Sábado 8.11.2014 O GLOBO l 3
País
A
bancada do PT na
Câmara saiu do en-
contro com a presi-
dente Dilma, anteontem,
com a suspeita — e a espe-
rança, também — de que a
relação do Planalto com o
partido deverá mudar neste
segundo mandato. Por mais
de duas vezes, Dilma, que
circulava pelas rodinhas dos
deputados, interrompeu
seu périplo para chamar a
um cantinho o presidente
do PT, Rui Falcão. Prestigi-
ando Falcão, Dilma mos-
trou aos 70 deputados da
bancada o carinho que tem
pelo partido.
Antes da Dilma, a bancada
do PT havia se reunido e, por
unanimidade, decidiu que
não existe a menor possibili-
dade de entendimento com o
candidato do PMDB à presi-
dência da Câmara, Eduardo
Cunha. E até criou uma co-
missão para cuidar do assun-
to. Informalmente, alguns
deputados falam no nome de
Arlindo Chinaglia como uma
das opções para enfrentar
Cunha. A maioria admite até
apoiar um nome de fora do
PT que tenha condições de
enfrentar o Todo Poderoso.
A ESPERANÇA DA BANCADA DO PT
Coluna do
Moreno
JORGE BASTOS MORENO
Pobre rico
Uma trapalhada da equipe
jurídica do senador Pedro
Taques, eleito governador
de Mato Grosso, está
causando uma verdadeira
guerra no seu quintal.
Como em muitas das
chapas ao Senado, o
candidato escolhe um
suplente rico para ajudar a
sustentar a campanha e
outro “pobre”, mas cujo
nome aporte votos. O rico
,geralmente, fica na
primeira suplência e, em
caso de ausência do titular,
tem a prerrogativa de
assumir a vaga. Por erro, a
chapa de Taques registrou
o suplente pobre antes do
rico. Assim, será o policial
rodoviário federal José
Medeiros, do PPS, que
herdará a cadeira de
Taques. O suplente rico, o
empresário do ramo
madeireiro Paulo Fiúza,
está inconsolável e até
agora não desistiu de
reverter o quadro, apesar
de sucessivas negativas da
Justiça Eleitoral.
Polivalente
Ninguém aparece mais
cotado para tantas pastas
diferentes quanto Jaques
Wagner. O governador da
Bahia está nas listas de
Casa Civil, Relações
Institucionais,
Integração e
Desenvolvimento, fora a
presidência da
Petrobras.
Como na Casa Civil
deve permanecer Aloizio
Mercadante, e a
presidente tende a deixar
Wagner perto dela, seu
destino mais provável,
segundo auxiliares de
Dilma, seria um
ministério palaciano
especialmente turbinado
para recebê-lo.
E por que não colocar
Wagner na Petrobras?
Um cardeal petista
responde: “Para o
mercado, nas atuais
circunstâncias, entregar
a Petrobras a alguém do
partido equivale a
manter o Arno Augustin
no Tesouro”.
Sonho
Parece que Wagner quer ir
para Indústria e
Comércio. Só que há uma
articulação forte para
torná-lo ministro da
Justiça, que voltaria assim
a ter um papel político.
Mas só um ministro
sabe o que Dilma
pretende para o seu
segundo governo:
Mercadante. Todos os
outros só especulam.
E Dilma quer resolver
seu Ministério até 14 de
dezembro, seu aniversário.
Em família
Quem convive com Cid
Gomes acha que é sincera
a sua disposição de passar
uma temporada nos EUA
quando encerrar o
mandato no Ceará, em
vez de ocupar posto na
Esplanada.
Se — e apenas se — ele
escolher esse caminho, o
ministro da família será o
irmão Ciro. Provavelmente
de Ciência e Tecnologia.
Conversas
Na conversa de Dilma e Lula
na terça-feira se falou de tudo:
montagem de Ministério,
relação com governadores e
um bom tempo sobre a
sucessão na Câmara. Ou seja,
falou-se muito no onipresente
Eduardo Cunha. A conclusão
foi clara: 2015 pode ter
problemas de seca,
turbulência econômica,
Operação Lava Jato, mas tudo
pode piorar muito
dependendo de quem
comanda a Câmara.
