Revista digital alinhavando pensamentos, estudos e evocações dos “ditos do Senhor” e das personagens que participam da Sua mensagem, em despretensioso convite para o retorno às coisas simples, belas e profundas do Evangelho.
1. Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida
Jovem: Ao encontro de Jesus!
de
Luzum olhar na história
rastros 2017
nº 7
julho
Despretensioso convite para o
retorno às coisas simples, belas
e profundas do Evangelho.
o
ministério
divino
2. 3
Jesusfala de sua
Eu, no entanto, não dependo
do testemunho de um homem;
mas falo isso, para que sejais
salvos. Ele era a lâmpada que
arde e ilumina e vós quisestes
vos alegrar, por um momento,
com sua luz. Eu, porém, tenho
um testemunho maior que o
de João: as obras que o Pai
me encarregou de consumar.
Tais obras, eu as faço e elas
dão testemunho de que o Pai
me enviou.
missão
3. 4 5RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO
rJoão, 5: 19-47
Retomando a palavra, Jesus lhes disse:
“Em verdade, em verdade, vos digo: o Filho,
por si mesmo, nada pode fazer, mas só aquilo que
vê o Pai fazer; tudo o que este faz o Filho o faz
igualmente. Porque o Pai ama o Filho e lhe mostra
tudo o que faz; e lhe mostrará obras maiores do
que essas para que vos admireis.
Como o Pai ressuscita os mortos e os faz viver,
também o Filho dá a vida a quem quer.
Porque o Pai a ninguém julga, mas confiou ao
Filho todo julgamento, a fim de que todos honrem
o Filho, como honram o Pai.
Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o
enviou.
Em verdade, em verdade, vos digo: quem
escuta a minha palavra e crê naquele que me
enviou tem a vida eterna e não vem a julgamento,
mas passou da morte à vida. Em verdade, em
verdade, vos digo: vem a hora — e é agora — em
que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os
que o ouvirem, viverão. Assim como o Pai tem a
4. 6 7RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO
Existe em Jerusalém, junto à Porta das Ovelhas,
uma piscina que, em hebraico, se chama Betesda,
com cinco pórticos.
Sob esses pórticos, deitados pelo chão,
numerosos doentes, cegos, coxos e paralíticos
ficavam esperando o borbulhar da água. Porque
o Anjo do Senhor descia, de vez em quando, à
piscina e agitava a água; o primeiro, então, que
aí entrasse, depois que a água fora agitada, ficava
curado, qualquer que fosse a doença.
Encontrava-se aí um homem, doente havia trinta
e oito anos. Jesus, vendo-o deitado e sabendo que
já estava assim havia muito tempo, perguntou-lhe:
“Queres ficar curado?”
Respondeu-lhe o enfermo: “Senhor, não tenho
quem me jogue na piscina, quando a água é
agitada; ao chegar, outro já desceu antes de mim”.
Disse-lhe Jesus: “Levanta-te, toma o teu leito e
anda!”
Imediatamente o homem ficou curado. Tomou o
seu leito e se pôs a andar.
Ora, esse dia era um sábado. Os judeus, por
isso, disseram ao homem curado: “É sábado e não
te é permitido carregar teu leito”.
Ele respondeu: “Aquele que me curou, disse:
‘Toma o teu leito e anda!’ “ Eles perguntaram:
“Quem foi o homem que te disse: ‘Toma o teu leito
e anda’?”
Mas o homem curado não sabia quem fora.
Jesus havia desaparecido, pois havia uma multidão
naquele lugar.
Depois disso, Jesus o encontrou no Templo e
lhe disse: “Eis que estás curado; não peques mais,
para que não te suceda algo ainda pior!”
O homem saiu e informou aos judeus que fora
Jesus quem o tinha curado.
Por isso os judeus perseguiam Jesus: porque
fazia tais coisas no sábado.
Questionado a respeito, Jesus lhes respondeu:
“Meu Pai trabalha até agora e eu também trabalho”
(João, 5:17).
E, em face dessa postura humilde, sincera, firme
e taxativa, os judeus mais procuravam matá-lo,
vida em si mesmo, também concedeu ao
Filho ter a vida em si mesmo e lhe deu o
poder de exercer o julgamento, porque
é Filho do Homem.
Não vos admireis com isto: vem a
hora em que todos os que repousam nos
sepulcros ouvirão a sua voz e sairão;
os que tiverem feito o bem, para uma
ressurreição de vida; os que tiverem
praticado o mal, para uma ressurreição
de julgamento.
Por mim mesmo, nada posso fazer:
eu julgo segundo o que ouço, e meu
julgamento é justo, porque não procuro
a minha vontade, mas a vontade
daquele que me enviou.
Se eu der testemunho de mim
mesmo, meu testemunho não será
verdadeiro; um outro é que dá
testemunho de mim, e sei que é
verdadeiro o testemunho que presta de
mim.
Vós enviastes emissários a João e ele
deu testemunho da verdade.
Eu, no entanto, não dependo do
testemunho de um homem; mas falo
isso, para que sejais salvos.
Ele era a lâmpada que arde e ilumina
e vós quisestes vos alegrar, por um
momento, com sua luz.
Eu, porém, tenho um testemunho
maior que o de João: as obras que o Pai
me encarregou de consumar. Tais obras,
eu as faço e elas dão testemunho de
que o Pai me enviou.
Também o Pai que me enviou dá testemunho de mim. Jamais ouvistes a sua
voz, nem contemplastes a sua face, e sua palavra não permanece em vós, porque
não credes naquele que ele enviou.
Vós perscrutais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna; ora, são
elas que dão testemunho de mim; vós, porém, não quereis vir a mim para terdes a
vida.
Não recebo a glória que vem dos homens. Mas eu vos conheço: não tendes em
vós o amor de Deus.
Vim em nome de meu Pai, mas não me acolheis; se alguém viesse em seu
próprio nome, vós o acolheríeis.
Como podereis crer, vós que recebeis glória uns dos outros, mas não procurais a
glória que vem do Deus único? Não penseis que vos acusarei diante do Pai; Moisés
é o vosso acusador, ele, em quem pusestes a vossa esperança. Se crêsseis em
Moisés, haveríeis de crer em mim, porque foi a meu respeito que ele escreveu. Mas
se não credes em seus escritos, como crereis em minhas palavras?”
*
Por ocasião de uma festa dos judeus, Jesus subiu a Jerusalém.
Betesda
5. 8 9RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO
porque não somente violava o sábado, mas
também dizia que Deus era seu próprio Pai.
*
O Sábado em hebraico diz-se sabbat
(Shabat), que quer dizer “descanso”. Este
constitui um dos elementos fundamentais da
tradição judaica. O Sábado é o sétimo dia, que
é o dia de descanso.
Este dia recorda dois grandes momentos da
história do povo judaico, são eles: o descanso
de Jahvé depois de terminar a sua obra da
salvação (Êx 20, 8-11; cf. Gén 2, 2)
e a libertação do povo
de Israel da escravidão do Egipto (Dt 5, 12-15)
.
De acordo com a tradição judaica, a ordem
de um dia de descanso foi dada por Deus e
institui um dos mandamentos do Decálogo.
Por isso, o Sábado, para alguns, constitui o
mandamento mais característico do judaísmo
em que se refere unicamente a Deus e ao povo
de Israel, atendendo o que se diz no livro do
Êxodo: “Portanto, os filhos de Israel guardarão
o sábado, através de todas as suas gerações,
como uma aliança perpétua. Entre mim e os
filhos de Israel é um sinal externo de que o
Senhor fez os céus e a Terra em seis dias, e que
no sétimo dia terminou a obra e descansou” (Êx
31, 16-17)
.
Jahvé falou aos filhos de Israel por meio de
Moisés para que estes guardassem o sábado,
porque este é o sinal perpétuo estabelecido
entre Deus e o seu Povo, de geração em
geração. E, por isso, o sábado para esse povo é
uma coisa santa (cf. Êx 31, 12-14)
.
O Sábado é o ponto culminante do ciclo
semanal. A caminhada diária atinge o seu
auge no sétimo dia. Este dia como que
coroa a semana judaica. Na tradição judaica
o dia começa com o pôr-do-sol e termina,
igualmente, com o pôr-do-sol do dia seguinte.
Assim, o sábado inicia-se na véspera, ou seja,
ao pôr-do-sol da sexta-feira e termina ao
anoitecer do sábado.
Durante este período de tempo nota-se o
ambiente festivo e litúrgico nas casas e nas
sinagogas, além do descanso exigido nesse dia.
Há gestos e atos litúrgicos próprios para sua
celebração.
O mais notável da noção do Sábado, dia de descanso e dia santo, como dá
a entender, verifica-se na abstenção de todo o tipo de atividade e de trabalho.
Existem determinadas leis a observar neste dia. A ausência da ação laboral, no
fundo, tem como objetivo a santificação deste dia santo, ou seja, a evitar a sua
profanação, descansando como Deus descansou ao sétimo dia.
Há seis dias para trabalhar e o sétimo é oferecido exclusivamente ao Senhor.
O Sábado é, por assim dizer, o dia de descanso total das atividades não
litúrgicas. Os Fariseus, isto é, o grupo judaico responsável pela observância da
Lei, levavam a sério a prática do Sábado, até ao último pormenor.
Jesus desafia a dureza da visão
sabática dos escribas e fariseus (Mt 12,
12; Mc 3, 2-5; Lc 13, 10-16; 14, 1-6; Jo 5, 8ss; 9, 14)
. Ele
próprio proclama-se Senhor do sábado,
apresentando uma visão renovada e
transformada do mesmo e colocando-o
ao serviço da pessoa humana em vez da
mera observância da lei.
O cristianismo desde a sua origem
tem imitado a prática do descanso
sabático dos judeus, mas passando-o
6. 10 11RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO
para o Domingo: o primeiro dia da
semana, o dia do Senhor, isto é, o dia
da ressurreição de Jesus. Deste modo,
os cristãos desejam diferenciar-se
da sinagoga, seguindo a tal visão de
Jesus acerca do Sábado, e assinalar o
Domingo como dia santo e, de certa
maneira, o seu dia de descanso.
Afirmou Jesus: O sábado foi feito
para o homem, e não o homem para o
sábado; de modo que o Filho do Homem
é senhor até do sábado. (Marcos, 2, 27-28)
*
O questionamento não estava no
fato de ser o sábado um dia descanso,
mas do rigor estabelecido para sua
observância.
