1. O documento apresenta um perfil biográfico do professor José Coelho Sobrinho, destacando sua trajetória acadêmica e profissional, desde quando trabalhou em contabilidade até se tornar professor da Universidade de São Paulo.
2. Coelho defende o uso dos meios de comunicação na educação para formação de cidadãos com leitura crítica, e lutou por mudanças no currículo do curso de jornalismo da USP para assegurar qualidade de ensino aos alunos do período noturno.
3.
Sistema de Bibliotecas UCS - A descoberta da terra
José coelho sobrinho
1. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - Escola de Comunicações e Artes
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação
Área: Interfaces Sociais da Comunicação
Linha: Educomunicação
Disciplina: Educomunicação – Fundamentos, Áreas e Metodologias
Prof. Dr. Ismar de Oliveira Soares
Um educador que defende o ensino centrado no educando
Autora
Neide Arruda
Sumário
1. Introdução.............................................................................................1
2. Da contabilidade para o jornalismo...........................................................2
3. A volta dos colegas cassados...................................................................3
4. Importância das atividades cientificas no jornalismo....................................4
5. Lutando por mudança no currículo............................................................6
6. Projeto desenvolvido no exterior...............................................................8
7. Livros.................................................................................................9
1) Introdução
Quem circula na Escola de Comunicações e Artes de São Paulo
– ECA, quem participa dos Congressos e Seminários nacionais
e internacionais de Jornalismo, sabe quem é José Coelho
Sobrinho ou como é mais conhecido, professor Coelho. Sua
fala é mansa, sua atenção para com os alunos e os amigos é
extremamente fraternal. Quando o assunto é a educação com
o uso dos meios de comunicação ele é um defensor da
Educomunicação.
A comunicação era usada na educação como um simples
instrumento, hoje é visto como elemento de formação do cidadão e isso é muito bom.
Todas as manifestações emitidas pelos meios de comunicação e como sua influencia
reflete na sociedade precisam ser vista com uma leitura crítica. O uso dos meios de
comunicação na educação implica numa melhor qualidade de ensino e deveria ser
posto em prática, já a partir do ensino fundamental”.
As justificativas para que os meios de comunicação façam parte da educação no Brasil,
já a partir do ensino fundamental, são muitas, e ele cita algumas que acredita
facilitarão na formação do cidadão.
O número de pessoas que não sabem interpretar uma comunicação, seja ela qual
for, não é pouco. Essas pessoas terminam sendo o resultado daquilo que ouvem,
1
2. assistem ou vêem. Um bom exemplo são as novelas exibidas no Brasil, onde não são
raros os jovens copiarem desde o vestuário até o comportamento dos atores. O mais
grave, são os valores ocultos que assimilam e que não dá para serem observados de
imediato. A moçada aceita tudo como uma doutrinação, sem fazer uma leitura critica
da informação que está recebendo. No que diz respeito ao jornalismo, seja ele
impresso, televisado ou on-line, não importa, a rapidez da informação – checagem das
fontes – tem levado a muitos erros de interpretação por parte do emissor e também
por parte do receptor. O importante é ensinar a não só fazer a leitura critica dos
veículos, mas também educar usando os meios de comunicação, como elemento na
formação do cidadão.
Chefe do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA, José Coelho Sobrinho
freqüenta a Universidade de São Paulo desde de 1968, quando passou no vestibular
para o curso de Jornalismo. Depois veio o Mestrado, com a dissertação, Legibilidade e
Visibilidade dos Tipos de na Comunicação Impressa – análise tipológica de jornais
diários de São Paulo (março de 1980), o Doutorado, onde defendeu a tese: A liberdade
como pressuposto para a Aprendizagem – A integração professor/aluno no aprendizado
de Artes Gráficas (outubro/1986) e o Livre-docência, em 2001.
2) Da contabilidade para o jornalismo
O jornalista, Profº Dr. José Coelho Sobrinho, nasceu no dia 21 de setembro de 1944,
em Alfredo Castilho, interior de São Paulo, já ministrou aulas na Universidade
Fernando Pessoa, em Portugal e seminários na Universidade Antonona de Barcelona,
na Espanha. Foi professor do curso de Jornalismo da Unesp – Bauru (SP) e de módulos
de Pós-graduação da Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero (SP). É diretor
da Associação Brasileira das Escolas de Comunicação – Abecom e orientador de
Mestrado e Doutorado da ECA. Sua trajetória profissional começou cedo, como todo
garoto que sonha com uma vida melhor, aos 12 anos conseguiu seu primeiro emprego
e logo descobriu que os valores morais e religiosos, adquiridos no meio familiar seriam
testados no mundo que começava a conhecer.
