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LIVRO          CONQUISTA SOCIAL DA TERRA, DE EDWARD O. WILSON, PIONEIRO DA SOCIOBIOLOGIA




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                                                         WWW.RETRATODOBRASIL.COM.BR | R$ 9,50 | NO 64 | NOVEMBRO DE 2012




   doBRASIL




 ENERGIA             A PRESIDENTE TEM SOLUÇÃO PARA O PROBLEMA QUE AJUDOU A CRIAR COMO MINISTRA?


RB64capaPSD.indd 1                                                                                                25/10/12 15:47
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         doBRASIL                WWW.RETRATODOBRASIL.COM.BR | N O 64 | NOVEMBRO DE 2012

                                                                                                                 FALE CONOSCO:
                                                                                                              www.retratodobrasil.com.br

                                                                                                                CARTAS À REDAÇÃO
                                                                                                            redacao@retratodobrasil.com.br
          5 Ponto de Vista                                34 QUE SE PASSA NOS
                                                                                                                rua fidalga, 146 conj. 42
          É CADA UM POR SI                                POLOS DA TERRA?                                    cep 05432-000 são paulo - sp
          Dilma disse na ONU que o “ tsunami              Como o derretimento nos extremos do
          monetário” despejado pelos países ricos vai     planeta se combina com o degelo decorrente       ATENDIMENTO AO ASSINANTE
          afogar o Brasil. Mas poderia ser diferente?     de causas provocadas pelo homem?                 assinatura@retratodobrasil.com.br
                                                          [Lia Imanishi]                                           tel. 31 | 3281 4431
                                                                                                                 de 2a a 6a, das 9h às 17h
          8 VOCÊ RELAXA AÍ
          E ME APERTA AQUI                                36 A MATA VAI À BOLSA                            Entre em contato com a redação
          Dilma critica, mas Obama acha bom que           Artigos do novo Código Florestal criados               de Retrato do Brasil.
          o Federal Reserve, sob os conselhos de          pelos “ambientalistas de mercado” dão um         Dê sua sugestão, critique, opine.
          Friedman, faça chover dólares nos EUA           “upgrade moral” em latifúndios improdutivos      Reservamo-nos o direito de editar
          [Raimundo Rodrigues Pereira]                    [Lia Imanishi]                                     as mensagens recebidas para
                                                                                                            adequá-las ao espaço disponível
                                                                                                            ou para facilitar a compreensão.
          12 A VERTIGEM DO SUPREMO                        38 MEIO SÉCULO E TRÊS GOLPES
          Acompanhe a nossa prova de que os               Nos 50 anos da Monsanto no Brasil, a
                                                                                                        Retrato do BRASIL é uma publicação
          ministros do STF deliraram com a invenção       multinacional da área de biotecnologia de     mensal da Editora Manifesto S.A.
          do escândalo Banco do Brasil-Visanet            sementes vive um inferno astral
          [Raimundo Rodrigues Pereira]                    [Tânia Rabello]                               EDITORA MANIFESTO S.A.
                                                                                                        PRESIDENTE
                                                                                                        Roberto Davis
          16 A PRESIDENTE CORRIGE                         40 TINHA PARTIDO E NÃO O TRAIU                DIRETOR VICE-PRESIDENTE
          A EX-MINISTRA                                   Eric Hobsbawm foi o historiador de            Armando Sartori
          Como ministra, Dilma reformou o setor           magníficos painéis sobre a história dos       DIRETOR ADMINISTRATIVO
                                                                                                        Marcos Montenegro
          elétrico. Agora, vê o país ter a geração mais   século XIX e XX
                                                                                                        DIRETOR EDITORIAL
          barata e as tarifas mais caras do mundo         [Lincoln Secco]                               Raimundo Rodrigues Pereira
          [Téia Magalhães]                                                                              DIRETOR DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS
                                                          42 UMA OBRA HISTÓRICA                         Sérgio Miranda
          22 A GUERRA CAIU NA REDE                        DE DIFÍCIL REPOSIÇÃO
                                                                                                        EXPEDIENTE
          As batalhas militares por meio da internet      Uma homenagem ao “intelectual incomum”        SUPERVISÃO EDITORIAL
          são uma realidade. E até o Brasil já se         Carlos Nelson Coutinho, que morreu em         Raimundo Rodrigues Pereira
          prepara para o combate on-line                  setembro                                      EDIÇÃO
                                                                                                        Armando Sartori
          [Thiago Domenici]                               [Marcelo Braz]
                                                                                                        SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
                                                                                                        Thiago Domenici
                                                                                                        REDAÇÃO
                                                                                                        Lia Imanishi • Sônia Mesquita • Tânia
                                                                                                        Caliari • Téia Magalhães
                                                                                                        EDIÇÃO DE ARTE
                                                                                                        Pedro Ivo Sartori
                                                                                                        REVISÃO
                                                                                                        Silvio Lourenço [OK Linguística]
                                                                                                        COLABORARAM NESTA EDIÇÃO
                                                                                                        Caco Bressane • Flávio de Carvalho Serpa •
                                                                                                        Laerte Silvino • Lincoln Secco •
                                                                                                        Marcelo Braz • Tânia Rabello • Weberson
                                                                                                        Santiago
                                                                                                        ILUSTRAÇÃO DA CAPA
                                                                                                        Caco Bressane
          28 PROMESSA É DÍVIDA                            44 É GRUPO CONTRA GRUPO?
                                                                                                        REPRESENTANTE EM BRASÍLIA
          Polêmica sobre ilhas retoma promessas feitas    Conquista social da terra, do pioneiro da     Joaquim Barroncas
          pelos EUA aos chineses e traz uma pergunta:     sociobiologia, Edward O. Wilson, contesta
          os mares da China pertencem a quem?             a seleção por parentesco e recebe críticas    ADMINISTRAÇÃO
          [Sônia Mesquita]                                [Flávio de Carvalho Serpa]                    Neuza Gontijo • Mari Pereira • Maria
                                                                                                        Aparecida Carvalho

                                                                                                        DISTRIBUIÇÃO EM BANCAS
                                                                                                        Global Press
                4   | retratodoBRASIL 64



RB64pv.indd 4                                                                                                                              25/10/12 15:17
Política



                                                                                                    liVrO   CONQUISTA SOCIAL DA TERRA, de edward o. wilson, Pioneiro da sociobioloGia




                                                                                                    retrato
                                                                                                                                                    www.retratodobrasil.com.br | r$ 9,50 | no 64 | noVembro de 2012




              A VERTIGEM
                                                                                                    dobrasil




              DO SUPREMO
              Os ministros do STF deliraram: não houve o desvio de
              73,8 milhões de reais do Banco do Brasil, viga mestra da
              tese do mensalão. Acompanhe a nossa demonstração
                                                                                                    ENErGia    A PRESIDENTE TEM SOLUÇÃO PARA O PROBLEMA QUE AJUDOU A CRIAR COMO MINISTRA?
              por Raimundo Rodrigues Pereira