Ainda sobre o sábado, leiamos
abaixo mais esta passagem da Boa
Nova (Marcos, 3: 1-6)
, que nos faz melhor
entender o posicionamento de Jesus,
se contrapondo aos rigores do sábado:
Meu Pai trabalha até agora e eu também
trabalho. Ou seja, o Senhor da Vida
não parou em nenhum momento de
trabalhar, menos ainda no sétimo dia.
E ele, por conseguinte, também não o
faria, pois Ele e todos nós devemos ser
senhores de nossos dias, dando-lhe a
devida utilidade:
E Jesus entrou de novo na sinagoga,
e estava ali um homem com uma das
mãos atrofiada. E o observavam para
ver se o curaria no sábado, para o
acusarem.
Ele disse ao homem da mão
atrofiada: “Levanta-te e vem aqui para o
meio”.
E perguntou-lhes: “É permitido, no
sábado, fazer o bem ou fazer o mal?
Salvar a vida ou matar?”
Eles, porém, se calavam.
Repassando estão sobre eles um
olhar de indignação. E entristecido
pela dureza do coração deles, disse ao
homem: “Estende a mão”.
Ele a estendeu, e sua mão estava
curada.
Ao se retirarem, os fariseus com os
herodianos imediatamente conspiraram
contra ele sobre como o destruiriam.
Não se tratava da luta entre o bem
e o mal, mas entre o conhecimento e a
ignorância.
Apesar de tantos séculos que
se passaram, aquelas agressivas
demonstrações de preconceito e
fanatismo - próprio de quem ainda
guarda a cegueira espiritual, a surdez
para os ensinos libertadores dos limites
acanhados da brutalidade, a mudez
para palavras de tolerância, a clareza
mental do entendimento do valor
imorredoura da fraternidade, a limpidez
do sentimento da solidariedade, a
grandeza da compreensão que todos
somos irmãos e merecemos, no mínimo,
respeito e consideração -, ainda são
encontradas entre nós, em pleno século
21.
São preconceitos de raça, de credo,
de posição social, de opções sexuais, de
partidarismos político.
Preconceitos dogmáticos fazem
vítimas, em todos os tempos, e os
herdeiros do Cristianismo não faltaram
nesse concerto de incompreensão.
Ainda hoje os processos sectários,
embora menos rigorosos nas
manifestações, continuam ferindo
corações e menosprezando sentimentos.
Noutra época, os discípulos
procedentes do Judaísmo provocavam
violentos atritos, em face das tradições
referentes à comida impura; agora,
não temos o problema das carnes
sacrificadas no Templo; entretanto,
novos formalismos religiosos
substituíram os velhos motivos de
polêmica e discordância.
Há sacerdotes que só se sentem
missionários em celebrando os ofícios
que lhes competem e crentes que não
entendem a meditação e o serviço
espiritualizante senão em horas
domingueiras, com a prece em exclusiva
atitude corporal.
O discípulo que já conseguiu
sobrepor-se a semelhantes barreiras
deve cooperar em silêncio para estender
os benefícios de sua vitória.
Constituiria absurdo transpor o
obstáculo e continuar, deliberadamente,
nas demonstrações puramente
convencionalistas, mas seria também
ausência de caridade atirar impropérios
aos pobres irmãos que ainda se
encontram em angustiosos conflitos
mentais por encontrarem a si mesmo,
dentro da ideia augusta de Deus.
Quando reparares algum amigo,
prisioneiro dessas ilusões, recorda
que o Mestre foi igualmente à cruz por
causa dele. Situa a bondade à frente
da análise e a tua observação será
construtiva e santificante. Toda vez que
houver compreensão no cântaro de tua
alma, encontrarás infinitos recursos para
auxiliar, amar e servir.
*
Jesus, Mestre por excelência,
aproveitando-se da oportunidade, expôs
sua missão na Terra e o seu vínculo de
Filho para com o Pai, a fim de atender
os preceitos do Senhor Onipotente,
anunciando a Boa Nova, conforme
anotamos no início deste capítulo.
E confirmava não apenas com
palavras, mas com feitos, com os ditos
milagres.
Eu, porém, tenho um testemunho
maior que o de João: as obras que o Pai
me encarregou de consumar. Tais obras,
eu as faço e elas dão testemunho de
que o Pai me enviou. Também o Pai que
me enviou dá testemunho de mim.
Em nenhum momento de sua jornada
de luz entre nós, Jesus deixou de se
posicionar como Filho sob a orientação
do Pai, não só fazendo distinção entre
Deus Pai e Ele, o Filho Dileto, como
demonstrando estar agindo em plena
consonância e interação com o Senhor
da Vida.
E ainda, afirmou ser o Caminho,
a Verdade e a Vida, e que ninguém
chegará ao Pai, a não ser por Ele, não
a pessoa, mas a sua missão sublime e
as Leis Divinas que veio nos ensinar e
convocar a seguir fielmente.
Mas não se impôs, deixando-nos
liberdade de escolha: quem quiser vir
após mim, tome de sua cruz e siga-me.
Registrou, no entanto, ser a Luz do
Mundo, e o Mestre por excelência.
Sim, o Senhor apareceu, voltou para
que nunca mais nos sintamos a sós.
A sinfonia da esperança cantava no ar
a balada dos júbilos sem-fim.
A Era Nova se estabelecia, fundando
os seus alicerces na Ressurreição de
Jesus, sem cuja base tudo se reduziria a
mitos injustificáveis.
*
Amélia Rodrigues comenta assim
sobre essa passagem bíblica:
7. 12 13RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO
Jerusalém, a tradicional cidade
dos profetas, era também o núcleo
acadêmico das dissensões e da
presunção.
Capital orgulhosa de Israel, ali se
disputavam os ouropéis e vaidades
humanas, ao ônus de intrigas, de
bajulação, do vil comércio da corrupção
moral.
O Templo soberbo no monte Moriá
deslumbrava pela imponência. Desde
que reerguido e embelezado por
Salomão, tornara-se o símbolo da raça
vencida, mas não submissa, e do poder
do pensamento monoteísta no imenso
oceano politeísta.
As festas religiosas celebradas tinham
também um caráter civil, nacionalista,
e vice-versa, graças às quais os judeus
demonstravam aos romanos o seu
desdém por César, pelos seus deuses e
por eles todos.
Com habilidade, às vezes mal
disfarçada, exteriorizavam o desprezo
que nutriam pelo estrangeiro dominador
e pelas suas tradições.
Portadores de fina ironia, fariseus
e saduceus anatematizavam o jugo
político e seus chefetes, beneficiando-
se das migalhas que disputavam com
exacerbada cupidez e sob veladas
ameaças punitivas, quando não
deles mesmos, de Deus, para quem
transferiam os seus anelos de vingança
rancorosa.
A festa de Pentecostes atraíra as
gentes de todas as tetrarquias e de
outras terras.
As evocações do passado eram
predominantemente afirmações da eleição especial de que gozavam por parte da Divindade.
Estavam no ar os salmos, as hosanas, as fanfarras, os sons melódicos dos instrumentos de
prata e a mixórdia de cores, de vozes, de animais e pessoas pelos átrios, nos seus arredores,
dentro do Templo.
Exibiam-se os poderosos, mendigavam os desprovidos de recursos, discutiam os
aventureiros, negociavam os ambiciosos, tramavam os perversos.
A Torre Antônia, esguia e poderosa, velava próxima, com os olhos romanos direcionados,
provocativamente, para as suas áreas.
Os ódios espumavam entre dentes rilhados, e as suspeitas se alimentavam de ignóbeis
ardis.
Respiravam-se, na cidade, glória e miséria, poder e carência, beleza e vilania moral.
Fora dos muros, o Jardim das Oliveiras espreguiçava-se monte acima, assinalado pelo verde-
musgo das árvores venerandas, sobranceiras, generosas...
Ir a Jerusalém era sempre uma ambição máxima de todo israelita que vivesse em outras
O Libertador
(Dias venturosos. Amélia Rodrigues, cap. 10.
Divaldo Franco)
terras.
Sacrificar aves e animais em sinal de
arrependimento dos erros, de reparação
de crimes ou de gratidão a Deus,
representava honra disputada com
veemência.
Jerusalém era-lhe o pináculo da
glória, e o Templo, a felicidade total...
*
Naquela cidade, deveria o Mestre
desvelar-se.
Os intelectos, vazios de luz
e atulhados de textos confusos,
sutilmente utilizados a benefício
próprio, compraziam-se nas intérminas
A região do Monte do Templo
O Monte do Templo, situado em Jerusalém, é um dos
menores montes da região, com 743 metros acima do
nível do mar. Ele faz divisa ao oriente com o Portal
Dourado (foto) – segundo a tradição cristã, através dele
Jesus entrou em Jerusalém, e, na tradição judaica, é por
onde entrará o Messias, pois os judeus não creem que
Jesus o seja.
Jerusalém é uma cidade montanhosa e, entre todas as
montanhas, o Monte Moriá é o mais próximo à Cidade
Velha de Jerusalém, fazendo divisa a oeste com o Muro
das Lamentações, o lugar mais sagrado do mundo para
os judeus por ser o que restou do Segundo Templo.
O Monte do Templo, um dos vários nomes do local,
possui importante sentido sagrado para cristãos, mu-
çulmanos e judeus, a despeito das discórdias entre as
tradições. Os judeus acreditam que ali deve ser reergui-
do o grande templo, nos tempos de seu messias, que ain-
da não veio. Sua tradição proíbe o acesso à área, pois o
local é sagrado para eles e poderiam, sem querer, violar
a área em que antigamente se situava o Santo dos Santos,
área do templo em que só o sumo sacerdote poderia pi-
sar para falar diretamente com Deus. Como não se sabe
exatamente onde a estrutura interna do templo ficava,
proíbe-se a área em geral.
Várias mesquitas foram construídas ao redor do cume
do monte, em volta da grande cúpula forrada de ouro
que pode ser vista a quilômetros de distância, dominan-
do a paisagem da atual Jerusalém.
Templo de Salomão
8. 14 15RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO
discussões de insignificâncias da Lei, da Torah, das vacuidades a que davam magnitude.
Essas pessoas eram profissionais da retórica inútil e dourada, as fomentadoras das
perturbações sociais e político-religiosas.
Fariseus, que se celebrizaram pela pusilanimidade, ostentavam vestes brancas,
alvinitentes, que lhes não abafavam o odor de cadáveres vivos...
Saduceus presunçosos desfilavam aparência pudica, arremetendo contra tudo, na sua
atormentada incredulidade.
Nutriam-se de acusações permanentes e engalfinhavam-se em debates vigorosos,
anelando pelo apedrejamento dos seus opositores.
Ninho de serpentes perigosas aguardava o Cordeiro; matadouro infecto esperava a
vítima...
