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Índice
1. Fátima nunca mais!
2. No outro lado de Fátima, à procura de Maria de Nazaré.
3. Irmãzinhas de Jesus: com elas, entendemos melhor Maria de Nazaré e o evangelho dos
pobres.
4. Fátima: privilégio ou responsabilidade?
5. Não será que também Fátima precisa de se converter ao evangelho de Jesus?
6. O que as crianças viram não foi nossa senhora
7. Fátima: um inferno de mau gosto
8. Agora, com o comunismo derrotado, frei bento interroga-se: qual o papel de Fátima?
9. Deuses contra deus
10. Do deus de Fátima livra-nos, senhor!
11. Há anos que ele faz incomodas perguntas sobre "Fátima" e, em lugar de respostas
satisfatórias, recebe insultos.
12. Evangelizar a senhora de Fátima
13. Fia-te na virgem e não corras!
14. Eu, Maria, mãe de Jesus, não tenho nada a ver com a senhora de Fátima.
15. Não há nenhum segredo de Fátima
16. O culto a n. s. de Fátima afasta-nos do deus que se revelou em Maria de Nazaré. Muitas
conferências, nenhum debate.
18. O milagre da jacintinha
19. Aparições e visões: quem nos livra delas?
20. Manifestação de fé ou de paganismo? Fátima: a glória da nossa terra ou a nossa
vergonha? Teologicamente, um vomita lula.
23. No inferno, os pecadores uivam como cães danados.
24. Como brasas transparentes
25. E a imagem da senhora de Fátima chorou!...
26. Fátima: a grande ilusão
Observações (algumas erros na escrita deste livro são apenas decorrentes do processo de
cópia e da variação do idioma português) ignore o livro é o mesmo original do Autor.
Fátima nunca mais!
1. Quando, há tempos, aceitei participar num debate promovido.
Pela sic e respondi abertamente "não!" à pergunta "acredita nas
Aparições de Fátima?”“, foi um escândalo (quase) nacional. nunca
Tal se ouvira na televisão, para mais, da boca de um padre.
Católico. Infelizmente, o debate abortou pouco depois de ter.
Começado, e quase não me foi possível apontar as razões do meu.
Não. O que terá deixado toda a gente mais ou menos frustrada. E
Até a pensar menos bem de mim.
Mas o impacto da minha resposta foi tal, que até o próprio.
Jornalista que conduzia o debate não conseguiu esconder o seu ar
De espanto. Apressei-me, por isso, a recordar tanto a ele como a.
Todas as portuguesas e portuguesas que, nessa hora, sintonizavam.
A sic - e deveriam ser milhões, tal o impacto do debate que, ao.
Contrário do que pensa a maior parte das pessoas, mesmo não.
Católicas, as aparições de Fátima não fazem parte do núcleo Da.
Fé cristã católica; o que quer dizer que se pode não acreditar.
Em Fátima e continuar a ser cristão católico romano.
Mesmo assim, e talvez porque não costuma ser esta a.
Mensagem-informação sobre as aparições de Fátima que passa nas
Pregações dos párocos e dos bispos, nem nas peregrinações que,
Um pouco de todo o país e de muitas partes do mundo, são.
Reiteradamente organizadas para lá, a verdade é que, se eu já.
Era um padre meio maldito, passei, desde então, a ser maldito de.
Todo, aos olhos de quase todos os meus irmãos e irmãs de fé.
Católica.
Entretanto, se ainda me aflijo com isso, não é por mim que me.
Aflijo, mas por todos aqueles e aquelas que, preguiçosamente,
Preferem continuar a escandalizar-se com as minhas declarações,
Honestamente ditadas pela fé cristã que me anima e dá sentido à
Minha vida, em vez de interpelados por elas, apressar-se,
Elas e eles também, a meter mãos ao trabalho para investigarem.
Seriamente o que se passa à volta de Fátima.
É que, com posições assim preguiçosas e acomodadas,
Objetivamente tão contrárias à fé cristã, dificilmente.
Conseguiremos ir longe à liberdade e em responsabilidade
Humanas. i, em vez disso, manter-nos-emos, geração após geração,
Como uma espécie de Portugal dos pequeninos e uma igreja de
Críticas (não é verdade que na generalidade, todos os que nos
Confessamos católicos, fomos batizados poucos dias ou poucas.
Semanas depois de termos nascido e que nunca mais crescemos na
Fé nem nas razões dela?(), inevitavelmente à mercê de influentes.
Hierarquias políticas e eclesiásticas! Uma postura social e
Eclesial que, indubitavelmente, também a senhora de Fátima tem.
Ajudado, e muito, a programar. Não só em Portugal, mas também.
Um pouco por todo o mundo católico.
2. Entretanto, quando, na sic, respondi que não acreditava nas.
Aparição de Fátima mais não fez do que retomar hoje a mesma
Atitude que a igreja católica em Portugal tomou entre 1917 e
1930. Na verdade, durante 13 anos, também ela não acreditou nas.
Aparições de Fátima. E podia ter-se apressado a reconhecê-las,
Porque, até então, eram já muitos os milhares de pessoas que.
Acorriam a Fátima, entre 13 de maio e 13 de outubro, de cada.
Ano. E, inclusive, havia já ocorrido o chamado "milagre do sol",
No dia 13 de outubro de 1917.
Porém, só em 1930 é que a igreja católica reconhece Fátima. Um
Reconhecimento oficial a que não terá sido alheio o fato de ter
Saído vitorioso o golpe militar de 28 de maio de 1926.
O novo regime, obscurantista católico, saído deste golpe militar.
E presidido pelo duplo Salazar cardeal cerejeira, carecia de uma.
Coisa assim para mais facilmente se implantar nas populações. A
Senhora de Fátima, com a mensagem retrógrada, moralista e.
Subserviente que lhe é atribuída e que, ainda hoje, vai tão ao.
Encontro da generalidade dos nossos funcionários eclesiásticos
Católicos e do paganismo religioso-católico das nossas
População vinha mesmo a matar. Nem sequer era preciso
--10-
Esforçar-se por arregimentar as populações à volta do clero.
Bastava ir ao seu encontro, todos os meses, em Fátima.
Vai daí, em lugar de continuar a demarcar-se do fenômeno e até hostilizá-
lo, a hierarquia maior da igreja católica, em 1930,.
Mudou radicalmente de estratégia e reconheceu-o e canonizou-o,
Como sobrenatural.
Terá percebido nessa altura que, se não adiasse mais esse
reconhecimento, os lucros seriam enormes, como, efetivamente,
Foram. Lucros financeiros, lucros políticos, lucros clericais.
Lucros eclesiástico-católicos.
Algo assim como um verdadeiro "milagre", não de deus,
Evidentemente, que deus nunca faz milagres - com eles, faria de nós uns
súbditos assustados, em vez de filhas e filhos livres irresponsáveis-, mas
um "milagre" produzido por aquela vertente demoníaca que, sobretudo em
horas de maior aflição, sempre se manifesta no mais fundo dos seres
humanos e os leva a.
Prostrar-se de joelhos não só diante de imagens surdas e mudas,
Mas também diante dos representantes do idolatrado poder religioso e
eclesiástico, na ilusória esperança de que, assim,
As suas muitas aflições poderão encontrar qualquer mágica saída.
Por outro lado, esta nova atitude da hierarquia maior da igreja católica
veio revelar-se, igualmente, como um verdadeiro trunfo contra a república
de 1910. E contra a liberdade. Contra autonomia individual. E contra todas
as outras igrejas nãocatólicas. Contra a maçonaria. E contra a laicidade e a
cidadania, então incipientes.
Mas o pior - e parece que na igreja católica ainda ninguém,
Entre os mais responsáveis, deu por isso - é que essa surpreendente
mudança de estratégia da hierarquia maior católica, relativamente às
"aparições" de Fátima, materializava também uma histórica traição ao
evangelho de Jesus cristo. Uma traição que acabou por desfigurar
completamente o cristianismo,
Tal como o próprio Jesus cristo o inspirou com a sua prática e palavra, no
sentido de que ele materializasse, na história, avia de realização humana
integral, saudavelmente cômoda, como usar da terra,
E libertadoramente subversiva, como a luz do mundo (MT cinco). (
3. Só que Fátima e as suas pretensas aparições resumiam-se,
Nessa altura, praticamente a nada. Para cúmulo, das três crianças.
--11-
Que, em 1917, afirmaram a pés juntos que tinham visto nossa
Senhora - uma delas, Francisco, nunca ouviu nada e tanto ele,
Como a sua irmã, jacinta, nunca disseram uma palavra que fosse à.
Senhora das "aparições", apenas Lúcia foi protagonista, o que.
Prova que até nas "aparições do céu" há discriminação!... - duas
Delas já tinham morrido, há uns dez onze anos, de pneumônica. E
Também em consequência do terror que a senhora de Fátima lhes
Incutiu (entenda-se, certas catequeses moralistas e terroristas.
(De grande parte do clero de então).
Na circunstância, valeu, por isso, ao regime e à sua poderosa.
Dupla, Salazar cardeal cerejeira, a existência de Lúcia, a mais.
Velha das três antigas crianças "videntes". Talvez, por ser mais.
Vigorosa e menos impressionável, conseguiu sobreviver a todo.
Aquele terror que a senhora de Fátima materializava e
Materializa ainda hoje.
Entretanto, alguns clérigos mais fanáticos do catolicismo.
Obscurantista e moralista de então - eles viam nas "aparições de
“Fátima” não a presença do demoníaco, como elas efetivamente.
São, mas sim a presença do divino, e até um verdadeiro milagre.
Do céu - haviam conseguido arrastar a pequenina Lúcia, poucos.
Anos depois de 1917, para fora da sua aldeia e encurralaram-na,
Primeiro, no asilo de Vilar, no porto, e, depois, num convento.
Da Gales. Foram ao ponto de lhe arrancar o nome (é o mesmo que
(Tirar-lhe a identidade) e passaram a chamar-lhe - imagine-se!
Irmã Maria das dores. Ao mesmo tempo, proibiram-lhe que alguma.
Vez falasse a alguém das "aparições".
O terreno estava, pois, mais do que preparado para obter desta.
Antiga "vidente" uns relatos bem mais completos das "aparições",
Os quais, duma vez por todas, impusessem Fátima à igreja e ao.
Mundo. E, se bem o pensaram, melhor o fizeram.
Deram ordens à irmã dores (atualmente, ela é, de novo, Lúcia),
Sempre em nome, é claro, do voto de obediência, para que ela.
Escrevesse. E até lhe forneceram, antes de cada relato,
Orientações muito precisas sobre o que ela deveria escrever.
Finalmente, corrigiram-lhe os textos que ela manuscreveu, para.
Que pudessem ser publicados sem erros e com boa pontuação. Tudo
Muito isento como se vê!...
--12-
4. “Nasceu, assim, a memória da irmã Lúcia”, um livro.
Bizarro e delirante, mas imprescindível para se entender Fátima.
E a sua senhora.
Os relatos do livro surpreenderam tanto os críticos de Fátima que estes
passaram a chamar-lhes "Fátima ii",
Tão diferentes eles eram dos relatos primitivos de 1917, que,
Por isso, passaram a ser referidos como "Fátima i" e que não.
Passam estes últimos, de curtos depoimentos, mais ou menos.
Ingênuos, das três crianças ditas "videntes".
Quatro dessas cinco memórias foram escritas entre 1935 e 1941;
Mas a quinta e última memória foi escrita ainda muito mais
Recentemente-já em 1989! O livro que as contém encontra-se
Traduzido em várias línguas e tem conhecido sucessivas edições.
Quer isto dizer que são textos escritos muitos anos depois das
Pretensas "aparições", e apenas por uma das suas vítimas, a.
Qual, embora tenha conseguido sobreviver ao terrorismo que elas.
Materializaram, nunca mais pôde ter, desde então, uma vida.
Normal e equilibradamente saudável no meio do mundo.
Violentamente sequestrada da sua aldeia, poucos anos depois das.
"aparições", encurralada mais ou menos à força num convento sob.
Um nome que nem sequer era o dela e acompanhada por confessores
Fanáticos e beatos que viam sobrenatural em tudo, ao mesmo tempo.
Que tinham uma histérica fobia por tudo o que fosse mundo e
República, laico e secular, liberdade de consciência e.
Cidadania, eis que a pobre rapariga de Fátima passou a ser um.
Joguete nas mãos deles, a cujos olhos, para cúmulo, todos os.
Processos a utilizar eram legítimos, desde que servissem para.
Ajudar a derrotar mais depressa e mais eficazmente a república e
Todos os outros supostos "inimigos" da igreja católica.
Pode, por isso, dizer-se que Lúcia nunca mais se encontrou a si.
Mesma, e, pelo que ela própria conta no livro das memórias,
Sobretudo, nos dois apêndices, vê-se que tem vivido em delírios.
Quase contínuos, com aparições de nossas senhoras e de nossos.
Senhores, a toda a hora e instante, que lhe confiam mensagens,
Para ela, por sua vez, confiar aos bispos e ao papa.
Enfim, uma verdadeira desgraça. Para não dizer um crime, que, em.
Vez de ser denunciado e julgado irá ser depois da morte de
Lúcia, provavelmente, canonizada, quando os sucessores dos.
--13-
Eclesiásticos que tanto a oprimiram e alienaram exigirem do
Vaticano que a beatifique e declare santa dos altares!
5. Nestas circunstâncias, que valor probatório gozam essas.
Memórias da irmã Lucia? Que credibilidade merece? Tomar a sério
O que lá está escrito e edificar sobre estes relatos,
Manifestamente delirantes, a base da religião de Fátima não é.
Uma injúria à fé cristã e ao evangelho de Jesus cristo? Não é um
Insulto a deus, pelo menos, àquele deus que se nos revelou.
Plenamente em Jesus de Nazaré, e em Maria, sua mãe carnal e exemplar
discípula?
Mas a verdade é isto que continuamos hoje a ver em Fátima. Ou
Seja, vemos a senhora de Fátima ser cultuada, como a grande.
Deusa da serra d'abre, e, embora este culto tenha tudo de.
Demoníaco e nada de cristão e de humano são, sem dúvida, às.
Memórias da irmã Lúcia e aos suas demências delírios que se vai
Buscar todo o seu fundamento.
Por mim, tenho plena consciência do chocante que estas minhas.
Afirmações consubstanciam. Mesmo assim, não deixo de fazê-las.
Com serenidade. Em nome da liberdade. Em nome do bom senso. Em
Nome da sanidade mental. E, sobretudo, em nome do evangelho de.
Jesus, pelo menos, tal como eu o experimento e procuro viver,
Para cujo arníncio aos pobres fui constituído presbítero, por.
Causa do qual, antes dos 25 de abril de 74, fui duas vezes preso.
E, desde então, me vejo votado ao ostracismo eclesiástico,
Certamente por ter-me tornado demasiado incomodo na igreja.
Mas não se pense que é apenas de agora esta minha posição sobre
Fátima e a sua senhora. Quando fui pároco de macieira da lixa,
Entre 1969 e 1973, já então promovi com a paróquia uma séria.
Reflexão teológica e cristo lógico sobre Maria de Nazaré. Foi
Durante todo o mês de maio de 1970 (cf. o meu livro "Maria de
“(Nazaré”, edições afrontamento, porto).
Em lugar de nos refugiarmos no templo paroquial a repetir, no.
Mínimo, cinquenta vezes por dia as mesmas palavras do terço,
Ocupamos o tempo a refletir e a aprofundar, a partir do.
Evangelho e de Jesus de Nazaré, quem era Maria, sua mãe.
--14-
Foi uma inesquecível experiência de libertação para a liberdade
E de fraterna alegria. Recordo-me que, no encontro.
Correspondente ao dia 12 de maio desse ano, uma das perguntas.
Que então soou no interior do templo paroquial, transformado por.
Nós em espaço de convívio e de busca comunitária da verdade foi
Esta: "a senhora de Fátima ainda será Maria?". E todos os dados,
Já então apresentados, levavam-nos a concluir que a senhora de.
Fátima não tinha nada a ver com Maria, mãe de Jesus, ainda que,
Oficialmente, a igreja católica persista, insensatamente, ainda.
Hoje, a dizer que sim, que são apenas dois nomes distintos para.
Nomear a mesma pessoa. Pura mentira!
6. Mas foi, sobretudo depois que assumi as funções de diretor do
jornal fraternizar que senti o apelo a voltar ao assunto senhora
de fátima, concretamente, na edição referente a cada um dos
últimos meses de maio.
esta decisão levou-me a ler-analisar com mais atenção o livro
"memórias da irmã lúcia". e, se já não tinha qualquer fé na
senhora de fátima, nem nas chamadas aparições, a leitura crítica
deste livro, escrito com o manifesto objectivo de fundamentar as
aparições e impor definitivamente fátima à igreja e ao mundo,
fez de mim um convicto militante anti-fátima. também em nome de
maria. e do evangelho.
a leitura destes escritos deixou-me, evangélica e
teologicamente, horrorizado. nem a senhora de fátima da
"vidente" lúcia, tal como ela se lhe refere, corresponde a
maria, mãe carnal de jesus e a sua melhor e mais perfeita
discípula, nem o deus dos seus textos corresponde no deus que
nós, cristãos e cristãs, reconhecemos e proclamamos e que se
revelou definitivamente na pessoa de jesus de nazaré, o
ressuscitado que, antes, havia sido crucificado.
digamos que o deus das memórias da irmã lúcia tem tudo a ver com
o deus do templo de jerusalém, em nome do qual, o próprio jesus
foi condenado à morte e executado, por o ter posto em cheque, em
nome de outro deus, de misericórdia e de perdão, sem religião e
sem templo, a quem ele, numa intimidade ainda hoje
desconcertante para nós, tratava por "abbá", uma
--15--
expressão aramaica que diz mais, infinitamente mais, do que
"pai" ou "paizinho", como os tradutores da bíblia costumam
traduzir para as diversas línguas hoje faladas.
tenho, por isso, para mim que fátima e a sua senhora, mais do
que toleradas, deverão ser teologicamente denunciadas e
desmascaradas. para que as populações tomem consciência do
veneno que ambas veiculam, sob o disfarce de grandiosas
manifestações de fé.
quem tiver dúvidas e achar exagerado isto que acabo de escrever
experimente ler-analisar criticamente as "memórias da irmã
lúcia" e os seus dois curtos apêndices. mesmo que conheça pouco
o evangélho de jesus e não seja muito profundo em teologia
cristã, poderá acabar por experimentar o mesmo que eu
experimentei. basta que tenha um mínimo de humanidade, de bom
senso e de sanidade mental, para logo se demarcar de tudo aquilo
que só uma mente que outros criminosamente perturbaram é capaz
de ver e ouvir e de apresentar aos outros como de deus.
7. aqui ficam, entretanto, alguns extractos dessas cinco
memórias da irmã lúcia, tais como as lemos na 6. edição, de
março de 1990, numa compilação do pe. luís kondor, svd, com
introdução e notas do pe. dr. joaquim m. alonso, smf, falecido
em 1981, e do pe. dr. luciano cristino. leiam e deixem-se
estarrecer.
vejam o ambiente de terror religioso em que viveram as três
crianças das "aparições". o tipo de catequese que lhes era
ministrado. vejam quem é a senhora de fátima. como fala e do que
fala. o que pretende. com o que mais se preocupa. como trata as
crianças. que imagem lhes transmite de deus. que catequese
terrorista lhes ensina. ao que é que as chama. em nome de quê as
mobiliza.
verão, então, que até as crianças acabam por ser bem melhores do
que o próprio deus. se ele é capaz, por exemplo, de condenar os
"pecadores" ao lnferno eterno, as crianças, ao contrário dele,
são capazes de se sacrificar, para que tal não aconteça!...
leiam e concluirão, certamente, como eu concluí, que será muito
difícil alguém da igreja católica poder vir a criar uma imagem
mais monstruosa de deus, de jesus e de maria, do que esta imagem
que a irmã lúcia criou com as suas memórias.
--16-
8. primeira memória
a introdução esclarece que este é "o seu (de lúcia) primeiro
escrito extenso". e diz-nos como o livro nasceu. "no dia 12 de
setembro de 1935 eram trasladados, do cemitério de vila nova de
ourém para o de fátima, os restos mortais de jacinta. nesta
ocasião, tiraram-se diversas fotografias ao cadáver; algumas
delas foram enviadas pelo sr. bispo (de leiria) à irmã lúcia
que, então, se encontrava em pontevedra". lúcia agradeceu a
lembrança, em carta de 17 de novembro do mesmo ano.
as recordações que as fotografias suscitaram em lúcia "induziram
o sr. bispo a mandar-lhe escrever tudo o que se recordasse (da
sua primita jacinta)". a introdução esclarece ainda que "o
escrito, começado na segunda semana de dezembro, estava
terminado no dia de natal de 1935".
o texto apresenta-se dirigido ao "ex." e rev." senhor bispo".
atentem no misticismo e servilismo da linguagem, logo a começar:
"depois de ter implorado a protecção dos santíssimos corações de
jesus e maria, nossa terna mãe, de ter pedido luz e graça aos
pés do sacrário, para não escrever nada que não seja única e
exclusivamente para glória de jesus e da santíssima virgem,
venho, apesar da minha repugnância, por não poder dizer quase
nada da jacinta sem directa ou indirectamente falar do meu
miserável ser. obedeço, no entanto, à vontade de v ex."a
reverência que, para mim, é a expressão da vontade de nosso bom
deus" (sic).
e acrescenta: "vou ver se dou começo à narração do que me lembro
da vida da jacinta. como não disponho de tempo livre, durante as
horas silenciosas de trabalho, num bocado de papel, com um lápis
escondido debaixo da costura, irei recordando e apontando o que
os santíssimos corações de jesus e maria quiserem fazer-me
recordar". eis alguns extractos.
"um dia, jogávamos isto (às prendinhas), em casa dos meus pais,
e tocou-me a mim mandá-la a ela. meu irmão estava sentado a
escrever junto duma mesa. mandei-a, então, dar-lhe um abraço e
um beijo, mas ela respondeu: - isso não! manda-me outra coisa.
--17-
por que não me mandas beijar aquele nosso senhor que está ali?
(era um crucifixo que havia na parede)... a nosso senhor dou
todos quantos quiseres."
"a jacinta gostava muito de ouvir o eco da voz no fundo dos
vales. por isso, um dos nossos entretenimentos era, no cimo dos
montes, sentados no penedo maior, pronunciar nomes em alta voz.
o nome que melhor ecoava era o de maria. a jacinta dizia, às
vezes, assim, a avé-maria inteira, repetindo a palavra seguinte
só quando a precedente tinha acabado de ecoar.
gostávamos também de entoar cânticos. entre os vários profanos
que infelizmente sabíamos bastantes, a jacinta preferia o "salve
nobre padroeira, virgem pura, anjos cantai comigo."
"tinham-nos recomendado que, depois da merenda, rezássemos o
terço; mas, como todo o tempo nos parecia pouco para brincar,
arranjámos uma boa maneira de acabar breve: passávamos as
contas, dizendo somente: avé maria, avé maria, avé maria! quando
chegávamos ao fim do mistério, dizíamos, com muita pausa, a
simples palavra: padre nosso!"
- jacinta! por que não queres brincar? - porque estou a pensar.
aquela senhora disse-nos para rezarmos o terço e fazermos
sacrifícios pela conversão dos pecadores (...). o francisco
discorreu em breve um bom sacrifício: - demos a nossa merenda às
ovelhas e fazemos o sacrifício de não merendar! em poucos
minutos, estava todo o nosso farnel distribuído pelo rebanho. e
assim passámos um dia de jejum, que nem o do mais austero
cartuxo! a jacinta continuava sentada na sua pedra, com ar de
pensativa e perguntou: -aquela senhora disse também que iam
muitas almas para o inferno. e o que é o inferno? - É uma cova
de bichos e uma fogueira muito grande (assim mo explicava minha
mãe) e vai para lá quem faz pecados e não se confessa e fica lá
sempre a arder. - e nunca mais de lá sai? - não. - depois de
muitos, muitos anos?! - não; o inferno nunca acaba. e o céu
também não. quem vai para o céu nunca mais de lá sai. e quem vai
para o inferno também não. (...)
--18-
mesmo brincando, de vez em quando (a jacìnta) perguntava: - e
aquela gente que lá está a arder não morre? e não se faz em
cinza? e se rezar muito pelos pecadores, nosso senhor livra-os
de lá? e com os sacrifícios também? coitadinhos! havemos de
rezar e fazer muitos sacrifícios por eles! depois, acrescentava:
que boa é aquela senhora! já nos prometeu levar para o céu!".