              A TESE DO mensalão como um dos                De fato, Visanet é o nome fantasia     rio de publicidade mineiro, principais
              maiores crimes de corrupção da his-       da Companhia Brasileira de Meios de        operadores da distribuição, contaram
              tória do País foi consagrada no STF.      Pagamento (CBMP), responsável, no          sua história logo depois. E não só eles
              Veja-se o que disse, por exemplo, o       Brasil, pelos cartões emitidos com a       como mais algumas dezenas de pesso-
              presidente do tribunal, ministro Ayres    chamada bandeira Visa (hoje o nome         as, também envolvidas no escândalo de
              Britto, ao condenar José Dirceu como      fantasia mudou, é Cielo). Banco do         alguma forma, foram chamados a de-
              o chefe da “quadrilha dos mensa-          Brasil–Visanet não existia, nem existe;    por em dezenas de inquéritos policiais
              leiros”: o mensalão foi “um projeto       é uma entidade criada pelo ministro        e nas três comissões parlamentares de
              de poder”, “que vai muito além de         Britto. E por que, como disse no voto      inquérito que o Congresso organizou
              um quadriênio quadruplicado”. Foi         citado, ele a colocou junto com os         para deslindar a trama.



                                                                                                   T
              “continuísmo governamental”; “golpe,      mais altos poderes do País – a União,
              portanto”. Em outro voto, que postou      a Câmara dos Deputados e o Banco                  odos disseram que se tratava
              no site do tribunal dias antes, Britto    Central da República? Com certeza                 do famoso caixa dois, dinheiro
              disse que o mensalão envolveu “crimes     porque, como a maioria do STF, num                para o pagamento de campa-
              em quantidades enlouquecidas”, “vo-       surto anticorrupção tão ruim quanto os     nhas eleitorais, passadas e futuras.
              lumosas somas de recursos financeiros      piores presenciados na história política   Como dizemos, desde 2005, tratava-se
              e interesses conversíveis em pecúnia”,    do País, viu, num suposto escândalo        de uma tese razoável. Por que razoá-
              pessoas jurídicas tais como “a União      Banco do Brasil–Visanet, uma espécie       vel, apenas? Porque as teses, mesmo
              Federal pela sua Câmara dos Deputa-       de revelação divina. Ele seria a chave     as melhores, nunca conseguem juntar
              dos, Banco do Brasil–Visanet, Banco       para transformar num delito de propor-     todos os fatos e sempre deixam alguns
              Central da República”.                    ções inéditas o esquema de distribuição,   de lado. A do caixa dois é razoável. O
                  Britto, data ve nia, é um poeta. Na   a políticos associados e colaboradores     próprio STF absolveu o publicitário
              sua caracterização do mensalão como       do PT, de cerca de 50 milhões de reais     Duda Mendonça, sua sócia Zilmar Fer-
              um crime gigante, um golpe na Repú-       tomados de empréstimo, de dois bancos      nandes e vários petistas, que receberam
              blica, o que ele chama de Banco do        mineiros, pelo partido do presidente       a maior parte do dinheiro do chamado
              Brasil–Visanet, por exemplo? É uma        Luiz Inácio Lula da Silva.                 valerioduto, porque, a despeito de pro-
              nova entidade fi nanceira? Banco do            No dia 13 de julho de 2005, menos      clamar que esse escândalo é o maior de
              Brasil (BB) a gente sabe o que é: é       de um mês depois de o escândalo do         todos, a corte reconheceu tratar-se, no
              aquele banco estatal que os liberais      mensalão ter surgido, com as denúncias     caso das pessoas citadas, de dinheiro
              queriam transformar em Banco Brasil,      do então deputado Roberto Jefferson,       para campanhas eleitorais. E a tese do
              assim como quiseram transformar a         a Polícia Federal descobriu, no arquivo    caixa dois é apenas razoável, como
              Petrobras em Petrobrax, porque acha-      central do Banco Rural, em Belo Hori-      dissemos também, porque fatos ficam
              vam ser necessário, pelo menos por        zonte, todos os recibos da dinheirama      de fora.
              palavras, nos integrarmos ao mundo        distribuída. Delúbio Soares, tesoureiro        É sabido, por exemplo, que, dos 4
              financeiro globalizado.                    do PT, e Marcos Valério, um empresá-       milhões de reais recebidos pelo denun-

             12   | retratodoBRASIL 64



RB64vertigem.indd 12                                                                                                                                                                                       26/10/12 14:11
ciante Roberto Jefferson – que jura ser
       o dinheiro dele caixa dois e o dos ou-
       tros, mensalão –, uma parte (modesta,
       é verdade) foi para uma jovem amiga
       de um velho dirigente político ligado
       ao próprio Jefferson e falecido pouco
       antes. Qualquer criança relativamente
       esperta suporia também que os ban-
       queiros não emprestaram dinheiro ao
       PT porque são altruístas e teria de se
       perguntar por que o partido repassou
       dinheiro a PTB, PL e PP, aliados novos,
       e não a PSB e PCdoB, aliados mais
       fiéis e antigos. Um arguto repórter da
       Folha de S.Paulo, num debate recente
       sobre o escândalo, com a participação
       de Retrato do Brasil, disse que dinheiro
       de caixa dois é assim mesmo e que
       viu deputado acusado de ter recebido
       o dinheiro do valerioduto vestido de
       modo mais sofisticado depois desses
       deploráveis acontecimentos.
           O problema não é com a tese do
       caixa dois, no entanto. Essa é a tese
       dos réus. No direito penal brasileiro,
                                                  Trechos de duas páginas do resumo da auditoria feita no BB. A quarta coluna (A-B) mostra
       o réu pode até ficar completamente
                                                  a diferença entre o valor dos serviços demandados pelo banco e o valor dos serviços que
       mudo, não precisa provar nada. É ao
                                                  tinham notas na CBMP. Se vê que a diferença, tanto nos anos 2001-2002, quanto nos anos
       Ministério Público, encarregado da
                                                  2003-2004, sob o comando de Pizzolato, é sempre menor que 1%.
       tese do mensalão, que cabe o ônus da
       prova. E essa tese é um horror. No         tos do ministro Joaquim Barbosa na           Os autos da Ação Penal 470 (AP 470)
       fundo, é uma história para criminalizar    armação de uma historinha ao gosto           contêm um mar de evidências de que a
       o Partido dos Trabalhadores, para bem      de setores de uma opinião pública            DNA de Valério realizou os trabalhos
       além dos crimes eleitorais que ele de      sedenta de punir políticos, que em           pelos quais recebeu os 73,8 milhões
       fato cometeu no episódio. O escândalo      geral considera corruptos, e ao surto        de reais.