Jesus o sabia; mas não se impressionava com eles nem os temia com as suas
exprobações e aparências mentirosas.
Mais de uma vez os enfrentara e
desarmara. Silenciara-os, levando-os à
incontida fúria.
Por isso mesmo, deveriam matá-lO.
Urdiam planos; seguiam-nO; vigiavam-
nO; interrompiam-nO, esperando
surpreendê-lO.
Multiplicavam-se, aparecendo em
todo lugar, erva má que eram e não
necessitava ser plantada, medrando em
abundância...
O Mestre ergueu-se diante deles e do
povo, dizendo, intemerato:
– Não pode o Filho fazer nada por
si mesmo se não vir o Pai fazê-lo, pois
tudo quanto o Pai faz, também o Filho o
faz igualmente. Porque o Pai ama o Filho
e mostra-lhe tudo quanto faz; mostrar-
lhe-á obras maiores do que estas, de
modo que ficareis admirados... (João: 5: 19 a
47)
Um grito rouquenho interrompeu-o:
– Quem pensas que és? – Estrugiu
em ruidosa, histérica gargalhada.
Sem oferecer-lhe importância, Ele
deAntu curso à revelação em paz:
– Assim como o Pai ressuscita mortos
e lhes dá vida, assim também o Filho dá
vida àquele que quer. O Pai não julga
ninguém, mas entregou ao Filho o poder
de tudo julgar, para que todos honrem
o Filho como honram o Pai. Quem não
honra o Filho, não honra o Pai, que
O enviou. Em verdade, em verdade
vos digo: Quem ouve a minha palavra
e acredita naquele que me enviou
tem a vida eterna e não incorre em
condenação, mas passou da morte para
a vida.
Erguendo os punhos fechados e
agitando-se, velho barbudo, fariseu
confesso, descarregou o ódio:
– Blasfêmia! Ele blasfemou. Diz-se
igual a Deus e até maior do que Deus.
Morte ao traidor!
Murmúrios, imprecações, empurrões
toldaram a paz do ambiente.
Jesus ainda não havia terminado e,
com a voz inalterada, insistiu:
– Digo-vos que a hora vem, e é já,
em que os mortos hão de ouvir a voz
do Filho de Deus, e os que a ouvirem,
viverão. Assim como o Pai tem a vida
em si mesmo, assim também concedeu
ao Filho o ter a vida em si mesmo, e
deu-lhe o poder de julgar, por ser Filho
do Homem.
Ali estavam muitos cadáveres
que respiravam. Eram mortos para a
verdade e estavam ouvindo-a sem a
entender, quando poderiam incorporá-la
e viver.
Mas havia outros mortos, para os
quais o Mestre falaria...
– Não vos admireis com isso –
acentuou, vigoroso – porque vai
chegar a hora em que todos os que
estão nos túmulos ouvirão a sua voz;
os que tiverem praticado boas obras
sairão, ressuscitando para a vida, e os
que tiverem praticado o mal, hão de
ressuscitar para a condenação. Eu nada
posso fazer por mim mesmo; conforme
ouço é que julgo e o meu juízo é justo,
porque não busco a minha vontade, mas
a vontade daquele que me enviou.
Novo alarido e interrupção.
– Levemo-lo ao poste das lapidações
– Berrou truculento esbirro do Sumo
Sacerdote – É passível o seu crime de
morte sem julgamento.
O julgamento está impresso na
consciência de cada ser. Mesmo os
mortos, ao despertarem na vida, não
fugirão do Estatuto Divino que carregam
em si mesmos. A sua defesa são as boas
obras, e a sua condenação, as más.
Jesus nada pode fazer, porquanto,
Torre Antônia
9. 16 17RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO
cada qual é o seu próprio juiz, seu acusador, seu
defensor.
A palavra viril, irretocável, prosseguiu explicando:
– Se eu desse testemunho de mim mesmo, o
meu testemunho não seria considerado verdadeiro.
Outro é o que dá testemunho de mim, e eu sei que
o testemunho que Ele dá de mim é verdadeiro. Vós
mandastes emissários a João, e ele deu testemunho
da verdade. Não é de um homem que eu recebo
testemunho, mas digo-vos isto para que vos salveis;
João era uma lâmpada que ardia e brilhava, e vós,
por um momento quisestes regozijar-vos com a
sua luz. Mas eu tenho um testemunho maior do
que o de João, pois as obras que o Pai me deu para
consumar, essas mesmas obras que faço, atestam a
meu respeito, que o Pai me enviou. E o Pai, que me
enviou, deu, Ele mesmo, testemunho de mim.
Nunca ouvistes a sua voz, nem vistes a sua
face, e a sua palavra não habita em vós, porque
não acreditais no que Ele enviou. Esquadrinhais as
Escrituras, julgando ter nelas a vida eterna; são
elas que dão testemunho de mim, e não quereis vir
a mim para terdes a vida. Não é dos homens que
recebo a glória, mas conheço-vos e sei que o amor
em Deus não existe em vós.
Aquelas palavras penetraram os hipócritas como
afiados punhais. Deus não lhes habitava a alma.
Elogiavam-se reciprocamente e repartiam
homenagens inúteis entre eles.
Coroavam-se de folhas de louro mortas e de
metais cinzelados também sem vida.
Adornavam-se uns aos outros, porque não
acreditavam realmente na vida eterna.
Tanto haviam mentido a respeito da imortalidade,
da justiça de Deus, do seu amor, que ficaram áridos,
sem fé, sem Deus...
O silêncio fez-se sepulcral.
Ele, então, agigantando-se mais, concluiu:
– Vim em nome de meu Pai, e não me recebeis,
mas se vier outro em seu próprio nome, recebê-lo-
eis. Como podeis acreditar, vós que tirais a glória
uns dos outros e não buscais a glória que vem de
Deus? Não penseis que eu vou acusar-vos ao Pai;
outro vos acusará... Moisés, em quem depositastes a
vossa esperança. Se acreditásseis em Moisés acreditaríeis em mim, pois ele escreveu a meu respeito. Mas se não acreditais
nos seus escritos, como acreditareis nas minhas palavras?
Calou-se. Havia estupor nas faces macilentas, sorrisos nos rostos sofridos, alegrias nos puros de coração, esperanças nos
deserdados do mundo, que gritaram:
– Aleluia! Exultemos e ouçamo-lO, a Ele que conhece a verdade.
De fato, Jesus não acusa jamais. Ele é todo amor. Porém Moisés, a Lei que todos conhecem, apontará no tribunal da
consciência quem é justo e quem é criminoso...
Jerusalém era a capital de Israel.
Jesus é a Luz do Mundo.
Libertador!
Amélia Rodrigues
10. 19
a
A seguir, enviou-os a
diferentes partes para que
pudessem preparar os
alicerces do reino que viria a
ser implantado nos corações.
dos doze
missão
11. 20 21RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO
mMateus, 10: 1-42; Marcos, 6:
7-13; Lucas, 9: 1-6
Missão dos Doze —
Chamou os doze discípulos” e deu-
lhes autoridade de expulsar os espíritos
imundos e de curar toda a sorte de males e
enfermidades.
Estes são os nomes dos doze apóstolos:
primeiro, Simão, também chamado Pedro, e
André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu,
e João, seu ir mão; Filipe e Bartolomeu;
Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, o filho
de Alfeu, e Tadeu; Simão, o Zelote, e Judas
Iscariotes, aquele que o traiu.
Jesus enviou esses Doze com estas
recomendações: “Não tomeis o caminho
dos gentios, nem entreis em cidade de
samaritanos.
Dirigi-vos, antes, às ovelhas perdidas
da casa de Israel. Dirigindo-vos a elas,
proclamai que o Reino dos Céus está
próximo.
Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. De graça recebestes, de graça dai.
Não leveis ouro, nem prata, nem cobre nos vossos cintos, nem alforje para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias,
nem cajado, pois o operário é digno do seu sustento.
Quando entrardes numa cidade ou num povoado, procurai saber de alguém que seja digno e permanecei ali até vos
retirardes do lugar.
Ao entrardes na casa, saudai-a. E se for digna, desça a vossa paz sobre ela. Se não for digna, volte a vós a vossa paz. Mas
se alguém não vos recebe e não dá ouvidos às vossas palavras, saí daquela casa ou daquela cidade e sacudi o pó de vossos
pés.
Em verdade vos digo: no Dia do Julgamento haverá menos rigor para Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade.
Eis que eu vos envio como ovelhas entre lobos. Por isso, sede prudentes como as serpentes e sem malícia como as pombas.
12. 22 23RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO
Os missionários serão
perseguidos —
Guardai-vos dos homens: eles
vos entregarão aos sinédrios e vos
flagelarão em suas sinagogas.
E, por causa de mim, sereis
conduzidos à presença de governadores
e de reis, para dar testemunho perante
eles e perante as nações.
Quando vos entregarem, não fiqueis
preocupados em saber como ou o que
haveis de falar. Naquele momento vos
será indicado o que deveis falar, porque
não sereis vós que estareis falando, mas
o Espírito de vosso Pai é que falará em
vós.
O irmão entregará o irmão à morte
e o pai entregará o filho. Os filhos se
levantarão contra os pais e os farão
morrer.
E sereis odiados por todos por causa
do meu nome.
Aquele, porém, que perseverar até o
fim, esse será salvo.
Quando vos perseguirem numa
cidade, fugi para outra. E se vos
perseguirem nesta, tornai a fugir para
uma terceira.
Em verdade vos digo que não
acabareis de percorrer as cidades de
Israel até que venha o Filho do Homem.
Não existe discípulo superior ao
mestre, nem servo superior ao seu
senhor. Basta que o discípulo se torne
como o mestre e o servo como o seu
senhor.
Se chamaram Beelzebu ao chefe da
casa, quanto mais chamarão assim aos
seus familiares!
Falar abertamente e sem medo -
Não tenhais medo deles, portanto.
Pois nada há de encoberto que não
venha a ser descoberto, nem de oculto que não venha a ser revelado.
O que vos digo às escuras, dizei-o à luz do dia: o que vos é dito aos ouvidos, proclamai-o
sobre os telhados.
Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Tomei antes aquele que
pode destruir a alma e o corpo na geena. Não se vendem dois pardais por um asse? E, no
entanto, nenhum deles cai em terra sem o consentimento do vosso Pai!
Quanto a vós, até mesmo os vossos cabelos foram todos contados.
Não tenhais medo, pois valeis mais do que muitos pardais.
Todo aquele, portanto, que se declarar por mim diante dos homens, também eu me
declararei por ele diante de meu Pai que está nos Céus.
