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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO ACADÊMICO DO AGRESTE
NÚCLEO DE GESTÃO
ADMINISTRAÇÃO
GEORGE LEITE FREXEIRA
O PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL EM INSTITUIÇÕES
RELIGIOSAS E OS INTERESSES DOS SEUS LÍDERES NA
EXPANSÃO E FUNDAÇÃO DE NOVOS TEMPLOS
CARUARU
2013
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO ACADÊMICO DO AGRESTE
NÚCLEO DE GESTÃO
ADMINISTRAÇÃO
GEORGE LEITE FREXEIRA
O PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL EM INSTITUIÇÕES
RELIGIOSAS E OS INTERESSES DOS SEUS LÍDERES NA
EXPANSÃO E FUNDAÇÃO DE NOVOS TEMPLOS
Trabalho apresentado à Coordenação do Curso de Graduação
em Administração, da Universidade Federal de Pernambuco,
Centro Acadêmico do Agreste, como requisito parcial para
aprovação na disciplina Trabalho de Conclusão de Curso.
Orientador: Profª. Drª. Silvana Medeiros Costa.
CARUARU
2013
Catalogação na fonte
Bibliotecária Simone Xavier CRB4 - 1242
F892p Frexeira, George Leite.
O Processo de gestão social em instituições religiosas e os interesses dos seus
líderes na expansão e fundação de novos templos. / George Leite Frexeira. - Caruaru:
O Autor, 2013.
95f; il.; 30 cm.
Orientadora: Silvana Medeiros Costa
Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Universidade Federal de
Pernambuco, CAA. Administração, 2013.
Inclui bibliografia
1. Instituições religiosas - administração. 2. Valores. 3. Capitalismo. I. Costa,
Silvana Medeiros. (orientadora). II. Título.
658 CDD (23. ed.) UFPE (CAA 2013-28)
GEORGE LEITE FREXEIRA
O PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL EM INSTITUIÇÕES
RELIGIOSAS E OS INTERESSES DOS SEUS LÍDERES NA
EXPANSÃO E FUNDAÇÃO DE NOVOS TEMPLOS
Este trabalho foi julgado adequado e aprovado para a obtenção do título de graduação
em Administração da Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico do
Agreste
Caruaru, 11 de abril de 2013.
_____________________________________
Prof. M.Sc. Antônio César Cardim Britto
Coordenador do Curso de Administração
BANCA EXAMINADORA:
_____________________________________
Profª. Drª. Silvana Medeiros Costa
Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico do Agreste
Orientador(a)
_____________________________________
Profª. Drª. Maria das Graças Vieira
Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico do Agreste
Banca
_____________________________________
Prof. M.Sc. Fernando José do Nascimento
Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico do Agreste
Banca
Dedico aos meus pais (in memoriam), pois,
se há algo a elogiar em meus pensamentos
ou em meu estilo, o crédito é devido a eles,
por me instruírem de um amor precoce pela
leitura.
AGRADECIMENTOS
Ao meu Deus que de uma forma espetacular e simples me abençoou com o
dom da vida e me compreende, mesmo eu sendo um ser tão mutável e complexo.
A meus pais (in memoriam) que através deles hoje eu não estaria aqui e sem
eles nunca teria aprendido a me dedicar à boa leitura e me dado uma educação voltada
para a construção das bases familiares cristãs e me ensinado a Bíblia Vernácula.
A minha esposa que é o forte elo entre minha vida de solteiro e o
comprometimento com uma vida a dois, com maiores responsabilidades e amor acima
de tudo, gerando frutos de amizade, companheirismo e dedicação mútua.
A meus filhos: Maysa, George e Larissa, que me ensinaram a nunca desistir de
lutar e aprender ensinar o caminho da verdade e dos valores morais em família como
base para todas as nossas vidas.
Às políticas de Gestão Pública Federais, tão escassa em nossos dias, que
disponibilizou ao longo do país e em particular no Agreste pernambucano uma
Universidade Federal, de onde pude, além de acesso a um ensino de qualidade, uma
oportunidade ímpar de cursar minha graduação em Administração.
Aos meus professores (mestres e doutores) de Administração da UFPE que me
guiaram por entre as muitas descobertas durante todo aprendizado nesta graduação e aos
que em particular fizeram a diferença nas minhas novas escolhas profissional e na
minha visão hoje como administrador, tais como a Drª Graça Vieira, que até o momento
que iniciei esta monografia foi vice coordenadora do curso de administração nesta
Universidade e professora de Administração Estratégica e Empreendedorismo, além de
ser grande amiga; Drª Silvana Medeiros, minha orientadora neste trabalho monográfico
e professora de Gestão Pública e Gestão Social, meu muito obrigado.
Aos gestores eclesiásticos (pastores, bispos e reverendos) e seus secretários
(as) que foram o sujeito das entrevistas, assim como suas respectivas igrejas como
instrumentos de observação e percepção dos constructos aqui mencionados e
posteriormente desenvolvidos, os quais sem eles seriam impossível à transliteração
desta pesquisa. A todos, muito obrigado por colaborarem com seus conceitos e ideias
referentes à Gestão Social nas instituições religiosas.
Aos meus caros colegas de curso que por um período de quase cinco anos
estivemos juntos compartilhando e trocando informações, estudando e ensinando, rindo
e descontraindo, pesquisando e aprofundando nossos conhecimentos. Não vou citar
nomes para não esquecer nenhum!
Enfim, a todos os amigos e irmãos que direta ou indiretamente estiveram
acompanhando a evolução deste trabalho, orando, trocando ideias, sugerindo novos
argumentos para as questões mais difíceis e apresentando novas propostas.
“[...] Apascentai o rebanho de Deus, que vos foi confiado, cuidando dele, não como por
coação, mas de livre vontade, como Deus o quer, nem por torpe ganância, mas por
devoção; nem como senhores daqueles que vos couberam por sorte, mas, antes, como
modelos do rebanho.”
(Bíblia de Jerusalém, nova edição revista e ampliada p. 2.118 e 2.119).
"O homem só se realiza quando na verticalidade anseia pela contemplação do seu Deus
e na horizontalidade busca e acolhe seus semelhantes".
Michel Quoist
RESUMO
Esta pesquisa tem o objetivo de somar às muitas outras que se preocupam em
trazer um diagnostico organizacional nas práticas de gestão social dentro de um grupo
específico do Terceiro Setor conhecidas por instituições religiosas. O assunto em estudo
é discutido por várias autoridades acadêmicas e é desafiador para a geração atual, tendo
em vista, o tema não ser conclusivo, porém identificado por fatores diversos, interna e
externamente no âmbito das empresas privadas sem fins lucrativos. A intenção do
mesmo não é esgotar o assunto, porém, levar ao público acadêmico uma maior reflexão
do tema abordado, bem como sua relevância para a administração e a verificação desta
linha divisória entre o compromisso social das igrejas como parte do modelo adotado
pelo terceiro setor e a filosofia capitalista operante na maioria dos líderes religiosos
ocidentais. Com embasamento bibliográfico o trabalho argumenta as relações culturais e
econômicas dentro do protestantismo na construção das primeiras unidades de igrejas
tradicionais e fazendo ligação com as igrejas emergentes na região de Caruaru (PE);
estudando essas instituições religiosas como um organismo eclesiástico e uma
organização de capital humano moldada pelas relações coletivas e individuais;
analisando também o modelo de gestão adotado pelos líderes para a fundação de novos
templos, assim como propostas inovadoras para manter os valores, a missão, a
qualidade, a ética e a transparência dos serviços prestados pela administração
eclesiástica.
Palavras Chaves: valores, gestão social, administração eclesiástica e capitalismo.
ABSTRACT
This research aims to add to the many others who are concerned to bring an
organizational diagnosis in social management practices within a specific group known
as the Third Sector religious associations. The subject under study is discussed by
several academic authorities and is challenging for the present generation in view, the
issue is not conclusive, but identified by various factors, both internally and externally
within the private nonprofit. The intention of it is not exhaustive, however, lead to
greater academic public discussion of the subject and its relevance to the administration
and verification of this dividing line between the social commitment of the churches as
part of the model adopted by the third sector and capitalist philosophy at work in most
Western religious leaders. With foundation work literature argues cultural and economic
relations within Protestantism in the construction of the first units of traditional
churches and making links with emerging churches in the region of Caruaru (PE);
studying these religious institutions as an ecclesiastical body and human capital of an
organization shaped by collective and individual relationships; also analyzing the
management model adopted by leaders to the founding of new temples, as well
innovative proposals and to maintain the values, the mission, quality, ethics and
transparency of services provided by the ecclesiastical administration.
Keywords: values, social administration, ecclesiastical administration and capitalism.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Divisão do Protestantismo.....................................................................21
Figura 2 – Pirâmide de Maslow..............................................................................39
Figura 3 – As necessidades Espirituais na Pirâmide de Maslow............................40
Figura 4 – Evolução do Protestantismo..................................................................53
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO .............................................................................. 13
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO .............................................................................. 13
1.2 OBJETIVOS.......................................................................................................16
1.2.1 Objetivos Gerais ................................................................................... 16
1.2.2 Objetivos Específicos ........................................................................... 16
1.3 JUSTIFICATIVA........................................................................................... 17
CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.................................................. 19
2.1 CULTURA, ECONOMIA E RELIGIÃO: CONSTRUÇÃO DO
PROTESTANTISMO HISTÓRICO NO MUNICÍPIO DE CARUARU ............... 19
2.1.1 As Origens das Famílias Evangélicas e sua Relação com a Gestão
Administrativa...................................................................................................19
2.1.2 Igreja: Organismo e Organização.......................................................... 26
2.2 TERCEIRO SETOR E A INFLUÊNCIA CAPITALISTA NA GESTÃO
SOCIAL DOS LÍDERES RELIGIOSOS OCIDENTAIS...................................... 30
2.2.1 Estrutura Organizacional e Hierárquica das Instituições Religiosas ....... 30
2.2.2 A Influência Capitalista no Protestantismo Ocidental............................ 36
2.2.3 A Gestão Social Eclesiástica e sua Relevância no Terceiro Setor .......... 44
2.2.4 O Processo de Gestão nas Principais Igrejas Históricas e Emergentes ... 49
2.3 COMPORTAMENTOS SOCIAIS E OCUPAÇÃO TERRITORIAL PELO
AVANÇO DAS IGREJAS EVANGÉLICAS NO MUNICÍPIO DE CARUARU . 57
2.3.1 Adequação Geográfica dos Templos à Realidade Populacional ............. 57
2.3.2 O Impacto das Segregações Espaciais, Migrações Comportamentais e
Alterações Denominacionais ......................................................................... 60
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA........................................................................... 64
3.1 OBJETO DE ESTUDO .................................................................................. 64
3.2 COLETA DE DADOS ................................................................................... 65
3.3 ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................... 66
CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS69
4.1 O PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL EM INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS E
OS INTERESSES DOS SEUS LÍDERES NA EXPANSÃO E FUNDAÇÃO DE
NOVOS TEMPLOS.................................................................................................69
4.1.1 As Relações Culturais e Econômicas dentro do Protestantismo na
Construção das Primeiras Unidades Históricas na Região.............................. 69
4.1.2 A Linha Divisória entre o Compromisso Social das Igrejas como Parte do
Modelo Adotado pelo Terceiro Setor e a Filosofia Capitalista Operante na
Maioria dos Líderes Religiosos Ocidentais .................................................... 73
4.1.3 A Igreja como um Organismo Eclesiástico e uma Organização de Capital
Humano Moldada pelas Relações Coletivas e Individuais.............................. 77
CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................... 81
5.1 CONCLUSÃO ............................................................................................... 81
5.2 LIMITAÇÕES ............................................................................................... 83
5.3 RECOMENDAÇÕES E SUGESTÕES........................................................... 83
CAPÍTULO 6 - REFERÊNCIAS, APÊNDICES E ANEXOS................................. 84
6.1 REFERÊNCIAS............................................................................................. 84
6.2 APÊNDICES......................................................................................................89
6.3 ANEXOS............................................................................................................94
13
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO
O atual contexto em que as instituições religiosas estão inseridas, fragmentadas
em várias correntes teológicas e doutrinárias, ocupando um espaço cada vez mais
amplo, tende a provocar uma adequação maior e mais holística no desenvolvimento
organizacional1
das mesmas, forçando-as cada vez mais em curto prazo uma busca mais
precisa pela solução de problemas no decorrer do seu ciclo de vida, destarte durante sua
trajetória, assim como qualquer outro tipo de organização, as Organizações Não
Governamentais também podem sofrer alterações variadas decorrentes de forças
internas ou externas pela qual elas estão vulneráveis, ou seja, uma empresa pode tender
a assumir posturas diferenciadas ao longo de sua história.
Em busca de uma identidade, muitas denominações evangélicas influenciadas
por construções ideológicas e políticas do ambiente tentam postular seus interesses em
detrimento da racionalidade do capital humano que por sua vez, é alvo de discussões
quando envolve o comportamento econômico e burocrático que tais organizações
manifestam. Sendo estas instituições formadas por seres humanos, são a elas atribuídos
os impactos que cada modelo de gestão causa na percepção dos indivíduos em meio às
pressões desse ambiente turbulento e mutável, rompendo paradigmas e pressionando
seus membros, líderes, cooperadores e concorrentes; tomados de decisões cada vez mais
rápidas e muitas vezes nocivas à qualidade de gestão. Quando adotam posturas
diferenciadas e se deparam, por vezes, com uma inversão de valores, estão sendo
contrárias às posturas pelas quais foram preparadas desde sua formação.
O que acontece neste ambiente eclesiástico é resultante de fatores intrínsecos e
extrínsecos e comunicam os valores da comunidade em buscar seus objetivos, pois,
mensuram as relações entre religião e sociedade que são formadas por meios
institucionais e também valores individuais motivados pela ação social. Um
acontecimento pode ter causas econômicas, políticas e religiosas, mas todas elas
1
Desenvolvimento organizacional é um esforço (1) planejado, (2) de âmbito organizacional e (3)
gerenciado do topo, para (4) elevar a eficácia e a saúde da organização através de (5) intervenções
planejadas nos “processos” da organização, usando conhecimentos de ciências comportamentais
(BECKHARD, 1969, p. 9 apud MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000, p. 240 e 241).
14
compõem um conjunto de aspectos da realidade diagnosticados nos atos individuais, ou
seja, são condicionantes a fazer refletir o papel em conjunto na sociedade ou torna o
indivíduo um produto controlado por essas forças e que o levarão a uma visão
individualizada da mesma. “O homem percebeu-se como uma parte isolada do
organismo social em que está inserido [...] (MEDEIROS; 2009 p. 33)” e passa a ser uma
criação contínua dos critérios básicos negociais/políticos e puramente capitalistas das
empresas da atualidade, que isolam os valores voltados ao desenvolvimento de
qualidades pessoais como: a criatividade, a informalidade, a inovação, a aprendizagem,
num processo de mudança e compartilhamento de conhecimentos, prontos para serem
explorados.
Desde as bases da Revolução Industrial, onde o Taylorismo e o Fordismo eram
responsáveis pela produção em massa, pela padronização como formas inteligentes do
processo de fabricação nos primórdios da administração científica, os processos eram
voltados para eficácia e o estudo sistemático do trabalho fazia do ser humano
simplesmente mais uma ‘peça’ desse produto em contínua fabricação. Conjuntamente à
Revolução Industrial o capitalismo pôde amadurecer constituindo-se num sistema
econômico ocasionando significativas mudanças sociais, culturais, políticas e religiosas,
onde nesse interim a Reforma Protestante alcançava sua fase de maior expansão na
Europa, como uma revolução cultural e ideológica. Com frequência podia-se perceber
que a maior concentração de capital de fato estava nas mãos de alguns grupos de
protestantes, onde “[...] o desenvolvimento do capitalismo, [na época de sua grande
expansão], esteve com suas mãos livres para redistribuir a população em camadas
sociais e profissionais em função de suas necessidades (WEBER, 2006, p. 29)”, sendo
explicado em grande parte pelas circunstâncias históricas, iniciadas na Europa e pelos
primeiros reformadores na Alemanha.
O tempo passou e as aplicações iniciais da administração científica, assim
como a ética protestante, onde a religião dava a oportunidade aos homens granjear o pão
de cada dia e consequentemente introduzir a sistematização do trabalho, continuam
deixando por último o seu principal e mais caro recurso: o homem. O liberalismo
econômico2
cria áreas de conflitos sociais cada vez mais turbulentos e a acumulação de
2
O liberalismo econômico corresponde ao período de desenvolvimento da economia capitalista baseada
no individualismo e no jogo das leis econômicas naturais e na livre concorrência. [...] O novo capitalismo
se inicia com a produção em larga escala de grandes concentrações de máquinas e de mão-de-obra,
15
capitais nas mãos de uns poucos causou profundos desequilíbrios para o funcionamento
do sistema como um todo.
Esta pesquisa assume o papel de incentivar os leitores que fazem uso
consciente de uma responsabilidade coletiva em prol de mudanças e desmistificação da
religião liberal numa sociedade pluralista (JONES, 2002), procurando identificar os
interesses dos líderes evangélicos e os modelos de gestão por eles usados para
disseminarem e fazerem-se percebidos neste século através da implantação de novos
templos, trazendo novos adeptos por uma visão inteiramente expansionista e capitalista,
ou permanecerem inertes, mas dando ênfase ao ascetismo religioso3
, ao bem estar social
e uma melhor assistência aos seus membros, com uma visão humanitária mínima para
suprir as necessidades da comunidade.
Bem, o liberalismo influenciou a ‘religião’. Passada está a reinterpretação liberal do
Evangelho em termos do envolvimento social ou teoria marxista. O novo liberalismo
descobriu uma espiritualidade que salvará o planeta e atingirá os objetivos de uma
humanidade ambiciosa. A visão liberal de uma cultura igualitária inclusiva do futuro
[...] concebe um novo mundo [...] (JONES, 2002, p. 81).
Urge a necessidade dos gestores administrarem a igreja não só como um
organismo eclesiástico, mas também como uma organização, onde o filantropismo
(amor à humanidade) é base ideológica, pois, já há muito tempo que a crise do
sensacionalismo cresce nas igrejas evangélicas e que líderes tentam motivar os
membros, enfatizando a busca pela recompensa, ao passo que quanto maior o grau de
percepção dos fiéis pela religião em si, maiores os laços informais, resultando em
padrões específicos de comportamentos para pessoas e grupos envolvidos.
O papel das igrejas evangélicas no Terceiro Setor é notadamente criterioso e,
partindo do pressuposto que assim como o Estado tem passado por transformações no
decorrer das últimas décadas, com ele veem arrastando vários grupos sociais e também
instituições religiosas de iniciativa privadas. Estas são estudadas analisando as
transformações visíveis que o capitalismo amplia, fomentando a discussão sobre as
competências do Estado tradicional e a gestão social dessas Organizações Não-
criando situações problemáticas de organização de trabalho, de concorrência econômica, de padrão de
vida etc. (CHIAVENATO; 2003 p. 37).
3
A pregação do ascetismo, ausente no neopentecostalismo, não põe os fiéis a salvo do consumismo.
Muitos crentes sucumbem aos apelos da cultura do consumo, chegando ao descontrole financeiro,
acumulando dívidas, como constata matéria da revista assembleiana Seara (n.17, abril de 1998, p. 22-26),
que, em parte, responsabiliza por muitas destas ocorrências pastores e igrejas difusoras da Teologia da
Prosperidade. Diz a revista que 50% dos atendimentos do SOS Vida, serviço de aconselhamento
evangélico 24 horas, referem-se a pessoas (a maioria crente) endividadas pedindo conselhos e orações
(MARIANO, 1996).
16
Governamentais através de definições teóricas e avaliações qualitativas da pesquisa de
campo. Incluídas entre as Organizações do Terceiro Setor, as igrejas, “[...] instituem-se
a partir de uma missão social, agregando indivíduos voluntários, operando em
programas e ambientes altamente dependentes de financiamento social, e orientam sua
atuação para problemas e conflitos sociais” (CABRAL, 2007, p. 8), contudo, diante de
tantos vieses que articulam o ambiente das instituições religiosas e suas necessidades
associativas e assistenciais para um modelo de gestão e o compromisso político das
mesmas, qual o interesse dos líderes religiosos em expandir novos templos e como
mensurar o desempenho desses gestores nesse campo investigativo? É nesta
prerrogativa que se alicerçam os instrumentos necessários para compilação desta
pesquisa e a sua relevante importância para este nicho de sociedade.
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivos Gerais
Analisar o processo de gestão social em instituições religiosas e os interesses
dos seus líderes na expansão e fundação de novos templos.
1.2.2 Objetivos Específicos
1.2.2.1 Identificar as relações culturais e econômicas dentro do protestantismo na
construção das primeiras unidades de igrejas históricas na região.
1.2.2.2 Verificar a linha divisória entre o compromisso social das igrejas como parte do
modelo adotado pelo terceiro setor e a filosofia capitalista operante na maioria dos
líderes religiosos ocidentais.
1.2.2.3 Estudar a igreja como um organismo eclesiástico e uma organização de capital
humano moldada pelas relações coletivas e individuais.
17
1.3 JUSTIFICATIVA
Teórica:
Desde que os primeiros reflexos da reforma protestante que iniciaram há
aproximadamente 500 anos atrás e fragmentou o movimento em várias correntes com
diferenças teológicas e doutrinárias, até a plena liberdade religiosa com a Constituição
do Brasil de 1824, onde de forma marcante após a 2ª Guerra Mundial os movimentos
evangélicos emergiram, cresceram, edificaram-se como instituições, fundamentaram-se
como organizações e principalmente tornaram-se componentes políticos importantes.
Porquanto a história delimita suas linhas fronteiriças, divididas em partes constituintes
bem distintas, apresentando inúmeras subdivisões, tendo em vista a fragmentação que
esse imenso império evangélico tem alcançado, em especial na América, voltado ao
evangelicalismo liberal (WELLS, 2010) e cada vez mais distante da ética protestante
com a qual os primeiros grupos vivenciaram. Dentro dessa perspectiva as instituições
religiosas surgem como empresas privadas do terceiro setor e traçam suas metas ante a
complexidade globalizada e conectadas. À medida que essas instituições religiosas se
desenvolvem, aumentam também em complexidade, como qualquer outro tipo de
organização, e naturalmente também outro desafio é de se manter estável, sob o ponto
de vista organizacional, não perdendo os objetivos e a missão pelas quais foram
formadas.