                                                                                               N
       Banco do Brasil–Visanet, que é o pilar     anticorrupção espalhado por nossa
       de sustentação da tese, não tem o me-      grande mídia, que infectou e levou ao                  o site de RB é apresentado,
       nor apoio nos fatos.                       delírio a maioria do STF.                              a todos os interessados em



       E
                                                      Por que a tese do mensalão é falsa?                formar uma opinião mais es-
                ssencialmente, a tese do men-     Porque o desvio dos 73,8 milhões de          clarecida sobre o julgamento que está
                salão é a de que o petista Hen-   reais não existe. A acusação disse e o       sendo concluído no STF, um endereço
                rique Pizzolato teria desviado    STF acreditou que uma empresa de             em que pode ser localizada a mais
       de um “Fundo de Incentivo Visanet”         publicidade de Valério, a DNA, rece-         completa auditoria sobre o suposto
       73,8 milhões de reais que pertenceriam     beu esse dinheiro do BB para realizar        escândalo BB–Visanet. Nesse local o
       ao BB. Seria esse o verdadeiro dinheiro    trabalhos de promoção da venda de            leitor vai encontrar os 108 apensos da
       do esquema armado por Delúbio e Va-        cartões de bandeira Visa do banco, ao        AP 470 com os trabalhos dessa audito-
       lério sob a direção de José Dirceu. Os     longo dos anos 2003 e 2004. E haveria        ria. São documentos em formato PDF
       empréstimos dos bancos mineiros não        provas cabais de que esses trabalhos         equivalentes a mais de 20 mil páginas
       existiriam. Seriam falsos. Teriam sido     não foram realizados.                        e foram coletados por uma equipe de
       inventados pelos banqueiros, também            A acusação diz isso, há mais de seis     20 auditores do BB num trabalho de
       articulados com Valério e José Dirceu,     anos, porque precisa que esse desvio         quatro meses, de 25 de julho a 7 de
       para acobertar o desvio do dinheiro        exista, pois seria ele a prova de que        dezembro de 2005, depois estendido
       público.                                   os 50 milhões de reais do caixa dois         com interrogatórios de pessoas en-
           Essa história já existia desde a Co-   confessado por Delúbio e Valério são         volvidas e documentos coletados ao
       missão Parlamentar Mista de Inquérito      inexistentes e os empréstimos dos            longo de 2006.
       (CPMI) dos Correios. Foi encampada         bancos mineiros ao esquema Valério–               A auditoria foi buscar provas de que
       pelos dois procuradores-gerais da          Delúbio, falsos e decorrentes de uma         o escândalo existia, mas, ao analisar o
       República que fizeram os trabalhos da      articulação política inconfessável de        caso, não o fez da forma interesseira
       acusação, Antonio Fernando de Souza        Dirceu com os banqueiros. Ocorre, no         e escandalosa da Procuradoria-Geral
       e Roberto Gurgel, e transformada num       entanto, que a verdade é o oposto do         da República e do relator da AP 470,
       sucesso de público graças aos talen-       que a acusação diz e o STF a engoliu.        Joaquim Barbosa, empenhados em

                                                                                                                64 retratodoBRASIL     |   13




RB64vertigem.indd 13                                                                                                                            25/10/12 15:46
Resumindo a auditoria, feita para “pegar Pizzolato”:
              o sistema BB-CBMP tinha falhas, desde 2001; e foi
              Pizzolato que implantou reformas para melhorá-lo
              criminalizar a ação do PT. Fez, isso sim,   no processo e falhas na condução de          Henrique Pizzolato, exatamente como
              um levantamento amplo do que foram          ações e eventos”, que motivaram mu-          tinha sido feito no governo FHC, nos
              as ações do Fundo de Incentivos Visa-       danças nos controles de uso do fundo.        dois anos anteriores à chegada de Pizzo-
              net (FIV) desde sua criação, em 2001.       Essas mudanças foram implementadas           lato à direção de marketing do banco. E



              U
                                                          no segundo semestre de 2004, a partir        mais: foi sob a gestão dele, em meados
                        m resumo da auditoria, de 32      de 1º de setembro.                           de 2004, que as regras para uso e con-
                        páginas, está nas primeiras            • O relatório destaca algumas des-      trole dos recursos foram aprimoradas.



                                                                                                       M
                        páginas do terceiro apenso        sas “fragilidades” e “falhas”. Aqui des-
              (vol. 320). Resumindo-a mais ainda se       tacaremos a do controle dos serviços,                   ais reveladora ainda é a análise
              pode dizer que:                             para saber se as ações de promoção                      dos apensos em busca das
                   • As regras para uso do fundo pelo     tinham sido feitas de fato. Os auditores                evidências de que os traba-
              BB têm duas fases: uma, de sua criação,     procuraram saber se existiam os com-         lhos de promoção dos cartões Visa
              em 2001, até meados de 2004, quando         provantes de que as ações de incentivo       vendidos pelo BB foram feitos. Essas
              o banco adotou como referencial bá-         autorizadas pelo BB no período tinham        evidências são torrenciais. Uma amostra
              sico para uso dos recursos o Regula-        sido de fato realizadas.                     dessas promoções, que devem ser do
              mento de Constituição e Uso do FIV               	     • Procuraram os documentos        conhecimento de milhares e milhares
              da Companhia Brasileira de Meios de         existentes no próprio banco – notas          de brasileiros, está mais abaixo.
              Pagamento (CBMP); e outra, do segun-        fiscais, faturas, recibos emitidos pelas         Em toda a documentação da audi-
              do semestre de 2004 até dezembro de         agências para pagar os serviços e des-       toria existem questionamentos e são
              2005, quando o BB criou uma norma           pesas de fornecedores para produzir as       apresentados problemas, mas referentes
              própria para o controle do fundo.           ações. Descobriram que, para os dois         a detalhes. Não foi disso que tratou o
                   • Entre 2001 e 2004, a CBMP pa-        períodos, 2001–2002 e 2003–2004,             julgamento da AP 470, no entanto. A
              gou, por ações do FIV programadas           igualmente, somando-se as ações com          acusação que se fez e que se pretende
              pelo BB, aproximadamente 150 mi-            falta absoluta de documentos às com          impor através do surto do STF é outra
              lhões de reais – 60 milhões nos anos        falta parcial, tinha-se quase metade dos     coisa. Quer-se apresentar os 73,8 mi-
              2001–2002, no governo Fernando              recursos despendidos.                        lhões de reais gastos através da DNA de
              Henrique Cardoso, portanto; e 90 mi-             	     • Os auditores procuraram,        Valério como uma farsa montada pelo
              lhões nos anos 2003–2004, no governo        então, os mesmos documentos na               PT com o objetivo de ficar no poder,
              de Luiz Inácio Lula da Silva. E, nos        CBMP, que é, por estatuto, a dona dos        como disse o ministro Britto, “muito
              dois períodos, sempre 80% dos re-           recursos e a controladora de sua aplica-     além de um quadriênio quadruplicado”.
              cursos foram antecipados pela CBMP,         ção e dos documentos originais de com-       Essa conclusão é um delírio. As cam-
              a pedido do BB, para as agências de         provação da realização dos serviços. A       panhas de promoção não só existiram,
              publicidade contratadas pelo banco.         falta de documentação comprobatória          como deram resultados espetaculares
                   • O BB decidiu, em 2001, por moti-     foi, então, muito pequena – em propor-       para o BB, tendo em vista os objetivos
              vos fiscais, que os recursos do FIV não     ção aos valores dos gastos autorizados,      pretendidos. O banco tornou-se o líder
              deveriam passar pelo banco. A CBMP          de 0,2% em 2001, de 0,1% em 2002, de         nos gastos com cartões Visa no Brasil.
              pagaria diretamente os serviços por         0,4% em 2003 e de 1% em 2004.                    Em 2003, o banco emitiu 5,3 milhões
              meio de agências contratadas pelo BB.            • Dizem ainda os auditores: com as      desses cartões, teve um crescimento de
              A DNA e a Lowe Lintas foram essas           novas normas, em função das mudan-           cerca de 35% na sua movimentação de di-
              agências, no período 2001–2002. No          ças feitas nas formas de se controlar        nheiro através deles e tornou-se o número
              final de 2002 o BB decidiu especia-         o uso do dinheiro do FIV pelo BB,            um nesse quesito entre os associados da
              lizar suas agências e só a DNA ficou        entre janeiro e agosto de 2005 foram         CBMP. No final daquele ano, 18 de de-
              encarregada das promoções do FIV.           executadas sete ações de incentivo,          zembro, às 14h30, em São Paulo, no Itaim
              Os originais dos documentos compro-         no valor de 10,9 milhões de reais e          Bibi, à rua Brigadeiro Faria Lima, 3.729,
              batórios das ações ficaram na CBMP,         se pode constatar que, embora ainda          segundo andar, sala Platinum, de acordo
              não no BB, em todos os dois períodos.       precisassem de aprimoramento, as no-         com ata do encontro, os representantes
                   • O fato de o BB encomendar as         vas regras fixadas pelo banco estavam        dos sócios no Conselho de Administração
              ações, mas não ser o controlador oficial    sendo cumpridas e os “mecanismos de          da CBMP se reuniram e aprovaram o
              delas fez com que, nos dois períodos,       controle” tinham sido aprimorados.           plano para o ano seguinte. Faturamento
              2001–2002 e 2003–2004, fossem iden-              Ou seja: o uso dos recursos do FIV      esperado para 2004 nas transações com
              tificadas, diz a auditoria, “fragilidades   pelo BB foi feito, sob a gestão do petista   os cartões Visa: 156 bilhões de reais.

