SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  11
Fundação Armando Álvares Penteado
     Faculdade de Comunicação




        Leandro Carnaúba Lôbo




A ARTE NEOCLÁSSICA E ROMÂNTICA
  Como duas artes tão diferentes coexistiram




                São Paulo
                  2012
Fundação Armando Álvares Penteado
     Faculdade de Comunicação




        Leandro Carnaúba Lôbo




A ARTE NEOCLÁSSICA E ROMÂNTICA
  Como duas artes tão diferentes coexistiram




                2) Estabeleça uma caracterização e uma
                    comparação entre o Neoclassicismo
                           e o Romantismo (com base na
                     bibliografia) e exemplificando com o
                        exame de obras representativas.




                São Paulo
                  2012
Trabalho

        Na Europa dos séculos XIX e XX, e também na América do Norte, é
possível perceber duas tendências artísticas quase que opostas se
desenvolvendo, principalmente durante a Revolução Francesa e o período de
conquistas napoleônicas. Ambas estão associadas a critérios artísticos e
temas diferentes já que compreendem estudos e retomadas a duas
mitologias, tempos, culturas e espaços diversos. Porém, por serem
movimentos simultâneos que ocupam um espaço comum, mesmo que
predominantes em áreas geográficas diferentes da Europa, acabam por
assumir a mesma ideologia, além da ideia de uma possível unidade cultural e
política, seja nacional ou não.
        Os movimentos a qual nos referimos foram convencionalmente
denominados de Neoclassicismo e Romantismo. O primeiro se apresentou
em maior escala na região mediterrânea da Europa, enquanto o segundo se
desenvolveu melhor no mundo nórdico. As áreas nas quais cada um dos
movimentos se destacou são importantíssimas na hora de compreender suas
características e formas, considerando-se que mesmo na mesma época e
passando pelas mesmas mudanças, cada região reagiu à situação e ao
momento de maneiras divergentes, criando espécies de atmosferas
diferentes no Sul e no Norte da Europa.
        Enquanto vemos o Neoclassicismo se formando no espaço meridional
europeu onde temos uma relação mais simples e positiva entre o homem e a
natureza, o Romantismo toma força na região setentrional da Europa cuja
visão da natureza é a de misteriosa e hostil.As principais diferenças entre os
dois movimentos, porém, recaem não na natureza mas sim nos temas
tratados, nas inspirações, no sentimento com o qual o artista vê o mundo e
assim se expressa, nos motivos pelos quais tais sentimentos divergem entre
si, no objetivo da arte, na razão pela qual ela é feita e nos ideais propostos.
O Romantismo se apoia na arte cristã medieval como religião histórica,
retomando a arte Românica e Gótica e se baseando no contexto de
desânimo do qual os jovens artistas faziam parte com a chegada dofim da
era napoleônica, contexto esse que os remetia a um estado de espírito de
isolamento e reflexão do mundo compondo uma ideia de arte como
inspiração, não como uma visão intuitiva do mundo mas uma “renúncia ao
mundo pagão dos sentidos, o pensamento de Deus” (referência).
        O isolamento por parte do artista traz também à tona outros aspectos
da arte romântica como o individualismo e a história vista a partir das
experiências vivida pelo autor de cada obra. O mundo deixa de ser imutável
como era colocado em épocas anteriores e passa a ser visto pelos olhos e
coração dos artistas, adquirindo assim certa subjetividade. Além disso, com a
queda de napoleão, o universalismo imperial antes existente é substituído
pelosentimento nacionalista que acompanha um certo desejo de retomada da
cultura germânica e a independência, e consequente autonomia, das nações.
        Um ótimo exemplo dessa visão, que não a real, que o artista possuía
sobre as coisas a partir de sua inspiração passando para o público aquilo que
sentia, e do forte nacionalismo da época é a obra A Liberdade guia o povo
(1830), de EugèneDelacroix (vide Imagem 1) que retrata a insurreição que
acabou com o terror branco na França em 1830 de um ponto de vista
puramente sentimental exaltado pelo artista, já que não é um quadro
histórico, ou seja, não representa um acontecimento real.Não houve mulher
alguma que lutou sobre as barricadas agitando o estandarte tricolor com os
seus seios à mostra, enquanto camponeses e burgueses lutavam juntos pela
liberdade francesa. Isso tudo é a pura visão que Delacroix possuía dos
ocorridos. A mulher apresentada na obra representa a própria Liberdade e ao
mesmo tempo a França exaltando assim a pátria, o nacional que tanto se
idolatrava.