Aquele, porém, que me renegar diante dos homens, também o renegarei diante de meu Pai
que está nos Céus.
Jesus, causa de divisões —
Não penseis que vim trazer paz à terra. Não vim trazer paz, mas espada. Com efeito, vim
contrapor o homem ao seu pai, a filha à sua mãe e a nora à sua sogra.
Em suma: os inimigos do homem serão os seus próprios familiares.
Renunciar a si mesmo para seguir a Jesus —
Aquele que ama pai ou mãe mais do que a mim não é digno de mim. E aquele que ama filho
ou filha mais do que a mim não é digno de mim.
Aquele que não toma a sua cruz e me segue não é digno de mim.
Aquele que acha a sua vida, vai perdê-la, mas quem perde a sua vida por causa de mim, vai
achá-la.
Conclusão do discurso apostólico —
Quem vos recebe, a mim me recebe, e quem me recebe, recebe ao que me enviou.
Quem recebe um profeta na qualidade de profeta, receberá uma recompensa de profeta. E
quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá uma recompensa de justo.
E quem der, nem que seja um copo d’água fria a um destes pequeninos, por ser meu
discípulo, em verdade vos digo que não perderá sua recompensa. “
Bem mais numerosos foram os que creram por causa da palavra dele e diziam à mulher: “Já
não é por causa do que tu falaste que cremos. Nós próprios o ouvimos, e sabemos que esse é
verdadeiramente o salvador do mundo”.
Aquele,
porém, que
perseverar
até o fim, esse
será salvo.
13. 24 25RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO
O colégio apostólico estava reunido e
pronto para a grande tarefa de ensinar
os homens a serem construtores de seus
próprios destinos, edificando, com suas
ações, o Reino dos Céus nos próprios
corações.
Estavam para sair pelos caminhos da
vida, visitando os vilarejos, as cidades,
as praças públicas, as sinagogas, os
lares, para deixar em cada mente e
coração, a semente da luz inapagável,
que veio para ficar iluminando o mundo,
como sol de meio-dia, sem jamais se
por.
Para isso eles retomaram as vestes
de carne no solo da Terra.
O meigo Rabi ali estava, como
sempre, junto deles, para os últimos
arranjos e orientações, a fim de se desse
início, com largueza e continuidade,
na silenciosa, porém transformadora
revolução dos valores humanos,
lançando as bases da Nova Jerusalém,
dos tempos do porvir, a partir do hoje.
Jerusalém, em hebraico
Yerûshalayim,, que a mais provável
significação quer dizer “a cidade da paz”,
fixou o conceito do Deus único, numa
civilização de então, repleta de deuses e
cultos.
E Israel, significando “o homem que
vê Deus”, tem total congruência com
a cidade da paz que honra e louva um
Deus único, que não desconsidera os
demais deuses, mas que apresenta
acima de todos eles.
Assim, uma Nova Jerusalém para a
Terra, traz, implícito, uma metáfora que
seria a construção da paz em todo o
mundo, em todos os corações, sob as
bênçãos e regência de Deus.
E o Mestre Zeloso, repassava as
14. 26 27RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO
diretrizes de atuação.
Não prometeu facilidades, enunciou o
trabalho: Atender os espíritos, atender
os homens, curar toda sorte de males
e enfermidades. Afinal, os sãos não
precisam de médico.
Não iludiu, alertou-os: Eis que eu
vos envio como ovelhas entre lobos. Por
isso, sede prudentes como as serpentes
e sem malícia como as pombas.
Não apresentou a irrealidade,
falou do que efetivamente poderiam
encontrar: Guardai-vos dos homens:
eles vos entregarão aos sinédrios e vos
flagelarão em suas sinagogas.
Afiançou que nada temessem,
pois jamais estariam em desamparo:
Quando vos entregarem, não fiqueis
preocupados em saber como ou o que
haveis de falar. Naquele momento vos
será indicado o que deveis falar, porque
não sereis vós que estareis falando, mas
o Espírito de vosso Pai é que falará em
vós.
Não disse que o enfrentamento
deveria ser por desforço pessoal, mas
com resiliência, a fim de que pudessem
alcançar seus objetivos maiores. O
enfrentamento seria do conhecimento
contra a ignorância: Quando vos
perseguirem numa cidade, fugi para
outra. E se vos perseguirem nesta,
tornai a fugir para uma terceira.
O cantou o hino da esperança,
elucidando que a semeadura precede a
colheita, e esta viria a se dar logo mais
no porvir, conforme das disposições
franqueadas pelos corações de cada um,
no acolhimento da Boa Nova: Aquele,
porém, que perseverar até o fim, esse
será salvo.
Era o momento da Luz do Mundo
ser apresentada ao mundo: O que vos
digo às escuras, dizei-o à luz do dia: O
que vos é dito aos ouvidos, proclamai-o
sobre os telhados.
Conclamou à compreensão do
próximo, não julgamentos: Aquele que
não toma a sua cruz e me segue não é
digno de mim.
E concluiu suas orientações,
indicando o resultado, mesmo que não
visto pelos olhos da carne: Quem vos
recebe, a mim me recebe, e quem me
recebe, recebe ao que me enviou.
Quem recebe um profeta na
qualidade de profeta, receberá uma
recompensa de profeta. E quem
recebe um justo na qualidade de justo,
receberá uma recompensa de justo.
E quem der, nem que seja um copo
d’água fria a um destes pequeninos, por
ser meu discípulo, em verdade vos digo
que não perderá sua recompensa.
E fez deles pescadores de homens,
embaixadores do Reino.
E indicou-lhes o mundo como a seara
a ser trabalhada, o que se daria dando-
se um passo de cada vez
*
Recorremos as anotações de Amélia
Rodrigues, trazendo comentários a
respeito desse momento apostólico:
As anêmonas marchetavam a orla dos
caminhos com verdadeiras explosões
de delicadas e volumosas flores de
tons variegados. As folhas de tabaco
verdejantes compunham as paisagens
exuberantes, na qual as árvores
frutíferas apresentavam os seus frutos
abundantes aguardando a colheita.
A Primavera entoava hinos de luz e
cor em toda parte, enquanto o casario à
margem noroeste do lago de Tiberíades
em pequenos e volumosos aglomerados,
que se estendiam por quase vinte
quilômetros, falavam sem palavras da
expansão humana, política e social na
região.
A sinagoga de Cafarnaum, erguida
aproximadamente um século antes
de Jesus, era o referencial para o
culto religioso, estudos e resoluções
administrativas da cidade. Tiberíades,
logo adiante, com as características
helênicas, esplendia com as suas
majestosas construções em homenagem
ao imperador Tibério César.
Mas entre as cidades grandiosas,
os povoados, os aglomerados de
casebre de agricultores, pescadores e
vinhateiros, salpicavam os caminhos
movimentados à beira-mar ou entre
sebes oscilantes ao vento. O Mestre
dera início ao ministério e atraía
multidões que se avolumavam ao
seu lado, com curiosidade, interesses
pessoais, necessidade de todo tipo.
Eles a todos atendia, ampliando,
porém, os Seus ensinamentos, a fim
de que os indivíduos se libertassem da
miséria mais grave, a ignorância sobre si
mesmos, a verdade e a vida.
Por isso, as lições se assemelhavam
a pérolas que fossem sendo distendidas
por todos os lugares a fim de que,
em momento próprio, pudessem ser
enfeixadas em um grande colar que
unisse todos os indivíduos em u m
tesouro de amor.
Inicialmente, porque as obsessões
fossem cruéis e i numeráveis, em
intercâmbio de impiedade que resultava
da ignorância, o Mestre convidou os
discípulos e deu-lhes poder de expulsar
os Espíritos impuros, assim como a
energia curativa para os males do corpo
e da alma de todos quantos viessem até
eles martirizados pelas doenças.
A seguir, enviou-os a diferentes
partes para que pudessem preparar
os alicerces do reino que viria a ser
implantado nos corações. Recomendou-
lhes prudência e coragem, generosidade
e inteireza moral, a fim de que não
se imiscuíssem em questiúnculas
descabidas, nem se perturbassem com
os gentios, com os discutidores inúteis,
mas que fizessem todo o bem possível,
curando as doenças, afastando as
perturbações, mas anunciando a Era que
logo mais se iniciaria.
Era como a apoteótica Abertura de
uma Sinfonia de incomparável beleza,
anteriormente jamais ouvida.
- Eu vos envio - disse Ele - como
ovelhas para o meio dos lobos; sede
prudentes como as serpentes e simples
como as pombas. Tende cuidado com
os homens: hão de entregar-vos aos
tribunais..., mas não os temais, porque
o Pai falará por vossas bocas.
Os amigos partiram emocionados,
cantando esperanças no coração, sem
ter ideia de como reagiriam as criaturas
à nova proposta. Ensinaram pelos
Anúncio do
Reino
(... Até o fim dos tempos. Amélia Rodrigues, cap.
10. Divaldo Franco)
15. 28 29RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO
caminhos e veredas, detiveram-se na s praças e
nas praias, narraram o que haviam visto e ouvido,
expuseram o pensamento do Rabi, mas não foram
tomados em consideração.
Somente quando as palavras foram coroadas
pelos feitos, arrancando das traves invisíveis das
doenças, aqueles que as padeciam, é que lhes
concediam alguma atenção, dando-lhes as costas
de imediato e sugerindo que viesse pessoalmente o
Messias...para que o vissem e pudessem testificá-
lo.
Por sua vez, Jesus foi também pregar em
outras cidades, especialmente a respeito de João,
o Batista, causando espanto a sua coragem, em
razão do filho de Zebedeu e Isabel encontrar-
se prisioneiro na Pereia por ordem de Herodes,
insuflado por sua mulher e cunhada Herodíades,
com quem vivia em concubinato.
Os ventos generosos da estação perfumada
levaram a Mensagem de boca-a-boca,
disseminando-a por toda a parte até os confins das
fronteiras no além Jordão.
Uma grande calmaria emocional passou a viger
nas almas em expectativa. Os comentários se
faziam frequentes e as interrogações levantavam-se
nos grupos que se reuniam nos diferentes lugares.
A música do Seu verbo iria inflamar os corações e
provocar incêndios nos sentimentos e nas mentes
apaixonadas, que não estavam preparadas para
a mudança radical de comportamento que Ele
propunha. Já agora não era mais possível deter a
odisseia em pleno desenvolvimento.
Quando os discípulos retornaram e relataram
os acontecimentos que tiveram lugar à sua volta,
o Mestre definiu que aquele era o momento de dar
curso ao messianato.
