SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 18
Baixar para ler offline
@luizhenpimentel
A
NATUREZA
DO
PSÍQUICO
1ª Parte
@luizhenpimentel
A psicanálise é uma ‘psicologia profunda’. Quando
se pergunta o que é ‘o psíquico’ usualmente se
responde pela enumeração de seus constituintes:
percepções, ideias, lembranças, sentimentos, atos
volitivos e etc. [Na filosofia antiga essas funções
eram chamadas de “faculdades mentais” e se as
estudava uma a uma, como se fossem autônomas].
Se o investigador [de hoje] perguntar se existe uma
qualidade comum a todos esses processos, que
torne possível chegar à essência deles, então será
mais difícil fornecer uma resposta.
@luizhenpimentel
Se uma pergunta análoga fosse feita a um físico, quanto à
natureza da eletricidade, por exemplo, ele poderia responder:
‘Para o fim de explicar certos fenômenos [por exemplo: por que
a luz acende?, por que o motor gira?], presumimos a existência
de forças elétricas que estão presentes nas coisas e que delas
emanam. Estudando esses fenômenos, descobrimos as leis que
os governam e podemos, assim, fazer um uso prático delas.
Provisoriamente, isso nos satisfaria. Não conhecemos [ainda]
a natureza da eletricidade. Talvez possamos descobri-la mais
tarde, na medida em que nosso trabalho progrida. O que dela
ignoramos pode até ser a parte mais importante, mas, no
momento, isso não nos preocupa. É assim que as coisas
acontecem nas ciências naturais.’
@luizhenpimentel
Freud alega que a psicologia [também] é uma ciência natural,
mas que seu caso é diferente [das demais]. Nem todos se
arriscam a emitir julgamento sobre assuntos físicos, mas todos
emitem opiniões sobre questões psicológicas e se comportam
como se fossem psicólogos amadores. [Aquele que se propõe a
estudar psicanálise deve estar preparado para encontrar uma
concepção da mente muito diferente daquilo que reza o senso
comum e para acreditar que muitas vezes ele está enganado].
Todas as pessoas, em geral, concordam em que o psíquico
tenha uma qualidade comum na qual sua essência se expressa:
a qualidade de ser consciente. Tudo o que é consciente, dizem
elas, é psíquico e, inversamente, tudo o que é psíquico é
consciente. Isso parece tão autoevidente que contradizê-lo soa
como um absurdo.
@luizhenpimentel
Essa igualação do que é mental com o que é consciente
divorcia os processos psíquicos do contexto geral dos
acontecimentos no universo e os coloca em completo
contraste com os demais. Mas não se pode desprezar o fato
de que os fenômenos psíquicos dependem de influências
somáticas e de que possuem poderosos efeitos sobre os
processos somáticos. Se alguma vez o pensamento humano
se encontrou num [verdadeiro] impasse, foi aqui. Para
descobrir uma saída os filósofos foram obrigados a presumir
que havia processos orgânicos paralelos aos processos
psíquicos conscientes que atuavam como intermediários nas
relações entre ‘corpo e mente’, e que serviam para reinserir o
psíquico no contexto da vida. Mas essa solução permaneceu
insatisfatória.
@luizhenpimentel
A psicanálise escapou a essa dificuldade ao negar
a igualdade entre o que é psíquico e o que é
consciente, considerando que ser consciente é
apenas uma [das] qualidades do que é psíquico.
Uma qualidade que frequentemente está mais
ausente do que presente. O psíquico é, em si
mesmo, inconsciente. [Observe-se que essa é uma
constatação que inverte as crenças comuns que
usa considerar o que é consciente como igual ao
que é psíquico].
Curtiu? Compartilhe!
@luizhenpimentel
luiztutoread@gmail.com
+55 31 98108 5069
pead.yolasite.com
Em breve a 2ª Parte:
A
NATUREZA
DO
PSÍQUICO
—Sigmund Freud
A ciência não é
uma ilusão, mas
seria uma ilusão
acreditar que
poderemos
encontrar noutro
lugar o que ela não
nos pode dar.
@luizhenpimentel
A
NATUREZA
DO
PSÍQUICO
2ª Parte
@luizhenpimentel
A PSICANÁLISE BASEIA ESSA
ASSERÇÃO NUMA SÉRIE DE FATOS
PRIMEIRO
As ideias que ‘ocorrem’ subitamente a alguém vêm à
consciência sem que se esteja ciente dos passos
anteriores que tiveram que dar, embora estes também
sejam atos psíquicos. Dessa maneira pode-se até mesmo
chegar à solução de algum problema intelectual difícil
que durante certo tempo tenha frustrado nossos
esforços deliberados. Os processos de seleção, rejeição
e decisão que ocuparam o intervalo realizaram-se fora da
consciência: foram inconscientes e assim permanecem.
@luizhenpimentel
SEGUNDO
[Aludindo a uma parapraxia (ato falho)], Freud cita
um exemplo do presidente da Câmara Baixa do
Parlamento Austríaco que, em certa ocasião abriu
uma reunião com as seguintes palavras: “Constato
que um quorum completo de membros está presente
e por isso declaro encerrada a sessão”, quando