De maneira oposta ao Romantismo, porém não o excluindo, a arte
neoclássica, igualmente ao movimento Renascentista de séculos anteriores,
retoma a cultura greco-romana da Antiguidade, adotando-a como modelo,
tanto de equilíbrio quanto de proporção. Esse retorno ao clássico se dá em
plena Revolução Francesa, um período de renovação em que se busca uma
mudança, um abandono e condenação de tudo aquilo que é imediatamente
anterior, nesse caso a arte do Barroco e do Rococó.
        Os exageros barrocos são então deixados para trás, desprezando-se a
imaginação, e é então que surge um modelo do ideal. O conceito de um ideal
universal veio acompanhado de um movimento cultural e político conhecido
como Iluminismo e que era contrário ao individualismo romântico. O
universalismo neoclassicista também trazia consigo uma visão da Europa
como um todo, caracterizado talvez pelo Império Napoleônico, o que divergia
do sentimento de pátria característico do Romantismo, além do tecnicismo,
que colocava a existência de uma maneira correta de como se construir a
imagem do ideal.
        A arte neoclássica pode ser vista claramente na obra de Jean Auguste
Dominique Ingres, A Banhista de Valpinçon (1808) (vide Imagem 2) que
segue o modelo ideal de beleza e de arte clássica criado na Antiguidade, um
ideal universalista que segue os pretextos do Iluminismo, através da
utilização de uma técnica pré-definida. O quadro, diferentemente das pinturas
do Romantismo, não é subjetivo à visão do artista, é algo que, mesmo sendo
real ou não, já está posto por um modelo.
O Romantismo e o Neoclassicismo atingiram também as outras artes
como a escultura, a literatura, a poética e em especial a arquitetura. O mundo
que passava não somente pela Revolução Francesa, mas também pela
Revolução Industrial, tinha como característica o artista inserido em um novo
panorama onde se estava presente o moderno, as técnicas industriais, uma
força de criação. Essas mudanças trazem consigo a ideia iluminista de que a
“a natureza não é mais a ordem revelada e imutável da criação, mas o
ambiente da existência humana; não é mais o modelo universal, mas um
estímulo a que cada um reage de modo diferente; não é mais a fonte de todo
o saber, mas o objeto da pesquisa cognitiva”().
         A nova ideia de natureza que surge nesse período leva ao surgimento
da urbanística, inserida nas ideias neoclássicas, que se baseia numa
estilística única da cidade que corresponde à ordem social. O homem passa
então a modificar o espaço a sua volta. Nessa nova ciência da cidade que
trata de criar estruturas sociais públicas, geralmente baseadas em formas
geométricas, ganham destaque os arquitetos Étienne-Louis Boullée,
responsável pelo Projeto de cenotáfio (1780-1800) (vide Imagem 3), e
Claude-Nicolas Ledoux, quem elaborou o projeto da conhecida Casa dos
guardas campestres (1780) (vide Imagem 4), um posto de observação com o
formato de uma esfera.
         Na perspectiva do Romantismo, a arquitetura se volta para o modelo
Gótico de cunho cristão, caracterizado por estruturas altas e verticais como é
possível observar no Palácio da Câmara dos Comuns e na Torre do
Relógio(1840-1868) situados em Londres e projetados por Charles Barry e
Augustus Pugin (vide Imagem 5), principais arquitetos ingleses dessa época.
Uma das principais características da arte durante esse período é a
criação de uma estética, ou seja, uma filosofia da arte, uma ideia de beleza.
Essa beleza no entanto é subjetiva já que o belo romântico é mutável e
depende da visão do artista, daquilo que ele vê e sente; enquanto o belo
neoclassicista é único, universal, imutável e ideal.
        É possível então, chegara a uma conclusão de que a arte assume
papéis diferentes durante a Revolução Francesa, no Império Napoleônico e
após este, se adaptando às novas visões que a sociedade impõe em épocas
e lugares diferentes. É importante lembrar que mesmo sendo o Romantismo
uma arte nórdica e o Neoclassicismo uma arte mediterrânea, eles não
existiram somente nestas regiões. A Europa toda passou por esses
movimentos artísticos em algum momento, seja simultaneamente ou não,
com destaque para a França onde o desenvolvimento da arte desse período
alcançou um patamar de excelência sem igual.
        Podemos dizer que o mundo viveu um período de antítese entre os
séculos XIX e XX pois coexistiam duas vertentes artísticas opostas mas que
ao mesmo templo se complementavam e se assemelhavam de diversas
maneiras. A arte tentou acompanhar o ritmo de mudanças sociais, políticas e
econômicas que ocorriam durante todo esse tempo e talvez seja devido a
isso que se deem tantas diferenças.
Imagens