             14   | retratodoBRASIL 64



RB64vertigem.indd 14                                                                                                                          25/10/12 15:46
Dinheiro do FIV, ou seja, recursos para        as taxas cobradas dos estabelecimentos      gramada para o fundo de incentivos na
       as promoções dos cartões pelos vários          comerciais pelo uso dos cartões sejam       promoção dos cartões foi pelo menos
       bancos associados: 0,10%, um milésimo          reduzidas. Na conta feita no parágra-       40 vezes menor. A Procuradoria-Geral
       desse total: 156 milhões. Parte a ser usada    fo anterior, dos 156 bilhões de reais       da República e o ministro Barbosa
       pelo BB, que era, dos 25 sócios da CBMP,       previstos para serem movimentados           certamente sabem de tudo isso. Se
       o mais empenhado nas promoções: 35             pelos cartões em 2004, o dinheiro que       não o sabem é porque não o quiseram
       milhões de reais.                              iria para o esquema CBMP seria de 4%        saber: da documentação tiraram apenas
           Pode-se criticar esse esquema Visa-        a 6% desse total, ficaria entre 6 e 10       detalhes, para criar o escândalo no qual
       net–BB. O governo está querendo que            bilhões de reais – isto é, a verba pro-     estavam interessados.




                                                                                                                                                Reprodução
                                                                             Adriana, garota-
          O STF ACHOU QUE NADA DISSO EXISTIU
                                                                             propaganda do
          Ações de promoção de uso dos cartões Visa                          cartão Ourocard
          pelo Banco do Brasil que, a despeito de os
          ministros do Supremo acharem o contrário,
          existiram e envolveram milhares de pessoas

           Alguns exemplos de ações do Fundo de Incentivos do Banco
           do Brasil, programadas pelo banco, pagas pela Companhia
           Brasileira de Meios de Pagamento e realizadas com os tra-
           balhos de publicidade da empresa DNA, de Marcos Valério:
           • O patrocínio às campeãs de vôlei de praia Adriana Behar
           e Shelda, nos anos 2003 e 2004, com 600 mil reais por
           ano em parcelas mensais e o direito de o BB usar a marca
           Ourocard Visa em bonés, camisetas, biquínis, uniformes,
           bandanas, casacos, agasalho de viagens – frente e mangas
           –, toalhas, mochilas, em anúncios e outras formas: “opor-
           tunidade para associar a marca Ourocard aos atributos de
           competitividade, jovialidade, dinamismo e modernidade”.
           • As campanhas anuais de premiação do Clube Ouro, de cer-
           ca de 5 milhões de reais por ano, com sorteios de prêmios        roqueiro Bon Jovi, as brasileiras Marisa Monte e Rita Lee –
           cujo valor somado chegava a 2 milhões de reais – 50 carros       tudo sempre com muita publicidade na imprensa e nas ruas
           novos (de 25 mil reais cada), 50 pacotes de viagens para a       (dez inserções de um quarto de página no diário Correio
           Costa do Sauipe, no hotel SuperClubs Breezes, com direito        Braziliense, três em Veja, 90 mil panfletos distribuídos). E,
           a acompanhante (5,6 mil reais por casal; 280 mil reais no        como sempre, a promoção era associada a contrapartidas
           total), 350 passagens aéreas de ida e volta para qualquer        para o banco que facilitassem a venda dos cartões – no
           canto do País, num esquema BB–TAM com direito a acom-            caso, camarote VIP para cem pessoas, mil ingressos, por
           panhante (1.320 reais por casal, 462 mil reais no total). Essa   show, para distribuição para clientes do BB, propaganda
           premiação, “para dar maior visibilidade à estratégia do BB       do banco em tudo, venda dos ingressos pelas agências do
           de fidelizar os portadores de cartões de crédito Ourocard        banco com cobrança de 3 reais de comissão por ingresso,
           e incrementar sua utilização”, foi realizada em eventos          banners, outdoors, panfletos com o logo e propaganda do
           públicos nas cidades com maior número de clientes do BB          Visa Ourocard e assim por diante.
           no Clube Ouro, que acumulavam pontos para sorteio dos            • 4 milhões de reais em 2004 para campanhas de mídia do
           prêmios graças à soma de gastos pagos com os cartões Visa        cartão Visa Ourocard nos aeroportos e nas ruas e mobiliário
           do BB. Os eventos tinham 800 convidados. Eram divulgados         urbano – edifícios, outdoors, shoppings e pontos de grande
           amplamente pelos grandes meios de comunicação, os quais,         visibilidade. Um detalhamento da DNA para esses gastos:
           aliás, sempre ficaram com a maior parte das verbas dessas        para metrô, 36,3 mil reais; ônibus, 589 mil reais; outdoors,
           promoções. Na documentação existe uma análise detalhada          379 mil reais; em shoppings, 1,1 milhão de reais; em abrigos
           dos custos delas, como a contratação de atrações especiais       de ônibus e mobiliário urbano, 1 milhão de reais; em mídia
           para os eventos (445 mil reais), a locação de espaço para        aeroportuária, 727 mil reais, por exemplo.
           realizá-los (85 mil reais), os serviços de buffet (230 mil re-   • Patrocínio de 2,5 milhões de reais à casa de espetáculos
           ais). Nos documentos das promoções do Clube Ouro existe          Tom Brasil, em São Paulo; a promoção de mostras de cine-
           até um parecer do Ministério da Fazenda sobre a legalidade       ma É Tudo Verdade e Encontro com o Cinema Brasileiro;
           da distribuição de prêmios.                                      exposições de obras de arte como as feitas com seleções
           • O Brasília Music Festival, de 2 a 4 de maio de 2003, para      do acervo do Museu Nacional de Belas Artes em mais de
           o qual o BB adquiriu uma cota de patrocínio máster, de 1,5       20 cidades entre 2004 e 2005, todas com custo na casa de
           milhão de reais (pagos em quatro parcelas entre janeiro e        algumas poucas centenas de milhares de reais.
           abril de 2003), e no qual foram realizados 12 shows – de         E tem mais. Para quem quiser ver, é claro – os ministros do
           artistas como o grupo cubano Buena Vista Social Club, o          STF não quiseram, ao que tudo indica.


