Ce diaporama a bien été signalé.
Le téléchargement de votre SlideShare est en cours. ×

Trabalhando Historia.pdf

Publicité
Publicité
Publicité
Publicité
Publicité
Publicité
Publicité
Publicité
Publicité
Publicité
Publicité
Publicité
591
TRABALHANDO HISTÓRIA DO BRASIL NO CICLO I DO ENSINO FUNDAMENTAL
Adriana ALVES1
Resumo: Ao refletir sobre a proposta do...
592
identificando as relações sociais em várias dimensões e de diferentes maneiras, acompanha as
propostas dos PCN para o ...
593
O último módulo reuniu os resultado obtidos com o projeto para a produção de
um material de ensino em forma de relatór...
Publicité
Publicité

Consultez-les par la suite

1 sur 14 Publicité

Plus De Contenu Connexe

Similaire à Trabalhando Historia.pdf (20)

Plus par Jarina14 (19)

Publicité

Plus récents (20)

Trabalhando Historia.pdf

  1. 1. 591 TRABALHANDO HISTÓRIA DO BRASIL NO CICLO I DO ENSINO FUNDAMENTAL Adriana ALVES1 Resumo: Ao refletir sobre a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino de História no primeiro ciclo do Ensino Fundamental, percebe-se a grande resistência que muitos docentes possuem para mudanças. Porém, na 4ª série de uma escola Pública Estadual na cidade de Ribeirão Preto/SP, foi desenvolvido um projeto de ensino de História para os alunos com objetivo de proporcionar condições para que estes conhecessem a si próprios e aos outros, além de estabelecerem diferenças e semelhanças sociais, econômicas e culturais dentro de seu próprio grupo social. Para isto, foi organizado um conteúdo partindo da realidade do aluno que o conduzisse a questionamentos em torno de seu cotidiano. O objetivo geral do ensino de História para o ciclo I é, conforme o Plano Diretor da escola, estabelecer um processo de diferenciação entre os indivíduos no contexto das relações sociais, identificar noções de trabalho e noções elementares de tempo. Com orientação nos Parâmetros Curriculares Nacionais, é proposto estudar maneiras de integrar a este conteúdo, o estudo de História do Brasil observando as devidas limitações e implicações. Palavras-chave: História; estudo e ensino; prática pedagógica. INTRODUÇÃO Não obstante os grandes avanços no estudo do ensino de História objetivando mudanças no pensar, nos conteúdos e nos métodos tradicionais de aprendizagem, ainda há uma grande resistência por parte dos educadores, às transformações atuais e às necessidades geradas por estas transformações na sociedade desde o final do século passado, no corpo docente das séries iniciais do Ensino Fundamental do Sistema Educacional Público Estadual. A grande expansão escolar, com um público extremamente diversificado em cultura, relacionando-se socialmente e informando-se pelos meios de comunicação cada vez mais rápidos e eficientes, gera a necessidade de um ensino interligado as novas realidades assumidas por esses alunos em constante mudança. No final da década de 1990, ocorreram reformas nas propostas educacionais tanto no Estado de São Paulo quanto em nível Federal, como os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais). Conforme os PCN, é no primeiro ciclo que o processo ensino e aprendizagem de História deverá desenvolver nos alunos a compreensão das semelhanças, diferenças, permanências e transformações que ocorrem no cotidiano, relacionando a sociedade tanto no presente como no passado, mediante observação de diferentes obras humanas. Envolver a vivência das crianças por meio de um projeto pedagógico, conforme seu nível de desenvolvimento, despertando nela uma percepção do mundo em seu redor, 1 Colaboradora do Projeto – Disciplina: História (Faculdade de História, Direito e Serviço Social – UNESP – Franca).