Prática:
A pesquisa centrou-se nesse tema, tendo em vista o foco de estudo do
pesquisador está centrado num nicho social cada vez maior na região do Agreste
Pernambucano; influência de um crescimento macro, principalmente nas Américas, e
que tende a tomar um corpo mais complexo em se tratando de Organizações que
compõem o Terceiro Setor.
O crescimento dessas denominações vem sendo assunto de pesquisa por várias
áreas e ultimamente tem se intensificado; o assunto em apresso é desafiador e sua
abordagem não é conclusiva, mas abre uma vasta oportunidade de incentivo aos
pesquisadores para ampliarem seus conhecimentos e trazerem ao público acadêmico um
posicionamento ético racional e posteriormente mais um registro e uma análise das
motivações para o aumento de novos templos evangélicos na região em estudo.
18
A crescente expansão dessas novas unidades evangélicas (filiais) dentro do
município nem sempre estão em acordo com a necessidade investida pela liderança,
decorrendo num aumento de seus templos na região com o intuito de acessibilidade aos
fiéis, contudo, por vezes se veem igrejas com poucos membros em espaços muito
próximos umas das outras, tendo ainda deficiência em sua assistência e manutenção.
19
CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 CULTURA, ECONOMIA E RELIGIÃO: CONSTRUÇÃO DO
PROTESTANTISMO HISTÓRICO NO MUNICÍPIO DE
CARUARU
2.1.1 As Origens das Famílias Evangélicas e sua Relação com a Gestão
Administrativa
Com a cisão entre o catolicismo romano e o aparecimento dos reformadores o
protestantismo ganhou espaço durante a Idade Média, onde homens como Martinho
Lutero e João Calvino desconstruiriam as bases corporativas centrais do catolicismo –
que tradicionalmente eram os fortes proprietários de terras e ostentavam o poder e
controle ideológico da população – preparando terreno para um novo tipo de religião,
que colocaria o homem futuramente numa dupla meta, ou seja, unir a devoção religiosa
ética às virtudes de trabalhar com o suor de seu rosto como fator de dignidade social
(DONKIN, 2003). Surgia então uma classe empreendedora dentro de uma sociedade,
acostumada, outrora, com o poder papal monopolista, e que passaram a reconhecer o
poder econômico dentro de um novo ensino sistemático religioso e a plena aceitação
social das massas pelos missionários protestantes; o exemplo disso, pela doutrina de
João Calvino “[...] era possível orar e prosperar a um só tempo, desde que se estivesse
disposto a renunciar à frivolidade e à corrupção permitidas nos círculos católicos – e
desde que se estivesse pronto a reinvestir a própria riqueza em benefício da sociedade
(DONKIN, 2003, p. 43)”.
Donkin (2003) ainda afirma que a ética do trabalho protestante entraria pelos
séculos seguintes como forte pensamento no mundo industrializado ocidental, e que esta
religião definiu um estilo de vida na sociedade, principalmente porque trazia à
população o despertar da razão, do conhecimento, e da busca por um código ético
social. Começava um impacto intelectual nas pessoas (ainda que a taxa de
analfabetismo fosse alarmante na época) introduzido pela propagação da Bíblia
vernácula, que se tornou o alimento indispensável para as classes em fermentação, por
ser moderna, estava em plena circulação entre as classes sociais e afirmava uma posse
ideológica pelo pleno direito legal de examiná-la. Somada à sede pela alfabetização; sua
20
distribuição, no entanto, começou a estar sujeita a fatores comerciais. Um cenário
revolucionário e sujeito a mudanças, mas que já moldavam, ainda que timidamente, a
evolução do pensamento administrativo que desabrochariam no Renascimento.
Em face destas mudanças, e diante da formação teológica durante essa
trajetória histórica nas principais igrejas, foram onde estes grandes nomes apareceram,
ainda que num ambiente turbulento e de ajustes culturais e ideológicos. Tal influência
foi substancialmente afetada por questões políticas, unindo a Igreja e o Estado, pelas
reformas e seus idealizadores e pelos concílios ecumênicos. Bem mais próximo de
nossa época, porém, não menos importante, está a divisão do Protestantismo
propriamente dito, onde temos: verticalmente a formação de famílias denominacionais
(luteranos, anglicanos, presbiterianos, metodistas, batistas, congregacionais,
pentecostais e emergentes), e horizontalmente influenciados por correntes teológicas e
filosóficas, ou seja, a tradição conservadora da ortodoxia (doutrina), o puritanismo
(santidade), o pietismo (devoção), o liberalismo (razão) e os avivamentos pentecostais
(impulso missionário).
A esses dois fenômenos (denominacionais e teológicos), as influências de
Martinho Lutero, João Calvino, Jacó Armínio, João Wesley, Jonathan Edwards e muitos
outros formariam as bases para uma construção de elementos de uma fé protestante, ou
seja: características denominacionais, doutrinas e credos protestantes e afirmações
teológicas. É através dessas afirmações que os idealizadores abrem um ‘leque’ para
propagar as mais variadas formas de interpretação das doutrinas Bíblicas, o
comprometimento de seus adeptos por uma identidade social, a forte influência da
imposição de seus dogmas através de seus seguidores e de todo um contexto político-
filosófico sofrido em decorrência da busca do ser humano completo; o homo
economicus4
, postulado por Taylor, já estava sendo desenhado e posto em prática no
protestantismo, ainda que de forma sutil e rasa, porém, com aspectos característicos da
influência histórica de algumas denominações.
4
O homo economicus ou o homem econômico é uma ficção, formulada segundo procedimentos
científicos do século XIX que aconselhavam a fragmentação do objeto de pesquisa para fins de
investigação analítica. O homo economicus nada mais é do que um pedaço de ser humano, um fragmento,
um resto, a sua parcela que apenas produz e consome, segundo "leis" deduzidas da observação, cujo único
critério de verdade apoiava-se na evidência (Recuperado do site:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Homo_economicus> Acesso em 27 de maio de 2012).
21
(Recuperado do site:
<http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:Protestantbranches_pt.svg&page=1> Acesso em: 02
de out de 2012)
Figura 1 – Divisão do Protestantismo
Segundo OLSON (2001), com o rompimento de Martinho Lutero e a Igreja
Católica, os protestantes discordavam entre si sobre várias questões secundárias, mas
conseguiram compor uma frente relativamente unida contra a Igreja de Roma. Mesmo
com suas diferenças, teólogos luteranos, reformados e anglicanos permaneceram unidos
teologicamente, mas não politicamente. É aí que o século XVII testemunhou o
aparecimento de grandes “rachaduras teológicas”, ou mudanças, não somente entre as
famílias protestantes, mas também dentro de cada uma delas. Paralelamente à Reforma
de Martinho Lutero ocorreu a Reforma Radical5
.
Quando a Revolução Industrial já fomentava os seus alicerçares, o
protestantismo já fazia parte de muitos grupos sociais no Ocidente e as consequentes
divisões entre as igrejas protestantes daquela época acompanhavam características
5
A Reforma Radical foi um movimento religioso do século XVI. Tratou-se de uma resposta para tanto a
corrupção na Igreja Católica quanto a reforma magisterial expansiva promovida pelo Protestantismo de
Martinho Lutero e vários outros. Começando na Alemanha e na Suíça, a reforma radical deu origem a
vários grupos protestantes radicais pela Europa. (Recuperado do site:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Reforma_Radical> Acesso em 23 de out de 2012).
22
próprias à influência dos indivíduos que se faziam presentes em seu rol de membros.
Muitos deles gerariam seus descendentes que seriam missionários, adeptos da
administração científica e pioneiros do pensamento da administração na sociedade
americana e europeia.
Frederick Wislow Taylor (1856-1915), considerado o fundador da Administração
Científica, veio de uma família “Quaker” de princípios rígidos e foi educado dentro
de uma mentalidade de disciplina, devoção ao trabalho e poupança [...] Taylor
começou sua carreira como operário e terminou como executivo da área industrial
de uma siderúrgica (PEDROSO, 2004, p. 23).
Os Quakers, (em inglês) que significava tremedores estavam “[...] entre as mais
desprezadas das novas seitas do século XVII [...] a Sociedade dos Amigos, apelidada de
quacres por um magistrado a quem George Fox, fundador e líder do movimento,
aconselharam tremer ante o nome do Senhor (DONKIN, 2003, p. 55)”; então Taylor
pertencia a uma denominação, constituída por um grupo radical, para a época, e muito
influenciado pela doutrina calvinista6
.
Observa-se, então, que a cultura, a política, a religião e a estrutura de poder
delimitam esses aspectos revolucionários na sociedade, nas organizações, etc. e todos
envolvidos participam ativamente como agrupadores, rompendo paradigmas e rotinas.
Seria a exemplo de tantos outros, as bases para o que a Administração Moderna possui
hoje e que na época, ainda que a Teoria da Administração Científica fundada por Taylor
fosse marcada, a priori, pela eficiência e pela padronização dos processos, forjou-se
negativamente, quando no seu auge, devido aos problemas sociais e organizacionais,
como rotinização, sistema mecanicista voltado para uma administração de chão de
fábrica e de um rígido comportamento formal humano. Ciência aperfeiçoada pelo
pensamento de Henri Fayol que havia elevado o estudo da administração científica ao
nível gerencial com as funções organizacionais que ele as chamou de: prever, organizar,
coordenar, comandar e controlar, contudo, o mesmo também não estava preocupado
com o ser humano, mas a maximização do lucro organizacional. Essa degradação social,
provocada pela Revolução Industrial, influencia pioneiros e empreendedores para as
condições ideais do surgimento do liberalismo econômico e a considerável atuação da
doutrina social da igreja como parte dessa mudança. A evolução do pensamento
6
Convém lembrar que para a geração de Taylor “[...] o domínio do Calvinismo seria a forma mais
insuportável de controle eclesiástico do indivíduo que até então já pôde existir” (WEBER, Max. A Ética
Protestante e o Espírito do Capitalismo. 11ª ed. São Paulo: Pioneira, 1996 – p. 20 a 21).
23
administrativo, dentro do Renascimento, “[...] vê nesses acontecimentos as sementes da
administração científica, das relações humanas, do processo decisório gerencial e de
outros conceitos da administração moderna (PEDROSO, 2004, p. 14)”.
Durante a década de 60, principalmente nos Estados Unidos da América, o
mundo vislumbra o nascimento da esquerda religiosa, isso devido à consciência crítica
evangélica da América que havia mudado drasticamente de comportamento e
influenciado muitas outras nações predominantemente cristãs. Os baby-boomers 7
foram
apropriadamente chamados de ‘geração em busca’ e espalhou-se por vários segmentos
sociais, inclusive a religião. “A busca nobre dos anos 60 por uma consciência aberta [...]
foram em direção ao Oriente [...] e retornaram para fazer nascer uma religião híbrida
relativista [...] na autodeterminação democrática ou no ideal do igualitarismo autônomo
[...] vestido de forma ‘cristã’ para um consumo ocidental geral (JONES, 2002, p.35)”.
Essa geração encontrou-se amadurecida nos anos 90 como uma nova proposta para uma
transformação religiosa e espiritual, ou seja, uma mudança e que severamente
influenciaria os grupos de pessoas pelos quais estes estavam inseridos, desde a família
aos mais altos níveis hierárquicos das empresas.
Para mapear o grau de mudança numa empresa se faz necessário ter uma visão
micro e macro da situação e procurar analisar as circunstâncias que provocam a
necessidade de mudar. O padrão de mudança para algumas empresas são principalmente
vistos no âmbito decisório e estrutural da alta administração que desce às demais partes
da hierarquia entre períodos de modificação que são ocasiões para implementação e
estabilização destas mudanças.
Mintezberg, Ahistrand e Lampel apresentam essas práticas, nas organizações e
sociedades, de mudanças gerenciais – mesmo que a expressão em si seja uma
contradição, pois dependerá da nossa aptidão para mudar – onde “[...] indica o que
realmente significa mudança abrangente em uma organização: significa estratégia e
7
Baby-Boom é uma definição genérica para crianças nascidas durante uma explosão populacional - Baby
Boom em inglês, ou, em uma tradução livre, Explosão de Bebês. Dessa forma, quando definimos uma
geração como Baby-Boomer é necessário definir a qual Baby-Boom, ou explosão populacional estamos
nos referindo. Em geral, a atual definição de Baby-Boomer, se refere aos filhos da Segunda Guerra
Mundial, já que logo após a guerra houve uma explosão populacional. Nascidos entre 1945 e 1964, hoje
são indivíduos que foram jovens durante as décadas de 60 e 70 e acompanharam de perto as mudanças
culturais e sociais dessas duas décadas (Recuperado do site <http://pt.wikipedia.org/wiki/Baby_boom>
Acesso em 01 de abril de 2012).
24
estrutura, indo do conceitual ao concreto e de comportamentos altamente formais aos
mais informais. Não faz sentido mudar a estrutura sem mudar sistemas e pessoas”
(MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000, p 238 e 239).
Essa visão sistêmica das mudanças sugere aos envolvidos uma intervenção na
modificação de muitos elementos ao mesmo tempo, procurando ser adequado a uma
nova forma de estabilidade tentando restabelecer posteriormente uma integração com
suas diretrizes e bases, o que Miller chama de arquétipos, “[...] isto é, estados de
estratégia, estrutura, situação e processo, e também de transições entre arquétipos e
consideram as mudanças estratégicas e estruturais como sendo quânticas, ao invés de
incrementais” (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000, p. 230).
As mudanças não eram somente de crivo eclesiástico ou administrativo, pois
havia uma grande preocupação por parte dos reformadores por novos paradigmas na
educação: um exemplo clássico está em Martinho Lutero que foi um dos responsáveis
pela concepção de ensino público, e que serviu de modelo para a escola moderna do
Ocidente, ou seja, “[...] para Lutero, o objetivo da escola não é o acesso de todos à
cultura. A escola tem por função formar uma elite capaz de dirigir tanto a sociedade
civil quanto a religiosa (GILMONT, 1999, p. 54)”. Para ele o desenvolvimento social
está intimamente ligado ao grau de educação em que seus indivíduos estão expostos e
posteriormente isto refletirá na cultura, na política, na sociedade e por que não dizer na
própria religião.
A harmonia entre estes vieses que fornecem dados importantes para a
construção da história de uma sociedade pode determinar o grau de intensidade com que
os mesmos podem interferir no comportamento e nas decisões coletivas e individuais e
também o que os motivam. É nesse momento que ideias como a de Max Weber
coadunam com o exposto acima partindo da premissa que “[...] cada formação social
adquiriu, para Weber, especificidade e importância própria [...] e seu objeto de
investigação é a ação social, a conduta humana dotada de sentido, isto é, de uma
justificativa subjetivamente elaborada (COSTA, 2005, p. 97)”, ou seja, para Weber “[...]
não existem oposição entre indivíduo e sociedade: as normas sociais só se tornam
concretas quando se manifestam em cada indivíduo sob a forma de motivação (COSTA,
2005, p. 97)”.
A reforma protestante, iniciada por Martinho Lutero, ainda está longe de ser
completada e idealizada em vários segmentos religiosos e sociais, mas abriram as portas
25
para o pensamento crítico da população que estava à mercê da desigualdade, dos
conflitos e da submissão às autoridades políticas e religiosas, destarte, quando “[...] o
argumento moral, o senso de comprometimento e a o apelo popular convergem, como
no caso do protestantismo [...] ocorre uma comunhão entre a crença popular e o
pragmatismo. É a religião de mangas arregaçadas (DONKIN, 2003, p. 53)”, mas
também, “[...] a emancipação do tradicionalismo econômico parece ser, sem dúvida, um
fator que apoia enormemente o surgimento da dúvida quanto à santidade das tradições
religiosas [...] a Reforma significou não tanto a eliminação da dominação eclesiástica
sobre a vida de modo geral, quanto a substituição de sua forma vigente por uma outra
(WEBER, 2006, p. 30)”. O surgimento do Capitalismo vinculado à doutrina calvinista e
sua consequente interpretação do enriquecimento material como garantia da graça
divina entendida pelos primeiros grupos evangélicos são a marca registrada desse
período pós reforma.
O protestantismo foi uma revolução cultural e intelectual com um poder e uma
intensidade tão grandes quanto os que se reconhecem na indústria e nas inovações
do século XVIII. A mudança ocorreu em uma escala jamais vista, [...] afinal, tratava-
se de uma revolução das massas, explorado pelas massas. A Bíblia vernácula
fomentou o aumento da alfabetização (DONKIN, 2003, p. 54).
A administração Eclesiástica é vista hoje em seu apogeu de abrangência e vai
canalizando essas ‘brechas’ formadas pela ação do tempo na vida da sociedade e
cicatrizando suas erradas filosofias de interpretação. Hoje em dia, as igrejas evangélicas
podem e devem ter um plano estratégico, um modelo de gestão administrativo, estarem
voltadas à responsabilidade social, trabalharem em seus processos através de
ferramentas administrativas, da reestruturação e participarem ativamente da construção
da cidadania com a cooperação dentro do Terceiro Setor.
Por esse pensamento racional, o Brasil, que comunga entre doutrina e ética
religiosa e sua relação com sistemas econômicos abertos, onde de longe essa situação,
assumida na obra de Max Weber (A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo) é a
mais divulgada, conhecida e debatida para fins acadêmicos, ainda sofre sobremaneira os
impactos dessas mudanças e atuará de forma substancial nas diversas fases da moderna
sociedade capitalista. Desafiador para o caso brasileiro, ou os ‘novos ricos’, que mesmo
26
sendo atualmente a sexta economia8
do mundo ainda está à beira dos países
desenvolvidos e abaixo de outros emergentes, mas aberto à propagação de crenças e
novas religiões e plena liberdade de culto em todo o seu território.
2.1.2 Igreja: Organismo e Organização
As instituições evangélicas englobam um conjunto de organizações
filantrópicas que possuem características próprias – por vezes se diferenciando até
mesmo das outras não governamentais – quando é retratado dentro delas a abrangência
de atuação, ou pelo menos é o que rege seus estatutos e sua missão. Por maioria,
embasadas na Bíblia Vernácula, e de onde sai a grande parte dos seus dogmas e
costumes, elas circundam não só os horizontes sociais da vivência de seus membros em
comunidade, mas também ensejam a aplicabilidade dessas doutrinas no âmago
espiritual dos seus adeptos. Recai sobre seus gestores o dever de administrar de forma
cautelar e cuidadosa, tendo em vista, além da aplicabilidade do processo administrativo,
estar lidando com aptidões espirituais dos seus membros. O que implica dizer que as
religiões não somente devem tentam abrir suas portas para o cooperativismo e o social,
contudo têm que retratar nos corações dos fiéis um objetivo maior, intangível, que se
postulam nos anais da fé e da razão, fronteiras por vezes impenetráveis e de opiniões
diversas (justificar a fé individual ou coletiva não é foco nessa pesquisa).
O caráter organizacional por vezes se mistura com o religioso dessas
instituições e descobrir esta fronteira se faz necessário para o bom andamento e
funcionamento das mesmas, pois as práticas sociais dessas organizações fazem do
trabalho eclesiástico uma fonte geradora de valor econômico (dízimos e ofertas) ao
mesmo tempo em que prestam um serviço aos seus fiéis (uso da cidadania). Mesmo que
se diferenciem das organizações que são especializadas na produção em massa, através
de recursos materiais, elas abstraem para si um campo investigativo qualitativo,
intangível e combinam agentes sociais, conferindo-lhes por vezes nobreza, pelo caráter
8
Segundo o Centro de Pesquisa CEBR (Centre for Economics and Business Researche), sediado em
Londres, em 2011 o Brasil ultrapassou a Grã-Bretanha e se tronou a sexta potência econômica do mundo.
O diretor do centro de pesquisa ainda enfatiza o peso crescente da Ásia no ranking em detrimento dos
países ocidentais (Recuperado do site: <http://www.portugues.rfi.fr/brasil/20111226-brasil-e-sexta-
economia-mundial-diz-instituto-britanico> Acesso em 17/03/12).
27
de sua criação. E nesta evolução das ações cooperativas e coordenativas pelas quais
prestam à sociedade muitas delas confundem na realidade e na prática o seu verdadeiro
objetivo e sua real missão. Contudo “[...] em sua ânsia de reprodução, muitas
organizações desviam recursos destinados a realizar os objetivos originais para os quais
foram estabelecidas e os investem em propósitos de interesse de sua própria burocracia”
(SROUR, 2005, p. 141 e 142).
Na prática elas são entidades que possuem vida própria e se fazem perceber na
singularidade da história. As relações que formam as estruturas das organizações como
um todo são mensuradas por relações coletivas através da formalidade de seu caráter e
na impessoalidade quando seus agentes sociais, aparelhados de instrumentos de
trabalho, processam através da matéria-prima resultando em produtos finais, ou seja, os
meios de produção em massa ainda fazem o objetivo primordial de muitas empresas.
Todavia há uma lacuna no meio delas, e principalmente entre as instituições religiosas
que abrangem um patamar considerável (SROUR, 2005). Elas também são formadas
por atos informais de associação e por meios pessoais, pois, a exemplo, quando um fiel
vai a uma igreja, ele, movido pela razão quer encontrar através do serviço disponível
pela instituição uma solução para seu problema através da unidade que os fiéis
comungam (fé). Essa subjetividade está ao alcance de todos e conectam os indivíduos
associados, como uma relação de bem comum e não somente auferido a alguns no topo
hierárquico, aproveitando o excedente econômico que o trabalho tende a gerar dentro do
sistema capitalista.
As dimensões dessas instituições vão muito mais além de uma estrutura
material e de um sistema de poder, mas de um “[...] composto por saberes (patrimônio
intelectual) e por padrões culturais que são inculcados e praticados pelos agentes
sociais” (SROUR, 2005, p. 153) importado do seu ambiente externo e aplicados
internamente servindo para distinguir todo o espaço econômico, político, social,
administrativo e religioso da mesma. Essa gama de abrangência do seu raio de atuação
demarca “[...] o terreno das variações possíveis das relações de poder e das relações de
saber” (SROUR, 205, p. 154) e atua como sistemas abertos em seu ambiente celebrando
a convivência social ou a afastando. Fazem parte da estrutura organizacional das
instituições religiosas dentro de sua missão os processos visando o longo prazo
orientando-as para os meios e os fins que devem ser absorvidos como parte da cultura
das mesmas, onde “[...] a gestão social prioriza esse procedimento como instrumento de
28
descoberta e declaração explícita da missão e mobilização de suas forças” (CABRAL,
2007, p. 138).
