O documento descreve a evolução da agricultura brasileira de complexos rurais para complexos agroindustriais modernos, liderados pelo capital financeiro e pelo Estado. Apresenta os resultados da Revolução Verde e a industrialização e mercantilização resultantes da agricultura. Descreve também a transição pós-guerra para a modernização apoiada pelo crédito rural e a formação de conglomerados agroindustriais.
Evolução da agricultura brasileira dos complexos rurais aos agroindustriais
1. Estado, capital financeiro e
modernização da agricultura no
Brasil
Geografia Agrária I - Profa. Marta
Aula 12
2. Resultados da Revolução Verde
segundo Porto-Gonçalves
• NOVAS RELAÇÕES SOCIAIS E DE PODER
• Crescimento da interdependência econômica
entre os momentos do processo produtivo e
integração da produção via mercado.
• Crescente subordinação da produção agrícola
aos capitais comercial, industrial e financeiro.
• Separação entre conhecimento e reprodução
social, entre produção e reprodução, risco à
Segurança e Soberania Alimentar.
• Simplificação do ecossistema, ineficiência
energética e dependência de insumos externos
para assegurar o seu equilíbrio dinâmico.
3. Contradições da Revolução Verde
segundo Porto-Gonçalves
CRESCE DIMINUI
Produção Renda diferencial I (localização e
fertilidade)
Produtividade
Consumo de insumos Postos de trabalho
Impactos ambientais População rural
Agricultura de mercado Diversidade Biológica, Cultural, Social
Concentração de capitais
Desigualdades sociais Preços Relativos Agrícolas
População urbana
Fome no Mundo
4. Industrialização da Agricultura
segundo Graziano
• A agricultura se transforma em “indústria” (setor
produtor de mercadorias, subordinado ao capital)
• Avanço da divisão social do trabalho e mudança na
relação cidade-campo.
• Crescimento do consumo produtivo de bens
intermediários e desenvolvimento do mercado
interno (Lênin).
• Formam-se os Complexos Agroindustriais com a
integração da agricultura à indústria e
intensificação das trocas intersetoriais.
5. Relação com a Natureza e com o
Processo de Trabalho
“Esse processo representa na verdade a subordinação da
Natureza ao capital que, gradativamente, liberta o
processo de produção agropecuária das condições
naturais dadas, passando a fabricá-las sempre que se
fizer necessário.” (Graziano da Silva, 1998, p. 3) (grifo
nosso)
Mudam a forma de produção e as relações de produção,
o campo se converte numa “fábrica”, o trabalhador tende
a perder autonomia e se especializa.
6. Industrialização da Agricultura
segundo Graziano
• No processo de trabalho agrícola o trabalhador se
torna o apêndice da máquina, cria-se um proletariado
rural desqualificado em detrimento do trabalho
familiar camponês.
• A agricultura se transforma em um ramo da própria
indústria e perde a sua regulação geral (seja pelo
mercado interno ou externo).
• Muda a sua Regulação Econômica, que passa a ser
determinada pelo Estado por meio do Capital
Financeiro.
• O Estado passa a definir os parâmetros de
rentabilidade dos capitais investidos na agricultura.
7. Imperialismo e Capital Financeiro,
segundo Lênin
O Imperialismo corresponde à fase superior do
capitalismo, caracterizada pelo monopólio e
pelo aprofundamento das trocas econômicas
entre os países, que passam de uma relação
centrada na circulação de mercadorias para
uma relação determinada pelo fluxo de capitais
sob o domínio do capital financeiro.
8. Brasil: do Complexo Rural aos
Complexos Agroindustriais
• Complexo Rural: produção de autoconsumo e de um produto
para o mercado externo. A fazenda internalizava a produção
dos meios de produção em bases artesanais.
• Complexo Agro-comercial cafeeiro: crescente integração
campo e cidade, que passa a incorporar atividades
complementares ao complexo como bancos, casas de
comércio e pequenas fábricas.
• Expansão de ferrovias e industrialização de substituição de
importações, desenvolvimento do mercado de trabalho , do
mercado de terras e formação de um mercado interno.
9. Brasil: do Complexo Rural aos
Complexos Agroindustriais
• Complexos Agroindustriais: não se trata mais
de Setor Agrícola mas de uma diversidade de
negócios envolvendo a produção agrícola sob
o domínio da indústria e das finanças e
orquestrados pelo Estado por meio de
políticas específicas.
• A agricultura torna-se uma estrutura
multideterminada.
10. Brasil: do Complexo Rural aos
Complexos Agroindustriais
1) Do Complexo Rural ao Comp. Agro-Comercial Cafeeiro
• Mudanças nas relações de trabalho, abolição da
escravidão e transformação da terra em mercadoria.
• Regime de Colonato: trabalho familiar no cafezal e
produção de subsistência.
• Se antes a fazenda utilizava o trabalho escravo para a
produção de mercadoria e o camponês na condição de
agregado, agora passa a empregar o Colono para
trabalhar diretamente na produção de valor comercial.