  2. 2. 592 identificando as relações sociais em várias dimensões e de diferentes maneiras, acompanha as propostas dos PCN para o primeiro ciclo do Ensino Fundamental. Os PCN destacam como um dos objetivos mais relevantes do ensino de História nas séries iniciais do Ensino Fundamental, a questão da identidade. É de grande importância que os estudos de História estejam constantemente relacionados com a construção da noção de identidade, mediante o estabelecimento de relações entre identidades individuais, sociais e coletivas. São nas séries iniciais que as primeiras lições de História como disciplina são apresentadas para as crianças. Estas, por sua vez, trazem para a escola suas próprias histórias com base em suas experiências pessoais que vão se ampliando no grande encontro cultural que a escola proporciona para a vida. É nesse ambiente propício que esse projeto de pesquisa foi desenvolvido. Na quarta série E, no período da tarde da EE. Dr. Meira Júnior, na cidade de Ribeirão Preto/SP, foi desenvolvido um projeto de ação didática, dividido em módulos compostos por miniaulas preparadas e ministradas semanalmente na sala de aula, em contato direto com os alunos. A História do Brasil foi o tema a ser desenvolvido, limitando o período Colonial. No primeiro módulo de tema: A criança e sua sociedade, foram trabalhados assuntos que estimulassem as crianças a compararem suas vidas hoje com a da Sociedade Antiga Colonial. A História da colonização do Brasil desenvolvida durante essas aulas, levantou e abordou questões de reconhecimento de permanências e mudanças entre passado e presente. O segundo módulo com o tema: O Índio hoje e o Índio ontem, foi abordado no decorrer de aulas que permitiram as crianças expressarem suas próprias condições de vida hoje, pesquisarem as condições do índio no passado e no presente, e compararem suas vidas com a dos indígenas do país. As relações de trabalho foram o tema do terceiro módulo desenvolvido. As aulas desse módulo tiveram como objetivo tratar as questões do uso da terra e as relações de trabalho do passado e do presente. Lembrando sempre de partir do presente, ou seja, da realidade que envolve o mundo do trabalho hoje, para então transportar o assunto para o passado.
  3. 3. 593 O último módulo reuniu os resultado obtidos com o projeto para a produção de um material de ensino em forma de relatório das atividades desenvolvidas na sala de aula, para um possível aproveitamento nos anos seguintes, pela escola e pelos professores. 1 CRIANÇA E SUA SOCIEDADE As grandes mudanças ocorridas nos últimos anos na sociedade brasileira influenciaram muito na questão da identidade, despertando uma certa preocupação com um ensino mais eficaz da disciplina de História nas escolas em geral. A grande diversidade cultural encontrada por todo o país torna o tema identidade extremamente abrangente. E isso em relação aos grandes encontros culturais ocorridos por causa do processo de migrações dentro do próprio país que acabam por desagregar valores e desestruturar relações históricas antes estabelecidas. Partindo do próprio aluno, são desenvolvidas questões de cidadania e construção de uma identidade social que, ao longo dos estudos da História como componente Curricular, vão partindo para a localidade, a sociedade próxima, distante e o mundo. O indivíduo precisa compreender seu papel na sociedade a qual está inserido. 1.1. A COMPARAÇÃO DA VIDA SOCIAL DA CRIANÇA HOJE, CULTURA, ECONOMIA E A DOS TEMPOS DA COLÔNIA NO BRASIL Os PCN relevam o trabalho com a identidade e que durante seu processo de construção os alunos vão percebendo que há diferenças e semelhanças envolvidas entre os conteúdos propostos e ele, tendo o professor como um mediador desse processo. Várias crianças estão agora pertencendo a um mesmo grupo, no caso a escola, mas possuem diferenças tanto pessoais como em conjunto, que são seus traços culturais adquiridos de suas famílias. Vigotsky (1992, p. 109) discute essa bagagem cultural que acompanha o aluno de casa para a escola, e a classifica como uma “[...] pré-história [...]”, ressaltando que a “[..] aprendizagem escolar nunca parte do zero [...]”. Aproveitando essas experiências que as crianças trazem de casa foi proposto a elas escreverem sua própria História em forma de um pequeno livro acompanhado por gravuras que elas mesmas criaram. Com duas folhas de sulfite em branco dobradas e grampeadas na forma de um livro as crianças desenvolveram seus livros da História de suas vidas, ou o que puderam escrever sobre, e acrescentaram seus hábitos atuais, brincadeiras, atividades e tudo que quiseram expressar sobre si mesmas.
