Seminário do curso de História na Universidade Federal do Piauí-UFPI. Sobre a participação da população negra na política brasileira durante o início do século XX até o golpe cívil-militar de 1964, apresentado por Endrews Costa e Ruthyelle Rodrigues, tendo como referência principal o artigo do prof. Dr. Elio Chaves.
1. Por: Dr. Elio Chaves Flores
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS - CCHL
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA
HISTÓRIA DO BRASIL REPÚBLICA / 2019.2
PROFESSORA DRA. CLÁUDIA CRISTINA DA SILVA FONTINELES
DISCENTES: ENDREWS WLLISSES E RUTHYELLE RODRIGUES
2. FONTE: Jorge Ferreira e Lucília de Almeida N. Delgado (orgs), O Brasil Republicano, livro 1: O tempo do liberalismo excludente – da Proclamação da
República à Revolução de 1930, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003, entre as pp. 232-33.
3. FONTE: Jorge Ferreira e Lucília de Almeida N. Delgado (orgs), O Brasil Republicano, livro 1: O tempo do liberalismo excludente – da Proclamação da
República à Revolução de 1930, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003, entre as pp. 232-33.
4. Oswaldo Aranha: “Conheces bem a situação deste país e és vítima, com teu valor
invulgar, do predomínio desses generais mestiços, mistos de escravos e senhores.
O que nos espera será pior do que hoje existe. É o empirismo vulgar, gozador e
prepotente o que nos vai governar” (Pág.497)
• Opiniões de intelectuais/militares brancos acerca da mestiçagem no Brasil; que segundo os
mesmos seria um dos fatores de impedimento de uma República plena.
João Cabanas: “O Brasil, Exa, é um país de completa mixórdia étnica. Isto é por
demais sabido. Há na nossa terra completa diversidade de raças e, por conseguinte,
diferença de sentimentos, de ambições e de ideias” : “Não havendo unidade racial,
existirá forçosamente conflitos e atritos entre os diferentes modos de sentir, modo
de ver que serão tão diversos e tão heterogêneas as raças que se compõe o Povo
Brasileiro” (Pág.498)
• A perspectiva de João Cabanas teria, portanto, fortes indícios de uma luta de classes
econômica e cultural.
5. • Criação da Frente Negra Brasileira (FNB)
“UNI-VOS! UNI-VOS, NEGROS! UNI-VOS TODOS! Deus
está conosco! Uni-vos, pela elevação moral, intelectual e
econômica da Raça! Pela Dignidade da Mulher Negra! Pela
dignidade e progresso do trabalhador negro!”
FONTE: https://cojira.wordpress.com/2015/08/31/jornais-da-imprensa-negra-paulista-ganham-versao-digitalizada/
FONTE: https://ensinarhistoriajoelza.com.br/linha-do-tempo/fundacao-da-
frente-negra-brasileira-fnb/
6. Devido o caráter nacionalista de Arlindo Veiga dos
Santos, surgem movimentos dissidentes da FNB:
Legião Negra Brasileira, Clube Negro de Cultura
Social e a Frente Negra Brasileira Socialista.
• José Correia Leite e a Legião Negra Brasileira. Arlindo Veiga dos Santos e José Correia Leite
FONTE: http://www.egyptsearch.com/forums/ultimatebb.cgi?ubb=next_topic;f=15;t=009175;go=older
“A negrada ficou importante aí com a Legião
Negra, e foi uma legião de verdade. Se teve gente
que brigou naquela revolução de 32 foram os
negros, e iam de noite, de caminhão, desfilavam na
cidade recebendo flores. Hoje eles festejam a
Revolução de 32, mas não mencionam a Legião
Negra, não mencionam a participação do negro, é
engraçado né?”
7. • O símbolo de modernidade dos estádios de futebol e o racismo explícito junto com a
ascensão de jogadores negros.
• Práticas emancipatórias no sentido de: congregar, educar e orientar.
• O uso da história afro-brasileira em torno das lutas de classe e raças.
“[...] O Fluminense entraria em campo, palmas, a coisa de sempre,
com o iurraré de costume. E os operários do Bangu, os soldados da
Vila Militar, esperando. Tudo combinado. [...] Os brancos do
Fluminense não estavam preparados para aquilo. Um gol do Bangu,
mais outro, mais outro, mais outro, parecia que o Bangu não ia
acabar nunca de fazer gols, que os torcedores do Bangu não iam
acabar nunca de soltar foguetes. [...] a festa não era só do Bangu,
era dos subúrbios. A velha rivalidade entre o lá de cima e o cá de
baixo. O Bangu, o subúrbio, o Fluminense, a cidade [...]”