Ainda segundo Cabral (2007) essa missão tem um sentido mais abrangente e
duradouro do que nas empresas de primeiro e segundo setores (públicos e privados),
pois elas foram criadas para cumprirem essa missão na íntegra e são regidas por dogmas
auferidos através desses objetivos organizacionais, destarte, a construção do grupo
social que as envolvem, está diretamente ligada com crenças comuns e questões de
cultura histórica, ou seja, um organismo vivo, que interage na realização da finalidade
proposta e da visão, que por sua vez, esboça a noção onde as empresas desejam alcançar
comportando também os seus preceitos, mas que também precisa ser apoiada em
análises do ambiente e das oportunidades para funcionarem.
Questão essa em evidência carente de verificação e não somente pela
subjetividade, pois para alguns, se não tivesse esses dois vieses (missão e visão), não
passaria de utopias “[...] que expressa entre os pressupostos constitutivos da utopia o
objetivo de experienciar a fronteira da sociabilidade como forma de sociabilidade e a
reinvenção de mapas de emancipação social e subjetividades com capacidade de os
usar” (SANTOS, 2000 apud CABRAL, 2007, p. 139).
Uma instituição religiosa não se subsistiria somente pela sua atuação religiosa
ou dogmática, mas necessariamente, deve desenvolver o seu fluxo administrativo como
entidade formada por indivíduos que se socializam e trocam informações necessárias à
subsistência da mesma, para então, constituir formalmente sua identidade pela qual foi
criada. Ela experimenta uma abrangente área de atuação quando, geralmente,
introduzem em seu ambiente interno, pessoas de diferentes classes sociais e perpetua
seus valores através desses indivíduos, que garantem a durabilidade da visão e a
propagação fiel da missão da mesma, refletida, principalmente em seu ambiente
externo. Influencia no comportamento de seus membros fora dela, que são estimulados
a disseminar sua imagem, não só para as similares que abstraem sua linha de
pensamento, mas também a grupos sociais com posicionamentos diferentes.
Registros na história eclesiástica exemplificam através da mudança de foco
entre a missão e a visão destas instituições que abstraem em seu núcleo outros
posicionamentos e forçam mudar seus paradigmas. Como o que ocorreu entre uma
guerra teológica formada por fundamentalistas e neoliberais – fundamentalismo aqui
descrito como àquelas igrejas que aderem de forma clara a determinadas doutrinas que
29
para outras, da atualidade principalmente, são consideradas antigas e ultrapassadas e
neoliberais como grupos que abraçam o pluralismo religioso, disfarçando a democracia
e impulsionando o relativismo teológico. Em termos denominacionais o termo
fundamentalismo floresceu no Brasil, em especial no Nordeste e São Paulo, entre as
igrejas fundamentalistas Presbiterianas e Batistas, por exemplo, durante a década de 50
e que atualmente estão fazendo o inverso, retornando às suas igrejas reformadas. Em
outros casos tal fundamentalismo foi marcado por laços financeiros e ideológicos
(LOPES, 2008).
As instituições religiosas estão diretamente influenciando os stakeholderes em
sua área de atuação e estão infiltradas na cultura e filosofia de seus adeptos em uma
forma maciça de propagação, ou seja, são instituições que estão dentro de outras
organizações e mudam paradigmas através da religião; umas mudanças são vistas como
positivas e outras negativamente, dependendo da dimensão e do tipo de influência.
30
2.2 TERCEIRO SETOR E A INFLUÊNCIA CAPITALISTA NA
GESTÃO SOCIAL DOS LÍDERES RELIGIOSOS OCIDENTAIS
2.2.1 Estrutura Organizacional e Hierárquica das Instituições Religiosas
O modo pelo qual as instituições religiosas estão organizadas: suas bases e
dispositivos de expansão, sua hierarquia, suas instituições de poder, assim como seus
principais agentes religiosos constituem sua estrutura organizacional. A antiga
influência da estrutura organizacional da igreja Católica serve de base para muitas
organizações do presente e forma por um longo período de tempo uma hierarquia tão
simples e eficiente, que sua amplitude e poderio puderam ser eficazes através do
comando de um só gestor – o Papa – onde as normas administrativas e os princípios de
organização pública, de certa forma, foram transferidos do Estado para a igreja, assim
como as organizações militares (onde as teorias da administração surgiram, e também a
contribuição do princípio da direção), que estavam contrárias com a ação política destes
Estados que tinham propósitos e objetivos diferentes.
As instituições religiosas seguem essa mesma linha administrativa quando
englobam a hierarquia e a sua estrutura como organização; e o seu crescimento e
expansão estão sendo alvos de estudo, pela própria igreja Católica e por intelectuais,
que outrora passou despercebido, mas que atualmente essas igrejas possuem destaque na
organização e estrutura do espaço urbano. Esta pesquisa, uma vez que concentra a
expansão dos templos em um determinado setor geográfico, também visa esse impacto
das possíveis segregações espaciais, migrações comportamentais, alterações nas classes
urbanas e possivelmente estratégias de ocupação territorial dessas igrejas. Há uma
relação entre espaço geográfico e religião com identidade organizacional e social na
comunidade que está inserida.
Uma característica importante de todas as religiões é a existência de “espaços
sagrados”, ou seja, locais associados com a realização dos cultos, e que, por essa razão,
adquirem um valor especial para os seus fiéis. Segundo o Antigo Testamento, Jeová, o
Senhor, deu orientações precisas para a construção de um santuário onde o seu povo
pudesse adorá-lo de maneira especialmente significativa, pois tanto o tabernáculo, ou
seja, a tenda portátil utilizada nas peregrinações de Israel, quanto o magnífico templo
construído por Salomão, representavam a presença de Deus no meio do seu povo. Os
31
primeiros locais de culto utilizados pelos cristãos foram alguns recintos públicos e
preferencialmente residências particulares, as conhecidas igrejas domésticas
mencionadas em várias passagens do Novo Testamento (Rm 16.5,14-15; 1º Co 16.19;
Cl 4.15; Fm 1.2). Não se atribuía qualquer valor especial a esses lugares, igualmente
como os judeus faziam em relação às suas sinagogas. O mais importante não era a igreja
como instituição ou como espaço físico, mas o povo de Deus, a comunidade da fé e os
valores adquiridos. Um importante ponto de transição nesse processo evolutivo foi o
impacto causado pelo imperador Constantino, o primeiro líder do Império Romano a
identificar-se com a nova religião do povo, onde mais tarde na Idade Média surgiu o
período em que o poder da Igreja Católica atingiu o seu máximo. A grande ascendência
da igreja sobre importantes áreas da vida e sua relação com o Estado produziram na
Europa o fenômeno conhecido como “cristandade”, uma sociedade caracterizada por
grande uniformidade política e religiosa, sob a liderança dos soberanos e dos papas. Foi
esse o período das magníficas catedrais góticas, que substituíram gradativamente as
fortes estruturas em estilo romano, com suas paredes lisas, suas torres quadradas e sua
aparência de fortalezas (MATOS, 2013).
O retorno a formas de culto mais simples, com o surgimento da Reforma, como
as da igreja do novo testamento, e a devoção consciente e imutável dirigido à Trindade,
levaram a uma redefinição radical da arquitetura religiosa. Em várias partes da Europa,
os templos católicos herdados pelos reformados tiveram suas imagens e altares
removidos, e foi eliminada a existência de espaços separados para o clero e para os
leigos. Todavia, no hemisfério norte, a maior parte das denominações protestantes
históricas (luteranos, presbiterianos, anglicanos, episcopais, metodistas e outros)
manteve um considerável interesse pela arquitetura e pela arte religiosa, observadas nos
lindos templos dessas confissões existentes na Europa e nos EUA. Foram os grupos
mais contestadores, como, por exemplo, os anabatistas, os quacres e mais tarde os
pentecostais, que passaram a utilizar templos deliberadamente simples e despojados no
início de sua expansão, porém, tanto no caso dos primeiros quanto dos últimos, o
santuário nunca chegou a ter a importância e o simbolismo místico que possui nas
tradições católica e ortodoxa. Durante o século XX e posteriormente XXI, com o
processo de nacionalização de muitas dessas igrejas, foi que os seus templos passaram a
manifestar as preferências e aparências locais. Em países como o Brasil, a posição da
Igreja Católica como religião oficial, e ao mesmo tempo o desejo de atrair imigrantes
32
europeus, fez com que os legisladores autorizassem os protestantes a construir os seus
templos, contanto que não tivessem forma exterior de igrejas. Isso contribuiu para o
empobrecimento arquitetônico e artístico dos templos evangélicos, em grande parte
monótonos e pouco atraentes, contudo, após a expansão e crescimento dos evangélicos a
importância dada aos templos fez com que as Instituições Religiosas passassem a serem
percebidas pela sociedade através de templos suntuosos e também pela quantidade
imensa de filiais espalhadas geograficamente (MATOS, 2013). Hoje esses templos se
espalham de forma impressionante, chegando a competirem uns com os outros por
espaço em bairros e ruas; observadas também no município de Caruaru (PE).
Esta expansão das igrejas evangélicas no espaço brasileiro seguiu paralela ao
processo de urbanização e industrialização do país. Analisando as instâncias
hierárquicas verifica-se que há um organismo supralocal, onde o mesmo possui alcance
nacional ou regional e é constituído de membros investidos da alta administração.
Esta jurisdição de poder rege e orienta as várias igrejas que compõem uma
determinada denominação. Na sequência hierárquica e em subordinação, estão as igrejas
locais. As principais igrejas locais atuam como sedes do poder local e, geralmente, são
igrejas principais, isto é, templos-sedes ou igrejas-matrizes, que por sua vez, cada
templo-sede possui uma ramificação de igrejas menores e dependentes (chamadas de
igrejas filiais), salões e pontos de pregação. Esse tipo de expansão é visto em igrejas
Pentecostais (Assembleia de Deus, Congregação Cristã do Brasil, etc.) e também nas
neopentecostais (Igreja Universal do reino de Deus, Nova Vida, Deus é Amor,
Congregacional Vale da Bênção, etc.), diferentemente das igrejas históricas tradicionais
(Presbiteriana, Metodista, Batista, Congregacional e Luterana) assim como o
catolicismo romano, que possuem um clero profissional que centraliza todas as decisões
e não descentralizam tanto suas filiais.
Essa rigidez centrada nas igrejas históricas refere-se às instâncias de poder que
estas estruturas religiosas assumem, pois, caracterizam um governo legal-hierárquico
que descrevem uma linha vertical onde os pontos mais baixos e intermediários são
executores de diretrizes e orientações dos mais altos. Por outro lado quando se descreve
a descentralização e a flexibilidade encontrada na forma espontânea de expansão das
Igrejas Pentecostais e na sua divisão interna, reforça-se o sentido de independência que
as tais igrejas promulgam, destarte apresentarem a descentralização como a força
motora que impulsiona todo o ciclo de crescimento pentecostal. Segundo Read (1967)
33
os templos-sede que não se descentralizam podem se fossilizar, perdendo a influência
como agente de evangelização e de crescimento dinâmico, portanto, a reprodução
pentecostal se dá de forma descentralizada e essa descentralização se faz em processo
contínuo.
Os pontos de pregação (quase nunca utilizados pelos evangélicos históricos),
ou grupos de nucleação9
, constituem a base da hierarquia pentecostal. Eles são produtos
de uma importante prática de evangelização bastante utilizada pelo pentecostalismo,
originária da Igreja Evangélica Assembleia de Deus.
As religiões evangélicas, apesar de não poderem ser consideradas um
fenômeno urbano10
(pois é nele que elas encontram amplitude para sua expansão, sendo
essa uma de suas características) é no meio dessas camadas menos favorecidas
economicamente que a maioria (não todas) dessas denominações prefere atuar para sua
expansão, desencadeando posteriormente tal fenômeno.
Conforme Pinho (2000), o modo de atuação dessas igrejas evangélicas, já
analisadas posteriormente, se resume em duas formas distintas: a forma estrutural das
igrejas tradicionais, onde há maior rigidez de sua estrutura organizacional e eclesiástica
e outra de forma mais descentralizada e flexível como é o caso das denominações
neopentecostais, embora estas em determinados momentos também possuam certa
rigidez, mas não como as tradicionais, marcam uma determinada linha estratégica que
tem sido muito eficiente observando a difusão das mesmas, ou seja, se for analisado
tendo como referência o percentual de crescimento, tanto das denominações quanto do
número de crentes em todas as esferas.
9
A nucleação é uma prática informal, através da qual um crente ou um pastor reúne em sua própria casa,
ou mesmo em qualquer outro lugar, um pequeno grupo de não crentes curiosos em conhecer a Bíblia. Foi
e continua sendo uma estratégia proselitista (estratégia de conversão) bem sucedida que abarca de forma
bem clara a dimensão territorial (A Representação Político-Territorial dos Pentecostais no Rio De Janeiro.
Autoria: Cristina Lontra Nacif: Prof.ª da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal Fluminense e
Mônica Sampaio Machado: Prof.ª do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro).
10
O processo de urbanização crescente da humanidade, iniciado no século XIX, verificou-se
primeiramente nos países pioneiros da Revolução Industrial. Nos países do Sul subdesenvolvido, este
fenômeno só tomou corpo a partir de 1950 em função da combinação de dois fatores: o êxodo rural e um
expressivo crescimento vegetativo da população. O mundo atual vive um acelerado processo de
urbanização. Atualmente, mais da metade dos quase 7 bilhões de habitantes do planeta já reside em
centros urbanos. [...] Segundo a ONU, em 2025 pouco mais de 60% do contingente demográfico total do
mundo morará em cidades (Recuperado do site:
<http://www.clubemundo.com.br/revistapangea/show_news.asp? n=393&ed=4> Acesso em: 29 de abr.
de 2012).
34
A religião evangélica, principalmente seu ‘braço’ pentecostal tem sido apontado por
vários estudiosos como sendo uma religião dos pobres e oprimidos. [...] segundo o
IBGE (2000), é nas camadas de menor poder aquisitivo que se concentram os
maiores números absolutos de população evangélica. O que por si só não pode ser
apontado como causa do fenômeno. [...] a população pentecostal aparece como a de
menor quantidade de anos de estudo regular, o que também não deve ser colocado
como fator de causa para o crescimento desta religião, pelo menos não isoladamente.
[...] A estrutura organizacional de uma igreja evangélica é composta por quatro
instâncias hierárquicas: organismo supralocal, templos-sedes, igrejas filiais, salões e
pontos de pregação. [...] Essa estrutura pode mudar de acordo com o tamanho da
denominação e seu número de fiéis, serve apenas como demonstração básica para
um maior entendimento do leitor (PINHO, 2000, p. 3 e 6).
Outro fator facilitador dessa expansão territorial dos neopentecostais é atentar
para o fato dos líderes de linha (ou liderança média) possuir pouca qualificação para
dirigirem uma igreja (geralmente filial), bastando somente um conhecimento empírico
da Bíblia e posteriormente uma vida íntegra na comunidade local, o que difere de uma
religião tradicional liderada por um gestor, geralmente possuindo uma formação
acadêmica, além da conduta ética na sociedade. Há alguns casos em que esse assunto
está sendo revisto o que implica dizer que se postula pela necessidade de seus líderes,
além de uma vida ética, serem formados secularmente.
Geralmente as instituições religiosas têm uma hierarquia baseada no modelo
Funcional com ênfase nos aspectos mecanicistas, ou seja, “[...] o modo mais simples de
departamentalização [...] que tanto pode ser usado pelas organizações de grande como
de pequeno porte, [...] a estrutura pode evoluir para outras formas mais complexas”
(MAXIMIANO, 2008, p. 196) em que na prática existe um administrador principal que
comanda um conjunto maior com departamentos hierarquicamente organizados, ainda
que geograficamente espalhados. Nesse modelo o gestor tem pleno o controle dos
processos da organização e certeza de que as atividades se orientam para a missão da
mesma, porém essa estrutura, baseada na expansão da instituição religiosa, tende a se
tornar muito complexa e com uma hierarquia verticalizada extremamente formal. Há
uma sobrecarga pastoral. Elas também possuem características burocráticas com uma
adequação às condições ambientais estáveis; descritas por Max Weber (2006). Incluem-
se aqui a grande maioria das igrejas históricas: as igrejas Batistas, Metodistas,
Presbiterianas, Congregacionais, algumas Pentecostais (Assembleia de Deus,
Congregação Cristã no Brasil, Deus é Amor), etc. Já quando a ênfase é mais
evidenciada para a descentralização dos processos as instituições religiosas agregam um
modelo mais flexível, orgânico, que são características de ambientes dinâmicos, com
35
organogramas em contínua construção e redefinição das tarefas. Aplica-se a esse
modelo uma hierarquia mais horizontal ou achatada. São exemplos as igrejas: Igreja
Universal do Reino de Deus, Igreja Congregacional Vale da Bênção, Igreja Renascer
em Cristo, Igreja Internacional da Graça de Deus, etc., geralmente incluídas entre as
igrejas neopentecostais.
Conforme Maximiano (2008) nenhuma organização é exclusivamente
mecanicista ou orgânica, todavia, há uma combinação de ambas e é explicada pela
teoria situacional11
, em que os modelos de organização se adaptam a diferentes
circunstâncias e variantes, tais como: estratégia, tecnologia, recursos humano e
ambiente (interno e externo), ou seja, seu capital intelectual12
. As organizações precisam
de um plano estratégico com base a um padrão comportamental holístico e sistêmico em
relação ao seu ambiente e com base a sua atuação diante da concorrência que podem
englobar: os níveis de envolvimento hierárquicos, que se projeta, quase sempre em
longo prazo quando estão inseridas a missão e a visão da mesma na busca de objetivos
mensuráveis, aptidão para retroceder quando são identificados erros nas tomadas de
decisões e a busca de uma sinergia ampla entre os envolvidos.
Tais estratégias são mensuradas a partir de aspectos ambientais e análise
organizacional revelando as ameaças e as possíveis oportunidades que devem ser
aproveitadas, assim como estudar pontos fracos e fortes das organizações, gerando uma
vantagem competitiva ante as demais. As instituições religiosas não são diferentes, mas
elas agem de acordo com estratégias, processos logísticos e estruturas organizacionais
modernas, ainda que algumas não vejam (mas realizam na prática, ainda que
inconscientemente) esse lado, pelo fato de acharem que religião e sistemas humanos não
se coadunem.
11
A Teoria (ou Modelo) Situacional desenvolvida por Paul Hersey e Kenneth Blanchard e publicada na
obra de ambos: "Management of Organization", é uma teoria situacional de liderança que se baseia na
ideia de que o estilo de liderança mais eficaz varia consoante a maturidade dos subordinados e consoantes
às características da situação. Os autores do modelo defendem que um líder eficaz é aquele que consegue
identificar e diagnosticar corretamente a situação e o nível de maturidade dos seus subordinados,
adotando de seguida o estilo de liderança mais adequado. Um dos conceitos-chave desta teoria é, desta
forma, o nível de maturidade dos subordinados relativamente ao seu desempenho das tarefas (incluindo o
seu desejo de realização pessoal, a sua disposição para aceitar responsabilidades e a sua
capacidade/aptidão para executar a tarefa) (Recuperado do site:
<http://www.knoow.net/cienceconempr/gestao/teoriasituacionalherseryblanchard.htm> Acesso em 29 de
abr. de 2012).
12
“Brooking (1996:12-13) define Capital Intelectual como uma combinação de ativos intangíveis, frutos
das mudanças nas áreas da tecnologia da informação, mídia e comunicação, que trazem benefícios
intangíveis para as empresas e que capacitam seu funcionamento” (ANTUNES, 2000, p. 78).
36
2.2.2 A Influência Capitalista no Protestantismo Ocidental
“A Reforma protestante ocorreu no século XVI, período em que as
oportunidades para acumulação de capital, tão necessária para a posterior produção
capitalista em grande escala, foram maiores do que nunca” (HUBERMAN, 1986, p.
154).
Há aproximadamente meio século os evangélicos são a religião que mais
cresce no Brasil, desde os primeiros reflexos da reforma protestante e seus idealizadores
que iniciaram há quase 500 anos atrás e fragmentou o movimento em várias correntes
com diferenças teológicas e doutrinárias, até a presença maciça de sociólogos que
incrementaram não só a teologia como também a política e a economia e abordaram
críticas às descontínuas negligências para com o papel do cidadão num ambiente
democrático ou social, por vezes em ângulos diretamente opostos. Analisando Karl
Marx, o mesmo possuía uma visão negativa da política, o que implicaria dizer que,
segundo ele, não existe uma teoria geral do Estado, e por isso deveria ser extinto
(BOBBIO, 1997), ao passo que Max Weber, defendendo a política, era a favor de uma
burocracia permeada por uma eficiente forma de controle democrático
(TRAGTENBERG, 1997). Sociólogos, semelhantes a estes citados, foram responsáveis
por forçarem um debate, já por outros iniciados, sobre o capitalismo que ora aliena, ora
visa o lucro certo das organizações em detrimento do trabalhador ou ora trás progresso e
inclusão social.
Igualmente, é de importância ressaltar que também há uma dupla opinião
quando ambos os sociólogos (Weber e Marx) retratam a relação entre religião e
capitalismo. Marx não reinterpretou a religião, porém passou a denunciá-la como
inimiga do progresso. “A religião é na verdade a autoconsciência e o autoconhecimento
do homem, enquanto este ainda não estiver encontrado meios de se sustentar em pé no
universo [...] O homem é o mundo dos homens, o Estado, e a sociedade” (BROWN,
2007, p. 115). Ele via nesta sociedade o fator gerador que produz a religião de forma
nociva ao próprio progresso humano. Todavia Marx chamava de vácuo deixado pela
religião e que deveria ser preenchido pelo materialismo13
– materialismo esse,
13
Em filosofia, materialismo é o tipo de fisicalismo que sustenta que a única coisa da qual se pode
afirmar a existência é a matéria; que, fundamentalmente, todas as coisas são compostas de matéria e todos
os fenômenos são o resultado de interações materiais; que a matéria é a única substância. Como teoria, o
37
dinâmico, moldado segundo as linhas da dialética de Hegel – onde a realidade não é
estática, seguindo um curso ascendente de progresso. Ele instigou em sua filosofia as
lutas entre as classes sociais e justificou a evolução do feudalismo para o capitalismo,
deste para o socialismo e deste para o comunismo (BROWN, 2007). Já Weber traça de
forma detalhada o tipo ideal da conduta religiosa da sua época que viria contribuir
decisivamente para o desenvolvimento qualitativo do capitalismo, também chamado por
ele de ascetismo intramundano14
que foi vivenciado por grupos protestantes tais como:
calvinistas, pietistas, metodistas e batistas, já citados anteriormente nessa pesquisa
(WEBER, 2006).