Minha vida profissional começou em um escritório de Contabilidade em Andradina
(SP), aos 12 anos. Foi a primeira vez que os valores morais, éticos e religiosos,
obtidos no seio da família foram contestados e, no meu entender, enriquecido pela
sabedoria oriental e pelo senso de justiça e honestidade de Mario Kuga. Aos 16 anos
era auxiliar de contabilidade na Fazenda Primavera, de propriedade de João José
Abdalla, onde comecei a perceber as formas de exploração do homem do campo. Aos
19 anos, ingressei no Banco do Brasil como escriturário e, seis meses depois, era
Chefe de Cadastro Interino. Posteriormente fui nomeado Investigador de Cadastro,
cargo que ocupei até ser transferido para São Paulo, 1967, para a agencia Brás. Em
1968 fui transferido para agencia Ceasa, a fim de auxiliar no processo de montagem
daquela filial. No mesmo ano prestei vestibulares e fui aprovado para os cursos de
Ciências Sociais e Comunicação Culturais, na USP e em Propaganda, na Escola
Superior de Propaganda. No mesmo ano, desisti no curso de Direito da PUC- SP.
Estava no 4º ano. Em 1969 abandonei os cursos de Ciência Sociais e de Propaganda
para dedicar-me ao curso de Jornalismo e à minha carreira bancária, porque estava
comissionado como Caixa Executivo e Coordenador substituto do período noturno da
agencia Ceasa, que funcionava 24 horas todos os dias da semana. Em 1973 solicitei a
minha demissão do Banco do Brasil para dedicar-me integralmente à carreira docente
na Escola de Comunicação e Artes – ECA/USP. Faltava pouco mais de um mês para
que completasse dez anos de carreira funcional naquela instituição.
2
3. 3) A volta dos colegas cassados
Na década de 70, já como professor da ECA, ele dividiu alegrias e tristezas com outros
colegas. Um inimigo comum na sociedade e no jornalismo se instalou na universidade,
era ditadura militar que levou vários professores da USP a cassação e a desilusão
profissional de muitos. Coelho não sofreu cassação, mas sofreu com o afastamento dos
amigos e passou por situações difíceis para driblar as perseguições dentro da escola.
Para ele o retorno dos colegas cassados deveria ter sido motivos de muitas
comemorações.
A alegria da volta dos colegas cassados, com abertura democrática, no início dos
anos 80, é um dos fatos, no meu entender, que deveria ser comemorado pela ECA
como um marco importante em sua história. Infelizmente não cultuamos determinados
episódios e personagens que foram importantes para a vida institucional e política da
Universidade. Esta falta de memória impede que continuemos a construir a ECA sobre
bases sólidas. Este vácuo talvez seja uma das causas do atual estagio das relações
docentes. Os mesmos personagens, que se uniram para lutar contra a ditadura e que
cerraram fileiras em favor das eleições diretas, hoje, sob o mesmo teto, na falta de um
inimigo comum, pelejam por alguns cargos, sem um projeto que lhes justifiquem a
intenção. E, ironicamente, com as mesmas armas que foram condenadas durante o
regime militar: a falta de ética e a busca do poder para fins nem sempre explícitos.
Mas, a volta da democracia não trouxe de volta a tranqüilidade para o curso de
jornalismo da ECA, principalmente para quem estudava no período da noite. A
qualidade do curso estava tão a quem do padrão de ensino da época, na escola, que
foi aí que Coelho começou sua briga por uma mudança curricular no curso.