                                                                                                                  64 retratodoBRASIL        |         15




RB64vertigem.indd 15                                                                                                                                         26/10/12 14:12

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Conquista Social da Terra

  • 1. LIVRO CONQUISTA SOCIAL DA TERRA, DE EDWARD O. WILSON, PIONEIRO DA SOCIOBIOLOGIA retrato WWW.RETRATODOBRASIL.COM.BR | R$ 9,50 | NO 64 | NOVEMBRO DE 2012 doBRASIL ENERGIA A PRESIDENTE TEM SOLUÇÃO PARA O PROBLEMA QUE AJUDOU A CRIAR COMO MINISTRA? RB64capaPSD.indd 1 25/10/12 15:47
  • 2. retrato doBRASIL WWW.RETRATODOBRASIL.COM.BR | N O 64 | NOVEMBRO DE 2012 FALE CONOSCO: www.retratodobrasil.com.br CARTAS À REDAÇÃO redacao@retratodobrasil.com.br 5 Ponto de Vista 34 QUE SE PASSA NOS rua fidalga, 146 conj. 42 É CADA UM POR SI POLOS DA TERRA? cep 05432-000 são paulo - sp Dilma disse na ONU que o “ tsunami Como o derretimento nos extremos do monetário” despejado pelos países ricos vai planeta se combina com o degelo decorrente ATENDIMENTO AO ASSINANTE afogar o Brasil. Mas poderia ser diferente? de causas provocadas pelo homem? assinatura@retratodobrasil.com.br [Lia Imanishi] tel. 31 | 3281 4431 de 2a a 6a, das 9h às 17h 8 VOCÊ RELAXA AÍ E ME APERTA AQUI 36 A MATA VAI À BOLSA Entre em contato com a redação Dilma critica, mas Obama acha bom que Artigos do novo Código Florestal criados de Retrato do Brasil. o Federal Reserve, sob os conselhos de pelos “ambientalistas de mercado” dão um Dê sua sugestão, critique, opine. Friedman, faça chover dólares nos EUA “upgrade moral” em latifúndios improdutivos Reservamo-nos o direito de editar [Raimundo Rodrigues Pereira] [Lia Imanishi] as mensagens recebidas para adequá-las ao espaço disponível ou para facilitar a compreensão. 12 A VERTIGEM DO SUPREMO 38 MEIO SÉCULO E TRÊS GOLPES Acompanhe a nossa prova de que os Nos 50 anos da Monsanto no Brasil, a Retrato do BRASIL é uma publicação ministros do STF deliraram com a invenção multinacional da área de biotecnologia de mensal da Editora Manifesto S.A. do escândalo Banco do Brasil-Visanet sementes vive um inferno astral [Raimundo Rodrigues Pereira] [Tânia Rabello] EDITORA MANIFESTO S.A. PRESIDENTE Roberto Davis 16 A PRESIDENTE CORRIGE 40 TINHA PARTIDO E NÃO O TRAIU DIRETOR VICE-PRESIDENTE A EX-MINISTRA Eric Hobsbawm foi o historiador de Armando Sartori Como ministra, Dilma reformou o setor magníficos painéis sobre a história dos DIRETOR ADMINISTRATIVO Marcos Montenegro elétrico. Agora, vê o país ter a geração mais século XIX e XX DIRETOR EDITORIAL barata e as tarifas mais caras do mundo [Lincoln Secco] Raimundo Rodrigues Pereira [Téia Magalhães] DIRETOR DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS 42 UMA OBRA HISTÓRICA Sérgio Miranda 22 A GUERRA CAIU NA REDE DE DIFÍCIL REPOSIÇÃO EXPEDIENTE As batalhas militares por meio da internet Uma homenagem ao “intelectual incomum” SUPERVISÃO EDITORIAL são uma realidade. E até o Brasil já se Carlos Nelson Coutinho, que morreu em Raimundo Rodrigues Pereira prepara para o combate on-line setembro EDIÇÃO Armando Sartori [Thiago Domenici] [Marcelo Braz] SECRETÁRIO DE REDAÇÃO Thiago Domenici REDAÇÃO Lia Imanishi • Sônia Mesquita • Tânia Caliari • Téia Magalhães EDIÇÃO DE ARTE Pedro Ivo Sartori REVISÃO Silvio Lourenço [OK Linguística] COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Caco Bressane • Flávio de Carvalho Serpa • Laerte Silvino • Lincoln Secco • Marcelo Braz • Tânia Rabello • Weberson Santiago ILUSTRAÇÃO DA CAPA Caco Bressane 28 PROMESSA É DÍVIDA 44 É GRUPO CONTRA GRUPO? REPRESENTANTE EM BRASÍLIA Polêmica sobre ilhas retoma promessas feitas Conquista social da terra, do pioneiro da Joaquim Barroncas pelos EUA aos chineses e traz uma pergunta: sociobiologia, Edward O. Wilson, contesta os mares da China pertencem a quem? a seleção por parentesco e recebe críticas ADMINISTRAÇÃO [Sônia Mesquita] [Flávio de Carvalho Serpa] Neuza Gontijo • Mari Pereira • Maria Aparecida Carvalho DISTRIBUIÇÃO EM BANCAS Global Press 4 | retratodoBRASIL 64 RB64pv.indd 4 25/10/12 15:17
  • 3. Política liVrO CONQUISTA SOCIAL DA TERRA, de edward o. wilson, Pioneiro da sociobioloGia retrato www.retratodobrasil.com.br | r$ 9,50 | no 64 | noVembro de 2012 A VERTIGEM dobrasil DO SUPREMO Os ministros do STF deliraram: não houve o desvio de 73,8 milhões de reais do Banco do Brasil, viga mestra da tese do mensalão. Acompanhe a nossa demonstração ENErGia A PRESIDENTE TEM SOLUÇÃO PARA O PROBLEMA QUE AJUDOU A CRIAR COMO MINISTRA? por Raimundo Rodrigues Pereira A TESE DO mensalão como um dos De fato, Visanet é o nome fantasia rio de publicidade mineiro, principais maiores crimes de corrupção da his- da Companhia Brasileira de Meios de operadores da distribuição, contaram tória do País foi consagrada no STF. Pagamento (CBMP), responsável, no sua história logo depois. E não só eles Veja-se o que disse, por exemplo, o Brasil, pelos cartões emitidos com a como mais algumas dezenas de pesso- presidente do tribunal, ministro Ayres chamada bandeira Visa (hoje o nome as, também envolvidas no escândalo de Britto, ao condenar José Dirceu como fantasia mudou, é Cielo). Banco do alguma forma, foram chamados a de- o chefe da “quadrilha dos mensa- Brasil–Visanet não existia, nem existe; por em dezenas de inquéritos policiais leiros”: o mensalão foi “um projeto é uma entidade criada pelo ministro e nas três comissões parlamentares de de poder”, “que vai muito além de Britto. E por que, como disse no voto inquérito que o Congresso organizou um quadriênio quadruplicado”. Foi citado, ele a colocou junto com os para deslindar a trama. T “continuísmo governamental”; “golpe, mais altos poderes do País – a União, portanto”. Em outro voto, que postou a Câmara dos Deputados e o Banco odos disseram que se tratava no site do tribunal dias antes, Britto Central da República? Com certeza do famoso caixa dois, dinheiro disse