A partir dessa ética protestante existente na sociedade alemã – de onde se
originaram sociólogos como os citados acima, assim como também reformadores como
Lutero – que tinham suas bases formadas por culturas, políticas, economias, religiões e
sociedades diferentes das do Brasil, e foi pela qual houve maciça influência nos
primeiros grupos evangélicos que posteriormente se difundiriam nas cidades brasileiras,
onde a burguesia republicana passou a ver tais movimentos necessários como parte da
construção e modernização filosófica da nação propagada através de missionários
estrangeiros (europeus e americanos). É no início do século XX, que algumas igrejas
entram no cenário eclesiástico com destaque para uma nova forma de pensamento e
passariam a influenciar o perfil do novo evangélico no Brasil através do movimento
pentecostal (REILY, 2003).
Em continuidade histórica vê-se através da plena liberdade religiosa com a
Constituição do Brasil de 1824, e também pela política econômica de abertura do país
ao capital estrangeiro pela Revolução de 1964 (o golpe militar) – um importante canal
de distribuição e expansão das principais denominações no país – de onde “houve um
alto grau de aceitação da intervenção militar pelos protestantes, a princípio pelo medo
de que João ‘Jango’ Goulart estivesse conduzindo o país a um caos socialista e
possivelmente à guerra civil” (REILY, 2003, p. 309), e dessa forma os protestantes,
materialismo pertence à classe da ontologia monista. Assim, é diferente de teorias ontológicas baseadas
no dualismo ou pluralismo. Em termos de explicações da realidade dos fenômenos, o materialismo está
em franca oposição ao idealismo e ao metaficismo, deixando bem claro que o materialismo pode sim se
correlacionar com o idealismo e vice-versa em alguns casos, mas o real oposto da materialidade é mesmo
o sentido da metafisicidade (<http://pt.wikipedia.org/wiki/Materialismo>).
14
O agente dinâmico [...] para tanto se fazia necessário exercê-lo da forma mais metódica possível, com o
maior grau de racionalização, otimizando os recursos e maximizando os resultados, como era compatível
com a conduta dos eleitos, que não estavam em busca do reconhecimento neste mundo, mas de realizar o
que é agradável a Deus (WEBER, 2011, p. 18 e 19).
38
mesmo apolíticos em sua forma de pensar, refletiam fielmente uma mentalidade
majoritária, e uma oportunidade para se firmar como identidade religiosa (REILY,
2003).
Destas transformações sociais o Capitalismo, já bem alicerçado nos EUA e
resto do mundo, se faz perceber nas organizações brasileiras de forma mais dominante e
sobre as classes menos favorecidas por ele dominadas. Weber argumentava que o “[...]
Capitalismo, porém, identifica-se com a busca do lucro, do lucro sempre renovado por
meio da empresa permanente, capitalista e racional (2011, p. 26)”. Ele ainda explicava
que um grande problema, porém não impossível de mensurar, era demonstrar a
influência de ideias religiosas no desenvolvimento de um espírito econômico, ou seja,
uma conexão do espírito da moderna vida econômica com a ética racional da abnegação
protestante; e quais elementos faz parte da ética econômica das religiões ocidentais que
as diferenciam das outras religiões mundiais, como do Oriente, por exemplo,
concentrando em sublinhar as ligações causais entre o protestantismo e o capitalismo.
Observamos a mesma coisa nas estatísticas de filiação religiosa de qualquer parte
em que o capitalismo, na época de sua grande expansão, pôde alterar a distribuição
social conforme suas necessidades e determinar a estrutura ocupacional [...] Resta,
por outro lado, observar o fato de os protestantes, [...] quer como classe dirigente,
quer como subordinada, tanto em maioria como em minoria, terem mostrado uma
especial tendência para desenvolver o racionalismo econômico (WEBER, 2011, p.
39 – 42).
De fato, vários grupos sociais que vivem na periferia desse processo – o que
por vezes é o caso das instituições religiosas quando se aborda a hierarquia das
necessidades das mesmas já identificadas por Abraham Maslow – ainda hoje estão
pouco envolvidos ou adaptados às novas condições do capitalismo moderno e “[...] com
o colapso do tradicionalismo e a quase total extensão da livre empresa econômica,
mesmo no interior do grupo social, a novidade não foi, no geral, eticamente justificada e
encorajada, mas apenas tolerada como fato (WEBER, 2011, p. 54)”. O que sempre
sugere entre as sociedades por mudanças e transformações para adaptação ao ambiente.
Abraão Harold Maslow (1908-1970), psicólogo americano, lançou durante a
abordagem comportamental da administração científica as bases para a Teoria das
Necessidades Humanas ou Hierarquia das Necessidades Humanas, onde segundo ele
“[...] o homem é motivado por necessidades organizadas em uma hierarquia de relativa
prepotência, ou seja, [...] uma necessidade de ordem superior surge somente quando a
39
de ordem inferior foi relativamente satisfeita” (CARAVANTES; PANNO;
KLOECKNER, 2006, p. 106).
Numa sociedade desigual em que os indivíduos vivem um problema estrutural
globalizado, fugindo dos perigos, buscando abrigo, segurança, proteção, estabilidade e
continuidade, a busca da religião ou de uma crença deve estar inserida em um dos níveis
da pirâmide das necessidades de Maslow; Necessidade de Segurança da hierarquia,
como termômetro de sua crença e filiação é o lugar mais propício? Ou também junto
com necessidades fisiológicas básicas está a base da religiosidade dos envolvidos? E se
as necessidades espirituais só se comportassem bem no topo da pirâmide de Maslow
para, assim, haver a motivação verdadeira para a crença e propagação dos valores?
Esses posicionamentos invertem-se quando diferenciamos populações de países centrais
e periféricos? Os membros de uma filiação religiosa poderão estar motivados a
participarem ativamente do convívio social eclesiástico e envolverem-se com a missão e
propagar os valores das mesmas quando estiverem motivados a esse fim. Os gestores
evangélicos têm papel crucial na aproximação ou afastamento de um membro. E os
membros estão diretamente ligados à denominação pelo lugar em que sua religiosidade
pode estar ocupando na pirâmide.
(Recuperado do site: <http://site.suamente.com.br/a-piramide-de-maslow/>
Acesso em 12 de mar de 2013).
Figura 2 – Pirâmide de Maslow
Busca da religião
ou de uma crença
40
(Recuperado do site: <http://www.fabiosampa.com.br/motivacao-e-a-piramide-de-maslow>. Acesso em
12 de mar de 2013).
Figura 3 – As necessidades Espirituais na Pirâmide de Maslow
O homem é um ser complexo e dotado de necessidades num processo contínuo
do nascimento até a morte. Não é estranho perceber que aplicando essa teoria à
realidade cristã podemos perceber que o comportamento do ser humano é semelhante na
busca pela hierarquia destas necessidades intrínsecas em seu ambiente de vida. Hoje o
que mais assola mesmo nas igrejas locais são pessoas necessitadas, quer sejam pela falta
de estrutura familiar, surgimento de doenças, educação fragilizada, falta de emprego,
rejeições sociais ou pelo acúmulo de problemas.
Uma expressão escrita por um mestre em Administração e professor de
Estratégia e Marketing, Marcos Morita nos chama a atenção para o quanto o público lá
fora estão sintonizados nas transformações que a sociedade passa, sobretudo os
evangélicos; ele aponta para um crescimento e grande aderência entre as atitudes e
padrões de consumo da emergente classe média e o seu poder aquisitivo nesses últimos
anos e que “[...] as igrejas evangélicas souberam aproveitar esta lacuna, inserindo-se nas
comunidades de forma pioneira, antes mesmo da explosão do consumo” (MORITA;
Disponível em: <http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/brasileiros-na-
argentina-os-novos-sonhos-de-consumo/46296/> Acesso em: 08 de ago. de 2010). Na
verdade o que ele está querendo afirmar aqui – isso ele engloba todos os evangélicos – é
que as igrejas foram aproveitadoras da ‘inocência’ da maioria subdesenvolvida das
pessoas e com suas doutrinas conduziram-nas ao rol de membros das suas instituições,
ou seja, diferentemente da reforma protestante alemã ou da revolução industrial na
Inglaterra, a aculturação em ambientes diversificados, como no Brasil, encontraram
brechas proporcionais ao tipo de sociedade e indivíduos que a absorveram dentro do seu
limite cultural e de desenvolvimento, contudo, estudos mais profundos podem
41
direcionar a outras conclusões, pois o fato por si só não pode definir a religiosidade no
Brasil.
De todo modo, este constitui um campo de investigação que vem engolfando
crescentemente maior número de questões, tornando-se mais complexo, abrangente
e relevante. Envolve questões referentes ao pluralismo religioso, à ética, à ampliação
das fronteiras do campo religioso e das formas de inserção social das denominações
pentecostais, à transformação de igrejas em empresas lucrativas, às demandas
sociais ao Estado para fiscalizá-las e controlar seus negócios e empreendimentos
(MARIANO, 1996, p. 16).
Indícios históricos concentram a pobreza entre os neopentecostais e
demonstram essa atratividade pela mensagem pentecostal, em sua múltipla variedade de
formas e conteúdos, nas classes sociais periféricas, de onde deriva justamente a sua
adaptação às demandas por resultados concretos e por vezes abstratos (no âmago
espiritual) condicionados pelas condições de vida na pobreza e na marginalidade,
constituindo uma estratégia institucional para competir no mercado religioso. Essa
forma capitalista e mercantilista ocorre quanto menor forem as forças internas e
externas, assim também como menos barreiras existirem, porém, tais igrejas são
socialmente vistas como instrumentos de enfrentamento da pobreza15
que trazem
positivamente fatores como a melhora da autoestima, o fortalecimento da dignidade, a
criação de uma imagem de decência, de um senso de coerência, de uma nova
identidade, a prática da caridade, a oportunidade de trabalho remunerado (ainda que
dentro da burocracia denominacional), a formação de vínculos informais de ajuda
cooperativa, a ênfase no ascetismo, a restrição ao consumo supérfluo e o incentivo à
poupança (MARIZ, 1996 apud MARIANO, 1996).
Também ao contrário da teoria da evolução das espécies proposta pelo
naturalista Charles Darwin que forçam as espécies em transformações contínuas e que
influenciou os pensadores da administração conduzindo a ideia de que, assim como na
teoria das espécies biológicas, as instituições religiosas tidas como empreendedoras,
também forçosamente devem se adaptar ao ambiente (ao passo que, aquelas que não se
adaptarem a essas mudanças gradualmente serão superadas), e o pensamento
configuracional16
afirma que essa mudança (mutação) acontece, contudo não é gradual,
mas revolucionária e repentina.
15
Mariz, 1996 apud Mariano, 1996.
16
Sugere o pensamento da escola de configuração que tais revoluções são particularidades das grandes
organizações, com padronização em suas rotinas, bem estabelecidas e que estão mais adequadas a
dominarem o cenário empresarial e que tendem a experimentar longos períodos de estabilidade,
interrompidos por curtos períodos de transformações (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000).
42
Essas revoluções são geradas pelo advento de empresas empreendedoras com novas
tecnologias [...] novos setores industriais criados por esses novos negócios
empreendedoriais destroem as empresas e os setores industriais existentes, tornando-
os obsoletos [...] Essas organizações adaptativas permitiriam às empresas inovadoras
absorver os custos e riscos de se criarem novos produtos e serviços e depois
imitariam as adaptações bem-sucedidas (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2010, p.
29 e 30).
Diante desse exposto tenta-se projetar que o Capitalismo está para o
Neocristianismo, assim como o Comunismo está para o Islamismo Ortodoxo, onde
essas e muitas outras religiosidades populares assumem um papel antropocêntrico e
humanista, ou seja, colocam o homem como centro de tudo, individualizando-o e
projetando-o para os interesses de classes politicamente dominantes, afastando-se
completamente do que está escrito nas páginas dos seus livros sagrados: A Bíblia e o
Alcorão, de onde provém à práxis documental da fé de seus membros. Outrora ao
estremo Lenin17
descrevia a religião como: “[...] uma das formas de opressão espiritual
que pesa em toda a parte sobre as massas populares, esmagadas pelo seu perpétuo
trabalho para outros, pela miséria e pelo isolamento (1ª edição publicado no jornal
Nóvaia Jzni, nº 28 de 3 de dezembro de 1905 – O Socialismo e a Religião)”, e Weber
por outro lado dizia que estava interessado “[...] na influência de tais sanções
psicológicas, originadas nas crenças e práticas religiosas, que orientavam a conduta
prática dos indivíduos e assim a mantinham (WEBER, 2011, p. 83)”; Mesmo que por
lados opostos e como influentes para pensamentos políticos/religiosos de suas épocas,
ambos estavam afirmando a importância da religião no cotidiano das pessoas e sua
visão aparente do que ela causava na sociedade e no trabalho como um todo.
Contemporaneamente, as discussões sobre as relações entre ética religiosa,
economia e mobilidade social continuam sendo atuais e tendem a crescer cada vez mais,
porém, num mundo em que cada vez a globalização, o domínio pela lógica do mercado,
pela cultura do marketing e do consumo, pela indústria do entretenimento, por
multinacionais, por grandes corporações financeiras e conectadas por redes mundiais de
computadores, não é mais possível pensar e deduzir, de forma particular nas sociedades
pluralistas e democráticas, a partir de uma religião, baseada na ética da ascese e do
17
Vladimir Ilitch Lenin ou Lenine (Simbirsk, 22 de abril de 1870 – Gorki, 21 de janeiro de 1924), foi um
revolucionário e chefe de Estado russo, responsável em grande parte pela execução da Revolução Russa
de 1917, líder do Partido Comunista, e primeiro presidente do Conselho dos Comissários do Povo da
União Soviética. Influenciou teoricamente os partidos comunistas de todo o mundo (pelo seu perfil ético),
e suas contribuições resultaram na criação de uma corrente teórica denominada leninismo (Ética de
Estado). (Recuperado do site: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Lenine>. Acesso em 24 de março de 2012).
43
trabalho duro, que possa alavancar e reformular, modelar e transformar uma economia
nacional, quanto mais global (MARIANO, 1996).
Conforme o próprio Mariano (1996) isto é tido como um problema de cunho
sociológico, no entanto, permanece atual e passível de exame, pois o tema é relativo à
expansão e crescimento pentecostal na América Latina, defendendo a tese de que as
consequências moral e social da conversão pentecostal são potencialmente similares às
mesmas descritas por Weber da ética protestante, onde se verifica que a ética de
determinado grupo religioso pode favorecer ou não a mobilidade social de seus adeptos.
Uma questão tratada pelo próprio pentecostalismo.
O crescimento dessas denominações vem sendo assunto de pesquisa por vários
grupos e durante décadas: teólogos, filósofos, sociólogos, gestores, administradores,
etc., e ultimamente tem se intensificado. A crescente expansão dessas novas unidades
evangélicas (filiais) dentro do município de Caruaru, apesar de ser micro, tende a
mensurar de forma holística o que se vê na teoria, pois, nem sempre estão em acordo
com a necessidade investida pela liderança, ou que seja, o aumento de seus templos na
região com o intuito de acessibilidade aos fiéis, contudo, por vezes se veem igrejas com
poucos membros em espaços muito próximos umas das outras, tendo ainda deficiência
em sua assistência e manutenção.
À medida que as igrejas se desenvolvem, aumentam também em
complexidade, como qualquer outro tipo de organização, e naturalmente também outro
desafio é de se manter estável, sob o ponto de vista organizacional, não perdendo os
objetivos e a missão pelas quais foram formadas.
[...] Hoje em dia, em face da evolução cultural e tecnológica, do amplo crescimento
das igrejas como unidades institucionais, da necessidade do desenvolvimento
integral dos recursos da comunidade e das exigências legais do Estado, a boa
organização converteu-se num ingrediente importante do bom êxito da liderança da
Igreja (KESSLER; CÂMARA, 2005, p 11).
O que atualmente reflete como principal crescimento organizacional num
mundo capitalista? O que as instituições religiosas descrevem como crescimento? O que
para elas é estar ampliando seus territórios e firmando sua teologia no processo de
administrar, gerando um novo organismo e sendo capaz de retirá-lo da inércia,
conduzindo-o a uma melhor funcionalidade dos seus recursos com o menor gasto
possível? Manter a organização em funcionamento homogêneo e integrado em suas
diversas atividades, reunindo os meios e os recursos materiais e humanos racionalmente
44
são critérios que estão na base da administração eclesiástica e na visão de todo bom
administrador. Em vista disso: quais os interesses dos líderes religiosos para a fundação
de novos templos evangélicos na cidade de Caruaru, e como avaliar esse papel como
gestão social dentro das teorias administrativas? Essas e outras perguntas serão testadas
pela metodologia em ação no campo investigativo.
2.2.3 A Gestão Social Eclesiástica e sua Relevância no Terceiro Setor
Numa perspectiva de pluralidade e crescimento as políticas mundiais voltadas
ao bem estar e coletivo se deparam com uma realidade dura e cada vez mais
centralizada numa minoria, já de muito tempo atrás chamada de burguesia, e alimenta
suas bases ideológicas com uma forma distorcida da realidade humanitária num
contexto social e religioso.
O desenvolvimento de uma nação está intimamente ligado ao grau de educação
em que seus indivíduos estão expostos e posteriormente isto refletirá na cultura, na
política, na sociedade e por que não dizer na religião. Com a fragilidade das estruturas
do Estado e consequentemente sua insuficiência em alternativas políticas de conter esse
hiato, que cada vez mais tende a separar as classes sociais, surge o Terceiro Setor como
uma possível solução para minimizar os danos causados pela ação capitalista no
decorrer das últimas décadas.
A designação de Terceiro Setor aplica-se ao conjunto de iniciativas e organizações
privadas, baseadas no trabalho associativo e voluntário, cuja orientação é
determinada por valores expressos em uma missão e com atuação voltada ao
atendimento de necessidades humanas, filantropias, direitos e garantias sociais
(CABRAL, 2007, p. 2).
Paralelamente a esta ruptura com o bem-estar social o trabalho das ONGs
(organizações não governamentais), vem crescendo em todo mundo e semelhantemente
no Brasil elas tem alcançado seu espaço com o papel de transformação social – papel
este reportado ao Estado – que visa o seu fortalecimento em uma sociedade eticamente
estruturada (não é o caso brasileiro e de muitos outros países situados na periferia do
capitalismo) e que prima por uma ação de missão social com indivíduos voluntários,
não governamentais e sem fins lucrativos – por vezes meras ilustrações de organizações
caracterizadas apenas pela literatura bibliográfica. Elas alcançam em sua área de
atuação “[...] elementos relativos à produção e reprodução da vida societária, incluindo
45
os vínculos de associação e dissociação na família, na empresa, na escola, na igreja, na
administração, na formação do povo [...] (CABRAL, 2007, p. 9)” de forma
intermediária na sociedade civil.
Por essa abordagem destaca-se a influência em que as Igrejas Evangélicas têm
causado nos dias atuais e os meios que as mesmas têm utilizado para se posicionarem
no Terceiro Setor de forma que não passem despercebidas, porém atuantes e
expansionistas. Dependendo da época e da formação econômica, política e social dos
povos, a Igreja tem influenciado a sociedade e o poder público de diferentes maneiras e
é participante das transformações sociais e trabalhistas no decorrer dos tempos em todo
o mundo. Momentos estes que vão desde os mártires de Roma (igreja primitiva), dos
governos comunistas, das segregações raciais (reivindicando a igualdade para todos),
atualmente dos países islâmicos radicais e o número crescente de parlamentares
evangélicos em toda esfera nacional, contrariando o que se propagava antigamente pelos
evangélicos que: Igreja e administração pública eram insociáveis e de competência
apenas formal por parte da população como um todo; um pensamento de quem vive na
periferia do progresso econômico e numa perspectiva de subdesenvolvimento (JESUS,
2001).
Dentre os países subdesenvolvidos, quase todos são excluídos dos benefícios
do crescimento, o que implica dizer que o subdesenvolvimento18
é uma forma de
organização social no interior do sistema capitalista, e que não somente isso, os países
subdesenvolvidos tiveram um processo de industrialização indireto como consequência
dos países industrializados. O que se descobre através dos estudos é que não basta
somente uma crescente industrialização para conter os problemas sociais brasileiros e de
outros países tidos como “emergentes”, mas as bases que delimitam o modo “estar”
subdesenvolvido de um país dependerá de fatores acumulados no decorrer de sua
própria história, da influência da sua religião, da formação de identidade nacional,
dimensão cultural de subdesenvolvimento e porque não dizer o histórico de permanente
dependência dos países periféricos dos centrais.
18
[...] Essa perspectiva constituía, além da novidade que encerra uma forma de procurar saídas para os
desafios do desenvolvimento nos países periféricos, desafio esse que [...] sintetiza na necessidade de
“explicar, numa perspectiva macroeconômica, as causas e o mecanismo do aumento persistente da
produtividade do fator trabalho e suas repercussões na organização da produção e na forma como se
distribui e utiliza o produto social” (FURTADO, 1961, p. 19).
46
Atualmente a expansão, não só geográfica, mas também doutrinária das
instituições religiosas emergentes promulgam de certa forma um liberalismo teológico,
com uma reinterpretação liberal do Evangelho em termos do envolvimento social ou
teoria marxista, com uma visão cultural igualitária e futurista, rejeitam as bases
ortodoxas, apoiando somente um sincretismo religioso, numa tentativa de fuga a essa
desproporcional realidade social, e em contrapartida, como que a própria administração
eclesiástica tradicional está preocupada com os novos nichos que surgem nesse
mercado; proporcionalmente que cresce a mobilidade entre grupos sociais inseridos nas
classes sociais que se distanciam cada vez mais uma das outras quando avaliada a teoria
das necessidades sociais já postuladas outrora por Maslow e a possível ascensão da
classe C no Brasil ocasionando um impacto na distribuição dessas necessidades.
Por essas mudanças num ambiente competitivo espera-se um posicionamento
estratégico das instituições religiosas, mesmo que estejam inseridas no grupo de
empresas privadas não governamentais; tais denominações dominam um público que
tende a crescer e são alvos dos interesses das mesmas, pois no macro ambiente, num
conjunto político, econômico, social, cultural e tecnológico, fazer uso correto da missão
da religião em si, traçando seus objetivos e metas voltadas para a convergência das
estruturas sociais para uma revisão e mudança de posicionamento racional nas pessoas
tende a ser fundamental para a fidelização desses membros.