8. A abolição da escravatura resolveu o problema do
branco e não do negro.
“Os negros conscientes sabem perfeitamente que os
seus interesses imediatos e futuros não são em nada
diversos dos do proletariado em geral e desejam,
além da instrução, da alimentação suficiente e do
melhoramento das condições de trabalho, o
reconhecimento de seus direitos”
• EDSON CARNEIRO
• I Congresso Afro-Brasileiro (1934)
FONTE: https://pt.wikipedia.org/wiki/Edison_Carneiro
• Jovelino M. de Camargo Jr:
“Tudo está reservado aos brancos. Percorrei as escolas
superiores e vereis que o corpo docente e discente é branco em
maioria esmagadora. Ide às repartições públicas e constatareis
o mesmo. O negro só é contínuo ou servente; limpa as
escarradeiras, as privadas e serve o café ao branco. Inspecionei
as cadeias e as penitenciárias. Aí sim, o negro é maioria”
9. “[...] antes de Getúlio não tinha lei. Nós
éramos bicho. A princesa Isabel só assinou,
Getúlio é que libertou a gente do jugo da
escravatura”
• EDSON CARNEIRO
• II Congresso Afro-Brasileiro (1937).
• 50 anos da abolição em 1938.
• Uma segunda Abolição.
“A memória negra sobre o Estado Novo ainda parece ser
muito fragmentada e, não raras vezes, se mistura com o
mundo do trabalho e da militância política. Os cinquenta
anos da abolição, em 1938, não deixavam no
esquecimento as realidades pungentes do Estado Novo: a
terra, a raça, o trabalho” (Pág.508)
• Cornélio Cancino:
10. • SOLANO TRINDADE
• “ Trem da Leopoldina”
TEM GENTE COM FOME (Solano
Trindade)
Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Piiiiii
Estação de Caxias
de novo a dizer
de novo a correr
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
[...]
Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Só nas estações
quando vai parando
lentamente começa a dizer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
Mas o freio de ar
todo autoritário
manda o trem calar
Psiuuuuuuuuuuu
FONTE: https://www.geledes.org.br/solano-trindade/
11. • Teatro Experimental do Negro - TEN
• Defesa das empregadas domésticas.
• Esquerda Marxista X Movimento Afro-brasileiro.
FONTE: https://pt.wikipedia.org/wiki/Teatro_Experimental_do_Negro
Abdias do Nascimento
FONTE: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa359885/abdias-do-nascimento
12. • Jornal O Globo. (1944)
“Mas, a verdade, aliás ainda por ser largamente explanada, é que entre nós nem
sequer historicamente essas distinções se fundamentaram, e, à parte os brados
da consciência universal contra a escravatura, seriam artificiais quase todas as
obras de arte que exploram o tempo das senzalas porquanto, via de regra, os
negros escravos, em todo país, eram mais bem tratados do que muitos que hoje
vivem desamparados. Os crimes, os tormentos, eram exceções, porquanto a
regra foi sempre a doçura brasileira, o fenômeno da mãe preta, dos escravos
que, mesmo sobrevinda a Abolição, ficaram por quase toda a parte a serviço
dos seus senhores, e morreram acarinhados por todos ”
13. • Teatro Experimental do Negro.
• Convenção Nacional do Negro Brasileiro. (1945)
O processo de libertação da massa dos homens de cor devia assentar-se na
educação, para a vida livre e efetiva.
Reivindicações em carta aberta: “Na pauta de reivindicações às autoridades,
predominava o teor das matrizes culturais da formação brasileira, exigindo-se
que se gravasse na Constituição a referência à origem étnica do povo brasileiro;
que se criminalizasse o preconceito de cor e de raça; que se garantisse o acesso
ao ensino público para os afro-brasileiros” (Pág.512)
14. • A criação do jornal Quilombo. (1948-50)
“Colaborar na formação da consciência de que
não existem raças superiores nem servidão natural
conforme nos ensina a teologia, a filosofia e a
ciência”
FONTE: https://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/920231-leia-texto-de-abdias-do-
nascimento-sobre-o-jornal-quilombo.shtml
“O nosso trabalho, o esforço de QUILOMBO é
para que o negro rompa o dique das resistências
atuais com seu valor humano e cultural, dentro de
um clima de legalidade democrática que assegura
a todos os brasileiros igualdade de oportunidades e
obrigações”
15. • Guerreiro Ramos
• I Congresso do Negro Brasileiro (1950)
A realização do I Congresso do Negro Brasileiro visava ser um evento
sem precedentes para a história do homem de cor. Desde o início, a
ideia carregava uma crítica intrínseca aos dois primeiros congressos
realizados em 1934 e 1937.