pretendia dizer ‘aberta’. Por que então disse o
contrário? É provável que nos digam que foi um
equívoco acidental. Se, contudo, considerar o
contexto em que o lapso verbal ocorreu, ficaremos
inclinados a chegar a outra explicação [e a acreditar
que ele teve um sentido].
@luizhenpimentel
As sessões anteriores da Câmara tinham sido muito
tempestuosas e nada haviam produzido, de modo que
seria muito natural que o presidente pensasse, no
momento de fazer sua declaração de abertura: ‘Eu
preferia que a sessão que está apenas começando
estivesse acabada! Preferiria muito mais encerrá-la, do
que abri-la!’ Quando começou a falar não estava
cônscio desse desejo, mas ele se fez efetivo, em seu
aparente equívoco. Esse exemplo isolado dificilmente
pode nos permitir a decisão entre duas explicações tão
diferentes [o equívoco acidental e o “sentido” ].
@luizhenpimentel
Mas, e se todos os lapsos pudessem ser
explicados da mesma maneira? E se em todos os
casos fosse possível demonstrar um motivo que
explicasse o equívoco? Se for assim, não será
mais possível duvidar de que existem atos
psíquicos inconscientes e de que eles são ativos
mesmo quando se acham inconscientes e podem,
eventualmente, levar a melhor sobre as intenções
conscientes. A pessoa reage de diversas maneiras
a um equívoco desse tipo.
@luizhenpimentel
@luizhenpimentel
Pode desprezá-lo completamente ou ficar embaraçada e
envergonhada. Via de regra, não consegue encontrar a
explicação dele por si própria e quase sempre se recusa a
aceitar a explicação dele quando esta lhe é apresentada
por outrem.
TERCEIRO
É possível provar experimentalmente, [por meio da
sugestão pós-hipnótica], que existem atos psíquicos
inconscientes. Por exemplo: O médico entra na enfermaria
do hospital, coloca seu guarda-chuva a um canto,
hipnotiza um dos pacientes e lhe diz: ‘Vou sair agora.
Quando eu entrar de novo, você virá a meu encontro com
o guarda-chuva aberto e o segurará sobre minha cabeça.’
@luizhenpimentel
Em seguida ele deixa a enfermaria e assim que retorna o
paciente, agora fora da hipnose, executa as instruções
que lhe foram dadas quando hipnotizado. Se o médico
interrogar: ‘O que é que você está fazendo?’ O paciente
ficará embaraçado e fará alguma observação como:
‘Como está chovendo lá fora, achei que o senhor abriria
seu guarda-chuva na sala antes de sair.’ A explicação é
efetuada impulsivamente, para oferecer um motivo para
seu comportamento. [Tem-se aqui, também, um exemplo
de racionalização: age-se por uma impulsão, mas se lhe
atribui um motivo racional].
@luizhenpimentel
A relação do consciente com o psíquico fica resolvida
se consideramos a consciência apenas como uma
qualidade nem sempre constante. [Ás vezes, ainda
assim] nos dizem que não há necessidade de se
abandonar a identidade entre o que é consciente e o que
é psíquico e que os chamados processos inconscientes
são processos orgânicos que correm paralelamente aos
mentais. Freud responde que seria injustificável e
inconveniente provocar uma brecha na unidade da vida
mental, da qual a consciência só nos pode oferecer uma
cadeia interrompida de fenômenos [Como explicar-se,
apenas do ponto de vista consciente, os atos falhos, os
sonhos e os sintomas neuróticos?].
@luizhenpimentel
Não é por acaso que só depois de ter sido
feita uma mudança na definição do
psíquico tenha se tornado possível
construir uma teoria coerente da vida
mental. E essa visão alternativa do
psíquico não constitui uma inovação
devida à psicanálise. Um filósofo alemão,
Theodor Lipps, já tinha afirmado que o
psíquico é inconsciente e que o
inconsciente é o verdadeiro psíquico. O
conceito de inconsciente por muito tempo
esteve batendo aos portões da psicologia,
pedindo para entrar. A filosofia e a
literatura quase sempre o manipularam
distraidamente, mas a ciência não achou
uso para ele.
@luizhenpimentel
A psicanálise apossou-se do conceito, levou-o a sério e
forneceu-lhe um novo conteúdo e foi conduzida ao
conhecimento das suas características e descobriu algumas
das leis que o governam. Mas nada disso implica que a
qualidade de ser consciente tenha perdido sua importância.
Ela permanece a única luz que ilumina o caminho que nos
conduz através das trevas da vida mental. Em consequência
dessas descobertas o trabalho científico em psicologia
passou a consistir em traduzir processos inconscientes em
conscientes, e assim preencher as lacunas da percepção
consciente… [O mérito de Freud quanto ao inconsciente
consistiu em descrevê-lo como um sistema dinâmico e em
determinar as leis de seu funcionamento. A concepção da
filosofia consistiu, quase somente em descrevê-lo como um
resíduo daquelas coisas de já não se era mais ciente].