  4. 4. 594 Ao trabalhar a questão da temporalidade, foi desenvolvida uma breve discussão na lousa sobre séculos, contagem de tempo, algarismos romanos, e depois foi proposta uma atividade que elas levaram para fazer em casa. Essa atividade foi uma espécie de linha do tempo pessoal na qual dados importantes que aconteceram na vida de cada criança, desde seu nascimento, foram registrados no gráfico. 1 – Minha Linha do Tempo: Escreva uma coisa legal que aconteceu em cada ano: Ano em que nasci. 1 ano depois 2 anos depois 3 anos depois 4 anos depois 5 anos depois 6 anos depois 7 anos depois 8 anos depois 9 anos depois 10 anos depois Ano: ______ Ano: ______ Ano: _____ Ano: _____ Ano: _____ Ano: _____ Ano: _____ Ano: _____ Ano: ______ Ano: ______ Ano: _____ O que Aconteceu O que aconteceu O que aconteceu O que aconteceu O que Aconteceu O que Aconteceu O que Aconteceu O que Aconteceu O que Aconteceu O que Aconteceu O que Aconteceu Pesquisa de fatos no tempo Um ou dois eventos foram anotados por elas, a cada ano. De maneira que puderam analisar a questão do tempo em forma linear. Apresentando a História do Brasil no período da conquista e posse de terra por parte dos portugueses, as crianças, a todo momento, fizeram comparações com suas atividades de hoje em dia. Partindo dos habitantes que já estavam aqui, foi apresentado seu modo de vida, bem como a questão do achamento do Brasil, sua intencionalidade ou casualidade, em pequenos textos para as crianças fazerem comparações e darem suas opiniões. Após lidos e levantadas as palavras difíceis, foram discutidas as duas versões. As crianças se expressaram elaborando uma pequena dissertação, suas opiniões sobre o achamento do Brasil.
  5. 5. 595 Os textos: Eu acho que... “... Antes do descobrimento, o atual território brasileiro era habitado por uma população de mais ou menos 5 milhões no Brasil de 1500. Além disso, outro português chamado Duarte Pacheco Pereira também tinha estado aqui antes de Cabral. O dia 22 de abril de 1500, ficou como a data oficial da tomada de posse do território brasileiro pelo Reino de Portugal e também sua entrada na História Universal”. Eu acho que.... “... Pedro Álvares Cabral foi enviado às Índias para fazer comércio, porém em 22 de abril de 1500 chegou ao Brasil. Aportaram em um lugar que recebeu o nome de Porto Seguro no atual Estado da Bahia. O escrivão Pero Vaz de Caminha que estava na esquadra, escreveu uma carta ao rei de Portugal relatando a viagem e descrevendo os povos que habitavam o Brasil, os quais os portugueses chamaram de índios. E você? _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ Texto para comparação de relatos Neste exercício de opinião, as crianças fizeram comentários como: “Eu acho que Pedro Alvares Cabral descobriu o Brasil por engano porque ele queria chegar a Índia. (...) Eu acho que Pedro Alvares Cabral foi o primeiro a descobrir o Brasil. (...) Eu acho que os Índios chegaram primeiro ao Brasil que Duarte Pacheco. (...) Eu acho que os Índios descobriram primeiro o Brasil. Mas o Pedro Álvares Cabral se apossou das terras dos Índios, e disse que ele achou a terra. Eu acho que os Índios descobriram.” 1.2. LEVANTAR QUESTÕES ONDE SE POSSA RECONHECER PERMANÊNCIAS CULTURAIS ATRAVÉS DO TEMPO Nesse contexto, foi proposta uma atividade de comparação entre hábitos dos membros da família da criança no passado e seus próprios hoje, que é de grande ajuda para o reconhecimento de mudanças e permanências através do tempo. As crianças levaram uma pesquisa para fazerem em casa com seus familiares e, então, todo um debate foi montado sobre ela na sala de aula. PESQUISA PARA CASA Pergunte a algum adulto de sua família: 1- Como era a escola que você estudava? _____________________________________________________ _____________________________________________________ 2- Como eram as brincadeiras naquela época? _____________________________________________________ _____________________________________________________ Pesquisa para casa