• Instalação do cafezal e produção da fazenda de café
gera ganhos de fundador num contexto de privatização
da terra (apropriação da renda da terra).
11. Brasil: do Complexo Rural aos
Complexos Agroindustriais
• Entre 1850 e 1890 a produção de insumos e
meios de produção continua em grande parte
internalizada na fazenda, mas algumas atividades
se separam do complexo cafeeiro a medida que
aumentam a disponibilidade de recursos e a
capacidade de importar.
• A partir de 1890 a produção cafeeira entra em
seu período áureo e ampliam-se as atividades
urbanas, com o surgimento de pequenas
agroindústrias de óleos vegetais, açúcar e álcool.
12. Brasil: do Complexo Rural aos
Complexos Agroindustriais
• As mudanças observadas no complexo cafeeiro levam à
industrialização e a uma divisão regional do trabalho que
põe São Paulo como centro dinâmico e cria periferias,
influenciando a configuração da agricultura capitalista no
Brasil.
• A modernização da agricultura dá seus primeiros passos,
alcançando de forma diferenciada as regiões, os produtos e
os produtores. Permanece elevada heterogeneidade na
produção agrícola.
• A cafeicultura e a cotonicultura sofreram importantes
mudanças na base técnica enquanto os demais produtos
continuam a ser cultivados em bases extensivas.
13. Brasil: do Complexo Rural aos
Complexos Agroindustriais
• A crise de 1929/33 muda os determinantes da
dinâmica nacional, que passam a ser
influenciados pelo mercado interno criado pela
Urbanização.
• De 1930 a 1960 dá-se a integração dos mercados
nacionais (de alimentos, trabalho, matérias-prima)
e a conclusão da implantação do D1 com a
instalação da indústria pesada.
• Neste período a entrada de capitais
proporcionada pelo café irá impulsionar a
industrialização.
14. Brasil: do Complexo Rural aos
Complexos Agroindustriais
2) A transição no Pós-Guerra e a Modernização da
agricultura
• Expansão da agricultura em áreas de fronteira
próximas a núcleos urbanizados do Centro-Sul.
• Nos anos 50 tem início a modernização da agricultura
de uma forma mais ampla sob o signo da revolução
verde.
• Ocorre a importação de tratores e fertilizantes visando
o aumento da produtividade na agricultura.
• O que produzir é internalizado mas o como produzir
passa a depender do mercado externo
15. Brasil: do Complexo Rural aos
Complexos Agroindustriais
• Cresce o consumo intermediário e o processo de produção
torna-se cada vez mais complexo.
• Intensifica-se esta mudança com a implantação no país da
indústria para fornecer máquinas e insumos para a agricultura,
configurando a Industrialização da Agricultura.
• A partir de 1965 tem-se um Novo Padrão de Desenvolvimento
da Agricultura caracterizado pelos Complexos Agroindustriais e
pela Integração de Capitais.
• Processos relacionados: consolidação da integração entre
agricultura e indústria e as correlatas mudanças de base técnica
da produção agrícola; intensa urbanização; crescimento do
emprego não-agrícola e da demanda por produtos agrícolas;
crescimento e diversificação das exportações e criacão do
criação do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR).
16. Brasil: do Complexo Rural aos
Complexos Agroindustriais
• O Estado atua como agente modernizante e regulador
da economia, administrando as margens de lucro na
agricultura por meio do crédito rural e sustentado por
um Pacto Político entre Burguesia e os Proprietários
de Terras.
• A regulação macroeconômica mais geral se dá
por meio das ligações entre os capitais, que
não são apenas técnicas, mas financeiras.
• O sistema financeiro passa a soldar o
movimento geral de produção e acumulação
na agricultura com o resto da economia.
17. Brasil: do Complexo Rural aos
Complexos Agroindustriais
• A Política de Crédito torna-se o principal vetor da Modernização
da Agricultura e favorece a Integração/ Centralização de
Capitais (bancários, industriais e agrários).
• Formam-se os Conglomerados, articulando mútiplas frentes de
investimento na busca da taxa média de lucro.
• A cabeça financeira do conglomerado imprime direção à
aplicação de capitais em diferentes mercados, com destaque
para o mercado de terras.
• Ocorre a territorialização da burguesia e a transformação da
propriedade fundiária em ativo especulativo. O mercado de
terras se transforma em ramo especial do mercado financeiro.
• O capital financeiro emerge como nova forma de organização
dos mercados rurais e de comando na acumulação na
agricultura.
21. Bibliografia
Textos de referência:
SILVA, José Graziano. “Do complexo rural aos complexos
agroindustriais”, in A nova dinâmica da agricultura
brasileira. Campinas, UNICAMP.IE, 1998. (pp. 1-39)
Bibliografia complementar:
DELGADO, Guilherme. Do capital financeiro na
agricultura à economia do agronegócio. Porto Alegre,
UFRGS, 2012.