que o mensalão envolveu “crimes porque, como a maioria do STF, num para o pagamento de campa- em quantidades enlouquecidas”, “vo- surto anticorrupção tão ruim quanto os nhas eleitorais, passadas e futuras. lumosas somas de recursos financeiros piores presenciados na história política Como dizemos, desde 2005, tratava-se e interesses conversíveis em pecúnia”, do País, viu, num suposto escândalo de uma tese razoável. Por que razoá- pessoas jurídicas tais como “a União Banco do Brasil–Visanet, uma espécie vel, apenas? Porque as teses, mesmo Federal pela sua Câmara dos Deputa- de revelação divina. Ele seria a chave as melhores, nunca conseguem juntar dos, Banco do Brasil–Visanet, Banco para transformar num delito de propor- todos os fatos e sempre deixam alguns Central da República”. ções inéditas o esquema de distribuição, de lado. A do caixa dois é razoável. O Britto, data ve nia, é um poeta. Na a políticos associados e colaboradores próprio STF absolveu o publicitário sua caracterização do mensalão como do PT, de cerca de 50 milhões de reais Duda Mendonça, sua sócia Zilmar Fer- um crime gigante, um golpe na Repú- tomados de empréstimo, de dois bancos nandes e vários petistas, que receberam blica, o que ele chama de Banco do mineiros, pelo partido do presidente a maior parte do dinheiro do chamado Brasil–Visanet, por exemplo? É uma Luiz Inácio Lula da Silva. valerioduto, porque, a despeito de pro- nova entidade fi nanceira? Banco do No dia 13 de julho de 2005, menos clamar que esse escândalo é o maior de Brasil (BB) a gente sabe o que é: é de um mês depois de o escândalo do todos, a corte reconheceu tratar-se, no aquele banco estatal que os liberais mensalão ter surgido, com as denúncias caso das pessoas citadas, de dinheiro queriam transformar em Banco Brasil, do então deputado Roberto Jefferson, para campanhas eleitorais. E a tese do assim como quiseram transformar a a Polícia Federal descobriu, no arquivo caixa dois é apenas razoável, como Petrobras em Petrobrax, porque acha- central do Banco Rural, em Belo Hori- dissemos também, porque fatos ficam vam ser necessário, pelo menos por zonte, todos os recibos da dinheirama de fora. palavras, nos integrarmos ao mundo distribuída. Delúbio Soares, tesoureiro É sabido, por exemplo, que, dos 4 financeiro globalizado. do PT, e Marcos Valério, um empresá- milhões de reais recebidos pelo denun- 12 | retratodoBRASIL 64 RB64vertigem.indd 12 26/10/12 14:11
  • 4. ciante Roberto Jefferson – que jura ser o dinheiro dele caixa dois e o dos ou- tros, mensalão –, uma parte (modesta, é verdade) foi para uma jovem amiga de um velho dirigente político ligado ao próprio Jefferson e falecido pouco antes. Qualquer criança relativamente esperta suporia também que os ban- queiros não emprestaram dinheiro ao PT porque são altruístas e teria de se perguntar por que o partido repassou dinheiro a PTB, PL e PP, aliados novos, e não a PSB e PCdoB, aliados mais fiéis e antigos. Um arguto repórter da Folha de S.Paulo, num debate recente sobre o escândalo, com a participação de Retrato do Brasil, disse que dinheiro de caixa dois é assim mesmo e que viu deputado acusado de ter recebido o dinheiro do valerioduto vestido de modo mais sofisticado depois desses deploráveis acontecimentos. O problema não é com a tese do caixa dois, no entanto. Essa é a tese dos réus. No direito penal brasileiro, Trechos de duas páginas do resumo da auditoria feita no BB. A quarta coluna (A-B) mostra o réu pode até ficar completamente a diferença entre o valor dos serviços demandados pelo banco e o valor dos serviços que mudo, não precisa provar nada. É ao tinham notas na CBMP. Se vê que a diferença, tanto nos anos 2001-2002, quanto nos anos Ministério Público, encarregado da 2003-2004, sob o comando de Pizzolato, é sempre menor que 1%. tese do mensalão, que cabe o ônus da prova. E essa tese é um horror. No tos do ministro Joaquim Barbosa na Os autos da Ação Penal 470 (AP 470) fundo, é uma história para criminalizar armação de uma historinha ao gosto contêm um mar de evidências de que a o Partido dos Trabalhadores, para bem de setores de uma opinião pública DNA de Valério realizou os trabalhos além dos crimes eleitorais que ele de sedenta de punir políticos, que em pelos quais recebeu os 73,8 milhões fato cometeu no episódio. O escândalo geral considera corruptos, e ao surto de reais. N Banco do Brasil–Visanet, que é o pilar anticorrupção espalhado por nossa de sustentação da tese, não tem o me- grande mídia, que infectou e levou ao o site de RB é apresentado, nor apoio nos fatos. delírio a maioria do STF. a todos os interessados em E Por que a tese do mensalão é falsa? formar uma opinião mais es- ssencialmente, a tese do men- Porque o desvio dos 73,8 milhões de clarecida sobre o julgamento que está salão é a de que o petista Hen- reais não existe. A acusação disse e o sendo concluído no STF, um endereço rique Pizzolato teria desviado STF acreditou que uma empresa de em que pode ser localizada a mais de um “Fundo de Incentivo Visanet” publicidade de Valério, a DNA, rece- completa auditoria sobre o suposto 73,8 milhões de reais que pertenceriam beu esse dinheiro do BB para realizar escândalo BB–Visanet. Nesse local o ao BB. Seria esse o verdadeiro dinheiro trabalhos de promoção da venda de leitor vai encontrar os 108 apensos da do esquema armado por Delúbio e Va- cartões de bandeira Visa do banco, ao AP 470 com os trabalhos dessa audito- lério sob a direção de José Dirceu. Os longo dos anos 2003 e 2004. E haveria ria. São documentos em formato PDF empréstimos dos bancos mineiros não provas cabais de que esses trabalhos equivalentes a mais de 20 mil páginas existiriam. Seriam falsos. Teriam sido não foram realizados. e foram coletados por uma equipe de inventados pelos banqueiros, também A acusação diz isso, há mais de seis 20 auditores do BB num trabalho de articulados com Valério e José Dirceu, anos, porque precisa que esse desvio quatro meses, de 25 de julho a 7 de para acobertar o desvio do dinheiro exista, pois