  6. 6. 596 Com a pesquisa pronta na mão das crianças na sala de aula, foi aberto um debate comparativo. Com a lousa dividida em duas partes: passado e presente, foi colocado no lado passado todas as respostas das pesquisas, levando em conta que várias eram semelhantes, fazendo-se assim somente acréscimos; e no lado presente, as crianças descreveram a escola e as brincadeiras de hoje. Após essas conversas, as crianças concluíram que algumas coisas da escola como: alunos, professores e o prédio permaneceram. Porém, a violência aumentou, e os professores de hoje são menos rígidos. Em relação às brincadeiras, as crianças levantaram que a maioria permaneceu. Foi possível notar, que nenhuma criança levantou brincadeiras eletrônicas como vídeo-games e computadores utilizados hoje. Talvez por não perceberem no contexto das brincadeiras tais aparelhos, visto que a maioria conhece e alguns têm ou já tiveram acesso a eles. Para ligar esse tema de permanência e mudanças, passado e presente ao conteúdo de História do Brasil, que seria abordado no dia, a posse do Brasil, um objeto antigo foi utilizado: um ferro de passar roupa à brasa. Ao mostrar o objeto para a classe, eles observaram e comentaram a respeito. Alguns já tinham visto um ferro semelhante, seus pais já haviam dito algo a respeito e outros observaram que antigamente usavam esse tipo de ferro porque não tinha energia elétrica. Ao mostrar um ferro de passar roupa mais moderno, vários comentários surgiram sobre esses eletroportáteis e, até mesmo, que o mostrado não era assim tão moderno. O próximo passo foi então apresentar o conteúdo: A posse das terras brasileiras – As Capitanias Hereditárias e o Governo Geral. Foi usada a aula expositiva como recurso, porém sempre aberta a debates comparativos entre o passado e o atual. Como atividade para as crianças desenvolverem em sala de aula sobre o assunto, foi proposta uma questão para pensar, dissertar e também avaliar como o conteúdo tem sido aproveitado e a questão da temporalidade que o envolve. A questão era: Se você recebesse, só para você e sua família, uma Capitania naquela época, o que você faria com ela para morar, comer e estudar? As respostas foram bem próximas umas das outras: [...] Eu fazia casa de palhas. Eu plantava tomate, feijão, alface e outros legumes, eu fazia uma casa de palha e madeira. Eu colocava uma mesa e eu pegava um monte de pedaço de tronco quebrado para sentar. A minha mãe me dava aulas. Eu plantava para comer, construía casa de madeira e minha mãe me ajudava para aprender a estudar. Eu para morar construía casa, para comer plantava e colhia e para estudar construía uma escola de madeira.
  7. 7. 597 Plantaria, construía uma casa de madeira e para estudar eu fazia a minha própria aula. Eu se não tivesse fogão eu pegava pau. Pra mim comer eu ia plantar, pra mim eu fazia uma casa de madeira pra mim estudar eu ia escrever numa folha e também eu escrevia as coisas com um bambu pontudo. Para morar eu procuraria madeiras para fazer uma oca. E para comer eu plantaria mandioca. E para estudar eu mandaria buscar um professor. Eu e minha mãe e meu pai faria casa de madeira para a gente viver e também plantava semente de arroz, feijão [...] Eu falaria para minha mãe me dar aula da 1, 2, 3 e 4 série e etc. Eu construiria uma casa um pouco grande para eu, minha mãe, meu pai e meus irmãos morarmos e essa casa seria de madeira também e faria todas as crianças estudar com uma pessoa que soubesse ler e escrever [...] Percebe-se que as crianças com base em suas próprias experiências familiares, da vida e das aulas puderam elaborar suas respostas. As crianças colaram um texto em seus cadernos como lembrança dos assuntos discutidos na sala de aula: PARA LEMBRAR: Os portugueses no Brasil não encontraram um povo como o seu, ou seja, comerciantes e produtores. Aqui não encontraram também ouro como esperavam e usaram o Pau-brasil para vender. Portugal estava interessado em lucro e no momento conseguia isso na Ásia e na África. Em 1530, o rei de Portugal enviou ao Brasil uma expedição chefiada por Martim Afonso de Sousa para começar a colonizar e defender as novas terras. O Rei Dom João III dividiu o Brasil em 14 partes, chamadas Capitanias Hereditárias, com homens escolhidos para cuidar dessas capitanias. Com grandes partes para cada um, ficou difícil de controlar essas terras, então é organizado um Governo Geral na cidade de Salvador para controlar e defender o Brasil, agora Colônia de Portugal. (texto Para Lembrar) Na aula seguinte, foi feita uma espécie de recordação e avaliação desse primeiro módulo. A sala assistiu a um filme didático sobre História do Brasil, do descobrimento e a posse de terra – assuntos já trabalhados em sala de aula. E depois, em grupo, montaram cartazes que representaram o Brasil de 1500 e o de 2003. Os temas: As divisões do Brasil, As Viagens/Meios de transportes, As florestas, As pessoas e Os Governos, foram escolhidos para cada grupo, com base nas aulas, de