Observando o caso brasileiro, pelo qual a Constituição Federal (1824) dá
amplo direito de associação religiosa, mas que na prática, tem formas dicotômicas de
cidadania, que por sua vez assumem, respectivamente, “[...] modelos societários que
privilegiam um ou outro tipo de democracia [...] um orientado para a concessão de
direitos sociais formalmente doados à comunidade – a cidadania passiva – e outro,
orientado para conquista, garantia e manutenção dos direitos sociais fundamentais do
cidadão [...] – a cidadania ativa” (MEDEIROS, 2009, p.60), atesta-se que as igrejas
também tendem a assumir esse papel e por isso ajudam a somar para a forma como a
sociedade civil está exposta diante do espírito do capitalismo moderno e sua ascensão
em detrimento da cultura racional da tomada de decisão participativa e em prol do bem-
estar coletivo. Por essas premissas estão alimentadas também às bases teológicas das
principais igrejas evangélicas do país na conquista da integridade denominacional e da
incessante busca pela unidade da igreja com ênfases para o Evangelho Social e o
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  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ACADÊMICO DO AGRESTE NÚCLEO DE GESTÃO ADMINISTRAÇÃO GEORGE LEITE FREXEIRA O PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL EM INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS E OS INTERESSES DOS SEUS LÍDERES NA EXPANSÃO E FUNDAÇÃO DE NOVOS TEMPLOS CARUARU 2013
  • 2. UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ACADÊMICO DO AGRESTE NÚCLEO DE GESTÃO ADMINISTRAÇÃO GEORGE LEITE FREXEIRA O PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL EM INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS E OS INTERESSES DOS SEUS LÍDERES NA EXPANSÃO E FUNDAÇÃO DE NOVOS TEMPLOS Trabalho apresentado à Coordenação do Curso de Graduação em Administração, da Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico do Agreste, como requisito parcial para aprovação na disciplina Trabalho de Conclusão de Curso. Orientador: Profª. Drª. Silvana Medeiros Costa. CARUARU 2013
  • 3. Catalogação na fonte Bibliotecária Simone Xavier CRB4 - 1242 F892p Frexeira, George Leite. O Processo de gestão social em instituições religiosas e os interesses dos seus líderes na expansão e fundação de novos templos. / George Leite Frexeira. - Caruaru: O Autor, 2013. 95f; il.; 30 cm. Orientadora: Silvana Medeiros Costa Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Universidade Federal de Pernambuco, CAA. Administração, 2013. Inclui bibliografia 1. Instituições religiosas - administração. 2. Valores. 3. Capitalismo. I. Costa, Silvana Medeiros. (orientadora). II. Título. 658 CDD (23. ed.) UFPE (CAA 2013-28)
  • 4. GEORGE LEITE FREXEIRA O PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL EM INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS E OS INTERESSES DOS SEUS LÍDERES NA EXPANSÃO E FUNDAÇÃO DE NOVOS TEMPLOS Este trabalho foi julgado adequado e aprovado para a obtenção do título de graduação em Administração da Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico do Agreste Caruaru, 11 de abril de 2013. _____________________________________ Prof. M.Sc. Antônio César Cardim Britto Coordenador do Curso de Administração BANCA EXAMINADORA: _____________________________________ Profª. Drª. Silvana Medeiros Costa Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico do Agreste Orientador(a) _____________________________________ Profª. Drª. Maria das Graças Vieira Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico do Agreste Banca _____________________________________ Prof. M.Sc. Fernando José do Nascimento Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico do Agreste Banca
  • 5. Dedico aos meus pais (in memoriam), pois, se há algo a elogiar em meus pensamentos ou em meu estilo, o crédito é devido a eles, por me instruírem de um amor precoce pela leitura.
  • 6. AGRADECIMENTOS Ao meu Deus que de uma forma espetacular e simples me abençoou com o dom da vida e me compreende, mesmo eu sendo um ser tão mutável e complexo. A meus pais (in memoriam) que através deles hoje eu não estaria aqui e sem eles nunca teria aprendido a me dedicar à boa leitura e me dado uma educação voltada para a construção das bases familiares cristãs e me ensinado a Bíblia Vernácula. A minha esposa que é o forte elo entre minha vida de solteiro e o comprometimento com uma vida a dois, com maiores responsabilidades e amor acima de tudo, gerando frutos de amizade, companheirismo e dedicação mútua. A meus filhos: Maysa, George e Larissa, que me ensinaram a nunca desistir de lutar e aprender ensinar o caminho da verdade e dos valores morais em família como base para todas as nossas vidas. Às políticas de Gestão Pública Federais, tão escassa em nossos dias, que disponibilizou ao longo do país e em particular no Agreste pernambucano uma Universidade Federal, de onde pude, além de acesso a um ensino de qualidade, uma oportunidade ímpar de cursar minha graduação em Administração. Aos meus professores (mestres e doutores) de Administração da UFPE que me guiaram por entre as muitas descobertas durante todo aprendizado nesta graduação e aos que em particular fizeram a diferença nas minhas novas escolhas profissional e na minha visão hoje como administrador, tais como a Drª Graça Vieira, que até o momento que iniciei esta monografia foi vice coordenadora do curso de administração nesta Universidade e professora de Administração Estratégica e Empreendedorismo, além de ser grande amiga; Drª Silvana Medeiros, minha orientadora neste trabalho monográfico e professora de Gestão Pública e Gestão Social, meu muito obrigado. Aos gestores eclesiásticos (pastores, bispos e reverendos) e seus secretários (as) que foram o sujeito das entrevistas, assim como suas respectivas igrejas como instrumentos de observação e percepção dos constructos aqui mencionados e posteriormente desenvolvidos, os quais sem eles seriam impossível à transliteração desta pesquisa. A todos, muito obrigado por colaborarem com seus conceitos e ideias referentes à Gestão Social nas instituições religiosas. Aos meus caros colegas de curso que por um período de quase cinco anos estivemos juntos compartilhando e trocando informações, estudando e ensinando, rindo
  • 7. e descontraindo, pesquisando e aprofundando nossos conhecimentos. Não vou citar nomes para não esquecer nenhum! Enfim, a todos os amigos e irmãos que direta ou indiretamente estiveram acompanhando a evolução deste trabalho, orando, trocando ideias, sugerindo novos argumentos para as questões mais difíceis e apresentando novas propostas.
  • 8. “[...] Apascentai o rebanho de Deus, que vos foi confiado, cuidando dele, não como por coação, mas de livre vontade, como Deus o quer, nem por torpe ganância, mas por devoção; nem como senhores daqueles que vos couberam por sorte, mas, antes, como modelos do rebanho.” (Bíblia de Jerusalém, nova edição revista e ampliada p. 2.118 e 2.119). "O homem só se realiza quando na verticalidade anseia pela contemplação do seu Deus e na horizontalidade busca e acolhe seus semelhantes". Michel Quoist
  • 9. RESUMO Esta pesquisa tem o objetivo de somar às muitas outras que se preocupam em trazer um diagnostico organizacional nas práticas de gestão social dentro de um grupo específico do Terceiro Setor conhecidas por instituições religiosas. O assunto em estudo é discutido por várias autoridades acadêmicas e é desafiador para a geração atual, tendo em vista, o tema não ser conclusivo, porém identificado por fatores diversos, interna e externamente no âmbito das empresas privadas sem fins lucrativos. A intenção do mesmo não é esgotar o assunto, porém, levar ao público acadêmico uma maior reflexão do tema abordado, bem como sua relevância para a administração e a verificação desta linha divisória entre o compromisso social das igrejas como parte do modelo adotado pelo terceiro setor e a filosofia capitalista operante na maioria dos líderes religiosos ocidentais. Com embasamento bibliográfico o trabalho argumenta as relações culturais e econômicas dentro do protestantismo na construção das primeiras unidades de igrejas tradicionais e fazendo ligação com as igrejas emergentes na região de Caruaru (PE); estudando essas instituições religiosas como um organismo eclesiástico e uma organização de capital humano moldada pelas relações coletivas e individuais; analisando também o modelo de gestão adotado pelos líderes para a fundação de novos templos, assim como propostas inovadoras para manter os valores, a missão, a qualidade, a ética e a transparência dos serviços prestados pela administração eclesiástica. Palavras Chaves: valores, gestão social, administração eclesiástica e capitalismo.
  • 10. ABSTRACT This research aims to add to the many others who are concerned to bring an organizational diagnosis in social management practices within a specific group known as the Third Sector religious associations. The subject under study is discussed by several academic authorities and is challenging for the present generation in view, the issue is not conclusive, but identified by various factors, both internally and externally within the private nonprofit. The intention of it is not exhaustive, however, lead to greater academic public discussion of the subject and its relevance to the administration and verification of this dividing line between the social commitment of the churches as part of the model adopted by the third sector and capitalist philosophy at work in most Western religious leaders. With foundation work literature argues cultural and economic relations within Protestantism in the construction of the first units of traditional churches and making links with emerging churches in the region of Caruaru (PE); studying these religious institutions as an ecclesiastical body and human capital of an organization shaped by collective and individual relationships; also analyzing the management model adopted by leaders to the founding of new temples, as well innovative proposals and to maintain the values, the mission, quality, ethics and transparency of services provided by the ecclesiastical administration. Keywords: values, social administration, ecclesiastical administration and capitalism.
  • 11. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Divisão do Protestantismo.....................................................................21 Figura 2 – Pirâmide de Maslow..............................................................................39 Figura 3 – As necessidades Espirituais na Pirâmide de Maslow............................40 Figura 4 – Evolução do Protestantismo..................................................................53
  • 12. SUMÁRIO CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO .............................................................................. 13 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO .............................................................................. 13 1.2 OBJETIVOS.......................................................................................................16 1.2.1 Objetivos Gerais ................................................................................... 16 1.2.2 Objetivos Específicos ........................................................................... 16 1.3 JUSTIFICATIVA........................................................................................... 17 CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.................................................. 19 2.1 CULTURA, ECONOMIA E RELIGIÃO: CONSTRUÇÃO DO PROTESTANTISMO HISTÓRICO NO MUNICÍPIO DE CARUARU ............... 19 2.1.1 As Origens das Famílias Evangélicas e sua Relação com a Gestão Administrativa...................................................................................................19 2.1.2 Igreja: Organismo e Organização.......................................................... 26 2.2 TERCEIRO SETOR E A INFLUÊNCIA CAPITALISTA NA GESTÃO SOCIAL DOS LÍDERES RELIGIOSOS OCIDENTAIS...................................... 30 2.2.1 Estrutura Organizacional e Hierárquica das Instituições Religiosas ....... 30 2.2.2 A Influência Capitalista no Protestantismo Ocidental............................ 36 2.2.3 A Gestão Social Eclesiástica e sua Relevância no Terceiro Setor .......... 44 2.2.4 O Processo de Gestão nas Principais Igrejas Históricas e Emergentes ... 49 2.3 COMPORTAMENTOS SOCIAIS E OCUPAÇÃO TERRITORIAL PELO AVANÇO DAS IGREJAS EVANGÉLICAS NO MUNICÍPIO DE CARUARU . 57 2.3.1 Adequação Geográfica dos Templos à Realidade Populacional ............. 57 2.3.2 O Impacto das Segregações Espaciais, Migrações Comportamentais e Alterações Denominacionais ......................................................................... 60 CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA........................................................................... 64 3.1 OBJETO DE ESTUDO .................................................................................. 64 3.2 COLETA DE DADOS ................................................................................... 65 3.3 ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................... 66
  • 13. CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS69 4.1 O PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL EM INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS E OS INTERESSES DOS SEUS LÍDERES NA EXPANSÃO E FUNDAÇÃO DE NOVOS TEMPLOS.................................................................................................69 4.1.1 As Relações Culturais e Econômicas dentro do Protestantismo na Construção das Primeiras Unidades Históricas na Região.............................. 69 4.1.2 A Linha Divisória entre o Compromisso Social das Igrejas como Parte do Modelo Adotado pelo Terceiro Setor e a Filosofia Capitalista Operante na Maioria dos Líderes Religiosos Ocidentais .................................................... 73 4.1.3 A Igreja como um Organismo Eclesiástico e uma Organização de Capital Humano Moldada pelas Relações Coletivas e Individuais.............................. 77 CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................... 81 5.1 CONCLUSÃO ............................................................................................... 81 5.2 LIMITAÇÕES ............................................................................................... 83 5.3 RECOMENDAÇÕES E SUGESTÕES........................................................... 83 CAPÍTULO 6 - REFERÊNCIAS, APÊNDICES E ANEXOS................................. 84 6.1 REFERÊNCIAS............................................................................................. 84 6.2 APÊNDICES......................................................................................................89 6.3 ANEXOS............................................................................................................94
  • 14. 13 CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO O atual contexto em que as instituições religiosas estão inseridas, fragmentadas em várias correntes teológicas e doutrinárias, ocupando um espaço cada vez mais amplo, tende a provocar uma adequação maior e mais holística no desenvolvimento organizacional1 das mesmas, forçando-as cada vez mais em curto prazo uma busca mais precisa pela solução de problemas no decorrer do seu ciclo de vida, destarte durante sua trajetória, assim como qualquer outro tipo de organização, as Organizações Não Governamentais também podem sofrer alterações variadas decorrentes de forças internas ou externas pela qual elas estão vulneráveis, ou seja, uma empresa pode tender a assumir posturas diferenciadas ao longo de sua história. Em busca de uma identidade, muitas denominações evangélicas influenciadas por construções ideológicas e políticas do ambiente tentam postular seus interesses em detrimento da racionalidade do capital humano que por sua vez, é alvo de discussões quando envolve o comportamento econômico e burocrático que tais organizações manifestam. Sendo estas instituições formadas por seres humanos, são a elas atribuídos os impactos que cada modelo de gestão causa na percepção dos indivíduos em meio às pressões desse ambiente turbulento e mutável, rompendo paradigmas e pressionando seus membros, líderes, cooperadores e concorrentes; tomados de decisões cada vez mais rápidas e muitas vezes nocivas à qualidade de gestão. Quando adotam posturas diferenciadas e se deparam, por vezes, com uma inversão de valores, estão sendo contrárias às posturas pelas quais foram preparadas desde sua formação. O que acontece neste ambiente eclesiástico é resultante de fatores intrínsecos e extrínsecos e comunicam os valores da comunidade em buscar seus objetivos, pois, mensuram as relações entre religião e sociedade que são formadas por meios institucionais e também valores individuais motivados pela ação social. Um acontecimento pode ter causas econômicas, políticas e religiosas, mas todas elas 1 Desenvolvimento organizacional é um esforço (1) planejado, (2) de âmbito organizacional e (3) gerenciado do topo, para (4) elevar a eficácia e a saúde da organização através de (5) intervenções planejadas nos “processos” da organização, usando conhecimentos de ciências comportamentais (BECKHARD, 1969, p. 9 apud MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000, p. 240 e 241).
  • 15. 14 compõem um conjunto de aspectos da realidade diagnosticados nos atos individuais, ou seja, são condicionantes a fazer refletir o papel em conjunto na sociedade ou torna o indivíduo um produto controlado por essas forças e que o levarão a uma visão individualizada da mesma. “O homem percebeu-se como uma parte isolada do organismo social em que está inserido [...] (MEDEIROS; 2009 p. 33)” e passa a ser uma criação contínua dos critérios básicos negociais/políticos e puramente capitalistas das empresas da atualidade, que isolam os valores voltados ao desenvolvimento de qualidades pessoais como: a criatividade, a informalidade, a inovação, a aprendizagem, num processo de mudança e compartilhamento de conhecimentos, prontos para serem explorados. Desde as bases da Revolução Industrial, onde o Taylorismo e o Fordismo eram responsáveis pela produção em massa, pela padronização como formas inteligentes do processo de fabricação nos primórdios da administração científica, os processos eram voltados para eficácia e o estudo sistemático do trabalho fazia do ser humano simplesmente mais uma ‘peça’ desse produto em contínua fabricação. Conjuntamente à Revolução Industrial o capitalismo pôde amadurecer constituindo-se num sistema econômico ocasionando significativas mudanças sociais, culturais, políticas e religiosas, onde nesse interim a Reforma Protestante alcançava sua fase de maior expansão na Europa, como uma revolução cultural e ideológica. Com frequência podia-se perceber que a maior concentração de capital de fato estava nas mãos de alguns grupos de protestantes, onde “[...] o desenvolvimento do capitalismo, [na época de sua grande expansão], esteve com suas mãos livres para redistribuir a população em camadas sociais e profissionais em função de suas necessidades (WEBER, 2006, p. 29)”, sendo explicado em grande parte pelas circunstâncias históricas, iniciadas na Europa e pelos primeiros reformadores na Alemanha. O tempo passou e as aplicações iniciais da administração científica, assim como a ética protestante, onde a religião dava a oportunidade aos homens granjear o pão de cada dia e consequentemente introduzir a sistematização do trabalho, continuam deixando por último o seu principal e mais caro recurso: o homem. O liberalismo econômico2 cria áreas de conflitos sociais cada vez mais turbulentos e a acumulação de 2 O liberalismo econômico corresponde ao período de desenvolvimento da economia capitalista baseada no individualismo e no jogo das leis econômicas naturais e na livre concorrência. [...] O novo capitalismo se inicia com a produção em larga escala de grandes concentrações de máquinas e de mão-de-obra,
  • 16. 15 capitais nas mãos de uns poucos causou profundos desequilíbrios para o funcionamento do sistema como um todo. Esta pesquisa assume o papel de incentivar os leitores que fazem uso consciente de uma responsabilidade coletiva em prol de mudanças e desmistificação da religião liberal numa sociedade pluralista (JONES, 2002), procurando identificar os interesses dos líderes evangélicos e os modelos de gestão por eles usados para disseminarem e fazerem-se percebidos neste século através da implantação de novos templos, trazendo novos adeptos por uma visão inteiramente expansionista e capitalista, ou permanecerem inertes, mas dando ênfase ao ascetismo religioso3 , ao bem estar social e uma melhor assistência aos seus membros, com uma visão humanitária mínima para suprir as necessidades da comunidade. Bem, o liberalismo influenciou a ‘religião’. Passada está a reinterpretação liberal do Evangelho em termos do envolvimento social ou teoria marxista. O novo liberalismo descobriu uma espiritualidade que salvará o planeta e atingirá os objetivos de uma humanidade ambiciosa. A visão liberal de uma cultura igualitária inclusiva do futuro [...] concebe um novo mundo [...] (JONES, 2002, p. 81). Urge a necessidade dos gestores administrarem a igreja não só como um organismo eclesiástico, mas também como uma organização, onde o filantropismo (amor à humanidade) é base ideológica, pois, já há muito tempo que a crise do sensacionalismo cresce nas igrejas evangélicas e que líderes tentam motivar os membros, enfatizando a busca pela recompensa, ao passo que quanto maior o grau de percepção dos fiéis pela religião em si, maiores os laços informais, resultando em padrões específicos de comportamentos para pessoas e grupos envolvidos. O papel das igrejas evangélicas no Terceiro Setor é notadamente criterioso e, partindo do pressuposto que assim como o Estado tem passado por transformações no decorrer das últimas décadas, com ele veem arrastando vários grupos sociais e também instituições religiosas de iniciativa privadas. Estas são estudadas analisando as transformações visíveis que o capitalismo amplia, fomentando a discussão sobre as competências do Estado tradicional e a gestão social dessas Organizações Não- criando situações problemáticas de organização de trabalho, de concorrência econômica, de padrão de vida etc. (CHIAVENATO; 2003 p. 37). 3 A pregação do ascetismo, ausente no neopentecostalismo, não põe os fiéis a salvo do consumismo. Muitos crentes sucumbem aos apelos da cultura do consumo, chegando ao descontrole financeiro, acumulando dívidas, como constata matéria da revista assembleiana Seara (n.17, abril de 1998, p. 22-26), que, em parte, responsabiliza por muitas destas ocorrências pastores e igrejas difusoras da Teologia da Prosperidade. Diz a revista que 50% dos atendimentos do SOS Vida, serviço de aconselhamento evangélico 24 horas, referem-se a pessoas (a maioria crente) endividadas pedindo conselhos e orações (MARIANO, 1996).
  • 17. 16 Governamentais através de definições teóricas e avaliações qualitativas da pesquisa de campo. Incluídas entre as Organizações do Terceiro Setor, as igrejas, “[...] instituem-se a partir de uma missão social, agregando indivíduos voluntários, operando em programas e ambientes altamente dependentes de financiamento social, e orientam sua atuação para problemas e conflitos sociais” (CABRAL, 2007, p. 8), contudo, diante de tantos vieses que articulam o ambiente das instituições religiosas e suas necessidades associativas e assistenciais para um modelo de gestão e o compromisso político das mesmas, qual o interesse dos líderes religiosos em expandir novos templos e como mensurar o desempenho desses gestores nesse campo investigativo? É nesta prerrogativa que se alicerçam os instrumentos necessários para compilação desta pesquisa e a sua relevante importância para este nicho de sociedade. 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Objetivos Gerais Analisar o processo de gestão social em instituições religiosas e os interesses dos seus líderes na expansão e fundação de novos templos. 1.2.2 Objetivos Específicos 1.2.2.1 Identificar as relações culturais e econômicas dentro do protestantismo na construção das primeiras unidades de igrejas históricas na região. 1.2.2.2 Verificar a linha divisória entre o compromisso social das igrejas como parte do modelo adotado pelo terceiro setor e a filosofia capitalista operante na maioria dos líderes religiosos ocidentais. 1.2.2.3 Estudar a igreja como um organismo eclesiástico e uma organização de capital humano moldada pelas relações coletivas e individuais.
