... - Então... Vou ser sincera com você, minha querida. Nunca fui com a cara da Esther... Ela e o Paulo nesse casamento perfeito.. Ah! Quanta bobagem! Prova disso é que estão separados...De que serve fazer bonito na frente dos outros, se na realidade o buraco é bem mais embaixo. Tereza continua sem entender: - Aonde você quer chegar com isso? - Terminando... Eu soube por fontes seguras que o Paulinho e a Marcela estão se entendendo, se conhecendo melhor. - Ah! Duvido! – Tereza diz, sorrindo.
  • 27. - Mas pra eu ter certeza que isso é verdade, pra ter certeza que o Paulo vai partir pra outra, pra um relacionamento que ele realmente merece...Eu preciso de um reforço...Familiar...Se é que você me entende. - Você quer que... - Exatamente! Você pesca as coisas tão fácil! Eu quero que você dê uma ajudinha pro seu irmão sair desse casamento já acabado e dar uma chance pras novas oportunidades! Não sou boazinha com vocês? - De jeito algum! A Esther pode não ser minha melhor amiga, aliás, ela nunca fez questão de se fazer presente aqui nessa casa, mas eu nunca aceitaria colocar qualquer uma dentro da minha família. - Quem disse que a Marcela é qualquer uma? - Ora! Pra ser sua amiga... - Tereza diz com desdém. - Bom...Se você não quer ajuda, o que eu posso fazer, né? Vou ter que pensar em como contar tudo aquilo pro René...Ai que canseira. - Escuta aqui!! – Tereza segura o braço de Íris, que reclama de dor. – Você não vai abrir essa boca, entendeu? - Me larga! – Íris se solta de Tereza. – Eu não vou abrir minha boca não, minha sobrinha querida. Mas só se você colaborar com a titia. - Ahhhh! – Tereza grita e dá uma volta em torno de si mesma. – Não sei aonde você quer chegar com isso. Pra que tanto interesse em se ver livre da Esther? - O caso não é a Esther, já expliquei... - O que é então? - Ah meu bem, eu não sou ingênua como você. Não deixo escapar meus segredinhos! - Víbora!!! – Tereza grita. - Não quero elogios, Tereza! Quero saber se você vai colaborar...E então? Conto com você? Tereza fica séria e pensativa, e depois de andar pelo escritório, ela diz, gritando: - Tá bom, tá bom! Mas eu nem conheço essa tal de Marcela, como vou incentivar isso? - Deixa que eu cuido de tudo...Você precisa fazer só a parte mais fácil. Depois que eu apresentar você à Marcela, chama o seu irmão pra uma conversa, ressalta os defeitos da Esther, porque ela deve ter, né? E pronto! - Tá...Anda logo então com tudo isso, porque eu não vou ficar esperando suas vontades. - Ah, vai sim! Eu sei que você é obediente! Agora vou subir, estou cansadíssima do passeio. Tchauzinho! – Íris dá um beijo no rosto de Tereza, que o limpa desesperadamente com as mãos. Algumas horas se passam e Esther já havia subido a serra de carro. Ela chega na clínica de Danielle, que já estava fechada. - Oi, por favor, pode entrar. – A secretária de Danielle a recepciona. - Desculpe chegar tão tarde. A doutora Danielle está...- Danielle aparece e a interrompe: - Oi, querida. Estava aqui te esperando. - Oi! Desculpa vir tão tarde. - Imagina. Vem, vamos entrar. - Doutora, eu já posso ir? – a secretária de Danielle pergunta. - Claro, pode ir. Muito obrigada. Esther entra na sala e Danielle oferece a cadeira. Elas se sentam e Danielle diz: - Fiquei preocupada...Você parecia tão nervosa pelo telefone. - Sim, na verdade eu ainda estou. Eu não sei mais o que fazer, Danielle. - O que foi que aconteceu? – Danielle se preocupa.