Ergueu-se como um gigante e se expôs por
amor, arrostando todas as consequências dos Seus
severos sermões, Suas graves admoestações, Suas
generosas concessões.
Esclareceu que o reino de Deus se encontrava
dentro da criatura humana, que deverá alcançá-lo
com muito empenho e arrojada decisão, negociando
tudo que é transitório para a aquisição eterna.
Abrindo os braços às multidões que sempre
o cercariam, naquela oportunidade abençoou o
mundo e os seus habitantes, compondo a m ais notável sinfonia de todos os tempos, musicada pelas Suas palavras e atos
ao compasso do inefável amor.
Amélia Rodrigues
Tiberíades
16. 30 31RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO
Por sua vez, Emmanuel, Espírito,
anotou através da mediunidade de
Francisco Cândido Xavier, considerações
a respeito de uma das citações de Jesus,
em seu diálogo com os apóstolos.
Leiamos.
A espada
simbólica
(... Caminho, verdade e vida.Emmanuel, cap.
104. Francisco Cândido Xavier)
“Não cuideis que vim trazer a
paz à Terra; não vim trazer a paz,
mas a espada.” — Jesus. (Mateus,
10: 34)
Inúmeros leitores do Evangelho
perturbam-se ante essas afirmativas
do Mestre Divino, porquanto
o conceito de paz, entre os
homens, desde muitos séculos foi
visceralmente viciado. Na expressão
comum, ter paz significa haver
atingido garantias exteriores, dentro
das quais possa o corpo vegetar sem
cuidados, rodeando-se o homem
de servidores, apodrecendo na
ociosidade e ausentando-se dos
movimentos da vida.
Jesus não poderia endossar
tranquilidade desse jaez, e, em
contraposição ao falso princípio
estabelecido no mundo, trouxe
consigo a luta regeneradora, a
espada simbólica do conhecimento
interior pela revelação divina, a fim
de que o homem inicie a batalha
do aperfeiçoamento em si mesmo.
O Mestre veio instalar o combate da redenção sobre a Terra. Desde o seu ensinamento primeiro, foi formada a frente da
batalha sem sangue, destinada à iluminação do caminho humano. E Ele mesmo foi o primeiro a inaugurar o testemunho
pelos sacrifícios supremos.
Há quase vinte séculos vive a Terra sob esses impulsos renovadores, e ai daqueles que dormem, estranhos ao processo
santificante!
Buscar a mentirosa paz da ociosidade é desviar-se da luz, fugindo à vida e precipitando a morte. No entanto, Jesus é
também chamado o Príncipe da Paz.
Sim, na verdade o Cristo trouxe ao mundo a espada renovadora da guerra contra o mal, constituindo em si mesmo a
divina fonte de repouso aos corações que se unem ao seu amor; esses, nas mais perigosas situações da Terra, encontram,
nEle, a serenidade inalterável. É que Jesus começou o combate de salvação para a Humanidade, representando, ao mesmo
tempo, o sustentáculo da paz sublime para todos os homens bons e sinceros.
Emmanuel
17. 33
Depois disso, o Senhor
designou outros setenta e
dois, e os enviou dois a dois
à sua frente a toda cidade e
lugar aonde ele próprio devia
ir. E dizia-lhes: “A colheita
é grande, mas os operários
são poucos. Pedi, pois, ao
Senhor da colheita que envie
operários para sua colheita”.
embaixadores
Reinodo
18. 34 35RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO
mLucas, 10: 1-24
Missão dos setenta e dois
discípulos — Depois disso, o Senhor
designou outros setenta e dois, e os
enviou dois a dois à sua frente a toda
cidade e lugar aonde ele próprio devia ir.
E dizia-lhes: “A colheita é grande, mas
os operários são poucos. Pedi, pois, ao
Senhor da colheita que envie operários
para sua colheita.
Ide! Eis que eu vos envio como
cordeiros entre lobos.
Não leveis bolsa, nem alforje, nem
sandálias, e a ninguém saudeis pelo
caminho.
Em qualquer casa em que entrardes,
dizei primeiro: ‘Paz a esta casa!’ E se
lá houver um filho de paz, a vossa paz
irá repousar sobre ele; senão, voltará
a vós. Permanecei nessa casa, comei e
bebei do que tiverem, pois o operário
é digno do seu salário. Não passeis de
casa em casa.
Em qualquer cidade em que entrardes e fordes recebidos, comei o que vos servirem; curai os enfermos que nela houver e dizei ao
povo: ‘O Reino de Deus está próximo de vós’.
Mas em qualquer cidade em que entrardes e não fordes recebidos, saí para as praças e dizei: ‘Até a poeira da vossa cidade que se
grudou aos nossos pés, nós a sacudimos para deixá-la para vós. Sabei, no entanto, que o Reino de Deus está próximo’.
Digo-vos que, naquele dia, haverá menos rigor para Sodoma do que para aquela cidade. Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Pois se
em Tiro e Sidônia tivessem sido realizados os milagres que em vós se realizaram, há muito teriam se convertido, vestindo-se de cilício e
sentando-se sobre cinzas.
Assim, no Julgamento, haverá menos rigor para Tiro e Sidônia do que para vós.
E tu, Cafarnaum, te elevarás até ao céu? Antes, até ao inferno descerás! Quem vos ouve a mim ouve, quem vos despreza a mim
despreza, e quem me despreza, despreza aquele que me enviou”.
19. 36 37RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO
Qual é o motivo de alegria para os apóstolos — Os setenta e dois voltaram com
alegria, dizendo: “Senhor, até os demônios se nos submetem em teu nome!” Ele lhes disse:
“Eu via Satanás cair do céu como um relâmpago!
Eis que eu vos dei o poder de pisar serpentes, escorpiões e todo o poder do Inimigo,
e nada poderá vos causar dano. Contudo, não vos alegreis porque os espíritos se vos
submetem; alegrai-vos, antes, porque vossos nomes estão inscritos nos céus”.
O Evangelho revelado aos simples. O Pai e o Filho — Naquele momento, ele exultou
de alegria sob a ação do Espírito Santo e disse: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra,
porque ocultaste essas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim,
ó Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai e ninguém conhece
quem é o Filho senão o Pai, e quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser
revelar”.
O privilégio dos discípulos — E, voltando-se para os discípulos, disse-lhes a sós: “Felizes
os olhos que veem o que vós vedes! Pois eu vos digo que muitos profetas e reis quiseram ver
o que vós vedes, mas não viram, ouvir o que ouvis, mas não ouviram”.
*
Estando Jesus a caminhar junto ao
mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão,
chamado Pedro, e seu irmão André,
que lançavam a rede ao mar, pois eram
pescadores. Disse-lhes: “Segui-me e eu
vos farei pescadores de homens”. Eles,
deixando imediatamente as redes, o
seguiram...”
Iniciava-se assim a reunião de doze
homens, estruturando-se o colégio
apostólico em doze pilares, a fim de que
Jesus, com esse apoio basilar, erigisse
e apresentasse ao mundo a grande
catedral do amor, como sendo essa a
Casa do Pai, o Reino de Deus que cada
coração humano comportaria.
A saga da implantação do Reino de
Deus dentre os homens continua seu
curso.
Muito se tem feito nesse sentido.
Muito ainda a se fazer.
E dizia-lhes: “A colheita é grande,
mas os operários são poucos. Pedi,
pois, ao Senhor da colheita que envie
operários para sua colheita”.
Cada pessoa pode muito fazer,
sózinha. Juntando-se a outras, mais
farão.
Lemos em Eclesiastes (4 : 9 a 12)
bela
alusão à união:
Mais vale dois que um só, porque
terão proveito do seu trabalho. Porque
se caem, um levanta o outro; mas o
que será de alguém que cai sem ter um
companheiro para levantá-lo? Se eles se
deitam juntos, podem se aquecer; mas
alguém sozinho como vai se aquecer?
Alguém sozinho é derrotado, dois
conseguem resistir, e a corda tripla não
se rompe facilmente.
Jean de la Fontaine contribui: Toda
força é fraca se não é unida.
E o Venerando Benfeitor Espiritual,
Bezerra de Menezes, enriquece o tema
com seu apontamento: Solidários,
seremos união. Separados uns dos
outros seremos pontos de vista. Juntos,
alcançaremos a realização de nossos
propósitos.
Desde as primeiras ações, ditas
públicas, de Jesus, Ele contou com a
força da união.
E ampliou Sua rede de trabalhadores,
sempre em regime de união, como bem
se conhece pela narrativas de Lucas (10
: 1)
: Depois disso, o Senhor designou
outros setenta e dois, e os enviou dois
a dois à sua frente a toda cidade e lugar
aonde ele próprio devia ir.
Já se vai o tempo e se faz urgente
a formação de grande Rede do Bem,
incondicional, independente de credo,
de raça, de posição social, de país,
a fim de poder corresponder como
devido e esperado aos apelos de dor
e de padecimentos múltiplos que a
Humanidade sofre.
Do mesmo modo que quando pessoas
se dão as mãos não se dá um nó entre
elas, mas um entrelaçamento, as malhas
de uma rede também se entrelaçam,
a fim de que seu cordame prossiga
até a extensão que se pretenda para a
tecedura completa. Sem interrupção.
Sem solução de continuidade.
Assim deve ser a nossa Rede: tecida
com mãos acostumadas ao serviço
do Senhor da Vida, entrelaçando as
malhas da solidariedade com laços
fortes do trabalho comum ao próximo. E
guiados pelas mãos do Celeste Pescador,
arremessar a Rede Luminescente do
Bem com mãos tolerantes e firmes,
determinadas e destemidas, confiantes e
corajosas, fraternas e amigas.
Cristãos, homens de boa vontade!
Consolidemos a grande equipe de
trabalhadores, agindo em perfeita
interdependência e solidariedade.
Da qualidade do nosso esforço nasce
o êxito ou surge o fracasso do conjunto.
Fala-nos ao coração o Espírito
20. 38 39RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO
Emmanuel :
[...] somos levados a reconhecer que
o servidor do Evangelho é compelido a
sair de si próprio, a fim de beneficiar
corações alheios.
É necessário desintegrar o velho
cárcere do “ponto de vista” para nos
devotarmos ao serviço do próximo.
Aprendendo a ciência de nos
retirarmos da escura cadeia do “eu”,
excursionaremos através do grande
continente denominado “interesse
geral”. E, na infinita extensão dele,
encontraremos a “terra das almas”,
sufocada de espinheiros, ralada de
pobreza, revesti da de pedras ou
intoxicada de pântanos, oferecendo-nos
a divina oportunidade de agir a benefício
de todos.