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a A natureza do psíquico segundo Freud

O que_e_filosofia_da_mente?
 O que_e_filosofia_da_mente?  O que_e_filosofia_da_mente?
O que_e_filosofia_da_mente? Junior Fernandes
 
Ryle - O mito de Descartes
Ryle - O mito de Descartes Ryle - O mito de Descartes
Ryle - O mito de Descartes daniellncruz
 
Ryle mito-descartes-2
Ryle mito-descartes-2Ryle mito-descartes-2
Ryle mito-descartes-2daniellncruz
 
Geley, gustave resumo da doutrina espírita
Geley, gustave   resumo da doutrina espíritaGeley, gustave   resumo da doutrina espírita
Geley, gustave resumo da doutrina espíritaLuiz Gonzaga Scalzitti
 
1 psicologia
1 psicologia1 psicologia
1 psicologiabrelua
 
59481781 resenha-as-cinco-licoes-de-psicanalise-de-freud
59481781 resenha-as-cinco-licoes-de-psicanalise-de-freud59481781 resenha-as-cinco-licoes-de-psicanalise-de-freud
59481781 resenha-as-cinco-licoes-de-psicanalise-de-freudLeonardo Souza
 
Ana Mercês Bahia Bock & Outros - Psicologias (pdf)(rev).pdf
Ana Mercês Bahia Bock & Outros - Psicologias (pdf)(rev).pdfAna Mercês Bahia Bock & Outros - Psicologias (pdf)(rev).pdf
Ana Mercês Bahia Bock & Outros - Psicologias (pdf)(rev).pdfJordanPrazeresFreita
 
Psicologia contemporanea articulacoes-teoricopraticas_slides_dilema_cap_i_e_ii
Psicologia contemporanea articulacoes-teoricopraticas_slides_dilema_cap_i_e_iiPsicologia contemporanea articulacoes-teoricopraticas_slides_dilema_cap_i_e_ii
Psicologia contemporanea articulacoes-teoricopraticas_slides_dilema_cap_i_e_iiLucas Coutinho
 
Portfólio Historia da Psicologia.pdf
Portfólio Historia da Psicologia.pdfPortfólio Historia da Psicologia.pdf
Portfólio Historia da Psicologia.pdfVilciele
 
O espirito e o cerebro matheus kielek
O espirito e o cerebro   matheus kielekO espirito e o cerebro   matheus kielek
O espirito e o cerebro matheus kielekMatheus Kielek
 

Semelhante a A natureza do psíquico segundo Freud (20)

Logoterapia bentes pdf
Logoterapia bentes pdfLogoterapia bentes pdf
Logoterapia bentes pdf
 
ACONSELHAMENTO NOUTÉTICO.pdf
ACONSELHAMENTO NOUTÉTICO.pdfACONSELHAMENTO NOUTÉTICO.pdf
ACONSELHAMENTO NOUTÉTICO.pdf
 
O que_e_filosofia_da_mente?
 O que_e_filosofia_da_mente?  O que_e_filosofia_da_mente?
O que_e_filosofia_da_mente?
 