"a jacinta tomou tanto a peito os sacrifícios pela conversão dos
pecadores, que não deixava escapar ocasião alguma. (...) colhia
as bolotas dos carvalhos ou a azeitona das oliveiras. disse-lhe
um dia: - jacinta, não comas isso, que amarga muito. - pois é
por amargar que o como, para converter os pecadores. (...) a
jacinta parecia insaciável na prática do sacrifício (...). o dia
estava lindo, mas o sol era ardente (...) parecia querer abrasar
tudo. a sede fazia-se sentir e não havia pinga d'água para
beber. a princípio, oferecíamos o sacrifício com generosidade
pela conversão dos pecadores; mas passada a hora do meio dia,
não se resistia. propus então aos meus companheiros ir a um
lugar,
à que ficava cerca pedir uma pouca de água. (...) em seguida,
dei a infusão ao francisco e disse-lhe que bebesse. - não quero
beber, respondeu. - porquê? - quero sofrer pela conversão dos
pecadores. - bebe tu, jacinta! - também quero oferecer o
sacrifício pelos pecadores! deitei, então, a água numa cova duma
pedra para que a bebessem as ovelhas e fui levar a infusa à sua
dona. o calor tornava-se cada vez mais intenso. as cigarras e os
grilos juntavam o seu cantar ao das rãs da lagoa vizinha e
faziam uma gritaria insuportável. a jacinta, debilitada pela
fraqueza e pela sede, disse-me, com aquela simplicidade que lhe
era habitual: diz aos grilos e às rãs que se calem! dói-me tanto
a minha cabeça!
então o francisco perguntou-lhe: - não queres sofrer isto pelos
pecadores?
a pobre criança, apertando a cabeça entre as mãozinhas,
respondeu: - sim, quero. deixa-as cantar".
"foram interrogar-nos dois sacerdotes que nos recomendaram que
rezássemos pelo santo padre. a jacinta perguntou quem era o
santo padre e os bons sacerdotes explicaram-nos quem era e como
precisava muito de orações. a jacinta ficou com tanto
--19-
amor ao santo padre que sempre que oferecia os seus sacrifícios
a jesus, acrescentava: e pelo santo padre. no fim de rezar o
terço, rezava sempre três ave-marias pelo santo padre e algumas
vezes dizia: -quem me dera ver o santo padre! vem cá tanta gente
e o santo padre nunca cá vem."
"passavam assim os dias da jacinta, quando nosso senhor mandou a
pneumónica, que a prostrou na cama, com seu irmãozinho. nas
vésperas de adoecer, dizia: - dói-me tanto a cabeça e tenho
tanta sede! mas não quero beber, para sofrer pelos pecadores!
(...)
um dia, sua mãe levou-lhe uma xícara de leite e disse-lhe que o
tomasse. - não quero, minha mãe, respondeu, afastando com a
mãozinha a xícara (...) logo que ficámos sós, perguntei-lhe: como
desobedeces assim a tua mãe e não ofereces este sacrifício
a nosso senhor? ao ouvir isto, deixou cair algumas lágrimas que
eu tive a felicidade de limpar e disse: - agora não me lembrei!
(...)
um dia, perguntei-lhe: - estás melhor? - já sabes que não
melhoro. e acrescentou: - tenho tantas dores no peito! mas não
digo nada; sofro pela conversão dos pecadores."
"de novo, a santíssima virgem se dignou visitar a jacinta, para
lhe anunciar novas cruzes e sacrifícios. deu-me a notícia e
dizia-me: - disse-me que vou para lisboa, para outro hospital;
que não te torno a ver, nem os meus pais; que depois de sofrer
muito, morro sozinha, mas que não tenha medo; que me vai lá ela
buscar para o céu."
9. segunda memória
a segunda memória começou a ser escrita no dia 7 de novembro de
1937 e terminou no dia 21. como é que esta aparece? segundo o
texto da introdução, "o sr. bispo, posto de acordo com a madre
provincial das doroteias, madre maria do carmo corte-real, dá
ordem à lúcia". ela escreve, então, 20 anos depois de 1917, com
a intenção de "deixar ver a história de fátima tal qual ela é".
talvez dissesse melhor se escrevesse: deixar ver a história de
fátima como a minha fantasia hoje
--20-
mo diz e, sobretudo, como mais convém à hierarquia da igreja
católica!...
ela própria começa por reconhecer que "nem sequer a caligrafia
sei fazer capazmente", mas a verdade é que o texto final
apresenta-se muito bem concebido e escrito. será integralmente
dela? que mãozinha terá estado por trás?
eis alguns extractos mais significativos.
9.1. antes das "aparições"
"havia na igreja (paroquial) mais que uma imagem de nossa
senhora. "se calhar, tantas quantas ela depois "verá" nas
"aparições".... mas, como minhas irmãs arranjavam o altar de
nossa senhora do rosário [pelos vistos, na última "aparição", de
outubro, a senhora dirá que se chama a senhora do rosário! mas
que coincidência!...], estava por isso habituada a rezar diante
dessa e, por isso, lá fui também dessa vez. pedi-lhe, pois, com
todo o ardor de que fui capaz [tinha acabado de se confessar
para a primeira comunhão, aos seis anos!...] que guardasse, para
deus só, o meu pobre coração. ao repetir várias vezes esta
humilde súplica, com os olhos fitos na imagem, pareceu-me que
ela se sorria e que, com um olhar e gesto de bondade, me dizia
que sim. fiquei tão inundada de gozo, que a custo conseguia
articular palavra".
imediatamente depois de ter comungado: "dirigi-lhe então as
minhas súplicas: - senhor, fazei-me uma santa, guardai o meu
coração sempre puro, para ti só.
aqui, pareceu-me que o nosso bom deus me disse, no fundo do meu
coração, estas distintas palavras: -a graça que hoje te é
concedida permanecerá viva em tua alma, produzindo frutos de
vida eterna. sentia-me de tal forma transformada em deus!"
9.2. as "aparições"
aos sete anos, lúcia é feita "pastora", em substituição da sua
irmã carolina, então com 12 anos. no dia seguinte, avança com
duas companheiras para "um monte chamado o cabeço. na encosta
deste monte, ao sul, ficam os valinhos, que v ex." rev."'
de nome, já deve conhecer. (...)
um pouco mais ou menos aí pelo meio-dia, comemos a nossa merenda
e, depois dela, convidei as minhas companheiras para
--21-
rezarem comigo o terço, ao que elas anuíram [olhem só para esta
palavra tão pouco popular...] com gosto. mal tínhamos começado,
quando, diante de nossos olhos, vemos, como que suspensa no ar,
sobre o arvoredo, uma figura como se fosse uma estátua de neve
que os raios do sol tornavam algo transparente. - que é aquilo?,
perguntaram as minhas companheiras, meias assustadas. - não
sei!".
mais tarde, em casa, a mãe pergunta: "- ouve lá: dizem que viste
para aí não sei o quê. o que é que tu viste? (...) como não
sabia explicar, acrescentei: - parecia uma pessoa embrulhada num
lençol (...) não se lhe conheciam olhos nem mãos.
minha mãe rematou tudo com um gesto de desprezo, dizendo: tolices
de crianças".
9.3. "aparições" do anjo em 1916" passado algum tempo, voltámos
com os nossos rebanhos para esse mesmo sítio e repetiu-se o
mesmo, da mesma forma.(...) várias pessoas começaram por fazer
troça. e como eu, desde a minha primeira comunhão, me ficava por
algum tempo como que abstracta, recordando o que se tinha
passado, minhas irmãs, com algo de desprezo, perguntavam-me: estás
a ver algum embrulhado no lençol?"
entretanto, as primeiras companheiras de lúcia, pastora, foram
substituídas pelos primos, jacinta e francisco. até que "um belo
dia (...) eis que um vento forte sacode as árvores e faz-nos
levantar a vista. (...) vemos então que sobre o olival se
encaminha para nós a tal figura de que já falei (...) À maneira
que se aproximava, íamos divisando as feições: um jovem dos seus
14 a 15 anos, mais branco que se fora de neve, que o sol tornava
transparente como se fora de cristal e duma grande beleza. ao
chegar junto de nós, disse: não temais! sou o anjo da paz. orai
comigo. e ajoelhando em terra, curvou a fronte até ao chão e
fez-nos repetir três vezes estas palavras: - meu deus! eu creio,
adoro, espero e amo-vos. peço-vos perdão para os que não crêem,
não adoram, não esperam e vos não amam. depois, erguendo-se
disse. - orai assim. os corações de jesus e maria estão atentos
à voz das vossas súplicas.
as suas palavras gravaram-se de tal forma na nossa mente, que
jamais nos esqueceram".
--22-
o relato prossegue. o anjo dirá, tempos depois, que é "o anjo de
portugal". ensina-lhes outra oração, enorme, nitidamente,
inventada por algum eclesiástico católico, dirigida à
"santíssima trindade" e que, bem analisada, não passa dum
disparate teológico. e até lhes dá a comunhão sob as duas
espécies!
"dá-me a sagrada hóstia a mim e o sangue do cálix divide-o pela
jacinta e o francisco, dizendo ao mesmo tempo: - tomai e bebei o
corpo e sangue de jesus cristo, horrivelmente ultrajado pelos
homens ingratos. [os republicanos?!...] reparai os seus crimes e
consolai o vosso deus."
o curioso é que a mesma lúcia, nas memórias que escreve sobre a
jacinta e o francisco, respectivamente, quase se "esquece" de
referir que eles viram o anjo de portugal, que lhes ensinou
estas orações.
temos, pois, de dizer que todas estas "aparições" do "anjo", das
quais ninguém, nem mesmo os estudiosos de fátima, até 1937,
sequer suspeitaram, têm todo o ar de montagem. e de coisa
artificial. são relatos mais ou menos decalcados de certos
textos bíblicos do antigo e do novo testamento.
só que lúcia, ou quem está por detrás de tudo isto, teve, neste
ponto, um grande azar, porque os relatos bíblicos que podem ter
inspirado estes seus relatos não são históricos, mas teológicos,
isto é, não aconteceram tal e qual. e ela aqui conta as coisas
como se elas tivessem sido assim. e não foram. não podem ter
sido. porque anjos nunca ninguém os viu. nem verá. a não ser na
sua imaginação, mais ou menos delirante e doentia.
9.4. problemas familiares
"meu pai tinha-se deixado arrastar pelas más companhias e tinha
caído nos laços duma triste paixão, por causa da qual tínhamos
já perdido alguns dos nossos terrenos."
[em nota, no final do relato, lê-se, a propósito: "não se deve
exagerar, na vida do pai da lúcia, a sua "paixão pelo vinho".
ele não era um alcoólico. quanto aos seus deveres religiosos, é
certo que os não cumpriu, durante alguns anos, na paróquia de
fátima, por não se entender com o pároco. ia a vila nova de
ourém".]
"(...) tanto sofrimento começou por abalar a saúde de minha mãe.
(...) correram então quantos cirurgiões e médicos por ali
--23-
havia. gastou-se uma infinidade de remédios, sem se obter
melhoras algumas (...).
eis o estado em que nos encontrávamos, quando chegou o dia 13 de
maio de 1917. meu irmão completava também por esse tempo, a
idade de assentar praça na vida militar. e, como gozava de
perfeita saúde, era de esperar que ficasse apurado. ademais,
estava-se em guerra e era difícil conseguir livrá-lo. com o
receio de ficar sem ter quem lhe cuidasse as terras, minha mãe
(...) meteu empenhos com o médico da inspecção e o nosso bom
deus dignou-se, por então, dar a minha mãe este alívio."
[mas que dizer de um deus assim, que livra uns, por meio de
ilícitos empenhos junto do médico da inspecção, e deixa que
outros avancem para a tropa e para a guerra?! de resto, será
muito elucidativo comparar esta alusão aos "problemas
familiares", com o que a mesma lúcia escreverá, muitos anos
depois, em 1989, na quinta e última memória sobre a sua família.
decididamente, não parece tratar-se da mesma família!...]
9.5. "aparições de nossa senhora"
"as palavras que a santíssima virgem nos disse em este dia (13
de maio de 1917) e que combinámos nunca revelar, foram: depois
de nos haver dito que íamos para o céu, perguntou: quereis
oferecer-vos a deus para suportar todos os sofrimentos que ele
quiser enviar-vos, em acto de reparação pelos pecados com que
ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores? - sim,
queremos, foi a nossa resposta. - ides, pois, ter muito que
sofrer mas a graça de deus será o vosso conforto".
[de um deus assim, não há que ser vigorosamente ateu? e que
senhora é esta que, em vez de estimular as pessoas a combater o
sofrimento, vem catequizá-las para que sofram ainda mais?]
em agosto, a "aparição" teve de ser no dia 15, nos valinhos, já
que no dia 13, as crianças foram "desviadas" pelo administrador
de vila nova de ourém. "a santíssima virgem recomendou-nos, de
Novo, a prática da mortificação, dizendo, no fim de tudo: rezai,
Rezai muito, e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vã.
o muitas almas para o inferno, por não haver quem se sacrifique
e peça por elas."
--24-
[até parece que deus é um monstro que criou o inferno e só nos
livra dele se houver muitas vítimas inocentes que se imolem. É
um deus intrinsecamente perverso, que só se satisfaz com sangue
humano, de preferência, de crianças inocentes! que teologia está
subjacente às "aparições"? uma teologia cristã é que não é!]
"passados alguns dias, íamos com as nossas ovelhinhas, por um
caminho, no qual encontrei um bocado duma corda dum carro.
peguei nela e, brincando, atei-a a um braço. não tardei a notar
que a corda me magoava. disse então para os meus primos: olhem:
isto faz doer. podíamos atá-la à cinta e oferecer a deus
este sacrifício. (...)
este instrumento fazia-nos por vezes sofrer horrivelmente. a
jacinta deixava às vezes cair algumas lágrimas com a força do
incómodo que lhe causava; e, dizendo-lhe eu, algumas vezes, para
a tirar, respondia: - não! quero oferecer este sacrifício a
nosso senhor, em reparação e pela conversão dos pecadores".
"assim se aproximou o dia 13 de setembro. em este dia, a
santíssima virgem, depois do que tenho narrado, disse-nos: deus
está contente com os vossos sacrifícios, mas não quer que
durmais com a corda; trazei-a só durante o dia".
da "aparição" de 13 de outubro, "as palavras que mais se me
gravaram no coração foi o pedido da nossa santíssima mãe do céu:
-não ofendam mais a deus nosso senhor, que já está muito
ofendido. (...)
tinha-se espalhado o boato que as autoridades haviam decidido
fazer explodir uma bomba junto de nós, no momento da aparição.
não concebi, com isso, medo algum; e falando disto a meus
primos, dissemos: - mas que bom, se nos for concedida a graça de
subir dali com nossa senhora para o céu! (...)
em meio desta perplexidade, tive a felicidade de falar com o
senhor vigário do olival. (...) sobretudo, ensinou-nos o modo de
dar gosto a nosso senhor em tudo e a maneira de lhe oferecer um
sem-número de pequenos sacrifícios: - se vos apetecer comer uma
coisa, meus filhinhos, deixai-a e, em seu lugar, comeis outra
--25-
e ofereceis a deus um sacrifício; se vos apetece brincar, não
brincais e ofereceis a deus outro sacrifício; se vos
interrogarem e não vos puderdes escusar, é deus que assim o
quer; ofereceis-lhe mais este sacrifício. (...) ele tinha,
então, a paciência de passar a sós comigo largas horas,
ensinando-me a praticar a virtude e guiando-me com os seus
sábios conselhos" [!!!].
9.6. depois das "aparições"
"um dia, a jacinta dizia-me: - quem me dera que os meus pais
fossem como os teus, para que esta gente também me pudesse
bater, porque assim tinha mais sacrifícios para oferecer a nosso
senhor.
no entanto, ela sabia bem aproveitar as ocasiões de se
mortificar. tínhamos também por costume, de vez em quando,
oferecer a deus o sacrifício de passar uma novena ou um mês sem
beber. fizemos uma vez este sacrifício em pleno mês de agosto em
que o calor era sufocante. voltávamos, um dia, de haver ido
rezar o nosso terço à cova da iria e, ao chegar junto duma
lagoa, que fica à beira do caminho, diz-me a jacinta: -olha:
tenho tanta sede e dói-me tanto a cabeça! vou beber uma pouquita
desta água. - desta não, respondi. minha mãe não quer que
bebamos daqui, porque faz mal. vamos ali pedir uma pouquita à ti
maria dos anjos (...) - não! dessa água boa não quero. bebia
desta, porque, em vez de oferecer a nosso senhor a sede,
oferecia-lhe o sacrifício de beber desta água suja. (...)
outras vezes, dizia: - nosso senhor deve estar contente com os
nossos sacrifícios, porque eu tenho tanta, tanta sede! mas não
quero beber; quero sofrer por seu amor."
"o senhor devia comprazer-se em ver-me sofrer, pois me preparava
agora um cálix bem mais amargo que dentro em pouco me dará a
beber. minha mãe cai gravemente enferma (...). as minhas duas
irmãs mais velhas, vendo o caso perdido, voltam junto de mim e
dizem-me: - lúcia, se é certo que tu viste nossa senhora, vai
agora à cova da iria, pede-lhe que cure a nossa mãe. promete-lhe
o que quiseres, que o faremos; e então acreditaremos.
sem me deter nem um momento, pus-me a caminho (...) rezando até
lá o rosário. fiz à santíssima virgem o meu pedido
--26-
(...) e voltei para casa confortada com a esperança de que a
minha querida mãe do céu me daria a saúde da da terra. (...)
eu tinha prometido à santíssima virgem, se ela me concedesse o
que eu lhe pedia, ir aí, durante nove dias seguidos, acompanhada
de minhas irmãs, rezar o rosário e ir, de joelhos, desde o cimo
da estrada até ao pé da carrasqueira; e, no último dia, levar
nove crianças pobres e dar-lhes, no fim, um jantar. fomos, pois,
cumprir a minha promessa, acompanhadas de minha mãe que dizia: que
coisa! nossa senhora curou-me e eu parece que ainda não
acredito! não sei como isto é!"
[pelo que aqui escreve, lúcia teria procedido, não como "a
vidente", que, noutras ocasiões, se autoapresenta a tratar com a
senhora de fátima quase num tu-cá-tu-lá, mas sim como uma
qualquer devota, ainda não evangelizada, da senhora de fátima. o
que deixa perceber claramente que as três crianças, mais do que
protagonistas de fátima, se viram progressivamente envolvidas
num certo tipo de catolicismo religioso-pagão de fátima,
totalmente estranho ao evangelho de jesus. duas delas, jacinta e
francisco, morreram também em consequência de tudo isso. lúcia
resistiu e foi promovida a "messias" deste tipo de catolicismo.
quando, do que ela precisava, era de ser libertada dele quanto
antes. mas, se o tivesse sido, nunca a igreja católica teria
tido esta autêntica "mina de ouro" que é o santuário de fátima,
nem este púlpito moralista antilibertação que é o seu altar.]
"nosso bom deus deu-me esta consolação, mas de novo me batia à
porta com outro sacrifício, nada mais pequeno. meu pai era um
homem sadio, robusto, que dizia não saber que coisa era uma dor
de cabeça. e, em menos de 24 horas, quase de repente, uma
pneumonia dupla levava-o para a eternidade. foi tal a minha dor,
que julguei morrer também."
[aqui, pelos vistos, já nem a senhora de fátima lhe valeu.
talvez não goste muito de homens casados, apenas dos "virgens" e
dos clérigos celibatários à força]
"por este tempo, a jacinta e o francisco começaram também a
piorar. (...) um dia, (jacinta) deu-me a corda, de que já falei
e disse-me: - toma; leva-a, antes que minha mãe a veja.
--27-
agora já não sou capaz de a ter à cinta. (...) esta corda tinha
três nós e estava algo manchada de sangue. conservei-a escondida
até saír definitivamente de casa de minha mãe. depois, não
sabendo o que lhe fazer, queimei-a, com a de seu irmãozinho."
o relato conta, finalmente, como foi a saída da adolescente
lúcia da casa dos pais.
"na verdade, quando vos vi, ex. e rev." senhor, receber-me com
tanta bondade (...) interessando-vos apenas pelo bem da minha
alma e prontificando-vos a tomar conta da pobre ovelhinha que o
senhor acabava de vos confiar, fiquei, mais do que nunca, crente
que v. ex." rev." tudo sabia; e não hesitei um momento em me
abandonar nas vossas mãos. as condições impostas por v ex."
rev." para o conseguir, para o meu natural, eram fáceis: guardar
perfeito segredo de tudo que v. ex. rev." me tinha dito e ser
boa. lá me fui guardando para mim o meu segredo, até ao dia em
que v. ex. rev. mandou pedir o consentimento da minha mãe. (...)
sem me despedir de ninguém, no dia seguinte, às duas da manhã,
acompanhada de minha mãe e dum pobre trabalhador que vinha para
leiria, chamado manuel correia, pus-me a caminho, levando
inviolável o meu segredo. (...)
chegámos a leiria, aí pelas nove horas da manhã. (...) o combóio
partia às duas da tarde."
[em nota, pode ler-se: "lúcia deixou aljustrel na madrugada de
16 de junho de 1921 e chegou a leiria algumas horas depois. de
lá continuou a viagem até ao colégio do porto, onde chegou na manhã
seguinte".]
10. terceira memória
a introdução informa que esta memória foi concluída em 31 de
agosto de 1941. como as anteriores, foi escrita em obediência a
uma ordem do bispo de leiria. escreveu-a em tui. a temática
principal que lhe sugerem volta a ser a jacinta. querem mais
pormenores. se calhar, já a pensar na sua canonização por roma.
e lúcia presta-se. recorre à sua memória. parece que quanto mais
distante está dos factos, mais se lembra dos pormenores. ou, se
não se lembra, inventa-os nos seus delírios. factos
--28-
reais, ou imaginários, que importa, se, com isso, o deus de
fátima é glorificado e os "inimigos" da igreja católica são
esmagados?!... eis alguns extractos.
o "segredo"
"bem; o segredo consta de três coisas distintas, duas das quais
vou revelar. a primeira foi, pois, a vista do inferno!
nossa senhora mostrou-nos um grande mar de fogo que parecia
estar debaixo da terra. mergulhados em esse fogo, os demónios e
as almas, como se fossem brasas transparentes e negras ou
bronzeadas, com forma humana, que flutuavam no incêndio levadas
pelas chamas que delas mesmas saíam juntamente com nuvens de
fumo, caíndo para todos os lados, semelhante ao caír das faúlhas
em os grandes incêndios, sem peso nem equilíbrio, entre gritos e
gemidos de dor e desespero que horrorizavam e faziam estremecer
de pavor. os demónios distinguiam-se por formas horríveis e
asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas
transparentes e negros. esta vista foi um momento, e graças à
nossa boa mãe do céu, que antes nos tinha prevenido com a
promessa de nos levar para o céu (na primeira aparição)! se
assim não fosse, creio que teríamos morrido de susto e pavor.
em seguida, levantámos os olhos para nossa senhora, que nos
disse com bondade e tristeza: - vistes o inferno, para onde vão
as almas dos pobres pecadores; para as salvar, deus quer
estabelecer no mundo a devoção a meu imaculado coração. se
fizerem o que eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão
paz. a guerra vai acabar. mas se não deixarem de ofender a deus,
no reinado de pio xi começará outra pior. quando virdes uma
noite, alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande
sinal que deus vos dá de que vai punir o mundo de seus crimes,
por meio da guerra, da fome e de perseguições à igreja e ao
santo padre. para a impedir virei pedir a consagração da rússia
a meu imaculado coração e a comunhão reparadora nos primeiros
sábados. se atenderem a meus pedidos, a rússia se converterá e
terão paz; senão, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo
guerras e perseguições à igreja; os bons serão martirizados, o
santo padre terá muito que sofrer, várias nações serão
aniquiladas, por fim o meu imaculado coração triunfará. o santo
padre
--29-
consagrar-me-á a rússia, que se converterá; e será concedido ao
mundo algum tempo de paz."
"a segunda (parte do segredo) refere-se à devoção do imaculado
coração de maria. já disse, no segundo escrito, que nossa
senhora, a 13 de junho de 1917, me disse que nunca me deixaria e
que seu imaculado coração seria o meu refúgio e o caminho que me
conduziria a deus."
a propósito da aurora boreal, registada pelos astrónomos, na
noite de 25 para 26 de janeiro de 1938, que lúcia tomou como o
"sinal do céu" anunciador da 2. guerra mundial (não esqueçamos
que lúcia está a escrever esta memória depois dos factos, em
1941; por isso, é fácil acertar nas previsões...), escreve no
seu relato esta coisa teologicamente asquerosa: "deus serviu-se
disso para me fazer compreender que a sua justiça estava prestes
adescarregar o golpe sobre as nações culpadas e comecei, por
isso, a pedir, com insistência, a comunhão reparadora nos
primeiros sábados e a consagração da rússia. o meu fim era não
só conseguir misericórdia e perdão de todo o mundo, mas em
especial para a europa".
mas será que deus é mais dos europeus?!