  • 28. - O Paulo...Agora eu tenho certeza que não tem mais volta. - Por que? - Ele passou a noite com outra mulher...Ele mesmo me contou hoje, quando chegou de São Paulo... - Sinto muito, Esther... - Eu vim até aqui decidida a fazer essa inseminação. Mais do que nunca eu preciso desse filho...Mas agora, sem um pai...Eu não sei se seria correto, se eu posso... Capítulo XIV - Você diz “correto” com relação a que? Por ser mãe solteira, se isso teria problemas judicialmente? - Isso mesmo. - Bom, apesar disso envolver questões éticas e algumas burocracias como a comprovação de que ambas as partes - dos doadores e do receptor – estão de comum acordo perante as decisões também da justiça, de que essa criança que vai ser gerada poderá ser criada somente por você, podemos começar já com os exames médicos. - Ótimo. Eu quero começar os exames o mais breve possível. - Você não está fazendo isso de cabeça quente? Não quer pensar mais um pouco? - Não, eu já esperei uma vida toda...Eu não vou adiar mais isso por conta do Paulo. - Você ainda o ama, não é? Esther fica pensativa e tenta segurar as lágrimas – em vão: - Amo...Mais do que nunca...Mas não dá mais pra aceitar isso calada, não dá... - Calma. – Danielle alcança as mãos de Esther sobre a mesa. – Não fica assim...Tenho certeza que esse filho vai te fazer muito feliz. - Tomara... Esther se despede de Danielle e resolve passar a noite em Itaipava. Chegando na casa de Itaipava, Esther se senta no sofá, tirando os sapatos e em seguida se deitando. Ao apoiar a cabeça sobre os braços cruzados, ela pensa nas palavras de Paulo, buscando alguma resposta do que fazer nos próximos dias. Nisso, Paulo pega sua chave do carro e sai do flat. Ele segue para a sua casa, atrás de Esther. Quando ele abre a porta, encontra todos os cômodos com a luz apagada e já imagina que Esther esteja dormindo. Ele entra devagar no quarto e não vê ninguém: - Esther? – Ele a chama e fica pensativo ao perceber que não havia ninguém em casa. Pouco tempo depois, ele sai apressado do apartamento e sobe a serra de carro. Enquanto isso, Esther entra no banheiro e só pensa nas palavras do marido, durante o banho: “Esther, eu juro que eu não me lembro, quando eu acordei eu estava lá, com ela...Mas eu precisava te contar, entende? Você tinha que saber por mim.” Ela não consegue conter as lágrimas, que se confundem com a água que cai em seu rosto.
  • 29. Após o banho, Esther caminha até o closet e coloca uma camisola. Ela vai até a cozinha, prepara uma xícara de chá e segue para a sala. Chegando lá, ela senta de pernas cruzadas no sofá e bebe o chá aos poucos, pensando ainda em Paulo. (música: Problemas). Algum tempo se passa e Paulo chega na casa de Itaipava. Ele abre a porta devagar e se depara com Esther dormindo no sofá. Ela estava tão cansada que pegou num sono pesado rapidamente. Paulo aproveita e se aproxima, se ajoelhando ao lado dela. Ele a observa dormir e tenta tocá-la, tentando não acordá-la. Quando Paulo acaricia os cabelos e o rosto de Esther, ela desperta do sono e olha para ele, ainda sem raciocinar: - Paulo? – Ela diz, com a voz sonolenta e tenta se levantar. - Desculpa, não queria te acordar. – Paulo diz e Esther se senta no sofá sem dizer nada. Ele se aproxima e se ajoelha diante dela, segurando em seus joelhos: - Eu fui até o apartamento e você não estava...Imaginei que estaria aqui. - É...eu precisava ficar sozinha. - Sei que você deve estar chateada ainda, que não é a melhor hora pra gente conversar, mas eu não consigo, Esther...Não consigo ficar parado sem fazer nada...deixando a vida te levar de mim. Esther olha para ele, sem saber o que dizer. O seu amor por Paulo era tão grande que quando eles ficavam juntos, ela perdia toda sua razão, tudo que havia decidido: - Por que isso está acontecendo, Paulo? Eu pensava que a gente ia passar o resto das nossas vidas juntos, sem pensar em ter outra pessoa... - Não fala assim...Eu nunca, nunca pensei em ter outra pessoa. Tudo que aconteceu foi um mal entendido, eu sei que é difícil de entender, mas eu nunca desejei outra mulher...Eu amo você, Esther. – Paulo se levanta e