  8. 8. 598 maneira que os alunos pudessem representá-los em dois momentos (1500 e 2003) da História do Brasil. Em grupos divididos pela atividade de escolha de líder, numa cartolina, as crianças puderam representar os temas nos períodos por meio de desenhos, que depois foram apresentados para toda a sala por cada equipe e avaliado por eles. No término da aula, as crianças expuseram seus trabalhos no corredor da escola. Os resultados foram muito bons. As crianças puderam expor suas visões de passado e presente, tendo como ponto de referência dois períodos distintos, mas que por elas puderam ser ligados por comparações representadas pelos desenhos dirigidos por tema. 2 O ÍNDIO HOJE E O ÍNDIO DE ONTEM Um dos objetivos para o ensino de História para o primeiro ciclo do Ensino Fundamental, conforme os PCN (1997, p. 50), é trabalhar com as crianças a questão do Índio. É indicado como introdução a esses estudos, caracterizar e questionar o modo de vida indígena de uma comunidade mais próxima, na região, observando e relevando as questões econômicas, sociais, culturais, artísticas e religiosas. Com estas questões discutidas, é proposto traçar paralelos de diferenças e igualdades entre essas comunidades indígenas e da comunidade onde vive a criança e sua escola, identificando, assim, diferenças culturais a serem trabalhadas. O objetivo desses estudos é ajudar a criança a compreender as diferenças culturais existentes tanto entre comunidades indígenas, quanto a sua própria, e assim ter uma visão diferenciada em relação aos povos indígenas de maneira que os percebam como povos históricos e com costumes e culturas diferentes entre si. Esses estudos foram trabalhados através de reportagens e fontes iconográficas, uma vez que nas proximidades da cidade de Ribeirão Preto não existem comunidades indígenas que possam ser objeto de estudo para a classe. A turma realizou um trabalho escrito em duplas de análise e opinião de algumas pequenas reportagens de indígenas hoje no Brasil e suas dificuldades. 2.1. CARACTERIZAR A VIDA HOJE DAS CRIANÇAS, PERMITINDO QUE ELAS MESMAS EXPRESSEM SUAS CONDIÇÕES DE VIDA ATRAVÉS DE CONVERSAS NA SALA. As conversas em sala de aula em conjunto com os alunos, ajudaram a conhecê- los melhor, e, assim, poder trabalhar suas necessidades. Geralmente as crianças, não acostumadas a esse tipo de atividade, poderão imaginar que a aula não começou ainda, e pedirão para passar “lição” na lousa. A “famosa indisciplina” com essas conversas também
  9. 9. 599 poderá aparecer, o que exigirá uma maior energia do professor para a organização do debate com as crianças. Aproveitando os dados obtidos em aulas anteriores sobre os estudos pessoais dos alunos, em discussão na sala de aula, as crianças acrescentaram ainda alguns costumes que elas possuem sobre música, dança, jogos, brincadeiras, tipo de alimentação, etc. A cada volta ao passado, foi feito um paralelo com os itens discutidos anteriormente e a sociedade Colonial brasileira, de maneira que as crianças pudessem ser envolvidas com as questões do passado pelos laços de igualdade e diferença. 2.2. APRESENTAR O MODO DE VIDA INDÍGENA MAIS PRÓXIMO POSSÍVEL DA REGIÃO, PERMITINDO QUE AS CRIANÇAS LEVANTEM QUESTÕES RELACIONADAS AO MODO DE VIDA DELES E AO SEU PRÓPRIO MODO DE VIDA Com o objetivo de levar as crianças a conhecerem um pouco da cultura indígena, foi feito um trabalho de comparação entre a vida indígena atual e a de antes, no período do achamento com a utilização de gravuras e interpretação destas. Foi lançada uma pergunta para a classe relacionada ao achamento do Brasil e aos povos que souberam disso lá na Europa durante o período de 1500. O interesse que despertou em alguns povos europeus de virem para o Brasil a fim de explorarem a terra, organizando-se assim o seu povoamento, foi discutido com a turma. Um debate foi aberto às crianças sobre o encontro dos nativos do Brasil e os portugueses. As crianças manifestaram suas opiniões e expressaram a preocupação com a grande diferença de cultura desse encontro. Nesse momento de discussão de encontros, e também ao falar sobre o escambo que era praticado aqui entre Portugueses e Índios, um aluno questionou como seria possível esse contato se não falavam a mesma língua. Isso mostra que o ensino de História passou de fato para questões elaboradas pelas crianças com participação ativa e reconstrução de informações passadas. A vinda desses indivíduos e as conseqüências foram também lançadas na discussão. As crianças relataram a questão do desmatamento das florestas do Brasil, a organização de cidades e mistura de raças. Nesse momento, o conteúdo foi elaborado por elas sobre a questão do encontro de culturas entre Portugal e Nativos no Brasil de 1500.
