O documento descreve:
1) Uma aula de literatura brasileira que aborda os principais momentos literários e suas características, destacando o Realismo e o Naturalismo;
2) O contexto histórico do Brasil no século XIX que influenciou o surgimento do Realismo e do Naturalismo;
3) As principais características do Realismo e do Naturalismo brasileiro, ressaltando a obra de Machado de Assis e Aluísio Azevedo.
2. ⮚ HABILIDADES
(EM13LP52) Analisar obras significativas das literaturas brasileiras e de outros países e povos,
em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-americana, com base em ferramentas
da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspectos discursivos) ou outros critérios
relacionados a diferentes matrizes culturais, considerando o contexto de produção (visões de
mundo, diálogos com outros textos, inserções em movimentos estéticos e culturais etc.) e o
modo como dialogam com o presente.
⮚ OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
(GO-EMLP52B) Observar a construção da identidade crítica da classe artística brasileira,
analisando textos literários diversos, as características do Modernismo e suas fases (poesia e
prosa) e do Pós-modernismo, e as diversas possibilidades de identidades sociais e individuais,
refletidas na produção artístico literária de uma época e sua influência na contemporaneidade
para engajar-se em práticas autorais e coletivas.
⮚ OBJETOS DE CONHECIMENTO
Teoria da Literatura da Língua Portuguesa. Contextualização histórica. Análise e interpretação do
texto literário. Estética e estilística na literatura. História da Arte.
4. O REALISMO NO BRASIL
No Brasil, as últimas produções da terceira geração romântica, na
segunda metade do século XIX, já indicavam a mudança que estava
por vir.
Castro Alves, Sousândrade e Tobias Barreto atentavam para a
realidade social do país em suas obras.
Na prosa, a obra de Manuel Antônio de Almeida também dava
indícios de novas abordagens no romance.
5. O contexto histórico brasileiro
O Brasil, na segunda metade do século XIX, assim como a Europa, vivia um
momento bastante conturbado. O cientificismo, o positivismo e as teorias
sociais vindas da Europa, juntamente com o abolicionismo, a Guerra do Paraguai,
a assinatura da Lei Áurea, a substituição da mão de obra escrava pela
assalariada (principalmente dos imigrantes que chegaram ao Brasil), o
ideal republicano e a crise da monarquia caracterizavam a segunda metade do
século XIX.
Esse período representou o declínio da sociedade aristocrático-escravista e uma
gradual ascensão do capitalismo industrial. Em São Paulo, as máquinas e as
indústrias começaram a surgir, e os cafeicultores, com a mão de obra assalariada,
passaram de latifundiários a empresários agrícolas.
6. As mudanças econômicas, políticas e sociais,
que se destacam:
uma economia agrária - concentração da
renda nas mãos dos fazendeiros do açúcar e
do café;
na década de 80 - comícios e passeatas de
intelectuais e estudantes em prol das
campanhas abolicionista e republicana;
em 1888, a Abolição da Escravatura;
em 1889, a Proclamação da República.
7. O início do processo de modernização da sociedade brasileira - dinamização da vida social e
cultural, principalmente no Rio de Janeiro, sede do governo:
- aumento da atividade comercial;
- aumento do funcionalismo público;
- melhoria no transporte urbano;
- surgimento da iluminação elétrica e do cinema;
- aumento do número de estradas de ferro;
- chegada de outras religiões, além do Catolicismo - vinda dos anglicanos, metodistas e
presbiterianos - fundação das primeiras escolas protestantes, a partir de 1870;
- maior desenvolvimento da cultura - matemáticos, economistas, médicos, historiadores, além
dos escritores;
- clima propício à absorção, pelas artes, das novas ideias vindas da Europa e lá já consolidadas -
o liberalismo, o socialismo e as teorias cientificistas.
8. Principais características
As características do movimento estão intimamente ligadas com o contexto histórico
brasileiro e com as novas teorias vindas da Europa, principalmente no que diz respeito
ao positivismo, ao socialismo e ao evolucionismo.