Imagem 1 – EugèneDelacroix: A Liberdade guia o povo
            (1830); tela, 2,60 x 3,25 m. Paris, Louvre.
Imagem 2 - Dominique Infres: A banhista de Valpinçon
            (1808); tela, 1,46 x 0,97 m. Paris, Louvre.
Imagem 3 – Étienne-Louis Boullée: Projeto de cenotáfio
                            (1780-1800); gravura, 0,30 x 0,63 m.
                                    Paris, BibliothèqueNationale




Imagem 4 – Claude-Nicolas Ledoux: Casa dos guardas campestres
                                Em Maupertuis (1780); gravura.
                                   Paris, BibliothèqueNationale
Bibliografia

ARGAN, G. C. Arte moderna. SP: Cia das Letras, 2008.

Contenu connexe

Tendances

Neoclassicismo E Romantismo
Neoclassicismo E RomantismoNeoclassicismo E Romantismo
Neoclassicismo E RomantismoAuriene
 
Romantismo - História da Arte
Romantismo - História da ArteRomantismo - História da Arte
Romantismo - História da ArteVIVIAN TROMBINI
 
História da Arte: Romantismo - França e Itália
História da Arte: Romantismo - França e ItáliaHistória da Arte: Romantismo - França e Itália
História da Arte: Romantismo - França e ItáliaRaphael Lanzillotte
 
Romantismo
RomantismoRomantismo
RomantismoCEF16
 
O interesse pela realidade social nas artes e na literatura
O interesse pela realidade social nas artes e na literaturaO interesse pela realidade social nas artes e na literatura
O interesse pela realidade social nas artes e na literaturaSusana Simões
 
Situacionsimo Popart
Situacionsimo PopartSituacionsimo Popart
Situacionsimo PopartEllen_Assad
 
Neoclassicismo – romantismo – realismo
Neoclassicismo – romantismo – realismoNeoclassicismo – romantismo – realismo
Neoclassicismo – romantismo – realismoescola
 
Criatividade e ruturas
Criatividade e ruturasCriatividade e ruturas
Criatividade e ruturasAna Barreiros
 
A pintura e as artes plásticas no romantismo
A pintura e as artes plásticas no romantismoA pintura e as artes plásticas no romantismo
A pintura e as artes plásticas no romantismoma.no.el.ne.ves
 
Romantismo - Dia dos Namorados
Romantismo - Dia dos NamoradosRomantismo - Dia dos Namorados
Romantismo - Dia dos NamoradosLuisa Lamas
 
24. Neoclassicismo
24. Neoclassicismo24. Neoclassicismo
24. Neoclassicismoguest9c2383
 
NEOCLASSICISMO
NEOCLASSICISMONEOCLASSICISMO
NEOCLASSICISMOTai2210
 

Tendances (20)

Neoclassicismo E Romantismo
Neoclassicismo E RomantismoNeoclassicismo E Romantismo
Neoclassicismo E Romantismo
 
Romantismo - História da Arte
Romantismo - História da ArteRomantismo - História da Arte
Romantismo - História da Arte
 
História da Arte: Romantismo - França e Itália
História da Arte: Romantismo - França e ItáliaHistória da Arte: Romantismo - França e Itália
História da Arte: Romantismo - França e Itália
 
Arte - Romantismo
Arte - RomantismoArte - Romantismo
Arte - Romantismo
 
Romantismo
RomantismoRomantismo
Romantismo
 
O interesse pela realidade social nas artes e na literatura
O interesse pela realidade social nas artes e na literaturaO interesse pela realidade social nas artes e na literatura
O interesse pela realidade social nas artes e na literatura
 
Situacionsimo Popart
Situacionsimo PopartSituacionsimo Popart
Situacionsimo Popart
 
Aula 2 Novo Colégio
Aula 2 Novo ColégioAula 2 Novo Colégio
Aula 2 Novo Colégio
 
Arte: Vanguardas Europeias
Arte: Vanguardas EuropeiasArte: Vanguardas Europeias
Arte: Vanguardas Europeias
 
Neoclassicismo – romantismo – realismo
Neoclassicismo – romantismo – realismoNeoclassicismo – romantismo – realismo
Neoclassicismo – romantismo – realismo
 
Criatividade e ruturas
Criatividade e ruturasCriatividade e ruturas
Criatividade e ruturas
 