Ilustre
Chamou a atenção a figura
que, entre um gole e outro
numa xícara de chá, presidia
o Senado em plena noite de
terça-feira, um dia
geralmente agitado na Casa.
O desconhecido atende pelo
nome de Kaká Andrade. É
segundo suplente do
senador Eduardo Amorim,
que se licenciou da vaga.
oglobo.globo.com/pais/moreno
DEPOISDASURNAS_
Conta alta para os partidosDívidadecampanhasestaduaisno1ºturnochegaaR$89,8milhões;maiorprejuízoédoPT
Em meio às discussões sobre reforma política e
possíveis mudanças no modelo de financiamento
dascampanhaseleitorais,ospartidosterãoquear-
carcomumafaturaindigesta,consequênciadireta
do último pleito: R$ 89,8 milhões. Este é o valor da
dívida deixada pelos candidatos a governador,
eleitos ou não, que encerraram suas participações
no primeiro turno do processo eleitoral. Levando-
se em consideração apenas os 13 governadores
eleitos no primeiro turno, a conta fica negativa em
R$ 19,5 milhões. A situação mais complicada é a
doPT,queamargouumprejuízodeR$60milhões,
o equivalente a 66% do total. Nem mesmo Rui
Costa, eleito governador da Bahia, construiu uma
campanha saudável financeiramente, deixando
uma dívida de R$ 13 milhões. Alexandre Padilha,
ex-ministro da Saúde e derrotado na disputa pelo
governo de São Paulo, ficou com o maior passivo
entre todos os candidatos analisados: R$ 24 mi-
lhões. A situação seria ainda pior se o comitê de
Dilma Rousseff e a própria direção nacional do
partido não tivessem contribuído com Padilha.
Em setembro e outubro, a campanha da presiden-
te e o PT doaram, juntos, R$ 4,6 milhões.
Para quitar as dívidas contraídas durante a
campanha, as legendas podem usar verbas do
Fundo Partidário, patrimônio composto, entre
outras fontes, por dotações orçamentárias da
União. Até o dia 25 de setembro, data da última
atualização, os partidos haviam recebido um
montante de R$ 273,2 milhões referentes ao fun-
do. O levantamento das dívidas, feito pelo GLO-
BO com base nas prestações de contas disponibi-
lizadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), le-
vou em consideração os candidatos que alcança-
rampelomenos5%dosvotosválidosnoprimeiro
turno. A quantia foi calculada a partir da diferen-
ça entre a arrecadação e os gastos declarados por
cada candidato à Justiça Eleitoral. A conta deverá
aumentar ainda mais quando os dados referentes
à arrecadação e às despesas dos candidatos que
foram ao segundo turno estiverem disponíveis.
LINDBERGH E GLEISI NÃO FECHARAM CONTAS
Os fracassos das campanhas dos senadores Lind-
bergh Farias, quarto lugar no Rio, e Gleisi Hoff-
mann, que ficou em terceiro no Paraná, também
contribuíram para o passivo do PT. Lindbergh,
que levou o partido a romper a aliança com o
PMDB no estado, deixou a campanha com uma
dívida de R$ 11,9 milhões. Já Gleisi, aposta do
partido para encerrar a hegemonia tucana no Pa-
raná, ficou devendo R$ 5,9 milhões. O governa-
dor de Brasília, Agnelo Queiroz, que fracassou em
tentativa à reeleição e sequer foi ao segundo tur-
no, deixou uma fatura de R$ 1,8 milhão. Procura-
da, a direção nacional do partido afirmou que
não sabia dar informações a respeito do paga-
mento de dívidas de campanha. O tesoureiro da
campanha de Dilma Rousseff, Edinho Silva, não
retornou as ligações.
O diretor-executivo da ONG Transparência
Brasil, Cláudio Weber Abramo, afirma que as dí-
vidas representam um erro no projeto financei-
ro desenhado para as campanhas.