  • 18. 17 1.3 JUSTIFICATIVA Teórica: Desde que os primeiros reflexos da reforma protestante que iniciaram há aproximadamente 500 anos atrás e fragmentou o movimento em várias correntes com diferenças teológicas e doutrinárias, até a plena liberdade religiosa com a Constituição do Brasil de 1824, onde de forma marcante após a 2ª Guerra Mundial os movimentos evangélicos emergiram, cresceram, edificaram-se como instituições, fundamentaram-se como organizações e principalmente tornaram-se componentes políticos importantes. Porquanto a história delimita suas linhas fronteiriças, divididas em partes constituintes bem distintas, apresentando inúmeras subdivisões, tendo em vista a fragmentação que esse imenso império evangélico tem alcançado, em especial na América, voltado ao evangelicalismo liberal (WELLS, 2010) e cada vez mais distante da ética protestante com a qual os primeiros grupos vivenciaram. Dentro dessa perspectiva as instituições religiosas surgem como empresas privadas do terceiro setor e traçam suas metas ante a complexidade globalizada e conectadas. À medida que essas instituições religiosas se desenvolvem, aumentam também em complexidade, como qualquer outro tipo de organização, e naturalmente também outro desafio é de se manter estável, sob o ponto de vista organizacional, não perdendo os objetivos e a missão pelas quais foram formadas. Prática: A pesquisa centrou-se nesse tema, tendo em vista o foco de estudo do pesquisador está centrado num nicho social cada vez maior na região do Agreste Pernambucano; influência de um crescimento macro, principalmente nas Américas, e que tende a tomar um corpo mais complexo em se tratando de Organizações que compõem o Terceiro Setor. O crescimento dessas denominações vem sendo assunto de pesquisa por várias áreas e ultimamente tem se intensificado; o assunto em apresso é desafiador e sua abordagem não é conclusiva, mas abre uma vasta oportunidade de incentivo aos pesquisadores para ampliarem seus conhecimentos e trazerem ao público acadêmico um posicionamento ético racional e posteriormente mais um registro e uma análise das motivações para o aumento de novos templos evangélicos na região em estudo.
  • 19. 18 A crescente expansão dessas novas unidades evangélicas (filiais) dentro do município nem sempre estão em acordo com a necessidade investida pela liderança, decorrendo num aumento de seus templos na região com o intuito de acessibilidade aos fiéis, contudo, por vezes se veem igrejas com poucos membros em espaços muito próximos umas das outras, tendo ainda deficiência em sua assistência e manutenção.
  • 20. 19 CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 CULTURA, ECONOMIA E RELIGIÃO: CONSTRUÇÃO DO PROTESTANTISMO HISTÓRICO NO MUNICÍPIO DE CARUARU 2.1.1 As Origens das Famílias Evangélicas e sua Relação com a Gestão Administrativa Com a cisão entre o catolicismo romano e o aparecimento dos reformadores o protestantismo ganhou espaço durante a Idade Média, onde homens como Martinho Lutero e João Calvino desconstruiriam as bases corporativas centrais do catolicismo – que tradicionalmente eram os fortes proprietários de terras e ostentavam o poder e controle ideológico da população – preparando terreno para um novo tipo de religião, que colocaria o homem futuramente numa dupla meta, ou seja, unir a devoção religiosa ética às virtudes de trabalhar com o suor de seu rosto como fator de dignidade social (DONKIN, 2003). Surgia então uma classe empreendedora dentro de uma sociedade, acostumada, outrora, com o poder papal monopolista, e que passaram a reconhecer o poder econômico dentro de um novo ensino sistemático religioso e a plena aceitação social das massas pelos missionários protestantes; o exemplo disso, pela doutrina de João Calvino “[...] era possível orar e prosperar a um só tempo, desde que se estivesse disposto a renunciar à frivolidade e à corrupção permitidas nos círculos católicos – e desde que se estivesse pronto a reinvestir a própria riqueza em benefício da sociedade (DONKIN, 2003, p. 43)”. Donkin (2003) ainda afirma que a ética do trabalho protestante entraria pelos séculos seguintes como forte pensamento no mundo industrializado ocidental, e que esta religião definiu um estilo de vida na sociedade, principalmente porque trazia à população o despertar da razão, do conhecimento, e da busca por um código ético social. Começava um impacto intelectual nas pessoas (ainda que a taxa de analfabetismo fosse alarmante na época) introduzido pela propagação da Bíblia vernácula, que se tornou o alimento indispensável para as classes em fermentação, por ser moderna, estava em plena circulação entre as classes sociais e afirmava uma posse ideológica pelo pleno direito legal de examiná-la. Somada à sede pela alfabetização; sua
  • 21. 20 distribuição, no entanto, começou a estar sujeita a fatores comerciais. Um cenário revolucionário e sujeito a mudanças, mas que já moldavam, ainda que timidamente, a evolução do pensamento administrativo que desabrochariam no Renascimento. Em face destas mudanças, e diante da formação teológica durante essa trajetória histórica nas principais igrejas, foram onde estes grandes nomes apareceram, ainda que num ambiente turbulento e de ajustes culturais e ideológicos. Tal influência foi substancialmente afetada por questões políticas, unindo a Igreja e o Estado, pelas reformas e seus idealizadores e pelos concílios ecumênicos. Bem mais próximo de nossa época, porém, não menos importante, está a divisão do Protestantismo propriamente dito, onde temos: verticalmente a formação de famílias denominacionais (luteranos, anglicanos, presbiterianos, metodistas, batistas, congregacionais, pentecostais e emergentes), e horizontalmente influenciados por correntes teológicas e filosóficas, ou seja, a tradição conservadora da ortodoxia (doutrina), o puritanismo (santidade), o pietismo (devoção), o liberalismo (razão) e os avivamentos pentecostais (impulso missionário). A esses dois fenômenos (denominacionais e teológicos), as influências de Martinho Lutero, João Calvino, Jacó Armínio, João Wesley, Jonathan Edwards e muitos outros formariam as bases para uma construção de elementos de uma fé protestante, ou seja: características denominacionais, doutrinas e credos protestantes e afirmações teológicas. É através dessas afirmações que os idealizadores abrem um ‘leque’ para propagar as mais variadas formas de interpretação das doutrinas Bíblicas, o comprometimento de seus adeptos por uma identidade social, a forte influência da imposição de seus dogmas através de seus seguidores e de todo um contexto político- filosófico sofrido em decorrência da busca do ser humano completo; o homo economicus4 , postulado por Taylor, já estava sendo desenhado e posto em prática no protestantismo, ainda que de forma sutil e rasa, porém, com aspectos característicos da influência histórica de algumas denominações. 4 O homo economicus ou o homem econômico é uma ficção, formulada segundo procedimentos científicos do século XIX que aconselhavam a fragmentação do objeto de pesquisa para fins de investigação analítica. O homo economicus nada mais é do que um pedaço de ser humano, um fragmento, um resto, a sua parcela que apenas produz e consome, segundo "leis" deduzidas da observação, cujo único critério de verdade apoiava-se na evidência (Recuperado do site: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Homo_economicus> Acesso em 27 de maio de 2012).
  • 22. 21 (Recuperado do site: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:Protestantbranches_pt.svg&page=1> Acesso em: 02 de out de 2012) Figura 1 – Divisão do Protestantismo Segundo OLSON (2001), com o rompimento de Martinho Lutero e a Igreja Católica, os protestantes discordavam entre si sobre várias questões secundárias, mas conseguiram compor uma frente relativamente unida contra a Igreja de Roma. Mesmo com suas diferenças, teólogos luteranos, reformados e anglicanos permaneceram unidos teologicamente, mas não politicamente. É aí que o século XVII testemunhou o aparecimento de grandes “rachaduras teológicas”, ou mudanças, não somente entre as famílias protestantes, mas também dentro de cada uma delas. Paralelamente à Reforma de Martinho Lutero ocorreu a Reforma Radical5 . Quando a Revolução Industrial já fomentava os seus alicerçares, o protestantismo já fazia parte de muitos grupos sociais no Ocidente e as consequentes divisões entre as igrejas protestantes daquela época acompanhavam características 5 A Reforma Radical foi um movimento religioso do século XVI. Tratou-se de uma resposta para tanto a corrupção na Igreja Católica quanto a reforma magisterial expansiva promovida pelo Protestantismo de Martinho Lutero e vários outros. Começando na Alemanha e na Suíça, a reforma radical deu origem a vários grupos protestantes radicais pela Europa. (Recuperado do site: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Reforma_Radical> Acesso em 23 de out de 2012).
  • 23. 22 próprias à influência dos indivíduos que se faziam presentes em seu rol de membros. Muitos deles gerariam seus descendentes que seriam missionários, adeptos da administração científica e pioneiros do pensamento da administração na sociedade americana e europeia. Frederick Wislow Taylor (1856-1915), considerado o fundador da Administração Científica, veio de uma família “Quaker” de princípios rígidos e foi educado dentro de uma mentalidade de disciplina, devoção ao trabalho e poupança [...] Taylor começou sua carreira como operário e terminou como executivo da área industrial de uma siderúrgica (PEDROSO, 2004, p. 23). Os Quakers, (em inglês) que significava tremedores estavam “[...] entre as mais desprezadas das novas seitas do século XVII [...] a Sociedade dos Amigos, apelidada de quacres por um magistrado a quem George Fox, fundador e líder do movimento, aconselharam tremer ante o nome do Senhor (DONKIN, 2003, p. 55)”; então Taylor pertencia a uma denominação, constituída por um grupo radical, para a época, e muito influenciado pela doutrina calvinista6 . Observa-se, então, que a cultura, a política, a religião e a estrutura de poder delimitam esses aspectos revolucionários na sociedade, nas organizações, etc. e todos envolvidos participam ativamente como agrupadores, rompendo paradigmas e rotinas. Seria a exemplo de tantos outros, as bases para o que a Administração Moderna possui hoje e que na época, ainda que a Teoria da Administração Científica fundada por Taylor fosse marcada, a priori, pela eficiência e pela padronização dos processos, forjou-se negativamente, quando no seu auge, devido aos problemas sociais e organizacionais, como rotinização, sistema mecanicista voltado para uma administração de chão de fábrica e de um rígido comportamento formal humano. Ciência aperfeiçoada pelo pensamento de Henri Fayol que havia elevado o estudo da administração científica ao nível gerencial com as funções organizacionais que ele as chamou de: prever, organizar, coordenar, comandar e controlar, contudo, o mesmo também não estava preocupado com o ser humano, mas a maximização do lucro organizacional. Essa degradação social, provocada pela Revolução Industrial, influencia pioneiros e empreendedores para as condições ideais do surgimento do liberalismo econômico e a considerável atuação da doutrina social da igreja como parte dessa mudança. A evolução do pensamento 6 Convém lembrar que para a geração de Taylor “[...] o domínio do Calvinismo seria a forma mais insuportável de controle eclesiástico do indivíduo que até então já pôde existir” (WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. 11ª ed. São Paulo: Pioneira, 1996 – p. 20 a 21).
  • 24. 23 administrativo, dentro do Renascimento, “[...] vê nesses acontecimentos as sementes da administração científica, das relações humanas, do processo decisório gerencial e de outros conceitos da administração moderna (PEDROSO, 2004, p. 14)”. Durante a década de 60, principalmente nos Estados Unidos da América, o mundo vislumbra o nascimento da esquerda religiosa, isso devido à consciência crítica evangélica da América que havia mudado drasticamente de comportamento e influenciado muitas outras nações predominantemente cristãs. Os baby-boomers 7 foram apropriadamente chamados de ‘geração em busca’ e espalhou-se por vários segmentos sociais, inclusive a religião. “A busca nobre dos anos 60 por uma consciência aberta [...] foram em direção ao Oriente [...] e retornaram para fazer nascer uma religião híbrida relativista [...] na autodeterminação democrática ou no ideal do igualitarismo autônomo [...] vestido de forma ‘cristã’ para um consumo ocidental geral (JONES, 2002, p.35)”. Essa geração encontrou-se amadurecida nos anos 90 como uma nova proposta para uma transformação religiosa e espiritual, ou seja, uma mudança e que severamente influenciaria os grupos de pessoas pelos quais estes estavam inseridos, desde a família aos mais altos níveis hierárquicos das empresas. Para mapear o grau de mudança numa empresa se faz necessário ter uma visão micro e macro da situação e procurar analisar as circunstâncias que provocam a necessidade de mudar. O padrão de mudança para algumas empresas são principalmente vistos no âmbito decisório e estrutural da alta administração que desce às demais partes da hierarquia entre períodos de modificação que são ocasiões para implementação e estabilização destas mudanças. Mintezberg, Ahistrand e Lampel apresentam essas práticas, nas organizações e sociedades, de mudanças gerenciais – mesmo que a expressão em si seja uma contradição, pois dependerá da nossa aptidão para mudar – onde “[...] indica o que realmente significa mudança abrangente em uma organização: significa estratégia e 7 Baby-Boom é uma definição genérica para crianças nascidas durante uma explosão populacional - Baby Boom em inglês, ou, em uma tradução livre, Explosão de Bebês. Dessa forma, quando definimos uma geração como Baby-Boomer é necessário definir a qual Baby-Boom, ou explosão populacional estamos nos referindo. Em geral, a atual definição de Baby-Boomer, se refere aos filhos da Segunda Guerra Mundial, já que logo após a guerra houve uma explosão populacional. Nascidos entre 1945 e 1964, hoje são indivíduos que foram jovens durante as décadas de 60 e 70 e acompanharam de perto as mudanças culturais e sociais dessas duas décadas (Recuperado do site <http://pt.wikipedia.org/wiki/Baby_boom> Acesso em 01 de abril de 2012).
  • 25. 24 estrutura, indo do conceitual ao concreto e de comportamentos altamente formais aos mais informais. Não faz sentido mudar a estrutura sem mudar sistemas e pessoas” (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000, p 238 e 239). Essa visão sistêmica das mudanças sugere aos envolvidos uma intervenção na modificação de muitos elementos ao mesmo tempo, procurando ser adequado a uma nova forma de estabilidade tentando restabelecer posteriormente uma integração com suas diretrizes e bases, o que Miller chama de arquétipos, “[...] isto é, estados de estratégia, estrutura, situação e processo, e também de transições entre arquétipos e consideram as mudanças estratégicas e estruturais como sendo quânticas, ao invés de incrementais” (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000, p. 230). As mudanças não eram somente de crivo eclesiástico ou administrativo, pois havia uma grande preocupação por parte dos reformadores por novos paradigmas na educação: um exemplo clássico está em Martinho Lutero que foi um dos responsáveis pela concepção de ensino público, e que serviu de modelo para a escola moderna do Ocidente, ou seja, “[...] para Lutero, o objetivo da escola não é o acesso de todos à cultura. A escola tem por função formar uma elite capaz de dirigir tanto a sociedade civil quanto a religiosa (GILMONT, 1999, p. 54)”. Para ele o desenvolvimento social está intimamente ligado ao grau de educação em que seus indivíduos estão expostos e posteriormente isto refletirá na cultura, na política, na sociedade e por que não dizer na própria religião. A harmonia entre estes vieses que fornecem dados importantes para a construção da história de uma sociedade pode determinar o grau de intensidade com que os mesmos podem interferir no comportamento e nas decisões coletivas e individuais e também o que os motivam. É nesse momento que ideias como a de Max Weber coadunam com o exposto acima partindo da premissa que “[...] cada formação social adquiriu, para Weber, especificidade e importância própria [...] e seu objeto de investigação é a ação social, a conduta humana dotada de sentido, isto é, de uma justificativa subjetivamente elaborada (COSTA, 2005, p. 97)”, ou seja, para Weber “[...] não existem oposição entre indivíduo e sociedade: as normas sociais só se tornam concretas quando se manifestam em cada indivíduo sob a forma de motivação (COSTA, 2005, p. 97)”. A reforma protestante, iniciada por Martinho Lutero, ainda está longe de ser completada e idealizada em vários segmentos religiosos e sociais, mas abriram as portas
  • 26. 25 para o pensamento crítico da população que estava à mercê da desigualdade, dos conflitos e da submissão às autoridades políticas e religiosas, destarte, quando “[...] o argumento moral, o senso de comprometimento e a o apelo popular convergem, como no caso do protestantismo [...] ocorre uma comunhão entre a crença popular e o pragmatismo. É a religião de mangas arregaçadas (DONKIN, 2003, p. 53)”, mas também, “[...] a emancipação do tradicionalismo econômico parece ser, sem dúvida, um fator que apoia enormemente o surgimento da dúvida quanto à santidade das tradições religiosas [...] a Reforma significou não tanto a eliminação da dominação eclesiástica sobre a vida de modo geral, quanto a substituição de sua forma vigente por uma outra (WEBER, 2006, p. 30)”. O surgimento do Capitalismo vinculado à doutrina calvinista e sua consequente interpretação do enriquecimento material como garantia da graça divina entendida pelos primeiros grupos evangélicos são a marca registrada desse período pós reforma. O protestantismo foi uma revolução cultural e intelectual com um poder e uma intensidade tão grandes quanto os que se reconhecem na indústria e nas inovações do século XVIII. A mudança ocorreu em uma escala jamais vista, [...] afinal, tratava- se de uma revolução das massas, explorado pelas massas. A Bíblia vernácula fomentou o aumento da alfabetização (DONKIN, 2003, p. 54). A administração Eclesiástica é vista hoje em seu apogeu de abrangência e vai canalizando essas ‘brechas’ formadas pela ação do tempo na vida da sociedade e cicatrizando suas erradas filosofias de interpretação. Hoje em dia, as igrejas evangélicas podem e devem ter um plano estratégico, um modelo de gestão administrativo, estarem voltadas à responsabilidade social, trabalharem em seus processos através de ferramentas administrativas, da reestruturação e participarem ativamente da construção da cidadania com a cooperação dentro do Terceiro Setor. Por esse pensamento racional, o Brasil, que comunga entre doutrina e ética religiosa e sua relação com sistemas econômicos abertos, onde de longe essa situação, assumida na obra de Max Weber (A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo) é a mais divulgada, conhecida e debatida para fins acadêmicos, ainda sofre sobremaneira os impactos dessas mudanças e atuará de forma substancial nas diversas fases da moderna sociedade capitalista. Desafiador para o caso brasileiro, ou os ‘novos ricos’, que mesmo
  • 27. 26 sendo atualmente a sexta economia8 do mundo ainda está à beira dos países desenvolvidos e abaixo de outros emergentes, mas aberto à propagação de crenças e novas religiões e plena liberdade de culto em todo o seu território. 2.1.2 Igreja: Organismo e Organização As instituições evangélicas englobam um conjunto de organizações filantrópicas que possuem características próprias – por vezes se diferenciando até mesmo das outras não governamentais – quando é retratado dentro delas a abrangência de atuação, ou pelo menos é o que rege seus estatutos e sua missão. Por maioria, embasadas na Bíblia Vernácula, e de onde sai a grande parte dos seus dogmas e costumes, elas circundam não só os horizontes sociais da vivência de seus membros em comunidade, mas também ensejam a aplicabilidade dessas doutrinas no âmago espiritual dos seus adeptos. Recai sobre seus gestores o dever de administrar de forma cautelar e cuidadosa, tendo em vista, além da aplicabilidade do processo administrativo, estar lidando com aptidões espirituais dos seus membros. O que implica dizer que as religiões não somente devem tentam abrir suas portas para o cooperativismo e o social, contudo têm que retratar nos corações dos fiéis um objetivo maior, intangível, que se postulam nos anais da fé e da razão, fronteiras por vezes impenetráveis e de opiniões diversas (justificar a fé individual ou coletiva não é foco nessa pesquisa). O caráter organizacional por vezes se mistura com o religioso dessas instituições e descobrir esta fronteira se faz necessário para o bom andamento e funcionamento das mesmas, pois as práticas sociais dessas organizações fazem do trabalho eclesiástico uma fonte geradora de valor econômico (dízimos e ofertas) ao mesmo tempo em que prestam um serviço aos seus fiéis (uso da cidadania). Mesmo que se diferenciem das organizações que são especializadas na produção em massa, através de recursos materiais, elas abstraem para si um campo investigativo qualitativo, intangível e combinam agentes sociais, conferindo-lhes por vezes nobreza, pelo caráter 8 Segundo o Centro de Pesquisa CEBR (Centre for Economics and Business Researche), sediado em Londres, em 2011 o Brasil ultrapassou a Grã-Bretanha e se tronou a sexta potência econômica do mundo. O diretor do centro de pesquisa ainda enfatiza o peso crescente da Ásia no ranking em detrimento dos países ocidentais (Recuperado do site: <http://www.portugues.rfi.fr/brasil/20111226-brasil-e-sexta- economia-mundial-diz-instituto-britanico> Acesso em 17/03/12).