Foi nesse roteiro que o Divino
Semeador pautou o ministério da
luz, iniciando a celeste missão do
auxílio entre humildes tratadores de
animais e continuando-a através dos
amigos de Nazaré e dos doutores de
Jerusalém, dos fariseus palavrosos e
dos pescadores simples, dos justos e
dos injustos, ricos e pobres, doentes
do corpo e da alma, velhos e jovens,
mulheres e crianças...
Ouçamos a voz doce e suave de
Jesus, repetindo no dia de hoje,
o convite feito a Simão, conforme
narrativa de Lucas (5 : 4 e seguintes)
:
Simão, “Faze-te ao largo; lançai
vossas redes para a pesca”.
Simão respondeu: “Mestre,
trabalhamos a noite inteira sem nada
apanhar; mas, porque mandas, lançarei
as redes”.
Fizeram isso e pescaram tamanha
quantidade de peixes que suas redes se
rompiam.
E por fim, Jesus disse a Simão, este
então muito surpreso: “Não tenhas
medo! Doravante serás pescador de
homens”.
E eles O seguiram...
Para nós, já desponta a aurora de
um novo dia, tendo Jesus, nosso Sol
de Primeira Grandeza, a iluminá-lo. Em
meio da grande noite do sofrimento
humano, é necessário acendamos a
nossa luz.
Jesus conclama: hora de se iniciar a
pescaria de hoje. Lançai a rede para o
lado direito do barco, e achareis...
Fora da caridade não há salvação!
Fora do amor não há caridade, uma
vez que caridade é o próprio amor em
ação.
Lance a rede...
*
Acompanhemos os comentários de
Amélia Rodrigues sobre o tema deste
capítulo:
Dois a dois(Vivendo com Jesus. Amélia Rogrigues, cap. 12.
Divaldo Franco)
Amanhecendo a Era da esperança e da alegria, a paisagem humana nas praias
do mar da Galileia começou a modificar-se.
Os semblantes, anteriormente carregados de revolta e ressentimento, abriam-se
em sorrisos de generosidade e bem-estar, após os incomparáveis contatos com Ele.
A magia do Seu verbo e o encanto da Sua presença acalmavam as ansiedades
mais perturbadoras e diluíam os sentimentos inamistosos, sem que se dessem
conta aqueles que os sofriam.
Sidom
21. 40 41RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO
As notícias corriam de boca a
ouvido e se espalhavam como pólvora
incendiada entre os infelizes.
Cada vez chegavam à região os
desvalidos e chibatados pelo abandono,
aguardando solução para as suas
cargas aflitivas, os seus sofrimentos
superlativos.
Ele os atendia com ternura incomum,
irmão de todos e amigo especial de cada
um, dando-lhes a impressão de que
viera somente para socorrê-los, a cada
qual de maneira coloquial e única.
Essa, porém, não era a finalidade da
Sua mensagem. Usava de misericórdia e
de compaixão porque era a única forma
de ser seguido nas circunstâncias, tendo
em vista a magnitude da proposta que
apresentava em parábolas, a fim de
não os assustar. Imaturos e sofridos, o
importante era-lhes a diminuição das
dores e das penas momentâneas, como
os apelos do estômago esfaimado, de
modo a poderem ouvir o que Ele tinha a
lhes dizer.
Porque os ventos gentis da alegria
estivessem no ar, era necessário levá-
los a outras regiões, além da simplória
Galileia.
Ainda não estava consolidado pela
confiança e pelo conhecimento o grupo
que O deveria seguir e testemunhar-
lhe fidelidade quando cada um fosse
chamado ao mesmo.
Ele tomou a decisão formosa de
multiplicar as vozes e ampliar o círculo
da esperança, preparando as veredas
humanas que visitaria depois.
O Seu verbo deveria entoar a
musicalidade sublime do perdão aos
ouvidos moucos dos desesperados ou
insensíveis dos poderosos de um dia...
Reuniu alguns daqueles ouvintes
mais frequentes e sinceros, deu-lhes
instruções e recomendou-lhes prudência
durante o período de divulgação.
As ideias devem ser expostas
para poderem ser compreendidas ou
combatidas. Quanto mais comentadas,
mais amplo o curso da sua difusão. O
silêncio em torno delas asfixia -as na
ignorância dos seus conteúdos.
O mar generoso era assinalado por
aldeias e grupamentos, urbes famosas
e de alta movimentação, como se fosse
um colar de pérolas à sua volta com
diferentes modelos presos ao fio de
segurança.
Desse modo, depois de elegê-
los, reuniu-os em doce aconchego
e dispensou-lhes especial atenção,
dizendo: — Grande é, em verdade, a
seara, mas os obreiros são poucos;
rogai, pois, ao Senhor da seara que
envie obreiros para a sua seara.
Houve uma expectação incomum,
assinalada pelo entusiasmo dos que se
candidatavam a seareiros.
Então, Ele prosseguiu:
— Ide; eis que vos mando como
cordeiros ao meio de lobos.
A advertência oportuna dava-lhes
dimensão do que iria ocorrer, porque a
confiança e o respeito humano haviam
cedido lugar à desconfiança e à rapina.
Fazia-se necessário apresentar-se
desarmados, de modo a conseguirem
ser amados.
Logo vieram as recomendações
graves:
— Não leveis bolsa, nem alforje, nem
alparcas; e a ninguém saudeis pelo
caminho.
Desde que estariam a serviço da
renúncia e da abnegação, não lhes seria
lícito conduzir objetos desnecessários,
valores que despertam cobiça e
agressão. Despojados, seriam iguais aos
visitados, confundindo-se com eles, sem
os destaques que chamam a atenção e
criam antipatias.
Logo prosseguiu:
— E, em qualquer casa onde
entrardes, dizei primeiro: paz seja nesta
casa. E, se ali houver algum filho de
paz, repousará sobre ele a vossa paz;
e, se não, voltará para vós. E ficai na
mesma casa, comendo e bebendo do
que eles tiverem, pois digno é o obreiro
de seu salário. Não andeis de casa em
casa. E, em qualquer cidade em que
entrardes, e vos receberem, comei do
que vos for oferecido.
Estava mantida a ética do
comportamento social, o respeito às
ocorrências, com simplicidade, sem
exigências nem extravagâncias. Eles
seriam aceitos ou não pela maneira de
se comportarem.
Agora, eram as providências iniciais
em favor dos que os receberiam:
- E curai os enfermos que nela
houver, e dizei-lhes: é chegado a vós o
reino de Deus. Mas em qualquer cidade,
em que entrardes e vos não receberem,
saindo por suas ruas, dizei: até o pó,
que da vossa cidade se nos pegou,
sacudimos sobre vós. Sabei, contudo,
isto, que já o reino de Deus é chegado a
vós.
A psicologia de Jesus era toda
centrada no Amor, nada de violência,
de imposição dos Seus ensinamentos.
Da mesma forma, nenhuma submissão
ao mundo perverso e às suas
determinações. A independência moral
fazia parte do seu programa, porque
somente aqueles que são livres podem
comentar a bênção da liberdade.
Seguindo as circunstâncias, Ele
passou a explicar os perigos para as
cidades e pessoas que desprezassem
o convite, optando pela ilusão que, às
vezes, sobrepõem-se à realidade.
As pequenas pérolas, às margens
do mar Galileu: Corazim, Bethsaida,
estavam recebendo o anúncio do mundo
melhor, mas também Cafarnaum,
Magdala, Dalmanuta seriam bafejadas
pela notícia revolucionária.
Também Tiro, Sidom e outras
distantes, igualmente Jerico das
águas cantantes e cristalinas seriam
convidadas ao banquete com a opção de
o aceitarem ou não.
Logo depois, as referências finais:
— Quem vos ouve a vós, a mim me
ouve; e quem vos rejeita a vós, a mim
me rejeita; e quem a mim me rejeita,
rejeita Aquele que me enviou.
Partiram os mensageiros e visitaram
os recantos da região assinalada e
de outras, vivendo o ensinamento
que transmitiam, amparando-se
reciprocamente, por isso, os mandara,
dois a dois, para que a solidão não se
transformasse em desespero em cada
coração.
Transcorreram os dias justos e
propostos, quando eles retornaram em
inusitado júbilo.
O verdadeiro regozijo não se deve
apoiar nas vitórias sobre os outros,
sejam Espíritos ou criaturas, mas na
superação das próprias imperfeições, na
consciência íntegra, decorrente do dever
nobremente cumprido.
Ele os mandou, dois a dois, para
anunciar o Seu Reino que se estava
instalando no mundo.
— (...) Alegrai-vos antes por estarem
os vossos nomes escritos nos céus.
Amélia Rodrigues
22. 42 43RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO
Embaixadores do
Reino(Vivendo com Jesus. Amélia Rogrigues, cap. 28.
Divaldo Franco)
A sinfonia da Boa Nova encontrava-
se no auge da sua musicalidade,
enternecendo os corações antes em
angústia e confortando as mentes que se
encontravam desarvoradas.
Em toda parte, no abençoado solo
de Israel, o doce canto penetrava a
acústica das almas, da mesma forma que
o sândalo aplicado suavemente faz-se
absorvido por qualquer superfície porosa.
Tratava-se de uma epopeia que atingia
o clímax e nunca mais se repetiria na
Terra, jamais igualada em todo o seu
esplendor.
A paisagem iridescente por onde Ele
deambulava enriquecia-se de belezas
espirituais, e uma permanente aragem
de esperança e de paz permaneceria
assinalando as ocorrências ditosas.
Em madrugada que se fazia bordada de
luz, Ele reuniu os Seus, em Cafarnaum, às
margens do mar-espelho, e lhes explicou
ternamente como seria o programa
de engrandecimento moral que estava
traçado para toda a humanidade.
Era necessário empreender a
desafiadora façanha de informar às gentes
de todo lugar o seu conteúdo invulgar.
Na Sua condição de Rei, deveria
visitar as regiões bravias e difíceis de
comunicação, nas quais necessitava
instalar os alicerces do Reino, para
tanto enviaria embaixadores que se
encarregariam de anunciá-lo, de abrir
clareiras nas selvas dos sentimentos
devastados pelas paixões primárias,
proporcionando espaços para a fixação
dos pilotis do amor e da compaixão, sobre
os quais seria erguido o altar da caridade.
Aqueles eram dias de egoísmo, de
soberba, de intérminas batalhas nas
quais predominavam os ódios e as rixas
perversas.
O ser humano era escravo dos
dominadores mais astutos e impiedosos,
que os submetiam ao talante das suas
misérias morais interiores.
Não brilhava o sol da esperança e
muito menos a doce possibilidade da
compaixão.