  10. 10. 600 2.3. AJUDAR AS CRIANÇAS A IDENTIFICAREM DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS DE ESPAÇO, VIVÊNCIA, CULTURA E RELIGIÃO Fazendo paralelos da atualidade conhecida pelas crianças sobre os indígenas com os de tempos antigos do Brasil, as crianças puderam questionar a luta pela terra e outras atividades que se modificaram no comportamento dessas sociedades. Relatório da aula sobre índios, feito por um aluno da 4ª série: Os índios ontem e hoje Ontem os índios eram felizes e tinham muitas terras, os índios eram os donos do Brasil, ele eram donos de toda essa terra. As tribos eram felizes ninguém brigava por terras. Mas hoje os índios não têm lugar para morar, alguns índios pedem esmola. Muitos são assassinados com tiros, esfaqueados e até queimados. Os índios brigam para uma terra, um lugar para viver. Muitas tribos passam fome e até morrem por desnutrição. Não é justo que as pessoas façam isso com os índios [...] 2.1. A ESCOLA INDÍGENA ANTIGA E A ATUAL, RELACIONANDO COM A PRÓPRIA VIDA ESCOLAR DA CRIANÇA Trabalhando com a questão indígena, as crianças puderam levantar dados sobre a vida do índio hoje e como foi no passado. Com um teatrinho apresentado pelas crianças, em meio a uma aula expositiva, os contatos entre indígenas e portugueses na conquista do Brasil foram discutidos. A escola atual instituída nas aldeias indígenas no Estado de São Paulo foi mostrada para as crianças por um pequeno livreto sobre Educação Indígena, elaborado pela Secretaria de Estado da Educação de São Paulo no ano de 2002, distribuído nas escolas Públicas, pelo qual questões de comparação foram levantadas a todo momento. A educação indígena antiga também foi exposta, e as crianças foram motivadas a fazerem redações sobre a escola do índio hoje e ontem. Ainda no assunto indígena, as crianças fizeram debates escritos sobre reportagens atuais que mostram o tratamento que os índios vêm recebendo no país. 3 AS RELAÇÕES DE TRABALHO O cultivo da terra, as relações dos trabalhadores do Período Colonial em comparação com os trabalho executados hoje. Ao começar a falar com as turmas sobre as relações de trabalho, foram abertas discussões sobre as diversas profissões de seus familiares. Com a ajuda de recortes de revistas, foram discutidas outras profissões. As relações de trabalho foram aos poucos sendo exploradas. Após trabalhar com a profissão dos pais e outras, foi aberta uma discussão em
  11. 11. 601 torno do trabalho infantil doméstico, partindo de um encarte infantil de Jornal (ROMEU, 2003). Em grupo, as crianças discutiram e debateram reportagens desse artigo e montaram redações expondo suas idéias. Foi utilizada, também, uma pequena reportagem da TV (Jornal Hoje,16/04/2003) sobre trabalho infantil, que foi gravada em fita VHS e depois passada para as crianças como material ilustrativo para o assunto. Textos de livros também foram utilizados como material de apoio para a elaboração de uma redação sobre o trabalho infantil. Ao encerrar o assunto de relações de trabalho, foi discutida a questão dos direitos, deveres e leis do trabalho. Foi realizado, também, em conjunto com a classe, um orçamento fictício doméstico para ilustrar os gastos e ganhos de uma família. Depois as crianças elaboraram uma redação sobre a aula e o que mais entenderam. Redação de uma aluna: “Esse salário é mínimo mesmo! O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aumentou o salário para R$ 240 reais mais o povo gostou por muito pouco tempo, o povo depois queria um salário mais alto mas ele disse... Por enquanto terá que ser esse valor por que eu quero acabar com a fome e pretendo abaixar o custo de vida. Mas para um pai