A pintura e as artes plásticas no romantismo
A pintura e as artes plásticas no romantismoA pintura e as artes plásticas no romantismo
A pintura e as artes plásticas no romantismo
 
Revisão HISTÓRIA DA ARTE - 04
Revisão HISTÓRIA DA ARTE - 04Revisão HISTÓRIA DA ARTE - 04
Revisão HISTÓRIA DA ARTE - 04
 
Arte
ArteArte
Arte
 
Romantismo - Dia dos Namorados
Romantismo - Dia dos NamoradosRomantismo - Dia dos Namorados
Romantismo - Dia dos Namorados
 
Neoclassicismo
NeoclassicismoNeoclassicismo
Neoclassicismo
 
24. Neoclassicismo
24. Neoclassicismo24. Neoclassicismo
24. Neoclassicismo
 
Aula arte realista
Aula   arte realistaAula   arte realista
Aula arte realista
 
Romantismo 9º ano
Romantismo 9º anoRomantismo 9º ano
Romantismo 9º ano
 
NEOCLASSICISMO
NEOCLASSICISMONEOCLASSICISMO
NEOCLASSICISMO
 

Similaire à Hist da arte

Similaire à Hist da arte (20)

Neoclássico
NeoclássicoNeoclássico
Neoclássico
 
arte no século XVIII e XIX
arte no século XVIII e XIXarte no século XVIII e XIX
arte no século XVIII e XIX
 
resumo Movimentos Artísticos séc. XIX
resumo Movimentos Artísticos séc. XIXresumo Movimentos Artísticos séc. XIX
resumo Movimentos Artísticos séc. XIX
 
Escola CEJAR - Aquidauana - Apostila 8 A,B e C 1ºB
Escola CEJAR - Aquidauana - Apostila 8 A,B e C 1ºBEscola CEJAR - Aquidauana - Apostila 8 A,B e C 1ºB
Escola CEJAR - Aquidauana - Apostila 8 A,B e C 1ºB
 
8ºano
8ºano8ºano
8ºano
 
Romantismo e neoclassicismo
Romantismo e neoclassicismoRomantismo e neoclassicismo
Romantismo e neoclassicismo
 
Pré renascimento
 Pré renascimento Pré renascimento
Pré renascimento
 
Impressionismo
ImpressionismoImpressionismo
Impressionismo
 
XIX Arte
XIX ArteXIX Arte
XIX Arte
 
Ruptura Inovação nas Artes e na Literatura
Ruptura Inovação nas Artes e na LiteraturaRuptura Inovação nas Artes e na Literatura
Ruptura Inovação nas Artes e na Literatura
 
Neoclassicismo
NeoclassicismoNeoclassicismo
Neoclassicismo
 
NEOCLASSICISMO
NEOCLASSICISMONEOCLASSICISMO
NEOCLASSICISMO
 
Seminários história da arte 03
Seminários história da arte   03Seminários história da arte   03
Seminários história da arte 03
 
Modernismo
ModernismoModernismo
Modernismo
 
Modernismo
ModernismoModernismo
Modernismo
 
11234
1123411234
11234
 
Renascimento, Classicismo e Humanismo
Renascimento, Classicismo e HumanismoRenascimento, Classicismo e Humanismo
Renascimento, Classicismo e Humanismo
 
Neoclassicismo ARV (complementar).pptx
Neoclassicismo ARV (complementar).pptxNeoclassicismo ARV (complementar).pptx
Neoclassicismo ARV (complementar).pptx
 
Impressionismo
ImpressionismoImpressionismo
Impressionismo
 
Linha do Tempo Artística da Europa do Século XIX
Linha do Tempo Artística da Europa do Século XIXLinha do Tempo Artística da Europa do Século XIX
Linha do Tempo Artística da Europa do Século XIX
 