A miséria espiritual transbordava, e as
pessoas encontravam-se submetidas aos
preconceitos, às situações de penúria ede
abandono.
De certo modo, ainda hoje é quase
assim...
O processo da evolução íntima
do Espírito, que deve abandonar o
primarismo de onde procede, na busca
dos alcantis do infinito, é longo e
penoso...
Envolvendo os discípulos selecionados
para o mister especial, tocou-os, um
a um, transmitindo-lhes a santificada
energia que O caracterizava, e esclareceu:
- Ide em paz e com irrestrita confiança
no Pai.
Nunca temais, seja o que for,
porquanto estais investidos do mandato superior, e conseguireis avançar imunes às agressões,
às picadas dos escorpiões e das serpentes, que ficarão esmagados sob vossos pés, enquanto
as vossas vozes calarão a agressão dos Espíritos perversos, zombeteiros e causadores de
pânico nas multidões desavisadas...
Seguireis amparados pelas legiões angélicas, encarregadas de trabalhar a humanidade
e nela renascer através dos séculos para recordar e ampliar as sublimes propostas que
apresentar eis.
Inspirar-vos-ão e ouvir-vos-ão, num contínuo intercâmbio de amor.
Ninguém terá como silenciar-vos as vozes, e todos se vos submeterão ao canto
23. 44 45RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO
incomparável com as revelações da
Verdade...
(...) Depois, eu próprio vos seguirei
empós, fixando as estrelas do Evangelho
no zimbório das almas em escuridão.
Abençoo-vos em nome de meu Pai, e
despeço-vos em paz.
Eram setenta discípulos preparados
para a propaganda e difusão da Sua
mensagem insuperável. No futuro,
seriam milhares vezes setenta. Estavam
assinalados pela autoridade moral e
identificados pelo profundo sentimento de
fraternidade.
Haviam renascido para participar
da gloriosa envergadura espiritual, e
deveriam trabalhar enriquecidos pela
alegria inaudita do bem fazer.
Quando o Sol diluía nas águas doces
e transparentes do mar os seus raios de
ouro disparados com certeira pontaria,
eles partiram em cânticos de júbilos...
A partitura imensa, na qual estavam
grafadas as harmonias da Boa Nova,
alcançava aldeias humildes e cidades
orgulhosas, perpassava pelos caminhos
impérvios e se expandia pelas estradas
bem cuidadas, em perfeita identificação
com o Cantor, onde quer que se
encontrasse.
A sociedade terrestre sempre aflita
e sofrida, que transpirava horror e
decomposição espiritual, passou a receber
o bálsamo curador e a força revigorante
para que pudesse superar a difícil
conjuntura do seu estágio primitivista.
Ele inaugurava, naqueles dias, a era
das provas e expiações, proporcionando
os recursos valiosos para que se
pudessem suportar as dificuldades da
evolução.
O largo período de selvageria e
impiedade cederia lugar lentamente a
uma fase nova de esperança e de certeza
de paz.
Os dias correram céleres na
ampulheta do tempo, e os embaixadores
desincumbiram-se da responsabilidade
que lhes foi concedida.
Num entardecer de sol, desfiando
plumas de luz de cor variada, eles
retornaram exultantes.
Diante da multidão, na mesma praia
de Cafarnaum, de onde saíram, eles se
apresentaram e depuseram:
- Em toda parte proclamamos a Era
Nova, explicando que um Reino de paz se
acercava, iniciando-se no coração do ser
humano, e que avançará ditoso no rumo
do futuro feliz.
Desafiados por saduceus hipócritas
e pretorianos insensíveis, perseguidos
por fariseus fanáticos e cínicos, assim
como pela malta sempre revoltada,
demonstrando o poder que nos foi
conferido, curamos as suas mazelas em
nome do nosso Rei, submetemos Espíritos
vingativos, saramos feridas, restituímos
visão aos cegos, audição aos surdos,
movimentos aos paralíticos e alegria aos
tristes em momentos de inconfundível
ligação com Deus.
Nenhum Mal nos aconteceu, e sempre
conseguimos anunciar o amanhecer de um
novo tempo com os olhos iluminados pela
alegria e os corações pulsando felicidade.
Algumas cidades de prazer e de loucura
gargalharam das nossas palavras, mas
sempre encontramos infelizes à espera de
compaixão e de ajuda.
Vimos rostos desfigurados pela lepra
sorrir de alegria, e vidas despedaçadas
recomporem-se ao toque da esperança.
A Vossa palavra em nossas bocas soava
como cânticos nunca dantes enunciados
ou ouvidos, e nossas presenças tornaram-
se fortaleza para os fracos e apoio para os
oprimidos.
Estão lançadas as balizas do Reino que
Vos pertence,
Senhor!
Jubiloso, o Rabi sábio novamente os
abençoou, e dirigindo-se à massa em
expectativa emocionada, lamentou:
— Ai de ti, Corazim, ai de ti, Betsaida!
Porque, se em Tiro e em Sidom se
fizessem as maravilhas que em vós foram
feitas, já há muito, assentadas em saco e
cinza, se teriam arrependido.
Portanto, para Tiro e Sidom haverá
menos rigor, no juízo, do que para vós.
E tu, Cafarnaum, que te levantaste até
ao céu, até ao inferno serás abatida.
Leve palor tomou-Lhe a bela face,
como resultado da percepção de que as
grandiosas Corazins e Betsaidas do futuro,
por largo período prefeririam o bezerro de
ouro à ave de luz do Seu amor.
Passaram muitos séculos, Seus
embaixadores continuam renascendo, em
todas as épocas proclamando a Boa Nova,
e os ouvintes permanecem moucos com
os sentimentos enregelados nas paixões
vergonhosas.
Em consequência, acumulam-se as
nuvens borrascosas na imensa Galileia
moderna, a Sua voz continua chamando
vidas para o Seu Reino, enquanto o
corcel rápido da fantasia e da luxúria é
conduzido, pelos seus cavalgadores na
direção dos abismos...
Ai de vós, que tendes ouvido e visto
o amanhecer de bênçãos, e optais pela
triste noite de pesadelos e de horror!
Os embaixadores estão ao vosso lado:
cuidai de ouvi-los quando se inicia o
período de regeneração da humanidade!
Amélia Rodrigues
Porto de Tiro
24. 47
muitos
Desde então muitos dos seus
discípulos tornaram para trás,
e já não andavam com ele.
tornaram
para trás
25. 48 49RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO
mJoão 6: 60 - 71
Muitos, pois, dos seus discípulos,
ouvindo isto, disseram: Duro é este
discurso; quem o pode ouvir?
Sabendo, pois, Jesus em si mesmo
que os seus discípulos murmuravam
disto, disse-lhes: Isto escandaliza-vos?
Que seria, pois, se vísseis subir o
Filho do homem para onde primeiro
estava?
O espírito é o que vivifica, a carne
para nada aproveita; as palavras que eu
vos disse são espírito e vida.
Mas há alguns de vós que não creem.
Porque bem sabia Jesus, desde o
princípio, quem eram os que não criam,
e quem era o que o havia de entregar.
E dizia: Por isso eu vos disse que
ninguém pode vir a mim, se por meu Pai
não lhe for concedido.
Desde então muitos dos seus discípulos tornaram para trás, e já não andavam com ele.
Então disse Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos?
Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. E nós temos crido e conhecido
que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente.
Respondeu-lhe Jesus: Não vos escolhi a vós os doze?
26. 50 51RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO
Realidade que permanece até os dias
atuais: muitos os chamados, poucos
os escolhidos. Nem todos que dizem
Senhor, Senhor, entrarão no Reino dos
Céus.
Quem quiser vir após mim, tome de
sua cruz, negue-se a si mesmo, e siga-
me.
Quem quiser.
Não há imposição.
Livre para pensar, Livre para obrar, para fazer.
E nem sempre se faz conforme se sabe, até
porque há razoável lacuna entre o saber e o fazer.
Vocês que sabem essas coisas, bem-aventurados
serão, se as praticarem, se as vivenciarem, dito em
outras palavras por Jesus.
Os discípulos foram muitos, desde o início,
quando começou a ressoar o cântico da redenção, a
oferta do pão da vida para dar sustento na jornada
de renovação.
No entanto, toda e qualquer mudança gera resistência.
E uma mudança exterior não se concretiza se não for precedida de uma
mudança interior.
O mesmo quanto a valores morais, entendendo-se como moral, regra de
bem proceder, de se distinguir o bem do mal, o certo do errado, segundo as Leis
Divinas.
Conforme nossas crenças, adotamos nossos valores existenciais, nossas
atitudes, nossos objetivos e rumos.
Quando uma de nossas crenças sofre modificação, as atitudes resultantes
também serão diferentes.
27. 52 53RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO
Aí reside uma das causas de
insucessos nas empreitadas humanas:
buscar-se realizações sem acreditarmos
nelas, sem as desejarmos de
pensamento e coração. Fazer por fazer,
nem sempre se consegue o melhor, nem
dá satisfação.
Agora, pensemos nos recuados
tempos de mais de dois mil anos, em
peregrinar por caminhos agrestes, com
todas as dificuldades de uma região e de
um povo ignorante (aqui entendendo-se
povo sem conhecimento, sem maiores
noções de vida), pregando a chegada de
um novo Reino, não na Terra, mas que
deveria estar nos corações.
Considere os costumes de então
decorrentes de uma nação teocrática, ou
seja, um governo em que justificativas
de natureza religiosa orientam a
formação do poder instituído. Na maioria
dos casos, o chefe político é visto como
um representante direto de alguma
divindade ou chega a assumir a condição
de divindade encarnada, e ali se propor
uma nova ordem de ideias, inclusive de
um Deus Amor, Deus Pai, devendo ser a
ordem comportamental: a solidariedade,
a tolerância, a somente atirar a primeira
pedra, quem esteja sem pecados; o
perdão das ofensas, o amor ao próximo,
em que todos somos irmãos, sem
distinção de credo, de raça e de cor.
E então ali se falar em nome do
Messias, que ainda hoje o mesmo povo
ainda espera sua chegada.
Falar de somente fazer aos outros o
que gostaríamos que fosse feito para
nós, para um povo em que linchamentos
até a morte era permitido por lei,
conforme o pecado.
Pregar um novo Caminho, o qual
conduz a Deus, não precisando mais de
templos, sacrifícios e sacerdotes, como
intermediários. Que o único sacrifício
que agrada a Deus é o sacrifício do
orgulho, da vaidade, do egoísmo, para
que sejam substituídos pela humildade,
pela simplicidade, pela caridade.
Sim, duro é esse discurso, quem o pode ouvir?