Ryle - O mito de Descartes
Ryle - O mito de Descartes Ryle - O mito de Descartes
Ryle - O mito de Descartes
 
Ryle mito-descartes-2
Ryle mito-descartes-2Ryle mito-descartes-2
Ryle mito-descartes-2
 
Fenomenologia e a psicologia
Fenomenologia e a psicologiaFenomenologia e a psicologia
Fenomenologia e a psicologia
 
Geley, gustave resumo da doutrina espírita
Geley, gustave   resumo da doutrina espíritaGeley, gustave   resumo da doutrina espírita
Geley, gustave resumo da doutrina espírita
 
1 psicologia
1 psicologia1 psicologia
1 psicologia
 
59481781 resenha-as-cinco-licoes-de-psicanalise-de-freud
59481781 resenha-as-cinco-licoes-de-psicanalise-de-freud59481781 resenha-as-cinco-licoes-de-psicanalise-de-freud
59481781 resenha-as-cinco-licoes-de-psicanalise-de-freud
 
Concepções da mente
Concepções da menteConcepções da mente
Concepções da mente
 
Ana Mercês Bahia Bock & Outros - Psicologias (pdf)(rev).pdf
Ana Mercês Bahia Bock & Outros - Psicologias (pdf)(rev).pdfAna Mercês Bahia Bock & Outros - Psicologias (pdf)(rev).pdf
Ana Mercês Bahia Bock & Outros - Psicologias (pdf)(rev).pdf
 
Cap 5 - Psicanalise.pdf
Cap 5 - Psicanalise.pdfCap 5 - Psicanalise.pdf
Cap 5 - Psicanalise.pdf
 
Apostila obsessão lar rubataiana -2009 .doc - 22 doc
Apostila obsessão   lar rubataiana -2009 .doc - 22 docApostila obsessão   lar rubataiana -2009 .doc - 22 doc
Apostila obsessão lar rubataiana -2009 .doc - 22 doc
 
Filosofia da Mente
Filosofia da MenteFilosofia da Mente
Filosofia da Mente
 
Psicologia contemporanea articulacoes-teoricopraticas_slides_dilema_cap_i_e_ii
Psicologia contemporanea articulacoes-teoricopraticas_slides_dilema_cap_i_e_iiPsicologia contemporanea articulacoes-teoricopraticas_slides_dilema_cap_i_e_ii
Psicologia contemporanea articulacoes-teoricopraticas_slides_dilema_cap_i_e_ii
 
A sugestão mental
A sugestão mentalA sugestão mental
A sugestão mental
 
Portfólio Historia da Psicologia.pdf
Portfólio Historia da Psicologia.pdfPortfólio Historia da Psicologia.pdf
Portfólio Historia da Psicologia.pdf
 
Ebook
EbookEbook
Ebook
 
Psicologia 1850 a 1950 foucault
Psicologia 1850 a 1950 foucaultPsicologia 1850 a 1950 foucault
Psicologia 1850 a 1950 foucault
 
O espirito e o cerebro matheus kielek
O espirito e o cerebro   matheus kielekO espirito e o cerebro   matheus kielek
O espirito e o cerebro matheus kielek
 

Mais de Luiz Henrique Pimentel Novais Silva

PRINCÍPIO DE REALIDADE, Além do princípio do prazer NEUROSE OBSESSIVA .pdf
PRINCÍPIO DE REALIDADE, Além do princípio do prazer NEUROSE OBSESSIVA  .pdfPRINCÍPIO DE REALIDADE, Além do princípio do prazer NEUROSE OBSESSIVA  .pdf
PRINCÍPIO DE REALIDADE, Além do princípio do prazer NEUROSE OBSESSIVA .pdfLuiz Henrique Pimentel Novais Silva
 
7 DICAS PRÁTICAS QUE VÃO AJUDAR NA INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS.pdf
7 DICAS PRÁTICAS QUE VÃO AJUDAR NA INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS.pdf7 DICAS PRÁTICAS QUE VÃO AJUDAR NA INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS.pdf
7 DICAS PRÁTICAS QUE VÃO AJUDAR NA INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS.pdfLuiz Henrique Pimentel Novais Silva
 

Mais de Luiz Henrique Pimentel Novais Silva (20)

SURTO PSICÓTICO, DEPRESSÃO, DISTIMIA E TRANSTORNO BIPOLAR.pdf
SURTO PSICÓTICO, DEPRESSÃO, DISTIMIA E TRANSTORNO BIPOLAR.pdfSURTO PSICÓTICO, DEPRESSÃO, DISTIMIA E TRANSTORNO BIPOLAR.pdf
SURTO PSICÓTICO, DEPRESSÃO, DISTIMIA E TRANSTORNO BIPOLAR.pdf
 
Sigmund_FREUD .pdf
Sigmund_FREUD .pdfSigmund_FREUD .pdf
Sigmund_FREUD .pdf
 
PRINCÍPIO DE REALIDADE, Além do princípio do prazer NEUROSE OBSESSIVA .pdf
PRINCÍPIO DE REALIDADE, Além do princípio do prazer NEUROSE OBSESSIVA  .pdfPRINCÍPIO DE REALIDADE, Além do princípio do prazer NEUROSE OBSESSIVA  .pdf
PRINCÍPIO DE REALIDADE, Além do princípio do prazer NEUROSE OBSESSIVA .pdf
 