— Revela falta de planejamento eleitoral, mas
nãoésinônimodefalênciadessemodelodefinan-
ciamento. No entanto, haveria meios mais inteli-
gentes de controlar essas doações, diminuindo os
gastos das campanhas. Para as grandes empresas,
com faturamento muito alto, esse limite fica eleva-
do, o que aumenta a disparidade — afirma, em re-
ferência ao fato de as empresas poderem contri-
buir com valores correspondentes a até 2% de seu
faturamento bruto no ano anterior à eleição.
O fato de os candidatos gastarem muito mais
do que arrecadam tem respaldo legal. O TSE
permite que as dívidas dos candidatos sejam as-
sumidas pela direção nacional dos partidos. A
resolução do tribunal para as eleições de 2014
prevê que “eventuais débitos de campanha não
quitados até a data fixada para a apresentação
da prestação de contas poderão ser assumidos
pelo partido político”. A decisão cabe à direção
nacional de cada legenda, que é obrigada a
apresentar um cronograma de pagamento. Os
partidos têm quatro anos para quitar as dívidas.
Segundo José Norberto Campelo, presidente
da Comissão Especial de Direito Eleitoral da
OAB, a partir de 2012 o TSE passou a permitir
que os partidos assumam os valores exceden-
tes, o que ajuda os candidatos a ganhar tempo:
— Na verdade, a Justiça Eleitoral admite essa si-
tuação. Para evitar a rejeição das contas, somente
os partidos podem se responsabilizar (pelas dívi-
das). Caso contrário, as contas ficam irregulares.
Com a nova lei, a vantagem para os candidatos é
ganhar tempo, é uma espécie de antecipação de
receita partidária. Um empréstimo para garantir
a campanha.
Em segundo lugar na lista de devedores aparece
o PSDB, com uma conta de R$ 6,7 milhões. Reelei-
to governador do Paraná, Beto Richa terminou a
campanhacomumdébitodeR$3,7milhões.JáPi-
menta da Veiga, derrotado em Minas Gerais, dei-
xou de herança um passivo de R$ 2,7 milhões. O
governador Geraldo Alckmin, reconduzido ao
posto em São Paulo, gastou R$ 40,3 milhões e ter-
minou a eleição com um superávit modesto: R$
620,49. Por telefone, a assessoria do PSDB negou a
existênciadovalorcitadopeloGLOBO,dissequeo
partido ainda está fechando as contas da campa-
nha e buscando arrecadações para quitar as dívi-
das.Apesardecontestarovalorcalculadocomba-
se nas prestações de contas disponibilizadas pelo
TSE, o PSDB não informou quanto deve.
As campanhas dos candidatos do PSB tam-
bém vão pesar no orçamento do partido. Her-
deiro político de Eduardo Campos e eleito go-
vernador de Pernambuco no primeiro turno,
Paulo Câmara deixou uma dívida de R$ 1,07
milhão. Os prejuízos do governador do Espíri-
to Santo, Renato Casagrande, derrotado em
sua tentativa de se reeleger, e da senadora Lí-
dice da Mata, terceira colocada na Bahia, fo-
ram ainda maiores: R$ 2,5 milhões e R$ 2,2 mi-
lhões respectivamente. O partido tem também
casos curiosos de contabilidade, como o do
deputado estadual Marcelo Ramos, derrotado
no Amazonas, que terminou o pleito com um
saldo de R$ 7,44. Ainda no PSB, há um episó-
dio de contabilidade cirúrgica. Vanderlan Vi-
eira Cardoso, que ficou fora do segundo turno
em Goiás, arrecadou R$ 4.529.107,12 e gastou
exatamente o mesmo valor.