  • 28. 27 de sua criação. E nesta evolução das ações cooperativas e coordenativas pelas quais prestam à sociedade muitas delas confundem na realidade e na prática o seu verdadeiro objetivo e sua real missão. Contudo “[...] em sua ânsia de reprodução, muitas organizações desviam recursos destinados a realizar os objetivos originais para os quais foram estabelecidas e os investem em propósitos de interesse de sua própria burocracia” (SROUR, 2005, p. 141 e 142). Na prática elas são entidades que possuem vida própria e se fazem perceber na singularidade da história. As relações que formam as estruturas das organizações como um todo são mensuradas por relações coletivas através da formalidade de seu caráter e na impessoalidade quando seus agentes sociais, aparelhados de instrumentos de trabalho, processam através da matéria-prima resultando em produtos finais, ou seja, os meios de produção em massa ainda fazem o objetivo primordial de muitas empresas. Todavia há uma lacuna no meio delas, e principalmente entre as instituições religiosas que abrangem um patamar considerável (SROUR, 2005). Elas também são formadas por atos informais de associação e por meios pessoais, pois, a exemplo, quando um fiel vai a uma igreja, ele, movido pela razão quer encontrar através do serviço disponível pela instituição uma solução para seu problema através da unidade que os fiéis comungam (fé). Essa subjetividade está ao alcance de todos e conectam os indivíduos associados, como uma relação de bem comum e não somente auferido a alguns no topo hierárquico, aproveitando o excedente econômico que o trabalho tende a gerar dentro do sistema capitalista. As dimensões dessas instituições vão muito mais além de uma estrutura material e de um sistema de poder, mas de um “[...] composto por saberes (patrimônio intelectual) e por padrões culturais que são inculcados e praticados pelos agentes sociais” (SROUR, 2005, p. 153) importado do seu ambiente externo e aplicados internamente servindo para distinguir todo o espaço econômico, político, social, administrativo e religioso da mesma. Essa gama de abrangência do seu raio de atuação demarca “[...] o terreno das variações possíveis das relações de poder e das relações de saber” (SROUR, 205, p. 154) e atua como sistemas abertos em seu ambiente celebrando a convivência social ou a afastando. Fazem parte da estrutura organizacional das instituições religiosas dentro de sua missão os processos visando o longo prazo orientando-as para os meios e os fins que devem ser absorvidos como parte da cultura das mesmas, onde “[...] a gestão social prioriza esse procedimento como instrumento de
  • 29. 28 descoberta e declaração explícita da missão e mobilização de suas forças” (CABRAL, 2007, p. 138). Ainda segundo Cabral (2007) essa missão tem um sentido mais abrangente e duradouro do que nas empresas de primeiro e segundo setores (públicos e privados), pois elas foram criadas para cumprirem essa missão na íntegra e são regidas por dogmas auferidos através desses objetivos organizacionais, destarte, a construção do grupo social que as envolvem, está diretamente ligada com crenças comuns e questões de cultura histórica, ou seja, um organismo vivo, que interage na realização da finalidade proposta e da visão, que por sua vez, esboça a noção onde as empresas desejam alcançar comportando também os seus preceitos, mas que também precisa ser apoiada em análises do ambiente e das oportunidades para funcionarem. Questão essa em evidência carente de verificação e não somente pela subjetividade, pois para alguns, se não tivesse esses dois vieses (missão e visão), não passaria de utopias “[...] que expressa entre os pressupostos constitutivos da utopia o objetivo de experienciar a fronteira da sociabilidade como forma de sociabilidade e a reinvenção de mapas de emancipação social e subjetividades com capacidade de os usar” (SANTOS, 2000 apud CABRAL, 2007, p. 139). Uma instituição religiosa não se subsistiria somente pela sua atuação religiosa ou dogmática, mas necessariamente, deve desenvolver o seu fluxo administrativo como entidade formada por indivíduos que se socializam e trocam informações necessárias à subsistência da mesma, para então, constituir formalmente sua identidade pela qual foi criada. Ela experimenta uma abrangente área de atuação quando, geralmente, introduzem em seu ambiente interno, pessoas de diferentes classes sociais e perpetua seus valores através desses indivíduos, que garantem a durabilidade da visão e a propagação fiel da missão da mesma, refletida, principalmente em seu ambiente externo. Influencia no comportamento de seus membros fora dela, que são estimulados a disseminar sua imagem, não só para as similares que abstraem sua linha de pensamento, mas também a grupos sociais com posicionamentos diferentes. Registros na história eclesiástica exemplificam através da mudança de foco entre a missão e a visão destas instituições que abstraem em seu núcleo outros posicionamentos e forçam mudar seus paradigmas. Como o que ocorreu entre uma guerra teológica formada por fundamentalistas e neoliberais – fundamentalismo aqui descrito como àquelas igrejas que aderem de forma clara a determinadas doutrinas que
  • 30. 29 para outras, da atualidade principalmente, são consideradas antigas e ultrapassadas e neoliberais como grupos que abraçam o pluralismo religioso, disfarçando a democracia e impulsionando o relativismo teológico. Em termos denominacionais o termo fundamentalismo floresceu no Brasil, em especial no Nordeste e São Paulo, entre as igrejas fundamentalistas Presbiterianas e Batistas, por exemplo, durante a década de 50 e que atualmente estão fazendo o inverso, retornando às suas igrejas reformadas. Em outros casos tal fundamentalismo foi marcado por laços financeiros e ideológicos (LOPES, 2008). As instituições religiosas estão diretamente influenciando os stakeholderes em sua área de atuação e estão infiltradas na cultura e filosofia de seus adeptos em uma forma maciça de propagação, ou seja, são instituições que estão dentro de outras organizações e mudam paradigmas através da religião; umas mudanças são vistas como positivas e outras negativamente, dependendo da dimensão e do tipo de influência.
  • 31. 30 2.2 TERCEIRO SETOR E A INFLUÊNCIA CAPITALISTA NA GESTÃO SOCIAL DOS LÍDERES RELIGIOSOS OCIDENTAIS 2.2.1 Estrutura Organizacional e Hierárquica das Instituições Religiosas O modo pelo qual as instituições religiosas estão organizadas: suas bases e dispositivos de expansão, sua hierarquia, suas instituições de poder, assim como seus principais agentes religiosos constituem sua estrutura organizacional. A antiga influência da estrutura organizacional da igreja Católica serve de base para muitas organizações do presente e forma por um longo período de tempo uma hierarquia tão simples e eficiente, que sua amplitude e poderio puderam ser eficazes através do comando de um só gestor – o Papa – onde as normas administrativas e os princípios de organização pública, de certa forma, foram transferidos do Estado para a igreja, assim como as organizações militares (onde as teorias da administração surgiram, e também a contribuição do princípio da direção), que estavam contrárias com a ação política destes Estados que tinham propósitos e objetivos diferentes. As instituições religiosas seguem essa mesma linha administrativa quando englobam a hierarquia e a sua estrutura como organização; e o seu crescimento e expansão estão sendo alvos de estudo, pela própria igreja Católica e por intelectuais, que outrora passou despercebido, mas que atualmente essas igrejas possuem destaque na organização e estrutura do espaço urbano. Esta pesquisa, uma vez que concentra a expansão dos templos em um determinado setor geográfico, também visa esse impacto das possíveis segregações espaciais, migrações comportamentais, alterações nas classes urbanas e possivelmente estratégias de ocupação territorial dessas igrejas. Há uma relação entre espaço geográfico e religião com identidade organizacional e social na comunidade que está inserida. Uma característica importante de todas as religiões é a existência de “espaços sagrados”, ou seja, locais associados com a realização dos cultos, e que, por essa razão, adquirem um valor especial para os seus fiéis. Segundo o Antigo Testamento, Jeová, o Senhor, deu orientações precisas para a construção de um santuário onde o seu povo pudesse adorá-lo de maneira especialmente significativa, pois tanto o tabernáculo, ou seja, a tenda portátil utilizada nas peregrinações de Israel, quanto o magnífico templo construído por Salomão, representavam a presença de Deus no meio do seu povo. Os
  • 32. 31 primeiros locais de culto utilizados pelos cristãos foram alguns recintos públicos e preferencialmente residências particulares, as conhecidas igrejas domésticas mencionadas em várias passagens do Novo Testamento (Rm 16.5,14-15; 1º Co 16.19; Cl 4.15; Fm 1.2). Não se atribuía qualquer valor especial a esses lugares, igualmente como os judeus faziam em relação às suas sinagogas. O mais importante não era a igreja como instituição ou como espaço físico, mas o povo de Deus, a comunidade da fé e os valores adquiridos. Um importante ponto de transição nesse processo evolutivo foi o impacto causado pelo imperador Constantino, o primeiro líder do Império Romano a identificar-se com a nova religião do povo, onde mais tarde na Idade Média surgiu o período em que o poder da Igreja Católica atingiu o seu máximo. A grande ascendência da igreja sobre importantes áreas da vida e sua relação com o Estado produziram na Europa o fenômeno conhecido como “cristandade”, uma sociedade caracterizada por grande uniformidade política e religiosa, sob a liderança dos soberanos e dos papas. Foi esse o período das magníficas catedrais góticas, que substituíram gradativamente as fortes estruturas em estilo romano, com suas paredes lisas, suas torres quadradas e sua aparência de fortalezas (MATOS, 2013). O retorno a formas de culto mais simples, com o surgimento da Reforma, como as da igreja do novo testamento, e a devoção consciente e imutável dirigido à Trindade, levaram a uma redefinição radical da arquitetura religiosa. Em várias partes da Europa, os templos católicos herdados pelos reformados tiveram suas imagens e altares removidos, e foi eliminada a existência de espaços separados para o clero e para os leigos. Todavia, no hemisfério norte, a maior parte das denominações protestantes históricas (luteranos, presbiterianos, anglicanos, episcopais, metodistas e outros) manteve um considerável interesse pela arquitetura e pela arte religiosa, observadas nos lindos templos dessas confissões existentes na Europa e nos EUA. Foram os grupos mais contestadores, como, por exemplo, os anabatistas, os quacres e mais tarde os pentecostais, que passaram a utilizar templos deliberadamente simples e despojados no início de sua expansão, porém, tanto no caso dos primeiros quanto dos últimos, o santuário nunca chegou a ter a importância e o simbolismo místico que possui nas tradições católica e ortodoxa. Durante o século XX e posteriormente XXI, com o processo de nacionalização de muitas dessas igrejas, foi que os seus templos passaram a manifestar as preferências e aparências locais. Em países como o Brasil, a posição da Igreja Católica como religião oficial, e ao mesmo tempo o desejo de atrair imigrantes
  • 33. 32 europeus, fez com que os legisladores autorizassem os protestantes a construir os seus templos, contanto que não tivessem forma exterior de igrejas. Isso contribuiu para o empobrecimento arquitetônico e artístico dos templos evangélicos, em grande parte monótonos e pouco atraentes, contudo, após a expansão e crescimento dos evangélicos a importância dada aos templos fez com que as Instituições Religiosas passassem a serem percebidas pela sociedade através de templos suntuosos e também pela quantidade imensa de filiais espalhadas geograficamente (MATOS, 2013). Hoje esses templos se espalham de forma impressionante, chegando a competirem uns com os outros por espaço em bairros e ruas; observadas também no município de Caruaru (PE). Esta expansão das igrejas evangélicas no espaço brasileiro seguiu paralela ao processo de urbanização e industrialização do país. Analisando as instâncias hierárquicas verifica-se que há um organismo supralocal, onde o mesmo possui alcance nacional ou regional e é constituído de membros investidos da alta administração. Esta jurisdição de poder rege e orienta as várias igrejas que compõem uma determinada denominação. Na sequência hierárquica e em subordinação, estão as igrejas locais. As principais igrejas locais atuam como sedes do poder local e, geralmente, são igrejas principais, isto é, templos-sedes ou igrejas-matrizes, que por sua vez, cada templo-sede possui uma ramificação de igrejas menores e dependentes (chamadas de igrejas filiais), salões e pontos de pregação. Esse tipo de expansão é visto em igrejas Pentecostais (Assembleia de Deus, Congregação Cristã do Brasil, etc.) e também nas neopentecostais (Igreja Universal do reino de Deus, Nova Vida, Deus é Amor, Congregacional Vale da Bênção, etc.), diferentemente das igrejas históricas tradicionais (Presbiteriana, Metodista, Batista, Congregacional e Luterana) assim como o catolicismo romano, que possuem um clero profissional que centraliza todas as decisões e não descentralizam tanto suas filiais. Essa rigidez centrada nas igrejas históricas refere-se às instâncias de poder que estas estruturas religiosas assumem, pois, caracterizam um governo legal-hierárquico que descrevem uma linha vertical onde os pontos mais baixos e intermediários são executores de diretrizes e orientações dos mais altos. Por outro lado quando se descreve a descentralização e a flexibilidade encontrada na forma espontânea de expansão das Igrejas Pentecostais e na sua divisão interna, reforça-se o sentido de independência que as tais igrejas promulgam, destarte apresentarem a descentralização como a força motora que impulsiona todo o ciclo de crescimento pentecostal. Segundo Read (1967)
  • 34. 33 os templos-sede que não se descentralizam podem se fossilizar, perdendo a influência como agente de evangelização e de crescimento dinâmico, portanto, a reprodução pentecostal se dá de forma descentralizada e essa descentralização se faz em processo contínuo. Os pontos de pregação (quase nunca utilizados pelos evangélicos históricos), ou grupos de nucleação9 , constituem a base da hierarquia pentecostal. Eles são produtos de uma importante prática de evangelização bastante utilizada pelo pentecostalismo, originária da Igreja Evangélica Assembleia de Deus. As religiões evangélicas, apesar de não poderem ser consideradas um fenômeno urbano10 (pois é nele que elas encontram amplitude para sua expansão, sendo essa uma de suas características) é no meio dessas camadas menos favorecidas economicamente que a maioria (não todas) dessas denominações prefere atuar para sua expansão, desencadeando posteriormente tal fenômeno. Conforme Pinho (2000), o modo de atuação dessas igrejas evangélicas, já analisadas posteriormente, se resume em duas formas distintas: a forma estrutural das igrejas tradicionais, onde há maior rigidez de sua estrutura organizacional e eclesiástica e outra de forma mais descentralizada e flexível como é o caso das denominações neopentecostais, embora estas em determinados momentos também possuam certa rigidez, mas não como as tradicionais, marcam uma determinada linha estratégica que tem sido muito eficiente observando a difusão das mesmas, ou seja, se for analisado tendo como referência o percentual de crescimento, tanto das denominações quanto do número de crentes em todas as esferas. 9 A nucleação é uma prática informal, através da qual um crente ou um pastor reúne em sua própria casa, ou mesmo em qualquer outro lugar, um pequeno grupo de não crentes curiosos em conhecer a Bíblia. Foi e continua sendo uma estratégia proselitista (estratégia de conversão) bem sucedida que abarca de forma bem clara a dimensão territorial (A Representação Político-Territorial dos Pentecostais no Rio De Janeiro. Autoria: Cristina Lontra Nacif: Prof.ª da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal Fluminense e Mônica Sampaio Machado: Prof.ª do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro). 10 O processo de urbanização crescente da humanidade, iniciado no século XIX, verificou-se primeiramente nos países pioneiros da Revolução Industrial. Nos países do Sul subdesenvolvido, este fenômeno só tomou corpo a partir de 1950 em função da combinação de dois fatores: o êxodo rural e um expressivo crescimento vegetativo da população. O mundo atual vive um acelerado processo de urbanização. Atualmente, mais da metade dos quase 7 bilhões de habitantes do planeta já reside em centros urbanos. [...] Segundo a ONU, em 2025 pouco mais de 60% do contingente demográfico total do mundo morará em cidades (Recuperado do site: <http://www.clubemundo.com.br/revistapangea/show_news.asp? n=393&ed=4> Acesso em: 29 de abr. de 2012).
  • 35. 34 A religião evangélica, principalmente seu ‘braço’ pentecostal tem sido apontado por vários estudiosos como sendo uma religião dos pobres e oprimidos. [...] segundo o IBGE (2000), é nas camadas de menor poder aquisitivo que se concentram os maiores números absolutos de população evangélica. O que por si só não pode ser apontado como causa do fenômeno. [...] a população pentecostal aparece como a de menor quantidade de anos de estudo regular, o que também não deve ser colocado como fator de causa para o crescimento desta religião, pelo menos não isoladamente. [...] A estrutura organizacional de uma igreja evangélica é composta por quatro instâncias hierárquicas: organismo supralocal, templos-sedes, igrejas filiais, salões e pontos de pregação. [...] Essa estrutura pode mudar de acordo com o tamanho da denominação e seu número de fiéis, serve apenas como demonstração básica para um maior entendimento do leitor (PINHO, 2000, p. 3 e 6). Outro fator facilitador dessa expansão territorial dos neopentecostais é atentar para o fato dos líderes de linha (ou liderança média) possuir pouca qualificação para dirigirem uma igreja (geralmente filial), bastando somente um conhecimento empírico da Bíblia e posteriormente uma vida íntegra na comunidade local, o que difere de uma religião tradicional liderada por um gestor, geralmente possuindo uma formação acadêmica, além da conduta ética na sociedade. Há alguns casos em que esse assunto está sendo revisto o que implica dizer que se postula pela necessidade de seus líderes, além de uma vida ética, serem formados secularmente. Geralmente as instituições religiosas têm uma hierarquia baseada no modelo Funcional com ênfase nos aspectos mecanicistas, ou seja, “[...] o modo mais simples de departamentalização [...] que tanto pode ser usado pelas organizações de grande como de pequeno porte, [...] a estrutura pode evoluir para outras formas mais complexas” (MAXIMIANO, 2008, p. 196) em que na prática existe um administrador principal que comanda um conjunto maior com departamentos hierarquicamente organizados, ainda que geograficamente espalhados. Nesse modelo o gestor tem pleno o controle dos processos da organização e certeza de que as atividades se orientam para a missão da mesma, porém essa estrutura, baseada na expansão da instituição religiosa, tende a se tornar muito complexa e com uma hierarquia verticalizada extremamente formal. Há uma sobrecarga pastoral. Elas também possuem características burocráticas com uma adequação às condições ambientais estáveis; descritas por Max Weber (2006). Incluem- se aqui a grande maioria das igrejas históricas: as igrejas Batistas, Metodistas, Presbiterianas, Congregacionais, algumas Pentecostais (Assembleia de Deus, Congregação Cristã no Brasil, Deus é Amor), etc. Já quando a ênfase é mais evidenciada para a descentralização dos processos as instituições religiosas agregam um modelo mais flexível, orgânico, que são características de ambientes dinâmicos, com
  • 36. 35 organogramas em contínua construção e redefinição das tarefas. Aplica-se a esse modelo uma hierarquia mais horizontal ou achatada. São exemplos as igrejas: Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Congregacional Vale da Bênção, Igreja Renascer em Cristo, Igreja Internacional da Graça de Deus, etc., geralmente incluídas entre as igrejas neopentecostais. Conforme Maximiano (2008) nenhuma organização é exclusivamente mecanicista ou orgânica, todavia, há uma combinação de ambas e é explicada pela teoria situacional11 , em que os modelos de organização se adaptam a diferentes circunstâncias e variantes, tais como: estratégia, tecnologia, recursos humano e ambiente (interno e externo), ou seja, seu capital intelectual12 . As organizações precisam de um plano estratégico com base a um padrão comportamental holístico e sistêmico em relação ao seu ambiente e com base a sua atuação diante da concorrência que podem englobar: os níveis de envolvimento hierárquicos, que se projeta, quase sempre em longo prazo quando estão inseridas a missão e a visão da mesma na busca de objetivos mensuráveis, aptidão para retroceder quando são identificados erros nas tomadas de decisões e a busca de uma sinergia ampla entre os envolvidos. Tais estratégias são mensuradas a partir de aspectos ambientais e análise organizacional revelando as ameaças e as possíveis oportunidades que devem ser aproveitadas, assim como estudar pontos fracos e fortes das organizações, gerando uma vantagem competitiva ante as demais. As instituições religiosas não são diferentes, mas elas agem de acordo com estratégias, processos logísticos e estruturas organizacionais modernas, ainda que algumas não vejam (mas realizam na prática, ainda que inconscientemente) esse lado, pelo fato de acharem que religião e sistemas humanos não se coadunem. 11 A Teoria (ou Modelo) Situacional desenvolvida por Paul Hersey e Kenneth Blanchard e publicada na obra de ambos: "Management of Organization", é uma teoria situacional de liderança que se baseia na ideia de que o estilo de liderança mais eficaz varia consoante a maturidade dos subordinados e consoantes às características da situação. Os autores do modelo defendem que um líder eficaz é aquele que consegue identificar e diagnosticar corretamente a situação e o nível de maturidade dos seus subordinados, adotando de seguida o estilo de liderança mais adequado. Um dos conceitos-chave desta teoria é, desta forma, o nível de maturidade dos subordinados relativamente ao seu desempenho das tarefas (incluindo o seu desejo de realização pessoal, a sua disposição para aceitar responsabilidades e a sua capacidade/aptidão para executar a tarefa) (Recuperado do site: <http://www.knoow.net/cienceconempr/gestao/teoriasituacionalherseryblanchard.htm> Acesso em 29 de abr. de 2012). 12 “Brooking (1996:12-13) define Capital Intelectual como uma combinação de ativos intangíveis, frutos das mudanças nas áreas da tecnologia da informação, mídia e comunicação, que trazem benefícios intangíveis para as empresas e que capacitam seu funcionamento” (ANTUNES, 2000, p. 78).
  • 37. 36 2.2.2 A Influência Capitalista no Protestantismo Ocidental “A Reforma protestante ocorreu no século XVI, período em que as oportunidades para acumulação de capital, tão necessária para a posterior produção capitalista em grande escala, foram maiores do que nunca” (HUBERMAN, 1986, p. 154). Há aproximadamente meio século os evangélicos são a religião que mais cresce no Brasil, desde os primeiros reflexos da reforma protestante e seus idealizadores que iniciaram há quase 500 anos atrás e fragmentou o movimento em várias correntes com diferenças teológicas e doutrinárias, até a presença maciça de sociólogos que incrementaram não só a teologia como também a política e a economia e abordaram críticas às descontínuas negligências para com o papel do cidadão num ambiente democrático ou social, por vezes em ângulos diretamente opostos. Analisando Karl Marx, o mesmo possuía uma visão negativa da política, o que implicaria dizer que, segundo ele, não existe uma teoria geral do Estado, e por isso deveria ser extinto (BOBBIO, 1997), ao passo que Max Weber, defendendo a política, era a favor de uma burocracia permeada por uma eficiente forma de controle democrático (TRAGTENBERG, 1997). Sociólogos, semelhantes a estes citados, foram responsáveis por forçarem um debate, já por outros iniciados, sobre o capitalismo que ora aliena, ora visa o lucro certo das organizações em detrimento do trabalhador ou ora trás progresso e inclusão social. Igualmente, é de importância ressaltar que também há uma dupla opinião quando ambos os sociólogos (Weber e Marx) retratam a relação entre religião e capitalismo. Marx não reinterpretou a religião, porém passou a denunciá-la como inimiga do progresso. “A religião é na verdade a autoconsciência e o autoconhecimento do homem, enquanto este ainda não estiver encontrado meios de se sustentar em pé no universo [...] O homem é o mundo dos homens, o Estado, e a sociedade” (BROWN, 2007, p. 115). Ele via nesta sociedade o fator gerador que produz a religião de forma nociva ao próprio progresso humano. Todavia Marx chamava de vácuo deixado pela religião e que deveria ser preenchido pelo materialismo13 – materialismo esse, 13 Em filosofia, materialismo é o tipo de fisicalismo que sustenta que a única coisa da qual se pode afirmar a existência é a matéria; que, fundamentalmente, todas as coisas são compostas de matéria e todos os fenômenos são o resultado de interações materiais; que a matéria é a única substância. Como teoria, o
  • 38. 37 dinâmico, moldado segundo as linhas da dialética de Hegel – onde a realidade não é estática, seguindo um curso ascendente de progresso. Ele instigou em sua filosofia as lutas entre as classes sociais e justificou a evolução do feudalismo para o capitalismo, deste para o socialismo e deste para o comunismo (BROWN, 2007). Já Weber traça de forma detalhada o tipo ideal da conduta religiosa da sua época que viria contribuir decisivamente para o desenvolvimento qualitativo do capitalismo, também chamado por ele de ascetismo intramundano14 que foi vivenciado por grupos protestantes tais como: calvinistas, pietistas, metodistas e batistas, já citados anteriormente nessa pesquisa (WEBER, 2006). A partir dessa ética protestante existente na sociedade alemã – de onde se originaram sociólogos como os citados acima, assim como também reformadores como Lutero – que tinham suas bases formadas por culturas, políticas, economias, religiões e sociedades diferentes das do Brasil, e foi pela qual houve maciça influência nos primeiros grupos evangélicos que posteriormente se difundiriam nas cidades brasileiras, onde a burguesia republicana passou a ver tais movimentos necessários como parte da construção e modernização filosófica da nação propagada através de missionários estrangeiros (europeus e americanos). É no início do século XX, que algumas igrejas entram no cenário eclesiástico com destaque para uma nova forma de pensamento e passariam a influenciar o perfil do novo evangélico no Brasil através do movimento pentecostal (REILY, 2003). Em continuidade histórica vê-se através da plena liberdade religiosa com a Constituição do Brasil de 1824, e também pela política econômica de abertura do país ao capital estrangeiro pela Revolução de 1964 (o golpe militar) – um importante canal de distribuição e expansão das principais denominações no país – de onde “houve um alto grau de aceitação da intervenção militar pelos protestantes, a princípio pelo medo de que João ‘Jango’ Goulart estivesse conduzindo o país a um caos socialista e possivelmente à guerra civil” (REILY, 2003, p. 309), e dessa forma os protestantes, materialismo pertence à classe da ontologia monista. Assim, é diferente de teorias ontológicas baseadas no dualismo ou pluralismo. Em termos de explicações da realidade dos fenômenos, o materialismo está em franca oposição ao idealismo e ao metaficismo, deixando bem claro que o materialismo pode sim se correlacionar com o idealismo e vice-versa em alguns casos, mas o real oposto da materialidade é mesmo o sentido da metafisicidade (<http://pt.wikipedia.org/wiki/Materialismo>). 14 O agente dinâmico [...] para tanto se fazia necessário exercê-lo da forma mais metódica possível, com o maior grau de racionalização, otimizando os recursos e maximizando os resultados, como era compatível com a conduta dos eleitos, que não estavam em busca do reconhecimento neste mundo, mas de realizar o que é agradável a Deus (WEBER, 2011, p. 18 e 19).