de família é muito difícil viver com esse salário pois o aluguel está muito alto ele tem que pagar também água, luz, e os alimentos e comprar remédios, roupas, sapatos, etc... Mas o povo tem que se agüentar com esse salário, o quanto pois as coisas estão difícil para todo mundo porque ninguém tem dinheiro para as coisas que devem comprar. “ Ao fazer a transposição para o passado, o trabalho escravo foi apresentado no período Colonial do Brasil. As crianças fizeram análise da letra da música de Jorge Amado “Canto do Trabalho” e parte da poesia de Castro Alves “O Navio Negreiro”, na lousa, em conjunto. Elas usaram o dicionário, buscando palavras difíceis, para fazerem as análises e também traçaram comparações diversas com suas próprias vivências. Foram utilizados mapas da África, Mundi e do Brasil para ilustrar o trajeto do navio negreiro. Transparências com gravuras também ajudaram na ilustração do interior do navio e também do mercado de escravos organizado aqui no Brasil nesse período. Muitas perguntas e debates foram levantados a cada gravura apresentada. As crianças organizaram-se em grupos e, em cartolinas, expressaram seus conhecimentos adquiridos e experiências sobre temas apresentados durante a aula. Foi montado um painel com os trabalhos e exposto no corredor na Escola.
  12. 12. 602 Em continuidade ao assunto anterior, uma aula sobre o Engenho Colonial foi elaborada, com o objetivo de ajudar as crianças a questionarem a sociedade do Engenho no período Colonial do Brasil. Exploramos objetos de trabalho como a foice que tanto é utilizada hoje em dia como foi no passado. Discutimos o processo de industrialização do açúcar, especialmente no que se refere à mão-de-obra escrava do passado e a atual do coletor de cana de nossa região. Nesse paralelo as crianças experimentaram um pouco de açúcar como ilustração da aula e discutiram “seu gosto doce e amargo” como preparação para elaboração de redação com tema sugerido: “O açúcar é amargo”2 . Alguns dos resultados foram: Para nós o açúcar é doce, mas você acha que para os negros o açúcar é doce? O trabalhador de hoje é quase igual os escravos só que não tem castigo. Só que o trabalho é duro e o açúcar ainda é amargo. O açúcar é amargo? Bom, essa é a questão para os negros que são açoitados. Sim porque quando uma pessoa não sente mais o doce da vida, até açúcar fica amargo. Bom, como eu disse nada mais faz sentido. O açúcar é amargo para os cortadores de cana porque eles sofrem dia por dia, sol por sol para sobreviverem. Antigamente os negros não ganhavam um tostão, hoje mesmo os trabalhadores de cana ganhando dinheiro, eles acham o dinheiro miserável.” Um aluno, durante a exposição da aula e a discussão, relatou, com base em suas experiências familiares, o dia a dia de um coletor de cana de açúcar, seu alimento, moradia, transporte. Os demais alunos também participaram contando histórias de seus familiares e outros fatos conhecidos por eles. 3.1. EXPLORAÇÃO DOS MEIOS DE TRANSPORTE DA ATUALIDADE RELACIONANDO COM OS DE ANTIGAMENTE Houve uma conversa na sala com as crianças sobre a necessidade de o homem se transportar. Elas lembraram vários meios de transporte. Neste momento, as crianças trabalharam em duplas. Cada dupla recebeu uma folha de sulfite e uma gravura de um meio de transporte colada. Perguntas foram colocadas na lousa para as crianças copiarem e responderem na folha com a gravura. As perguntas foram: 1. Descreva seu meio de transporte; 2. Que nome você acha que ele tem?; 3. É antigo ou moderno?; 4. Você acha que hoje em dia se usa esse meio de transporte? Após a discussão das duplas, cada uma apresentou seu trabalho explicando suas respostas.