Desenvolveu-se, assim, uma postura objetiva na maneira de tratar a ficção. No entanto,
havia a busca pelos detalhes mais precisos e “realistas” possíveis, sem renunciar à crítica
social. Com isso, o subjetivismo e sentimentalismo do movimento romântico abriram
espaço para o universalismo e o materialismo do momento presente.
Os escritores do período podem ser considerados antimonárquicos, pois criticam a
monarquia e defendem o republicanismo; antiburgueses, pois denunciam a hipocrisia da
família patriarcal burguesa como célula da sociedade, e anticlericais, pois defendem a
separação entre Estado e religião.
9. O Realismo, no Brasil, teve como marco inicial a obra Memórias Póstumas de Brás
Cubas, de Machado de Assis, lançada em 1881. Diferentemente das obras realistas
europeias, as narrativas de Machado não buscam a objetividade documental em
seus romances e, em geral, usam narradores em primeira pessoa. Isso, vale
ressaltar, não era comum na Europa, uma vez que o narrador em terceira pessoa
transmitiria melhor o ideal de imparcialidade dos romances realistas do velho
continente.
Nas narrativas machadianas, percebemos, portanto, não a descrição fiel da
realidade, mas sim um aprofundamento em questões de ordem psicológica.
Machado de Assis retratou os costumes, pensamentos, preceitos morais e éticos
da sociedade carioca brasileira (o Rio de Janeiro era a capital do Brasil). Suas
narrativas são marcadas pelo forte tom irônico e por diversas digressões (técnica
de escrita em que o autor interrompe o fluxo da narrativa para construir uma
reflexão sobre o que estava sendo contado).
11. O NATURALISMO NO BRASIL
O Naturalismo no Brasil teve início no final do século XIX. Entre suas principais
características estão o objetivismo e a impessoalidade.
Movimento literário que teve início na Europa com a publicação do
livro Germinal, de Émile Zola, o Naturalismo chegou ao Brasil no final do século
XIX. Foi nessa época que, influenciados por escritores europeus, nossos
escritores passaram a enxergar na literatura um instrumento de denúncia social,
e não apenas um entretenimento para a classe média e para a elite brasileira.
12. O principal representante do Naturalismo no Brasil foi o maranhense Aluísio
Azevedo. Em sua obra máxima, O Cortiço, Aluísio condensou todos os ideais
naturalistas ao mostrar como a influência do meio e a força dos instintos
determinam o comportamento das personagens. Em outras obras do autor,
como O mulato e Casa de pensão, é possível observar como o fatalismo das
forças sociais e naturais atua sobre o homem, em uma tentativa de validar, por
meio da literatura, as teorias científicas que dominavam o pensamento filosófico
em todo o mundo. Aluísio Azevedo é considerado o principal representante do
Naturalismo no Brasil.
13. Influenciada pelas leis científicas, a literatura naturalista construiu sua ficção ao
tratar o homem como um objeto a ser cientificamente estudado, abandonando
assim qualquer resquício da literatura romântica. Não há espaço para metáforas
ou subjetividade: a realidade é retratada tal qual é, e a linguagem aproxima-se
da simplicidade do coloquialismo para que o leitor tente captar com exatidão as
descrições feitas pelo narrador. O romancista assume uma posição de não
envolvimento, de impessoalidade, introduzindo na literatura assuntos ligados ao
homem, inclusive aqueles tidos como repulsivos, jamais abordados na história
da literatura brasileira.
14. O Naturalismo, assim como o Realismo, outra tendência literária tinha como
preocupação fazer da literatura um instrumento para a análise social, e não
mera diversão para as classes privilegiadas. Por tentar comprovar por meio da
ficção a validade de teses científicas deterministas, o Naturalismo não é
considerado, sob o ponto de vista de alguns estudiosos, como um objeto
verdadeiramente artístico. Os escritores que aderiram ao movimento tinham
como principal intenção dissecar o comportamento humano e social, em um
trabalho que se aproximava das frias e impessoais experiências de laboratório,
distante da concepção artística de literatura até então vigente.