sobe suas mãos até as pernas de Esther e a pressiona contra o sofá. Ela não consegue dizer mais nada, se deixando render às carícias do marido: - Eu te desejo tanto, cada dia mais. Eu não imagino minha vida sem você, sem o nosso dia a dia... – Ele diz e segura mais firme o rosto de Esther e a beija várias vezes nos lábios e no pescoço, enquanto falava. – Meu corpo não suporta ficar longe do teu. Deixa eu te amar....Fica comigo, meu amor. Paulo termina de dizer e Esther apenas o puxa contra seu corpo, o beijando intensamente. Os dois caem sobre o sofá e vão tirando suas roupas, num desespero cheio de paixão e desejo. Depois de se amarem no sofá, eles se vestem e vão até o quarto, e se abraçam. Paulo segura a nuca de Esther e a olha por algum tempo, depois diz: - Você é tão linda...- Ele sorri levemente e ela retribui. - Ai, Paulo. Eu não sei mais o que fazer...com nós dois. Eu não consigo levar adiante minhas decisões. Só que não adianta, toda vez a gente voltar no mesmo ponto. - Eu sei...Mas agora eu só quero saber se você me perdoa... - Eu ainda estou muito chateada, não é fácil...Eu não vou esquecer tão rápido o que aconteceu, porque eu te amo...Porque eu não gosto de imaginar a nossa vida sendo refeita, você com outra mulher, entende? - Claro..E eu não estou com ninguém, acredita em mim. Foi um momento de total fraqueza...Mesmo sabendo que não justifica, que eu poderia ter evitado, eu fiz tudo sem pensar, sem querer. Esther se desvia de Paulo e caminha pelo quarto, ficando de costas para ele:
  • 30. - Acho que a gente tem que dar um ponto final nisso tudo. O melhor a fazer é realmente dar esse tempo...- Ela diz e se volta para ele: - ...Pra entender o que está acontecendo conosco... Mas de uma coisa eu tenho certeza, Paulo...Eu vou ter esse filho. Paulo a olha com tristeza, e abaixa a cabeça, dizendo: - Você está mesmo decidida a isso, não é? - Sim. - Certo...Então mais uma vez...Vamos dar esse tempo. Os dois ficam um bom tempo se olhando, com vontade de passar por cima de tudo o que foi dito e se entregarem a mais um beijo, porém a racionalidade naquele momento era maior. - Eu acho melhor ir embora, então. – Paulo diz. - É...é o melhor. Paulo se vira, caminhando para fora do quarto e Esther continua estática, o observando, até que ele volta para Esther rapidamente, sem dizer nada, e a olha eufórico por alguns minutos. Sem resistir, ele segura o rosto dela e a beija com fervor. Esther não consegue nem segurá-lo, permanecendo com as mãos suspensas, rendida à um longo beijo. Após o beijo, o casal se abraça, tentando eternizar aquele momento, sentindo segurança e ao mesmo tempo medo do que estava por vir. Paulo se desprende dela e acaricia o seu rosto novamente: - Te amo...eu te amo. Esther apenas abre sua boca, tentando emitir alguma palavra, mas nada sai. Paulo já havia se soltado de seus braços e ido embora. Capítulo XV O final de semana chega ao fim, e Esther volta para o Rio de Janeiro pela manhã. Ela troca de roupa no apartamento e vai direto para a "Fio Carioca". No caminho, o seu celular toca: - Oi, Tereza Cristina! - Querida, estava tentando falar com você desde ontem, e nada! - Pois é, eu estava em Itaipava e lá é difícil pegar o celular. - Hum. Bom, eu estou ligando para te convidar pra um almoço hoje, no Le Velmont, que tal? - Algum assunto em especial? - Nada! É só um almoço, informal! Não se preocupa. - Tudo bem. Eu preciso colocar algumas coisas em dia no escritório, acho que desocupo lá pelas 14 horas, pode ser? - Perfeito, querida! Te espero lá, hein! Beijinho. - Beijo. Tchau... Esther desliga, achando estranho o convite de Tereza para o almoço. Depois ela sobe correndo para sua sala. Chegando lá, ela se depara com Paulo conversando com alguns funcionários, que logo pára a conversa para observá-la: - Bom dia! – Ele diz à ela. - Bom dia, bom dia....- Esther cumprimenta todos e vai até sua sala. – Com licença. Paulo a segue: - Oi...Eu já comecei a instruir os novos funcionários, está dando tudo certo lá na área de produção. - Hum, que bom...- Esther sorri levemente, arrumando suas coisas na mesa. - E você? Está tudo bem?