seria ele a prova de que dezembro de 2005, depois estendido público. os 50 milhões de reais do caixa dois com interrogatórios de pessoas en- Essa história já existia desde a Co- confessado por Delúbio e Valério são volvidas e documentos coletados ao missão Parlamentar Mista de Inquérito inexistentes e os empréstimos dos longo de 2006. (CPMI) dos Correios. Foi encampada bancos mineiros ao esquema Valério– A auditoria foi buscar provas de que pelos dois procuradores-gerais da Delúbio, falsos e decorrentes de uma o escândalo existia, mas, ao analisar o República que fizeram os trabalhos da articulação política inconfessável de caso, não o fez da forma interesseira acusação, Antonio Fernando de Souza Dirceu com os banqueiros. Ocorre, no e escandalosa da Procuradoria-Geral e Roberto Gurgel, e transformada num entanto, que a verdade é o oposto do da República e do relator da AP 470, sucesso de público graças aos talen- que a acusação diz e o STF a engoliu. Joaquim Barbosa, empenhados em 64 retratodoBRASIL | 13 RB64vertigem.indd 13 25/10/12 15:46
  • 5. Resumindo a auditoria, feita para “pegar Pizzolato”: o sistema BB-CBMP tinha falhas, desde 2001; e foi Pizzolato que implantou reformas para melhorá-lo criminalizar a ação do PT. Fez, isso sim, no processo e falhas na condução de Henrique Pizzolato, exatamente como um levantamento amplo do que foram ações e eventos”, que motivaram mu- tinha sido feito no governo FHC, nos as ações do Fundo de Incentivos Visa- danças nos controles de uso do fundo. dois anos anteriores à chegada de Pizzo- net (FIV) desde sua criação, em 2001. Essas mudanças foram implementadas lato à direção de marketing do banco. E U no segundo semestre de 2004, a partir mais: foi sob a gestão dele, em meados m resumo da auditoria, de 32 de 1º de setembro. de 2004, que as regras para uso e con- páginas, está nas primeiras • O relatório destaca algumas des- trole dos recursos foram aprimoradas. M páginas do terceiro apenso sas “fragilidades” e “falhas”. Aqui des- (vol. 320). Resumindo-a mais ainda se tacaremos a do controle dos serviços, ais reveladora ainda é a análise pode dizer que: para saber se as ações de promoção dos apensos em busca das • As regras para uso do fundo pelo tinham sido feitas de fato. Os auditores evidências de que os traba- BB têm duas fases: uma, de sua criação, procuraram saber se existiam os com- lhos de promoção dos cartões Visa em 2001, até meados de 2004, quando provantes de que as ações de incentivo vendidos pelo BB foram feitos. Essas o banco adotou como referencial bá- autorizadas pelo BB no período tinham evidências são torrenciais. Uma amostra sico para uso dos recursos o Regula- sido de fato realizadas. dessas promoções, que devem ser do mento de Constituição e Uso do FIV • Procuraram os documentos conhecimento de milhares e milhares da Companhia Brasileira de Meios de existentes no próprio banco – notas de brasileiros, está mais abaixo. Pagamento (CBMP); e outra, do segun- fiscais, faturas, recibos emitidos pelas Em toda a documentação da audi- do semestre de 2004 até dezembro de agências para pagar os serviços e des- toria existem questionamentos e são 2005, quando o BB criou uma norma pesas de fornecedores para produzir as apresentados problemas, mas referentes própria para o controle do fundo. ações. Descobriram que, para os dois a detalhes. Não foi disso que tratou o • Entre 2001 e 2004, a CBMP pa- períodos, 2001–2002 e 2003–2004, julgamento da AP 470, no entanto. A gou, por ações do FIV programadas igualmente, somando-se as ações com acusação que se fez e que se pretende pelo BB, aproximadamente 150 mi- falta absoluta de documentos às com impor através do surto do STF é outra lhões de reais – 60 milhões nos anos falta parcial, tinha-se quase metade dos coisa. Quer-se apresentar os 73,8 mi- 2001–2002, no governo Fernando recursos despendidos. lhões de reais gastos através da DNA de Henrique Cardoso, portanto; e 90 mi- • Os auditores procuraram, Valério como uma farsa montada pelo lhões nos anos 2003–2004, no governo então, os mesmos documentos na PT com o objetivo de ficar no poder, de Luiz Inácio Lula da Silva. E, nos CBMP, que é, por estatuto, a dona dos como disse o ministro Britto, “muito dois períodos, sempre 80% dos re- recursos e a controladora de sua aplica- além de um quadriênio quadruplicado”. cursos foram antecipados pela CBMP, ção e dos documentos originais de com- Essa conclusão é um delírio. As cam- a pedido do BB, para as agências de provação da realização dos serviços. A panhas de promoção não só existiram, publicidade contratadas pelo banco. falta de documentação comprobatória como deram resultados espetaculares • O BB decidiu, em 2001, por moti- foi, então, muito pequena – em propor- para o BB, tendo em vista os objetivos vos fiscais, que os recursos do FIV não ção aos valores dos gastos autorizados, pretendidos. O banco tornou-se o líder deveriam passar pelo banco. A CBMP de 0,2% em 2001, de 0,1% em 2002, de nos gastos com cartões Visa no Brasil. pagaria diretamente os serviços por 0,4% em 2003 e de 1% em 2004. Em 2003, o banco emitiu 5,3 milhões meio de agências contratadas pelo BB. • Dizem ainda os auditores: com as desses cartões, teve um crescimento de A DNA e a Lowe Lintas foram essas novas normas, em função das mudan- cerca de 35% na sua movimentação de di- agências, no período 2001–2002. No ças feitas nas formas de se controlar nheiro através deles e tornou-se o número final de 2002 o BB decidiu especia- o uso do dinheiro do FIV pelo BB, um nesse quesito entre os associados da lizar suas agências e só a DNA ficou entre janeiro e agosto de 2005 foram CBMP. No final daquele ano, 18 de de- encarregada das promoções do FIV. executadas sete ações de incentivo, zembro, às 14h30, em São Paulo, no Itaim Os originais dos documentos compro- no valor de 10,9 milhões de reais e Bibi, à rua Brigadeiro Faria Lima, 3.729, batórios das ações ficaram na CBMP, se pode constatar que, embora ainda segundo andar, sala Platinum, de acordo não no BB, em todos os dois períodos. precisassem de aprimoramento, as no- com ata do encontro, os representantes • O fato de o BB encomendar as vas regras fixadas pelo banco estavam dos sócios no Conselho de Administração ações, mas não ser o controlador oficial sendo cumpridas e os “mecanismos de da CBMP se reuniram e aprovaram o delas fez com que, nos dois períodos, controle” tinham sido aprimorados. plano para o ano seguinte. Faturamento 2001–2002 e 2003–2004, fossem iden- Ou seja: o uso dos recursos do FIV esperado para 2004 nas transações com tificadas, diz a auditoria, “fragilidades pelo BB foi feito, sob a gestão do petista os cartões Visa: 156 bilhões de reais. 14 | retratodoBRASIL 64 RB64vertigem.indd 14 25/10/12 15:46