15. Entre os principais elementos que diferem a linguagem naturalista da linguagem
realista, estão:
⇒ Determinismo: Teoria filosófica que afirma que as escolhas e ações humanas
acontecem por relações de causalidade, e não em virtude do livre-arbítrio. Os
seres não possuem vontades, são apenas fantoches nas mãos do destino:
" — É esta! disse aos soldados que, com um gesto, intimaram a desgraçada a
segui-los. — Prendam-na! É escrava minha!
A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe, com uma das mãos
espalmada no chão e com a outra segurando a faca de cozinha, olhou aterrada
para eles, sem pestanejar.
Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembainharam os sabres.
Bertoleza então, erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto e,
antes que alguém conseguisse alcançá-la, já de um só golpe certeiro e fundo
rasgara o ventre de lado a lado.
E depois embarcou para a frente, rugindo e esfocinhando moribunda numa
lameira de sangue (...)”. O cortiço – Aluísio Azevedo
16. ⇒ Preferência por temas de patologia social: De acordo com a concepção
naturalista, o homem é apenas um animal cujo destino é determinado pelo meio
ambiente e pela hereditariedade. Outros aspectos, como a educação e o nível
cultural, também são tidos como responsáveis pela formação do caráter do
homem:
“(...) Não era a inteligência nem a razão o que lhe apontava o perigo, mas o
instinto, o faro sutil e desconfiado de toda fêmea pelas outras, quando sente seu
ninho exposto (...)”. O cortiço – Aluísio Azevedo
17. ⇒ Objetivismo científico e impessoalidade: Entre as características da linguagem
naturalista estão a impessoalidade e a objetividade com que as situações são
descritas. Apenas são considerados os fatos, sendo eles descritos minuciosamente
por meio de uma linguagem simples e direta, tal qual um documento científico:
“A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa. Estava
horrível; nunca fora tão bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia
que nem metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante
como as das éguas selvagens, dava-lhe um caráter fantástico de fúria saída do
inferno. E ela ria-se, ébria de satisfação, sem sentir as queimaduras e as feridas,
vitoriosa no meio daquela orgia de fogo, com que ultimamente vivia a sonhar em
segredo a sua alma extravagante de maluca.” O cortiço – Aluísio Azevedo
19. 1 - (FPS PE/2020) A história da Literatura brasileira viveu diferentes momentos, sempre atrelada
aos contextos históricos e culturais da realidade nacional. Alguns desses momentos ostentaram
marcas mais visíveis desses contextos, como se mostra a seguir. Por exemplo:
1. Na fase do Barroco, vivemos a influência das concepções europeias centradas, na altura, nos
conflitos advindos das dicotomias céu e terra, matéria e espírito, salvação e perdição.
2. O Romantismo destacou-se pela exaltação da paisagem nacional e das diferentes etnias que
fazem a identidade plural do povo brasileiro. No âmbito da poesia, merece destaque Castro
Alves, cuja poesia se insere nas lutas antiescravistas.
3. Na prosa romântica, o destaque vai para José de Alencar e para seu romance Iracema, heroína
romântica genuinamente brasileira. Outros personagens de seus romances representam a fusão
entre o povo português e o povo indígena.
4. Já as estéticas, realista e naturalista, foram influenciadas pelo positivismo, pelo cientificismo,
pelo determinismo, correntes que viam a realidade sem interferência do subjetivismo. O marco
do Realismo brasileiro foi Memórias póstumas de Brás Cubas.
5. O Parnasianismo primou pela perfeição da forma, embora fosse contrário à objetividade, à
impessoalidade e às concepções clássicas sobre métrica e rima. Olavo Bilac foi o grande destaque
da poesia desse período literário.
Estão corretas:
a) 2, 3 e 4, apenas. b) 3 e 4, apenas. c) 1 e 2, apenas. d) 1, 2, 3 e 4, apenas.
20. 2 - (UEG GO/2020) Leia o fragmento e observe a imagem.