  • 31. - Sim...Tudo bem. - Bom, eu vou indo então, terminar de conversar com o pessoal, qualquer coisa...só me chamar. - Certo. – Esther sorri e volta a arrumar suas coisas.Quando Paulo sai da sala, ela senta e suspira. Algum tempo se passa e Esther e Paulo trocam olhares durante toda a manhã, conversando apenas junto de outras pessoas, evitando palavras direcionadas. Em um momento, os dois se separam e Esther não o encontra: - Luiza, onde está o Paulo? Precisava acertar com eles os horários dos novos funcionários. - Ele acabou de sair pra almoçar, Dona Esther. - Ai, meu deus. Que horas são? Tava esquecendo do almoço! – Esther olha no relógio e já era quase a hora do seu almoço com Tereza Cristina. Ela corre para pegar sua bolsa e sai apressada da “Fio Carioca”. Alguns minutos se passam e Esther chega no Le Velmont. Tereza já estava a esperando: - Oi, Tereza. Desculpa, me atrasei...- Esther diz, ainda eufórica e cumprimenta Tereza com dois beijos no rosto. - Vamos sentar ali, querida. Já estão todos te esperando. Esther olha confusa para Tereza e depois a segue. Chegando perto da mesa, Esther vê Paulo, tia Íris e...Marcela. - Olá! Esther, que bom te ver! – Íris se levanta e a cumprimenta. Esther fica sem jeito: - Eu...eu não sabia que estariam todos aqui, a Tereza não disse... - Surpresinha, querida! - Tereza ri. - Essa aqui é a Marcela...Acho que já comentei dela com você, não é? – Íris diz, cinicamente. - Ah, sim..Já nos conhecemos... – Esther tenta ao máximo não perder a paciência e logo se volta para Paulo, tentando entender a situação em que estava. Ele a olha, sério, e balança a cabeça negativamente, dando a entender que também não sabia do almoço. - Tudo bem, Esther? – Marcela a cumprimenta ainda sentada, com naturalidade. - Tudo. – Esther diz friamente e se senta, sem olhar para ela. - Vou chamar o René! René, querido, vem até aqui, vamos almoçar! – Tereza grita. - Oi, Tereza. Oi, Esther, como vai? Desculpe, mas não vou poder almoçar com vocês...Preciso dar as ordens na cozinha senão vocês não almoçam hoje! - Tudo bem, querido, não se preocupe. – Íris diz. Esther estava sentada de frente para Paulo, ao lado dele estava Íris e Marcela. A estilista tentava entender porque Tereza havia convidado ela para o almoço, quando Íris começa a conversa: - Eu queria agradecer a Tereza Cristina, minha sobrinha querida, por ter aceitado meu convite e por ter chamado todos vocês. Não foi uma grande ideia? Um almoço entre amigos no começo da semana? - É...- Paulo diz, ainda sem jeito. - Vamos fazer um brinde? – Íris levanta a taça de vinho e todos brindam. Algum tempo se passa, e Esther não consegue falar uma palavra durante todo o almoço. As principais conversas eram sobre as aventuras de Íris e Marcela em Nova York. Tereza participava da conversa e Paulo fixava seu olhar todo o tempo em Esther, temendo que o clima entre eles piorasse. - Esther, meu bem! Você não disse nada e nem tocou na comida. Está tudo bem? - Íris pergunta. - Sim...sim. É que eu preciso voltar logo pro escritório. Já está na minha hora.