  • 39. 38 mesmo apolíticos em sua forma de pensar, refletiam fielmente uma mentalidade majoritária, e uma oportunidade para se firmar como identidade religiosa (REILY, 2003). Destas transformações sociais o Capitalismo, já bem alicerçado nos EUA e resto do mundo, se faz perceber nas organizações brasileiras de forma mais dominante e sobre as classes menos favorecidas por ele dominadas. Weber argumentava que o “[...] Capitalismo, porém, identifica-se com a busca do lucro, do lucro sempre renovado por meio da empresa permanente, capitalista e racional (2011, p. 26)”. Ele ainda explicava que um grande problema, porém não impossível de mensurar, era demonstrar a influência de ideias religiosas no desenvolvimento de um espírito econômico, ou seja, uma conexão do espírito da moderna vida econômica com a ética racional da abnegação protestante; e quais elementos faz parte da ética econômica das religiões ocidentais que as diferenciam das outras religiões mundiais, como do Oriente, por exemplo, concentrando em sublinhar as ligações causais entre o protestantismo e o capitalismo. Observamos a mesma coisa nas estatísticas de filiação religiosa de qualquer parte em que o capitalismo, na época de sua grande expansão, pôde alterar a distribuição social conforme suas necessidades e determinar a estrutura ocupacional [...] Resta, por outro lado, observar o fato de os protestantes, [...] quer como classe dirigente, quer como subordinada, tanto em maioria como em minoria, terem mostrado uma especial tendência para desenvolver o racionalismo econômico (WEBER, 2011, p. 39 – 42). De fato, vários grupos sociais que vivem na periferia desse processo – o que por vezes é o caso das instituições religiosas quando se aborda a hierarquia das necessidades das mesmas já identificadas por Abraham Maslow – ainda hoje estão pouco envolvidos ou adaptados às novas condições do capitalismo moderno e “[...] com o colapso do tradicionalismo e a quase total extensão da livre empresa econômica, mesmo no interior do grupo social, a novidade não foi, no geral, eticamente justificada e encorajada, mas apenas tolerada como fato (WEBER, 2011, p. 54)”. O que sempre sugere entre as sociedades por mudanças e transformações para adaptação ao ambiente. Abraão Harold Maslow (1908-1970), psicólogo americano, lançou durante a abordagem comportamental da administração científica as bases para a Teoria das Necessidades Humanas ou Hierarquia das Necessidades Humanas, onde segundo ele “[...] o homem é motivado por necessidades organizadas em uma hierarquia de relativa prepotência, ou seja, [...] uma necessidade de ordem superior surge somente quando a
  • 40. 39 de ordem inferior foi relativamente satisfeita” (CARAVANTES; PANNO; KLOECKNER, 2006, p. 106). Numa sociedade desigual em que os indivíduos vivem um problema estrutural globalizado, fugindo dos perigos, buscando abrigo, segurança, proteção, estabilidade e continuidade, a busca da religião ou de uma crença deve estar inserida em um dos níveis da pirâmide das necessidades de Maslow; Necessidade de Segurança da hierarquia, como termômetro de sua crença e filiação é o lugar mais propício? Ou também junto com necessidades fisiológicas básicas está a base da religiosidade dos envolvidos? E se as necessidades espirituais só se comportassem bem no topo da pirâmide de Maslow para, assim, haver a motivação verdadeira para a crença e propagação dos valores? Esses posicionamentos invertem-se quando diferenciamos populações de países centrais e periféricos? Os membros de uma filiação religiosa poderão estar motivados a participarem ativamente do convívio social eclesiástico e envolverem-se com a missão e propagar os valores das mesmas quando estiverem motivados a esse fim. Os gestores evangélicos têm papel crucial na aproximação ou afastamento de um membro. E os membros estão diretamente ligados à denominação pelo lugar em que sua religiosidade pode estar ocupando na pirâmide. (Recuperado do site: <http://site.suamente.com.br/a-piramide-de-maslow/> Acesso em 12 de mar de 2013). Figura 2 – Pirâmide de Maslow Busca da religião ou de uma crença
  • 41. 40 (Recuperado do site: <http://www.fabiosampa.com.br/motivacao-e-a-piramide-de-maslow>. Acesso em 12 de mar de 2013). Figura 3 – As necessidades Espirituais na Pirâmide de Maslow O homem é um ser complexo e dotado de necessidades num processo contínuo do nascimento até a morte. Não é estranho perceber que aplicando essa teoria à realidade cristã podemos perceber que o comportamento do ser humano é semelhante na busca pela hierarquia destas necessidades intrínsecas em seu ambiente de vida. Hoje o que mais assola mesmo nas igrejas locais são pessoas necessitadas, quer sejam pela falta de estrutura familiar, surgimento de doenças, educação fragilizada, falta de emprego, rejeições sociais ou pelo acúmulo de problemas. Uma expressão escrita por um mestre em Administração e professor de Estratégia e Marketing, Marcos Morita nos chama a atenção para o quanto o público lá fora estão sintonizados nas transformações que a sociedade passa, sobretudo os evangélicos; ele aponta para um crescimento e grande aderência entre as atitudes e padrões de consumo da emergente classe média e o seu poder aquisitivo nesses últimos anos e que “[...] as igrejas evangélicas souberam aproveitar esta lacuna, inserindo-se nas comunidades de forma pioneira, antes mesmo da explosão do consumo” (MORITA; Disponível em: <http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/brasileiros-na- argentina-os-novos-sonhos-de-consumo/46296/> Acesso em: 08 de ago. de 2010). Na verdade o que ele está querendo afirmar aqui – isso ele engloba todos os evangélicos – é que as igrejas foram aproveitadoras da ‘inocência’ da maioria subdesenvolvida das pessoas e com suas doutrinas conduziram-nas ao rol de membros das suas instituições, ou seja, diferentemente da reforma protestante alemã ou da revolução industrial na Inglaterra, a aculturação em ambientes diversificados, como no Brasil, encontraram brechas proporcionais ao tipo de sociedade e indivíduos que a absorveram dentro do seu limite cultural e de desenvolvimento, contudo, estudos mais profundos podem
  • 42. 41 direcionar a outras conclusões, pois o fato por si só não pode definir a religiosidade no Brasil. De todo modo, este constitui um campo de investigação que vem engolfando crescentemente maior número de questões, tornando-se mais complexo, abrangente e relevante. Envolve questões referentes ao pluralismo religioso, à ética, à ampliação das fronteiras do campo religioso e das formas de inserção social das denominações pentecostais, à transformação de igrejas em empresas lucrativas, às demandas sociais ao Estado para fiscalizá-las e controlar seus negócios e empreendimentos (MARIANO, 1996, p. 16). Indícios históricos concentram a pobreza entre os neopentecostais e demonstram essa atratividade pela mensagem pentecostal, em sua múltipla variedade de formas e conteúdos, nas classes sociais periféricas, de onde deriva justamente a sua adaptação às demandas por resultados concretos e por vezes abstratos (no âmago espiritual) condicionados pelas condições de vida na pobreza e na marginalidade, constituindo uma estratégia institucional para competir no mercado religioso. Essa forma capitalista e mercantilista ocorre quanto menor forem as forças internas e externas, assim também como menos barreiras existirem, porém, tais igrejas são socialmente vistas como instrumentos de enfrentamento da pobreza15 que trazem positivamente fatores como a melhora da autoestima, o fortalecimento da dignidade, a criação de uma imagem de decência, de um senso de coerência, de uma nova identidade, a prática da caridade, a oportunidade de trabalho remunerado (ainda que dentro da burocracia denominacional), a formação de vínculos informais de ajuda cooperativa, a ênfase no ascetismo, a restrição ao consumo supérfluo e o incentivo à poupança (MARIZ, 1996 apud MARIANO, 1996). Também ao contrário da teoria da evolução das espécies proposta pelo naturalista Charles Darwin que forçam as espécies em transformações contínuas e que influenciou os pensadores da administração conduzindo a ideia de que, assim como na teoria das espécies biológicas, as instituições religiosas tidas como empreendedoras, também forçosamente devem se adaptar ao ambiente (ao passo que, aquelas que não se adaptarem a essas mudanças gradualmente serão superadas), e o pensamento configuracional16 afirma que essa mudança (mutação) acontece, contudo não é gradual, mas revolucionária e repentina. 15 Mariz, 1996 apud Mariano, 1996. 16 Sugere o pensamento da escola de configuração que tais revoluções são particularidades das grandes organizações, com padronização em suas rotinas, bem estabelecidas e que estão mais adequadas a dominarem o cenário empresarial e que tendem a experimentar longos períodos de estabilidade, interrompidos por curtos períodos de transformações (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000).
  • 43. 42 Essas revoluções são geradas pelo advento de empresas empreendedoras com novas tecnologias [...] novos setores industriais criados por esses novos negócios empreendedoriais destroem as empresas e os setores industriais existentes, tornando- os obsoletos [...] Essas organizações adaptativas permitiriam às empresas inovadoras absorver os custos e riscos de se criarem novos produtos e serviços e depois imitariam as adaptações bem-sucedidas (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2010, p. 29 e 30). Diante desse exposto tenta-se projetar que o Capitalismo está para o Neocristianismo, assim como o Comunismo está para o Islamismo Ortodoxo, onde essas e muitas outras religiosidades populares assumem um papel antropocêntrico e humanista, ou seja, colocam o homem como centro de tudo, individualizando-o e projetando-o para os interesses de classes politicamente dominantes, afastando-se completamente do que está escrito nas páginas dos seus livros sagrados: A Bíblia e o Alcorão, de onde provém à práxis documental da fé de seus membros. Outrora ao estremo Lenin17 descrevia a religião como: “[...] uma das formas de opressão espiritual que pesa em toda a parte sobre as massas populares, esmagadas pelo seu perpétuo trabalho para outros, pela miséria e pelo isolamento (1ª edição publicado no jornal Nóvaia Jzni, nº 28 de 3 de dezembro de 1905 – O Socialismo e a Religião)”, e Weber por outro lado dizia que estava interessado “[...] na influência de tais sanções psicológicas, originadas nas crenças e práticas religiosas, que orientavam a conduta prática dos indivíduos e assim a mantinham (WEBER, 2011, p. 83)”; Mesmo que por lados opostos e como influentes para pensamentos políticos/religiosos de suas épocas, ambos estavam afirmando a importância da religião no cotidiano das pessoas e sua visão aparente do que ela causava na sociedade e no trabalho como um todo. Contemporaneamente, as discussões sobre as relações entre ética religiosa, economia e mobilidade social continuam sendo atuais e tendem a crescer cada vez mais, porém, num mundo em que cada vez a globalização, o domínio pela lógica do mercado, pela cultura do marketing e do consumo, pela indústria do entretenimento, por multinacionais, por grandes corporações financeiras e conectadas por redes mundiais de computadores, não é mais possível pensar e deduzir, de forma particular nas sociedades pluralistas e democráticas, a partir de uma religião, baseada na ética da ascese e do 17 Vladimir Ilitch Lenin ou Lenine (Simbirsk, 22 de abril de 1870 – Gorki, 21 de janeiro de 1924), foi um revolucionário e chefe de Estado russo, responsável em grande parte pela execução da Revolução Russa de 1917, líder do Partido Comunista, e primeiro presidente do Conselho dos Comissários do Povo da União Soviética. Influenciou teoricamente os partidos comunistas de todo o mundo (pelo seu perfil ético), e suas contribuições resultaram na criação de uma corrente teórica denominada leninismo (Ética de Estado). (Recuperado do site: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Lenine>. Acesso em 24 de março de 2012).
  • 44. 43 trabalho duro, que possa alavancar e reformular, modelar e transformar uma economia nacional, quanto mais global (MARIANO, 1996). Conforme o próprio Mariano (1996) isto é tido como um problema de cunho sociológico, no entanto, permanece atual e passível de exame, pois o tema é relativo à expansão e crescimento pentecostal na América Latina, defendendo a tese de que as consequências moral e social da conversão pentecostal são potencialmente similares às mesmas descritas por Weber da ética protestante, onde se verifica que a ética de determinado grupo religioso pode favorecer ou não a mobilidade social de seus adeptos. Uma questão tratada pelo próprio pentecostalismo. O crescimento dessas denominações vem sendo assunto de pesquisa por vários grupos e durante décadas: teólogos, filósofos, sociólogos, gestores, administradores, etc., e ultimamente tem se intensificado. A crescente expansão dessas novas unidades evangélicas (filiais) dentro do município de Caruaru, apesar de ser micro, tende a mensurar de forma holística o que se vê na teoria, pois, nem sempre estão em acordo com a necessidade investida pela liderança, ou que seja, o aumento de seus templos na região com o intuito de acessibilidade aos fiéis, contudo, por vezes se veem igrejas com poucos membros em espaços muito próximos umas das outras, tendo ainda deficiência em sua assistência e manutenção. À medida que as igrejas se desenvolvem, aumentam também em complexidade, como qualquer outro tipo de organização, e naturalmente também outro desafio é de se manter estável, sob o ponto de vista organizacional, não perdendo os objetivos e a missão pelas quais foram formadas. [...] Hoje em dia, em face da evolução cultural e tecnológica, do amplo crescimento das igrejas como unidades institucionais, da necessidade do desenvolvimento integral dos recursos da comunidade e das exigências legais do Estado, a boa organização converteu-se num ingrediente importante do bom êxito da liderança da Igreja (KESSLER; CÂMARA, 2005, p 11). O que atualmente reflete como principal crescimento organizacional num mundo capitalista? O que as instituições religiosas descrevem como crescimento? O que para elas é estar ampliando seus territórios e firmando sua teologia no processo de administrar, gerando um novo organismo e sendo capaz de retirá-lo da inércia, conduzindo-o a uma melhor funcionalidade dos seus recursos com o menor gasto possível? Manter a organização em funcionamento homogêneo e integrado em suas diversas atividades, reunindo os meios e os recursos materiais e humanos racionalmente
  • 45. 44 são critérios que estão na base da administração eclesiástica e na visão de todo bom administrador. Em vista disso: quais os interesses dos líderes religiosos para a fundação de novos templos evangélicos na cidade de Caruaru, e como avaliar esse papel como gestão social dentro das teorias administrativas? Essas e outras perguntas serão testadas pela metodologia em ação no campo investigativo. 2.2.3 A Gestão Social Eclesiástica e sua Relevância no Terceiro Setor Numa perspectiva de pluralidade e crescimento as políticas mundiais voltadas ao bem estar e coletivo se deparam com uma realidade dura e cada vez mais centralizada numa minoria, já de muito tempo atrás chamada de burguesia, e alimenta suas bases ideológicas com uma forma distorcida da realidade humanitária num contexto social e religioso. O desenvolvimento de uma nação está intimamente ligado ao grau de educação em que seus indivíduos estão expostos e posteriormente isto refletirá na cultura, na política, na sociedade e por que não dizer na religião. Com a fragilidade das estruturas do Estado e consequentemente sua insuficiência em alternativas políticas de conter esse hiato, que cada vez mais tende a separar as classes sociais, surge o Terceiro Setor como uma possível solução para minimizar os danos causados pela ação capitalista no decorrer das últimas décadas. A designação de Terceiro Setor aplica-se ao conjunto de iniciativas e organizações privadas, baseadas no trabalho associativo e voluntário, cuja orientação é determinada por valores expressos em uma missão e com atuação voltada ao atendimento de necessidades humanas, filantropias, direitos e garantias sociais (CABRAL, 2007, p. 2). Paralelamente a esta ruptura com o bem-estar social o trabalho das ONGs (organizações não governamentais), vem crescendo em todo mundo e semelhantemente no Brasil elas tem alcançado seu espaço com o papel de transformação social – papel este reportado ao Estado – que visa o seu fortalecimento em uma sociedade eticamente estruturada (não é o caso brasileiro e de muitos outros países situados na periferia do capitalismo) e que prima por uma ação de missão social com indivíduos voluntários, não governamentais e sem fins lucrativos – por vezes meras ilustrações de organizações caracterizadas apenas pela literatura bibliográfica. Elas alcançam em sua área de atuação “[...] elementos relativos à produção e reprodução da vida societária, incluindo
  • 46. 45 os vínculos de associação e dissociação na família, na empresa, na escola, na igreja, na administração, na formação do povo [...] (CABRAL, 2007, p. 9)” de forma intermediária na sociedade civil. Por essa abordagem destaca-se a influência em que as Igrejas Evangélicas têm causado nos dias atuais e os meios que as mesmas têm utilizado para se posicionarem no Terceiro Setor de forma que não passem despercebidas, porém atuantes e expansionistas. Dependendo da época e da formação econômica, política e social dos povos, a Igreja tem influenciado a sociedade e o poder público de diferentes maneiras e é participante das transformações sociais e trabalhistas no decorrer dos tempos em todo o mundo. Momentos estes que vão desde os mártires de Roma (igreja primitiva), dos governos comunistas, das segregações raciais (reivindicando a igualdade para todos), atualmente dos países islâmicos radicais e o número crescente de parlamentares evangélicos em toda esfera nacional, contrariando o que se propagava antigamente pelos evangélicos que: Igreja e administração pública eram insociáveis e de competência apenas formal por parte da população como um todo; um pensamento de quem vive na periferia do progresso econômico e numa perspectiva de subdesenvolvimento (JESUS, 2001). Dentre os países subdesenvolvidos, quase todos são excluídos dos benefícios do crescimento, o que implica dizer que o subdesenvolvimento18 é uma forma de organização social no interior do sistema capitalista, e que não somente isso, os países subdesenvolvidos tiveram um processo de industrialização indireto como consequência dos países industrializados. O que se descobre através dos estudos é que não basta somente uma crescente industrialização para conter os problemas sociais brasileiros e de outros países tidos como “emergentes”, mas as bases que delimitam o modo “estar” subdesenvolvido de um país dependerá de fatores acumulados no decorrer de sua própria história, da influência da sua religião, da formação de identidade nacional, dimensão cultural de subdesenvolvimento e porque não dizer o histórico de permanente dependência dos países periféricos dos centrais. 18 [...] Essa perspectiva constituía, além da novidade que encerra uma forma de procurar saídas para os desafios do desenvolvimento nos países periféricos, desafio esse que [...] sintetiza na necessidade de “explicar, numa perspectiva macroeconômica, as causas e o mecanismo do aumento persistente da produtividade do fator trabalho e suas repercussões na organização da produção e na forma como se distribui e utiliza o produto social” (FURTADO, 1961, p. 19).
  • 47. 46 Atualmente a expansão, não só geográfica, mas também doutrinária das instituições religiosas emergentes promulgam de certa forma um liberalismo teológico, com uma reinterpretação liberal do Evangelho em termos do envolvimento social ou teoria marxista, com uma visão cultural igualitária e futurista, rejeitam as bases ortodoxas, apoiando somente um sincretismo religioso, numa tentativa de fuga a essa desproporcional realidade social, e em contrapartida, como que a própria administração eclesiástica tradicional está preocupada com os novos nichos que surgem nesse mercado; proporcionalmente que cresce a mobilidade entre grupos sociais inseridos nas classes sociais que se distanciam cada vez mais uma das outras quando avaliada a teoria das necessidades sociais já postuladas outrora por Maslow e a possível ascensão da classe C no Brasil ocasionando um impacto na distribuição dessas necessidades. Por essas mudanças num ambiente competitivo espera-se um posicionamento estratégico das instituições religiosas, mesmo que estejam inseridas no grupo de empresas privadas não governamentais; tais denominações dominam um público que tende a crescer e são alvos dos interesses das mesmas, pois no macro ambiente, num conjunto político, econômico, social, cultural e tecnológico, fazer uso correto da missão da religião em si, traçando seus objetivos e metas voltadas para a convergência das estruturas sociais para uma revisão e mudança de posicionamento racional nas pessoas tende a ser fundamental para a fidelização desses membros. Observando o caso brasileiro, pelo qual a Constituição Federal (1824) dá amplo direito de associação religiosa, mas que na prática, tem formas dicotômicas de cidadania, que por sua vez assumem, respectivamente, “[...] modelos societários que privilegiam um ou outro tipo de democracia [...] um orientado para a concessão de direitos sociais formalmente doados à comunidade – a cidadania passiva – e outro, orientado para conquista, garantia e manutenção dos direitos sociais fundamentais do cidadão [...] – a cidadania ativa” (MEDEIROS, 2009, p.60), atesta-se que as igrejas também tendem a assumir esse papel e por isso ajudam a somar para a forma como a sociedade civil está exposta diante do espírito do capitalismo moderno e sua ascensão em detrimento da cultura racional da tomada de decisão participativa e em prol do bem- estar coletivo. Por essas premissas estão alimentadas também às bases teológicas das principais igrejas evangélicas do país na conquista da integridade denominacional e da incessante busca pela unidade da igreja com ênfases para o Evangelho Social e o