11. quarta memória
a introdução esclarece que esta quarta memória foi escrita em
dois cadernos. o primeiro foi concluído e enviado ao bispo (de
leiria) no dia 25 de novembro de 1941. o segundo caderno estava
terminado em 8 de dezembro do mesmo ano.
desta vez, o que o bispo lhe manda é muito mais do que até aqui.
parece que era preciso inventar coisas (ainda) mais
maravilhosas. o que lúcia havia relatado antes continuava a ser
insuficiente para "impor" fátima à igreja e ao mundo.
vai daí, a ordem agora é: "escrever tudo o que recordasse sobre
o francisco, como tinha feito para a jacinta. escrever, com mais
pormenores, as aparições do anjo. uma nova história das
aparições (sic). tudo o que ainda pudesse recordar sobre a
jacinta. os versos profanos que cantava. ler o livro do pe.
fonseca e anotar tudo o que lhe parecesse menos exacto".
--30-
o relato abre com uns preâmbulos, com um misticismo de manifesto
mau gosto, que emprestam ao relato todo o ar de coisa artificial
e postiça. têm, contudo, a vantagem de nos deixar perceber que o
relato é mais ou menos mítico, onde o que mais terá funcionado,
para a sua elaboração, foi a imaginação delirante de lúcia.
eis alguns extractos.
"antes de começar quis abrir o novo testamento, único livro que
quero ter aqui diante de mim (...). volto ao que deus me
deparou, ao abrir o novo testamento, uma carta de s. paulo aos
fil 2, 5-8. (...) na verdade não sou mais que o pobre e
miserável instrumento de que ele se quer servir (...)."
11. 1. "retrato do francisco"
"na aparição do anjo, prostrou-se como sua irmã e eu, levado por
uma força sobrenatural que a isso nos movia; mas a oração
aprendeu-a, ouvindo-nos repeti-la, pois ao anjo dizia não ter
ouvido nada. (...)
- eu não sou capaz de estar assim (prostrado) tanto tempo como
vocês. doem-me as costas tanto que não posso.(...)
- gosto muito de ver o anjo; mas o pior é que, depois, não somos
capazes de nada. eu nem andar podia, não sei o que tinha."
depois da primeira aparição, "contámos, em seguida, ao
francisco, tudo quanto nossa senhora tinha dito. e ele,
manifestando o contentamento que sentia, na promessa de ir para
o céu, cruzando as mãos sobre o peito, dizia: - Ó minha nossa
senhora, terços, rezo todos quantos vós quiserdes.
e, desde aí, tomou o costume de se afastar de nós, como que
passeando; e, se chamava por ele e lhe perguntava que andava a
fazer, levantava o braço e mostrava-me o terço. se lhe dizia que
viesse brincar, que depois rezava connosco, respondia: - depois
também rezo. não te lembras que nossa senhora disse que tinha de
rezar muitos terços? (...)
por vezes, dizia: - nossa senhora disse que íamos ter muito que
sofrer! não me importo; sofro tudo quanto ela quiser! o que eu
quero é ir para o céu. (...)"
--31--
francisco, tu não bebeste a água-mel! a madrinha chamou tantas
vezes por ti, mas não apareceste! - quando peguei no copo,
lembrei-me de repente de fazer aquele sacrifício para consolar a
nosso senhor e, enquanto vocês bebiam, fugi para aqui. (...)"
"quando ia à escola, por vezes, ao chegar a fátima, dizia-me: olha:
tu vai à escola. eu fico aqui na igreja, junto de jesus
escondido. não me vale a pena aprender a ler; daqui a pouco vou
para o céu. quando voltares, vem por cá chamar-me. (...)"
"um dia (já francisco estava doente), ao chegar junto de sua
casa, despedi-me dum grupo de crianças da escola que vinham
comigo e entrei, para lhe fazer uma visita e à sua irmã. como
tinha sentido o barulho, perguntou-me: - tu vinhas com todos
esses? - vinha. - não andes com eles, que podes aprender a fazer
pecados. quando saíres da escola, vai um bocado para o pé de
jesus escondido e depois vem sozinha. (...)"
"outro dia, ao chegar, encontrei-o muito contente. - estás
melhor? - não. sinto-me muito pior. já me falta pouco para ir
para o céu. lá vou consolar muito a nosso senhor e a nossa
senhora (...)".
"bem diferente é um facto que agora me está a lembrar. um dia,
num sítio chamado a pedreira (...), ouvimo-lo gritar e chamar
por nós e por nossa senhora. (...) por fim, lá demos com ele, a
tremer de medo, ainda de joelhos, que, aflito, nem arte tinha
para se pôr de pé. - que tens? que foi? com a voz meia sufocada
pelo susto, lá disse: - era um daqueles bichos grandes, que
estavam no inferno (que a senhora nos mostrou), que estava aqui
a deitar lume. (...)"
"um outro dia, ao saír de casa, notei que o francisco andava
muito devagar. - que tens?, perguntei-lhe. parece que não podes
andar! - dói-me muito a cabeça e parece que vou caír. - então
não venhas; fica em casa. - não fico! quero antes ficar na
igreja, com jesus escondido, enquanto tu vais à escola".
--32-
11. 2. "história das aparições"
nesta segunda parte, o relato adianta mais pormenores
maravilhosos a propósito das "aparições do anjo". e, depois,
passa a referir a "nova história das aparições" da senhora de
fátima. com pormenores macabros. que, se fossem verdade,
justificariam, só por si, o ateísmo, já que nos dão a imagem de
um deus carrasco, que parece alimentar-se de sofrimento e de
sangue de crianças. por este relato, temos ainda de concluir
que, afinal, também no céu, as nossas senhoras são mais do que
muitas. e até jesus estará lá em duplicado. por um lado, como
menino com s. josé e, por outro, como homem já adulto! tanto
disparate junto, nunca se viu!
mesmo assim, a este e outros escritos, atribuídos à irmã lúcia,
a sagrada congregação para a doutrina da fé, do cardeal
ratzinger, nunca os declarou perigosos para a fé cristã. pelo
contrário. até veio, há tempos, a fátima, dar a entender que o
segredo de fátima é coisa para tomar a sério. francamente,
senhores eclesiásticos!...
atentemos, também, nos diálogos entre lúcia e a senhora de
fátima. lúcia fala como se fosse sozinha. pergunta: que é que
vossemecê me quer? e não, que é que vossemecê nos quer? ela é "a
vidente" e "a intermediária", "a medianeira". os primitos, os
ajudantes que se limitam a estar e a ouvir calados. aliás, o
francisco nem sequer ouvia alguma coisa! mas que senhora de
fátima tão insensível. que pecador seria o miúdo, aos olhos
dela, para ser castigado por ela desta maneira!... É mesmo de
bradar aos céus! eis.
13 de maio
- não tenhais medo. eu não vos faço mal. - de onde é vossemecê?,
lhe perguntei. - sou do céu. - e que é que vossemecê me quer? vim
para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos, no dia
13 a esta mesma hora. depois vos direi quem sou e o que quero.
depois voltarei ainda aqui uma sétima vez. (...) - a maria das
neves já está no céu? - sim, está. parece-me que devia ter uns
16 anos. - e a amélia? - estará no purgatório até ao fim do
mundo [neste caso, pelos vistos, nem a reza de muitos terços nem
as missas que, porventura, mandassem
--33-
celebrar por ela lhe valerão de nada. mas que deus este e que
mensageira de deus esta!!!]. parece-me que devia ter de 18 a 20
anos. - quereis oferecer-vos a deus para suportar todos os
sofrimentos que ele quiser enviar-vos, em acto de reparação
pelos pecados com que foi é é ofendido e de súplica pela
conversão dos pecadores? - sim, queremos. - ides, pois, ter
muito que sofrer, mas a graça de deus será o vosso conforto.
(...) passados os primeiros momentos, nossa senhora acrescentou:
-rezem o terço todos os dias, para alcançarem a paz para o mundo
e o fim da guerra."
13 de junho
- vossemecê que me quer?, perguntei. - quero que venhais aqui no
dia 13 do mês que vem, que rezeis o terço todos os dias e que
aprendam a ler. depois direi o que quero.
pedi a cura dum doente. - se se converter, curar-se-á durante o
ano. - queria pedir-lhe para nos levar para o céu. - sim; a
jacinta e o francisco levo-os em breve. mas tu ficas cá mais
algum tempo. jesus quer servir-se de ti para me fazer conhecer e
amar; ele quer estabelecer no mundo a devoção a meu imaculado
coração".
13 de julho
- vossemecê que me quer?, perguntei. - quero que venham aqui no
dia 13 do mês que vem, que continuem a rezar o terço todos os
dias, em honra de nossa senhora do rosário. para obter a paz do
mundo e o fim da guerra, porque só ela lhes poderá valer. [mas
então não era a própria que estava ali a falar com lúcia?!]
- queria pedir-lhe para nos dizer quem é, para fazer um milagre
com que todos acreditem que vossemecê nos aparece. - continuem a
vir aqui todos os meses. em outubro direi quem sou, o que quero
e farei um milagre que todos hão-de ver, para acreditar. (...)
sacrificai-vos pelos pecadores e dizei muitas vezes, em especial
sempre que fizerdes algum sacrifício: Ó jesus é por vosso amor,
pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados
cometidos contra o imaculado coração de maria."
o relato prossegue com a "visão" do inferno, já divulgada
anteriormente. e acrescenta mais este pormenor: "quando rezais
--34-
o terço, dizei, depois de cada mistério: Ó meu jesus,
perdoai-nos, e livrai-nos do fogo do inferno; levai as alminhas
todas para o céu, ! principalmente aquelas que mais precisarem".
13 de agosto
- que é que vossemecê me quer? - quero que continueis a ir
à cova da iria no dia 13, que continueis a rezar o terço todos
os dias. no último mês, farei o milagre, para que todos
acreditem. que
é que vossemecê quer que se faça ao dinheiro que o povo
deixa na cova da iria? - façam dois andores: um, leva-o tu com
a jacinta e mais duas meninas vestidas de branco; o outro, que o
leve o francisco com mais três meninos. o dinheiro dos andores é
para a festa de nossa senhora do rosário e o que sobrar é para a
ajuda duma capela que hão-de mandar fazer. (...) e tomando um
aspecto mais triste: - rezai, rezai muito e fazei sacrifícios
por os pecadores, que vão muitas almas para o inferno por não
haver quem se sacrifique por elas".
13 de setembro
-continuem a rezar o terço, para alcançarem o fim da guerra. em
outubro virá também nosso senhor, nossa senhora das dores e do
carmo, s. josé com o menino jesus para abençoarem o mundo. deus
está contente com os vossos sacrifícios, mas não quer que
durmais com a corda; trazei-a só durante o dia. - têm-me pedido
para lhe pedir muitas coisas: a cura de alguns doentes, dum
surdo-mudo. - sim, alguns curarei; outros não. em outubro farei
o milagre, para que todos acreditem."
13 de outubro
- que é que vossemecê me quer? - quero dizer-te que façam aqui
uma capela em minha honra, que sou a senhora do rosário, que
continuem sempre a rezar o terço todos os dias. a guerra vai
acabar e os militares voltarão em breve para suas casas. - eu
tinha muitas coisas para lhe pedir; se curava uns doentes e se
convertia uns pecadores, etc. - uns, sim; outros, não. É preciso
que se emendem, que peçam perdão dos seus pecados.
e tomando um ar mais triste: - não ofendam mais a deus nosso
senhor que já está muito ofendido. (...)
--35-
desaparecida nossa senhora, na imensa distância do firmamento,
vimos, ao lado do sol, s. josé com o menino e nossa senhora
vestida de branco, com um manto azul. s. josé com o menino,
parecia abençoar o mundo com uns gestos que fazia com a mão em
forma de cruz. pouco depois, desvanecida esta aparição, vi nosso
senhor e nossa senhora que me dava a ideia de ser nossa senhora
das dores. nosso senhor parecia abençoar o mundo da mesma forma
que s. josé. desvaneceu-se esta aparição e pareceu-me ver ainda
nossa senhora do carmo."
12. quinta memória
a introdução esclarece que esta memória "tem como origem um
pedido do rev. reitor do santuário de fátima, mons. luciano
guerra". em concreto, "pediu-se à irmã lúcia que completasse, na
medida do possível, as recordações da sua infância e da vida da
sua família, nomeadamente, a respeito do pai". o relato
"principia com uma carta endereçada ao reitor do santuário, à
maneira de prólogo, datada de 12 de fevereiro de 1989; segue-se
texto datado do dia 23 do mesmo mês e ano, e a concluir,
juntou-se mais uma carta do mesmo dia".
eis alguns extractos. poucos. porque é um relato manifestamente
canonizador da família, como se ela fosse uma nova sagrada
família, predestinada para nela nascer a "messias" da senhora de
fátima. tanta santidade e tanta bondade nem na família de
nazaré. lá, pelo menos, o filho saíu dos trilhos e acabou
crucificado às ordens dos chefes religiosos, a hierarquia de
então. ao contrário de lúcia, que não poderia ser mais
subserviente, do que foi e é, em relação à hierarquia católica.
"recebi a carta de v rev.", com data de 23 de novembro de 1988,
na qual me pede para eu precisar melhor a imagem de meu pai, por
a que dou nas memórias resultar muito deficiente, e querer pôr
na nossa casa um lugar de reflexão sobre a família. (...)
as respostas ao seu questionário ficarão para depois, mas, desde
já, advirto que a algumas - as que se referem às aparições - eu
não posso responder sem a autorização da santa sé, a não ser que
v. rev. queira pedir esta licença e a obtenha. (...)
--36-
a narração sobre o meu pai, vou iniciá-la, respondendo pergunta
n. 16 do seu questionário. (...).
o pai era de natural pacífico, condescendente e alegre; gostava
de música, festas e bailes. (...)
- que coisas tu ensinas à pequena! se lhe ensinasses a doutrina!
então o pai dizia: - vamos lá fazer a vontade à tua mãe! e
pegava-me na mãozita tão pequena, para ensinar-me a traçar na
fronte, boca e peito, o sinal da cruz. depois ensinava-me a rezar o pai-
nosso, ave-maria, credo, confissão, acto de contrição, mandamentos da lei
de deus, etc. depois (...)
voltava-se para a minha mãe e dizia: - vês? fui eu quem a
ensinou. a mãe, sorrindo respondia: - É que és um homem muito
bom! hás-de continuar sempre assim! o pai respondia: - deu-me
deus a melhor mulher do mundo! isto fazia-me crer que a mãe era
a melhor do mundo e, quando vinham as outras crianças para o
nosso pátio brincar comigo, eu perguntava-lhes: - a tua mãe é
boa? a minha é a melhor do mundo!
(depois das aparições), por motivo de um rebuliço que houve na
freguesia contra o pároco, no qual meu pai não quis meter-se,
mas que lhe fez muito má impressão, deixou por isso de
comparecer à desobriga como costumava e afastou-se do pároco,
deixando de confessar-se com ele. mas não se afastou da igreja:
continuou a ir todos os domingos e dias santos de preceito à
santa missa. ia, de vez em quando, a vila nova de ourém
confessar-se (...)."
13. apêndices
dos dois apêndices, apenas alguns extractos do primeiro, já que
o segundo a própria introdução reconhece ser um texto
transcrito, "directa e literalmente, dos apontamentos da
vidente", pelo director espiritual de lúcia, em 1929, o pe.
jesuíta josé bernardo gonçalves.
a introdução diz que o texto "é um documento escrito pela irmã
lúcia, em fins de 1927, por ordem do seu director espiritual, o
rev. aparício, e acrescenta este pormenor: "pouco tempo depois
de ter tido esta aparição, no dia 10 de dezembro de 1925, na sua
cela, redigiu um primeiro escrito que foi destruído pela própria
irmã lúcia. este documento constitui, portanto, a
--37-
segunda redacção, exactamente igual à primeira; apenas lhe
acrescentou o parágrafo introdutório referente à data de 17 de
dezembro de 1927. nele, a vidente explica como recebeu
autorização do céu, para dar a conhecer parte do segredo.
a introdução adianta ainda: "a este documento chamamos: texto da
grande promessa do coração de maria". efectivamente, é expressão
da misericordiosa e gratuita vontade divina, dando-nos um meio
de salvação fácil e seguro, visto que se apoia na tradição
católica mais sã, sobre a eficácia salvadora da intercessão
mariana.
e termina com este naco de prosa teológica, absolutamente
incrível, à luz do evangelho de jesus: "neste texto, podem
ler-se as condições necessárias para corresponder ao apelo dos
cinco primeiros sábados do mês, em reparação das injúrias feitas
ao coração de maria. e não pode esquecer-se nunca a sua intenção
mais profunda: a reparação ao coração de maria".
o texto abre assim:
"no dia 17-12-1927, (lúcia) foi junto do sacrário perguntar a
jesus como satisfaria o pedido que lhe era feito, se a origem da
devoção ao imaculado coração de maria estava encerrada no
segredo que a ss. virgem lhe tinha confiado.
jesus, com voz clara, fez-lhe ouvir estas palavras:
- minha filha, escreve o que te pedem; e tudo o que te revelou a
ss. virgem, na aparição em que falou desta devoção, escreve-o
também; quanto ao resto do segredo, continua o silêncio".
mais adiante:
"dia 10-12-1925, apareceu-lhe (à lúcia) a ss. virgem e, ao lado,
suspenso em uma nuvem luminosa, um menino. a ss. virgem,
pondo-lhe no ombro a mão e mostrando, ao mesmo tempo, um coração
que tinha na outra mão, cercado de espinhos.
ao mesmo tempo, disse o menino:
- tem pena do coração de tua ss. mãe, que está coberto de
espinhos que os homens ingratos a todos os momentos lhe cravam,
sem haver quem faça um acto de reparação para os tirar.
em seguida, disse a ss. virgem:
- olha, minha filha, o meu coração cercado de espinhos que os
homens ingratos a todos os momentos me cravam, com
--38-
blasfémias e ingratidões. tu, ao menos, vê de me consolar e diz
que todos aqueles que durante cinco meses, ao primeiro sábado,
se confessarem, recebendo a sagrada comunhão, rezarem um terço e
me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 mistérios
do rosário, com o fim de me desagravar, eu prometo
assistir-lhes, na hora da morte, com todas as graças necessárias
para a salvação dessas almas.
no dia 15-2-1926, apareceu-lhe, de novo, o menino jesus.
perguntou se já tinha espalhado a devoção a sua ss. mãe. ela
expôs-lhe as dificuldades que tinha o confessor e que a madre
superiora estava pronta a propagá-la, mas que o confessor tinha
dito que ela, só, nada podia. jesus respondeu: É verdade que a
tua superiora, só, nada pode, mas, com a minha graça, pode tudo.
apresentou a jesus a dificuldade que tinham algumas pessoas em
se confessar ao sábado e pediu para ser válida a confissão de
oito dias. jesus respondeu:
- sim, pode ser de muitos mais ainda, contanto que, quando me
receberem, estejam em graça e que tenham a intenção de
desagravar o imaculado coração de maria.
ela perguntou: - meu jesus, e as que se esquecerem de formar
essa intenção?
jesus respondeu: - podem formá-la na outra confissão seguinte,
aproveitando a primeira ocasião que tiverem de se confessar."
e, já agora, saboreiem mais este naco de prosa e digam lá se
alguém pode tomar a sério o que lúcia tem andado a dizer desde
criança:
"no dia 15 (de fevereiro de 1926) andava eu muito ocupada com o
meu ofício e quase nem disso me lembrava. e indo eu deitar um
apanhador de lixo fora do quintal, onde, alguns meses atrasados,
tinha encontrado uma criança, à qual tinha perguntado se ela
sabia a ave-maria e, respondendo-me que sim, lhe mandei que a
dissesse, para eu ouvir. mas, como ela não se resolvia a dizê-la
só, disse-a eu com ela, três vezes; e, ao fim das três
ave-marias, pedi-lhe que a dissesse só. mas, como ela se calou e
não foi capaz de dizer, só, a ave-maria, perguntei-lhe se ela
sabia qual era a igreja de santa maria. respondeu-me que sim.
disse-lhe que fosse lá todos os dias e que dissesse assim: Ó
minha mãe do
--39-
céu, dai-me o vosso menino jesus! ensinei-lhe isto e vim-me
embora.
no dia 15-2-1926, voltando eu lá, como é de costume, encontrei
ali uma criança que me parecia ser a mesma e perguntei-lhe
então: - tens pedido o menino jesus à mãe do céu?
a criança volta-se para mim e diz: - e tu tens espalhado, pelo
mundo, aquilo que a mãe do céu te pediu?
e, nisto, transforma-se num menino resplandecente. conhecendo
então que era jesus, disse: meu jesus! vós bem sabeis o que o
meu confessor me disse na carta que vos li. dizia que era
preciso que aquela visão se repetisse, que houvesse factos para
que ela fosse acreditada, e a madre superiora, só, a espalhar
este facto, nada podia.
- É verdade que a madre superiora, só, nada pode; mas, com a
minha graça, pode tudo. e basta que o teu confessor te dê
licença e a tua superiora o diga, para que seja acreditado, até
sem se saber a quem foi revelado.
- mas o meu confessor dizia na carta que esta devoção não fazia
falta no mundo, porque já havia muitas almas que vos recebiam,
aus primeiros sábados, em honra de nossa senhora e dos 15
mistérios do rosário.
- É verdade, minha filha, que muitas almas os começam, mas
poucas os acabam e as que os terminam é com o fim de receberem
as graças que aí estão prometidas; e me agradam mais as que
fizerem os cinco com fervor e com o fim de desagravar o coração
da tua mãe do céu, que as que fizerem os 15, frios e
indiferentes..."
comentários, para quê?! É isto fátima, mai la sua senhora. o
descrédito do cristianismo e da igreja. a nossa vergonha! por
isso digo com redobrada convicção: fátima nunca mais!
nota: os capítulos que se seguem são textos sucessivamente
escritos e publicados no jornal "fraternizar", ao longo dos
últimos anos. ao lê-los, um após outro, facilmente se percebe
que há um crescendo na minha consciência acerca da perversidade
de fátima. por isso tudo desagua no capítulo final, titulado:
"fátima: a grande ilusão".
--40-
2
no outro lado de fátima iii ,
à procura de maria de nazaré
"olhei para si e lembrei-me de nossa senhora!" foi assim que o
jornal fraternizar fez parar, em pleno caminho, a senhora alda
alves correia, residente há 32 anos, no lugar da moita de cima,
freguesia de fátima. caminhava devagar carrego à cabeça, em
direcção a casa, num dos primeiros dias de abril passado. foi
como se, de repente, víssemos maria de nazaré, em carne e osso.
era à procura dela que andávamvs, à semelhança do sábio da
antiguidade, de quem se conta que, um dia, de lanterna na mão,
em pleno dia, dizia andar à procura de um homem.
propositadamente, não fomos por ela, nem na capelinha das
aparições, nem no santuário, erguido em sua honra. deixamo-nos
guiar pelo espírito. e ele levou-nos para a moita de cima.
quando nos cruzámos com esta mulher, primeiro, passámos adiante.
mas logo o espírito nos fez correr atrás, ao seu encontro. se
queríamos estar com maria, em fátima, ela estava ali à mão de
semear, carrego à cabeça, pobremente vestida, corpo de muito
trabalhar, mulher simplesmente. uma barbaridade
assustou-se a senhora alda, com as palavras com que a saudámos.
e disse, naquele jeito dos pobres, "credo!". mas logo se tornou
acolhedora. atirou o carrego ao chão e falou sobre fátima e a
vida do seu povo, aquele que, como maria de nazaré, tem sabido
resistir à sedução da riqueza e continua a manter-se pobre, como
ela.
--41-
"vivo de andar a trabalhar. como a gente precisa de trabalhar,
não tem vagar para apreciar certas coisas. ir às peregrinações
de cada mês? não costumo ir, porque tenho de trabalhar. e mesmo
o pessoal de cá é raro, só se for no inverno; de contrário,
vivem do comércio, não assistem a nada disso, para atenderem os
peregrinos nas lojas."
a senhora alda tem dois filhos emigrantes na suíça e mais três
cá, um trabalha nas obras, outro é deficiente e o mais novo
frequenta as aulas no colégio dos padres. veio de castelo de
paiva para fátima. trabalhar.
"a pessoa trabalha muito e quase não ganha para comer. faço de
tudo, só da parte de tarde. de manhã, tenho de fazer o comer
para os filhos. as minhas mãos agarram-se a tudo. vim para cá
trabalhar e cá fiquei."
- e como vê nossa senhora no meio de tudo isto?