A desilusão é a visita da verdade. Acontece que para muitos, a ilusão se fez sua verdade, sua
razão de viver. Modificar-se é como um novo recomeço, a necessidade de se apresentar como
um novo homem, transformando o homem velho. Inicialmente, a recusa da Verdade ofertada
é a primeira reação, por confrontar dos pés à cabeça o que se é. Nem todos, num primeiro
momento, têm essa força e essa determinação. No geral dos homens, somente o tempo é capaz
de corroer valores que a ferrugem carcome, afim de que se renove com valores que a traça ou a
ferrugem não atacarão jamais.
Já com suas claras afirmativas, mesmo em forma de metáfora (figura de linguagem em
que um termo substitui outro em uma relação de semelhança, a fim de que aquilo que é de
uso comum, possa servir de base para entendimentos mais amplos, mais subjetivos. Um certo
simbolismo): eu não vim trazer a paz, mas a espada; vocês vão como cordeiros para o meio
dos lobos, Jesus deixava claro que a empreitada dEle e de quem o quisesse seguir e com Ele
trabalhar, não seria fácil. Os riscos e os impedimentos eram preditos.
Era preciso renunciar a si próprio, assumir a tarefa com ardor e determinação, com coragem
e fortaleza de ânimo. Fazer a escolha por Deus, abandonando Mamom (deus pagão, que
representa, nas citações bíblicas,
o deus da riqueza, dos valores do
mundo, dos costumes mundanos).
Se fosse o caso, seria preciso
perder sua vida pela causa Divina
(como aconteceu com Jesus e outros
dos apóstolos, logo mais tarde).
Eu sou o pão que desceu do Céu...
que veio para alimentar e saciar a
“fome do espírito”.
Em outro momento brilhante,
afirmou Jesus: Eu sou o Caminho, a
Verdade e a Vida. Ninguém chegará a
Deus a não ser por mim...
E, por esse discurso claro e
assertivo, e pelo significava de fato a
sua assunção, então muitos dos seus
discípulos tornaram para trás, e já não
andavam com ele.
Tornaram para trás. Deixaram
de seguir e viver por Jesus, para
retomarem ao que eram e como até
então viviam. Não tiveram forças para
prosseguir. Não mais andaram com
Ele.
E o Suave Rabi da Galileia,
cantando o amor com a melodia da
compreensão, elucidou: E se alguém
ouvir as minhas palavras, e não crer,
eu não o julgo; porque eu vim, não
para julgar o mundo, mas para salvar
o mundo. (João, 12 : 47)
Sem imposições. Quem quiser vir
após mim...
O livre-arbítrio de cada um para se
escolher o rumo.
Há rumos que escravizam, como
o escolhido por Adolf Eichmann, um
dos idealizadores do holocausto, que
dizimou milhões de judeus.
E rumos que libertam, como o
escolhido por Maria Madalena ou por
Paulo de Tarso, o apóstolo; ou ainda
como foi a opção de Helen Keller,
escritora, conferencista e ativista social
28. 54 55RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO
americana. Foi a primeira pessoa surda
e cega a conquistar um bacharelado.
Ela poderia ter optado pela vida
silenciosa num isolamento, cobrindo-se
com o lençol da autocompaixão. Mas
não, optou por estimular as pessoas
a quem vissem a luz interior, mesmo
quando não conseguissem divisar a
luz do Sol; a falarem do bem e da
vida, sonorizando pela mensagem
da esperança e do amor, mesmo que
emudecidas momentaneamente.
Esse cântico mudo então seria ouvido
primeiramente por quem entoasse a
sublime canção da resignação e da
felicidade possível, e depois, pela força
de um coração fiel ao bem, alcançaria
multidão pelos quatro cantos do mundo,
pois o grito da esperança, dado por uma
voz mesmo que silente, é muito mais
forte e poderosa, do que um grito de
dor, reclamando da amargura, como se
acusando à Deus pelos males do mundo.
Foi o que Helen fez, se fazendo
ouvida e sentida, mesmo cega e surda.
*
Saibamos um pouco mais sobre
Helen.
Helen Keller nasceu em 1880 e, antes
de completar dois anos de idade, estava
cega e surda.
A escarlatina a sentenciou a uma
reclusão perpétua no escuro e no
silêncio. Uma “solitária”, para o resto
de sua vida. E antes que tivesse tido a
chance de aprender qualquer tipo de
comunicação.
A única que se arriscava era a filha da
cozinheira, de seis anos, que passava o
dia levando puxões e empurrões.
Com 6 anos de idade Helen era uma
criança violenta.
Aprisionada em seu mundo por 4
anos, não entendia sua situação nem
sua própria existência.
Seus pais decidiram então buscar
ajuda e, com toda a precariedade da época, conseguiram passar por vários especialistas, até
serem encaminhados para uma escola especializada. O diretor da escola resolveu entregar o
caso para uma de suas ex-alunas: Anne Sullivan, também cega, e de apenas 20 anos.
Ali nascia uma história de 49 anos entre as duas.
Na primeira visita, logo que se conheceram, Anne reparou que a menina carregava uma
boneca. Segurou então a pequena mão de Helen e escreveu com o dedo na palma a palavra
“b-o-n-e-c-a”. Sem saber que cada objeto tinha um nome, Helen não entendia nada e se
frustrava a cada nova tentativa.
Suas reações foram ficando cada vez mais violentas, até que um dia explodiu de raiva e
destruiu sua boneca. Foi então que Anne teve a ideia de colocar a mão de Helen sob a água e
escrever em sua palma “á-g-u-a”.
Foi como se a porta da prisão
finalmente tivesse se aberto.
A partir deste dia, uma obsessão
tomou conta de Helen, que agora
reconhecia uma lógica e queria aprender
todas as palavras do mundo. Aprendeu
inglês, francês e alemão. Anos perdidos
eram recuperados com a maior
velocidade possível e a comunicação
entre as duas crescia a cada dia.
Anne ensinou Helen a “ouvir”,
colocando seus dedos sobre sua
Helen,àesquerdadafoto;Anne,àdireitadafoto
29. 56 57RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO
garganta, lábios e nariz. Associava
vibrações e palavras. Seu tato
se desenvolveu a um patamar
sofisticadíssimo, capaz de diferenciar as
mais sutis diferenças no ambiente. Ficou
proficiente em braille e em linguagem de
sinais na palma da mão.
Aos 20, Helen escreveu uma
autobiografia à mão. Ingressou no
estudo formal e foi a primeira cega/
surda a se formar em uma universidade.
Anne, apesar de não ter qualquer
experiência prévia com ensino, ajudou
Helen a se libertar de sua prisão,
emoldurando um grande modelo do que
é ser um professor, um missionário.
Acompanhou Helen até o final de sua
vida, como uma assistente, mesmo
depois de casada. Em 1936 morreu em
estado de coma, com Helen segurando
sua mão por todo o tempo.
Helen publicou 12 livros, foi
condecorada pelo presidente dos
Estados Unidos com a medalha da
liberdade, o maior reconhecimento que
um civil pode receber. Em 1965 entrou
para o National Women’s Hall of Fame.
Em 1951, sua história virou uma
peça de teatro, e em 1962, um filme,
dirigido por Arthur Penn, que conquistou
dois Oscars. Um dos únicos filmes que
mantém um 100% no Rotten Tomatos
(Site de agregação de revisão de filmes.
Filmes que são revisados por pelo
menos cinco críticos , e que todos esses
críticos consideram bons filmes, têm
uma classificação de 100%).
Helen morreu no dia primeiro de
junho de 1968, aos 87 anos de idade,
enquanto dormia em sua casa.
Helen transpôs os impedimentos,
superou os obstáculos, autossuperou-se.
Não voltou para trás, nem deixou
de andar com Ele, prosseguiu com
determinação, coragem e destemor.
*
E Jesus perguntou aos doze: vocês
também querem retirar-se?
E Pedro, sempre o grande Pedro,
responde pelos demais: E para quem
iremos nós? Suas são as palavras de
vida eterna. Sabemos que é o Cristo, o
Filho de Deus.
Sobre esse momento em especial,
Emmanuel, o nobre Benfeitor, comenta
pelas mãos do abnegado médium
Francisco Cândido Xavier, conforme se lê
no livro Pão Nosso, capítulo 151, sob o
título Ninguém se Retira: “Respondeu-lhe Simão Pedro:
Senhor, para quem iremos nós? tu
tens as palavras da vida eterna.” —
(João, 6 ; 68.)
A medida que o Mestre revelava
novas características de sua doutrina de
amor, os seguidores, então numerosos,
penetravam mais vastos círculos no
domínio da responsabilidade. Muitos
deles, em razão disso, receosos do
dever que lhes caberia, afastaram-se,
discretos, do cenáculo acolhedor de
Cafarnaum.
O Cristo, entretanto, consciente das
obrigações de ordem divina, longe de
violar os princípios da liberdade, reuniu
a pequena assembleia que restava e
interrogou aos discípulos:
- Também vós quereis retirar-vos?
Foi nessa circunstância que Pedro
emitiu a resposta sábia, para sempre
gravada no edifício cristão.
Realmente, quem começa o serviço
de espiritualidade superior com Jesus
jamais sentirá emoções idênticas, a
distância dEle. A sublime experiência,
por vezes, pode ser interrompida, mas
nunca aniquilada. Compelido em várias
ocasiões por impositivos da zona física,
o companheiro do Evangelho sofrerá
acidentes espirituais submetendo-se a
ligeiro estacionamento, contudo, não
perderá definitivamente o caminho.
Niguém se Retira
(Pão Nosso. Emmanuel, cap. 151. Francisco
Cândido Xavier)
Quem comunga efetivamente no
banquete da revelação cristã, em tempo
algum olvidará o Mestre amoroso
que lhe endereçou o convite. Por este
motivo, Simão Pedro perguntou com
muita propriedade:
— Senhor, para quem iremos nós?
É que o mundo permanece repleto de
filósofos, cientistas e reformadores de
toda espécie, sem dúvida respeitáveis
pelas concepções humanas avançadas
de que se fazem pregoeiros; na
maioria das situações, todavia, não
passam de meros expositores de
palavras transitórias, com reflexos em
experiências efêmeras. Cristo, porém,
é o Salvador das almas e o Mestre dos
corações e, com Ele, encontramos os
roteiros da vida eterna.
Emmanuel
Nunca se pode
concordar em
rastejar, quando se
sente ímpeto de voar.
Helen Keller
30. 58 RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO
de
Luzum olhar na história
rastros
PRÓXIMO FASCÍCULO:
Necessário nascer de novo.
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