Por volta de 1987 nosso curso de jornalismo noturno não funcionava direito, não
estou dizendo que funciona direito, hoje. As dificuldades eram muitas, não havia
secretaria funcionando, não tinha laboratório, ou seja, não havia condição do curso
funcionar. Então compramos uma briga quando decidimos suspender por um período o
curso até ter condições normais para funcionamento. Os alunos entraram em greve
alegando que estávamos preparando um curso elitista e a confusão se formou. Alguns
professores chegaram a cogitar a possibilidade de haver dois cursos de jornalismo. O
diurno dentro da normalidade e o noturno, usando só o que dava para funciona. Então
eu disse não. Deixei claro que não concordava com a diferença entre o curso diurno e
o noturno. O aluno que passasse no vestibular teria o direito de fazer o curso de
jornalismo dentro do padrão da universidade, não importando em que período do dia.
Na opinião de Coelho, as atividades de planejamentos ligadas à docência, representa
uma parte da facilitação da aprendizagem. Durante 18 anos ele foi responsável direto
pelo Laboratório de Artes Gráficas e Processos de Impressão (Lagri), do Departamento
de Jornalismo e Editoração, onde realizou vários trabalhos práticos, dando prioridade
às necessidades pedagógicas.
A implementação de orientações e supervisões pedagógicas representou um período
muito rico do Departamento de Jornalismo e Editoração, não só nas relações docentes,
mas também no crescimento intelectual dos professores e no avanço acadêmico do
curso de Jornalismo. Esta prática pedagógica permitia que as disciplina tivessem
convergência de programas e os alunos, desta forma, ganhavam com a conexão dos
conteúdos, porque sentiam haver uma coluna dorsal que orientavam as disciplinas e
sistematizava as matérias.Entretanto, aos poucos foram perdendo importância na
medida em que o ensino de jornalismo foi se transformando em uma atividade
3
4. preferencialmente profissionalizante. Esta mudança de orientação do projeto
acadêmico, que reduziu a importância das categorias cognitivas de avaliação e síntese
para dar maior ênfase ao adestramento profissional, no meu entender, representa um
retrocesso pedagógico do curso de Jornalismo.
4) Importância das atividades cientificas no jornalismo
Para o professor Coelho, as atividades cientificas do Departamento de Jornalismo e
Editoração da ECA tiveram muita importância para o desenvolvimento e surgimento de
associação cientificas nacionais da área.
Foi a partir de semanas de jornalismo que nasceram a Associação Brasileira de
Ensino e Pesquisa da Comunicação – ABEPEC; a Sociedade Brasileira de Assuntos
Interdisciplinares da Comunicação – Intercom e o Instituto de Pesquisa em
Comunicação Jornalística e Editorial – IPCJE, procurando integrar professores e
pesquisadores em torno de idéias comuns. Entretanto, algumas dessas entidades
acabam se tornando hegemônicas e sufocam o aparecimento de outras instituições ou
impedem a renovação da massa critica de pesquisa, porque a disputa por verba de
agencias de fomento criam confrarias perigosas para o desenvolvimento cientifico
nacional. O mais lamentável, entretanto, é quando as disputas eleitorais internas do
Departamento criam antagonismos que prejudicam a realização desses eventos. A
Semana de Jornalismo que tratou do “Jornalismo Sensacionalista”, foi um marco
importante na discussão da ética e no desenvolvimento de seu conceito em nosso
meio. Da mesma forma, os temas das outras semanas tiveram também importância,
porque despertaram pesquisadores para alguns detalhes que estavam encobertos por
assuntos mais gerais.
Contrário ao conservadorismo no ensino superior de comunicação, Coelho briga até
hoje para obter êxito na mudança curricular e as disciplinas ministradas por ele no
Pós-graduação têm sido importantes para o amadurecimento de suas propostas.
Quando resolvi oferecer a disciplina de Taxionomia dos Objetivos Educacionais
aplicada ao Jornalismo fiquei com receio de ser criticado por estar usando um conceito
da área de Educação surgido em 1954. Se elas foram feitas, não chegaram aos meus
ouvidos e não me permitiram defender a atualidade da proposta de Bloom e seu
grupo. De alunos que passaram pela disciplina, até criticando o título, alegando que
ele afasta o publico da disciplina, tenho tido bons retornos. Alguns acreditam que
melhoram o desempenho em sala de aula porque sistematiza o conteúdo com mais
coerência; outros creditam às aulas o aprendizado da montagem de uma estrutura
curricular dentro das diretrizes divulgadas pelo MEC, em no inicio do ano 2000, há
aqueles que preferem destacar o conhecimento que tiveram das propostas de Cal
Rogers. Hoje estou sendo cobrado para oferecer uma disciplina que trate dos
domínios afetivos, mas ainda não me sinto suficientemente preparado para
empreender esse desafio.