- eu acho cá para mim que isto é uma barbaridade, porque vêm
estas pessoas com as suas promessas e, aqui, muitos só não lhes
tiram o calçado, nem a roupa que trazem vestida, porque não
podem. aluga-se uma cama por dois, três contos, acho isso uma
barbaridade.
precisou depois: "há muitos que vêm a pé, durante oito dias, até
um mÊs, chegam cá, então é que o dinheiro se vai. não acho isto
bem. está bem que vivessem, explorassem, até, mas nem tanto. eu
acho demasiado. perante nossa senhora, eu, cá no meu
conhecimento, acho que isto não deve estar certo. aconteceu,
noutros tempos, que eu deixei dormir em colchões no chão, mas
não levava nada, aceitava o que me quisessem dar. assim, como
agora fazem, até tiram a fé às pessoas".
"nunca andei na escola"
a senhora alda lá voltou a colocar o carrego à cabeça, rumo a
casa. como maria de nazaré, outrora, terá feito. como sempre têm
feito os pobres, através dos tempos. mas nós, que com ela
havíamos estado, é que já sentíamos o nosso coração mais
aquecido, confortado. a verdade sempre nos deixa assim, quando
nos deixamos encontrar por ela.
--42-
mais adiante, lá estava à porta outra mulher. e o espírito
fez-nos ir até ela, corpo já carregado de anos, dois carros
deles, pois nasceu em 1909. rosário é o seu nome. criada de
servir era a sua condição, ao tempo das chamadas aparições. mas
também companheira de lúcia, na doutrina e missa aos domingos.
"nunca andei na escola. andei a servir até casar. a minha vida
não se alterou com isto de fátima. ganhava pouquinho, era só o
que queriam dar. filhos? tenho sim, mas são emigrantes."
fala, depois, do ano de 1917. "tinha oito anos e já andava a
servir. vinham as pessoas a correr para fátima, apanhavam
arregaçadas de ramos de azinheira e levavam para fazer chá.
dizia-se que curava doenças. também havia muitas perseguições.
vinha a cavalaria para correr com essas pessoas para fora. as
pessoas abalavam, mas vinham logo outra vez. e as crianças
(pastorinhos) andavam ao colo das pessoas. mas a nossa senhora
nunca a vi."
terrenos que valem milhões
o nosso jornal tinha ouvido dizer que, hoje, há pessoas de
fátima que choram, por terem vendido quase ao preço da chuva os
terrenos que, agora, valem uma fortuna. pusemos a questão à
senhora rosário.
"hoje, é quase tudo dos padres e das freiras." riu-se, com olhos
marotos, ao dizer isto. e prosseguiu: "os nossos, de cá, não
compravam, porque não tinham posses. mal dava para sustentar a
família. e vendiam o que tinham. os pobres foram afastados das
terras e, agora, é essa gente grande que vem de fora que se
governa..."
no mesmo sentido, pronunciou-se o ancião, josé dos reis, corpo
alquebrado pela doença, e que o nosso jornal foi encontrar a
viver sozinho, no seus 75 anos, numa casa pequenina e pobre,
também na moita de cima.
"ui! credo!", começou por dizer, a propósito do preço dos
terrenos, ontem e hoje. "o meu pai - contou - vendeu lá um
terreno por 16 contos, era muito grande e hoje vale milhões."
--43-
mas as suas palavras, poucas, iam insistentemente quase todas
para a doença que o ataca e para a solidão-abandono em que vive
todos os dias. porque, conforme testemunhou o nosso jornal
confirmou depois junto de outras fontes, na freguesia de fátima,
ainda não funciona um serviço de apoio a idosos e acamados ao
domicílio! outra barbaridade, poderia dizer a senhora alda, numa
tradução actualizada do cântico do magnificat, posto pelo
evangelho de lucas na boca de maria de nazaré.
disfarçada de pedinte
o espírito colocou outra mulher no nosso caminho, outro corpo a
fazer lembrar maria, a pobre de nazaré, capaz de alegria, por
descobrir que deus, ao contrário do que muitos pretendem fazer
crer à gente, só o é, na medida em que está activamente
solidário com os pobres do mundo. de outro jeito, não seria
deus, mas um faraó, ou uma multinacional do nosso tempo.
desta vez, eis que nossa senhora se nos apresenta disfarçada de
pedinte, ali mesmo à saída do terreno, propriedade do santuário,
da banda sul. o terreno que, outrora, antes de 1917, foi das
famílias pobres de fátima, antes de elas o terem vendido por dez
réis de mel coado.
parámos. e o espírito disse: procurais maria de nazaré? ei-la
nesta mulher pobre!
sentimos sagrado aquele corpo, de 82 anos, mão estendida, boca
habituada a pronunciar as palavras da esmola. não havia raios de
sol, nem frondosas azinheiras, nesta aparição de maria. mas que
era ela, era, naquele corpo trémulo, suplicante.
"o meu nome? chamo-me maria da glória, dê-me uma esmolinha!"
estremecemos de comoção. maria, a pobre de nazaré, é também esta
mulher. infinitamente desafiadora. porque ela é todas as
mulheres e homens empobrecidos à força. infinitamente
desafiadores. pedintes de uma terra outra, de um mundo outro,
uma terra de pobres sem pobreza, de companheiros, numa palavra,
uma terra de fraternidade.
no passado dela, lá está, ainda vivo, o ano de 1917. "sim, falei
com a lúcia, tinha eu então dez anos. aqui era só mato, hoje,
está tudo muito mudado."
--44-
mas lá está, mais vivo ainda do que esta recordação da infância,
o calvário imposto por uma sociedade edificada sem o jeito de
maria: "tive de ir servir, desde os sete anos, e nunca aprendi a
ler nem a escrever."
eis! a epopeia dos pobres que nunca enriquecem, porque nunca se
atrevem a explorar seja quem for! mas também o drama duma vida
inteira a pedir para sobreviver, só porque sempre tem havido
quem faça tudo, mesmo explorar os mais débeis, para enriquecer,
em vez de tudo fazer para que floresça uma terra de justiça. daí
a conclusão, ao mesmo tempo espantosa e confiante, da senhora
maria da glória: "temos de ir indo, até que nosso senhor nos
chame".
e chamará, porque os pobres assim, que nunca enriquecem, são
misteriosamente também parte sua, corpo seu, são ele mesmo, o
filho colectivo de maria, juiz da história (cf. mt 25, 31-46).
--45-
3 irmãzinhas de jesus: com elas entendemos melhor maria de
nazaré e o evangelho dos pobres,
quase não se dá por elas e, no entanto, elas são na sociedade
como os pulmões para o corpo. autodefinem-se "contemplativas no
meio do mundo" e vivem em pequenas fraternidades, vestidas
daquela simplicidade que caracteriza os pobres, os quais, na sua
espantosa sabedoria, sempre recusam seguir o exemplo dos ricos e
grandes deste mundo e, em vez disso, teimosamente, preferem a
prática dos mil e um pequenos-grandes gestos diários da
solidariedade sem reservas. quem alguma vez as encontrou, depois
sempre se há-de lembrar delas, as irmãzinhas de jesus, como,
infalivelmente, se apresentam em qualquer dos 60 países do
mundo, onde hoje habitam.
fomos respirar com elas em fátima e assim melhor escutar e
entender a vida e, sobretudo, o que maria de nazaré ainda agora
andará a querer dizer aos homens e mulheres, também aos homens e
mulheres que fazem a igreja em portugal e que, em fátima, estão
tão visivelmente presentes - pelo menos, nas 45 casas de
institutos religiosos femininos e nos 13 institutos religiosos
masculinos lá existentes, a acreditar na estimativa de um irmão
de s. joão de deus.
gente de vida dura
impressionam qualquer pessoa os milhares de peregrinos que, de
maio a outubro, deixam as suas casas e vão a pé, estrada fora,
rumo à montanha de fátima. não procuram o alto do monte. têm
fome de encontro, daquele tipo de encontro que retempera
--47-
a vida dura de todos os dias e nos deixa mais aptos a
prosseguir, apesar das contrariedades de toda a ordem,
nomeadamente, as resultantes de políticas que, em vez de
concretizarem projectos de vida para todos, apenas favorecem os
interesses de alguns.
impressionam os gestos que muitos assumem, em cumprimento de
promessas que os ricos e os tidos por cultos habitualmente não
fazem, mas que os pobres, de geração em geração, continuam a
realizar, mesmo à revelia das orientações das igrejas
institucionais e dos seus mais altos dirigentes, o clero.
que tem maria de nazaré a ver com isto? o que pensam de tudo
isto as irmãzinhas de jesus, há mais de 30 anos, em fátima, elas
que, cada mês, lá estão no serviço de acolhimento aos
peregrinos, com a mesma ternura que teriam pelo próprio jesus?
"respiramos maria nos próprios peregrinos, na simplicidade e na
fé deles. acreditar é ver para além do que se vê. vemo-los
chegar e expressar a fé de maneira diferente da que, por vezes,
gostaríamos de ver. mas não há dúvida de que lá está a fé. pode
chocar a gente, mas aquilo vem do fundo do coração das pessoas e
merece-nos muito respeito."
recordam que se trata de "gente que está habituada a uma vida
dura e sente necessidade de traduzir com o próprio corpo a sua
experiência do divino". como quem diz: os pobres, também nestas
alturas, falam. a linguagem com que sempre comunicam a sua
experiência, o que vivem, no mais fundo deles mesmos.
um caso exemplar
contam depois ao nosso jornal alguns casos que mais as
impressionam. entre estes, o caso daquela mulher, visivelmente
empobrecida, a quem um padre tentava convencer a guardar o
dinheiro que havia prometido a nossa senhora, com o argumento de
que lhe faria falta, lá em casa. e a reacção, imediata e
impressionante, que deixa qualquer um sem fala: "o senhor padre
só aceita dinheiro dos ricos? pois este dinheiro é para nossa
senhora e não será para mais nada".
mesmo à distância, no tempo, o impacto do relato deste caso foi
tão grande, que nos deixou, por momentos, sem fala. só algum
tempo depois, ousámos balbuciar um comentário. e foi este: que
--48-
responsabilidade, então, a daqueles que receberem um dinheiro
entregue com esta força, com esta generosidade, com este
despojamento e também com este destino!
outro comentário não nos ocorreu, de momento. seria mais tarde,
já depois de termos deixado a casa das irmãzinhas, mas bem na
comunhão contemplativa com elas, que percebemos a violência
deste "evangelho" que os pobres sempre vivem e proclamam, na
eloquência dos gestos desta natureza. um evangelho que até nós,
os cristãos e respectivas igrejas, corremos o risco de continuar
a não captar e, por isso, também a não viver.
aqui o formulamos, então, para que muitos e muitas de nós
beneficiemos e mudemos de vida. eis:
felizes os que, como os pobres, se despojam de tudo, até do que
lhes pode fazer falta. felizes os que sabem ser e fazer como
aquela pobre viúva, louvada por jesus, que, no templo de
jerusalém, deu tudo o que possuía, ao contrário de outros que,
embora dessem mais, davam apenas do que lhes sobejava.
mas ai de quem se aproveita do produto deste despojamento dos
pobres e concebe e realiza projectos de acumulação, de
enriquecimento, de grandeza, de aumento do património, de
construção de palácios que têm mais a ver com a vaidade dos
grandes deste mundo, do que com as preocupações e os anseios de
maria, nossa senhora. ai daquele que, diante do despojamento dos
pobres, não lhe captou o apelo a despojar-se de igual jeito,
para que, assim, a vida possa ser cada vez em maior abundância
em todos, a partir dos próprios pobres que tão generosamente se
despojaram.
o maior milagre foi, porém, mais longe a revelação que ao nosso
jornal foi dado ouvir, horas depois de termos saído de junto das
irmãzinhas. eis o que ouvimos:
não é em vão que, desde há anos, o nome de maria é pronunciado
em fátima, e cantado e chorado por milhares e milhares de
pobres. não é em vão que estes, com uma persistência a toda a
prova, continuam a despojar-se até do que lhes faz falta.
--49-
não é em vão que este "evangelho dos pobres" é teimosamente
praticado e mostrado por muitos deles, em gestos e atitudes que
os bem-pensantes têm por "primitivos" e "bárbaros".
quem sabe se, com tudo isto, não estará a chegar a hora de
muitos dos que, um dia, escolheram fátima para morar,
nomeadamente, as congregações religiosas femininas e masculinas,
assim como os bispos e todo o clero que regularmente lá se
deslocam de maio a outubro? não estarão à beira de captar este
evangelho para o praticarem como já os pobres fazem? quem sabe
se as congregações religiosas não acabarão por converter-se aos
pobres contra a pobreza, não acabarão por despojar-se como os
pobres de todos os bens, até ficarem reduzidos ao essencial?
quem sabe se não acabarão por perceber que, como os pobres,
devem despojar-se de todo o património que acumularam, também em
fátima, a partir de terrenos comprados ao desbarato? quem sabe
se não estão para concluir, aliás, em coerência com o voto de
pobreza que fazem, que devem restituir e partilhar tudo o que
possuem, para que a vida, finalmente, seja em abundância para
todos?
um sonho? não, antes o maior milagre que maria de nazaré, a mãe
dos pobres, deseja realizar em fátima e que, quando deixarmos
que aconteça, bem poderá mudar a face de portugal e do mundo.
--50-
4
fátima: privilégio ou responsabilidade?
É uma responsabilidade. mas nós, os portugueses em geral e a
igreja em especial, temos olhado para fátima como um privilégio.
e, levados por um impulso egoísta que, à partida pode inquinar
os melhores projectos e os melhores ideais, comportamo-nos,
perante fátima e perante aquela que, desde 1917, aprendemos,
mundialmente, a chamar "senhora de fátima", como crianças
mimadas. quase sempre pensamos nela, não para sermos como ela,
mas para nosso próprio proveito. e a prova é que a momtanha de
fátima tem sido simultaneamente uma montanha de pedidos de todo
o género, de cunhas, e comércio com o divino, de desenfreada
exploração do próximo, de discursos
eclesiásticos esvaziados de evangelho libertador, de orações sem
espírito, de promessas, as mais bizarras e exóticas, com muito
de degradação moral e espiritual, onde multidões e multídões,
enganadas e iludidas, acorrem a deixar muitas das suas parcas
economias, ou mesmo todas as suas parcas economias, na
expectativa de serem curadas, ou, ao menos, aliviadas de males
que está nas mãos de todos nós remediar, mediante uma
inteligente e aturada acção política libertadora e humanizadora
a desenvolver nas diversas áreas que fazem a nossa vida
individual e colectiva, nomeadamente, as áreas da saúde, da
educação, da habitação, do trabalho, do ambiente e, sobretudo,
da economia.
e assim, depois de 75 anos de existência de fátima, não se pode
dizer que todos tenhamos crescido mais em humanidade, que
estamos todos, hoje, mais libertos e responsáveis, que somos
mais criadores de fraternidade, que já não sabemos outra coisa
--51-
que ser solidários, numa terra feita por nós cada vez mais à
imagem e semelhança de maria, que um dia nos "apareceu", na sua
qualidade de mãe e de discípula plenamente conseguida de jesus
de nazaré, e também na sua qualidade de única criatura em quem,
até hoje, o deus da vida e da fraternidade melhor se reviu como
pai-mãe que é, ou seja, gerador e criador de seres que, livre e
festivamente, se descobrem, uns perante os outros e uns com os
outros, como irmãos, companheiros de jornada, amigos de peito.
fátima, infelizmente, tem sido para os portugueses e para o
mundo em geral, e para a igreja católica, em particular, mais
pedra de tropeço do que graça. temos tropeçado nela e feito
muitos outros, do país e do estrangeiro, tropeçar também. a
exemplo do que historicamente aconteceu, outrora, com outro povo
que, por ter sido "visitado" pelo deus da vida e da
fraternidade, logo se pensou, levado pelo egoísmo - sempre
redutor do homem/mulher e dos povos em quem assenta arraiais -,
que era o único que o tinha sido e, por isso mesmo, também logo
se pensou "eleito" relativamente aos outros povos que o não
seriam, e a si mesmo passou, até, a chamar-se "povo de deus",
como se os restantes povos da terra o não fossem também.
É sabido como, ao fim de pouco tempo, já se sentia um povo
orgulhoso do seu grandioso templo em jerusalém (uma espécie de
fátima de então), construído por suas próprias mãos, mas à
revelia desse mesmo deus que, entretanto, quando "apareceu" a
abraão e a moisés (cada povo tem também os seus e, se calhar, a
maior parte ainda nem deu por isso, tão dominados todos temos
sido pelo que sempre se teve na conta de "eleito", judeu
primeiro, eclesiástico depois), fê-lo, não em templos levantados
por mão humana, mas nos sítios mais profanos, onde a vida está a
acontecer e, sobretudo, onde a vida corre perigo. ou ele não
fosse o deus da vida e do amor, o deus pai-mãe, gerador e
criador de fraternidade.
fátima é uma responsabilidade, mas nós apressamo-nos a fazer
dela um privilégio. apressamo-nos a pensar que, a partir da
"aparição" de maria, todos os nossos problemas estavam
--52-
resolvidos. para todas as dificuldades, individuais e
colectivas, tínhamos, ali, à mão, a "senhora de fátima", a quem
sempre poderíamos recorrer, com quem sempre poderíamos negociar.
os governantes do país, nomeadamente, ao tempo da guerra
colonial, aproveitaram-se dela, para justificar o que é sempre
injustificável, como é toda e qualquer guerra. e os governantes
de hoje também não perdem oportunidades de "aparecerem" por lá,
nos momentos de mais gente, em hipócritas e repugnantes atitudes
de devoção mariana, eles que, entretanto, fazem da política uma
actividade ao contrário da "política" do deus de maria, pois
possibilitam que os ricos sejam cada vez mais ricos e os pobres
sejam cada vez mais despojados dos bens indispensáveis à vida, e
possibilitam que os poderosos reforcem o "peso" nacional e
internacional das suas multinacionais, enquanto os pequenos são
obrigados a permanecer no medo e na humilhação, mediante o
recurso à repressão policial e à publicação-aplicação de leis
injustas.
também a igreja em portugal tem vivido à sombra de fátima. e a
prova é que quase se tem limitado a ser uma empresa de serviços
religiosos, apoiada por um enorme e, ainda por cima, generoso
corpo de funcionários, e facilmente se dispensa do que lhe é
específico, ou seja, anunciar o evangelho da libertação e, desse
jeito, qual parteira, ajudar a dar à luz pequenas
comunidades-fraternidades de serviço libertador a favor do resto
da humanidade.
pensa que tem do seu lado a "senhora de fátima" e isso lhe
basta. mesmo que não faça mais nada, que se limite a manter,
ali, na montanha de fátima, aquele "altar do mundo", é garantido
que as multidões, famintas de pão e de dignidade, de saúde e de
justiça, de trabalho e de participação, de estabilidade e de
paz, sempre correrão para ela, mesmo que, entretanto, estruturem
as suas vidas à revelia dos valores alternativos do evangelho de
jesus que, aliás, quase fazem gala de nem conhecer.
É tempo de todos acordarmos. porque, se maria, mãe de jesus e de
todos os empobrecidos e humilhados e crucificados do mundo,
"apareceu" em fátima, não foi para, egoistamente, nos
--53-
aproveitarmos dela, mas para nos tornarmos, cada vez mais,
homens e mulheres libertos como ela, subversivos como ela,
ousados como ela, intervenientes e participativos como ela,
criadores de fraternidade e de solidariedade como ela, em vez
de, idolatricamente, nos plantarmos de rastos diante dela, a
fazê-la crescer a ela, à custa de nos diminuirmos a nós.
porque a glória de deus, do deus da vida e da fraternidade, é
que o homem/mulher e os povos vivam! e não pode ser outra a
glória de maria, a "senhora de fátima".
--54-
5
não será que também fátima precisa de se converter ao
evangelho de jesus?
completam-se, este mês de maio, 75 anos sobre as chamadas
aparições de fátima. com o desmantelamento da urss e a
subsequente "conversão" da rússia à nato e às multinacionais do
dinheiro que, hoje, se movimentam à vontade no seio da
comunidade europeia e noutras zonas do globo, parece que fátima
deveria encerrar as suas portas. porque, como se sabe, ela
nasceu sob o signo do anticomunismo e, durante estes 75 anos,
sempre apostou na "conversão da rússia", para que ela não
continuasse a espalhar os seus "males" pelo mundo. e
estranhamente, ou talvez não, sempre se esqueceu do capitalismo,
apesar de ele ser, à luz do evangelho de jesus, intrinsecamente
perverso e, neste momento, ser, até, o principal responsável
pela degradação da natureza e do meio ambiente, e o assassino,
pela fome e por doenças facilmente curáveis, de muitos milhões
de pessoas empobrecidas, em cada ano. mas não é isso que está
para acontecer.
pelo contrário. fátima prepara-se para prosseguir. agora, já não
com a bandeira do anticomunismo, mas com a da paz. e a prova
disso é o congresso internacional que decorrerá, entre os dias 8
e 12 deste mês, promovido pelo santuário, e cuja organização foi
confiada à faculdade de teologia da universidade católica
portuguesa. um congresso - "fátima e a paz" - que vai trazer à
serra d'aire, especialistas reconhecidos, entre os quais, o
sempre tido como "bispo vermelho" hélder câmara, o teólogo da
libertação josé comblin e o prof. jean ladrière, da universidade
de lovaina.
o jornal fraternizar não quis deixar passar em claro esta data.
e marcou encontro com o padre dominicano, frei bento domingues,
57 anos de idade, autor, entre outras obras, do livro "a
religião dos portugueses", onde o fenómeno fátima é também
dissecado. colocou-lhe algumas questões, polémicas, entre muitas
possíveis. e registou a sua reflexão.
frei bento, na conversa que, durante quase duas horas, manteve
com o jornal fraternizar, não teve a preocupação de responder às
questões, uma por uma. muito menos cuidou em esgotar o assunto.
também formulou algumas outras, que ele próprio transporta
consigo e falou, até, da existência de dois volumes, já
publicados por um confrade seu, o pe. joão de oliveira, feitos imagine-
se! - só de perguntas, à volta do fenómeno fátima. tão
"embrulhado" ele se mantém, ao fim destes 75 anos!
as perguntas que formulámos ao frei bento aqui ficam. para que
também os leitores e leitoras se enfrentem com elas. porque,
também neste particular, se calhar, valem mais umas quantas
perguntas, do que muitas respostas.
de resto, do que é preciso é que a gente se habitue a pensar. e
perca de vez o medo de o fazer em voz alta. até porque quem vive
subjugado pelo medo, ainda não é homem/mulher. muito menos
cristão. ou não fosse verdade que foi para a liberdade que
cristo nos libertou (gálatas 5, 1). também e, sobretudo, para
nos libertar do medo!
perguntas pertinentes
1. fátima e a paz. fica a impressão de que a paz no mundo está,
desde há 75 anos, dependente, não da prática da justiça, mas da
reza de muitos terços. se rezarem, há paz. se não rezarem,
haverá guerra. são assim as coisas, à luz da revelação
bíblico-cristã?
2. ainda fátima e a paz. aconteceu a guerra do golfo, curta no
tempo, mas terrível na execução e nas consequências. foi uma
guerra total. e muitos milhões e milhões de terços se têm rezado
em fátima e por esse mundo fora. em que ficamos?
--56-
3. aparições. será que houve aparições de verdade? os fenómenos
da parapsicologia não explicam a experiência religiosa por que
terão passado as três crianças de fátima? a pregação assustadora
e de cores dantescas que os padres faziam nas chamadas missões
populares, pelas paróquias do país, não podem ter impressionado
tanto as crianças, que elas acabaram por ver e ouvir tudo aquilo
que viam e ouviam, quando ouviam os pregadores, ou o próprio
pároco, na missa dominical e na catequese?
4. a mensagem transmitida. está conforme à boa nova libertadora
de jesus, ou tem mais a ver com a pregação de joão baptista e do
antigo testamento? e aquele "rezai pela conversão dos pecadores"
é evangélico? não é sobretudo moralista e farisaico, enquanto
pressupõe que os pecadores são sempre os outros? e o mote
"oração e penitência" tem alguma coisa a ver com o essencial do
kerigmn proclamado por jesus e pelas primeiras comunidades
cristãs? tem alguma coisa a ver por exemplo, com a proclamação
de jesus, na sinagoga de nazaré, do ano da graça do senhor, e
com a metanoia (mudança) provocada pelo feliz anúncio de que o
reino de deus já está entre nós?
5. senhora de fátima. a senhora de fátima ainda será maria de
nazaré, tal como as narrativas evangélicas nos falam dela e que,
concretamente, o evangelho de lucas nos deixa perceber, naquele
subversivo cântico do magnificct, posto nos lábios dela?