As situações em que os tesoureiros das campa-
nhas entregaram as contas zeradas se espalham
também por outros partidos. O governador Rai-
mundo Colombo (PSD), reeleito em Santa Catari-
na, gastou a mesma quantia recebida em doações:
R$ 12.686.824,52. Marcelo Miranda (PMDB), eleito
no Tocantins, teve gastos e despesas idênticos: R$
7.255.534,88. Sebastião Rodrigues (DEM), no Acre,
Antônio Gomide (PT), em Goiás, Robério Paulino
Rodrigues (PSOL), no Rio Grande do Norte, e Ja-
queline Cassol (PR), em Rondônia, apresentaram
contas com a mesma situação. A direção nacional
do PSB disse que não recebeu pedido de ajuda dos
candidatos para pagar dívidas. O partido afirmou
que apenas autorizou os comitês de cada estado
devedor a pagar as despesas correspondentes.
DESPESA POR CADA VOTO FOI MAIOR EM MT
Entre os governadores eleitos no primeiro turno, a
relaçãomaisaltaentredespesasdecampanhaevo-
tos conquistados foi do senador Pedro Taques
(PDT), eleito governador do Mato Grosso. Taques
gastou R$ 29,5 milhões e conquistou 833.788 votos,
uma média de R$ 35,4 por voto. Em Alagoas, o go-
vernadoreleitoRenanFilho(PMDB)gastouR$16,8
milhõesnacampanhaeteve670.310votos,umgas-
to médio de R$ 25,09 por voto. As despesas de Ge-
raldoAlckmin(PSDB),reeleitoemSãoPaulo,foram
de R$ 40,3 milhões, em um total de 12.230.807 vo-
tos.Emmédia,AlckmingastouR$3,30porvoto.No
Maranhão, segundo pior IDH do país, Flávio Dino
(PCdoB) gastou R$ 9,3 milhões, uma média de R$
4,98 por eleitor conquistado. No Piauí, terceiro pior
IDH,aoladodoPará,asdespesasdeWellingtonDi-
as (PT) foram de R$ 4,8 milhões, R$ 4,58 por voto. l
GABRIELA ALLEGRO
Núcleo de Jornalismo de Dados
LETÍCIA FERNANDES E MARCO GRILLO
opais@oglobo.com.br
PT
PSDB
PSB
PTB
PSC
PDT
PP
PSD
PMDB
PCdoB
PPS
Solidariedade
PR
PSOL
DEM
35,70
1.007,00
1.320,45
1.616,91
2.519,71
-60.074.482,82
-6.716.911,12
-5.881.366,09
-4.796.198,48
-4.744.322,08
-2.461.960,00
-1.871.275,33
1.354.527,05
-1.042.113,57
-940.765,29
DívidaPartido
-24.617.308,41
-13.062.702,01
-11.997.027,23
-5.917.030,42
-4.796.198,48
-4.744.322,08
-3.777.274,42
-2.723.162,02
-2.648.724,44
-2.553.455,66
BALANÇO DAS CAMPANHAS
FONTE: Tribunal Superior Eleitoral
Receita
Despesas
Receita
Despesas
Receita
Despesas
Receita
Despesas
Receita
Despesas
Receita
Despesas
Receita
Despesas
Receita
Despesas
Receita
Despesas
Receita
Despesas
MAIORES ROMBOS (em R$) CONTAS NO VERMELHO (em R$)
15.592.817,66
40.210.126,07
32.196.722,63
7.311.999,75
19.309.026,98
21.038.010
26.955.040,42
19.736.207,21
24.532.405,69
3.266.809,32
8.011.131,4
25.899.853,39
29.677.127,81
40.416.502,3
43.139.664,32
4.335.812,03
6.984.536,47
12.685.747,23
15.239.202,89
45.259.424,64
DIFERENÇA
Saldo positivoPartido
CONTAS NO AZUL (em R$)
*São os canditatos eleitos
Renato Casagrande (PSB)
Lúdio Cabral (PT)
Pimenta da Veiga (PSDB)
Beto Richa (PSDB)*
Eduardo Amorim (PSC)
Armando Monteiro (PTB)
Gleisi Hoffmann (PT)
Lindbergh Farias (PT)
Rui Costa (PT)*
Alexandre Padilha (PT)
NA WEB
glo.bo/1vFkmLH
Prestação de contas do PSB não inclui
avião do acidente com Campos