  • 32. Esther se levanta e Paulo logo se levanta também, mas tia Íris o segura: - Ai Paulinho, quero conversar com você um instante. - Eu preciso ir também, tia. - Ah, mas a Esther já está indo pro escritório, ela segura as pontas por lá, não é, querida? - Claro. Pode ficar tranqüilo, Paulo. Aproveita o almoço. – Esther sorri ironicamente e se despede sem cumprimentar ninguém com beijos. Paulo fica atônito, sem saber o que fazer, ainda de pé. - Senta, Paulo. – Íris pede. Ele senta e suspira insatisfeito, dizendo: - O que você quer conversar, tia? - Calma, querido. Na verdade é a Marcela quem quer. Vamos, Tereza? - O que? – Tereza pergunta, sem entender. - Vamos sair...- Íris puxa Tereza pelo braço para deixar os dois sozinhos. Paulo fica nervoso e diz: - Foi você quem armou tudo isso, então? - Não...Claro que não. Eu nem sabia desse almoço com todos vocês...Pra mim era um almoço só com a Íris. - Eu não sei o que está acontecendo aqui. Sinceramente, quando junta a Tereza e a minha tia, aí tem coisa... - O que você acha que é? – Marcela pergunta, fingindo não saber de nada. - Sei lá. A Esther ficou chateada... - A Esther sabe...? - Sim. Eu tive que contar...Eu queria mesmo conversar com você também, Marcela...O que aconteceu...- Marcela o interrompe: - Eu sei. Eu pedi pra Íris te segurar por aqui, porque queria me desculpar. Foi um erro, nada disso deveria ter acontecido. Você ama a sua mulher, e eu, por mais que tenha um carinho por você, não sou desse tipo de mulher que vai pra cama com um homem que nem conhece direito. Nós dois estávamos frágeis, sozinhos...E bebemos. Vamos esquecer. - Sim...É isso...Vamos esquecer...Mas, você contou pra minha tia? - Não, claro que não. Inventei agora que queria fazer uma outra entrevista com você. - Hum. Tudo bem...Mas é isso, então. Vamos esquecer. - Paulo diz, nervoso. - Ótimo. Mas eu não queria que você ficasse bravo comigo. Que perdêssemos a nossa amizade. - Não, imagina. A culpa não foi sua. Claro que continuamos amigos. - Que bom! Você é muito especial. - Marcela se insinua para ele. Paulo apenas sorri e fica quieto, depois diz: - Bom, eu preciso ir. – Ele se levanta e Marcela faz o mesmo. - Tudo bem. Desculpa alguma coisa... - Tá tudo certo! – Paulo a beija no rosto rapidamente e vai até René, Tereza e Íris, se despedindo de todos. Marcela olha discretamente para Íris e sorri. Tereza Cristina percebe e fica desconfiada. No escritório da "Fio Carioca", o casal passa a tarde toda sem se falar, ocupados com assuntos distintos. Quando já é noite, todos vão embora e Esther está na sua sala, arrumando suas coisas para sair. Paulo a observa pelo vidro e resolve entrar. Esther se assusta e pára diante dele, tentando ir embora: - Paulo...- Ela diz, tentando se esquivar.