Ampliando seus horizontes acadêmicos, ele encontrou no jornalismo empresarial uma
forma de ministrar as novas tecnologias, no curso de Pós-graduação de instituições
estranhas a ECA.
O jornalismo empresarial foi renovado com as novas tecnologias e os novos
mercados profissionais. E este foi o principal motivo que me levou à Faculdade de
Comunicação Social Cásper Líbero para ministrar este curso de pós-graduação latu-
4
5. senso. Eram 60 profissionais das mais variadas origens. As discussões sobre ética e
produção jornalística foram ricas como fonte de projetos científicos na área.
Como defensor do ensino com qualidade e centrado no aluno, o professor Coelho não
esconde sua atração em ministrar palestras a adolescentes que pretendem prestar
vestibular, para que os mesmo não se frustrem na escolha do curso depois.
Dar palestras para adolescente que estão se preparando para o vestibular, me atrai
muito.Em primeiro lugar, porque é um momento decisivo na vida do jovem. Ajuda-lo a
decidir sobre o futuro profissional, respondendo perguntas sobre as suas inquietações,
é uma forma de preparação intelectual para acolher as novas turmas que chegarão à
universidade depois do vestibular. Em segundo lugar, porque o custo da vaga na
universidade publica já está pago pela sociedade e a escolha mal feita pode onerar
ainda mais esse custo social com o abandono do curso por estudantes mal informados.
No que diz respeito à área curricular, o professor é um defensor da necessidade da
sistematização da grade dentro de princípios taxionômicos de objetivos educacionais
claros e precisos.
Sou de parecer que, assim como o professor tem uma carreira docente, o aluno
deva ter uma carreira discente que leve em consideração a conquista de sua
maturidade acadêmica. Em um dos meus artigos argumento que a formação do
comunicador não é responsabilidade isolada da ECA, mas de toda a Universidade,
levando em conta que o futuro profissional terá uma atividade de mediação.
Adepto a escola de Bloom que trabalhou de 1948 a 1954, na área de educação e ficou
taxado de grupo que via a educação como uma forma de dominação das pessoas,
Coelho colocou em prática no curso de Jornalismo da ECA, uma disciplina que
examinasse a escola Bloom e desse outra interpretação, já idealizando uma mudança
no currículo disciplinar de jornalismo.
Começamos a examinar a escola Bloom dentro de uma disciplina chamada
Metodologia do ensino aplicado ao Jornalismo, onde foi possível dar uma nova
interpretação, aproveitando a sistematização que ele faz do aprendizado e não levando
em consideração, como outras pessoas argumentam (fazendo uma análise do discurso
da época). No meu ponto de vista, o importante na escola dele é sistematizar o
aprendizado, ou seja: o aluno não aprende de cima para baixo e sim, de baixo para
cima. É um acumulo de conceito. Com isso eu imaginava fazer o seguinte diagrama: o
aluno vai do mais geral (que chamo de conhecimento) para o particular. Ou seja,
começando pelas disciplinas do conhecimento, evoluindo até chegar as disciplinas de
síntese, passando em seguida para as disciplinas profissionalizantes ou técnicas. O
aluno não começaria fazendo um jornal sem não sabe o que é uma diagramação, uma
tipologia etc. Ele começaria com disciplina simples até chegar no final com uma
evolução, com uma bagagem teórica e prática completa. Algumas pessoas confundem
evolução com parte histórica. Antes, para se fazer televisão, em geral o aluno
precisava conhecer e estudar o rádio porque ele dava uma base para que ele
conhecesse e soubesse como funcionava o som, por exemplo. Hoje, as pessoas
imaginam, como a internet foi última que apareceu, então o jornalismo on-line é o
último a estudar. Mas é justamente o contrário é o primeiro, porque o aluno tem que
conhecer alguma coisa para depois fazer o jornalismo multimídia, um jornalismo de
interação, um jornalismo digital. Só depois ele vai para o rádio, a televisão, porque daí
já conhece o som e a imagem. Voltando em seguida para internet, mas já com a
bagagem suficiente.