Daí a pouco, em volta das bicas era um zum-zum
crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e
fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara,
incomodamente, debaixo do fio d’água que escorria da
altura e uns cinco palmos. O chão inundava-se. As
mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas
para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos
braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o
cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não
se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário
metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam
com força as ventas e as barbas, fossando e fungando
contra as palmas da mão.
AZEVEDO, Aluísio de. O cortiço. São Paulo: FTD, 1993.p. 41.
Tanto na pintura quanto no fragmento apresentados
verificam-se características do
a) Modernismo b) Simbolismo c) Arcadismo
d) Realismo e) Barroco
JÚNIOR, Almeida. Saudade. Óleo sobre tela 1899. Disponível em:
https://arteeartistas.com.br/saudade-almeida-junior/. Acesso em: 16 out.
2019.
21. 3 - (ESPM SP/2019) - A zoomorfização na Literatura, a despeito de qualquer outra característica
estilística, sempre esteve presente, no entanto, aparece principalmente nas obras com
características realistas que, em contraponto àquelas com aspectos mais românticos, têm o
intento de retratar as mazelas da sociedade como espelho. (...)
Fez-se necessário uma Literatura condizente com o real e, para tanto, a zoomorfização de
personagens foi utilizada com maior ênfase. Paralelo ao Realismo, o Naturalismo é o momento
em que mais se verifica este fenômeno. (Uesla Lima Soares , O Animal Humano: Os paradigmas da zoomorfização social e sua
representação literária, Anais do Festival Literário de Paulo Afonso, 2017)
[O zoomorfismo] ocorre quando “o que é próprio do homem se estende ao animal e permite,
por simetria, que o que é próprio do animal se estenda ao homem.” (Antonio Cândido, De Cortiço a Cortiço, Novos Estudos CEBRAP, 1991).
Considere as seguintes afirmações:
I. A zoomorfização se opôs frontalmente às idealizações românticas, sendo uma característica
exclusiva do Naturalismo.
II. Segundo Antonio Candido, não é possível haver distinção entre ser humano e animal, no
sentido de que um cede característica ao outro e vice-versa.
III. A definição de Antonio Candido sobre zoomorfismo é construída por meio de um processo
chamado quiasmo.
A respeito de tais afirmações, deve-se dizer que:
a) somente I está correta. b) somente II está correta. c) somente III está correta.
d) somente I e II estão corretas. e) somente I e III estão corretas.
22. 4 - (UFRGS) Sobre autores do Naturalismo brasileiro, assinale com V (verdadeiro)
ou F (falso) as seguintes afirmações.
(V) Em A carne , de Júlio Ribeiro, faz-se presente a tensão entre intelectualidade
e desejo sexual, em especial no corpo da protagonista Lenita.
(V) Em Bom-crioulo , de Adolfo Caminha, há o relacionamento homossexual
entre o escravo fugido Amaro e o marinheiro branco Aleixo.
(F) Em O Ateneu, de Raul Pompéia, há denúncia de preconceito sofrido pelo
menino negro Sérgio, no colégio interno onde estuda.
(F) Em O mulato , de Aluísio Azevedo, o casal formado pelo “mulato” Raimundo e
por sua prima branca Ana Rosa é bem aceito pelos demais personagens do
romance.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é:
a) V – F – V – F. b) V – V – F – F. c) F – V – F – V.
d) F – F – V – F. e) V – V – F – V.
23. 5 - (PUC-RS) "Ela saltou em meio da roda, com braços na cintura, rebolando as
ilhargas e bamboleando a cabeça (...) numa sofreguidão (...) carnal, num
requebrado luxurioso que a punha ofegante: já correndo de barriga empinada,
já recuando de braços estendidos, a tremer toda, como se fosse afundando num
prazer grosso que nem azeite em que se não toma pé e nunca se encontra o
fundo."
O vocabulário do texto salienta os traços do:
(A)Romantismo.
(B)Realismo.
(C)Naturalismo.
(D)Impressionismo.
(E)Modernismo.