  • 33. - Esther, me escuta. - Não...Eu vou embora, me deixa passar? - Por favor. A gente precisa conversar. Capítulo XVI - Eu não tenho nada pra falar com você, Paulo. Depois daquela situação lamentável no restaurante. Eu não acredito até agora....Você ter participado disso, ter ficado quieto enquanto eu passava por tudo aquilo. - Mas eu não sabia também. Eu juro...Eu fiquei tão surpreso quanto você! Imagina a minha situação naquele momento, com você e ela, juntas. Eu sei lá, isso deve ter sido alguma coincidência desagradável...A tia Íris chamar todo mundo, depois de tudo o que aconteceu...Porque ninguém mais sabe que...enfim. – Paulo não continua. - Coincidência? – Esther questiona e suspira impaciente, e tenta se soltar quando Paulo toca no braço dela: - Me deixa ir, por favor... - Esther, acredita em mim. - Eu acredito em você, Paulo. Só não estou acreditando nas boas intenções da sua tia e daquela amiga de vocês. - A Marcela também não sabia. - Ah, tá. Olha só, Paulo, eu não estou querendo brigar, discutir...Eu quero ir embora pra casa, estou cansada. - Eu não quero discutir também. Eu fiquei tão aflito, nervoso, de pensar que a nossa situação poderia ficar ainda pior depois desse almoço. - Então vamos deixar isso pra lá...Não quero mais falar sobre isso. Esther tenta sair mas Paulo encosta na porta e a tranca. - O que você está fazendo? - Trancando a porta...- Paulo diz e fixa seu olhar nos lábios de Esther. Ele tira a bolsa das mãos da esposa, a colocando no sofá, ainda sem tirar os olhos dela: - Eu não quero brigar com você, eu não estou suportando mais isso tudo. – Ele diz, sussurrando e se aproximando cada vez mais dela. Esther olha para ele, quase chorando: - Eu não aguento mais...Tá sendo tão difícil...Eu não vou suportar passar por isso de novo. - Você não vai...Não vai. – Paulo afirma e segura o rosto dela. – Eu nunca vou cansar de dizer que eu te amo, mais do que tudo nessa vida. - Pára, por favor....- Esther pede, perdendo a respiração com a proximidade de Paulo, e termina: - A gente não pode ficar desse jeito... Nossos desejos, nossas vontades já não são mais as mesmas. - O mais importante é igual pra nós dois, Esther. Eu te amo e você também me ama. - Mas parece que isso não está bastando. Não está evitando que a gente se machuque. – Ela diz, triste. Paulo não diz nada e a beija, desesperadamente. Eles vão caminhando e se chocam contra a parede. Paulo fixa os braços dela para trás e beija o pescoço de Esther, descendo até seu colo e subindo novamente, alcançado os lábios. Os dois se abraçam, ainda aos beijos, e Paulo a conduz até a mesa, empurrando os papéis e os objetos. Ele a coloca em cima da mesa e sobe também, se debruçando sobre o corpo dela. De repente, Tereza Cristina bate no vidro e eles se assustam, saindo da mesa rapidamente. - Meu deus. – Esther se recompõe e fica de pé. Paulo reclama e vai até a porta:
  • 34. - Tereza, o que foi? - Ai, queridos. Me desculpa...Não queria atrapalhar, viu? Eu vim até aqui porque preciso urgente que você me empreste o seu carro. - Por que? - O imbecil do Baltazar estragou o nosso, ainda bem que quebrou aqui perto. Eu estava saindo do restaurante, indo pra casa, e não quero esperar o resgaste...Posso pegar? Você vai embora com a Esther. - Tudo bem, aqui a chave. Tereza sorri e agradece com um beijo no rosto: - Ai, que maravilha! Obrigada, meu bem! Tchau, Estherzinha! Esther sorri sem vontade e diz tchau, e depois de alguns segundos, Tereza retorna e diz: - Ah, esqueci de dizer uma coisa pra você, meu irmão...Vem aqui...- Tereza puxa Paulo e diz no ouvido dele: - Você e a Esther depois que se separaram ficaram ainda pior nesse agarramento, hein. Cuidado pros funcionários não flagrarem isso. – Tereza começa a rir e sai. Esther faz uma cara de interrogação para Paulo e ele apenas balança a cabeça negativamente: - A Tereza é maluca. Os dois ficam algum tempo se olhando, até que Esther termina de limpar seus lábios com as mãos e pega a sua bolsa: - Vamos? Eu te deixo...no flat. - Tá...- Paulo diz a observando sair e indo embora atrás dela. Capítulo XVII Os dois entram no carro calados e ficam assim até chegarem no flat. Esther estaciona o carro e Paulo tira o cinto de segurança, se aproximando: - Por que a gente não conversa lá em cima? Você não quer...- Esther não o espera terminar: - Não. Paulo, desse jeito não tem como a gente continuar...Aquele beijo, não devia ter acontecido. - Claro que devia...Você queria tanto quanto eu...Nós ainda nos desejamos, e muito. - Mas isso não basta. E se eu subir no seu flat agora, amanhã as coisas mudam? Amanhã eu vou fazer os exames médicos, já começo o tratamento. Você vai comigo? - Ah, Esther...- Paulo reclama. - Mas é sobre isso que estamos falando, não é? Em vivermos bem, em termos essas recaídas mas ainda casados, Paulo. Eu não quero viver uma mentira, viver com alguém que não quer compartilhar o mesmo desejo que eu. - Eu sei, eu sei...O problema é que eu quero te apoiar, Esther, mas é uma coisa que me deixa incomodado, eu sei que posso estar sendo egoísta, só que eu não me vejo com uma criança agora... eu não consigo. Esther olha para baixo, lamentando escutar as palavras de Paulo: - Eu sinto muito por isso, Paulo. De verdade. Nossas vidas tomaram rumos completamente diferentes, nos machucamos demais, e eu ainda estou tentando esquecer tudo que aconteceu entre você e aquela mulher... Paulo a olha e sente um medo enorme de perdê-la: - Eu faria qualquer coisa pra voltar no tempo, pra apagar esse incidente... - Mas já está feito, não é? – Esther lamenta. - Acho melhor eu subir. - Certo...