  13. 13. 603 As crianças inventaram nomes para os meios de transporte, relataram suas observações, etc. CONSIDERAÇÕES FINAIS O desenvolvimento desse projeto foi a ligação entre a teoria dos bancos da Universidade e a prática no cotidiano da Educação Básica. O Ensino de História no ciclo I do Ensino Fundamental da Escola Pública do Estado de São Paulo está mudando, ao menos na EE. Dr. Meira Júnior em Ribeirão Preto, onde foi desenvolvido esse projeto na 4ª série E do período da tarde. Apesar das resistências, há professores que buscam um ensino diversificado, dando oportunidade a projetos de pesquisa nesse sentido. Os Parâmetros Curriculares Nacionais são um importante Material de Ensino para conhecer os vários temas que podem ser desenvolvidos com os alunos e como desenvolvê-los. É importante que a criança participe, se reconheça como um ser histórico, agente transformador de seu tempo. Ela deve buscar os conteúdos dentro dos temas críticos da História como disciplina escolar. Para tanto, é fundamental o papel do professor como um mediador do processo de aprendizagem, que direciona esse trabalho no sentido de despertar no aluno sua historicidade, quanto indivíduo de uma sociedade em constante mudanças. Com a conclusão desse projeto destacam-se as experiências adquiridas no exercício prático da teoria aprendida durante a graduação. Foram quatro anos desenvolvendo e aprendendo questões relacionadas à História e seu ensino. Porém, a licenciatura não preenche todos os aspectos da prática do professor. E não poderia ser diferente, uma vez que o professor tem sua formação realmente integral, na prática, no cotidiano da sala de aula. Esse projeto desenvolvido em sala de aula com os alunos da quarta série do Ensino Fundamental durante o ano de 2003, foi de grande importância para o estabelecimento dessa ponte entre a teoria e a prática ao ligar a Universidade e o Ensino Fundamental no que se refere a licenciatura do curso de História. Nesse sentido, a disciplina de História foi questionada como uma produtora de conhecimento do indivíduo, que é um ser histórico em seu próprio tempo. Os conteúdos prontos e distantes da realidade do aluno tão utilizados, são substituídos por uma História que caminha junto com a criança em seu presente em paralelo 2 Título com base na obra “Açúcar Amargo” de Luiz Puntel da Ed: Ática
  14. 14. 604 com estudos de outros tempos e pessoas que também fizeram suas histórias. Assim sendo, o aluno passa a questionar sua realidade individual, que é uma experiência histórica, fazendo-o despertar para sucessivos exercícios de reflexão que levarão a produção de conhecimento não só no âmbito escolar, mas para a vida. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CABRINI, Conceição. et al. O ensino de História: Revisão urgente. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1986 DEMO, Pedro. Desafios Modernos da Educação. 10. ed, Rio de Janeiro: Vozes, 2000 NADAI, E., BITTENCOURT, C. M. F. Repensando a noção de tempo histórico no Ensino. In: PIASKY, Jaime (Org.). O ensino de história e a criação do fato. 3. ed. São Paulo: Contexto, 1991. NIDELCOFF, M. T. A escola e a compreensão da realidade. São Paulo: Brasiliense. 1987 Parâmetros Curriculares Nacionais: História, Geografia. Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997. PETRUCI, Maria das Graças, R, M. O Ensino de História na Escola Fundamental: a proposta e a prática. Franca, SP – UNESP – FHDSS, 1997. VIGOTSKY, L. S. A Formação social da mente. Ed: Martins Fontes, São Paulo, 1991 FURLAN, S.A., SCARLATO, F.C., CARVALHO, A. F. Eu e o outro: a construção da cidadania. Coleção Verso e Reverso. Geografia e História. Livros 3 e 4. Editora Nacional. São Paulo, 2000 ROMEU, Gabriela. Quem trabalha não brinca. Folha de São Paulo, São Paulo, 19 de abril de 2003. Folhinha, p.3. Secretaria de Estado da Educação de São Paulo. Educação Indígena. 2. ed. São Paulo. 2002. WEISZ, Telma. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. Ed: Ática, 2 Ed, São Paulo, 2001. OUTRAS FONTES FILMES História do Brasil. Vol. I – A descoberta e o início da colonização. SBJ Produções. São Paulo, Brasil. TELEVISÃO Socorro às crianças. Reportagem. Jornal Hoje. Rede Globo de Televisão (Brasil).16/04/2003

×