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE.pdf
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE.pdfINTRODUÇÃO À PSICANÁLISE.pdf
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE.pdf
 
Freud Além da Alma.pdf
Freud Além da Alma.pdfFreud Além da Alma.pdf
Freud Além da Alma.pdf
 
Em Busca da Ciência da Psique.pdf
Em Busca da Ciência da Psique.pdfEm Busca da Ciência da Psique.pdf
Em Busca da Ciência da Psique.pdf
 
ATIVIDADES do PSICANALISTA.pdf
ATIVIDADES do PSICANALISTA.pdfATIVIDADES do PSICANALISTA.pdf
ATIVIDADES do PSICANALISTA.pdf
 
A Psicanálise.pdf
A Psicanálise.pdfA Psicanálise.pdf
A Psicanálise.pdf
 
PSICOPATOLOGIA _ ALTERAÇÕES DAS REPRESENTAÇÕES.pdf
PSICOPATOLOGIA _ ALTERAÇÕES DAS REPRESENTAÇÕES.pdfPSICOPATOLOGIA _ ALTERAÇÕES DAS REPRESENTAÇÕES.pdf
PSICOPATOLOGIA _ ALTERAÇÕES DAS REPRESENTAÇÕES.pdf
 
TOC - TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO.pdf
TOC - TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO.pdfTOC - TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO.pdf
TOC - TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO.pdf
 
O PEQUENO HANS.pdf
O PEQUENO HANS.pdfO PEQUENO HANS.pdf
O PEQUENO HANS.pdf
 
NEUROSE, PSICOSE & PERVERSÃO.pdf
NEUROSE, PSICOSE & PERVERSÃO.pdfNEUROSE, PSICOSE & PERVERSÃO.pdf
NEUROSE, PSICOSE & PERVERSÃO.pdf
 
VIOLÊNCIA E IMPULSIVIDADE NO PSICOPATA.pdf
VIOLÊNCIA E IMPULSIVIDADE NO PSICOPATA.pdfVIOLÊNCIA E IMPULSIVIDADE NO PSICOPATA.pdf
VIOLÊNCIA E IMPULSIVIDADE NO PSICOPATA.pdf
 
NEUROSE & PSICOSE.pdf
NEUROSE & PSICOSE.pdfNEUROSE & PSICOSE.pdf
NEUROSE & PSICOSE.pdf
 
Caso Dora.pdf
Caso Dora.pdfCaso Dora.pdf
Caso Dora.pdf
 
TRANSTORNO DELIRANTE.pdf
TRANSTORNO DELIRANTE.pdfTRANSTORNO DELIRANTE.pdf
TRANSTORNO DELIRANTE.pdf
 
Sigmund Freud e a Psicanálise .pdf
Sigmund Freud e a Psicanálise .pdfSigmund Freud e a Psicanálise .pdf
Sigmund Freud e a Psicanálise .pdf
 
7 DICAS PRÁTICAS QUE VÃO AJUDAR NA INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS.pdf
7 DICAS PRÁTICAS QUE VÃO AJUDAR NA INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS.pdf7 DICAS PRÁTICAS QUE VÃO AJUDAR NA INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS.pdf
7 DICAS PRÁTICAS QUE VÃO AJUDAR NA INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS.pdf
 
LIBIDO.pdf
LIBIDO.pdfLIBIDO.pdf
LIBIDO.pdf
 
Ética e Moral _ Da Filosofia a Psicanálise.pdf
Ética e Moral _ Da Filosofia a Psicanálise.pdfÉtica e Moral _ Da Filosofia a Psicanálise.pdf
Ética e Moral _ Da Filosofia a Psicanálise.pdf
 

Último

Sistema endocrino anatomia humana slide.pdf
Sistema endocrino anatomia humana slide.pdfSistema endocrino anatomia humana slide.pdf
Sistema endocrino anatomia humana slide.pdfGustavoWallaceAlvesd
 
AULA DE ERROS radiologia odontologia.ppsx
AULA DE ERROS radiologia odontologia.ppsxAULA DE ERROS radiologia odontologia.ppsx
AULA DE ERROS radiologia odontologia.ppsxLeonardoSauro1
 