  • 35. Paulo se vira, dando a entender que abriria a porta, mas não resiste e segura o rosto de Esther, a beijando mais uma vez. Esther retribui o beijo, entrelaçando os dedos entre os cabelos de Paulo, aproximando ainda mais seu corpo do dele. O beijo vai ficando cada vez mais intenso e cheio de paixão. Esther se afasta dele, e ele diz ainda olhando para os lábios dela: - Eu te amo, te desejo...- Ele a beija novamente. – Eu preciso tanto do teu corpo perto do meu, do teu sorriso...dos nossos dias um ao lado do outro. Esther toca as mãos dele, que estavam no seu rosto, e diz, eufórica: - Eu também...Mas você escolheu assim, Paulo. Podia ser diferente... - Ela pára um instante e termina: - É melhor você ir... Paulo tira suas mãos do rosto de Esther e não diz nada, apenas sai do carro, a olhando partir. No dia seguinte, Esther e Paulo continuam no mesmo clima, trocando apenas as palavras necessárias no ambiente de trabalho, entre olhares furtivos, desejando romper a qualquer hora aquela barreira entre eles. Esther sai no meio da tarde e vai até a clínica de Danielle fazer os exames, já que a médica estava no Rio de Janeiro somente por este motivo. Os exames ficam prontos no mesmo dia, e Esther recebe a notícia de que já pode fazer a fertilização: - Isso mesmo, querida! Podemos começar agora mesmo. Já posso dar início na escolha do material...é só o tempo de trazê-los aqui pro Rio. - Danielle diz. - Ai, meu deus. Nem acredito! Parecia tudo tão distante desde ontem, e agora parece que recebi a notícia de que já estou grávida! – Esther começa a rir. - Pois é! É praticamente isso! Podemos já começar a escolher o material? - Claro! Podemos... Esther e Danielle discutem sobre as características da criança, analisando um catálogo médico de doadores. O tempo passa rapidamente e Esther não volta ao trabalho, deixando uma mensagem para Paulo no celular: “Paulo, ainda estou clínica, qualquer emergência, é só me avisar. Beijos, E.” Paulo fica longos minutos olhando para a mensagem, sem saber o que pensar. O sentimento era de perda...Ele estava perdendo Esther, cada dia mais. Nisso, o celular toca e ele se assusta, atendendo: - Alô? Oi, oi Tereza...Não, não estou ocupado, pode falar... sei, mas agora? Tá, estou indo. Beijo... Na saída da Fio Carioca, Paulo encontra Tereza na porta, diante do seu carro: - Vim trazer seu carrinho, querido! O Baltazar vem me buscar depois. Vamos tomar um café? - Vamos... Tereza e Paulo seguem até o café, em frente ao escritório. - Querido, eu vim também pra conversar muito sério com você. - O que aconteceu? - Eu que pergunto...Você e a Esther estão ou não estão separados? - Ai não, Tereza Cristina. Eu não vou falar mais sobre isso com você. - Credo! Pra que essa grosseria? - Porque eu cansei de ficar explicando tudo isso...Chega!