Hist da arte

  • 1. Fundação Armando Álvares Penteado Faculdade de Comunicação Leandro Carnaúba Lôbo A ARTE NEOCLÁSSICA E ROMÂNTICA Como duas artes tão diferentes coexistiram São Paulo 2012
  • 2. Fundação Armando Álvares Penteado Faculdade de Comunicação Leandro Carnaúba Lôbo A ARTE NEOCLÁSSICA E ROMÂNTICA Como duas artes tão diferentes coexistiram 2) Estabeleça uma caracterização e uma comparação entre o Neoclassicismo e o Romantismo (com base na bibliografia) e exemplificando com o exame de obras representativas. São Paulo 2012
  • 3. Trabalho Na Europa dos séculos XIX e XX, e também na América do Norte, é possível perceber duas tendências artísticas quase que opostas se desenvolvendo, principalmente durante a Revolução Francesa e o período de conquistas napoleônicas. Ambas estão associadas a critérios artísticos e temas diferentes já que compreendem estudos e retomadas a duas mitologias, tempos, culturas e espaços diversos. Porém, por serem movimentos simultâneos que ocupam um espaço comum, mesmo que predominantes em áreas geográficas diferentes da Europa, acabam por assumir a mesma ideologia, além da ideia de uma possível unidade cultural e política, seja nacional ou não. Os movimentos a qual nos referimos foram convencionalmente denominados de Neoclassicismo e Romantismo. O primeiro se apresentou em maior escala na região mediterrânea da Europa, enquanto o segundo se desenvolveu melhor no mundo nórdico. As áreas nas quais cada um dos movimentos se destacou são importantíssimas na hora de compreender suas características e formas, considerando-se que mesmo na mesma época e passando pelas mesmas mudanças, cada região reagiu à situação e ao momento de maneiras divergentes, criando espécies de atmosferas diferentes no Sul e no Norte da Europa. Enquanto vemos o Neoclassicismo se formando no espaço meridional europeu onde temos uma relação mais simples e positiva entre o homem e a natureza, o Romantismo toma força na região setentrional da Europa cuja visão da natureza é a de misteriosa e hostil.As principais diferenças entre os dois movimentos, porém, recaem não na natureza mas sim nos temas tratados, nas inspirações, no sentimento com o qual o artista vê o mundo e assim se expressa, nos motivos pelos quais tais sentimentos divergem entre si, no objetivo da arte, na razão pela qual ela é feita e nos ideais propostos.
  • 4. O Romantismo se apoia na arte cristã medieval como religião histórica, retomando a arte Românica e Gótica e se baseando no contexto de desânimo do qual os jovens artistas faziam parte com a chegada dofim da era napoleônica, contexto esse que os remetia a um estado de espírito de isolamento e reflexão do mundo compondo uma ideia de arte como inspiração, não como uma visão intuitiva do mundo mas uma “renúncia ao mundo pagão dos sentidos, o pensamento de Deus” (referência). O isolamento por parte do artista traz também à tona outros aspectos da arte romântica como o individualismo e a história vista a partir das experiências vivida pelo autor de cada obra. O mundo deixa de ser imutável como era colocado em épocas anteriores e passa a ser visto pelos olhos e coração dos artistas, adquirindo assim certa subjetividade. Além disso, com a queda de napoleão, o universalismo imperial antes existente é substituído pelosentimento nacionalista que acompanha um certo desejo de retomada da cultura germânica e a independência, e consequente autonomia, das nações. Um ótimo exemplo dessa visão, que não a real, que o artista possuía sobre as coisas a partir de sua inspiração passando para o público aquilo que sentia, e do forte nacionalismo da época é a obra A Liberdade guia o povo (1830), de EugèneDelacroix (vide Imagem 1) que retrata a insurreição que acabou com o terror branco na França em 1830 de um ponto de vista puramente sentimental exaltado pelo artista, já que não é um quadro histórico, ou seja, não representa um acontecimento real.Não houve mulher alguma que lutou sobre as barricadas agitando o estandarte tricolor com os seus seios à mostra, enquanto camponeses e burgueses lutavam juntos pela liberdade francesa. Isso tudo é a pura visão que Delacroix possuía dos ocorridos. A mulher apresentada na obra representa a própria Liberdade e ao mesmo tempo a França exaltando assim a pátria, o nacional que tanto se idolatrava.