5
6. 5) Lutando por mudança no currículo
Há quase três décadas Coelho luta pela mudança no currículo disciplinar para o
jornalismo, mas nunca recebeu apoio total dos professores da área, na ECA, o que até
hoje, não consegue entender.
Não tive apoio, mas também não tem ninguém contra. Se alguém prova que você
está errado, o melhor e pegar o boné e se retirar. Mas quando não se tem um
argumento contra, mesmo assim você não recebe aprovação, é porque tem algo de
estranho. Por isso continuo brigando até hoje, não por remendos no currículo, mas por
uma mudança curricular.
Mesmo sem ter o apóio desejado, o professor buscou alternativas para melhorar a
qualidade do ensino na área.
Depois disso a gente ampliou o conjunto de disciplina que são optativas para
permitir que o aluno desenvolva sua criatividade. Hoje, com a internet, não da mais
para não se pensar numa especialização. O professor tem que centrar o conhecimento
do estudante até que ele descubra o seu caminho profissional. Para isso o aluno
precisa ter também uma disciplina de linguagem. E o que uma disciplina de
linguagem? Não simplesmente a linguagem gramatical, ele trabalhar mais com análise,
com abordagem, argumento, conteúdo. Essa proposta não é minha, estou tentando
recuperar um currículo disciplinar que é de 1954, ou seja, mais de 50 anos. Minha
participação na defesa é na parte de adaptação para os tempos atuais. Depois, vejo a
questão como algo dinâmico, isso significa que não é um currículo engessado, assim
como as matérias optativas também não são fechadas. O aprendizado do meu ponto
de vista é da natureza humana. Você precisa ter uma organização para poder
aprender. Por exemplo, a disciplina optativa não pode ser aquela, onde professor dar o
conhecimento geral, o aluno tem que buscar. Já o conhecimento específico para que
ele possa desenvolver sua criatividade e aquilo que a profissão exige, não enquanto
profissão de mercado, mas enquanto espaço dentro da sociedade, o aluno não pode
abrir mão. Isso permite um dinamismo no aprendizado.
Na visão do professor Coelho, o educador tem a obrigação de preparar o aluno que
entra na universidade para que ele saia, melhor qualificado do que quando entrou.
Lembro quando fui usar o programa page make, fiquei 36 horas para aprender a
manejar a ferramentas básicas. Hoje se eu for passar isso para os meus alunos, não
vou precisar de mais de 4 horas. Isso não é porque sou um grande professor e sim
porque estou reconhecendo os conhecimentos de informática que eles já adquirem
antes. Depois tem um outro fator, que é o que há de atual, levando em consideração a
lei de diretrizes iguais. Se o aluno conhece toda parte de sistema de comunicação,
porque ele precisa fazer essa disciplina? Vamos libera-lo para fazer outra disciplina.
Isso é um aproveitamento do saber que esse aluno tem e permitir que ele adquira
outro dentro da própria universidade. Então o currículo disciplinar tem que ser um
pouco mais maleável, mais flexível, já que sabemos que as pessoas que estão aqui
não são todas iguais e o nivelamento do conhecimento é muito prejudicial. Quando
você trabalha centrado no aluno, é fácil dar para ele aquilo que ele precisar. E quando
você não sabe, você tem obrigação de ir buscar ou de encaminha-lo para que outro
professor que tenha mais condições que você possa melhorar o nível do aluno. O
professor tem que ter essa consciência. Isso não uma utopia, veja bem: aqui mesmo
dentro da ECA eu já passei por isso.
6
7. Enquanto os currículos disciplinares da maioria das universidades brasileiras continuam
engessados, um projeto intitulado “Protocolo de Bolonha” que visa o ensino centrado
no estudante e o aprendizado por metas está sendo implantado a partir deste ano, nas
universidades de 33 paises da união européia.
Isso me deixa bastante feliz, o Protocolo de Bolonha vai trabalhar exatamente
dentro do sistema que sempre defendi. O ensino em sala de aula vai ser reduzido ao
mínimo possível, e ampliado ao máximo, o ensino por resultado, por metas. Isso
significa que o aluno pode estudar na França, fazer disciplina na Alemanha e estagiar
em Portugal. Por esse método o professor vai ter condições e formar grupos de alunos
para atingir uma meta. Veja bem, não é uma classe e sim um grupo. Então o professor
vai reunir grupos e dizer: nessa área de conhecimento nós temos que atingir tal ponto.