6. o deus de fátima. É o deus pai-mãe, revelado por jesus de
nazaré e cantado por maria? não andaremos todos a laborar num
grande equívoco?
7. ainda as aparições. não serão uma hábil montagem pastoral,
uma espécie de parábola pastoral da época, bem ao gosto popular,
com a finalidade de, através dela, catequizar uma população que,
de outro modo, não o chegaria a ser? não é assim uma espécie de
missão popular concreta em acção, ou, como hoje se diz, uma
dramatização?
8. fátima, hoje. não será que todo aquele negócio, toda aquela
religiosidade, todo aquele dolorismo, toda aquela febre de
--57-
milagrisnu, todas aquelas idas a pé, todo aquele andar de
rastos, todas aquelas velas a arder, dia e noite, no crematório,
todo aquele dinheiro que se junta e que ninguém sabe quanto é e
para que é, todo aquele secretismo-, não têm mais a ver com o
templo-banco de jerusalém, no tempo de jesus de nazaré, e que
ele combateu até à morte, do que com a boa nova libertadora que
ele anunciou aos pobres e realizou na pessoa deles?
9. fátima e a rússia. agora que não há mais urss e que o
comunismo internacional parece ter-se convertido ao capitalismo
que futuro para fátima?
10. fátima e a igreja. que balanço, ao fim de todos estes anos,
do modelo moralista e anticomunista de igreja que fátima
veiculou? positivo? negativo? contribuiu para a libertação do
nosso povo, ou oprimiu? favoreceu o desenvolvimento do reino de
deus, aqui, ou foi, está a ser, mais pedra de tropeço? não será
que também fátima precisa de se converter ao evangelho de
libertação de jesus?
11. lúcia é a única sobrevivente das três crianças de fátima. as
outras duas morreram antes de tempo. É caso para dizer que nem a
senhora de fátima lhes valeu. ela, a quem, mensalmente, muitas
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Fatima Nunca Mais

  • 1. Índice 1. Fátima nunca mais! 2. No outro lado de Fátima, à procura de Maria de Nazaré. 3. Irmãzinhas de Jesus: com elas, entendemos melhor Maria de Nazaré e o evangelho dos pobres. 4. Fátima: privilégio ou responsabilidade? 5. Não será que também Fátima precisa de se converter ao evangelho de Jesus? 6. O que as crianças viram não foi nossa senhora 7. Fátima: um inferno de mau gosto
  • 2. 8. Agora, com o comunismo derrotado, frei bento interroga-se: qual o papel de Fátima? 9. Deuses contra deus 10. Do deus de Fátima livra-nos, senhor! 11. Há anos que ele faz incomodas perguntas sobre "Fátima" e, em lugar de respostas satisfatórias, recebe insultos. 12. Evangelizar a senhora de Fátima 13. Fia-te na virgem e não corras! 14. Eu, Maria, mãe de Jesus, não tenho nada a ver com a senhora de Fátima. 15. Não há nenhum segredo de Fátima 16. O culto a n. s. de Fátima afasta-nos do deus que se revelou em Maria de Nazaré. Muitas conferências, nenhum debate. 18. O milagre da jacintinha 19. Aparições e visões: quem nos livra delas? 20. Manifestação de fé ou de paganismo? Fátima: a glória da nossa terra ou a nossa vergonha? Teologicamente, um vomita lula. 23. No inferno, os pecadores uivam como cães danados. 24. Como brasas transparentes 25. E a imagem da senhora de Fátima chorou!... 26. Fátima: a grande ilusão Observações (algumas erros na escrita deste livro são apenas decorrentes do processo de cópia e da variação do idioma português) ignore o livro é o mesmo original do Autor.
  • 3. Fátima nunca mais! 1. Quando, há tempos, aceitei participar num debate promovido. Pela sic e respondi abertamente "não!" à pergunta "acredita nas Aparições de Fátima?”“, foi um escândalo (quase) nacional. nunca Tal se ouvira na televisão, para mais, da boca de um padre. Católico. Infelizmente, o debate abortou pouco depois de ter. Começado, e quase não me foi possível apontar as razões do meu. Não. O que terá deixado toda a gente mais ou menos frustrada. E Até a pensar menos bem de mim. Mas o impacto da minha resposta foi tal, que até o próprio. Jornalista que conduzia o debate não conseguiu esconder o seu ar De espanto. Apressei-me, por isso, a recordar tanto a ele como a. Todas as portuguesas e portuguesas que, nessa hora, sintonizavam. A sic - e deveriam ser milhões, tal o impacto do debate que, ao. Contrário do que pensa a maior parte das pessoas, mesmo não. Católicas, as aparições de Fátima não fazem parte do núcleo Da. Fé cristã católica; o que quer dizer que se pode não acreditar. Em Fátima e continuar a ser cristão católico romano. Mesmo assim, e talvez porque não costuma ser esta a. Mensagem-informação sobre as aparições de Fátima que passa nas Pregações dos párocos e dos bispos, nem nas peregrinações que, Um pouco de todo o país e de muitas partes do mundo, são. Reiteradamente organizadas para lá, a verdade é que, se eu já. Era um padre meio maldito, passei, desde então, a ser maldito de. Todo, aos olhos de quase todos os meus irmãos e irmãs de fé.
  • 4. Católica. Entretanto, se ainda me aflijo com isso, não é por mim que me. Aflijo, mas por todos aqueles e aquelas que, preguiçosamente, Preferem continuar a escandalizar-se com as minhas declarações, Honestamente ditadas pela fé cristã que me anima e dá sentido à Minha vida, em vez de interpelados por elas, apressar-se, Elas e eles também, a meter mãos ao trabalho para investigarem. Seriamente o que se passa à volta de Fátima. É que, com posições assim preguiçosas e acomodadas, Objetivamente tão contrárias à fé cristã, dificilmente. Conseguiremos ir longe à liberdade e em responsabilidade Humanas. i, em vez disso, manter-nos-emos, geração após geração, Como uma espécie de Portugal dos pequeninos e uma igreja de Críticas (não é verdade que na generalidade, todos os que nos Confessamos católicos, fomos batizados poucos dias ou poucas. Semanas depois de termos nascido e que nunca mais crescemos na Fé nem nas razões dela?(), inevitavelmente à mercê de influentes. Hierarquias políticas e eclesiásticas! Uma postura social e Eclesial que, indubitavelmente, também a senhora de Fátima tem. Ajudado, e muito, a programar. Não só em Portugal, mas também. Um pouco por todo o mundo católico. 2. Entretanto, quando, na sic, respondi que não acreditava nas. Aparição de Fátima mais não fez do que retomar hoje a mesma Atitude que a igreja católica em Portugal tomou entre 1917 e 1930. Na verdade, durante 13 anos, também ela não acreditou nas. Aparições de Fátima. E podia ter-se apressado a reconhecê-las,
  • 5. Porque, até então, eram já muitos os milhares de pessoas que. Acorriam a Fátima, entre 13 de maio e 13 de outubro, de cada. Ano. E, inclusive, havia já ocorrido o chamado "milagre do sol", No dia 13 de outubro de 1917. Porém, só em 1930 é que a igreja católica reconhece Fátima. Um Reconhecimento oficial a que não terá sido alheio o fato de ter Saído vitorioso o golpe militar de 28 de maio de 1926. O novo regime, obscurantista católico, saído deste golpe militar. E presidido pelo duplo Salazar cardeal cerejeira, carecia de uma. Coisa assim para mais facilmente se implantar nas populações. A Senhora de Fátima, com a mensagem retrógrada, moralista e. Subserviente que lhe é atribuída e que, ainda hoje, vai tão ao. Encontro da generalidade dos nossos funcionários eclesiásticos Católicos e do paganismo religioso-católico das nossas População vinha mesmo a matar. Nem sequer era preciso --10- Esforçar-se por arregimentar as populações à volta do clero. Bastava ir ao seu encontro, todos os meses, em Fátima. Vai daí, em lugar de continuar a demarcar-se do fenômeno e até hostilizá- lo, a hierarquia maior da igreja católica, em 1930,. Mudou radicalmente de estratégia e reconheceu-o e canonizou-o, Como sobrenatural. Terá percebido nessa altura que, se não adiasse mais esse reconhecimento, os lucros seriam enormes, como, efetivamente, Foram. Lucros financeiros, lucros políticos, lucros clericais.
  • 6. Lucros eclesiástico-católicos. Algo assim como um verdadeiro "milagre", não de deus, Evidentemente, que deus nunca faz milagres - com eles, faria de nós uns súbditos assustados, em vez de filhas e filhos livres irresponsáveis-, mas um "milagre" produzido por aquela vertente demoníaca que, sobretudo em horas de maior aflição, sempre se manifesta no mais fundo dos seres humanos e os leva a. Prostrar-se de joelhos não só diante de imagens surdas e mudas, Mas também diante dos representantes do idolatrado poder religioso e eclesiástico, na ilusória esperança de que, assim, As suas muitas aflições poderão encontrar qualquer mágica saída. Por outro lado, esta nova atitude da hierarquia maior da igreja católica veio revelar-se, igualmente, como um verdadeiro trunfo contra a república de 1910. E contra a liberdade. Contra autonomia individual. E contra todas as outras igrejas nãocatólicas. Contra a maçonaria. E contra a laicidade e a cidadania, então incipientes. Mas o pior - e parece que na igreja católica ainda ninguém, Entre os mais responsáveis, deu por isso - é que essa surpreendente mudança de estratégia da hierarquia maior católica, relativamente às "aparições" de Fátima, materializava também uma histórica traição ao evangelho de Jesus cristo. Uma traição que acabou por desfigurar completamente o cristianismo, Tal como o próprio Jesus cristo o inspirou com a sua prática e palavra, no sentido de que ele materializasse, na história, avia de realização humana integral, saudavelmente cômoda, como usar da terra, E libertadoramente subversiva, como a luz do mundo (MT cinco). ( 3. Só que Fátima e as suas pretensas aparições resumiam-se, Nessa altura, praticamente a nada. Para cúmulo, das três crianças. --11- Que, em 1917, afirmaram a pés juntos que tinham visto nossa
  • 7. Senhora - uma delas, Francisco, nunca ouviu nada e tanto ele, Como a sua irmã, jacinta, nunca disseram uma palavra que fosse à. Senhora das "aparições", apenas Lúcia foi protagonista, o que. Prova que até nas "aparições do céu" há discriminação!... - duas Delas já tinham morrido, há uns dez onze anos, de pneumônica. E Também em consequência do terror que a senhora de Fátima lhes Incutiu (entenda-se, certas catequeses moralistas e terroristas. (De grande parte do clero de então). Na circunstância, valeu, por isso, ao regime e à sua poderosa. Dupla, Salazar cardeal cerejeira, a existência de Lúcia, a mais. Velha das três antigas crianças "videntes". Talvez, por ser mais. Vigorosa e menos impressionável, conseguiu sobreviver a todo. Aquele terror que a senhora de Fátima materializava e Materializa ainda hoje. Entretanto, alguns clérigos mais fanáticos do catolicismo. Obscurantista e moralista de então - eles viam nas "aparições de “Fátima” não a presença do demoníaco, como elas efetivamente. São, mas sim a presença do divino, e até um verdadeiro milagre. Do céu - haviam conseguido arrastar a pequenina Lúcia, poucos. Anos depois de 1917, para fora da sua aldeia e encurralaram-na, Primeiro, no asilo de Vilar, no porto, e, depois, num convento. Da Gales. Foram ao ponto de lhe arrancar o nome (é o mesmo que (Tirar-lhe a identidade) e passaram a chamar-lhe - imagine-se! Irmã Maria das dores. Ao mesmo tempo, proibiram-lhe que alguma. Vez falasse a alguém das "aparições". O terreno estava, pois, mais do que preparado para obter desta.
  • 8. Antiga "vidente" uns relatos bem mais completos das "aparições", Os quais, duma vez por todas, impusessem Fátima à igreja e ao. Mundo. E, se bem o pensaram, melhor o fizeram. Deram ordens à irmã dores (atualmente, ela é, de novo, Lúcia), Sempre em nome, é claro, do voto de obediência, para que ela. Escrevesse. E até lhe forneceram, antes de cada relato, Orientações muito precisas sobre o que ela deveria escrever. Finalmente, corrigiram-lhe os textos que ela manuscreveu, para. Que pudessem ser publicados sem erros e com boa pontuação. Tudo Muito isento como se vê!... --12- 4. “Nasceu, assim, a memória da irmã Lúcia”, um livro. Bizarro e delirante, mas imprescindível para se entender Fátima. E a sua senhora. Os relatos do livro surpreenderam tanto os críticos de Fátima que estes passaram a chamar-lhes "Fátima ii", Tão diferentes eles eram dos relatos primitivos de 1917, que, Por isso, passaram a ser referidos como "Fátima i" e que não. Passam estes últimos, de curtos depoimentos, mais ou menos. Ingênuos, das três crianças ditas "videntes". Quatro dessas cinco memórias foram escritas entre 1935 e 1941; Mas a quinta e última memória foi escrita ainda muito mais Recentemente-já em 1989! O livro que as contém encontra-se Traduzido em várias línguas e tem conhecido sucessivas edições. Quer isto dizer que são textos escritos muitos anos depois das Pretensas "aparições", e apenas por uma das suas vítimas, a. Qual, embora tenha conseguido sobreviver ao terrorismo que elas.
  • 9. Materializaram, nunca mais pôde ter, desde então, uma vida. Normal e equilibradamente saudável no meio do mundo. Violentamente sequestrada da sua aldeia, poucos anos depois das. "aparições", encurralada mais ou menos à força num convento sob. Um nome que nem sequer era o dela e acompanhada por confessores Fanáticos e beatos que viam sobrenatural em tudo, ao mesmo tempo. Que tinham uma histérica fobia por tudo o que fosse mundo e República, laico e secular, liberdade de consciência e. Cidadania, eis que a pobre rapariga de Fátima passou a ser um. Joguete nas mãos deles, a cujos olhos, para cúmulo, todos os. Processos a utilizar eram legítimos, desde que servissem para. Ajudar a derrotar mais depressa e mais eficazmente a república e Todos os outros supostos "inimigos" da igreja católica. Pode, por isso, dizer-se que Lúcia nunca mais se encontrou a si. Mesma, e, pelo que ela própria conta no livro das memórias, Sobretudo, nos dois apêndices, vê-se que tem vivido em delírios. Quase contínuos, com aparições de nossas senhoras e de nossos. Senhores, a toda a hora e instante, que lhe confiam mensagens, Para ela, por sua vez, confiar aos bispos e ao papa. Enfim, uma verdadeira desgraça. Para não dizer um crime, que, em. Vez de ser denunciado e julgado irá ser depois da morte de Lúcia, provavelmente, canonizada, quando os sucessores dos. --13- Eclesiásticos que tanto a oprimiram e alienaram exigirem do
  • 10. Vaticano que a beatifique e declare santa dos altares! 5. Nestas circunstâncias, que valor probatório gozam essas. Memórias da irmã Lucia? Que credibilidade merece? Tomar a sério O que lá está escrito e edificar sobre estes relatos, Manifestamente delirantes, a base da religião de Fátima não é. Uma injúria à fé cristã e ao evangelho de Jesus cristo? Não é um Insulto a deus, pelo menos, àquele deus que se nos revelou. Plenamente em Jesus de Nazaré, e em Maria, sua mãe carnal e exemplar discípula? Mas a verdade é isto que continuamos hoje a ver em Fátima. Ou Seja, vemos a senhora de Fátima ser cultuada, como a grande. Deusa da serra d'abre, e, embora este culto tenha tudo de. Demoníaco e nada de cristão e de humano são, sem dúvida, às. Memórias da irmã Lúcia e aos suas demências delírios que se vai Buscar todo o seu fundamento. Por mim, tenho plena consciência do chocante que estas minhas. Afirmações consubstanciam. Mesmo assim, não deixo de fazê-las. Com serenidade. Em nome da liberdade. Em nome do bom senso. Em Nome da sanidade mental. E, sobretudo, em nome do evangelho de. Jesus, pelo menos, tal como eu o experimento e procuro viver, Para cujo arníncio aos pobres fui constituído presbítero, por. Causa do qual, antes dos 25 de abril de 74, fui duas vezes preso. E, desde então, me vejo votado ao ostracismo eclesiástico, Certamente por ter-me tornado demasiado incomodo na igreja. Mas não se pense que é apenas de agora esta minha posição sobre Fátima e a sua senhora. Quando fui pároco de macieira da lixa, Entre 1969 e 1973, já então promovi com a paróquia uma séria.
  • 11. Reflexão teológica e cristo lógico sobre Maria de Nazaré. Foi Durante todo o mês de maio de 1970 (cf. o meu livro "Maria de “(Nazaré”, edições afrontamento, porto). Em lugar de nos refugiarmos no templo paroquial a repetir, no. Mínimo, cinquenta vezes por dia as mesmas palavras do terço, Ocupamos o tempo a refletir e a aprofundar, a partir do. Evangelho e de Jesus de Nazaré, quem era Maria, sua mãe. --14- Foi uma inesquecível experiência de libertação para a liberdade E de fraterna alegria. Recordo-me que, no encontro. Correspondente ao dia 12 de maio desse ano, uma das perguntas. Que então soou no interior do templo paroquial, transformado por. Nós em espaço de convívio e de busca comunitária da verdade foi Esta: "a senhora de Fátima ainda será Maria?". E todos os dados, Já então apresentados, levavam-nos a concluir que a senhora de. Fátima não tinha nada a ver com Maria, mãe de Jesus, ainda que, Oficialmente, a igreja católica persista, insensatamente, ainda. Hoje, a dizer que sim, que são apenas dois nomes distintos para. Nomear a mesma pessoa. Pura mentira! 6. Mas foi, sobretudo depois que assumi as funções de diretor do jornal fraternizar que senti o apelo a voltar ao assunto senhora de fátima, concretamente, na edição referente a cada um dos
  • 12. últimos meses de maio. esta decisão levou-me a ler-analisar com mais atenção o livro "memórias da irmã lúcia". e, se já não tinha qualquer fé na senhora de fátima, nem nas chamadas aparições, a leitura crítica deste livro, escrito com o manifesto objectivo de fundamentar as aparições e impor definitivamente fátima à igreja e ao mundo, fez de mim um convicto militante anti-fátima. também em nome de maria. e do evangelho. a leitura destes escritos deixou-me, evangélica e teologicamente, horrorizado. nem a senhora de fátima da "vidente" lúcia, tal como ela se lhe refere, corresponde a maria, mãe carnal de jesus e a sua melhor e mais perfeita discípula, nem o deus dos seus textos corresponde no deus que nós, cristãos e cristãs, reconhecemos e proclamamos e que se revelou definitivamente na pessoa de jesus de nazaré, o ressuscitado que, antes, havia sido crucificado. digamos que o deus das memórias da irmã lúcia tem tudo a ver com o deus do templo de jerusalém, em nome do qual, o próprio jesus foi condenado à morte e executado, por o ter posto em cheque, em nome de outro deus, de misericórdia e de perdão, sem religião e sem templo, a quem ele, numa intimidade ainda hoje desconcertante para nós, tratava por "abbá", uma --15-- expressão aramaica que diz mais, infinitamente mais, do que
  • 13. "pai" ou "paizinho", como os tradutores da bíblia costumam traduzir para as diversas línguas hoje faladas. tenho, por isso, para mim que fátima e a sua senhora, mais do que toleradas, deverão ser teologicamente denunciadas e desmascaradas. para que as populações tomem consciência do veneno que ambas veiculam, sob o disfarce de grandiosas manifestações de fé. quem tiver dúvidas e achar exagerado isto que acabo de escrever experimente ler-analisar criticamente as "memórias da irmã lúcia" e os seus dois curtos apêndices. mesmo que conheça pouco o evangélho de jesus e não seja muito profundo em teologia cristã, poderá acabar por experimentar o mesmo que eu experimentei. basta que tenha um mínimo de humanidade, de bom senso e de sanidade mental, para logo se demarcar de tudo aquilo que só uma mente que outros criminosamente perturbaram é capaz de ver e ouvir e de apresentar aos outros como de deus. 7. aqui ficam, entretanto, alguns extractos dessas cinco memórias da irmã lúcia, tais como as lemos na 6. edição, de março de 1990, numa compilação do pe. luís kondor, svd, com introdução e notas do pe. dr. joaquim m. alonso, smf, falecido em 1981, e do pe. dr. luciano cristino. leiam e deixem-se estarrecer. vejam o ambiente de terror religioso em que viveram as três crianças das "aparições". o tipo de catequese que lhes era ministrado. vejam quem é a senhora de fátima. como fala e do que fala. o que pretende. com o que mais se preocupa. como trata as
  • 14. crianças. que imagem lhes transmite de deus. que catequese terrorista lhes ensina. ao que é que as chama. em nome de quê as mobiliza. verão, então, que até as crianças acabam por ser bem melhores do que o próprio deus. se ele é capaz, por exemplo, de condenar os "pecadores" ao lnferno eterno, as crianças, ao contrário dele, são capazes de se sacrificar, para que tal não aconteça!... leiam e concluirão, certamente, como eu concluí, que será muito difícil alguém da igreja católica poder vir a criar uma imagem mais monstruosa de deus, de jesus e de maria, do que esta imagem que a irmã lúcia criou com as suas memórias. --16- 8. primeira memória a introdução esclarece que este é "o seu (de lúcia) primeiro escrito extenso". e diz-nos como o livro nasceu. "no dia 12 de setembro de 1935 eram trasladados, do cemitério de vila nova de ourém para o de fátima, os restos mortais de jacinta. nesta ocasião, tiraram-se diversas fotografias ao cadáver; algumas delas foram enviadas pelo sr. bispo (de leiria) à irmã lúcia que, então, se encontrava em pontevedra". lúcia agradeceu a lembrança, em carta de 17 de novembro do mesmo ano. as recordações que as fotografias suscitaram em lúcia "induziram o sr. bispo a mandar-lhe escrever tudo o que se recordasse (da sua primita jacinta)". a introdução esclarece ainda que "o
  • 15. escrito, começado na segunda semana de dezembro, estava terminado no dia de natal de 1935". o texto apresenta-se dirigido ao "ex." e rev." senhor bispo". atentem no misticismo e servilismo da linguagem, logo a começar: "depois de ter implorado a protecção dos santíssimos corações de jesus e maria, nossa terna mãe, de ter pedido luz e graça aos pés do sacrário, para não escrever nada que não seja única e exclusivamente para glória de jesus e da santíssima virgem, venho, apesar da minha repugnância, por não poder dizer quase nada da jacinta sem directa ou indirectamente falar do meu miserável ser. obedeço, no entanto, à vontade de v ex."a reverência que, para mim, é a expressão da vontade de nosso bom deus" (sic). e acrescenta: "vou ver se dou começo à narração do que me lembro da vida da jacinta. como não disponho de tempo livre, durante as horas silenciosas de trabalho, num bocado de papel, com um lápis escondido debaixo da costura, irei recordando e apontando o que os santíssimos corações de jesus e maria quiserem fazer-me recordar". eis alguns extractos. "um dia, jogávamos isto (às prendinhas), em casa dos meus pais, e tocou-me a mim mandá-la a ela. meu irmão estava sentado a escrever junto duma mesa. mandei-a, então, dar-lhe um abraço e um beijo, mas ela respondeu: - isso não! manda-me outra coisa. --17-
  • 16. por que não me mandas beijar aquele nosso senhor que está ali? (era um crucifixo que havia na parede)... a nosso senhor dou todos quantos quiseres." "a jacinta gostava muito de ouvir o eco da voz no fundo dos vales. por isso, um dos nossos entretenimentos era, no cimo dos montes, sentados no penedo maior, pronunciar nomes em alta voz. o nome que melhor ecoava era o de maria. a jacinta dizia, às vezes, assim, a avé-maria inteira, repetindo a palavra seguinte só quando a precedente tinha acabado de ecoar. gostávamos também de entoar cânticos. entre os vários profanos que infelizmente sabíamos bastantes, a jacinta preferia o "salve nobre padroeira, virgem pura, anjos cantai comigo." "tinham-nos recomendado que, depois da merenda, rezássemos o terço; mas, como todo o tempo nos parecia pouco para brincar, arranjámos uma boa maneira de acabar breve: passávamos as contas, dizendo somente: avé maria, avé maria, avé maria! quando chegávamos ao fim do mistério, dizíamos, com muita pausa, a simples palavra: padre nosso!" - jacinta! por que não queres brincar? - porque estou a pensar. aquela senhora disse-nos para rezarmos o terço e fazermos sacrifícios pela conversão dos pecadores (...). o francisco discorreu em breve um bom sacrifício: - demos a nossa merenda às ovelhas e fazemos o sacrifício de não merendar! em poucos minutos, estava todo o nosso farnel distribuído pelo rebanho. e assim passámos um dia de jejum, que nem o do mais austero cartuxo! a jacinta continuava sentada na sua pedra, com ar de
  • 17. pensativa e perguntou: -aquela senhora disse também que iam muitas almas para o inferno. e o que é o inferno? - É uma cova de bichos e uma fogueira muito grande (assim mo explicava minha mãe) e vai para lá quem faz pecados e não se confessa e fica lá sempre a arder. - e nunca mais de lá sai? - não. - depois de muitos, muitos anos?! - não; o inferno nunca acaba. e o céu também não. quem vai para o céu nunca mais de lá sai. e quem vai para o inferno também não. (...) --18- mesmo brincando, de vez em quando (a jacìnta) perguntava: - e aquela gente que lá está a arder não morre? e não se faz em cinza? e se rezar muito pelos pecadores, nosso senhor livra-os de lá? e com os sacrifícios também? coitadinhos! havemos de rezar e fazer muitos sacrifícios por eles! depois, acrescentava: que boa é aquela senhora! já nos prometeu levar para o céu!". "a jacinta tomou tanto a peito os sacrifícios pela conversão dos pecadores, que não deixava escapar ocasião alguma. (...) colhia as bolotas dos carvalhos ou a azeitona das oliveiras. disse-lhe um dia: - jacinta, não comas isso, que amarga muito. - pois é por amargar que o como, para converter os pecadores. (...) a jacinta parecia insaciável na prática do sacrifício (...). o dia estava lindo, mas o sol era ardente (...) parecia querer abrasar tudo. a sede fazia-se sentir e não havia pinga d'água para beber. a princípio, oferecíamos o sacrifício com generosidade pela conversão dos pecadores; mas passada a hora do meio dia, não se resistia. propus então aos meus companheiros ir a um