AULA SOBRE SAMU, CONCEITOS E CARACTERICAS
AULA SOBRE SAMU, CONCEITOS E CARACTERICASAULA SOBRE SAMU, CONCEITOS E CARACTERICAS
AULA SOBRE SAMU, CONCEITOS E CARACTERICASArtthurPereira2
 
Enhanced recovery after surgery in neurosurgery
Enhanced recovery  after surgery in neurosurgeryEnhanced recovery  after surgery in neurosurgery
Enhanced recovery after surgery in neurosurgeryCarlos D A Bersot
 
Primeiros Socorros - Sinais vitais e Anatomia
Primeiros Socorros - Sinais vitais e AnatomiaPrimeiros Socorros - Sinais vitais e Anatomia
Primeiros Socorros - Sinais vitais e AnatomiaCristianodaRosa5
 
Prurigo. Dermatologia. Patologia UEM17B2.pdf
Prurigo. Dermatologia. Patologia UEM17B2.pdfPrurigo. Dermatologia. Patologia UEM17B2.pdf
Prurigo. Dermatologia. Patologia UEM17B2.pdfAlberto205764
 
INTRODUÇÃO A DTM/DOF-DRLucasValente.pptx
INTRODUÇÃO A DTM/DOF-DRLucasValente.pptxINTRODUÇÃO A DTM/DOF-DRLucasValente.pptx
INTRODUÇÃO A DTM/DOF-DRLucasValente.pptxssuser4ba5b7
 
O mundo secreto dos desenhos - Gregg M. Furth.pdf
O mundo secreto dos desenhos - Gregg M. Furth.pdfO mundo secreto dos desenhos - Gregg M. Furth.pdf
O mundo secreto dos desenhos - Gregg M. Furth.pdfNelmo Pinto
 

Último (9)

Sistema endocrino anatomia humana slide.pdf
Sistema endocrino anatomia humana slide.pdfSistema endocrino anatomia humana slide.pdf
Sistema endocrino anatomia humana slide.pdf
 
Aplicativo aleitamento: apoio na palma das mãos
Aplicativo aleitamento: apoio na palma das mãosAplicativo aleitamento: apoio na palma das mãos
Aplicativo aleitamento: apoio na palma das mãos
 
AULA DE ERROS radiologia odontologia.ppsx
AULA DE ERROS radiologia odontologia.ppsxAULA DE ERROS radiologia odontologia.ppsx
AULA DE ERROS radiologia odontologia.ppsx
 
AULA SOBRE SAMU, CONCEITOS E CARACTERICAS
AULA SOBRE SAMU, CONCEITOS E CARACTERICASAULA SOBRE SAMU, CONCEITOS E CARACTERICAS
AULA SOBRE SAMU, CONCEITOS E CARACTERICAS
 
Enhanced recovery after surgery in neurosurgery
Enhanced recovery  after surgery in neurosurgeryEnhanced recovery  after surgery in neurosurgery
Enhanced recovery after surgery in neurosurgery
 
Primeiros Socorros - Sinais vitais e Anatomia
Primeiros Socorros - Sinais vitais e AnatomiaPrimeiros Socorros - Sinais vitais e Anatomia
Primeiros Socorros - Sinais vitais e Anatomia
 
Prurigo. Dermatologia. Patologia UEM17B2.pdf
Prurigo. Dermatologia. Patologia UEM17B2.pdfPrurigo. Dermatologia. Patologia UEM17B2.pdf
Prurigo. Dermatologia. Patologia UEM17B2.pdf
 
INTRODUÇÃO A DTM/DOF-DRLucasValente.pptx
INTRODUÇÃO A DTM/DOF-DRLucasValente.pptxINTRODUÇÃO A DTM/DOF-DRLucasValente.pptx
INTRODUÇÃO A DTM/DOF-DRLucasValente.pptx
 
O mundo secreto dos desenhos - Gregg M. Furth.pdf
O mundo secreto dos desenhos - Gregg M. Furth.pdfO mundo secreto dos desenhos - Gregg M. Furth.pdf
O mundo secreto dos desenhos - Gregg M. Furth.pdf
 