Ou seja, é como dizemos aqui na universidade, vai trabalhar de forma interdisciplinar.
De 15 a 18 de novembro, vamos debater o protocolo, durante o encontro da ABECOM,
em Foz de Iguaçu.
Trabalhar de forma interdisciplinar é trabalhar com aconselhamento, com orientação e
na ECA isso já é uma prática comum, o que permite um enriquecimento do
conhecimento para o aluno.
Já usamos esse método há tempo no nosso Jornal do Campus. Estamos preparando
um número especial que é sobre a eleição aqui em São Paulo. Vamos querer saber
como a universidade vai votar, para governador. Então, vou precisar do auxilio de
professores de outras áreas. E sabe por que? Não sou especializado em pesquisa. É
importante que alunos saibam como fazer e como interpretar os dados de uma
pesquisa? Claro que sim. Então, fui até a professora Mariângela e disse: meus alunos
precisam ter conhecimento de como se interpreta uma pesquisa, você pode recebe-
los? Após definirmos a amostra que vai representar o universo, etc., vou precisar de
um professor que tem conhecimento das técnicas de estatística, suficiente para aplicar
corretamente na pesquisa. Sendo assim, já fui até um professor Adilson que é de
estatística e ele já se prontificou em atender esses alunos. Só que tem a parte legal de
toda pesquisa eleitoral tem que ser registrada e corremos atrás dos especialistas no
assunto. A única coisa que pode ocorrer é se, por ventura, os candidatos não quiserem
dar entrevista. Mas a pesquisa vai sair. Se não sair junto desse número especial com
as entrevista, sairá em um número normal do Jornal do Campus. Veja bem, isso já
aconteceu nos anos 70, mas de forma diferente, o motivo era outro, a ditadura. Vários
professores foram cassados e professores e alunos se reuniram para desenvolver
vários projetos no curso de Jornalismo. Então é por aí, a gente vem evoluindo, mesmo
com todos os contras e esses contras são importante porque a gente aprende. Na
Europa esse sistema de ensino está sendo imposto pela Comissão de Educação da
Comunidade Européia. O aluno que está na graduação vai saber exatamente qual a
sua carreira acadêmica. São três anos de graduação, dois anos de mestrado e três
anos de doutorado.
Na opinião do professor, o currículo disciplinar do curso de graduação em jornalismo
ainda não teve a evolução desejada e o fator que mais tem contribuído para a esta
estagnação é a falta de coragem para fazer mudanças.
Ao contrario, piorou porque nós estamos remendando. O aprendizado, do meu
ponto de vista, é uma coisa sistêmica e para se fazer com que o sistema funcione se
faz necessário a existência de uma tem lincagem, de uma continuidade. E não é o que
está acontecendo atualmente. Isso porque, logo no primeiro semestre, ministramos
uma disciplina que já faz o jornal. Se no primeiro semestre o aluno já aprende a fazer
7
8. um jornal, bastaria um semestre de curso, não é mesmo? Sou totalmente contra esse
currículo atual, porque muitas vezes o aluno não é nem leitor de jornal, não tem
conteúdo nem conhecimento geral. Então os remendos que foram feitos até agora no
currículo do curso de jornalismo, não atendem a uma boa formação profissional. Não
falo em emendas, porque não foram feitas emendas, foram feitos remendos, foram
costurando coisas com linhas diferentes e deu no que estamos vendo hoje, um
despreparo de quem sai da universidade, apenas com o curso de graduação. Espero
que as verdadeiras mudanças aconteçam. E isso não dependerá somente do currículo
que poderá ser aplicado na universidade, os alunos também são muito conservadores
e têm medo das mudanças.
6) Projeto desenvolvido no exterior
Em 1996 ele recebeu um convite da Universidade Fernando Pessoa, de Portugal, para
desenvolver um projeto no curso de comunicação social. O projeto desenvolvido com
quase 300 alunos da universidade teve como objetivo a sistematização pedagógica,
visando melhoria na qualidade de ensino.
