A comunidade de Pombinhas situada na serra do município de Pedra Branca (CE),
distante 36 km da sede, é uma localidade de difícil acesso em virtude do sobe e desce de
ladeiras, característico da geografia da região, que tem influência direta nas condições de
vida de seus habitantes, principalmente com relação ao abastecimento de água, por não
haver condições apropriadas para a construção de açude com grande capacidade de
armazenamento.
Mobilização comunitária resulta em superação de problemas e acesso às tecnologias sociais
1. Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 7 • nº 1327
Novembro/2013
Mobilização comunitária resulta em superação
de problemas e acesso às tecnologias sociais
A comunidade de Pombinhas situada na serra do município de Pedra Branca (CE),
distante 36 km da sede, é uma localidade de difícil acesso em virtude do sobe e desce de
ladeiras, característico da geografia da região, que tem influência direta nas condições de
vida de seus habitantes, principalmente com relação ao abastecimento de água, por não
haver condições apropriadas para a construção de açude com grande capacidade de
armazenamento.
Por muitos anos a comunidade viveu em constantes oscilações de abastecimento,
chegando a momentos de escassez de água potável para o consumo humano, problemática
comum em comunidades rurais do Semiárido cearense. O agricultor José Milton da Silva, 64
anos, mora na comunidade desde criança, é um profundo conhecedor da história de
Pombinhas. Ele falou da histórica dificuldade de acesso à água para suprir as necessidades
básicas das famílias, “era muito difícil, era de olho-d'água e das cacimbas. Tinha um açude
que meu pai construiu em costa de jumento, mas muito pequeno, no mês de outubro secava,
aí a gente ficava na água ruim, salgada”. A professora da escola da comunidade, Rizalva
Mendes Cardoso, 54 anos, também relembra o sofrimento vivido por muitos anos, “por
causa da água poluída, morreram dois filhos meus”.
Mas o povo do Semiárido, é um povo que resiste e luta, rivaliza com as intempéries do
meio e com as estruturas de dominação. O isolamento, os terrenos acidentados, os longos
períodos de estiagem não seriam motivos para não buscarem melhorias. Cansados de tanto
sofrerem por falta d'água para consumo humano e até para os animais, além de outras
demandas, os habitantes resolveram se organizar em uma Associação Comunitária que foi
fundada no ano de 1995, com o objetivo de reivindicarem direitos e a busca de melhores
condições de vida para os habitantes da comunidade.
Segundo José Milton, algumas pessoas começaram a conversar sobre a busca de
soluções para os problemas que os afligiam, ele foi um dos que mobilizaram a comunidade
para se organizar. “Desse tempo pra cá, que foi fundada essa Associação, aí veio motivando,
trabalhando junto, discutindo os
problemas, e foi juntando, e foi
trazendo alguma coisa. Aí lá se vem uma
energia, a gente foi lutando, foi
descobrindo mais alguma coisa, foi
furado uns poços profundos. A gente
conseguiu uma adutora e ficou puxando
água desse poço pra adutora. Depois a
gente construiu um açude maior, mas
apareceu uma revência. Se não fosse a
revência, o açude tirava dois anos
tranquilo. Mas só tira um ano, um ano e
pouco”, afirmou. Foi a partir da
fundação da Associação Comunitária,
que a história do abastecimento d'água
na comunidade começou a mudar.
Pedra Branca
Integrantes da Associação Comunitária de Pombinhas e representante do CDDH-AC
2. Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará
2
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Realização Patrocínio
Mas apesar das conquistas, a comunidade continuava a sofrer com a falta d'água
para o consumo humano. Em períodos longos de estiagem, os açudes secam e a água dos
poços não serve para beber. Havia a necessidade de uma tecnologia capaz de armazenar a
água da chuva. Foi aí que em 2001, a Associação iniciou uma parceria com o Centro de
Defesa dos Direitos Humanos Antônio Conselheiro (CDDH-AC), que ministrava cursos de
formação para a cidadania. O representante legal do CDDH-AC, Antônio Francisco de Lima,
disse que nesse período a entidade percebeu a problemática do abastecimento d'água, e que
o fato da Associação Comunitária ser atuante motivou o Centro a desenvolver projetos em
Pombinhas. “A Associação Comunitária de Pombinhas é como uma luz acesa. Quando a
Associação é bem organizada, atrai projetos que trazem benefícios para a comunidade”,
afirmou.
O trabalho do Centro de Defesa nos cursos de formação para a cidadania, abriu as
portas para a implementação na comunidade da tecnologia social de armazenamento d'água
da chuva para beber. A primeira Cisterna de Placas foi construída no ano de 2002. O
agricultor Antônio Mendes Sobrinho, 52 anos, atual presidente da Associação Comunitária,
conta que a conquista da primeira cisterna foi a realização de um sonho de todos. Mas não foi
suficiente para resolver o problema, “uma única cisterna não dava para atender toda a
população”.
A partir da parceria com o CDDH-AC, a comunidade foi beneficiada pelo Programa
Um Milhão de Cisternas (P1MC) da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). Hoje, na
comunidade de Pombinhas, todas as casas habitadas dispõem de
Cisterna de Placas, o que favoreceu melhoria de qualidade de vida.
“Quando minha cisterna encheu pela primeira vez, eu não parava, eu
andava, eu dava risada, graças a Deus, nunca pensei de ter água boa
na minha porta”, falou emocionada a professora Rizalva Cardoso.
As cisternas de placas foram uma importante conquista da
comunidade. “Hoje a gente vê as mudanças através da nossa
organização, porque nós sabemos que em tudo é preciso a gente se
organizar. Sem organização nós não somos nada, só podemos
conseguir alguma coisa para nossa comunidade através da união,
através da organização, na luta para o bem-estar da nossa
comunidade”, relatou a professora Rizalva Cardoso.
A história da comunidade de Pombinhas é uma história de
superação, de luta, que resultou em importantes conquistas e revela a
importância das tecnologias sociais de convivência com o Semiárido.
A Cisterna de Placa representa um ponto de partida para novas
perspectivas de convivência e tem simbologia muito forte: de
resistência, de mobilização e de articulação.