A natureza do psíquico segundo Freud

  • 2. @luizhenpimentel A psicanálise é uma ‘psicologia profunda’. Quando se pergunta o que é ‘o psíquico’ usualmente se responde pela enumeração de seus constituintes: percepções, ideias, lembranças, sentimentos, atos volitivos e etc. [Na filosofia antiga essas funções eram chamadas de “faculdades mentais” e se as estudava uma a uma, como se fossem autônomas]. Se o investigador [de hoje] perguntar se existe uma qualidade comum a todos esses processos, que torne possível chegar à essência deles, então será mais difícil fornecer uma resposta.
  • 3. @luizhenpimentel Se uma pergunta análoga fosse feita a um físico, quanto à natureza da eletricidade, por exemplo, ele poderia responder: ‘Para o fim de explicar certos fenômenos [por exemplo: por que a luz acende?, por que o motor gira?], presumimos a existência de forças elétricas que estão presentes nas coisas e que delas emanam. Estudando esses fenômenos, descobrimos as leis que os governam e podemos, assim, fazer um uso prático delas. Provisoriamente, isso nos satisfaria. Não conhecemos [ainda] a natureza da eletricidade. Talvez possamos descobri-la mais tarde, na medida em que nosso trabalho progrida. O que dela ignoramos pode até ser a parte mais importante, mas, no momento, isso não nos preocupa. É assim que as coisas acontecem nas ciências naturais.’
  • 4. @luizhenpimentel Freud alega que a psicologia [também] é uma ciência natural, mas que seu caso é diferente [das demais]. Nem todos se arriscam a emitir julgamento sobre assuntos físicos, mas todos emitem opiniões sobre questões psicológicas e se comportam como se fossem psicólogos amadores. [Aquele que se propõe a estudar psicanálise deve estar preparado para encontrar uma concepção da mente muito diferente daquilo que reza o senso comum e para acreditar que muitas vezes ele está enganado]. Todas as pessoas, em geral, concordam em que o psíquico tenha uma qualidade comum na qual sua essência se expressa: a qualidade de ser consciente. Tudo o que é consciente, dizem elas, é psíquico e, inversamente, tudo o que é psíquico é consciente. Isso parece tão autoevidente que contradizê-lo soa como um absurdo.
  • 5. @luizhenpimentel Essa igualação do que é mental com o que é consciente divorcia os processos psíquicos do contexto geral dos acontecimentos no universo e os coloca em completo contraste com os demais. Mas não se pode desprezar o fato de que os fenômenos psíquicos dependem de influências somáticas e de que possuem poderosos efeitos sobre os processos somáticos. Se alguma vez o pensamento humano se encontrou num [verdadeiro] impasse, foi aqui. Para descobrir uma saída os filósofos foram obrigados a presumir que havia processos orgânicos paralelos aos processos psíquicos conscientes que atuavam como intermediários nas relações entre ‘corpo e mente’, e que serviam para reinserir o psíquico no contexto da vida. Mas essa solução permaneceu insatisfatória.
  • 6. @luizhenpimentel A psicanálise escapou a essa dificuldade ao negar a igualdade entre o que é psíquico e o que é consciente, considerando que ser consciente é apenas uma [das] qualidades do que é psíquico. Uma qualidade que frequentemente está mais ausente do que presente. O psíquico é, em si mesmo, inconsciente. [Observe-se que essa é uma constatação que inverte as crenças comuns que usa considerar o que é consciente como igual ao que é psíquico].
  • 7. Curtiu? Compartilhe! @luizhenpimentel luiztutoread@gmail.com +55 31 98108 5069 pead.yolasite.com Em breve a 2ª Parte: A NATUREZA DO PSÍQUICO
  • 8. —Sigmund Freud A ciência não é uma ilusão, mas seria uma ilusão acreditar que poderemos encontrar noutro lugar o que ela não nos pode dar. @luizhenpimentel
  • 10. A PSICANÁLISE BASEIA ESSA ASSERÇÃO NUMA SÉRIE DE FATOS PRIMEIRO As ideias que ‘ocorrem’ subitamente a alguém vêm à consciência sem que se esteja ciente dos passos anteriores que tiveram que dar, embora estes também sejam atos psíquicos. Dessa maneira pode-se até mesmo chegar à solução de algum problema intelectual difícil que durante certo tempo tenha frustrado nossos esforços deliberados. Os processos de seleção, rejeição e decisão que ocuparam o intervalo realizaram-se fora da consciência: foram inconscientes e assim permanecem. @luizhenpimentel
  • 11. SEGUNDO [Aludindo a uma parapraxia (ato falho)], Freud cita um exemplo do presidente da Câmara Baixa do Parlamento Austríaco que, em certa ocasião abriu uma reunião com as seguintes palavras: “Constato que um quorum completo de membros está presente e por isso declaro encerrada a sessão”, quando pretendia dizer ‘aberta’. Por que então disse o contrário? É provável que nos digam que foi um equívoco acidental. Se, contudo, considerar o contexto em que o lapso verbal ocorreu, ficaremos inclinados a chegar a outra explicação [e a acreditar que ele teve um sentido]. @luizhenpimentel