Desenvolvi o projeto buscando saber o que cada aluno havia estudado, o que tinha
visto e onde queriam chegar? Então, decidimos que uma turma iria fazer um jornal
interno, outra iria fazer um jornal externo, outra turma, um evento e uma outra iria
fazer um livro. Nessa universidade os alunos não são obrigados assistir aula. Então
logo no primeiro encontro questionei o que eles queriam fazer. Desenvolvemos um
contrato de responsabilidades e montamos um cronograma para atingir os objetivos.
Começamos a trabalhar em cima de metas, assim como o projeto de “Protoloco de
Bolonha” está implantando na união européia. Com isso nossos objetivos foram
atingidos. Produzimos quatro números do jornal interno, quatro do jornal externo,
editamos um livro e organizamos um evento. Não sou especialista em eventos, mas
procurei uma professora brasileira, infelizmente, hoje está afastada por motivo de
saúde. O evento que foi maravilhoso e seguiu todas as tradições portuguesas, o reitor
da universidade ficou assustado com o acontecimento. E nome do evento foi
Sistematização pedagógica, planejamento didático e qualidade de ensino – O que
somos capazes. Então, foi possível fazer os jornais o evento e o livro, tudo isso em
quatro meses. O projeto foi um dos mais gratificante que já fiz. O evento, que era
para ser interno, se transformou num evento nacional. Havia 256 alunos de Relações
Públicas na universidade, apenas dez estava estagiando. Quando o evento terminou,
não tínhamos alunos, suficiente para atender demanda de tipos de estágios.
Quando o assunto é jornalismo como veiculo de comunicação e educação, ele não vê
com olhos a forma como muitos profissionais da área vêem desempenhando suas
funções, nas últimas décadas.
Tenho observado que, para alguns profissionais do jornalismo, a profissão passou a
ser meramente um emprego, com salário e horário a ser cumprido, seja ele pessoa
física ou pessoa jurídica. Estamos perdendo o fio da profissão, que é o compromisso
com a sociedade. Perdendo a visão do fato jornalístico e do jornalismo em tempo real.
As pessoas estão vivendo por quilômetros. No final da década 60, a ética jornalística
ganhou um pico alto de respeito, tínhamos ideais, brigávamos pelos mesmos objetivos,
cumpríamos nossa tarefa de levar a informação de forma coerente, superando todas as
dificuldades, inclusive no período da ditadura, inimigo comum na sociedade e no
jornalismo. Mas em meados dos anos 90, essa ética e o respeito começou a desabar. O
jornalismo passou a vestir a cara do sensacionalismo, dos escândalos e começamos a
perder o sentido de jornalismo como noticia. Jornalismo hoje é uma ótima forma de
8
9. ganhar dinheiro se comercializando o fato, o que é degradante. A principal
característica do jornalismo é o compromisso com sociedade e isso não tem sido
levado muito a sério, por muitos profissionais e veículos de comunicação.
7) Livros:
COLEHO SOBRINHO, J. Legibilidade e Visibilidade na Comunicação Impressa – Análise
Tipológica de Jornais diários de São Paulo. São Paulo: IPCJE/CJE/ECA-USP,
1987.
COELHO SOBRINHO, J., SILVA, D. F. N; SILVA, L. C. Produção e Programação
Gráfica. São Paulo: Paulus, 1995.
COELHO SOBRINHO, J., GUILMAR, J. TAMBUCCI. P.L. (Org.) Esporte e
Jornalismo. São Paulo: CEPEUSP, 1997.
COELHO SOBRINHO, J., LOPES, D. F., PROENÇA, J. L. (Org.) A evolução do
Jornalismo em São Paulo. São Paulo: NJC/ECA-USP/EDITCON, 1998
(2ª Edição).
COELHO SOBRINHO, J., LOPES, D. F., PROENÇA, J. L. (Org.) Edição em
Jornalismo Impresso. São Paulo, NJC/ECA-USP/EDICON, 1998.
COELHO SOBRINHO, J., LOPES, D. F., PROENÇA, J. L. (Org.) Edição em
Jornalismo Eletrônico. São Paulo, NJC/ECA-USP/EDICON, 1999.
COELHO SOBRINHO, J. Do que somos Capazes! Relato de uma experiência
Pedagógica. São Paulo, 2001.
9