  • 6. Dinheiro do FIV, ou seja, recursos para as taxas cobradas dos estabelecimentos gramada para o fundo de incentivos na as promoções dos cartões pelos vários comerciais pelo uso dos cartões sejam promoção dos cartões foi pelo menos bancos associados: 0,10%, um milésimo reduzidas. Na conta feita no parágra- 40 vezes menor. A Procuradoria-Geral desse total: 156 milhões. Parte a ser usada fo anterior, dos 156 bilhões de reais da República e o ministro Barbosa pelo BB, que era, dos 25 sócios da CBMP, previstos para serem movimentados certamente sabem de tudo isso. Se o mais empenhado nas promoções: 35 pelos cartões em 2004, o dinheiro que não o sabem é porque não o quiseram milhões de reais. iria para o esquema CBMP seria de 4% saber: da documentação tiraram apenas Pode-se criticar esse esquema Visa- a 6% desse total, ficaria entre 6 e 10 detalhes, para criar o escândalo no qual net–BB. O governo está querendo que bilhões de reais – isto é, a verba pro- estavam interessados. Reprodução Adriana, garota- O STF ACHOU QUE NADA DISSO EXISTIU propaganda do Ações de promoção de uso dos cartões Visa cartão Ourocard pelo Banco do Brasil que, a despeito de os ministros do Supremo acharem o contrário, existiram e envolveram milhares de pessoas Alguns exemplos de ações do Fundo de Incentivos do Banco do Brasil, programadas pelo banco, pagas pela Companhia Brasileira de Meios de Pagamento e realizadas com os tra- balhos de publicidade da empresa DNA, de Marcos Valério: • O patrocínio às campeãs de vôlei de praia Adriana Behar e Shelda, nos anos 2003 e 2004, com 600 mil reais por ano em parcelas mensais e o direito de o BB usar a marca Ourocard Visa em bonés, camisetas, biquínis, uniformes, bandanas, casacos, agasalho de viagens – frente e mangas –, toalhas, mochilas, em anúncios e outras formas: “opor- tunidade para associar a marca Ourocard aos atributos de competitividade, jovialidade, dinamismo e modernidade”. • As campanhas anuais de premiação do Clube Ouro, de cer- ca de 5 milhões de reais por ano, com sorteios de prêmios roqueiro Bon Jovi, as brasileiras Marisa Monte e Rita Lee – cujo valor somado chegava a 2 milhões de reais – 50 carros tudo sempre com muita publicidade na imprensa e nas ruas novos (de 25 mil reais cada), 50 pacotes de viagens para a (dez inserções de um quarto de página no diário Correio Costa do Sauipe, no hotel SuperClubs Breezes, com direito Braziliense, três em Veja, 90 mil panfletos distribuídos). E, a acompanhante (5,6 mil reais por casal; 280 mil reais no como sempre, a promoção era associada a contrapartidas total), 350 passagens aéreas de ida e volta para qualquer para o banco que facilitassem a venda dos cartões – no canto do País, num esquema BB–TAM com direito a acom- caso, camarote VIP para cem pessoas, mil ingressos, por panhante (1.320 reais por casal, 462 mil reais no total). Essa show, para distribuição para clientes do BB, propaganda premiação, “para dar maior visibilidade à estratégia do BB do banco em tudo, venda dos ingressos pelas agências do de fidelizar os portadores de cartões de crédito Ourocard banco com cobrança de 3 reais de comissão por ingresso, e incrementar sua utilização”, foi realizada em eventos banners, outdoors, panfletos com o logo e propaganda do públicos nas cidades com maior número de clientes do BB Visa Ourocard e assim por diante. no Clube Ouro, que acumulavam pontos para sorteio dos • 4 milhões de reais em 2004 para campanhas de mídia do prêmios graças à soma de gastos pagos com os cartões Visa cartão Visa Ourocard nos aeroportos e nas ruas e mobiliário do BB. Os eventos tinham 800 convidados. Eram divulgados urbano – edifícios, outdoors, shoppings e pontos de grande amplamente pelos grandes meios de comunicação, os quais, visibilidade. Um detalhamento da DNA para esses gastos: aliás, sempre ficaram com a maior parte das verbas dessas para metrô, 36,3 mil reais; ônibus, 589 mil reais; outdoors, promoções. Na documentação existe uma análise detalhada 379 mil reais; em shoppings, 1,1 milhão de reais; em abrigos dos custos delas, como a contratação de atrações especiais de ônibus e mobiliário urbano, 1 milhão de reais; em mídia para os eventos (445 mil reais), a locação de espaço para aeroportuária, 727 mil reais, por exemplo. realizá-los (85 mil reais), os serviços de buffet (230 mil re- • Patrocínio de 2,5 milhões de reais à casa de espetáculos ais). Nos documentos das promoções do Clube Ouro existe Tom Brasil, em São Paulo; a promoção de mostras de cine- até um parecer do Ministério da Fazenda sobre a legalidade ma É Tudo Verdade e Encontro com o Cinema Brasileiro; da distribuição de prêmios. exposições de obras de arte como as feitas com seleções • O Brasília Music Festival, de 2 a 4 de maio de 2003, para do acervo do Museu Nacional de Belas Artes em mais de o qual o BB adquiriu uma cota de patrocínio máster, de 1,5 20 cidades entre 2004 e 2005, todas com custo na casa de milhão de reais (pagos em quatro parcelas entre janeiro e algumas poucas centenas de milhares de reais. abril de 2003), e no qual foram realizados 12 shows – de E tem mais. Para quem quiser ver, é claro – os ministros do artistas como o grupo cubano Buena Vista Social Club, o STF não quiseram, ao que tudo indica. 64 retratodoBRASIL | 15 RB64vertigem.indd 15 26/10/12 14:12