  • 12. As sessões anteriores da Câmara tinham sido muito tempestuosas e nada haviam produzido, de modo que seria muito natural que o presidente pensasse, no momento de fazer sua declaração de abertura: ‘Eu preferia que a sessão que está apenas começando estivesse acabada! Preferiria muito mais encerrá-la, do que abri-la!’ Quando começou a falar não estava cônscio desse desejo, mas ele se fez efetivo, em seu aparente equívoco. Esse exemplo isolado dificilmente pode nos permitir a decisão entre duas explicações tão diferentes [o equívoco acidental e o “sentido” ]. @luizhenpimentel
  • 13. Mas, e se todos os lapsos pudessem ser explicados da mesma maneira? E se em todos os casos fosse possível demonstrar um motivo que explicasse o equívoco? Se for assim, não será mais possível duvidar de que existem atos psíquicos inconscientes e de que eles são ativos mesmo quando se acham inconscientes e podem, eventualmente, levar a melhor sobre as intenções conscientes. A pessoa reage de diversas maneiras a um equívoco desse tipo. @luizhenpimentel
  • 14. @luizhenpimentel Pode desprezá-lo completamente ou ficar embaraçada e envergonhada. Via de regra, não consegue encontrar a explicação dele por si própria e quase sempre se recusa a aceitar a explicação dele quando esta lhe é apresentada por outrem. TERCEIRO É possível provar experimentalmente, [por meio da sugestão pós-hipnótica], que existem atos psíquicos inconscientes. Por exemplo: O médico entra na enfermaria do hospital, coloca seu guarda-chuva a um canto, hipnotiza um dos pacientes e lhe diz: ‘Vou sair agora. Quando eu entrar de novo, você virá a meu encontro com o guarda-chuva aberto e o segurará sobre minha cabeça.’
  • 15. @luizhenpimentel Em seguida ele deixa a enfermaria e assim que retorna o paciente, agora fora da hipnose, executa as instruções que lhe foram dadas quando hipnotizado. Se o médico interrogar: ‘O que é que você está fazendo?’ O paciente ficará embaraçado e fará alguma observação como: ‘Como está chovendo lá fora, achei que o senhor abriria seu guarda-chuva na sala antes de sair.’ A explicação é efetuada impulsivamente, para oferecer um motivo para seu comportamento. [Tem-se aqui, também, um exemplo de racionalização: age-se por uma impulsão, mas se lhe atribui um motivo racional].
  • 16. @luizhenpimentel A relação do consciente com o psíquico fica resolvida se consideramos a consciência apenas como uma qualidade nem sempre constante. [Ás vezes, ainda assim] nos dizem que não há necessidade de se abandonar a identidade entre o que é consciente e o que é psíquico e que os chamados processos inconscientes são processos orgânicos que correm paralelamente aos mentais. Freud responde que seria injustificável e inconveniente provocar uma brecha na unidade da vida mental, da qual a consciência só nos pode oferecer uma cadeia interrompida de fenômenos [Como explicar-se, apenas do ponto de vista consciente, os atos falhos, os sonhos e os sintomas neuróticos?].
  • 17. @luizhenpimentel Não é por acaso que só depois de ter sido feita uma mudança na definição do psíquico tenha se tornado possível construir uma teoria coerente da vida mental. E essa visão alternativa do psíquico não constitui uma inovação devida à psicanálise. Um filósofo alemão, Theodor Lipps, já tinha afirmado que o psíquico é inconsciente e que o inconsciente é o verdadeiro psíquico. O conceito de inconsciente por muito tempo esteve batendo aos portões da psicologia, pedindo para entrar. A filosofia e a literatura quase sempre o manipularam distraidamente, mas a ciência não achou uso para ele.
  • 18. @luizhenpimentel A psicanálise apossou-se do conceito, levou-o a sério e forneceu-lhe um novo conteúdo e foi conduzida ao conhecimento das suas características e descobriu algumas das leis que o governam. Mas nada disso implica que a qualidade de ser consciente tenha perdido sua importância. Ela permanece a única luz que ilumina o caminho que nos conduz através das trevas da vida mental. Em consequência dessas descobertas o trabalho científico em psicologia passou a consistir em traduzir processos inconscientes em conscientes, e assim preencher as lacunas da percepção consciente… [O mérito de Freud quanto ao inconsciente consistiu em descrevê-lo como um sistema dinâmico e em determinar as leis de seu funcionamento. A concepção da filosofia consistiu, quase somente em descrevê-lo como um resíduo daquelas coisas de já não se era mais ciente].