  • 5. De maneira oposta ao Romantismo, porém não o excluindo, a arte neoclássica, igualmente ao movimento Renascentista de séculos anteriores, retoma a cultura greco-romana da Antiguidade, adotando-a como modelo, tanto de equilíbrio quanto de proporção. Esse retorno ao clássico se dá em plena Revolução Francesa, um período de renovação em que se busca uma mudança, um abandono e condenação de tudo aquilo que é imediatamente anterior, nesse caso a arte do Barroco e do Rococó. Os exageros barrocos são então deixados para trás, desprezando-se a imaginação, e é então que surge um modelo do ideal. O conceito de um ideal universal veio acompanhado de um movimento cultural e político conhecido como Iluminismo e que era contrário ao individualismo romântico. O universalismo neoclassicista também trazia consigo uma visão da Europa como um todo, caracterizado talvez pelo Império Napoleônico, o que divergia do sentimento de pátria característico do Romantismo, além do tecnicismo, que colocava a existência de uma maneira correta de como se construir a imagem do ideal. A arte neoclássica pode ser vista claramente na obra de Jean Auguste Dominique Ingres, A Banhista de Valpinçon (1808) (vide Imagem 2) que segue o modelo ideal de beleza e de arte clássica criado na Antiguidade, um ideal universalista que segue os pretextos do Iluminismo, através da utilização de uma técnica pré-definida. O quadro, diferentemente das pinturas do Romantismo, não é subjetivo à visão do artista, é algo que, mesmo sendo real ou não, já está posto por um modelo.
  • 6. O Romantismo e o Neoclassicismo atingiram também as outras artes como a escultura, a literatura, a poética e em especial a arquitetura. O mundo que passava não somente pela Revolução Francesa, mas também pela Revolução Industrial, tinha como característica o artista inserido em um novo panorama onde se estava presente o moderno, as técnicas industriais, uma força de criação. Essas mudanças trazem consigo a ideia iluminista de que a “a natureza não é mais a ordem revelada e imutável da criação, mas o ambiente da existência humana; não é mais o modelo universal, mas um estímulo a que cada um reage de modo diferente; não é mais a fonte de todo o saber, mas o objeto da pesquisa cognitiva”(). A nova ideia de natureza que surge nesse período leva ao surgimento da urbanística, inserida nas ideias neoclássicas, que se baseia numa estilística única da cidade que corresponde à ordem social. O homem passa então a modificar o espaço a sua volta. Nessa nova ciência da cidade que trata de criar estruturas sociais públicas, geralmente baseadas em formas geométricas, ganham destaque os arquitetos Étienne-Louis Boullée, responsável pelo Projeto de cenotáfio (1780-1800) (vide Imagem 3), e Claude-Nicolas Ledoux, quem elaborou o projeto da conhecida Casa dos guardas campestres (1780) (vide Imagem 4), um posto de observação com o formato de uma esfera. Na perspectiva do Romantismo, a arquitetura se volta para o modelo Gótico de cunho cristão, caracterizado por estruturas altas e verticais como é possível observar no Palácio da Câmara dos Comuns e na Torre do Relógio(1840-1868) situados em Londres e projetados por Charles Barry e Augustus Pugin (vide Imagem 5), principais arquitetos ingleses dessa época.
  • 7. Uma das principais características da arte durante esse período é a criação de uma estética, ou seja, uma filosofia da arte, uma ideia de beleza. Essa beleza no entanto é subjetiva já que o belo romântico é mutável e depende da visão do artista, daquilo que ele vê e sente; enquanto o belo neoclassicista é único, universal, imutável e ideal. É possível então, chegara a uma conclusão de que a arte assume papéis diferentes durante a Revolução Francesa, no Império Napoleônico e após este, se adaptando às novas visões que a sociedade impõe em épocas e lugares diferentes. É importante lembrar que mesmo sendo o Romantismo uma arte nórdica e o Neoclassicismo uma arte mediterrânea, eles não existiram somente nestas regiões. A Europa toda passou por esses movimentos artísticos em algum momento, seja simultaneamente ou não, com destaque para a França onde o desenvolvimento da arte desse período alcançou um patamar de excelência sem igual. Podemos dizer que o mundo viveu um período de antítese entre os séculos XIX e XX pois coexistiam duas vertentes artísticas opostas mas que ao mesmo templo se complementavam e se assemelhavam de diversas maneiras. A arte tentou acompanhar o ritmo de mudanças sociais, políticas e econômicas que ocorriam durante todo esse tempo e talvez seja devido a isso que se deem tantas diferenças.
  • 8. Imagens Imagem 1 – EugèneDelacroix: A Liberdade guia o povo (1830); tela, 2,60 x 3,25 m. Paris, Louvre.
  • 9. Imagem 2 - Dominique Infres: A banhista de Valpinçon (1808); tela, 1,46 x 0,97 m. Paris, Louvre.
  • 10. Imagem 3 – Étienne-Louis Boullée: Projeto de cenotáfio (1780-1800); gravura, 0,30 x 0,63 m. Paris, BibliothèqueNationale Imagem 4 – Claude-Nicolas Ledoux: Casa dos guardas campestres Em Maupertuis (1780); gravura. Paris, BibliothèqueNationale
  • 11. Bibliografia ARGAN, G. C. Arte moderna. SP: Cia das Letras, 2008.