  • 18. lugar, à que ficava cerca pedir uma pouca de água. (...) em seguida, dei a infusão ao francisco e disse-lhe que bebesse. - não quero beber, respondeu. - porquê? - quero sofrer pela conversão dos pecadores. - bebe tu, jacinta! - também quero oferecer o sacrifício pelos pecadores! deitei, então, a água numa cova duma pedra para que a bebessem as ovelhas e fui levar a infusa à sua dona. o calor tornava-se cada vez mais intenso. as cigarras e os grilos juntavam o seu cantar ao das rãs da lagoa vizinha e faziam uma gritaria insuportável. a jacinta, debilitada pela fraqueza e pela sede, disse-me, com aquela simplicidade que lhe era habitual: diz aos grilos e às rãs que se calem! dói-me tanto a minha cabeça! então o francisco perguntou-lhe: - não queres sofrer isto pelos pecadores? a pobre criança, apertando a cabeça entre as mãozinhas, respondeu: - sim, quero. deixa-as cantar". "foram interrogar-nos dois sacerdotes que nos recomendaram que rezássemos pelo santo padre. a jacinta perguntou quem era o santo padre e os bons sacerdotes explicaram-nos quem era e como precisava muito de orações. a jacinta ficou com tanto --19- amor ao santo padre que sempre que oferecia os seus sacrifícios a jesus, acrescentava: e pelo santo padre. no fim de rezar o
  • 19. terço, rezava sempre três ave-marias pelo santo padre e algumas vezes dizia: -quem me dera ver o santo padre! vem cá tanta gente e o santo padre nunca cá vem." "passavam assim os dias da jacinta, quando nosso senhor mandou a pneumónica, que a prostrou na cama, com seu irmãozinho. nas vésperas de adoecer, dizia: - dói-me tanto a cabeça e tenho tanta sede! mas não quero beber, para sofrer pelos pecadores! (...) um dia, sua mãe levou-lhe uma xícara de leite e disse-lhe que o tomasse. - não quero, minha mãe, respondeu, afastando com a mãozinha a xícara (...) logo que ficámos sós, perguntei-lhe: como desobedeces assim a tua mãe e não ofereces este sacrifício a nosso senhor? ao ouvir isto, deixou cair algumas lágrimas que eu tive a felicidade de limpar e disse: - agora não me lembrei! (...) um dia, perguntei-lhe: - estás melhor? - já sabes que não melhoro. e acrescentou: - tenho tantas dores no peito! mas não digo nada; sofro pela conversão dos pecadores." "de novo, a santíssima virgem se dignou visitar a jacinta, para lhe anunciar novas cruzes e sacrifícios. deu-me a notícia e dizia-me: - disse-me que vou para lisboa, para outro hospital; que não te torno a ver, nem os meus pais; que depois de sofrer muito, morro sozinha, mas que não tenha medo; que me vai lá ela buscar para o céu." 9. segunda memória a segunda memória começou a ser escrita no dia 7 de novembro de
  • 20. 1937 e terminou no dia 21. como é que esta aparece? segundo o texto da introdução, "o sr. bispo, posto de acordo com a madre provincial das doroteias, madre maria do carmo corte-real, dá ordem à lúcia". ela escreve, então, 20 anos depois de 1917, com a intenção de "deixar ver a história de fátima tal qual ela é". talvez dissesse melhor se escrevesse: deixar ver a história de fátima como a minha fantasia hoje --20- mo diz e, sobretudo, como mais convém à hierarquia da igreja católica!... ela própria começa por reconhecer que "nem sequer a caligrafia sei fazer capazmente", mas a verdade é que o texto final apresenta-se muito bem concebido e escrito. será integralmente dela? que mãozinha terá estado por trás? eis alguns extractos mais significativos. 9.1. antes das "aparições" "havia na igreja (paroquial) mais que uma imagem de nossa senhora. "se calhar, tantas quantas ela depois "verá" nas "aparições".... mas, como minhas irmãs arranjavam o altar de nossa senhora do rosário [pelos vistos, na última "aparição", de outubro, a senhora dirá que se chama a senhora do rosário! mas que coincidência!...], estava por isso habituada a rezar diante dessa e, por isso, lá fui também dessa vez. pedi-lhe, pois, com todo o ardor de que fui capaz [tinha acabado de se confessar
  • 21. para a primeira comunhão, aos seis anos!...] que guardasse, para deus só, o meu pobre coração. ao repetir várias vezes esta humilde súplica, com os olhos fitos na imagem, pareceu-me que ela se sorria e que, com um olhar e gesto de bondade, me dizia que sim. fiquei tão inundada de gozo, que a custo conseguia articular palavra". imediatamente depois de ter comungado: "dirigi-lhe então as minhas súplicas: - senhor, fazei-me uma santa, guardai o meu coração sempre puro, para ti só. aqui, pareceu-me que o nosso bom deus me disse, no fundo do meu coração, estas distintas palavras: -a graça que hoje te é concedida permanecerá viva em tua alma, produzindo frutos de vida eterna. sentia-me de tal forma transformada em deus!" 9.2. as "aparições" aos sete anos, lúcia é feita "pastora", em substituição da sua irmã carolina, então com 12 anos. no dia seguinte, avança com duas companheiras para "um monte chamado o cabeço. na encosta deste monte, ao sul, ficam os valinhos, que v ex." rev."' de nome, já deve conhecer. (...) um pouco mais ou menos aí pelo meio-dia, comemos a nossa merenda e, depois dela, convidei as minhas companheiras para --21-
  • 22. rezarem comigo o terço, ao que elas anuíram [olhem só para esta palavra tão pouco popular...] com gosto. mal tínhamos começado, quando, diante de nossos olhos, vemos, como que suspensa no ar, sobre o arvoredo, uma figura como se fosse uma estátua de neve que os raios do sol tornavam algo transparente. - que é aquilo?, perguntaram as minhas companheiras, meias assustadas. - não sei!". mais tarde, em casa, a mãe pergunta: "- ouve lá: dizem que viste para aí não sei o quê. o que é que tu viste? (...) como não sabia explicar, acrescentei: - parecia uma pessoa embrulhada num lençol (...) não se lhe conheciam olhos nem mãos. minha mãe rematou tudo com um gesto de desprezo, dizendo: tolices de crianças". 9.3. "aparições" do anjo em 1916" passado algum tempo, voltámos com os nossos rebanhos para esse mesmo sítio e repetiu-se o mesmo, da mesma forma.(...) várias pessoas começaram por fazer troça. e como eu, desde a minha primeira comunhão, me ficava por algum tempo como que abstracta, recordando o que se tinha passado, minhas irmãs, com algo de desprezo, perguntavam-me: estás a ver algum embrulhado no lençol?" entretanto, as primeiras companheiras de lúcia, pastora, foram substituídas pelos primos, jacinta e francisco. até que "um belo dia (...) eis que um vento forte sacode as árvores e faz-nos levantar a vista. (...) vemos então que sobre o olival se encaminha para nós a tal figura de que já falei (...) À maneira que se aproximava, íamos divisando as feições: um jovem dos seus
  • 23. 14 a 15 anos, mais branco que se fora de neve, que o sol tornava transparente como se fora de cristal e duma grande beleza. ao chegar junto de nós, disse: não temais! sou o anjo da paz. orai comigo. e ajoelhando em terra, curvou a fronte até ao chão e fez-nos repetir três vezes estas palavras: - meu deus! eu creio, adoro, espero e amo-vos. peço-vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e vos não amam. depois, erguendo-se disse. - orai assim. os corações de jesus e maria estão atentos à voz das vossas súplicas. as suas palavras gravaram-se de tal forma na nossa mente, que jamais nos esqueceram". --22- o relato prossegue. o anjo dirá, tempos depois, que é "o anjo de portugal". ensina-lhes outra oração, enorme, nitidamente, inventada por algum eclesiástico católico, dirigida à "santíssima trindade" e que, bem analisada, não passa dum disparate teológico. e até lhes dá a comunhão sob as duas espécies! "dá-me a sagrada hóstia a mim e o sangue do cálix divide-o pela jacinta e o francisco, dizendo ao mesmo tempo: - tomai e bebei o corpo e sangue de jesus cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. [os republicanos?!...] reparai os seus crimes e consolai o vosso deus." o curioso é que a mesma lúcia, nas memórias que escreve sobre a jacinta e o francisco, respectivamente, quase se "esquece" de referir que eles viram o anjo de portugal, que lhes ensinou
  • 24. estas orações. temos, pois, de dizer que todas estas "aparições" do "anjo", das quais ninguém, nem mesmo os estudiosos de fátima, até 1937, sequer suspeitaram, têm todo o ar de montagem. e de coisa artificial. são relatos mais ou menos decalcados de certos textos bíblicos do antigo e do novo testamento. só que lúcia, ou quem está por detrás de tudo isto, teve, neste ponto, um grande azar, porque os relatos bíblicos que podem ter inspirado estes seus relatos não são históricos, mas teológicos, isto é, não aconteceram tal e qual. e ela aqui conta as coisas como se elas tivessem sido assim. e não foram. não podem ter sido. porque anjos nunca ninguém os viu. nem verá. a não ser na sua imaginação, mais ou menos delirante e doentia. 9.4. problemas familiares "meu pai tinha-se deixado arrastar pelas más companhias e tinha caído nos laços duma triste paixão, por causa da qual tínhamos já perdido alguns dos nossos terrenos." [em nota, no final do relato, lê-se, a propósito: "não se deve exagerar, na vida do pai da lúcia, a sua "paixão pelo vinho". ele não era um alcoólico. quanto aos seus deveres religiosos, é certo que os não cumpriu, durante alguns anos, na paróquia de fátima, por não se entender com o pároco. ia a vila nova de ourém".] "(...) tanto sofrimento começou por abalar a saúde de minha mãe. (...) correram então quantos cirurgiões e médicos por ali --23-
  • 25. havia. gastou-se uma infinidade de remédios, sem se obter melhoras algumas (...). eis o estado em que nos encontrávamos, quando chegou o dia 13 de maio de 1917. meu irmão completava também por esse tempo, a idade de assentar praça na vida militar. e, como gozava de perfeita saúde, era de esperar que ficasse apurado. ademais, estava-se em guerra e era difícil conseguir livrá-lo. com o receio de ficar sem ter quem lhe cuidasse as terras, minha mãe (...) meteu empenhos com o médico da inspecção e o nosso bom deus dignou-se, por então, dar a minha mãe este alívio." [mas que dizer de um deus assim, que livra uns, por meio de ilícitos empenhos junto do médico da inspecção, e deixa que outros avancem para a tropa e para a guerra?! de resto, será muito elucidativo comparar esta alusão aos "problemas familiares", com o que a mesma lúcia escreverá, muitos anos depois, em 1989, na quinta e última memória sobre a sua família. decididamente, não parece tratar-se da mesma família!...] 9.5. "aparições de nossa senhora" "as palavras que a santíssima virgem nos disse em este dia (13 de maio de 1917) e que combinámos nunca revelar, foram: depois de nos haver dito que íamos para o céu, perguntou: quereis oferecer-vos a deus para suportar todos os sofrimentos que ele quiser enviar-vos, em acto de reparação pelos pecados com que ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores? - sim,
  • 26. queremos, foi a nossa resposta. - ides, pois, ter muito que sofrer mas a graça de deus será o vosso conforto". [de um deus assim, não há que ser vigorosamente ateu? e que senhora é esta que, em vez de estimular as pessoas a combater o sofrimento, vem catequizá-las para que sofram ainda mais?] em agosto, a "aparição" teve de ser no dia 15, nos valinhos, já que no dia 13, as crianças foram "desviadas" pelo administrador de vila nova de ourém. "a santíssima virgem recomendou-nos, de Novo, a prática da mortificação, dizendo, no fim de tudo: rezai, Rezai muito, e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vã. o muitas almas para o inferno, por não haver quem se sacrifique e peça por elas." --24- [até parece que deus é um monstro que criou o inferno e só nos livra dele se houver muitas vítimas inocentes que se imolem. É um deus intrinsecamente perverso, que só se satisfaz com sangue humano, de preferência, de crianças inocentes! que teologia está subjacente às "aparições"? uma teologia cristã é que não é!] "passados alguns dias, íamos com as nossas ovelhinhas, por um caminho, no qual encontrei um bocado duma corda dum carro. peguei nela e, brincando, atei-a a um braço. não tardei a notar que a corda me magoava. disse então para os meus primos: olhem: isto faz doer. podíamos atá-la à cinta e oferecer a deus este sacrifício. (...) este instrumento fazia-nos por vezes sofrer horrivelmente. a jacinta deixava às vezes cair algumas lágrimas com a força do incómodo que lhe causava; e, dizendo-lhe eu, algumas vezes, para a tirar, respondia: - não! quero oferecer este sacrifício a
  • 27. nosso senhor, em reparação e pela conversão dos pecadores". "assim se aproximou o dia 13 de setembro. em este dia, a santíssima virgem, depois do que tenho narrado, disse-nos: deus está contente com os vossos sacrifícios, mas não quer que durmais com a corda; trazei-a só durante o dia". da "aparição" de 13 de outubro, "as palavras que mais se me gravaram no coração foi o pedido da nossa santíssima mãe do céu: -não ofendam mais a deus nosso senhor, que já está muito ofendido. (...) tinha-se espalhado o boato que as autoridades haviam decidido fazer explodir uma bomba junto de nós, no momento da aparição. não concebi, com isso, medo algum; e falando disto a meus primos, dissemos: - mas que bom, se nos for concedida a graça de subir dali com nossa senhora para o céu! (...) em meio desta perplexidade, tive a felicidade de falar com o senhor vigário do olival. (...) sobretudo, ensinou-nos o modo de dar gosto a nosso senhor em tudo e a maneira de lhe oferecer um sem-número de pequenos sacrifícios: - se vos apetecer comer uma coisa, meus filhinhos, deixai-a e, em seu lugar, comeis outra --25- e ofereceis a deus um sacrifício; se vos apetece brincar, não brincais e ofereceis a deus outro sacrifício; se vos interrogarem e não vos puderdes escusar, é deus que assim o quer; ofereceis-lhe mais este sacrifício. (...) ele tinha,
  • 28. então, a paciência de passar a sós comigo largas horas, ensinando-me a praticar a virtude e guiando-me com os seus sábios conselhos" [!!!]. 9.6. depois das "aparições" "um dia, a jacinta dizia-me: - quem me dera que os meus pais fossem como os teus, para que esta gente também me pudesse
  • 29. bater, porque assim tinha mais sacrifícios para oferecer a nosso senhor. no entanto, ela sabia bem aproveitar as ocasiões de se mortificar. tínhamos também por costume, de vez em quando, oferecer a deus o sacrifício de passar uma novena ou um mês sem beber. fizemos uma vez este sacrifício em pleno mês de agosto em que o calor era sufocante. voltávamos, um dia, de haver ido rezar o nosso terço à cova da iria e, ao chegar junto duma lagoa, que fica à beira do caminho, diz-me a jacinta: -olha: tenho tanta sede e dói-me tanto a cabeça! vou beber uma pouquita desta água. - desta não, respondi. minha mãe não quer que bebamos daqui, porque faz mal. vamos ali pedir uma pouquita à ti maria dos anjos (...) - não! dessa água boa não quero. bebia desta, porque, em vez de oferecer a nosso senhor a sede, oferecia-lhe o sacrifício de beber desta água suja. (...) outras vezes, dizia: - nosso senhor deve estar contente com os nossos sacrifícios, porque eu tenho tanta, tanta sede! mas não quero beber; quero sofrer por seu amor." "o senhor devia comprazer-se em ver-me sofrer, pois me preparava agora um cálix bem mais amargo que dentro em pouco me dará a beber. minha mãe cai gravemente enferma (...). as minhas duas irmãs mais velhas, vendo o caso perdido, voltam junto de mim e dizem-me: - lúcia, se é certo que tu viste nossa senhora, vai agora à cova da iria, pede-lhe que cure a nossa mãe. promete-lhe o que quiseres, que o faremos; e então acreditaremos. sem me deter nem um momento, pus-me a caminho (...) rezando até
  • 30. lá o rosário. fiz à santíssima virgem o meu pedido --26- (...) e voltei para casa confortada com a esperança de que a minha querida mãe do céu me daria a saúde da da terra. (...) eu tinha prometido à santíssima virgem, se ela me concedesse o que eu lhe pedia, ir aí, durante nove dias seguidos, acompanhada de minhas irmãs, rezar o rosário e ir, de joelhos, desde o cimo da estrada até ao pé da carrasqueira; e, no último dia, levar nove crianças pobres e dar-lhes, no fim, um jantar. fomos, pois, cumprir a minha promessa, acompanhadas de minha mãe que dizia: que coisa! nossa senhora curou-me e eu parece que ainda não acredito! não sei como isto é!" [pelo que aqui escreve, lúcia teria procedido, não como "a vidente", que, noutras ocasiões, se autoapresenta a tratar com a senhora de fátima quase num tu-cá-tu-lá, mas sim como uma qualquer devota, ainda não evangelizada, da senhora de fátima. o que deixa perceber claramente que as três crianças, mais do que protagonistas de fátima, se viram progressivamente envolvidas num certo tipo de catolicismo religioso-pagão de fátima, totalmente estranho ao evangelho de jesus. duas delas, jacinta e francisco, morreram também em consequência de tudo isso. lúcia resistiu e foi promovida a "messias" deste tipo de catolicismo. quando, do que ela precisava, era de ser libertada dele quanto antes. mas, se o tivesse sido, nunca a igreja católica teria tido esta autêntica "mina de ouro" que é o santuário de fátima, nem este púlpito moralista antilibertação que é o seu altar.]
  • 31. "nosso bom deus deu-me esta consolação, mas de novo me batia à porta com outro sacrifício, nada mais pequeno. meu pai era um homem sadio, robusto, que dizia não saber que coisa era uma dor de cabeça. e, em menos de 24 horas, quase de repente, uma pneumonia dupla levava-o para a eternidade. foi tal a minha dor, que julguei morrer também." [aqui, pelos vistos, já nem a senhora de fátima lhe valeu. talvez não goste muito de homens casados, apenas dos "virgens" e dos clérigos celibatários à força] "por este tempo, a jacinta e o francisco começaram também a piorar. (...) um dia, (jacinta) deu-me a corda, de que já falei e disse-me: - toma; leva-a, antes que minha mãe a veja. --27- agora já não sou capaz de a ter à cinta. (...) esta corda tinha três nós e estava algo manchada de sangue. conservei-a escondida até saír definitivamente de casa de minha mãe. depois, não sabendo o que lhe fazer, queimei-a, com a de seu irmãozinho." o relato conta, finalmente, como foi a saída da adolescente lúcia da casa dos pais. "na verdade, quando vos vi, ex. e rev." senhor, receber-me com tanta bondade (...) interessando-vos apenas pelo bem da minha alma e prontificando-vos a tomar conta da pobre ovelhinha que o
  • 32. senhor acabava de vos confiar, fiquei, mais do que nunca, crente que v. ex." rev." tudo sabia; e não hesitei um momento em me abandonar nas vossas mãos. as condições impostas por v ex." rev." para o conseguir, para o meu natural, eram fáceis: guardar perfeito segredo de tudo que v. ex. rev." me tinha dito e ser boa. lá me fui guardando para mim o meu segredo, até ao dia em que v. ex. rev. mandou pedir o consentimento da minha mãe. (...) sem me despedir de ninguém, no dia seguinte, às duas da manhã, acompanhada de minha mãe e dum pobre trabalhador que vinha para leiria, chamado manuel correia, pus-me a caminho, levando inviolável o meu segredo. (...) chegámos a leiria, aí pelas nove horas da manhã. (...) o combóio partia às duas da tarde." [em nota, pode ler-se: "lúcia deixou aljustrel na madrugada de 16 de junho de 1921 e chegou a leiria algumas horas depois. de lá continuou a viagem até ao colégio do porto, onde chegou na manhã seguinte".] 10. terceira memória a introdução informa que esta memória foi concluída em 31 de agosto de 1941. como as anteriores, foi escrita em obediência a uma ordem do bispo de leiria. escreveu-a em tui. a temática principal que lhe sugerem volta a ser a jacinta. querem mais pormenores. se calhar, já a pensar na sua canonização por roma. e lúcia presta-se. recorre à sua memória. parece que quanto mais distante está dos factos, mais se lembra dos pormenores. ou, se não se lembra, inventa-os nos seus delírios. factos --28-
  • 33. reais, ou imaginários, que importa, se, com isso, o deus de fátima é glorificado e os "inimigos" da igreja católica são esmagados?!... eis alguns extractos. o "segredo" "bem; o segredo consta de três coisas distintas, duas das quais vou revelar. a primeira foi, pois, a vista do inferno! nossa senhora mostrou-nos um grande mar de fogo que parecia estar debaixo da terra. mergulhados em esse fogo, os demónios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras ou bronzeadas, com forma humana, que flutuavam no incêndio levadas pelas chamas que delas mesmas saíam juntamente com nuvens de fumo, caíndo para todos os lados, semelhante ao caír das faúlhas em os grandes incêndios, sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizavam e faziam estremecer de pavor. os demónios distinguiam-se por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes e negros. esta vista foi um momento, e graças à nossa boa mãe do céu, que antes nos tinha prevenido com a promessa de nos levar para o céu (na primeira aparição)! se assim não fosse, creio que teríamos morrido de susto e pavor. em seguida, levantámos os olhos para nossa senhora, que nos disse com bondade e tristeza: - vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores; para as salvar, deus quer estabelecer no mundo a devoção a meu imaculado coração. se
  • 34. fizerem o que eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz. a guerra vai acabar. mas se não deixarem de ofender a deus, no reinado de pio xi começará outra pior. quando virdes uma noite, alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que deus vos dá de que vai punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à igreja e ao santo padre. para a impedir virei pedir a consagração da rússia a meu imaculado coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. se atenderem a meus pedidos, a rússia se converterá e terão paz; senão, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à igreja; os bons serão martirizados, o santo padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas, por fim o meu imaculado coração triunfará. o santo padre --29- consagrar-me-á a rússia, que se converterá; e será concedido ao mundo algum tempo de paz." "a segunda (parte do segredo) refere-se à devoção do imaculado coração de maria. já disse, no segundo escrito, que nossa senhora, a 13 de junho de 1917, me disse que nunca me deixaria e que seu imaculado coração seria o meu refúgio e o caminho que me conduziria a deus." a propósito da aurora boreal, registada pelos astrónomos, na noite de 25 para 26 de janeiro de 1938, que lúcia tomou como o
  • 35. "sinal do céu" anunciador da 2. guerra mundial (não esqueçamos que lúcia está a escrever esta memória depois dos factos, em 1941; por isso, é fácil acertar nas previsões...), escreve no seu relato esta coisa teologicamente asquerosa: "deus serviu-se disso para me fazer compreender que a sua justiça estava prestes adescarregar o golpe sobre as nações culpadas e comecei, por isso, a pedir, com insistência, a comunhão reparadora nos primeiros sábados e a consagração da rússia. o meu fim era não só conseguir misericórdia e perdão de todo o mundo, mas em especial para a europa". mas será que deus é mais dos europeus?! 11. quarta memória a introdução esclarece que esta quarta memória foi escrita em dois cadernos. o primeiro foi concluído e enviado ao bispo (de leiria) no dia 25 de novembro de 1941. o segundo caderno estava terminado em 8 de dezembro do mesmo ano. desta vez, o que o bispo lhe manda é muito mais do que até aqui. parece que era preciso inventar coisas (ainda) mais maravilhosas. o que lúcia havia relatado antes continuava a ser insuficiente para "impor" fátima à igreja e ao mundo. vai daí, a ordem agora é: "escrever tudo o que recordasse sobre o francisco, como tinha feito para a jacinta. escrever, com mais pormenores, as aparições do anjo. uma nova história das aparições (sic). tudo o que ainda pudesse recordar sobre a jacinta. os versos profanos que cantava. ler o livro do pe. fonseca e anotar tudo o que lhe parecesse menos exacto".