FONTE: http://www.justificando.com/tag/guerreiro-ramos/
FONTE: https://ipeafro.org.br/acervo-digital/leituras/ten-publicacoes/jornal-quilombo-no-10/
16. • Joviano Severino de Melo e o negacionismo da escravidão.
• Dra. Guiomar Ferreira de Mattos: “A regulamentação da profissão de doméstica”.
Não resta dúvida que se tornar mulher operária era o sonho da
empregada doméstica na década de 1950: “Nas fábricas, as mulheres são
operárias, legalizadas, possuem as vantagens oferecidas pelos institutos
de previdência e assistência, o sonho da aposentadoria e a estabilidade
tão necessária”
17. • Carlos de Assumpção “Protesto”
Mesmo que voltem as costas
Às minhas palavras de fogo
Não pararei de gritar
Não pararei
Não pararei de gritar
Senhores
Eu fui enviado ao mundo
Para protestar
Mentiras ouropéis nada
Nada me fará calar
Senhores
Atrás do muro da noite
Sem que ninguém o perceba
Muitos dos meus ancestrais
Já mortos há muito tempo
Reúnem-se em minha casa
E nos pomos a conversar
Sobre coisas amargas
Sobre grilhões e correntes
Que no passado eram visíveis
Sobre grilhões e correntes
Que no presente são invisíveis
Invisíveis mas existentes
Nos braços no pensamento
Nos passos nos sonhos na vida
De cada um dos que vivem
Juntos comigo enjeitados da Pátria
Senhores
O sangue dos meus avós
Que corre nas minhas veias
São gritos de rebeldia
Um dia talvez alguém perguntará
Comovido ante meu sofrimento
Quem é que esta gritando
Quem é que lamenta assim
Quem é
E eu responderei
Sou eu irmão
Irmão tu me desconheces
Sou eu aquele que se tornara
Vitima dos homens
Sou eu aquele que sendo homem
Foi vendido pelos homens
Em leilões em praça pública
Que foi vendido ou trocado
Como instrumento qualquer
Sou eu aquele que plantara
Os canaviais e cafezais
E os regou com suor e sangue
Aquele que sustentou
Sobre os ombros negros e fortes
O progresso do País
O que sofrera mil torturas
O que chorara inutilmente
O que dera tudo o que tinha
E hoje em dia não tem nada
[...]
18. • Guerreiro Ramos e o símbolo do Jacobinismo Negro.
Entrevista feita em 1981: “Quando fui cassado, minha ficha na
comissão do inquérito do Conselho de Segurança começam
assim: Alberto Guerreiro Ramos: mulato, metido a sociólogo.
Palavra de honra: metido a sociólogo. É a minha ficha no
Exército. Eu aí olhei para o coronel e disse: Cadê a ficha do Dr.
Afonso Arinos? Ele me deu a ficha do Afonso Arinos, e eu disse:
Mas seu coronel, não tem a cor do Afonso Arinos! Por que é que
na ficha que o Exército brasileiro fez de mim tem a minha cor? E
depois tem esse negócio: metido a sociólogo. Eu não sou metido
a sociólogo. Eu sou um dos maiores sociólogos do mundo.
“As dramáticas cena golpistas entre 1961 e 1964
não implicariam a desestruturação imediata dos
movimentos negros e frentenegrinos. Houve reação
dos intelectuais negros nos momentos em que os
militares mandavam às favas a democracia,
duramente vivenciada e vivida por duas décadas.”
(Pág.529)
FONTE: http://memoriasdaditadura.org.br/movimentosnegros/
19. Organizadores: Jorge Ferreira e Daniel Aarão Reis. A formação das tradições (1889-1945). FLORES, Elio Chaves.
Jacobinismo Negro: lutas políticas e práticas emancipatórias (1930-64) p.495-537 / – Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2007. (As esquerdas no Brasil; v.1)