Fazer e receber chamadas ficam em segundo plano diante das várias funções possíveis nos smartphones. Mas especialistas alertam sobre riscos a quem não consegue ficar desconectado
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demetrio koch
arte: edi edson
DOMINGO, 10 DE junho DE 2012 -
Fazer e receber
chamadas ficam
em segundo
plano para
usuários de
aparelhos de
última geração,
que permitem
acessar sites, ver
tevê, fazer vídeos
e até controlar
as luzes da casa
Tudo pelo celular
Fernando Poffo
fernando.poffo@folhauniversal.com.br
A
ideia de realizar uma
ligação com telefones sem fio surgiu
em 1943, mas só virou realidade em 1974. Eram
aparelhos enormes, raros, que
pesavam mais de 1 quilo e só
existiam no exterior. A segunda geração surgiu apenas na
década de 1990, e aí foi lançado no Rio de Janeiro o primeiro celular do Brasil.
A partir daí a evolução
do revolucionário telefone é
constante e, com a proliferação dos smartphones (telefones inteligentes, em inglês),
fazer ligação virou uma função secundária, diante de
tantas opções para os usuários, que têm em suas mãos,
em tempo integral, um computador portátil.
“Já existem mais smartphones do que celulares no
Japão e o mesmo deve ocorrer no Brasil”, prevê o diretor-
executivo da consultoria especializada em negócios digitais
Concrete Solutions, Fernando de La Riva. “O aparelho
pode aumentar a produtividade das empresas em razão
da mobilidade, pois permite
ao funcionário acessar da rua
arquivos como se estivesse na
própria empresa. Ele pode
fazer proposta e contatos de
onde estiver”, pontua, antes
de indicar que o uso mais comum para pessoas físicas são
redes sociais e jogos.
Hoje, o Brasil já tem quase
30 milhões de usuários desses
supercelulares e já é natural observar nas ruas pessoas “hipnotizadas”, com olhos e ouvidos
País já conta com
mais de 30 milhões
de usuários de
supercelulares,
diz consultor de
negócios digitais
atentos ao aparelho, que possui
sistemas operacionais para baixar aplicativos que facilitam a
execução de inúmeras funções.
“Eu uso o tempo inteiro, mais
para entrar na internet, ouvir
música e mandar mensagem.
Não consigo sair de casa sem
ele, e quando esqueço fico desconcentrada o dia todo, pensando no celular”, admite a analista de seguros Soraia Leoni de
Souza, de 26 anos. Já Fernando
Arias, de 30 anos, tem uma tática para não deixar que a
dependente: Os pais e os amigos da auxiliar de escritório
Elaine Cettolin, de 22 anos, reclamam que ela não larga o celular
produção no trabalho seja afetada. “Eu fico conectado sempre,
mas evito entrar em rede social
no horário de trabalho”, comenta o analista de suporte.
Além do compartilhamento de conteúdo com os amigos
virtuais, outras funções seduzem o usuário: acessar sites; usar
programas de edição de texto
ou armazenamento de dados;
fotografar e gravar vídeos; baixar e consumir músicas, filmes e
livros; ver televisão ao vivo; usar
GPS para se localizar e saber os
melhores caminhos; ouvir rádios
do mundo todo; pagar contas e
fazer compras estão entre as funções que fizeram o aparato encantar o consumidor brasileiro.
mais de 1 milhão
de aplicativos
já seduzem
brasileiros e
tendência é que
número cresça
Entre mais de 1 milhão de
aplicativos disponíveis no mercado, há desde ferramentas
que facilitam o acesso a redes
sociais, ou que ajudam a editar
e criar efeitos em fotos, até os
que prometem mais segurança
em transações financeiras, oferecem informações diretas de
assuntos específicos como previsão do tempo, trânsito ou do
clube de futebol do coração. E
a evolução não para por aí.
Além de notícias e de informações sobre produtos e
“Não dá
pra parar”
“Desde que eu comecei
a usar, há 3 meses, minha
vida acabou”, brinca Elaine Cettolin, de 22 anos, que
sem tirar os olhos do celular continua: “Não consigo
mais parar. Meus pais e amigos reclamam, mas se ouço
o barulhinho paro tudo”,
admitiu a auxiliar de escritório, ligada nos alertas que
chegam pelo aparelho até
de madrugada – situação
que ilustra o risco da dependência tecnológica.
“A geração que cresce
com o smartphone pode
ter dificuldade nas relações
que não sejam virtuais. Nos
EUA, uma pesquisa diz que
usuários assíduos recebem
mensagens a cada 6 minutos. Essa pessoa não se concentra ou não tem tempo
de reflexão”, diz Fernando
de La Riva, da consultoria
Concrete Solutions.
Essa dependência já
preocupa os médicos. “As
pessoas abrem mão do convívio real. Amigos, trabalho,
lazer e até compras são virtuais. Observamos que 10%
dos usuários de tecnologia
têm comportamento de
dependência: perde-se habilidade na conversação e
a linguagem escrita muda.
Afeta trabalho, estudo, relacionamentos, saúde e até a
higiene”, alerta a psicóloga
do Hospital das Clínicas de
São Paulo, Sylvia van Enck,
que vê os mesmos sinais
nos dependentes de drogas
e de tecnologia. “A pessoa
fica agitada, irritada, tem
taquicardia, sudorese, falta
de ar”, diz a psicóloga, que
pede: “Pense no que você
deixa de viver enquanto está
conectado. Pense nisso para
não perceber o incêndio depois que fogo começou”.
serviços, há funções mais específicas, como monitorar o funcionamento do organismo para
quem tem algum problema de
saúde, marcar o tempo de treinos ou até transformar o celular no controle remoto da tevê
e das luzes de casa. No Japão,
após a tragédia na usina nuclear de Fukushima em 2011, foi
desenvolvido um aplicativo que
verifica a radioatividade do ar.
“Esses aparelhos vão ser vistos como uma extensão sensorial, um sexto sentido”, diz La
Riva, lembrando que já existem
aplicativos com os quais você
aponta o smartphone para a
pessoa e ele te dá informações
sobre quem é aquela pessoa e
Japão tem mais
smartphones
que celulares
e ferramenta
para medir
radioatividade
tudo que ela já deixou público
na internet. “Isso também ocorrerá com produtos. Numa loja,
vai dar para saber tudo sobre o
que se está querendo comprar,
inclusive o preço ideal. Se for
alimento, vai se saber as calorias
ou se o produto tem substância
que lhe causa alergia”, diz ele,
convicto de que esse tipo de aparelho será cada vez mais usado.
Embora a lista de facilidades
seja extensa, os celulares ainda
servem para enviar mensagens
de texto e telefonar, função que
motivou cientistas do século 20
a pensarem na possibilidade
de se criar um aparelho para
facilitar a comunicação.
fotolia
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Tão Perto, Tão LOnge: Duas pessoas prestam atenção
no celular em vez de conversar num bar