  • 36. --30- o relato abre com uns preâmbulos, com um misticismo de manifesto mau gosto, que emprestam ao relato todo o ar de coisa artificial e postiça. têm, contudo, a vantagem de nos deixar perceber que o relato é mais ou menos mítico, onde o que mais terá funcionado, para a sua elaboração, foi a imaginação delirante de lúcia. eis alguns extractos. "antes de começar quis abrir o novo testamento, único livro que quero ter aqui diante de mim (...). volto ao que deus me deparou, ao abrir o novo testamento, uma carta de s. paulo aos fil 2, 5-8. (...) na verdade não sou mais que o pobre e miserável instrumento de que ele se quer servir (...)." 11. 1. "retrato do francisco" "na aparição do anjo, prostrou-se como sua irmã e eu, levado por uma força sobrenatural que a isso nos movia; mas a oração aprendeu-a, ouvindo-nos repeti-la, pois ao anjo dizia não ter ouvido nada. (...) - eu não sou capaz de estar assim (prostrado) tanto tempo como vocês. doem-me as costas tanto que não posso.(...) - gosto muito de ver o anjo; mas o pior é que, depois, não somos capazes de nada. eu nem andar podia, não sei o que tinha." depois da primeira aparição, "contámos, em seguida, ao francisco, tudo quanto nossa senhora tinha dito. e ele, manifestando o contentamento que sentia, na promessa de ir para
  • 37. o céu, cruzando as mãos sobre o peito, dizia: - Ó minha nossa senhora, terços, rezo todos quantos vós quiserdes. e, desde aí, tomou o costume de se afastar de nós, como que passeando; e, se chamava por ele e lhe perguntava que andava a fazer, levantava o braço e mostrava-me o terço. se lhe dizia que viesse brincar, que depois rezava connosco, respondia: - depois também rezo. não te lembras que nossa senhora disse que tinha de rezar muitos terços? (...) por vezes, dizia: - nossa senhora disse que íamos ter muito que sofrer! não me importo; sofro tudo quanto ela quiser! o que eu quero é ir para o céu. (...)" --31-- francisco, tu não bebeste a água-mel! a madrinha chamou tantas vezes por ti, mas não apareceste! - quando peguei no copo, lembrei-me de repente de fazer aquele sacrifício para consolar a nosso senhor e, enquanto vocês bebiam, fugi para aqui. (...)" "quando ia à escola, por vezes, ao chegar a fátima, dizia-me: olha: tu vai à escola. eu fico aqui na igreja, junto de jesus escondido. não me vale a pena aprender a ler; daqui a pouco vou para o céu. quando voltares, vem por cá chamar-me. (...)" "um dia (já francisco estava doente), ao chegar junto de sua casa, despedi-me dum grupo de crianças da escola que vinham comigo e entrei, para lhe fazer uma visita e à sua irmã. como tinha sentido o barulho, perguntou-me: - tu vinhas com todos
  • 38. esses? - vinha. - não andes com eles, que podes aprender a fazer pecados. quando saíres da escola, vai um bocado para o pé de jesus escondido e depois vem sozinha. (...)" "outro dia, ao chegar, encontrei-o muito contente. - estás melhor? - não. sinto-me muito pior. já me falta pouco para ir para o céu. lá vou consolar muito a nosso senhor e a nossa senhora (...)". "bem diferente é um facto que agora me está a lembrar. um dia, num sítio chamado a pedreira (...), ouvimo-lo gritar e chamar por nós e por nossa senhora. (...) por fim, lá demos com ele, a tremer de medo, ainda de joelhos, que, aflito, nem arte tinha para se pôr de pé. - que tens? que foi? com a voz meia sufocada pelo susto, lá disse: - era um daqueles bichos grandes, que estavam no inferno (que a senhora nos mostrou), que estava aqui a deitar lume. (...)" "um outro dia, ao saír de casa, notei que o francisco andava muito devagar. - que tens?, perguntei-lhe. parece que não podes andar! - dói-me muito a cabeça e parece que vou caír. - então não venhas; fica em casa. - não fico! quero antes ficar na igreja, com jesus escondido, enquanto tu vais à escola". --32- 11. 2. "história das aparições" nesta segunda parte, o relato adianta mais pormenores maravilhosos a propósito das "aparições do anjo". e, depois,
  • 39. passa a referir a "nova história das aparições" da senhora de fátima. com pormenores macabros. que, se fossem verdade, justificariam, só por si, o ateísmo, já que nos dão a imagem de um deus carrasco, que parece alimentar-se de sofrimento e de sangue de crianças. por este relato, temos ainda de concluir que, afinal, também no céu, as nossas senhoras são mais do que muitas. e até jesus estará lá em duplicado. por um lado, como menino com s. josé e, por outro, como homem já adulto! tanto disparate junto, nunca se viu! mesmo assim, a este e outros escritos, atribuídos à irmã lúcia, a sagrada congregação para a doutrina da fé, do cardeal ratzinger, nunca os declarou perigosos para a fé cristã. pelo contrário. até veio, há tempos, a fátima, dar a entender que o segredo de fátima é coisa para tomar a sério. francamente, senhores eclesiásticos!... atentemos, também, nos diálogos entre lúcia e a senhora de fátima. lúcia fala como se fosse sozinha. pergunta: que é que vossemecê me quer? e não, que é que vossemecê nos quer? ela é "a vidente" e "a intermediária", "a medianeira". os primitos, os ajudantes que se limitam a estar e a ouvir calados. aliás, o francisco nem sequer ouvia alguma coisa! mas que senhora de fátima tão insensível. que pecador seria o miúdo, aos olhos dela, para ser castigado por ela desta maneira!... É mesmo de bradar aos céus! eis. 13 de maio - não tenhais medo. eu não vos faço mal. - de onde é vossemecê?,
  • 40. lhe perguntei. - sou do céu. - e que é que vossemecê me quer? vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos, no dia 13 a esta mesma hora. depois vos direi quem sou e o que quero. depois voltarei ainda aqui uma sétima vez. (...) - a maria das neves já está no céu? - sim, está. parece-me que devia ter uns 16 anos. - e a amélia? - estará no purgatório até ao fim do mundo [neste caso, pelos vistos, nem a reza de muitos terços nem as missas que, porventura, mandassem --33- celebrar por ela lhe valerão de nada. mas que deus este e que mensageira de deus esta!!!]. parece-me que devia ter de 18 a 20 anos. - quereis oferecer-vos a deus para suportar todos os sofrimentos que ele quiser enviar-vos, em acto de reparação pelos pecados com que foi é é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores? - sim, queremos. - ides, pois, ter muito que sofrer, mas a graça de deus será o vosso conforto. (...) passados os primeiros momentos, nossa senhora acrescentou: -rezem o terço todos os dias, para alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra." 13 de junho - vossemecê que me quer?, perguntei. - quero que venhais aqui no dia 13 do mês que vem, que rezeis o terço todos os dias e que aprendam a ler. depois direi o que quero. pedi a cura dum doente. - se se converter, curar-se-á durante o
  • 41. ano. - queria pedir-lhe para nos levar para o céu. - sim; a jacinta e o francisco levo-os em breve. mas tu ficas cá mais algum tempo. jesus quer servir-se de ti para me fazer conhecer e amar; ele quer estabelecer no mundo a devoção a meu imaculado coração". 13 de julho - vossemecê que me quer?, perguntei. - quero que venham aqui no dia 13 do mês que vem, que continuem a rezar o terço todos os dias, em honra de nossa senhora do rosário. para obter a paz do mundo e o fim da guerra, porque só ela lhes poderá valer. [mas então não era a própria que estava ali a falar com lúcia?!] - queria pedir-lhe para nos dizer quem é, para fazer um milagre com que todos acreditem que vossemecê nos aparece. - continuem a vir aqui todos os meses. em outubro direi quem sou, o que quero e farei um milagre que todos hão-de ver, para acreditar. (...) sacrificai-vos pelos pecadores e dizei muitas vezes, em especial sempre que fizerdes algum sacrifício: Ó jesus é por vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o imaculado coração de maria." o relato prossegue com a "visão" do inferno, já divulgada anteriormente. e acrescenta mais este pormenor: "quando rezais --34- o terço, dizei, depois de cada mistério: Ó meu jesus, perdoai-nos, e livrai-nos do fogo do inferno; levai as alminhas todas para o céu, ! principalmente aquelas que mais precisarem".
  • 42. 13 de agosto - que é que vossemecê me quer? - quero que continueis a ir à cova da iria no dia 13, que continueis a rezar o terço todos os dias. no último mês, farei o milagre, para que todos acreditem. que é que vossemecê quer que se faça ao dinheiro que o povo deixa na cova da iria? - façam dois andores: um, leva-o tu com a jacinta e mais duas meninas vestidas de branco; o outro, que o leve o francisco com mais três meninos. o dinheiro dos andores é para a festa de nossa senhora do rosário e o que sobrar é para a ajuda duma capela que hão-de mandar fazer. (...) e tomando um aspecto mais triste: - rezai, rezai muito e fazei sacrifícios por os pecadores, que vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique por elas". 13 de setembro -continuem a rezar o terço, para alcançarem o fim da guerra. em outubro virá também nosso senhor, nossa senhora das dores e do carmo, s. josé com o menino jesus para abençoarem o mundo. deus está contente com os vossos sacrifícios, mas não quer que durmais com a corda; trazei-a só durante o dia. - têm-me pedido para lhe pedir muitas coisas: a cura de alguns doentes, dum surdo-mudo. - sim, alguns curarei; outros não. em outubro farei o milagre, para que todos acreditem." 13 de outubro - que é que vossemecê me quer? - quero dizer-te que façam aqui uma capela em minha honra, que sou a senhora do rosário, que continuem sempre a rezar o terço todos os dias. a guerra vai acabar e os militares voltarão em breve para suas casas. - eu
  • 43. tinha muitas coisas para lhe pedir; se curava uns doentes e se convertia uns pecadores, etc. - uns, sim; outros, não. É preciso que se emendem, que peçam perdão dos seus pecados. e tomando um ar mais triste: - não ofendam mais a deus nosso senhor que já está muito ofendido. (...) --35- desaparecida nossa senhora, na imensa distância do firmamento, vimos, ao lado do sol, s. josé com o menino e nossa senhora vestida de branco, com um manto azul. s. josé com o menino, parecia abençoar o mundo com uns gestos que fazia com a mão em forma de cruz. pouco depois, desvanecida esta aparição, vi nosso senhor e nossa senhora que me dava a ideia de ser nossa senhora das dores. nosso senhor parecia abençoar o mundo da mesma forma que s. josé. desvaneceu-se esta aparição e pareceu-me ver ainda nossa senhora do carmo." 12. quinta memória a introdução esclarece que esta memória "tem como origem um pedido do rev. reitor do santuário de fátima, mons. luciano guerra". em concreto, "pediu-se à irmã lúcia que completasse, na medida do possível, as recordações da sua infância e da vida da sua família, nomeadamente, a respeito do pai". o relato "principia com uma carta endereçada ao reitor do santuário, à maneira de prólogo, datada de 12 de fevereiro de 1989; segue-se texto datado do dia 23 do mesmo mês e ano, e a concluir, juntou-se mais uma carta do mesmo dia". eis alguns extractos. poucos. porque é um relato manifestamente
  • 44. canonizador da família, como se ela fosse uma nova sagrada família, predestinada para nela nascer a "messias" da senhora de fátima. tanta santidade e tanta bondade nem na família de nazaré. lá, pelo menos, o filho saíu dos trilhos e acabou crucificado às ordens dos chefes religiosos, a hierarquia de então. ao contrário de lúcia, que não poderia ser mais subserviente, do que foi e é, em relação à hierarquia católica. "recebi a carta de v rev.", com data de 23 de novembro de 1988, na qual me pede para eu precisar melhor a imagem de meu pai, por a que dou nas memórias resultar muito deficiente, e querer pôr na nossa casa um lugar de reflexão sobre a família. (...) as respostas ao seu questionário ficarão para depois, mas, desde já, advirto que a algumas - as que se referem às aparições - eu não posso responder sem a autorização da santa sé, a não ser que v. rev. queira pedir esta licença e a obtenha. (...) --36- a narração sobre o meu pai, vou iniciá-la, respondendo pergunta n. 16 do seu questionário. (...). o pai era de natural pacífico, condescendente e alegre; gostava de música, festas e bailes. (...) - que coisas tu ensinas à pequena! se lhe ensinasses a doutrina! então o pai dizia: - vamos lá fazer a vontade à tua mãe! e pegava-me na mãozita tão pequena, para ensinar-me a traçar na fronte, boca e peito, o sinal da cruz. depois ensinava-me a rezar o pai- nosso, ave-maria, credo, confissão, acto de contrição, mandamentos da lei de deus, etc. depois (...) voltava-se para a minha mãe e dizia: - vês? fui eu quem a
  • 45. ensinou. a mãe, sorrindo respondia: - É que és um homem muito bom! hás-de continuar sempre assim! o pai respondia: - deu-me deus a melhor mulher do mundo! isto fazia-me crer que a mãe era a melhor do mundo e, quando vinham as outras crianças para o nosso pátio brincar comigo, eu perguntava-lhes: - a tua mãe é boa? a minha é a melhor do mundo! (depois das aparições), por motivo de um rebuliço que houve na freguesia contra o pároco, no qual meu pai não quis meter-se, mas que lhe fez muito má impressão, deixou por isso de comparecer à desobriga como costumava e afastou-se do pároco, deixando de confessar-se com ele. mas não se afastou da igreja: continuou a ir todos os domingos e dias santos de preceito à santa missa. ia, de vez em quando, a vila nova de ourém confessar-se (...)." 13. apêndices dos dois apêndices, apenas alguns extractos do primeiro, já que o segundo a própria introdução reconhece ser um texto transcrito, "directa e literalmente, dos apontamentos da vidente", pelo director espiritual de lúcia, em 1929, o pe. jesuíta josé bernardo gonçalves. a introdução diz que o texto "é um documento escrito pela irmã lúcia, em fins de 1927, por ordem do seu director espiritual, o rev. aparício, e acrescenta este pormenor: "pouco tempo depois de ter tido esta aparição, no dia 10 de dezembro de 1925, na sua cela, redigiu um primeiro escrito que foi destruído pela própria irmã lúcia. este documento constitui, portanto, a
  • 46. --37- segunda redacção, exactamente igual à primeira; apenas lhe acrescentou o parágrafo introdutório referente à data de 17 de dezembro de 1927. nele, a vidente explica como recebeu autorização do céu, para dar a conhecer parte do segredo. a introdução adianta ainda: "a este documento chamamos: texto da grande promessa do coração de maria". efectivamente, é expressão da misericordiosa e gratuita vontade divina, dando-nos um meio de salvação fácil e seguro, visto que se apoia na tradição católica mais sã, sobre a eficácia salvadora da intercessão mariana. e termina com este naco de prosa teológica, absolutamente incrível, à luz do evangelho de jesus: "neste texto, podem ler-se as condições necessárias para corresponder ao apelo dos cinco primeiros sábados do mês, em reparação das injúrias feitas ao coração de maria. e não pode esquecer-se nunca a sua intenção mais profunda: a reparação ao coração de maria". o texto abre assim: "no dia 17-12-1927, (lúcia) foi junto do sacrário perguntar a jesus como satisfaria o pedido que lhe era feito, se a origem da devoção ao imaculado coração de maria estava encerrada no segredo que a ss. virgem lhe tinha confiado. jesus, com voz clara, fez-lhe ouvir estas palavras: - minha filha, escreve o que te pedem; e tudo o que te revelou a ss. virgem, na aparição em que falou desta devoção, escreve-o também; quanto ao resto do segredo, continua o silêncio".
  • 47. mais adiante: "dia 10-12-1925, apareceu-lhe (à lúcia) a ss. virgem e, ao lado, suspenso em uma nuvem luminosa, um menino. a ss. virgem, pondo-lhe no ombro a mão e mostrando, ao mesmo tempo, um coração que tinha na outra mão, cercado de espinhos. ao mesmo tempo, disse o menino: - tem pena do coração de tua ss. mãe, que está coberto de espinhos que os homens ingratos a todos os momentos lhe cravam, sem haver quem faça um acto de reparação para os tirar. em seguida, disse a ss. virgem: - olha, minha filha, o meu coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todos os momentos me cravam, com --38- blasfémias e ingratidões. tu, ao menos, vê de me consolar e diz que todos aqueles que durante cinco meses, ao primeiro sábado, se confessarem, recebendo a sagrada comunhão, rezarem um terço e me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 mistérios do rosário, com o fim de me desagravar, eu prometo assistir-lhes, na hora da morte, com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas. no dia 15-2-1926, apareceu-lhe, de novo, o menino jesus. perguntou se já tinha espalhado a devoção a sua ss. mãe. ela expôs-lhe as dificuldades que tinha o confessor e que a madre superiora estava pronta a propagá-la, mas que o confessor tinha dito que ela, só, nada podia. jesus respondeu: É verdade que a tua superiora, só, nada pode, mas, com a minha graça, pode tudo.
  • 48. apresentou a jesus a dificuldade que tinham algumas pessoas em se confessar ao sábado e pediu para ser válida a confissão de oito dias. jesus respondeu: - sim, pode ser de muitos mais ainda, contanto que, quando me receberem, estejam em graça e que tenham a intenção de desagravar o imaculado coração de maria. ela perguntou: - meu jesus, e as que se esquecerem de formar essa intenção? jesus respondeu: - podem formá-la na outra confissão seguinte, aproveitando a primeira ocasião que tiverem de se confessar." e, já agora, saboreiem mais este naco de prosa e digam lá se alguém pode tomar a sério o que lúcia tem andado a dizer desde criança: "no dia 15 (de fevereiro de 1926) andava eu muito ocupada com o meu ofício e quase nem disso me lembrava. e indo eu deitar um apanhador de lixo fora do quintal, onde, alguns meses atrasados, tinha encontrado uma criança, à qual tinha perguntado se ela sabia a ave-maria e, respondendo-me que sim, lhe mandei que a dissesse, para eu ouvir. mas, como ela não se resolvia a dizê-la só, disse-a eu com ela, três vezes; e, ao fim das três ave-marias, pedi-lhe que a dissesse só. mas, como ela se calou e não foi capaz de dizer, só, a ave-maria, perguntei-lhe se ela sabia qual era a igreja de santa maria. respondeu-me que sim. disse-lhe que fosse lá todos os dias e que dissesse assim: Ó minha mãe do
  • 49. --39- céu, dai-me o vosso menino jesus! ensinei-lhe isto e vim-me embora. no dia 15-2-1926, voltando eu lá, como é de costume, encontrei ali uma criança que me parecia ser a mesma e perguntei-lhe então: - tens pedido o menino jesus à mãe do céu? a criança volta-se para mim e diz: - e tu tens espalhado, pelo mundo, aquilo que a mãe do céu te pediu? e, nisto, transforma-se num menino resplandecente. conhecendo então que era jesus, disse: meu jesus! vós bem sabeis o que o meu confessor me disse na carta que vos li. dizia que era preciso que aquela visão se repetisse, que houvesse factos para que ela fosse acreditada, e a madre superiora, só, a espalhar este facto, nada podia. - É verdade que a madre superiora, só, nada pode; mas, com a minha graça, pode tudo. e basta que o teu confessor te dê licença e a tua superiora o diga, para que seja acreditado, até sem se saber a quem foi revelado. - mas o meu confessor dizia na carta que esta devoção não fazia falta no mundo, porque já havia muitas almas que vos recebiam, aus primeiros sábados, em honra de nossa senhora e dos 15 mistérios do rosário. - É verdade, minha filha, que muitas almas os começam, mas
  • 50. poucas os acabam e as que os terminam é com o fim de receberem as graças que aí estão prometidas; e me agradam mais as que fizerem os cinco com fervor e com o fim de desagravar o coração da tua mãe do céu, que as que fizerem os 15, frios e indiferentes..." comentários, para quê?! É isto fátima, mai la sua senhora. o descrédito do cristianismo e da igreja. a nossa vergonha! por isso digo com redobrada convicção: fátima nunca mais! nota: os capítulos que se seguem são textos sucessivamente escritos e publicados no jornal "fraternizar", ao longo dos últimos anos. ao lê-los, um após outro, facilmente se percebe que há um crescendo na minha consciência acerca da perversidade de fátima. por isso tudo desagua no capítulo final, titulado: "fátima: a grande ilusão". --40- 2 no outro lado de fátima iii , à procura de maria de nazaré "olhei para si e lembrei-me de nossa senhora!" foi assim que o jornal fraternizar fez parar, em pleno caminho, a senhora alda alves correia, residente há 32 anos, no lugar da moita de cima, freguesia de fátima. caminhava devagar carrego à cabeça, em direcção a casa, num dos primeiros dias de abril passado. foi como se, de repente, víssemos maria de nazaré, em carne e osso. era à procura dela que andávamvs, à semelhança do sábio da
  • 51. antiguidade, de quem se conta que, um dia, de lanterna na mão, em pleno dia, dizia andar à procura de um homem. propositadamente, não fomos por ela, nem na capelinha das aparições, nem no santuário, erguido em sua honra. deixamo-nos guiar pelo espírito. e ele levou-nos para a moita de cima. quando nos cruzámos com esta mulher, primeiro, passámos adiante. mas logo o espírito nos fez correr atrás, ao seu encontro. se queríamos estar com maria, em fátima, ela estava ali à mão de semear, carrego à cabeça, pobremente vestida, corpo de muito trabalhar, mulher simplesmente. uma barbaridade assustou-se a senhora alda, com as palavras com que a saudámos. e disse, naquele jeito dos pobres, "credo!". mas logo se tornou acolhedora. atirou o carrego ao chão e falou sobre fátima e a vida do seu povo, aquele que, como maria de nazaré, tem sabido resistir à sedução da riqueza e continua a manter-se pobre, como ela. --41- "vivo de andar a trabalhar. como a gente precisa de trabalhar, não tem vagar para apreciar certas coisas. ir às peregrinações de cada mês? não costumo ir, porque tenho de trabalhar. e mesmo o pessoal de cá é raro, só se for no inverno; de contrário, vivem do comércio, não assistem a nada disso, para atenderem os peregrinos nas lojas." a senhora alda tem dois filhos emigrantes na suíça e mais três cá, um trabalha nas obras, outro é deficiente e o mais novo frequenta as aulas no colégio dos padres. veio de castelo de
  • 52. paiva para fátima. trabalhar. "a pessoa trabalha muito e quase não ganha para comer. faço de tudo, só da parte de tarde. de manhã, tenho de fazer o comer para os filhos. as minhas mãos agarram-se a tudo. vim para cá trabalhar e cá fiquei." - e como vê nossa senhora no meio de tudo isto? - eu acho cá para mim que isto é uma barbaridade, porque vêm estas pessoas com as suas promessas e, aqui, muitos só não lhes tiram o calçado, nem a roupa que trazem vestida, porque não podem. aluga-se uma cama por dois, três contos, acho isso uma barbaridade. precisou depois: "há muitos que vêm a pé, durante oito dias, até um mÊs, chegam cá, então é que o dinheiro se vai. não acho isto bem. está bem que vivessem, explorassem, até, mas nem tanto. eu acho demasiado. perante nossa senhora, eu, cá no meu conhecimento, acho que isto não deve estar certo. aconteceu, noutros tempos, que eu deixei dormir em colchões no chão, mas não levava nada, aceitava o que me quisessem dar. assim, como agora fazem, até tiram a fé às pessoas". "nunca andei na escola" a senhora alda lá voltou a colocar o carrego à cabeça, rumo a casa. como maria de nazaré, outrora, terá feito. como sempre têm feito os pobres, através dos tempos. mas nós, que com ela havíamos estado, é que já sentíamos o nosso coração mais aquecido, confortado. a verdade sempre nos deixa assim, quando nos deixamos encontrar por ela. --42-
  • 53. mais adiante, lá estava à porta outra mulher. e o espírito fez-nos ir até ela, corpo já carregado de anos, dois carros deles, pois nasceu em 1909. rosário é o seu nome. criada de servir era a sua condição, ao tempo das chamadas aparições. mas também companheira de lúcia, na doutrina e missa aos domingos. "nunca andei na escola. andei a servir até casar. a minha vida não se alterou com isto de fátima. ganhava pouquinho, era só o que queriam dar. filhos? tenho sim, mas são emigrantes." fala, depois, do ano de 1917. "tinha oito anos e já andava a servir. vinham as pessoas a correr para fátima, apanhavam arregaçadas de ramos de azinheira e levavam para fazer chá. dizia-se que curava doenças. também havia muitas perseguições. vinha a cavalaria para correr com essas pessoas para fora. as pessoas abalavam, mas vinham logo outra vez. e as crianças (pastorinhos) andavam ao colo das pessoas. mas a nossa senhora nunca a vi." terrenos que valem milhões o nosso jornal tinha ouvido dizer que, hoje, há pessoas de fátima que choram, por terem vendido quase ao preço da chuva os terrenos que, agora, valem uma fortuna. pusemos a questão à senhora rosário. "hoje, é quase tudo dos padres e das freiras." riu-se, com olhos marotos, ao dizer isto. e prosseguiu: "os nossos, de cá, não compravam, porque não tinham posses. mal dava para sustentar a família. e vendiam o que tinham. os pobres foram afastados das
  • 54. terras e, agora, é essa gente grande que vem de fora que se governa..." no mesmo sentido, pronunciou-se o ancião, josé dos reis, corpo alquebrado pela doença, e que o nosso jornal foi encontrar a viver sozinho, no seus 75 anos, numa casa pequenina e pobre, também na moita de cima. "ui! credo!", começou por dizer, a propósito do preço dos terrenos, ontem e hoje. "o meu pai - contou - vendeu lá um terreno por 16 contos, era muito grande e hoje vale milhões." --43- mas as suas palavras, poucas, iam insistentemente quase todas para a doença que o ataca e para a solidão-abandono em que vive todos os dias. porque, conforme testemunhou o nosso jornal confirmou depois junto de outras fontes, na freguesia de fátima, ainda não funciona um serviço de apoio a idosos e acamados ao domicílio! outra barbaridade, poderia dizer a senhora alda, numa tradução actualizada do cântico do magnificat, posto pelo evangelho de lucas na boca de maria de nazaré. disfarçada de pedinte o espírito colocou outra mulher no nosso caminho, outro corpo a fazer lembrar maria, a pobre de nazaré, capaz de alegria, por descobrir que deus, ao contrário do que muitos pretendem fazer crer à gente, só o é, na medida em que está activamente solidário com os pobres do mundo. de outro jeito, não seria
  • 55. deus, mas um faraó, ou uma multinacional do nosso tempo. desta vez, eis que nossa senhora se nos apresenta disfarçada de pedinte, ali mesmo à saída do terreno, propriedade do santuário, da banda sul. o terreno que, outrora, antes de 1917, foi das famílias pobres de fátima, antes de elas o terem vendido por dez réis de mel coado. parámos. e o espírito disse: procurais maria de nazaré? ei-la nesta mulher pobre! sentimos sagrado aquele corpo, de 82 anos, mão estendida, boca habituada a pronunciar as palavras da esmola. não havia raios de sol, nem frondosas azinheiras, nesta aparição de maria. mas que era ela, era, naquele corpo trémulo, suplicante. "o meu nome? chamo-me maria da glória, dê-me uma esmolinha!" estremecemos de comoção. maria, a pobre de nazaré, é também esta mulher. infinitamente desafiadora. porque ela é todas as mulheres e homens empobrecidos à força. infinitamente desafiadores. pedintes de uma terra outra, de um mundo outro, uma terra de pobres sem pobreza, de companheiros, numa palavra, uma terra de fraternidade. no passado dela, lá está, ainda vivo, o ano de 1917. "sim, falei com a lúcia, tinha eu então dez anos. aqui era só mato, hoje, está tudo muito mudado." --44- mas lá está, mais vivo ainda do que esta recordação da infância,
  • 56. o calvário imposto por uma sociedade edificada sem o jeito de maria: "tive de ir servir, desde os sete anos, e nunca aprendi a ler nem a escrever." eis! a epopeia dos pobres que nunca enriquecem, porque nunca se atrevem a explorar seja quem for! mas também o drama duma vida inteira a pedir para sobreviver, só porque sempre tem havido quem faça tudo, mesmo explorar os mais débeis, para enriquecer, em vez de tudo fazer para que floresça uma terra de justiça. daí a conclusão, ao mesmo tempo espantosa e confiante, da senhora maria da glória: "temos de ir indo, até que nosso senhor nos chame". e chamará, porque os pobres assim, que nunca enriquecem, são misteriosamente também parte sua, corpo seu, são ele mesmo, o filho colectivo de maria, juiz da história (cf. mt 25, 31-46). --45- 3 irmãzinhas de jesus: com elas entendemos melhor maria de nazaré e o evangelho dos pobres, quase não se dá por elas e, no entanto, elas são na sociedade como os pulmões para o corpo. autodefinem-se "contemplativas no meio do mundo" e vivem em pequenas fraternidades, vestidas daquela simplicidade que caracteriza os pobres, os quais, na sua espantosa sabedoria, sempre recusam seguir o exemplo dos ricos e grandes deste mundo e, em vez disso, teimosamente, preferem a prática dos mil e um pequenos-grandes gestos diários da solidariedade sem reservas. quem alguma vez as encontrou, depois sempre se há-de lembrar delas, as irmãzinhas de jesus, como,
  • 57. infalivelmente, se apresentam em qualquer dos 60 países do mundo, onde hoje habitam. fomos respirar com elas em fátima e assim melhor escutar e entender a vida e, sobretudo, o que maria de nazaré ainda agora andará a querer dizer aos homens e mulheres, também aos homens e mulheres que fazem a igreja em portugal e que, em fátima, estão tão visivelmente presentes - pelo menos, nas 45 casas de institutos religiosos femininos e nos 13 institutos religiosos masculinos lá existentes, a acreditar na estimativa de um irmão de s. joão de deus. gente de vida dura impressionam qualquer pessoa os milhares de peregrinos que, de maio a outubro, deixam as suas casas e vão a pé, estrada fora, rumo à montanha de fátima. não procuram o alto do monte. têm fome de encontro, daquele tipo de encontro que retempera --47- a vida dura de todos os dias e nos deixa mais aptos a prosseguir, apesar das contrariedades de toda a ordem, nomeadamente, as resultantes de políticas que, em vez de concretizarem projectos de vida para todos, apenas favorecem os interesses de alguns. impressionam os gestos que muitos assumem, em cumprimento de promessas que os ricos e os tidos por cultos habitualmente não fazem, mas que os pobres, de geração em geração, continuam a
  • 58. realizar, mesmo à revelia das orientações das igrejas institucionais e dos seus mais altos dirigentes, o clero. que tem maria de nazaré a ver com isto? o que pensam de tudo isto as irmãzinhas de jesus, há mais de 30 anos, em fátima, elas que, cada mês, lá estão no serviço de acolhimento aos peregrinos, com a mesma ternura que teriam pelo próprio jesus? "respiramos maria nos próprios peregrinos, na simplicidade e na fé deles. acreditar é ver para além do que se vê. vemo-los chegar e expressar a fé de maneira diferente da que, por vezes, gostaríamos de ver. mas não há dúvida de que lá está a fé. pode chocar a gente, mas aquilo vem do fundo do coração das pessoas e merece-nos muito respeito." recordam que se trata de "gente que está habituada a uma vida dura e sente necessidade de traduzir com o próprio corpo a sua experiência do divino". como quem diz: os pobres, também nestas alturas, falam. a linguagem com que sempre comunicam a sua experiência, o que vivem, no mais fundo deles mesmos. um caso exemplar contam depois ao nosso jornal alguns casos que mais as impressionam. entre estes, o caso daquela mulher, visivelmente empobrecida, a quem um padre tentava convencer a guardar o dinheiro que havia prometido a nossa senhora, com o argumento de que lhe faria falta, lá em casa. e a reacção, imediata e impressionante, que deixa qualquer um sem fala: "o senhor padre só aceita dinheiro dos ricos? pois este dinheiro é para nossa senhora e não será para mais nada". mesmo à distância, no tempo, o impacto do relato deste caso foi tão grande, que nos deixou, por momentos, sem fala. só algum
  • 59. tempo depois, ousámos balbuciar um comentário. e foi este: que --48- responsabilidade, então, a daqueles que receberem um dinheiro entregue com esta força, com esta generosidade, com este despojamento e também com este destino! outro comentário não nos ocorreu, de momento. seria mais tarde, já depois de termos deixado a casa das irmãzinhas, mas bem na comunhão contemplativa com elas, que percebemos a violência deste "evangelho" que os pobres sempre vivem e proclamam, na eloquência dos gestos desta natureza. um evangelho que até nós, os cristãos e respectivas igrejas, corremos o risco de continuar a não captar e, por isso, também a não viver. aqui o formulamos, então, para que muitos e muitas de nós beneficiemos e mudemos de vida. eis: felizes os que, como os pobres, se despojam de tudo, até do que lhes pode fazer falta. felizes os que sabem ser e fazer como aquela pobre viúva, louvada por jesus, que, no templo de jerusalém, deu tudo o que possuía, ao contrário de outros que, embora dessem mais, davam apenas do que lhes sobejava. mas ai de quem se aproveita do produto deste despojamento dos pobres e concebe e realiza projectos de acumulação, de enriquecimento, de grandeza, de aumento do património, de construção de palácios que têm mais a ver com a vaidade dos grandes deste mundo, do que com as preocupações e os anseios de
  • 60. maria, nossa senhora. ai daquele que, diante do despojamento dos pobres, não lhe captou o apelo a despojar-se de igual jeito, para que, assim, a vida possa ser cada vez em maior abundância em todos, a partir dos próprios pobres que tão generosamente se despojaram. o maior milagre foi, porém, mais longe a revelação que ao nosso jornal foi dado ouvir, horas depois de termos saído de junto das irmãzinhas. eis o que ouvimos: não é em vão que, desde há anos, o nome de maria é pronunciado em fátima, e cantado e chorado por milhares e milhares de pobres. não é em vão que estes, com uma persistência a toda a prova, continuam a despojar-se até do que lhes faz falta. --49- não é em vão que este "evangelho dos pobres" é teimosamente praticado e mostrado por muitos deles, em gestos e atitudes que os bem-pensantes têm por "primitivos" e "bárbaros". quem sabe se, com tudo isto, não estará a chegar a hora de muitos dos que, um dia, escolheram fátima para morar, nomeadamente, as congregações religiosas femininas e masculinas, assim como os bispos e todo o clero que regularmente lá se deslocam de maio a outubro? não estarão à beira de captar este evangelho para o praticarem como já os pobres fazem? quem sabe
  • 61. se as congregações religiosas não acabarão por converter-se aos pobres contra a pobreza, não acabarão por despojar-se como os pobres de todos os bens, até ficarem reduzidos ao essencial? quem sabe se não acabarão por perceber que, como os pobres, devem despojar-se de todo o património que acumularam, também em fátima, a partir de terrenos comprados ao desbarato? quem sabe se não estão para concluir, aliás, em coerência com o voto de pobreza que fazem, que devem restituir e partilhar tudo o que possuem, para que a vida, finalmente, seja em abundância para todos? um sonho? não, antes o maior milagre que maria de nazaré, a mãe dos pobres, deseja realizar em fátima e que, quando deixarmos que aconteça, bem poderá mudar a face de portugal e do mundo. --50- 4 fátima: privilégio ou responsabilidade? É uma responsabilidade. mas nós, os portugueses em geral e a igreja em especial, temos olhado para fátima como um privilégio. e, levados por um impulso egoísta que, à partida pode inquinar os melhores projectos e os melhores ideais, comportamo-nos, perante fátima e perante aquela que, desde 1917, aprendemos, mundialmente, a chamar "senhora de fátima", como crianças
  • 62. mimadas. quase sempre pensamos nela, não para sermos como ela, mas para nosso próprio proveito. e a prova é que a momtanha de fátima tem sido simultaneamente uma montanha de pedidos de todo o género, de cunhas, e comércio com o divino, de desenfreada exploração do próximo, de discursos eclesiásticos esvaziados de evangelho libertador, de orações sem espírito, de promessas, as mais bizarras e exóticas, com muito de degradação moral e espiritual, onde multidões e multídões, enganadas e iludidas, acorrem a deixar muitas das suas parcas economias, ou mesmo todas as suas parcas economias, na expectativa de serem curadas, ou, ao menos, aliviadas de males que está nas mãos de todos nós remediar, mediante uma inteligente e aturada acção política libertadora e humanizadora a desenvolver nas diversas áreas que fazem a nossa vida individual e colectiva, nomeadamente, as áreas da saúde, da educação, da habitação, do trabalho, do ambiente e, sobretudo, da economia. e assim, depois de 75 anos de existência de fátima, não se pode dizer que todos tenhamos crescido mais em humanidade, que estamos todos, hoje, mais libertos e responsáveis, que somos mais criadores de fraternidade, que já não sabemos outra coisa --51-
  • 63. que ser solidários, numa terra feita por nós cada vez mais à imagem e semelhança de maria, que um dia nos "apareceu", na sua qualidade de mãe e de discípula plenamente conseguida de jesus de nazaré, e também na sua qualidade de única criatura em quem, até hoje, o deus da vida e da fraternidade melhor se reviu como pai-mãe que é, ou seja, gerador e criador de seres que, livre e festivamente, se descobrem, uns perante os outros e uns com os outros, como irmãos, companheiros de jornada, amigos de peito. fátima, infelizmente, tem sido para os portugueses e para o mundo em geral, e para a igreja católica, em particular, mais pedra de tropeço do que graça. temos tropeçado nela e feito muitos outros, do país e do estrangeiro, tropeçar também. a exemplo do que historicamente aconteceu, outrora, com outro povo que, por ter sido "visitado" pelo deus da vida e da fraternidade, logo se pensou, levado pelo egoísmo - sempre redutor do homem/mulher e dos povos em quem assenta arraiais -, que era o único que o tinha sido e, por isso mesmo, também logo se pensou "eleito" relativamente aos outros povos que o não seriam, e a si mesmo passou, até, a chamar-se "povo de deus", como se os restantes povos da terra o não fossem também. É sabido como, ao fim de pouco tempo, já se sentia um povo orgulhoso do seu grandioso templo em jerusalém (uma espécie de fátima de então), construído por suas próprias mãos, mas à revelia desse mesmo deus que, entretanto, quando "apareceu" a abraão e a moisés (cada povo tem também os seus e, se calhar, a maior parte ainda nem deu por isso, tão dominados todos temos sido pelo que sempre se teve na conta de "eleito", judeu primeiro, eclesiástico depois), fê-lo, não em templos levantados
  • 64. por mão humana, mas nos sítios mais profanos, onde a vida está a acontecer e, sobretudo, onde a vida corre perigo. ou ele não fosse o deus da vida e do amor, o deus pai-mãe, gerador e criador de fraternidade. fátima é uma responsabilidade, mas nós apressamo-nos a fazer dela um privilégio. apressamo-nos a pensar que, a partir da "aparição" de maria, todos os nossos problemas estavam --52- resolvidos. para todas as dificuldades, individuais e colectivas, tínhamos, ali, à mão, a "senhora de fátima", a quem sempre poderíamos recorrer, com quem sempre poderíamos negociar. os governantes do país, nomeadamente, ao tempo da guerra colonial, aproveitaram-se dela, para justificar o que é sempre injustificável, como é toda e qualquer guerra. e os governantes de hoje também não perdem oportunidades de "aparecerem" por lá, nos momentos de mais gente, em hipócritas e repugnantes atitudes de devoção mariana, eles que, entretanto, fazem da política uma actividade ao contrário da "política" do deus de maria, pois possibilitam que os ricos sejam cada vez mais ricos e os pobres sejam cada vez mais despojados dos bens indispensáveis à vida, e possibilitam que os poderosos reforcem o "peso" nacional e internacional das suas multinacionais, enquanto os pequenos são obrigados a permanecer no medo e na humilhação, mediante o recurso à repressão policial e à publicação-aplicação de leis
  • 65. injustas. também a igreja em portugal tem vivido à sombra de fátima. e a prova é que quase se tem limitado a ser uma empresa de serviços religiosos, apoiada por um enorme e, ainda por cima, generoso corpo de funcionários, e facilmente se dispensa do que lhe é específico, ou seja, anunciar o evangelho da libertação e, desse jeito, qual parteira, ajudar a dar à luz pequenas comunidades-fraternidades de serviço libertador a favor do resto da humanidade. pensa que tem do seu lado a "senhora de fátima" e isso lhe basta. mesmo que não faça mais nada, que se limite a manter, ali, na montanha de fátima, aquele "altar do mundo", é garantido que as multidões, famintas de pão e de dignidade, de saúde e de justiça, de trabalho e de participação, de estabilidade e de paz, sempre correrão para ela, mesmo que, entretanto, estruturem as suas vidas à revelia dos valores alternativos do evangelho de jesus que, aliás, quase fazem gala de nem conhecer. É tempo de todos acordarmos. porque, se maria, mãe de jesus e de todos os empobrecidos e humilhados e crucificados do mundo, "apareceu" em fátima, não foi para, egoistamente, nos --53- aproveitarmos dela, mas para nos tornarmos, cada vez mais, homens e mulheres libertos como ela, subversivos como ela, ousados como ela, intervenientes e participativos como ela, criadores de fraternidade e de solidariedade como ela, em vez de, idolatricamente, nos plantarmos de rastos diante dela, a
  • 66. fazê-la crescer a ela, à custa de nos diminuirmos a nós. porque a glória de deus, do deus da vida e da fraternidade, é que o homem/mulher e os povos vivam! e não pode ser outra a glória de maria, a "senhora de fátima". --54- 5 não será que também fátima precisa de se converter ao evangelho de jesus? completam-se, este mês de maio, 75 anos sobre as chamadas aparições de fátima. com o desmantelamento da urss e a subsequente "conversão" da rússia à nato e às multinacionais do dinheiro que, hoje, se movimentam à vontade no seio da comunidade europeia e noutras zonas do globo, parece que fátima deveria encerrar as suas portas. porque, como se sabe, ela nasceu sob o signo do anticomunismo e, durante estes 75 anos, sempre apostou na "conversão da rússia", para que ela não continuasse a espalhar os seus "males" pelo mundo. e estranhamente, ou talvez não, sempre se esqueceu do capitalismo, apesar de ele ser, à luz do evangelho de jesus, intrinsecamente perverso e, neste momento, ser, até, o principal responsável pela degradação da natureza e do meio ambiente, e o assassino, pela fome e por doenças facilmente curáveis, de muitos milhões de pessoas empobrecidas, em cada ano. mas não é isso que está para acontecer.
  • 67. pelo contrário. fátima prepara-se para prosseguir. agora, já não com a bandeira do anticomunismo, mas com a da paz. e a prova disso é o congresso internacional que decorrerá, entre os dias 8 e 12 deste mês, promovido pelo santuário, e cuja organização foi confiada à faculdade de teologia da universidade católica portuguesa. um congresso - "fátima e a paz" - que vai trazer à serra d'aire, especialistas reconhecidos, entre os quais, o sempre tido como "bispo vermelho" hélder câmara, o teólogo da libertação josé comblin e o prof. jean ladrière, da universidade de lovaina. o jornal fraternizar não quis deixar passar em claro esta data. e marcou encontro com o padre dominicano, frei bento domingues, 57 anos de idade, autor, entre outras obras, do livro "a religião dos portugueses", onde o fenómeno fátima é também dissecado. colocou-lhe algumas questões, polémicas, entre muitas possíveis. e registou a sua reflexão. frei bento, na conversa que, durante quase duas horas, manteve com o jornal fraternizar, não teve a preocupação de responder às questões, uma por uma. muito menos cuidou em esgotar o assunto. também formulou algumas outras, que ele próprio transporta consigo e falou, até, da existência de dois volumes, já publicados por um confrade seu, o pe. joão de oliveira, feitos imagine- se! - só de perguntas, à volta do fenómeno fátima. tão "embrulhado" ele se mantém, ao fim destes 75 anos! as perguntas que formulámos ao frei bento aqui ficam. para que também os leitores e leitoras se enfrentem com elas. porque,
  • 68. também neste particular, se calhar, valem mais umas quantas perguntas, do que muitas respostas. de resto, do que é preciso é que a gente se habitue a pensar. e perca de vez o medo de o fazer em voz alta. até porque quem vive subjugado pelo medo, ainda não é homem/mulher. muito menos cristão. ou não fosse verdade que foi para a liberdade que cristo nos libertou (gálatas 5, 1). também e, sobretudo, para nos libertar do medo! perguntas pertinentes 1. fátima e a paz. fica a impressão de que a paz no mundo está, desde há 75 anos, dependente, não da prática da justiça, mas da reza de muitos terços. se rezarem, há paz. se não rezarem, haverá guerra. são assim as coisas, à luz da revelação bíblico-cristã? 2. ainda fátima e a paz. aconteceu a guerra do golfo, curta no tempo, mas terrível na execução e nas consequências. foi uma guerra total. e muitos milhões e milhões de terços se têm rezado em fátima e por esse mundo fora. em que ficamos? --56- 3. aparições. será que houve aparições de verdade? os fenómenos da parapsicologia não explicam a experiência religiosa por que terão passado as três crianças de fátima? a pregação assustadora e de cores dantescas que os padres faziam nas chamadas missões populares, pelas paróquias do país, não podem ter impressionado
  • 69. tanto as crianças, que elas acabaram por ver e ouvir tudo aquilo que viam e ouviam, quando ouviam os pregadores, ou o próprio pároco, na missa dominical e na catequese? 4. a mensagem transmitida. está conforme à boa nova libertadora de jesus, ou tem mais a ver com a pregação de joão baptista e do antigo testamento? e aquele "rezai pela conversão dos pecadores" é evangélico? não é sobretudo moralista e farisaico, enquanto pressupõe que os pecadores são sempre os outros? e o mote "oração e penitência" tem alguma coisa a ver com o essencial do kerigmn proclamado por jesus e pelas primeiras comunidades cristãs? tem alguma coisa a ver por exemplo, com a proclamação de jesus, na sinagoga de nazaré, do ano da graça do senhor, e com a metanoia (mudança) provocada pelo feliz anúncio de que o reino de deus já está entre nós? 5. senhora de fátima. a senhora de fátima ainda será maria de nazaré, tal como as narrativas evangélicas nos falam dela e que, concretamente, o evangelho de lucas nos deixa perceber, naquele subversivo cântico do magnificct, posto nos lábios dela? 6. o deus de fátima. É o deus pai-mãe, revelado por jesus de nazaré e cantado por maria? não andaremos todos a laborar num grande equívoco? 7. ainda as aparições. não serão uma hábil montagem pastoral, uma espécie de parábola pastoral da época, bem ao gosto popular, com a finalidade de, através dela, catequizar uma população que, de outro modo, não o chegaria a ser? não é assim uma espécie de missão popular concreta em acção, ou, como hoje se diz, uma
  • 70. dramatização? 8. fátima, hoje. não será que todo aquele negócio, toda aquela religiosidade, todo aquele dolorismo, toda aquela febre de --57- milagrisnu, todas aquelas idas a pé, todo aquele andar de rastos, todas aquelas velas a arder, dia e noite, no crematório, todo aquele dinheiro que se junta e que ninguém sabe quanto é e para que é, todo aquele secretismo-, não têm mais a ver com o templo-banco de jerusalém, no tempo de jesus de nazaré, e que ele combateu até à morte, do que com a boa nova libertadora que ele anunciou aos pobres e realizou na pessoa deles? 9. fátima e a rússia. agora que não há mais urss e que o comunismo internacional parece ter-se convertido ao capitalismo que futuro para fátima? 10. fátima e a igreja. que balanço, ao fim de todos estes anos, do modelo moralista e anticomunista de igreja que fátima veiculou? positivo? negativo? contribuiu para a libertação do nosso povo, ou oprimiu? favoreceu o desenvolvimento do reino de deus, aqui, ou foi, está a ser, mais pedra de tropeço? não será que também fátima precisa de se converter ao evangelho de libertação de jesus? 11. lúcia é a única sobrevivente das três crianças de fátima. as outras duas morreram antes de tempo. É caso para dizer que nem a senhora de fátima lhes valeu. ela, a quem, mensalmente, muitas